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ISBN — 85-225-0423-7 Copyright © Sonia Rocha Direitos desta edisav reservados & EDITORA FGV Praia de Botafogo, 190 — 14° aud 2253-900 — Rio de Janeiro, RJ — Brasil Tel: 08D0-21-7797 — 0-XX-21-2559-5543 Fax: 0-XX-21-2559-5532 ‘e-mail: editora@igv.be ‘we site: wwnneditora fgwibr Impresso no Brasil / Printed in Brazil ‘Todos os direitos reservados. A reprodugao nao autorizada desta publicagie, no todo ou em parte, consttui violagdo do copyright (Lei n® 5.988) 19 edigio — 2008, Revisto de originaix: Newmar Vira Balvoragao elerinicas PA Beitoragan Eletronica Reviso: Fatima Caroni e Macitlor Rocha Capes aspectodesign Foto da capa: Bradley Mason Ficha catalogrficaelaborada pela Biblioteca Mario Henrique SimonsenITGY Rocha, Sonia Pobrezs no Brasil: final, de que se trata? / Sonis Ro cha, — Rio de Janeto + Edtora FGY. 2003, aap. Incl bibliog 1. Pobreza — Brasil, 2. Rends — Distribuigdo — Bras sil. Fundagao Getulio Vargas. ePD-339.460981 Capitulo 1 Conceituar para medi o que é pobreza? Afinal, de que se trata? inicio dos anos 1970 marca 0 reconhecimento — por parte do meio aca- demico e das instituigdes voltadas para o financiamento do desenvolvimento — dde que as questocs bésicas relativas as desigualdades sociais e & pobreza nio esta- vam sendo equacionadas como resultado do crescimento econémico, Na verda. de, mesmo nos casos bem-sucedidos de crescimento econémico, ficou evidente que taxas adequadas de expansio do produto nao necessariamente se difundiam através da sociedade, Eram patentes tanto as dificuldades dos paises ricos em liminar redutos remanescentes de pobreza ¢ marginalidade social, como as cres- centes desigualdades sociais resultantes do processo de expansio econdmica nos patses subdesenvolvidos. Como conseqiiéncia dessas constatagécs, houve uma clara mudanga de én- fase nos niicleos onde sio gerados o pensamento eas orientacdes de politica eco- rnémica dominantes, deslocando o crescimento econdmico a condigao de variavel instrumental. No entanto, nao se tratava de priorizar politicas assistencialistas. A questao central era repensar 0 processo de erescimento, de modo a considerar ex- plicitamente os objetivos de redusio da desigualdade ¢ da pobreza, integrando subgrupos populacionais 20 curso predominante de evolugéo social, econbmica ¢ politica em cada pais. A adogao desse enfoque pela Organizacio das NagSes Unidas (ONU) e pelo Banco Mundial promoveu a sua popularizasao como pressuposto politico em nivel internacional Entretanto, do que se trata quando, especificamente, nos referimos a pobre- 2a? Pobreza é um fenémeno complexo, podendo ser definido de forma genérica como a situasio na qual as necessidades nfo sio atendidas de forma adequada, Para operacionalizar essa nogao ampla e vage, é essencial especificar que necessi- dades sfo essas ¢ qual nivel de atendimento pode ser considerado adequado. A definicao relevante depende basicamente do padrio de vida e da forma como as 10 Pobreza no Brasil ~ Afinal, de que se trata? diferentes necessidades sio atendidas em determinado contexto socivecondmico, Em tltima instancia, ser pobre significa ndo dispor dos meios para opetar adequa- damente no grupo social em que se vive. Diferengas entre paises, no que concerne ao nivel de desenvolvimento socioecondmico atingido ea tradigdes culturas, exigem a adggao de conceitos de pobreza que levem em conta suas especificidades. No entanto, a persisténcie de amplos contingentes populacionais cronicamente privados do atendimento as ne- cessidades mais essenciais € 0 que se tem em mente quando se trata de pobreza ‘numa abordagem internacional, No seu relatorio de 1990, o Banco Mundial esti- ‘ava que cerca de 1 bilbao de pessoas viviam na pobreza naquele ano, o que im- plicava a idéia de pobreza sem enfrentar a questéo mais delicada de determinar ‘que nivel minimo de necessidades nao estava sendo atingido Definir © conceito de pobreza relevante e escolher os procedimentos de -mensuragio edequados é 0 resultado de analise sensata e cuidadasa de cada reali- dade social especifica, Por um lado, trata-se da questio de identificar os traos essenciais da pobreza em determinada sociedade, E generalizada,atingindo a maior parte da populagio, ou, ao contrério, €geograficemente localizada? Quais sao seus determinantes? E um fendmeno crOnico ou esté associado a mudancas econdmi- as etecrol6gicas? Quaiss3o seus sintomas principals — subnutriglo, baixa esco laridade, falta de acesso a servigos basicos, desemprego ou marginalidade? Quem ‘0.05 pobres em termos de um conjunto de caracterfsticas bisicas, ou em outras palaveas, qual o perfil dos pobres? Essa percepsio preliminar do que seja a pobreza num contexto determina- do ¢ elemento exsencial para estabelecer um quadro de referéncia para a anilise e aplicagio de polticas antipobreza. Especificemente, trata-se de adotar os concei- tas €0s instrumentos de medicdo que parecam os mais apropriadas para um con- texto expecifico, tanto em termos da realidade social como das possibilidades de Bevidente, portanto, que w extrema desigualdade na distribuigao de renda, resultando numa dinmica socioecondmica prépria, sté associada & persisténcia da pobreza absoluta no Brasil, No periodo de crescimento econémico mais forte, durante « década de 1970, o aumento da desigualdade foi tolerado na medida em ue era percebido coma um fendmeno passageiro e inevitavel, em face das novas. necessidades de mao-de-obra e dos conseqientes desequilibrios no mercado de ‘trabalho: a expansio do produto acompanhada de répida modernizagao produ va resultou em demanda por trabalhadores qualificados, aumentando mais acen- twadamente seus rendimentos em relagao 2 grande massa de mao-de-obra pouca qualificada. O resultado foi um aumento substancial da desigualdade de renda, "Renda de todas 2s origen, isto & todos os tipos de renda do trabalho, além de pagamentos reccbidos dos sistemas de previdénciapublicos e privadas, endimentos da propriedade « do ‘capital, ransferéncin te '* © Gini ds distribuisao teuncada em 9996 se situa préimo ao verficado ma Veneztcla em, 4990 (053), enquanto pases desenvolvids apresentam coefcientes bem mais baixos (Franca = 035} (Pnud, 1997). Soni Rocha | 33 tendo 0 Gini passado de 0,56 em 1970 para 0,59 em 1980 (Bonelli & Ramos, 1993). E importante enfatizar que, embora a queda da pobreza absoluta que se observou xo periodo 1970-80 tenha sido significativa —a proporcaa de pobres na pats caia metade—,"*ficou aquém da que seria possivelatingir sob condigdes distributivas mais favoriveis. Tabela 2 Distribuigdo da renda das pessoas* dos pessoas em ‘ordem crescente darenda 1986 1989 1993 1995 1996 1997 1998 1999 te 50% 5 146 128 11 130 BA 38139 Joc s0%90% 36,7 35.4 374 387 35,1 39,3 38.0 39a Dede a9 33.6 359338 43 ae 9338 Desn%a 100% 152 172 160 139 135 137 137130, 100% 0.5806 0.6228 0.5822 05738 05714 0.5700 9.5646 0.5578 59% 0.8365 0.5762 0, 5326 05325 0.5290 0.5227 90,5180 Fonte: 186E/Poas. ‘Rerdimentos postves de todas ws rigors dos pesicas de 10 aos ou ri "Gini na Limite inferior do inteal,clelag 3 pate de eadosaprapades, Na década de 1980, chamada de década perdida no que se refere & evolucio dda renda, ocorreu confluéncia de duas tendéncias adversas. Por um lado, houve uma brutal reduszo do ritmo do crescimento da renda em relacao A década ante- rior —a do “milagre brasileiro” —, mas os resultados foram também insatisfat6rios ‘em comparagdo aos dos anos 1960, respectivamente 7,0 e 2,2 9 ao ano. Por outro lado, a queda do rendimento ao longo da década (-1,54%) afetou de forma mais adversa os mais pobres. Com excesio do segundo décimo da distribuicao,a redu- 420 do rendimento foi tanto maior quanto mais baixo 0 nivel de renda (Barros & Mendonga, 1992). Assim, acisrarem-se os contlites distributivos, que a inflagao '* A proporgio de pobres declinou de 63% em 1970 para 35% em 1980 (Racha, 1996). Ver, também, capitulo 34 | Pobreza no Brasil~ Afnal, de que se trata? alta veio, sem duivida, reforgar, © resultado da conjugacio desses dois efeitos per- versos — absoluto ¢ distributivo — sobre a renda foi a auséncia de melhorias sig- ificativas na redugao da pobreza, apesar das oscilagBes de curto prazo associadas 4205 cilus eonjuncurais de stop and goda atividade econémica. Uma medida de desigualdade: 0 indice de Gini Trata-se de um indice de desigualdade proposto por Corrado Gi freaiientemente uiizado para expressaro gra de desigualdade de renda,. Coneeitualmente, indice de Gini pode ser associado & chamada curva de Lorene, que £ deFinid pelo conjunto de pontos que, a partir das rendasordenadas de forma creseen- te, relacionam s proporgdo acumulada de pessoas e a proporsio acumulada da vendo, ‘A curva em negrito representa a curva de Lorenz para umm situagéo de desigualdade ‘de ends hipotética, mas semethante 3 que ocerre no Brasil. Assim, 908 &% de pessoas ‘com rendas mais bias corespondem 10% da renda total. 0 segmento O8 representa 2 ‘curva de Lorene associads a uma situagdo tebrica de desiqualdade minima, em que tod 3 populacdo tivesse 2 mesma renda, de modo que 2 qualquer proporcio acurmuiade das pessoas corresponderia, eratamente, a mesma proporcéo da rend total: @ 2% das pes 502s cortesponderia 2% da cends, a 10% das pessoas corresponderia 10% da tends, @ assim por diane. Alternativamente, a desiqualdede mixima ocorreria quando uma pes- 50a se apropriasse de toda a cenda eas demas pessoas, ume populagéo suficientemente rane, tivessem rende ruta Nesce cas, acura de Lorene se confundiria com a poligonal OB, em 1914, Renda Sonia Rocha Assim, a curva de Lorenz detimita uma area de desigualdade a — que, teoricamente, varia de 0 (caso de perfeita icualdade) a 0,5 (caso de maxima desigualdade) — a quat corresponde & rea do tridngulo OAB. (indice de Gini @ definido como o quaciente entre adres de desigualdade cverificads e seu valor tebrico maxima de 0,5: Gini = 0/05 Como ja visto, « pode variar entre 0 ¢ 0,5 (9 <= a « 0,5), Sendo assim, o indice de Gini assume valores entre os limites teéricos minimo de 0 (nenhuma desigualdade) ¢ maximo de 1 (desigualdade maxima). 0 = Gini ot Essas caracteristicas relativas 4 estagnagZo do rendimentoe a sua ma distri- buigdo se mantiveram no inicio da década de 1990 (Tolosa 8 Rocha, 1993). 0 plano de estabilizagio de 1994 rompeu esse padrio, ao proporcionar como subproduto, uma melhoria significativa do rendimento na base da distribuigdo (ver capitulo 5), 0 que permitiu reduzir em 1/3 a proporcao de pobres sem, no entanto, afetar de forma sensivel a desigualdade de rendimentos. Como se consta- taza partir dos dados da tabela 2, o Gini pouco declinou entre 1993 © 1995, mas 0 agrau elevado de desigualdade de renda brasileira permaneceu muito elevado, pois «std associado aos rendimentos mais altos. Embora se saiba que redugao da pobreza absobuta depende tanto do cresci- mento da renda como da melhoria distributiva (Barros & Mendonga, 1997), este Ultima componente assume papel estratégico no Brasil por trés raz6es bisicas. Pri- meciramente, por uta questio dbvia de justiga social, Em segundo lugar, por ser disfuncional: 0 nfvel explosivo de desigualdade de renda jé atingido gera inevita- velmente situagdes de conflito insustentiveis, especialmente onde os contrastes de renda, riqueza e poder sto mais citicos. Em terceiro lugar, porque as oportanida- des “‘naturais” de crescimento econdmico sio predominantemente concenttadoras, ‘© que cxige acbes especificas do poder piiblico no sentido nao s6 de evitar o agre vamento, mas de promover a diminuicao da desigualdade de renda objetivando, particularmente, a reduio da pobreza absoluta no pais Desigualdade entre pessoas ou desigualdade entre familias? Os estudos sobre distribuigao de renda no Brasil tém privilegiado a inves gacao do nivel de desigualdade de renda entre pessoas, com base em informacoes obtidas através de pesquisas domiciliares — Censo Demogrifico ou Pesquisa Nacio- 36 Pobreza no Brasil Afinal, de que se trata? nal por Amostra de Domicitos (Pnad), Trata-se da desigualdade de renda total das pessoas, como € 0 caso dos indices de Gini apresentados na tabela 2, ou da dlesigualdade de algum tipo de renda individual mais estreitamente definida, como rendimentos do trabalho, ou mesmo da designaldadeealarial deforma ainda mais specifica." No entanto, o bem-estar das pessoas no depende apenas de suns rendas individuais, mas, prineipalmente, do resultado da repartigao intrafamilian da renda de todos os membros de cada grupo familiar. Assim, a mensuracdo da pobreza como insuficiéncia de renda eda desigualdade de renda, proxies do nivele da, eae do bem-estar, esté mais associada ® renda familiar, resultado da nimica dist Quando se trata de utilizar a renda come prory do nivel e da distribuigbo de bem: {star a fama € @ unidade estatistice relevante, Desde que se considetem também 2s ‘ilies unipessoats, a adogso da familia como unidadeestatistica possibilita sero mats ~sbrangente possvel em relacio a populagia como ur todo e lever em conta a estrtégia de sobrevivencia normalmente adotada pelas pessoas: recorrer aos individuos que tom rendimentos para © atendimenta das necessidades daqueles sem rendimento na famiio, ara Fins analiticos, familia &definiga como pessoas que moram no mesmo domiciio, 'igedas por tagas de perentesco ou néo, mas que funcionam come um grupo soldrio em ‘elagie ao rendimento e ao consumo. Desse modo, a familia quando define para fins de study da pobreza e da desigualdade, come proposto aqui, inclui em cada domiciio, aquelas que se vinevlam ao chefe ou pessoa de referencia, excluindo-se apenas os em Dtegados, paentes de empregades e pensionistas. Adotando a familia como unidadeestatfstca, 2 varlvel de rendimento relevante & a ‘ends familia, constituida pelo somatdrio dos rendimentos de todas as origens (do tra: balho, sposentadoria e pensdes. aluguis recebides,rendimentos de capital tansferen- as et.) de todos os membros da familia. Orenirenta do trabatio com investigado pela Pad incl, além da remeneragdo moretiria, a estimative do valor recebido em produtos ‘08 mercadorias. No entanto, ndo & considerado rendimento valor de producSo pare ‘autoconsuma nem 0 valor da moradia prépra, Desse modo, autlizagic da renda da Pad Para mensuregio da pobreza implics alu superestimagéo do fendmeno. Para consierar expicitamente que, a0 mesmo rendimento, o nivel de bem-estar das Faris se diferencia em fungio do seu tamanho, adatou-se aqui, como & mais habitual, rendimento familiar per copita, que consiste na divisso do rendimento faniliar pelo} !némero total de pessoas na familia. Ess rateio permite levar em conta os difere tamanho das familias, studos sobre a istibuigdo da renda total das pessoas na Brasil ver, por exerplo, Bonelie ‘Sedlacek (1989) e Hoffmann (1995). Em rela &desigualdade alata, vee Reis e Barros (1989) Sonia Rocha Nesse sentido é mais relevante tratar aqui do nivel e da tendéncia evolutiva da desigualdade de renda entre as familias braslciras, tendo por base a distribui ‘sao da renda familiar ¢ da renda familiar per capita (ver box "A familia, solidatic- {dade na renda e no consumo”). Os indices de Gini apresentados na tabela 3 permi- tem constatar que 0 nivel de desigualdade com base na renda familiar se situa em patamares tio elevados quanto aqueles verficados em relagao a renda das pessoas. Isso significa que, infelizmente, a familia nao esta tendo um papel redistributive capaz de reduzir de forma significative a desigualdade de renda entre pessoas, ¢ ual se tem como ponto ce partida, Os indices de Gini da tabela 3 mostram ainda que, tanto no caso da renda familiar como da familiar per capita, a desigualdade é levemente ascendente num periodo de quase 20 anos, isto é os niveis de desigualdade em 1999 sto mais cleva- {dos do que os observados em 1981. Essa trajetoria geral encobre evolugdes distin- tas em trés subperfodos. Um subperiodo inicial de erescimento da desigualdade entre 1981 ¢ 1989, interrompido apenas pelos eftitos distributivos tempordrios do Plano Cruzado, em 1986, e que culmina com um pico do rendimento médio em 1989.2" Um segundo subperiodo (1989-93) no qual a tendéncia é declinante, mas com inflexao correspondendo ao inicio de retomada do nivel de atividade em 1993 Finalmente, verfica-se um patamar de redugio muito timida da desigualdade de senda entre familias e entre pessoas com base na renda familiar per capita, no pe- iodo pés-estabilizagao do Plano Real: Observe-se ainda que as mudansas anuais dos indices de Gini ocorrem no mesmo sentido, mas com intensidade diversa para cada distribuicio de renda, 0 que resulta em alteracio dos diferenciais entre os indices. Comparando as situa- ‘eS.no inicio eno final do periodo, verifica-se um aumento relativo da desigualdade dda renda entre familias (total e per capita), enquanto a desigualdade entre pessoas, passa a ser a mais baixa. Isso esteriaindicando o impacto distributivo desfavorsivel dé familias menores e mais homogtneas internamente, no que se refere a insergio no mercado de trabalho e ao rendimento decorrente de tal insexgao. Assim, en- ‘quanto no inicio do periodo os coeficientes de Gini relativos a renda familiar eram ‘08 mais baixos, revelando um efeito compensatério de rendas mais altas e mais baixas das pessoas no intetior de cada familia, especialmente a partir de 1990 esse feito compensatério se reduz, Desde 1996, a desigualdade de rend entre familias se mostra superior 8 desigualdade entre pessoas. 'S Em 1989, ocorre também um pico do rendimenta médio total, que s6 veltard a0 mesmo patamar apds o Plano Real, em 1995, 37 38 | Pobreza no Brasil— final, de que se tratat Tabela 3 indices de Gini relativos 3 distribuigao de renda bruta das pessoas e das familias — total e familiar por capita (Brasil, 1981-99) Renda 1981 1983 1985 1966 1967 1988 1969 1990 1992 1953 1996 1997 1998 1999 Pesos" 0.589 0499 0.09 O60 QBIL Oe 0647 0620 9574 060 O5Re A550 O58 O52 0.578 Fans. 0569 0573 0578 0577 0586 aoe Q1623 O60 A573 0595 0561 O55 0596 0.501 0.585 Farvitar 7s canto 0.599 0.507 0.509 0.807 0600 0651 Os O631 0598 0621 0618 0618 0618 0.517 0612 43981 1983 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1999 1995 1996 1997 1998 1999 = =Pessoas (excusve renda zero) — Familias — Familiar per copita Fontes Mirodados da Prod (ables grr). ‘Pessoa de 10 anos © ras com rename nos pois Vale destacar que, de forma consistente, a distribuicio da renda familiar per / eapitaapresenta indices de desigualdade mais elevados ao longo da série analisada, refletindo o fato de que as famnilias de renda mais baixa s4o mais numerosas, isto & {com maior numero de membros. Como este € 0 indice de desigualdade que mais importa aqui — pois leva em conta a renda das pessoas apés 0 efeito distributivo que ocorre no interior das familias —, sua estabilidade em nivel elevado e superior 20 verificado no inicio do perfodo mostra uma evolugio desfavordvel. Isso indica ‘que a reparticio intrafamiliar da renda ndo tem significado redugao da desigual- dade em relagao a renda familiar, como seria desejavel. Portanto, pode-se concluir ue os fenémenos demogréficos e socioeconémicos que marcaram o perfodo em {uestio — por exemplo, a reducao da fecundidade e o aumento da taxa de parti- cipaeao no mercado de trabalho —, que, em principio, poderiam ter efeitos distri- Dutivospostvs, no fort capazes de levar a ume redugto da desigualdade de renda no Brasil Sonia Rocha | 32 A questo da desigualdade de rendimento, que esté intrinsecamente ligada 8 persistencia da pobreza absoluta, se configura, portanto, mais grave do que quando medida através do indice de Cini de renda das pestoas Com o abjetivo de melhor mostrar a designaldade de renda no Brasil, Hoffmann (2001) derivou 0 valor correspondente fronteira entre os relativamente ricos ¢ os relativamente pobres, Considerando a distribuigao de renda de todos os brasileiros com base no rendi- ‘mento familiar per capita de 1999, verificou que para pessoas com renda familiar per capita superior a R$325 naquele ano qualquer aumento de sua renda resultava em aumento da desigualdade, como medida pelo indice de Gini. Em contraparti- da, 0 aumento de renda das pessoas com renda inferior Aquele valor implicava redugio do indice de desigualdade. Cabe observar que o valor “fronteira” é supe- rior ao rendimento médio menssl de RS255"”e corresponde ao 80% percentil da distribuigdo de tendimento familiar per capita, de modo que apenas 20% dos bra- sileiros se qualificam como relativamente ricos Infelizmente, nao existe panacéia capaz de reverter rapidamente 0 quadro rave a eraiee sta natant IOV eSn gra od Sead Dada/e teecndert fe do problema, é essencial usar todos os mecanismos disponiveis, inclusi- ve a tributacio direta ¢ inditeta para solucioné-la. Alem disso, & necessério que decisGes de governo, tanto as econémicas como aquelas no Ambito da politica so- cial, levem em conta os seus impactos distributivos, com vistas a introduzir medi- das compensatérias sempre que howver risco de efeito adverso sobre o nivel de desigualdade. A muito almejeda retomada do crescimento econdmico, por exem- plo, requer a implementagio de mecanismos visando evitar 0 agravamento da de- sigualdade de renda, que, muito provavelmente, ocorreri a partir do funciona- ‘mento esponténeo do mercado de trabalho. Ede amplo conhecimento que os indices de desigualdade de renda no Brasil silo elevadissimos e, 0 mais alarmonte, que a tendéncia tem sido ade agravamento. Sabe-se, outrossim, que a persisténcia da pobreza absoluta 20 nivel de renda per copier tapi pals Gnve'l ded gible Ayan’ dcusbe AvtAtricar cde Tle: radas declaragbes de todos os segmentos sociais quanto ao combate pobreza como priotidade nacional maior, ha, na pratica, enorme resisténcia a implementagio de medidas que operem, direta ou indiretamente, no sentido da redusio da desigual- dade de renda. a fron 2 Hoffrrann (20012) reconhece que existe subdeclaragzo das endas a Pnade det twiraalternativa com base em rendas corrigidas. A maior eubdeclaragio das rendas maie as, como é provivel, leva asubestimar ograu de desigualdade 40 Pobreza no Brasil—Afinal, de que se trata? © papel distributive do imposto de renda Pode-searqumentar que a distribugia da renda fair per capitodispontvel, isto & 2 tenda por integrante da familia apés a incidénca dos tibutos diretos, tena mais ‘elevncia como determinante do bemvestar do que a do rendimento bruto das pessoas (u das Farias. Nos paises rics, o imposto de renda tem wm papel fundamental na metho~ "ia da distiibuigdo de rend reduzinda de forma signiicativa a desigualdade de rendimen- tos medida pelo coeFcente de Gini, que se situa de maneira geal em tomno de 0,3. No Brasil, em furgio de sua base contributiva restita, os efeitos distributives do ‘imposto de renda 380 fmitados, pouco redurindo a desiqualdade de renda bruta. Simula. Bes realizades para o ano de 1999 nermitram estimar oimacto distrbutivo do imposto de vende pessoa fisice, isto &, = reducdo da desigualdade de renda familiar per copita ‘medida pelo indice de Gini antes e depots da aplicacao do impasto (Rocha, 20023), Tendo por base a dstribuicdo de renda brutae as caracteristicas das pessoas nas fami lias, aintensidade do feito distributivo do IRPF depende, por um lado, da estrutue de -aliquotas, por outro, dos regras de deducies autorzadas Rendimento Renda familiar per copito brute ens - Renda Uguida ap6salfquota 0.5870 4,02 Renda liquide apos alguotas e dedugdes _0,6092 0.39 Fontes: SR eE8GL/Prad (tabulcbes api) Os dados apresentados permitem verificr que a apicagdo somente das aliquotas do ‘imposto faz o indice de Gini declinr de 0,61 para 0,58, ou sea, uma redugdo de 4,02%. ‘Ao tealizar simultaneamente as dedugées autorizadas, 0 efeito distrbutivo total fica ‘edu a apenas 0.39%. Assim, aiquotas e dedugies tém potencialdistributivo igual- mente fraco, mas em sentido fnverso, de mado que a impacto distributivo total do IRPF seria praticamente nul Considerande os baixosniveis de rendimento da grande meiora da populacao, o que 4 torna isenta do imposto, hé possibilidades limitadas para que o IRPF contribua de. Sonia Rocha | 41 forma significative para a melhoria da distibuicdo de renda. Ha algurefeite marginal a Ser obtdo pelo aumento na progressividade das aliquotas e pela reducto das renUncies 3, reconhecidamente regressives es su fiscais associadas as dedugdes autoriza rez la verdade, os matores efeitos distrbutivs do impasto se dio deforma indirete, através das transferéncias de renda que o imposto passa vir a financlar, o que torna relevante o debate em torno do poder arrecadador do imposto e da forma de utlizagao da receita tibutiria obtida, Capitulo 3 Medindo a pobreza: o conhecimento consolidado e as escolhas possiveis A experiéncia brasileira revisitada A experineia de estudos de pobreza no Brasil é diversificada. Engloba desde analises baseadas na abordagem das basic eds — er que sio usados indicadores sociais de inadequacao em relacao a diferentes condigoes de vida para delimitar a subpopulaeao pobre — até andlises que visam identificar os determinantes de bai- xa renda, a partir da distribuigao de rendimentos. 4 revisio sucinta que seré feita aqui se limitaré aos estudos que usam a renda como parametro para a mensuragao da pobreza. ‘A adogio de linhas de pobreza é uma abordagem adequada no contexto bra- sileiro. Por um lado, a economia brasileira ¢largamente monetizada, de modo que 2-renda se revela uma hoa praxy do bem-estar das familias, pelo. menos no que concerne ao consumo no ambito privado, Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios (Pnad — 1999) mostram que apenas 3,59 das familias ‘tem renda familiar igual a zero, 0 que certamente mascara em boa parte rendas irregulares e informais, Por outro lado, a abordagem da renda € adequada porque, desde a década de 1970, se dispdem de informagdes de consumo, de rendimento € de caracteristicas socioecondmicas das pessoas e das familias que permitem tanto estabelecer as linhas de pobreza a partir do consumo observado com base em pes- quisas de orgamentos familiares, como utilizar esses parimetros juntamente com as informagées anuais de rendimento das Pnads, delimitando e caracterizando a subpopulago pobre. No Brasil, o conceito operacionalmente relevante € 0 de pobreza absolut, ji que um contingentesignificativo de pessoas ndo tem suas necessidades basicas aten- didas, mesmo quando definidas de forma estrta, Trata-se, portanto, de definir parimetros de valor correspondente a uma cesta de consumo minima, seja ela ali- ‘mentar (associada i linha de indigéncia),seja considerando o custo de atendimen- to de todas as necessidades de alimentagao, habitacdo, vestudrio etc. (associada & linha de pobreza). | | Pobreza no Brasil Afinal, de que se trata? Assim, # operacionalizacao da abordagem da linha de pobreza envolve dois aspectos bésicos, o estabelecimento do valor das linhas de pobreza e a utilizagio desse parmetro em conjunto com as informagdes sobre rendimento. No qe concerne ao estabclecimemto do seu valor, as linhas de pobreza podem pertencer a duss categorias: arbitrérias ou observadas.!* As primeiras so aquelas estabelecidas sem que haja gurantia de que seu valor possibilite 0 atendimento de um conjunto de necessidades bisicas, quaisquer que sejam elas ©. forma de sua determinagio, As linhas observadas se baseiam na estrutura de ‘consumo de populagdes de baixa renda, como investigado em pesquisas de or- samentos familiares, Linhas de pobreza arbitrérias O exemplo clissico ¢ a adosao do valor de USI ou USS2 20 dis util pelo Banco Mundial para comparagées de incidéncia de pobreza entre py {o Brasil entre eles), apesar das diferencas de custo de vida e das dificuldades na Geterminasdo da renda das familias e das pessoas em cada caso. Um exemplo especifico relativo a0 Brasil refere-se a adocio do saldrio minimo ou de um de seus mltiplos como linha de pobreza, Como se sabe, nem no momento de sua ctiagao, em 1940, 0$ valores estabelecidos para o salério minimo refletiam de forma fidedigna o custo do atendimento das necestidades basicas. Os procedi- ‘mentos de atualizagao de valores que vém sendo utilizados desde entdo, assim como a unificagio nacional do salério minimo, ignorando diferencas regionais ¢ ubano-rras de custo de vida para os pobres, cetamente, nao sontebutnen para methor adequé-lo ao uso como linha de pabreva, Apesar dessas desvantagens, ao longo da década de 1980, a maioria dos estu dos sobre incidencia de pobreza no Brasil utilizava elgum miltipla do salério mi nimo como linha de pobreza. Pffferman ¢ Webb (1983) usaram a linha de pobre- 1 cig lina de pobreza também poe vr dtinids «pei do ensblcomen do «esas lientres imizadas cbidesporprogramaaolineircombeccaroioenen hee isn parenutinads mn cane bam bre nde cnr Paltbidade da dt tm que er inroduatias no mods tte en one ent saa fatanta a misimizci do cast de sentiment dat needa slinestins tec ee mento nd temo lado no Bailem esadosdc brea quo dapoanercerea Iain sobre o cons osenado, madi por va a cot pest Sonia Rocha | 45 2a de dois salrios minimos por familia, 0 que correspondia aproximadamente a US8260/per capitafano, cerca do dobro do valor adotado na époce por agéncias internacionais no monitoramento da incidéncia de pobreza nos paises subdesen- volvidos. A favor do parametto adotado, argumentaram que o custo de vida no Brasil era bem mais elevado do que o geralmente observedo em paises subcesen- volvidos ¢ que 0 agravamento dos indicadores sociais pars familias absixo dessa linha dava sustentacao & escolha do valor. Pastore, Zylberstajn e Pagotto (1983) definiram a linha de pobreza como 1/4 do salério minimo, mas inovaram ao utilieg- | em confronto com a renda familiar per capita. Com base nesse parametro fize- ram um estudo abrangente de comparagao intertemporal das caracteristicas das populasSes pobre e ndo-pobre nos anos censitérios de 1970 e 1980. Hoffmann (1984) argumentou que a despesa total era uma melhor proxy para renda perma- niente ¢ usou essa varidvel do Endef com uma linha de pobreza de dois salérios minimos por familia para obter estimativas de incidéncia de pobreza, Tanto Hoffmann (1984) como Fox e Morley (1990), Toloss (1991) ¢ Albuquerque (1993), todos utilizam 1/4 do maior salario minimo vigente em determinado ano como linha de pobreza per capita, Ajustando o valor para diferentes anos, com base em ices de precos, fazem comparacdes intertemporais de incidéncia de pobreza, 0 que requer 0 uso de microdados da Pad. Vale lembrar que a popularidade do salério minimo como linha de pobreza ‘steve em boa parte associada a dificuldade de-acesso e uso de microdados das esquisas domiciliaces. Para anslises cross-section de incidéncia de pobreza, linhas de pobreza familiar — expressas como mitiplos de salirios minimos —,” foram frequentemente adotadas porque permitiam derivar a proporeao de familias po bres (@algumas de suas caracteristicas) diretamente dos dados da Pnad publicados pelo IBGE. Linha de pobreza a partir do consumo observado Embora seja relativamente comum 0 utilizagio de mips do salétio mi- sts. ‘imo como linha de pobreza no Brasil, existe consenso de que havendo disponibi- |. lidade de informagdes sobre a estrutuza de consumo das familias, essa ¢ a fonte | Liye mais adequada para o estabelecimento de linhas de pobreza. "" Geralmente, dos salitios minimos, 0 que se vineula indiretamente ‘minimo per capita para uma familia de quatro pessoas. A nogio de 172 salsrio “6 Pobreza no Brasil—Afinal, de que se trata? A principal antagem des etablecers inka de pobren a pari do cone mo obsewado conic er ume been = mo neces aa nais —™" a partir da qual se pode derivar a cesta alimer tar minima adequada, Eablet olor doco nto mena detamsatnlinys oats feqdentemene eco comova aglade noted eee sudo dana de prev. Ao contre do que manne oe lana ees, eat merit bse erica par etubcheeso gee ee ‘Mequado cn temos de vsuato aabice ee Owe dopocdinete depend de degenioclcoaform;be sobre a esta de cnsumo de populates de assent cee ae exsaments falar. A reeagto de Ese Meee oe oe een (Endef), em 1974/75, permitiu gerar a base de dados indispensivel a adocio dessa sbordgem no Bras Asim, quando o conte erent Bouse diponie no inn dadeewn de De eisbonce eae eo so dos eed pons de Thomas 12) Rast Ts0 tae 4 mesa metodaloga-—cam base mucho ooane en came cxsto que permite tenders necendads dengan ae He menor lr contespondente—eubelcrom 2tinharde ngs ane as dreas espaciais de anilise do Endef."! Os resultados obtidos referem-se a 1974/ 2 und, etiam ede padre nhc a, coh pict eee compara ds tbugoes de dsp amir com aslinhas de pobre 1s ocaimente pecs, ain deriada do es see a, fz com ano Eade ma anagem mpurone athe ee riterinao de pobree, Um dasratber Oo on esi ec te melhor sa ends permanente prosydebesscoe se ee dit—doquesinorngi de eadinene pertinence diibigan de depesprmicunammeher eeoreende aac ae das cama de as aa rena Em conegu nc ane de pobre st aul inant senate din se families, Quando, eratinmmente cara i a eames * As necessidades nutricionais em rel Wao a eal pro eels» rin proteins demas mates, enableian EcAFAO paraindvdsos—confrmesexo. Wade atl deatvidadette stot ges seca parc exabdecneato das eceiade nicomia de popslbcicneiion familias na base da distribuigao de rendimento, tere eae Tatts reas paras uss amos do Ende presenta const, do ponte dvsta Sonia Rocha consumo observado em confronto com 0 rendimento do censo demografico ou da Pnad ocorre, necessariamente, alguma superestimagio da pobreza devido a0 vigs de subestimacio do rendimento nessas pesquisas Essa € a roedo por que 03 resultados de incidéncia de pobreza obtides em 1974175 nao sto compariveis com aqueles obtidos para outros anos usanco-se as resmas linhas,ajustades para as variagBes de presos, Rocha (1988b) adotou 0s pa- ‘rametros de consumo derivados do Endef por Fava (1984), atualizando seus valo- tes para o periodo 1981-99. Com base nos microdados da Phad 20 longo de todo 0 periodo, 23 linhas de indigencia e de pobreza permitiram obter, para cada ano, indicadores de incidéncia de pobreza e de caracterizagao das subpopulasdes po. bres e nfo-pobres quanto 3 forma de insergio no mercado de trabalho ¢ a condi- ses de moradia e acesso a servigos puiblicos bésicos (Rocha, 1995b). Outros estados também utilizaram linhas de pobreza derivadas do Endef, mas, muitas vezes, gerando resultados somente para um determinado ano. A Cepal (2991) estimou linhas de pobreza para as éreas metropolitanas e estabeleceu aque- Jas relativas as éreas urbanas e rurais como correspondendo a, respectivamente, 90 «¢ 75% do seu valor, Romo (1990) atualizou os valores das cestas alimentares cstabelecidas anteriormente pelo Banco Mundial. Peliano (1993) usou valores das cestas alimentares derivadas pela Cepal, em conjunto com dados publicados da Pnad relativos & distribuigzo de renda das familias, para estimar o niimero de indi- gentes em 1990, A realizagao da Pesquisa de Orgementos Familiares (POF) em 1987/88, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatftica (IBGE), deu origem a uma nova base de dados sobre despesas, com grande detalhamento no que se refere a despesa ali- ‘mentar, Entretanto, a pesquisa se limitou as nove regides metropolitanas, além de Brasilia ¢ Goidnia, A inexisténcia de informacdes sobre consumo e presos ao con- sumidor nos estratos urbano e rural ndo-metropolitanos, com abrangéncia naci nal, fez com que 0 uso da POF para o estabelecimento de linhas de pobreza atualizadas para essas éreas dependesse de recurso a paramctros do Endef. Rocha (1993) estabeleceu linhas de indigéncia e de pobreza para as 11 dreas pesquisadas, recorrendo aos microdados da POF. No entanto, utilizow as relayoes de custo detivadas do Endef entre éreas metropolitanas ¢ éreas usbanase rarais de cada regido, para chegaraos valores das demais 13 dreas urbanas erurais. Os ind cadores de insuficiéncia de renda e os perfis de pobres resultaram num painel para 1990 (World Bank, 1995), dando origem ainda a uma série de indicadores di niveis para todos os anos do periodo 1987-99 (Rocha, 200la). A POF 1987/88 foi também a base de dados essencial no ambito dos traba- Thos de uma comissio técnica que tinha como objetivo explorar, da melhor ma- neira possivel, a5 informacdes estatisticas disponiveis, visando estabelecer uma a 48 | Pobreza no Brasil— Afinal, de que se trata? | ‘™etodologis para a construgao de linhas de pobreza oficais centrada na nova POF 1995/96, entao ainda nao divulgada” Foram realizados indimeros experimentos com base nos dados da POF 1987/88, sem que se tenha chegado a resultados con- clusivos. Em particular, ndo foi poscivel avangar em algune pontos roconhecidi mente frégeis do procedimento de Rocha — como 0 uso de relagoes de custo do Endef para a estimativa de linhas de indigéncia e de pobreza para as arcas nao- ‘metropolitanas — devido a falta absoluta de informasoes atualizadas sobre a es. trutura de consumo e sobre os pregos ao consumidor nessas éreas, No que conceme especifiamiente ao custo de vida dos pobres em Areas nao- ‘metropolitanas, foi feito um interessante experimento a partir da Pesquisa de Pa- droes de Vida (PPV/IBGE, 1996). Ferrera, Lanjouw e Neri (1998) recorreram 3s informasbes de despesasalimentares e de habitagio em cada uma das areas caber- tas pela PPV” para derivar deflatores especficos, wtlizados para obter a partir da Pnad, valores de renda familiar transformados, que levamn em conta as diferencas de custo de vida entre éreas. Esse ajuste das rendas dispensa o uso de linhas de pobreza especificas, tendo sido adotado apenas um parimetto, correspondente & ‘rea utilizada para. referéncia de precos. Assim, so geradas estimativas de pobre- 2 para drcas ndo-metropolitanas do Nordeste e do Sudeste, independentemente os parémetros do Endef. As limitagoes da PPV quanto a0 tamanho da amostra, areas de abrangéncia einvestigac2o muito agregada do consumo comprometem, em termos estaistcos, a ayaliagdo da estrutura de consumo e do nivel de precos ¢m areas nfo-metropolitanas, Por essa razio, a POF, utlizando subsidiariamente © Endef, continuow a ser a base de dados priviegiada para o estabelecimento de linhas de indigéncia ede pobreza, Sobre linhas de indigéncia e de pobreza 05 valores apresentados abairo, relat As regises metrapolitana, tém por objet vo ilustrar como a partir da mesma base de dados — no caso a POF 1987/88 — utilizando procedimentos semelhantes diferentes autores estimaram valotesdiversos para 2 linhas de indigénciae de pobreza, Os desvios entre valores para a mesma metr6pole ‘videnciam que opcées diversas adotadas em cada fase do procedimento podem afatar © Comissio criads em 1986 e formada por técnicas do Ipea, IBGE e Cepal, sob a enordenayao do Ipes, 2 A Pesquisa sobre Padrdes de Vids (PPV) cobriu 10 area: as seis mettOpoles€ 08 estratos Urbano e rural de cada uma das duasregides pesquisadas, Nordeste« Sudeste, Sonta Racha significativamente o resultado final. 0 valor da despesa total contespendente ao consu ‘mo alimentar adequado, apresentado em dois casos, mostra a importincia relativa da \despesa ndo-alimentar, mesmo para os mais pobres: os coefcientes de Engel. implicit, com diferenciagdes importantes entre dreas metropolitanas, se situam geratmente abst. xo de 05. Iso evidencia que, pelo menos na Brasil metropolitana, nao ha embasemento cempirico para a adogio do coeficiente de Engel de 0,5 para obter o valor da Uinha de pobreza a partir do valor da cesta atimentar, ito &, da lia de indigancia.* Valores de linhas de indigéncia (LI) e de pobreza (LP)* a partir da POF, © coeficientes de Engel impiicitos, segundo a regio metropolitana Regido Rocha/WB (1993) _ Cepal (1997) __Barras (1999) metropotitana “Hupp uur Belém 3190 63.80 050 = — 38,65 91.21 0,42 Fortalera 29,98 66,62 OMS 4,61 35,16 72,78 0,48 Recife 3359 8193 014822467 8542 3.49 Salvador 34.14 85.35 060 45,69 2865. 85,19 45, BeloHorizomte 27,68 74,81 0,37 «43.91 «36,08. 83.43 0.40 RiodeJareio 35,16 83,71 Ode 40.53. «42.29 98.80 O42 Sio Paulo 34,74 96,500.85 49.08. 42.28 1.06 0,37, Cuntiva 2770 7485 0437 «37.89 37.84 102.69 0,35 Porto Alegre 29.63 56,98 052 4623.37.07 8452 0.44 Basia 30909 032 = 3416 9531 0,30 “aloes em Cea de out. de 1967, Linhas de pobreza. Que valores sio esses? Muito da controvérsia em torno da incidéncia de pobreza no Brasil se deve, na verdade, as diferencas quanto aos parimetros de valor — linhas de indigéncia ¢ de pobreza —, utilizadss como ponto de partida. No entanto, existe um consenso basico entre os especialistas: em fungao da disponibilidade de informagdes sobre a estratura de consumo das ferniias com diferentes niveis de rendimento, a deter- 10 coefciente de Engel x relagao entzedespesa alimentare despesa total, de modo que linha de pobreza = linha de indigencia/0,5, Tradicionalment, a Cepal adota ess simplifcasao para 880.56 232,970 2.051,44 Brasitia 927,10 zza71 2.159,87 Fonte: 186/Sistera Nacional de lcces de Poe 90 Communion "INPCatimentgs0/ou. 1987» 1, "*Usliando onde de Bria, Goin © Basia nto a0 metréoles, mas frm cots pela FOF. Estimando 0 consumo nao-alimentar ‘Ao estabelecer linhas de pobreza, aénfase conceptual e analitica se concen- tra, geralmente, na definigdo das necessidades nutricionais cna estimacao do valor das cestas alimentares. Embora, em paises do nivel de desenvolvimento do Brasil, as demais despesas representem mais da metade do valor total de consumo das farnilias, so habitualmente tratadas de maneira muito simplhificada, Na literatura internacional, o procedimento mais comum consiste em ado- tar a hipotese de que despesa alimentar ¢ um percentwal constante da despesa total 51 SUIS ORE CPL seve: wee sapdenae) 94/3961 803 est669 70909 esse? e005"? 9710855 eoretes 19687 as2e23 evere’y wet ww292 reo. ease oxeus eorree 608 1o'L0e geez ec’eee evese eo'ses sy'sey eseoz senna o6'ene sree sroly eee 1079 s2's08 L's 19520 cos ws't97 sz'eee eeee overt 63209 es'ee8 1909 oo's95 er'y69 es'065 191088 oetes nes se9er't sr2e0 ewony os've9 ec'see s9'909 ass so're9 even aay ze'oee Aryodsuest were weet sora wine weve se'see eves ov'eee W088 wns z'609 1900 weg seut otrut ses sores ated ooze 2z'9e7 soreee sure 2p soby (0661 325 $1) — seueyjodorjow saqi601) 125 AeFWEY epLAL ap O|eALAyUL OF s2quapuodsauoa ‘seuobieye> sod sesequawyye-o8u suey sop 40)@), opel 6 ane 1204 Md sevegoo ues, seu spderau oF OF, S ; “stusfoyes opuns san eed Sopeseme saci “OSs op orbrualp > ont op ent reach SEAN SesaEsp‘ovmuusiK cUOUENEN“euRpna “y} > sede ae Hea VIN 0 GE 94 eS Hope (seed eaten ov'ese't 526 9s't08 ss'ceo S6960"T sorate 26200 ze'eoe ou'ssy 907 1o'9Is id sopepyno opSe>junuo> oMgMsan esuzpIsas oBdey.geH, ‘iBayy exo eqaumy oyneg ors cusuer 9p ony squozuay oe sopenes yoy ezaqeuo4 wpe eueyjodonau nou oot ae we we eee ~(te wero ne se on to tsb 6 wa | ol see et ee get oot st | meee anu et ee ae we oe ez ae oes ons sort 62 ate ox: tek caer ap oy ut gost at a cost see on we ate aster = wrt aaa a we) ome ot yas poy 80r 28r 298 01 vet ez om | Sot Pza}eUOY eat art om | emit 3988 Tria. feng. seosed’ sesso spepim erbeniunmcd opemson epugpias” send oi Sodan tees etal apne ce | ee {east ano $2) — seurajodanourse0ibo) epeuioyayer seus epucs ap oyeasuy oe sewepuodsaui ‘se 06aje> od soseiuowe-o8u su94t Sop Jo}, eereqe, Pobreza no Brasil~ final, de que se trata? ‘As despesas nao-alimentares e o coeficiente de Engel Pare que se tena uma idén do inpaciodiferenctado sobre» atualizacio do valor das ‘espesas nBo-alimentares do procedimento proposto e daguele que se baseia no coefi- lente de Engel canstante,sdo apresentados os dos conjuntos de resultados para 1990 ‘elativos 4s regides metiopolitanas e os desvios entre eles, Verifica-se que, exceto em So Pouto, todas as estimativas utilizando os coeficientes de Engel séo mais baixas, o «ue Se cxpica, simplesmente, pelo fato de que no perfodo 1987-89, os piegos dos ai ‘mentos Subiram menos do que os demals pregos a0 cansumidor. Nesse caso especttico, -ssumir uma relagdo constante entre despesasalimentares edespesa global subestima 0 ‘custo de adquiri, em 1990, a mesma cesta ndo-alimentar do perio de referencia, Em ‘lta instincia, implica subestimaro valor da linha de pobreza e as medidas de incidén- a de pobreza que dela decoran, Despesa ndo-alimentar Regiso oct. Despesa Via indice metropoltana __Ergel__afimentar Via Engel__de pragos__Desvio (%4) Belém 050 2.15258 215258 2.672.99 19,47 Fortaleza oso 2.03105 2.55573 ans 47,91 Recife O41 2.60587 3.86502 4.24331 8.92 Salvador 040. 2.72.26 4.08189 5.23250 21,99 BeloHorionte 0,37 2.24807 3.827.799 4.596,77 16:73 Riode dane 0.42, 3.117,37 4304.94 5.21203 17.40 Sto Paulo 936 3.27372 5818.95 5.60158 3.90 Curitiba 057 2.50292 436389 4.57083 -4,53 Ponto Alesre 0,52 2.502.058 -2.300.58 2.450,52 5.75 | Goisnia 032 2.05146 4.35933 6.040.34 —-27.83 Brasilia 932 2.15087 4.50033, 6.307.539 29,66 Observa-se, ainda, que os desvies sio bastante diferenciados entre metrépoles ¢, imuitas vezes, significatives em relagio 20s valares das despesas nio-alimentaces, Isso evidencia que a evolucio dos pregos relatives sobte o custo de vida dos pabres Fesponde também a determinantes locals que no podem ser levades er conta par lum Gnico Coeficiente constante. Fortanto, havendo informacao dispenivel que per imita estabelecer de forma direta 0 valor das despesas ndo-alimentares — como, no aso brasileiro, s indices de precos por grupos de produtos —, é recomendsvel sua utitizaga0 como substitute do coeficiente de Engel para a atualizacso do valor das linhas de pobreza, Sonia Rocha As lizhas de pobreza para as metrépoles Uma vez calculados os valores da cesta alimentar ¢ das outras despesas, a linha de pobreza € @ soma dos dois valores. A tabela 20 apresenta os valores das linhas de pobreza por regido metropolitana, tanto os originais derivadas da POF na sua data de referencia de outubro de 1987, como os atualizados pelos indices de pres0s por grupos de produtos para setembro de 199027 [Bm primeiro lugar, cabe destacar ofato mais evidente, que é larga amplitude de valores. O valor abtido para Sto Paulo, em 1987, £ quase 70% superior ao de Porto Alegre no mesmo ano, acentuando-se ainda mais em 1990 (78%) devido a diferenciais na evolugao dos pregos 20 consumidor nas duas metropoles naquele perfodo. Contudo, cabe observar que os valores surpreendentemente baixos em Porto Alegre resultam de valores baixos da despesa nao-alimentar. Valores muito ‘mais altos em Sdo Paulo ¢ Rio de Janciro parecem sugerir custos crescentes asso- ciados a urbanizagao ¢ ao modo de vida urbano, que afetariam tanto as despesas alimentares como as ndo-alimentares, a partir de um certo patamar de tamanho demogrifico. As duas maiores metr6poles brasileiras, que apresentavam respecti- vamente 15,4 milhdes e 9,8 milhdes de habitantes, segundo o censo demogrifico de 1991, sao quatitativamente diverses da terceira metrépole mais populosa do pais, Belo Horizonte, com 3,4 milhes de habitantes. Tabela 10 Linhas de pobreza segundo as regides metropolitanas ‘Gutubro de 1987 Regia Salirio metropolitan GS minimo* —indices* —€r$_——_minimo* indice Belém 19585 O73 67.59 4.82549 08 54,42 Fortaleza 1,983,546 0,75 69,44 5.20637 085 58,50 Recife 2.46355 0,98 8611 6.92812 14 77.88 Salvador 252912 0,96 3889 7.95375 1319.32 Belo Horizonte 2.241,38 0.85 78,70 6.84286 1,13 785,87 Rio de Janeiro 2.53089 0,96 83.89 8.329,39 «1,38 93,88 zo Paulo 2.85615 1,08 100,00 8.875,29 © 147 100,00 curitiba 220092 08a 7685 7.13375 118 80,27 Os valores das linhas de indigéncia e de pobreza para o petiodo 1990-98 slo apresentadas ‘mais adiante, nas tabeles 12 ¢ 13, 6 66 | Pobreza no Beasil- Afinal, de que se trate? ‘Outubro de 1987 Setembro de 1950 Sallie Sal minimo* indice** eS minimo* ‘metropolitan as indice** Porto Alegre 168078 0.64 59.26 452.58 255,78 Goténia 257186 0.97 gost 809,79 134 one Brastia 285804 1.08 100,00 8.55741 11 95,92 “Ti eo ei We Su TFC a “Tingice com Sso Paulo iguat 3 200, a Limhas de pobreza relativamente eleved obvid te elevadas como as obtidas para Recife eSal- ‘Yador sto associada, principalmente, aos custs da cesta alimentar, mos oun fspesas também se apresentaram rclativamente altas, apesar de seu valet ea, tm principio, em relago dzeta com otemenho urban s bora o custo de vide relativamente baixo para os pobres em Curitiba ¢ Fortaleza ea compatve com resultados empircocanteiorsderadie Soa eg Rgbreendente a pesisténcia dessa caactristca em face das mudangas strata g ‘nsttucionas que ocorreram no espago de tempo que separa a3 dus pesyuinn Fnalmente, Belém ficou entre a8 metrépoles onde o custo de vide para os pores finals baixo-Na verdade,o fato de apresentar valores baxos para asdespe, Sas nio-alimentates poderia ser esperado, js que Belem ¢ pequena e aletn dion, rao apresenta muites das caracterfsticasfuncionais de uma metropole>” Neon, {anto, © baixo custo da cesta alimentar foi, como comentado anterrormente wena uaedo nova detectada pela POF, alterando radicalmente o.quadro snterior went ficado por ocasito co Endef na década de 1970, : As linhas de pobreza para dreas néo-metropolitanas ent xemple 04 prtra €pequena caintegraao funcional entre niles pera recone CAS cleo ue tem impacto dro sobre dsp como habia ctanoprte Sonia Rocha Sinico conjunto de dados de cobertura nacional fornecendo subsidios para a esti- ‘mativa de linhas de pobreza em areas ndio-metropolitanas, Teisdo em vista essas restrigdes quanto a disponibilidade de dados estatist\- cof, as solugoes possiveis s4o precanas. A partir das inhas de pobreza para as re. gides metropolitans, aquelas relativas as areas urbanas erurais foram obtidas com base nas relagdes de custo observadas derivadas por Fava (1984) partir do Endef, Os resultados obtids por Fava para cada uma das sete regioes revelavam, como «ra de se csperar, valores para as linhas de pobreza nas areas rutais mais baixos que os «stimados para es érees urbanas, os quais, por sua vez, sio mais baizos que os relativos 4s metz6poles regionais, 130 resulta, por um lado, do fato de que as dietas nas dreas rorais tém custo mais baixo porque se relacionam mais diretamente’ produgdo local e <éependem proporcionalmente mais da produgdo para autoconsumo. Por outro lado, a urbanizaeto significa custos adicionais, nao apenas em termos das necessidades ai ‘mentares, mas também em termos das demais despesas — tis come habitagao, trans- porte, vestuério e lazer — que tendem ase elevar em fungio da urbanizagao, Os coeficientes que relacionam os valores das linhas de pobreza urbanas ¢ rurais As metropolitanes da mesma regido sZo apresentados na tabela 11. Quando existe mais de uma metrépole na mesma regiio.*? como ¢ 0 caso de Fortaleza, Recife e Salvador, no Nordeste, e Curitiba e Porto Alegre, no Sul, recorreu-se 20 valor médio das linhas de pobreza metropolitanas. A wtilizacao desses cocficientes para se estabelecer linhas de pobreza em areas nao-metropolitanas pressupce que 8s mudangas em tetmos de estrutura de consumo e de presos ocortidas desde a realizagio do Endef em cada regigo foram neutras quanto 20 seu efeito sobre o custo de vida dos pobres nos diferentes estratos, Este é um pressuposto forte, que vai de encontro a evidéncias derivadas das pesquisas de orgamento familiar. Assim, embora restritas as regides metropolitanas, as informacoes da POF zevelam uma tendéncia clara de homogeneizaco da estrutura de consumo e de preos. Quando se compara as cestasalimentares por regiéo metropolitana det vadas do Endef e da POF, observa-se uma maior semelhanga de composigio entre estas dltimas, sendo que produtos alimentares de caracteristicas marcadamente locais ou regionais t8m uma participagdo decrescente, tanto quando se considera a ingestao energética como o valor da despesp, Na verdade, diferenciais de presos por produto se estreitaram de modo a justficar por si mesmos ahomogeneizagao do consumo. Embora a produgao de alguns importantes itens alimenteres ainda seja localmente concentreda (caso do frango), 0s diferenciais de prego no varejo entre metrépoles tomaram-se geralmente muito baixos.® 22 Vee nota, km outubco de 1987, © prego médio do franga era C2855,5/kg em Belém e C2$52,3/kg em ‘Curitiba, Os complexos avicolas ce concentravam em Santa Catatina e So Paulo, portanto, telativamente préximos de Curitiba eeistantes de Belem “7 68 Regises e estratos Norte Belém Urbano Nordeste Fortaleza Recite Salvador Urbano Rural Rio de Janeiro Metrépole Urbana Rural So Paulo Metropole Urano Rural Minas Gerais Espirito Santo Belo Horizonte Urbano Rural sul Curitiba Porto Alegre Urbano Rural Centro-Oeste Brasilia Goiania Usbano* Rural** Pobreza no Brasil Afinal, de que se trata? Tabela 11 Wetropolas (crs) 4.825,49 5.20637 6.92812 7.953,76 8.32939 8.87529 5.804,84 133,25 4.952,58 8.51534 8.091,79 Fonte: Eatery com bate va PFGE ‘Cefcentestelactrand vl us nba pobreza ds metptes regions (Fv, 184) "Rabe & desvada de Goin, coficentes as deme aes ai strato rural a ea a ft ove Coet.+ 089 070 0.2 0,62 0.45 0.3 0,40 os7 0,39 075 0.50 oar 0.43 Derivago das tinhas de pobreza para éreas urbanas e rurais — set. 1990 Urbane e rural (C5) 4.296,68 4.086,73 212.07 5.366,22 3.748,22 591.43 3580.12 4586.06 2.689,09 4.53237 3.02158 6.149,76 3.47947 Valor (uss) e381 56,79 ease 91,81 105,17 61,97 378 nog 63,29 49,58 117,36 73,34 46,96 9051 60,64 35,30 94,33, 85,49 59,93 39,96 112,60 106,99 81,32 4601 fe obeze das seas niometrapeltanas 20 valor das linha de ide palo Ene 0 coccrte fi cleado& pric da mio dos sonia Roc | 69 Essa tendéncia de “nacionalizacio” dos padroes de consumo e de precos que se verifica nas regides metropolitanas pode também ter ocortido nas dreas rurais e nas demais areas urbanas. A modernizacio agricala, quie vem se dando principalmente no Centro-Sul, sts transformando o modo de vida rural em um nodo de vida urbano nas areas rurais. Além disso, a enorme capilaridade das redes de comunicaglo contribui para difundir os gostos e modismos adotados rnas metsépoles, que se tornam modelos de consumo para todas as dreas e regioes do pais. Se essa homogeneizacao do consumo realmente ocorreu de forma genera- lizada no pais — e, por enquanto, nao existem informacoes estatisticas para vali- dar ou nao tal hipotese —, o uso dos coeficientes de custo derivados do Endef para estimar linhas de pobreza urbenas e rurais implica alguma subestimagao esses valores Os valores das linhas de indigéncia e de pobreza para o Brasil (1990-99) A escolha bisica pars o estabelecimento de inhas de pobreza para 24 éreas no pais consist em utilizar o consumo das familias os pregos ao consumidor, de modo a levar em conta diferencas locais de custo de vida para os pobres, Embora seguindo de perto os procecimentos consagrados na literatura para estabelecer li- nhas de pobreza quando se dispoem de informacbes de pesquisa de orgamento familia, as solugoes adotadas aqui foram adaptadas as condigdes brasileiras em trés aspectos principais Primeiramente, embora as necessidades nutricionais tenham servido de ponto e partida, dois conjuntos de partmetros foram utilizados: as necessidades minimas orientaram a determinagao dos padroes de consumo alimenter, enquanto as recomen- dadas serviram de ponto de referencia para o ajustamento das quantidades de cada produto. Portanto, a composiglo eo valor des cestasalimentares finaisresultam de um * Ouso decoeicients alternatives defnidos deforma arbitavae uilizadosem outtos pases, apre- ‘sentou resultados insatistatrios no Brasil. SimulagBes foram feitas com base er linbas de pobreza lurbonas e rai fixadas em, respectivamente, 90 ¢ 789 do valor da linha ou linbas metropolitanas ‘regionalmente televantes, Os resultados obtidosa partir do uso das linhas de pobreza devivadas dos nefcientes observados no Ende e dos coeicientesreferdas cima evelaram ciferencas de ordena- 0 das subsreas, no que concern a incidéncia de pobreea, Os zeukados asociados ts linhes de pobreza conseraidas pati dos coeficentes do Ende rftiram de forma mais adequada as espect Ficidades de desenvolvimento regianal no Braile seus provivelsimpactos sobre a pobreza, 7a) oie ea aac) que ae Procedimento hibrido. Sua utilizagdo visa obter uma cesta alimentar que concilie a adocdo das preferéncias do consumidor de baixa renda co atendimento das necessida- des nutricionais recomendadas a um custo compative! com a utilizagao da linha de Pobreza como instrumento de mensuracio e caracterizacao da pobreza no Brasil Em segundo lugar, os valores das despesas nfo-alimentares foram atualizados sem recorrer ao coeficiente de Engel Ao invés de consideret a relagao entre despe- sa alimentar ¢ despesa total como constante ao longo do tempo, cada grupo de despesa teve o valor atualizado ano a ano segundo indices de pregos ao consumi= dor especificos. Isso implica nao lever em conta elasticidades-prego cruzadas entre grupos de produtos, as “quantidades” permanecendo constantes, da forma que é habitual considerar quando se trata da cesta alimentar. Essa opgio parece especial- ‘mente adequada, pelo menos como alternativa i adocao do coeficiente de Engel. Ademais, € conveniente devido a0 fato de que, especialmente nas dreas urbanas, certos grupos de despesas como habitacao c transporte podem se tornar essenciais ©. consequientemente, inelisticos a variagdes de presos no curto prazo. Nesse sen tido, havendo informacao de precos disponivel, nfo ha razdo para tratar diferente- mente a atualizagao dos valores das necessidades alimentares e nao-alimentares, Finalmente, em terceiro lugar, como inexistem insformagoes recentes sobre consumo ¢ presos nas areas nao-metropolitanas, nao foi possivel utilizar para elas 0 mesmo procedimento de estimagdo das linhas de pobreza metropolitanas. A alter- native adotads foi recorrer a parametros derivados do Endef, que refletem os dife- renciais entre valores das linhas de pobreza metropolitanas e ndo-metropolitanas (urbanas ¢ rurais) em cada regio, Esse procedimento visando contornar a insuf- ciéncia de informasées pode, eventualmente, gerar linhas de pobreza urbanas e ru zais com valores mais baixos do que os que seriam obtidos utilizando informacio direta atualizada. Apesar de haver indicios sobre a convergéncia de estruturas de consumo e pregos 20 consumidor para o conjunto das metrépoles, optou-se por no tentar fazer ajustes nesse sentido ao derivar linhas de pobreza nao-metropolita- nas, jf que nao ha qualquer evidéncia empirica disponivel, As tabelas 12 ¢ 13 apresentam, respectivamente, linhas de indigéncia e de pobreza, calculadas segundo o procedimento descrito para as 24 dreas de andlise, detalhamento méximo permitido pela base de dados, 20 longo do periodo 1990. 99. Esses serdo os valores utilizados daqui em diante quando se tretar de analisar a incidéncia eas caracteristicas da pobreza na década de 1990. Os valores relativos a 2001 encontram-se no posfcio. Tabela 12 Linhas de indigén (1990-99 — precos correntes) Set 1998 Set 1999 Set 1995 Set 1996 Set 1997 Set 1993 eRS SM SH RS SM % SH RS SH RS oH 2,383,29 0,39 119,564,54 0,23 2.38391 025 27,26 0,27 27,18 0,24 25,92 0,22 27,08 0,21 26,110.21 2.346,98 0,39 197,687.37 0,23 2.346,48 0.24 26,83 0,27 26,75 0,26 25,510,21 26,66 0.21 277,67 0,20 0.23 30,23 0,22 a3 aa gg as ga a 0.686,39 0,24 2861.46 0,26 26,42 0,26 28,59 0,26 2864024 30,22 0,23 31,05 0.23, 2.19074 0,23 22.77 0,23 24,64 0,22 26,690.21 26,05 020 26,77 0,20 1757.42 0,18 18.27 0,18 19,77 0,18 19,810.17 20,90 0,16 2147 0,16 3.42149 0,36 36,40 0,36 38,93 0,35 39,210.33 41.24 032 41860,31 2.166,41 0,35 128,280.82 0,25 2483.66 0,26 26,42 0,26 28,26 0,25 28,460.24 29,93 0,23 30,39 0.22 Sonia Rocha 1.961,54 0,20 2087 0,21 22,32 0,20 22,480,19 23,64 0,18 2400 0,18, 2,888,546 0.48 169.012,68 0,32 3,330.06 0,35 36,31 0,36 38,63 0,34 38,860,32 40,02 0,31 4139 0,30 2.457,34 0,39 137.931,25 0,26 2717/67 0,28 29,63 0,30 31,52 0,28 31,710.26 32,66 0,05 3378 0.25 1.853,86 0,31 108.672,24 0,21 2137.26 0.22 23,30 0,23 24,19 0,22 24,94 0,21 25,69 0,20 2656 0,20 wl® $ sees a g oe 883 a Eee als § #88 828 Rei gs 2 oi sigied2,$32isibiaaiiz Se eeescegsSetgsastssteea eg seo yeease3 08s 2 3 n B Sonia Rocha EL eageL - “rumor ou sore = nS iz “28Y/S #2004 eg Wr wd epee es | sto ceoe sro veer Stoo woe wo ere aD aia ovo aus Wo wIT Tem B [Gz osv'L2 ovo mse wowre zo sere veo eee 920 sosee 22° so'DGNTEIL OF Lelore — ouegr Z| Rosore er eve so se's2 so ace wo see eo wore G0 TIz0UEL OF eros 9 Z| OvIC wo weve weocree v0 ss'ee azo owe sro srimce S20 erecorel a0 wore cyten z sas20-oue) T [Hose wo oste corso aro woe ovo over oro wzest ar s'eor's6 iz0 eceest wena 3 ten wise Teo 9eLe e2°D 0°92 er'0 96's2 S2'0 B9're 92'0 ON'EHY'e EZ'O ‘ST'e06LZT H5"0 Os'eL0'2 ouegin = | Rotee ve eete eco avee oz soe seo evz occa Weoee a7d as'esetnt orD oujun ODEs = Hs "ORY/2aIns » 39e/204 4 869 absent opboge-Tuey 170 90) 970 BC95 90 EYE Iv eae 170 WF HD SEGOLY WYO TEELI2 WO SRA OSD OOTY Tey WORSE 9L'0 Le86 GLO 21°56 20 co’ TO BEER Bx'D s'EOsL LO LE'LOONE 970 OF'TerLe ét't Os'sOeE ENN 20'TS2'ELOO'T SB'6ZT POL Eo'ret LOT 7E"O2T LO'T BB'9OE EO’ SHS E61 LE'SETYAY COT BEZTOSE ——zr'LO"'S IO} 60'T FOOL LO'E SO'SEL EL'L MY'GEE SE'T-G6'62T H1't Ze'EIT BO't EL'ISEOE 6610 Lz’reSyIg LOT BOZETEE 2st verre §— SUG s2g-onuey SCO 11 7E'D MY'77 SEO SS'er 9E'0 28'DY BED GL'SE SE'O OREDEE 2E'0 O6'6rC-99I EO BerBLrTL ay’D 22267 en 20 cE: 15'0 26's9 esd TH'ER S10 Se'v9 HO BU'ES e510 LTEEO'S LO IVE LZ UD SBOE 20 so'VEey —oUeEN 190 Is'€s 65'0 S1'9e ToD ZO'EL 2910 00°69 2u'0 Bz’Z9 ev'O a'IE'S GG'0 Tr’ves EZ Ss EO'DEETET E8'O CE'SOO'S aNbeTy OLN 8L'0SS'90L91'0 T8'RG GL’ $0'S6 18° SB'05 THO G9'OR LEO LO'LEYL 0L'0 Ss'ssI'9E OL'D 2s'eHr'se BO'T Or'eES'9 —eqauny ¥S 0510 25'49 B90 2129 61) TE'T9 Es'0 90's ey SOY ErD Lresl'y Orv Le'seOou IY sU'ENL O60 serOCE ene 6L'D EEO LL'0 OL'65 TS'D Sy'L6 T8'O 12°06 920 6C'DL 6970 UHI r9'G Gr'ESe'eE WD zT'erE'EZ BO SOUS — ouBN P21 U6. O2't 20'95C 12"T TS'eSK c2™E-SE'IME OR't $5611 BOT ZEE9EOE OU 1O'PGE'EIS 10 BOTESSE ee't er'sore godonaW nea o8s ‘770 BEES H7'D SLES Sh'D Or/y6 990 Br'TS vO Sosy EY'o EO'sMLy GED SOLE TOR wD OBEMHEL 950 LEE remy O80 Sete 09'0 Le'se 2010 es'ng E910 z5'OL 290 €L'T9 65'0 SO'cRN'S Ys'D wr'seweLe 20 z—'eRERL LL'O Gay ura 960 LOE £6'0 SB'SZE OO"T Be'ett TO'THE'EIT GEO 12°65 $6'0 TB'PET'S 98'0 ve'OnEM” ve'D TO‘EYOE {ZL se'oeL —apdoNAW ‘uBuer 2p ony 20 OOS 2E'0 HU'Ty EEO EL'GE YEO LO'LE eet ao'ze Ie'0 6R'ersz Bz’ LLooreN Bz'D BESZTOL Ero covAs? rar 950 Tet E510 os'e9 9510 T1'L9 LS BB'ED Ss'0 O2'ss 250 EL'tUs'y ero Ez'eeLUSe Lr'D BOLLE zl’ BsIy —aUeNIN TWO 8L60L 0B‘ Le'EOt ERD 28°66 SED 91'S6 eed T1ZR WO IZ'r6E'L I'D oR'oLOTLE OL'D Se'UrYs2 LO'l OB'EGY'D MAcUOH'g cues oxudsg sie) Seu SEO Mer ED LL SED BB'Ry LEO Tet LED HELE se'o ec'LAEE Ee'O SLCC LUT ye LO'ESeeE BYO OR'seEz yeiny 45'0 S1’B¢ £50 t'%2 65'0 BO'TL 20'0 E69 25° T6'T9 BS'O AL'StE'S ys‘ ev'soe'e~e 95'0 SB'LETOR 6L'O OFERY cue Ws_S WS $H WS SY WS SY WS SY WS SY oWS S$ WS SWS SD sons S566r WS 661 TAS LECT IS SEES S66 WS CEES ZOE WS GST BY GET HS a sa0Ibay S@O€6'71- 780 ax'6ot 82) LOGOK zw re'aMI 260 LEZ LAO ELOOrE BLO eoelEeOY GLO OTOATeE GT QUDIEL “0 By'82" €6°0 <1 0 OV o ae SSOBLEE: C60 S12 S60 SH'ME OFT LETII 66D ZU'—6 E8O AL'eASE BD TEDEELOY S60 OeUEEDE <2t HeHEOe come SFO RSEE Se cabs eo OLTE TED arse ze0 mze BH 6LLOE9 vO AY LECUEE 90 SeBLDEe OED velGrS eet , 4 sn 950 VOL O80 LnZL s'0 POOL EBD LOL E90 (629 oud estEES aso ar'sETTLe YO DERE aL z'lOLy cuca 90 Eciaw0 oEB B90 oa 20 Sue ZL0 ¥ezL HO BILHLD 9D ZOTIE cod oT'eTE osD para 100% do > > (rbitarioy > 4 0 valores, porte calérico Desi 8.3% Desvio 40.8% Desvio 126,9% eo a £ due 2.53 > Costa 1.188,98 > Englde 0.23 3,602,997 maximize observada (otservado} 0s valores {Fonte de dos bsios: POF 1987/88. Nts sali minima era de Co2.54000. Sonia Rocha Eeevidente que, na pratica dificitmente serdofeitas opcSes metodalégicas que impt |quem, de forma consistente, a obtencio de valores maximos © minimos para es parametios fe valor, come esquematizada no exemplo. @ importante a destacar aqui € que, em fung3o das muitas possibilidades de escolha metodologica a cada etapa, as UIs e LPs estimadas refletem 0 consumo observado eo julgamento de valor do analista em propor- Bes variaves. Como conseqiéncta, tanto os parémetros como os resultados obitidos de sua aplicaggo si Unicos, prestando-se para anise em cross-section e de evolugdo tem: poral da ineidéncta e caracterizagao da pobreza, tendo como teferéncia as premissas das no estabelecimento des parametros, Hesse sentido, resultados sobre indigenciae pobreza obtdas a partir do conjunto de ppardmetios diversos, obviamente, nao so compardyeis, Resultados “mais adequadtos” para descrever as condigdes de indigéncia e de pobreza no Brasil sio aqueles que deri- vam dos parémetias obtidos de forma mais “senssta’, tendo em vista tanto os dados ‘isponiveis, como as hipéteses adotadas para contornar as lacunas de informacao. Com- parages intemmacionais s80 necessariamente precaras, ji que afetadas nao s6 por op- ‘es metodoldgicas diversas na construcdo das Ls e Ps em cada pats, como por diferen- ‘2s nacionais quanto ao detathamento e 3 especificacHo das bases de dads estatisticos. 75

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