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Barroco Teoria e Analise Affonso Avila ©Conyright Revste Barreeo dos Intemacionais de Catslogngo na Publicado (CIP) (Camara Brass do Livo, SP, Brit Barco = towis «ands / Affonso Avila oreanizaio ‘tadugio Segio Coelho, Perola de Carvalho, Hl Cunha de Vinoenio, Elio Meotag, Marie Levy. Sto Paulo: Forspectiva; Belo Hor zone Companhia isle de Metrgiae Mine;3>, 1997 (Colegio yas; 10) ISBN: 85.272.0126-1 repose) 1. Ane barred. Avila, Alfons, 1928 - ML Sic 96.2595 cop-708082 adios para etélogo sistomatiow Lae bamea 708082 2. Barroce + Ane. 709032 Dini rsevadoe em lingua porn [EDITORA PERSPECTIVA S.A, Av. Begadeeo Las Ante, 3025 1401-000 ~ Sto Paulo» SF - Brasil Telefon: (0) 885-8388 Fax: (O11) 835-6578 97 4, 0 BARROCO - UM ESTADO DE CONSCIENCIA Germain Bazin 0s grandes estilo de criacZo, tais como 0 grego do século V ¢ 0 gético do século XIII, ndo se preocupam ‘com as teotias.artisticas: 0 antisia criaenvolto na alegria, ‘guiado por um instinto, seguro de que postula uma con- cordéncia perfeita entre si mesmo ¢ 0 outro. As teorias, decotrem da arte e do a precedem. Seu papel &, em ge- ral, o de impor aquilo que se faz 0 exemplo do que é feito, 0 queé propriamente absurdo, j que o que fot fei to € considerado como inimitivel, # por isso, criam-se escolas! Em nenhum outro momento da histria da arte a ‘tcoria encontrou-se tio intensamente oposta & pratica quanto nestes dois séculos que essistem & prolifera ‘ao das mil € uma formas dequilo que denominamos com 9 nome casual de barroce. No final do século XVI c nos séculos seguintes, de inicio na Tuilia, de pois na Franga ¢, por fim, na Alemanlia, 0 queos ted ricos recomendam aos artistas é 0 classicism cujos principios rigidos decorrem daquilo que se conhece do antique* e dos exemplos do Renascimento italia- no que se omaram regras. ‘Assim, desde sua origem, a arte barroca se encontra em palpos de aranha, Esta are, que se basa na liberds- de de criagdo, & oprimids pelos doutos eruitos. E nos perguntamos S2 0s antsias comprecadem bem asi pet Dros. Bernini tera fcado muitosurpresose Ietivessem dito que nio respitava oaniigue. xcepcional ¢ a opinito professada pelo pintore ar- aquiteto Pietro da Cortona no Trartio della Pitwra e Sculptura, publiesdoem 1650, que ele escreveu em con junto com padre jesuita Domenico Ottneli. Ema Idea, cara aos maneirsts, a0 conformismo doantigue on 208 modelos fomecidos pela natteza, ele opce 0 artfcio, aque & propriamente 0 conceito personalizado do artist Entelanto na tila como na Franga, os tericos defer- dem os pincipios absoluts do elassicismo. Estes serio, no entanto,contestados na Franga, soho teinad de Las XIV; a gueels dos Antiges e dos Modemos iteressa tanto i teatura quanto & pintura entre os partidos de Poussin e de Rubens uta teminar em um comprome- time, ‘Accitcaseré muito mais severana lis, Algunsche- gatdoa ponto de condenaras obras desta arquiteurs, aj opuléncia, hoje, acs deslumbra, Desde oséculo XVII, em tum tatadosobre a biografia doe artistas do antique,Carlo Dati declara que aarquiteturadeseu tempoconstitui “um retomoibasbatie", Em 1767, Teofilo Gallacini consagra todo um tratado aos erosdos arquitetosmodemes, Caberi a Milizia decrotar a condonagio definitiva; estima que Borromini“havia evadoaarguittwra aseumaisalto gran do doliio”. Estamos em 1767.Na Europa o barroco la «suas ilkimas ckamas;na Amética Latina encontn-seem plena prosperidade. © equivoco estaré em seu auge no segundo tego do século XTX, quando osurto da civilizagio industrial aear- seta uma fre de construsao urbana, tanto piblica quan to particular Esta cvilzagio éorgulhosa de sua riquezas © optmes por manter 9 emo ange quando oauorse wee a0 period elissic. (N- do) 8 como manifesté-la de outra forma sendo pela estentagio de um luxo tomado as formas antecedentes de barroco? Mas aqueles mesmos que vivern em ambi regades, atrds de fachaudas onde so prodigalizadas mol- dduras ¢esculturas,se declaram, no que concere ds.artes igurativas de seu tempo, tdo-somente por uma estética clissica imutivel, cujastegras © alemio Winkelmann ha- via fixado em 1755! ao intuito de resolver esta contradicio que iri se decicaro historiador de arte suio Heinrich W6liMin, 0 qual, em 1888, em Renascenca e Barroco*, dava en- fim 20 barroco um valor positivo, ainda nto sem alguna hesitacao, no entanto, pois o que ele estuda éa evolucao «da arquitetura romana de 1525. 1630, e para compreen- ddero barroco, este “reprovado” da hisiéria da arte para enunciar seus prinefpios, necessita desse quadro de ree. rencia que ¢ o renascimento, CO arraco, als, ao mesmo tempo estudado pelo ale- mo Gurlit, que 0 abordava comohistoriador sem emitir {izo, havia conquistado direito de cidadania na histon dda arte, mas sempre restava alguna eoisa de “conseqien- te”, sei ndoera mais uma alteragao do classicismo, nto se the jgualava,entretanto, nem emum des grandes mo- | mentos da evlugio das artes. Seri W8lfflin, uma ver mais, quem ind destacar este valor positive emseuConceitos Fundamentais dia Hist riada Arte, esotitoem 1915. Ali, inspirando-se nes prin. cipios da “visbilidade para”, elabocados pelo fl6sofo ale mio Hildebrand c pelo escultorKenrad Fiedler, desatave ‘01nd gérdio por meio da pura andlise formal afastando ‘qualquer preconceito, pressuposto oupredicado, ria, por algum tempo, orientar o olhar des eritices do século XX sobre s obra de arte. Para usar uma linguagem estrutura lista, Wolffin apegava-seapenasao significado,sem con- siderarosignificante, fonte de tantas contradigoes Desta vez, nio faz defluiro barroco do elissico, mas ‘ope um ao outro como as grandes forgas antagonistas {que ritmam o movimento geral das ares constituidas na. | {quilo que foi denominado “os cinco pares de Wellin”. ** eo, brs, Pespeciv, Sao Palo, 1989. 1, © poeta Affonso Arll,fundador ¢ dirt da cove Barrece, com 0 Hstorodor fants das sts Genin Basia, po ecto dh relzayo em Ouro Fete Minas Gers, do I Congresto do Barroco no BrailArquitetura e Aes Péstcs, em stembro de 198%. (Fee: Angela Orvaldo) Como redduzit a um principio unitatio esta arte pro- teiforme que é 0 barroco? Eu mesmo tentei esta eborda- gem em um livro intitulado Destinos do Barroco, escrito ‘em 1968. Destinos esté no plural, pois o burroco serviu- se de tudo, nao apenas das formas que criava, porér tam bém das Formas j4 usadas, como 0 géticoe até mesmo 0 ‘Se Fosse prociso condensar meu peasamento em wma, Xiniea frase, en dria hoje, uilizando ainda os recursos dt linguegem estruturalisia, que esta proliferacto sem li tes do signifieado é para o homo barrocus um artficio, ‘uma maneira de mascarar o enfraquecimento do signifi- ccante, Hi no inconsciente coletivo destes tempos uma perturbagio profunda, devida ao cdscuro questionamento do sagrado, o sagrado monirquico assim como o sagra~ do eligioso. ( absolutismo fundado no direito divino, sistema po- litico que rege a eivilizaglo ha séculos, nao teria sido, centdo, recolocado em questio? A Inglaterra mostro 0, cexemplo decapitando um rei no final do séeulo XVII, ccolocot tum outrono trono, mas tirando-Ihe todo poder «, antecedendo de um século a Revolugio Francesa, ins- titui entdo a democracia, Na Franga, no inicio do século XVII, Henrique IV 6 assessinado; em seguida, sob Luis XII ¢ & mincridade de Luis XIV, 2 monarquia 6 contes- tada pelos poderesos. A reagéo seri este Luis XIV que tanto por si mesmo como polas obras verdadeiramente “reais” que multiplica, faré do direito divino um exem- plo tio perfeito que se impord a todos os monarcas © principes da Europa, os quais, mais © mais, d artes i celebragao do cult. ‘A fenda foi muito mais profunda no pensamentoreli- soso. Desde hi séculos a eivilizagéo erst tina se ex- pandido harmoniosamente, aproveitando-se das proprias hheresias para apurar ¢ deseavolver seus dogmas. Para isso foi preciso renegar toda uma parte do patriménio ‘spiritual da humanidade, aquele do mundo antigo. Foi na Iti, onde esta heranga perdida se encontrava mais ‘subjacente, que iria renascer ~, de inieio em harmonia com o pensamento cristio na Florenge de Cosme de Ms dicis, onde a Academia criada por este recone! 20 «Cristo em nome da philosophia perennis © da prisca theologia, No eatanto, seri na propria Florenga que, em nome dos direitos de Cristo, esta harmonia sera rompida a tempestade explodiré com © monge dominicano Sa. ‘yonarola, cuja rebelido anunciaré o rasgio que Lutero ita produzir no véu som costuras do Templo. A Igreja reage; através do Concilio de Trento, convence-se de que venceu a heresia c di aosartistasa missio de eelebrar de uma maneira impactante esta meia vitéria. Através de todos os meios que irdo ofereceras belas-artes, a musica ‘ea pintura, sora preci crita ¢ inabalivel, e quanto mais as descobertas da cign- cia parecerem contradizé-la, mais os procedimentos da celoquencia serio colocados em ago para exalté-la, Aare cldssica mostra, a arte batroca demonstra. Di rige-se a homens aos quais€ preciso convencer, fora da Enropa, @ homens avs quais € preciso converter. ‘A regido do mundo onde, ainda boje, esta apologética émais sensivel €o vale do Dantio. ‘O mais longo rio da Europa depois do Volga ¢ tar bem omais belo desde que o Reno, tomade esgoto cole- tivo do maior parque industrial do continente, apenas num cw noutro Igar apresenta ainda vestigios de seu esple dor passado, O Dantibio, de fato,em seucursosuperior ¢ ‘médio, que fli caprichosamente através do Wurtenberg, da Baviera e da Austria, estd rodeado por uma paisa gem idilica de campos intactos. Mas ¢ também uma pair sagem sagrads; os campanarios com bulboselegantes pa recom dialogar de cada lado do vale, tao proximos que acabam por meselat vores de seus sines ras horas do ‘Angelus, Mosteiros apulentos, espsilhados na planicie como cidades, sedes paroqquiais polarizando ao seu re dor um lugarejo, igrojas de romaria com seus interiores cesculpidos como joins, capelas, crucifixes, calves, a ‘minhos da eruz, estituasde santos, colunas e monumen= tos votivos sucedem.se ao longo deste tio, 0 qual ro atravesca nenhum pais protestannte, como s= Fosse pre cso, incessantemente, a cada passo, lembrarao cristo 0 ato da edoragio, suscitar nele o ell da esperanca sta paisagem sagrada nasceu de uma fé ardente, a «qual injotow dnimo nos homens desse pais apéstima guet- i t ' raatroz quedurou trinta anos, com édics religiosossem fim meseladas a ambigdes sem piedade. Remodelada, a alureza az emsi o tesicmuntio de uma imensa ago de igracas de todo um povo, enfim livre eem busca de ref ‘gio contra o retomo do flagelo na prece de adoragao a Deus ea confianga em relagao aos intervessores os quais, ‘em Sva Providencia, Ble incumbiu de reeebere Lhe trans- nit estas oragdes. Um enascer deste fervor popular em relagdo aos santos honrados ha séculos, ou outros mais recentes, fal como Nepomuceno, cuja eficécia tinka se revelado durante o periodo das provagies,faz.com que ‘xjam erguidas nesca terra uma leva de igrejas. Para ca- nalizar este fervor constroem-se santuarios de peregrina- fio reedificam-se ox mosteiros, cujas igre so elas mes- snes freqientemente feitas para os petegrinos, enquanto as sedes paroquizis, destruidas ¢ profanadas pela soldadesca, sio reorguidas.F todas estas constragGes sa0 domais alto luxo, poisnada deve ser poupado quando se trata da beleza do templo do Etemo, Nao teria este 0 direito is mesmas despesas suntuosas das moradias dos principes e, ainda, as préprias pedras nfo deveriam rezar ‘pelos homens? Fundades nos séculos sombrios da Idade Média, como fortalezas do Evangelho em paises con- ‘quistados aos pagios ~na Austria, o Ostmarck, a provin- cis do Ooste, ¢ isto apenas nos séculos X e XI ~ 08 mos- teiros de diversas ordens que tinham sido reedificados 0 longo das idades rominica e gotica estiona vanguar~ da deste movimento, Nas horas trigicas, estes haviam, sido o melhor recurso das populagds molestadas pela sol dadosea o, ap6s a tormenta, foram eles que, gragas & sua capacidade do organizagio ¢ « ecta feliz. gestio agroné- mica, tradigdo dos monges, constituiram os pontos de apoio da reconstrugdo econdmica. A paz reconguistada a vitéria confirmada da f6 catia vio sor colobradas pelos conventos através de um verdadoiro trunfelismo antstico, Os abades, dentre os quais muitos eram princi es ~ pois seus mostciros tinham recebido o privilégio da subordinagio direta ao imperador ~ parecem mordi- des por aquilo quo o8 alemaes denominaram Bawisurm, ‘© verme roedor das construgées. Este rivalideds na ‘magnificéncia entre as ordense as abadias ¢incentivada pelos govemos -notademente peloimperador ~ que véem ai um meio de mobilizar as imensas riquezas dos con vertos em investimentos suntuesos, que promoveram & prosperidade das corporegses de oficics. Os maishumil- des, cles mesinos, eram favoraveis a isso, © por vezes, vinham, em delegacio, reclamar a construgio de um rmosteiro que fornceesse trabalho a toda uma regio. ‘A ivonologia que atraves de todos os recursos da arte anima as paredes e faz vibrar os espayosé bem mais rca do que a ds Klade Média: poi, pelo caminho do simbolo, reeoie tanto aos mitos pasos quanto ds crencas crisis Hercules € simultaneamente pora-Cristo ¢ imagem do principe. © tema central celebrado na Katsersaat de certes mosteires é unio do Sacerdécio e do Império, do sagrado religioso e do Sagrado monsrquico. Harino- nioso e em consondncia em Ottobeuren, em Melk, emt Kiosterneuburg, este mundo de imagens se tora tenso © até mesmo delirante no morastério de Zwiefelten, Pode- se sentir como que um arrepio de angistia que alter to- das estas manifestacoes da fe. Nesta igreja mondstica, centro de ume grande peregrinagao, enconiraro-n0s 0 fim da evolugao deste mundo onirico que ted gerado 0 mais opulent festival das artes. Durante mais de dois séculos, sobre toda a terra (nto devemos esquecer Goa) milhares de santirios proclamam 0s direitos inextinguiveis de Deus que a Revolusto Francesa vai transformar em um vulgar direito do homem. Na arte do confinente americano essa tensio ¢ part ccularmente sentids em certas obras exasperaclas do bar- roco mexicano, A arguitetura brasileira, assim como @ de Portugal, da qual decorre, seri poupada deste delitio, cexpressio de uma situagio de crise. Aqui, a arqutetura ‘ornamentistica saberd resolver em uma sinfonia ‘meatigo ~ cujos retibulos e fachadss de igrejas tém 0 ceavolvimento litico de certos santuitios suabios. Mas Aleijadinho é um artista imenso, em cuja alma defroata- ‘vamn-se omestte¢ eseravo, todo oorgulho do vencedor © 08 sofrimentos do vencido, Sua arte tem duas faces. Enquante 0 arquiteto embebeda-se de harmonia, o escul- (© BARROCO - UM ESTADO DECONSCIENCIA 21 torexorciza a angiistia de um agonizante, No despontar do século XIX 0s profetas de Congonlias do Campo lan ‘¢arao a0 Universo um aviso que nao seré ouvido. Qual serd esta adjuracio suprema de uma civilizagao que ex: pira, sendo aquela que, mais de dois séculos antes, Rabelais tinha proclamadlo ma sua época: ‘consciénoia ¢ apenas ruina da alma”? 2 A Revolugdo Francesa vai impor zo mundoseu racio. nalismo ¢ 0 materialistno decorrente deste. EntZo, coma irdosibioindiano COOmaraswamy, “arte deixari de set modo de vida para ser apenas um divertimento, uma especulacto estérl” Nao seria a isto que estamos assistindo nos dias de hoje? ‘Tradusao de Marse Levy . i\ \ w , 2, TROPICALIDADE DO BARROCO. Riccardo Averini Sem repetir 0 que jd foi escrito e dito, ¢ universal- mente admitido acerca da definigio do barroco, da ex: tensio ¢ limites de tal definigio, das pesquisas sobre as, ‘origens da nova linguagem, das suas relagdes com 0 Renascimento, da mediagio do meneirismo e dos trata dos, da polémica acerea das fontes e antecipagées ji plicitas em algumas manifestagbes de arte europsia (g6- tico flamejante, manuelino, renascimento albertiniano), passando por alto as controvérsias sobre as mesmas ‘aoepgées positivas e negativas do termo (de Croce, ad- ‘verso a qualquer concessio, a D’Ors, propenso a elevi- loo plano das categorias universais), ¢ quanto ji é co- nhecido sobre as diferentes inflexdes que o bartoco foi adguirindo na Buropa por forga das circunstancias, na ppassagem duma regito para outra,julgo todavia neces- Sirio insistir nalgumas consideragoes que ~ no meu pa recer ~ S10 indispensaiveis para que se tenha uma pers pectiva exata do barroco, primeira manifestacao de arte, ‘no mundo modemno, # ter uma nota de universalidade exira-européia, 0 advento do barroco coincide com a descoberta © conguists, por parte das poténcias européias, de novos paises e continentes inteiros, todas situados na zona dos trépicos e equador, ¢ com ocontato.com civilizagoes an- tes mal eonhecidas ou ignoradas de todo, que se poslem donominar tropicais ou subtropicais; acerca deste fato 0s cestudioses do barroce na Europa geralmente nZosoube~ ram tiraras devides conclusdes, ‘Exatamente durante os anos da longa gestaso do bat +oco (aquela que-com tanta porspicicia Wéliflin desere- veno conhecido livro: Renascenca e Barroco, Ménaco, 1888), expedigdes de aventurviros e navegadores, 4vi- dos, sim, de ouro ¢ possesses, mas também estimulados por uma quase sobrenatural atragio pelo desconhecido, esbravam de Iés4 Ids 08 oceanos, procurando ilhas des conbecidas ¢ novos continentes: ¢ a maravitha dos espe- ticulos natura oferecidos pelas rogidestropicais, a exu- betdcia dma vegetasdioe fauna sem confrontos na Eu ropa, indhuzem-nos a descrigdes minuciosas e entusisti- ‘cas, nas carias que cuviam aos financiadores das empre- ‘ise 205 principes patrocinadores. Bastaré recordar, n~ tre todas, além das vonhecidissimas relagées de Américo Vespicio de Pigafeta, escritasentre 1500 1536,aque- las menos conhecidas mas igualmaente interessantes, de Giovanni da Verazzano a0 rei Francisco Ide Franga, que sto de [524: aquela de Filippo Sassetti a Baccio Valori ‘curiostssime relagdo sobre o eaméreio dos portuguese ~, redigida em 1578 e, ndo menos importante, quanto 20 {que nos interessa, se bem que dativel sé ao fim do séeu- fo, acarta de Baccio da Filleaia ao grdo-duque da Toscana, ‘eserita do Brasil, Textos que circularam largamente en- tre os literatos ¢artisias, vizinhos dos destinatirios. Mas ‘nao € possivel ainda apoiar-se em tais documentos como referéncias determinantes, surgem em seguida ‘obras, compastas por missionérios, na maioria jesuias, conde flora, Fauna, costumes e monumentos dos paises novos do Oriente e Ocidente sia descritas sistematica mente, com profusio de pormenores, larga proviso de ilusteagies e por ve7es até com discernimento critico & valorizazio afetiva, So resumindo estes livros ¢ possivel olter as matrizes das quais nasceram mutes invengdes oy exéticas de arquitetos como Borromini © Guarini; mas retirar-se-i deles também uma noedo bem mais pertinea- te da atmosfera que respirou toda a intclectualidade ca- tolica durante os sécules XVI e XV Pela primeira vez na Europa, a cutiosidade dos ho- ‘mens de culturase abria & sugestao duna realidade natu- ral extraordinariamente rica, como aqucla da biblica ter 1a prometida, AS relagdes e erdnicis dos navegadores, missionrios e comerciantes impelidos para © caminho das Indias, cirounavegendo a Africa ou afrontando adi fieil rota do Ocidente, coincidiam de maneiza impressio- ante, no conjunto das noticias e no tom e cor dos por- ‘menores, para nao deixar divvida sobre a verdade, sobre arealidade efetiva das grandes descobertas: © por sua vyez, as novas geragées, estimuladas pelo fervor cultural «pela enovacio cientifiea que o renascimento havia pro- _movido, estavam bem sbertas a recebé-las como no po- diam estar os leitores medievais de Marco Polo ou de Giovanni da Pian del Carpine. ‘A situagdo espiritual na qual se gera 0 barroco ¢ por- tanto urn peimeito indice do fendmeno, que com oposi ges e contrastes, caracterizaré a cultura des séculos se- gguintes, até aos nosses dias: rotura do circulo fechado € vertical da cultura clissica, alargamento horizontal dos conhecimentos, seitagao progressiva de temas, formas, sugestes ¢ emogGes proveniantes de diversas diregdes; diletagdo que originara uma linguagem comum ede gran- de forga contripeta em todas as comunidades de nova formagio cultural, espalhadas pelo mundo. Uma demons- tragdo simbdlica de tal processo, na sva fase inical, & dada pelo tema recorrente das “Quatro partes do mun- do” introduzido jé no principio do séeulo XVII nos ci- clos rituais rligioses ¢ profanos: transcrigio dum novo cconceito de universalidade do qual a cultura no poder prescindir, Encontrame-fona fonte berainiana dei Fun nna praga Navona, que é de 1647. Ali, nas imagens do Ganges, do Nilo, do rio da Prata, encontra-se também uma primeira interpretagio da exuberante natureza tro- pical apresentala na sua realidade, como fundamento de inspiragio, em contraste com a sébria natureza curopéia que faz de undo o Danibio. Frate! Pozzo no teto de San. to Inicio, Cortona na Igrea Nova, Coli & Ghoracdi em S. Pantaleo, dio do mesmo tema versio rligiose: i glé- ria dos santo assistem das margons dos sews continents, poves Ge todas as partes do mundo irmanados pela Kgreja {Ge Cristo gas, puisagens¢ costumes so assumides na ‘ut realidade Fisica, Proceso, como se vé, notave! smentediverso daqueleusado pela arte procedento,ra qual “ealvo tars exceydes motivads por escripulosarquce- Jogiees - personagens e ambientes sofriam uma adapta- ‘gio sutstaneial a0 nivoco paco da linguagem focal ou individual, semnenbuma nobilidade, no sentido hiscrco. ‘Alxdindo a estes problemas tivemos ovasido de no- smear frequenterenteaTgreja Calica, E necessvio t= ‘bém concordar neste ponto. E contecido = ¢ de tal ma ira que € fastidioso repet-lo ~ que a Igreja Romana, cexpandindo-se nos paises ultramarines, encontru una ‘compensapao para a8 graves perdas ~espritutise mate- fais ~sofridas na Europa com a reforms luterana eo cisma inglés. Mas também geralments desta considera~ Go nio se tem tirado as devidas corsequencia: porgue Tarameate hove a preocupacao de controlar qual na ea Iidade foi 0 sentido de tao sensivel destocagio, ou se prefers, unis interferSncas, no sentido cultura, foram geradas nas ditetrizes da agio eclesistica, pela aceta- Gio no corpo da Igreja das novas comunidades extra- cucopsias. ‘Quando se considera que do século XVI em diate 0 xo feritorial do extlic'smo se vi nitidamente desvi- indo na dtepio dos trépicos ¢ que o proprio impulso renovaidor da Igejateve o seu posto fundamental a ins- fiigio Propaganda Fide, nio se deve ficar admirado deconstatar como os comstentes elesisticos souberam imodiavamenteadsrire uma tal situngao; isto ¢estmula- ram os artists aera os termos adequadbos a exprimi- ‘Obarroco¢ provisemente, na expressio da sua are eli- sioea,o reeutado duma coneliaglo entre o mundo da ‘eagigao erist-catdica-europsia ¢ as formas de percep- oc sonsiildade das votisimasregides que se incor- Poraram ou entraram em contato com ele: concilingio cientements proparads em Roma, «cidade da qual pativ © impulso renovador, a tnica no mando que possuta as forges necessérias para o otientar e dominar; preparada numa Tins de coeréncia, com acento na tradiga0, mas coma perspectiva ancestral etimolégica dma universa- Jidade, que no tinh rejeitado, também noutras faves de splendor, contributos e empréstimos admiriveis. Uma vez aceite a nova realidad, a exprossio artistica devia adaptar-se a uma vatiedade quase infinita de articulagSes, ‘que pudesse gorantir ~ como ne realidade aconteceu - uma produgio original aderente as exigéncias das novas estruturas socisis, quer onde existiam tradigbes © substratos do grandes civilizagdes anteriores, quer onde se estavam originando formagdes totalmente imprevisi- veis por tansplantagées ¢ misturas hetorogéneas. E na verdade o catolicismo, debaixo do signo do barroco ena filiagdo mais clegante do rocoes, manifestaré ums qua- se incxaurive]vitalidade axtistica, quer no Impéio dos Habsburgo, quer na longingua Goa, na cidade do Méxi c0, Cuzco, Bogoté, Ouro Preto, quer em Torino, Népo- les e Lecce; revelaré, contrariamente ao que acontece, ‘no mundo protestante (envolvido ~ salvo a excegio ho- lndesa ~ num maneizismo académico, ou tributitio, ¢s- pecialmente na arquitecura, de formas hibridas e impor- tadas), uma capacidade extrsordinitia de assimilagio © de penetragio psicalogica e de receptibilidade muna demonstra até aes limiares do sécu posit. lo XIX, a sua excepeional disponibilidade a ume cont ‘nua renovacao. Coincidindo com o barroco, aconteceu por seu turno ‘um fato de grande importincia histérica nas mestnas po téncias metropolitanas: uma nova classe ditigente, preci ssamente aquela nascica do grande movimento das des ccobertas e apoiada na posse e exploracio das fontes de riqueza colonisis, pos em crise e suplantoua antiga aris tocracia fundiria ¢ 4 opulenta burguesia comerciante, dominadoras no periodo do renascimento; ¢ quanto a primeira fora raciocinantee requintada, propensa 20 cél- culo exato e & constnugio ordenads ¢ perfeita, nto a segunda surgia impetuosa, amiga da aventura, temeritia, baruthents e grosseira [Na base da civilizacio barroca, estd também oencon- tro entre esta Sociedade ¢ a Igreja Catélica: if banco dt TROPIGALIDADE DOBARROGO 25 prova, do qual devia nascera cxplicita ou implicitaalian- «2, foi 0 concilio de Trento. Para haver a certeza disto basta por em evidéncia a parte que tiveram nele, como protagonistas espanhcis e portugueses, ca forga que teve cconstantements a intervenedo das seus ensaios sobre as decisbes da assemble. ‘© que se quer afiemar ¢ que, para compreendet esta poca, em toda a sua complexa vitalidade,¢ preciso, tal- ‘vez, revirar em boa parte os esquemas da historiografia antstica tradictonal, que tentou sempre explicar tudo per~ ‘manecenco no ambito dos acontecimentos europeus, ig- ‘norandoo significado que teve na éeterminacio do car’- ter e da prépria fisionomia da nova eivilizacdo a “pre~ ‘senga” do novo mundo; com os problemas que els com- porta: dos conflits das poténcias coloniais & procura de precérios equilibrios na exploragao dos imensos terrto- rios e das sus inexauriveis teservas de matérias-primas provém, como consegtiéneia inevitivel, o empenho de inealeulavel aleance, na historia humana, duma organi- zagio politica, urbanistica e econdmica das sociedades recém-formadas, causado pela necessidade de dat con- sisténcia is possessées e dominios. Em tal fase, foi pre~ ponderante « intervencio da Igreja: o instramento da ss agio civilizadora foi, mais uma vez, 2 arte, e, antes de tudo, « arquitetura, diseiplina principal nam mundo ‘que tinha perante si programas inexauriveis de ativida- des construtivas, que se preparava para fundar milhares de cidades, vila, aldeias, enclaves, fortalezas ¢ conven- tos, no deserto quase absoluto dos continentes recém- descobertos ‘Soallgreje cooperou dests manciranaascensioe con ‘solidagio das novas classes (mas teve também uma sensi- bilissima fungio modsladora), delas retirow em conira- partida um extraordinério prestigio moral e material: ‘aquele quo a conduziuaos maisaltos faustos esplenddo- res e Ihe permitiu permanecer novamente como arbitro ‘no meio do povo. Perspectivas abertas & altura de atender agora és ex- pressdes artisticas denominadas eoloniais, como a mani- festagdes, nio jd periféricas marginals & grande arte ‘curopéia, mas essenciais ¢ determinantes dum espirito 26 que oe vinhe substancialmente modificando, dara mun- do que se ampliava e se preparava para acolher novos signficados, novas experiéncias e para gerar novas fo mas de vida © impeto vital do baeroz0 colonial nao ¢ inferior ao da contemporiea ate curopéic; pode er talvez, superos, por uma sua intinzece cspontancidade e autontcidads de settimento, Os seus monumentos nio so sempre can- sativas cepotigdes ou vsiagBes gratuitas de modelos et ropeus, nem os scus produto permanecem expresses atesanais um nivel de suficiéneia mediocre; pelo con- {wir conseguem, muito mais freqientemente doque'se pens, constituir-se como obras-primas, ¢ impGem um trabalho de penetrante exegese para serem compreen das nosseus valores absoluts. De fato,& nevessitio po ra as sitar adequadamente excogitar moldes, unidades de medidas, regisiroscritccs completamente diversos (io no plano estétco, naturalmente, mas no plano his- {Wricorfilolégico) dos outros que se costumam usar para as manifestagdes atsticas européias. “Antecipe uma concluséo: obarroco des paises latino americancs 6a primeira fonma de atte conatualclegit- ‘ma na qual se exprimem a progressiva ascensdo dague~ las populagées ea espiracdo, que jnio se pode deter, a ‘uma estratracto social orgnicae civil, diferencieda da metropolitana:delas nascerd a consciéncia de nacional= davdes autonomas e cistintes. Por esta razto, barroco dos paises latino-americanos, depois da primeira fase de Jmplantagio, surge considerido como arte autetone © ‘originari: se se quiserpersar um parallohistéricoserd nesessitio indicar-se 0 “rominico” das soviedades ccomunais europea. Consideri-1oem dependéncin de algo precedente (no nosso caso do renaseimento) € portanto im. anacronis smo. A distineia do proprio modelo inicial (0 bartoco re- ‘mano, espankel on portugués) 6, por uma transposicao cespicio-temporal, amesma que separa o romsnico ital- ro, francés ou ibérico dos modelos da arte clssica(mo- ‘numentose runas sobreviventes da época imperial ro- sana) que forneesram temas e ténicas as civilizap0es ccomunais,O declinio de qualidade do barroco colonial ‘com respeito a0 curopen ~ isto, a fala de requinte, de ddecus na execuco ~ ou ainda, a diversa pestura tonal ¢ compositiva, que ecasionaram as juizos negativos dos primeiros observadores ¢ estudiosos curepeus, nio po ‘Jem ser absolutamente assumidos no confronte: seria um. feo como comparar a obra de Wiligelmo ou dos escul- ores de Moissae com os exemplares da estatuiria da poca de Augusto ou de Adriano, o que ainda ninguém, pelo menos que en saita, soniiou fazer. esta situagio critica nao existe contudo exata cons- cidneia, Os proprios estudiosos locais se surpreendem. Com certos fatos e inventam influéneias goticas ou ozérabes, sobreviventes no renascimento € bartoco 0 ‘vinelas sabe-se 1é donde: quando se trata, na malaria dos sos, de aitudes, maneiras de ser, inflexdes lingisticas semelhantes por analogia de germinacio visual, porcor- respondéncia e semelhanca de estados de espirito e de situagSes culturais, “Aprimeira critica negadora do barroco, a neccldssica, abordou um ponto muito significativo:jalgouas “ampli ficagées” do barroco inaceitaiveise dissonantes mim sis- tema de perfeigao intelectual julgou todas as novidades intredazidas “aborrantes”, baseando-se no critério esté- tico do lecidas ordo que atribui ds artes a finalidade de “instru, deleitando a vista representando objetos tira- ddos da bela natureza” (Milizia) sie conceito de bela natureza é conseqtiéneia duma inyolugao ¢ restrigio, jé impensiveis no fim do século XYITL0 termo referente, nio & de fato, como pareceria, ‘aNatureza, aquela que era ja configunivel depois da equi- sigao do nove mundo (¢ bastard pensar na série de tape- ‘arias que também tinkam acolhido a fauna e a flora “americanas, ouse nio choger,nas pintures de Franz Post), mas sim Natureza abstrata, de maneira c de substincia apznas especulativa literitia¢ loca. Reflete-se no fato de o neoclassicismo ser substanc- almentsligado 20 gosto ea cultura nérdicas, ainda que o ‘seu nascimento venha registrado anagraficamente em Roma: o que se bascia numa intcrpretagao da Grévia des ideais clissicos miope e estropiada, © que est lige do, cm suma, a um ambiente © a um clima, dos gunis é ficil delimitaro porimetro. E qual seja.a constrigio deste confim ou limite espacial, denuncia-o a prépria surpre- endente exeluso da cor ~ a anacrénica monoctomia — da reconsinigdo arqueolégica, que fornece 0 suporte is atividades eriaderas: documentada amplamente poles litografias ¢ pelas mesmas complicadas ilustragbes da historia antiga, eacacteristicas da escultura e pintura nevelissicas. A difusio do gosto neoclissico revela uma, viragem substancial na histéria espiritual européia isto ,assinala a passagem a hegemonia cultural dos paises nérdicos ¢ médio-curopeus ¢ um temporitio eclipse do mezzogiorno, que fora, entre 0s séculas XV e XVIM, 0 ‘maior proddutor de obras ¢ de movimentos artisticos. “Todds 0s juizos sobre a arte, por parte da historiografia critica, sto fundamentalmente influenciados pela sensi bilidade nevelissica; daqui a aversdo radical pelo barro- co, que se prolongou até 20 inicio do nosso séeulo, éaqui co desinteresse absoluto pelas manifestagées da arte colo- nial que represcutavam o exiremo éxito do barros0, & uma distincia eno sideral de todo 0 academismo classicista. E significative o fat de o nevclassicismo nio ter tido influencia na consciéncia dos povos cotoniais: foi um fendmeno de importagao estranio & sua sensibilidade (exceto a América do Norte que no coniecen 0 barro- 0), Contririo 20 seu sentimento pela natureza: que por outro lado se conformava perfeltamnente comosentimento arroco, ‘Ossentido de enfado por um excesso de arte respeitante | natureza, que a critica neockissica dos patses curopeus de clima frio ou temperado reprova ao barrDco, nto se verifica de fato no mundo espanhol¢ portugues do ultra- ‘mar: onde pelo contro € completamente incompreen- sivel 20 modo de sentir e de pensar dos artistas © dos seus peéprios comitentes indigenas. All arelagao.eaute 0 ambiente naturale atistico foi sempre entendida como ‘uma simples transpasigéo da realidade para uma ficgao aque se Ihe adere. ‘A exuberincia da deeoracao barroca no excede 0 verdor impetuoso e desordenacto da vegetacaio tropical pelo contririo adapts-se-the perfeitamente, ¢, n0s seus TROPICALIDADE DO BARROCO 27 ‘esquemes compositives, oferexe um criterio deselegéoe tum registro de ordem: como intensidade ¢ variedade, € um “menos” nao um “mais”. Em exataconformidadecom ‘s cttérios normativos das estticas contemporineas, a passagem do ambiente natural ao artstco é uma transcti- ‘Go de dads, emogies, desinada a clxer com 0 “mais” 0 “menos”, enio vice-versa, como julga a critica adversa, Esta situacdo ¢ ainds verificada, nestes locas, pelos ‘observadores. Em eidades como Salvador ou Ouro Pre- to, passar do exterior ao interior, do campo a cidade, da ‘praca para dentro Ga nave duma igreja éreduzira gama {as cores, € diminuir atenuar o sentido das projesdes cescorvos, nio diferentemente do que pode suceder numa cidade renascentista ou neocléssica. E este um dos dacs, de fato, uma das unidades de medida, do qual nto se pode de nenhuum modo prescindit ‘no jizo acerca do barroco colonial. Explicando-meme- hor: toma-se em consideragio a tipicatalha barroca das, ‘volutas. Nenhuma forma vegetal européia pode sofrer 0 confronto, como extenséo e impeto dinimico, ponhames ‘ caso, com as talhas fitomérficas do arco de alcova do palicio Mansi em Lucca: na eidade toscana a presenga etal obra de arte pode ser naturalmente corsiderada 0 fruto duma ampliagio fantistica, uma imaginagio exc tada. exorbitante; mas folha enrolads dum “imbaiiba” ‘brasileiro ou de uma “orelha de elefante”toleraperfeita- mente a comparagio, nio digo com as velutas ¢ talhas os paises europeus, mas com os préprios fortes cotove- los e obligiidades da alfaia de tatha duma obra de arte como a Matriz de Tiradentes. E mais: posto em confron- tocom qualquer ambiente agreste italiano, © interior dura igreja como Santa Maria da Vitoria em Roma aparece

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