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TMAGEM, PERCEPCAO E TEMPO ‘a fisica modema nos tenba ensinado que as nogbes de expago & podem ser tomadas como absolutas nem independentes, niio se pode Festo,jé se tomou lugar-comum, a afirmagio de que alguns Sisters omam corpo na simultaneidade do espago, come rs, gravura,ecultura rgutetar et, eaauano ‘omam corpo e se dissolvem na sequencialidade do Ja ‘cinema ea imagem eletrénica em onto de vista similar, no seu exaustivo enstio sobre A imager tAumont (1993: 160) estabelece uma primeira e mais importante {ue coloca, de um lado, as imagens ndo-temporlizada ede outro 8 tes be pica ao aquelas "qos exitem idénicas.a si propias no | cegandas “modificam:se ao longo do tempo, sem a intervengo do ‘e apenas pelo efeito do dispositive que as ‘produz c apresenta”. Re- ido, porém, que essa divisao é simples ‘demais, Aumont (ibid.: 161-2) algunas outras divides que, embora nfo tena “relagao direta com nluein na dimensio temporal do dspositivo”. Bssas sublvisies so es: (1) imagem fixa versus imagem mOvel, (2) imager iinica versus ‘ipla e (2) imagem autOnoma versus imagem em sequencia, Kerio Aumont ao dizer que a divisio entre imagem néo-temporalizada temporalizada é muito simplificada para dar conta da complexidade ies relativas a0 tempo nia imagem, Também parecem importantes 0 «pelas quais ele procura compreender essa complexidade, Contudo, srente das variag6es, por ele apresentadas, referentes 2 aspectos da {que infivem na dimensdo temporal, sem estarem diretamente ligadas shibivisbes que sero propostas e discutidas a seguir tém a pretensio fra aspectos da imagem mais diretamente ligados ao tempo. Longe tim objetivo meramente classificatGrio, essas subdivisdes) isan fhar ¢ colocar em discussio algumas distingBes sem as quais muitos desnecessérios costumam prolifera w ‘propria nogio de tempo. Fortemente inf da duragdo, 0s te6ricos da imagem, especialmente a considerar 0 tempo como uma dimensiio insepardvel da nossa experi@nk quer dizer, como uma dimensio inextricavelmente psicol6giea, Sem nega importancia da vivéncia psicol6gica do tempo, leva-se em conta aqui q tentativa de considerar a insténcia de um tempo, que nao é dependente modo como 0 tempo € percebido ¢ experimentado pelo ser humano, é ‘num trago objetivo, isto é, num aspecto que faz parte de st prdprias naturezas, nao devendo, portanto, ser confundido com os atribuitd que o ato de perceber uma imagem a ela acrescenta, Nao cabe aqui uma longa digressio sobre a questo do tempo. Mas pi Justificar a primeira grande distingo que merece ser feita entre tempo objetivg € tempo experimentado, nio se pode recusar a evidéneia de que hé um tempq fora de n6s. Se teorizar sobre esse tempo extemno parece bastante complicady, 6, no entanto, bem simples constaté-lo nos efeitos que cle produz sobre naturezae sobre nds mesmos, efeitos esses que, evidentemente, independem dé nossa vontade, aco e pensamento, Esse tempo cuja existéncia tem autonom! propria apresenta pelo menos trés dimensOes: (1) a dimensdio cfclica, (2) 4 dimensio das grandes ou pequenas rupturas e (3) a dimensio cumulativa. A primeira aparece nas fases de um ambiente periodicamente mutével, dentro do qual as espécies vivas biologicamente se adaptaram: o dia e a noite, as estagdes do ang etc. (ver Szamosi, 1988: 97). Para essa adaptagao, as espécies desenvolvem relégios biol6gicos. Sobrepostos a eles, a espécie humana, mais complexa, criou o tempo medido, tempo formal (Harweg, 1994), dos relégios € dos calendérios, A segunda dimensio, que se manifesta nos cataclismos ou rupturas de continuidade, pode aparecer tanto no mundo biolbgico quanto no fisico-cosmol6gico. Em uma escala de transformagdo menos dramitica, esse & também 0 tempo dos eventos, que se aproximaria daquilo que Harweg chamia de tempo material em oposigiio a0 tempo formal. Ji a terceira dimensaio do {tempo objetivo tem sua forma mais clara de expresso nas camadas geolégicas, por exemplo. Enfim, o tempo que existe fora de nossa interioridade ¢ que independe de ‘nds é, no seu aspecto mais perceptivel, algo que afeta, que deixa marcas nia ‘matéria, E por isso que a casca e 0 tronco de uma drvore envelhecem, assim como envelhecem 0 nosso rosto e 0 nosso corpo. Embora o ser humano, como ser simb6lico, ser de linguagem, seja insepardvel do tempo, pois o tempo é ‘matéria de que é feitaa linguagem (Santaella, 1992b), o tempo que fisicamente 16 do a distingao fundamental entre tempo objetivo ¢ tempo experimentado podemos agora passar & primeira grande clivagem que se pode slecer para o tempo na imagem e que, na alta de nomes melhores, estamos minando de (1) tempo intrinseco & imagem e (2) tempo extrinseco a ela. terizagio do tempo intrinseco nio diferiria muito da definiglo que ont da a imagens temporalizadas, caso ele ndo tivesse restringido a nogio jporalizacdioapenas ao dispositivo. Bem fungao dessa limitagao que, para fadimensio temporal depende apenas do dispositivo on suporte em que a em 6 produzida e apresentada, Mas além desse nivel de temporalidade gm deve ser levado em conta, ainda intrinseco & imagem, de um lado, que Michel Lussault (1994: 68) chama de nfvel de sua fatura, isto é, um dl que corresponderia a algo semelhante Aquilo que nas teorias lingufsticas prias do discurso costuma ser chamado de tempo da enunciagio. De outro p, deve ser levado em conta o tempo dos esquemas ¢ dos estilos que, sendo Imais, estruturais, dizem respeito a caracteres intemos das imagens (ver imbrich, 1979: 68-91). [Assim send, 0 tempo intrinseco nas imagens fica subdividido, portanto, 1.1.1.) tempo do dispositivo ou suport, (1.2.) tempo da fatura ou enunciagao 3.) tempo dos esquemas ¢ estilos. ‘Quanto a0 tempo extrinseco, este se refere as formas de temporalidade ‘esto fora da imagem, o que nfo significa que, por estar fora, a imagem p possa indicé-las, de um lado, ou absorvé-las, de outro, Desse modo, 0 ‘extrinseco pode ser de tr&s ordens: (2.1.) 0 tempo do desgaste, isto ¢, Tempo que age sobre a matéria e os suportes das imagens, provocando seu hecimento e deteriorago; (2.2.) o tempo do referente ou enunciado, que de também ser chamado de tempo representado; (2.3.) a auséneia de tempo imagens abstratas, nflo-figurativas. Por fim, da relacio entre o intrinseco eo extrinseco nasce a terceira divisiio do mpo na imagem: (3.) 0 tempo instersticial. quer dizer, o tempo da percepgio, a que ¢, antes de tudo, habitada de tempo, funcionando, consequentemente, mmo a grande provedora de tempo, como sera visto mais adiante. ‘A partir das duas primeiras grandes divisGes e suas respectivas subdivis6es, 0 ¢ dificil perceber por que a denominago de tempo intrinseco versus tempo tinseco é preferfvel & oposigio estabelecida por Aumont entre imagens poralizadas e nio-temporalizadas, visto que “naio-temporalizadas” é uma jracterizago muito sujeita a ambiguidades quando se considera, conforme n chamadas de imagens fixas, pode prescindirdo tempo, visto que toda de um modo ou de outro, est impregnada de tempo. Nao fica tambéa perceber, em funeio disso, que a denominagzo de imagem temporal oposigio a nio-temporalizada advém de uma identificagio estrita € XG — bastante aristotélica e que deve ser evitada — entre tempo e movime Por isso que, sob esse aspecto, fiz muito sentido a distingao que G. D (1985; 1989) estabeleceu, & luz de Bergson, entre “imagem-movimet “imagem-tempo”. 1. O TEMPO INTRINSECO: DISPOSITIVO, FATURA E ESTILO Conforme o préprio nome expressa, tempo intrinseco refere-se & ima que € constitufda de tempo, Essa constituigao depende, de um lado, caracteristicas do dispositive através do qual a imagem € produrida apresentada, Insepardvel do dispositivo, mas irredutivel a ele, também de ser levados em consideragao tanto 0 tempo da feitura da imagem, tempo sua enunciacao, quanto 0 tempo dos esquemas e dos estilos que ¢ insepari da composicao e estrutura das imagens. 1.1. O pisposmvo Dispositivo é o meio através do qual a imagem € produzida, transmitidh © apresentada ao receptor. Os dispositivos so histéricos se transformarm historicamente, dependendo, portanto, do nivel de desenvolvimento produtivas das sociedades nas quais as tecnologias de produgdo sio empregadas. Sio as seguintes as prineipais tecnologias de produgdo: (1) as artesanais, no ciclo pré-indusirial, (2) as mecdinicas, no ciclo industrial e (3) as eletrénicas, no ciclo p6s-industrial (Laurentiz, 1991: 69-115). 1.1.1. As imagens erxas, Para se considerar 0 problema do tempo intrinseco & imagem, em primeiro lugar, apresentam-se 0s dispositivos que registram a imagem num suporte fixo, na maior parte das vezes madeira ou pedra para as imagens tridimensionais ¢ ‘ecido ou papel para as bidimensionais. Sendo fixo, por limitagées do proprio 8 o tempo, Ao contra fis em movimento s6 podem se no tempo, Mas nilo ¢ com ilidade que a nogiio de tempo ‘da nogdio de espago. Em relagio a isso, parecem instrutivas as que Piaget (apud Szamosi, 1988: 100) extraiu de suas experiéncias paz 1 0s julgamentos temporais dos espaciais, pois a ordem temporal dos rentos "é confundida com a ordem espacial dos pontos dos caminhos, ( com o espago percorrido, e assim por diante”. A prine{pio, portant, io do espaco sempre deriva da percepgaio de movimento, a passagem po sendo percebida no abstratamente, mas através do movimento dos IB desse modo, aliés, que parece funcionar, pelo menos num primeiro temporalidade das imagens cinematogriticas. |. CINEMA & ILUSAO DO MOVIMENTO fato, o cinema utiliza imagens fixas, “projetadas em uma tela com certa cia regular e scparadas por faixas pretas resultantes da ocultago da va do projetor por uma paleta rotativa, quando da passagem da pelicula im fotograma ao seguinte” (Aumont, 1993: 51). O cinema fornece, assim, st{mulo luminoso descont{nuo, que dé uma impressao de continuidade & ilustio de movimento interno a imagem. Desse modo, “no filme, aimagem ita em fotogramas separados: entre um quadro ¢ outro, o obturador se tha impedindo a entrada de luz, e uma nova porgdo de pelicula virgem irrada para a abertura. Esse movimento fragmentirio, que denuncia a base igrifica do cinema, é dissimulado, entretanto, por um dispositivo técnico ue se possa recompor a ilusio do movimento” (Machado, 1988: 41), for isso que a transformagio temporal mais fundamental que ird se operar jpassagem do cinema ao video encontra-se no movimento real, mudanga, . deslocamento de formas, de cores ¢ de intensidade luminosa 1s na morfogénese mesma da imagem videografica, 13. VIDEOGRAFIA E MOVIMENTO REAL Conforme Arlindo Machado (1988: 43), “o video, por consequéncia de ‘propria consttuigdo, é o primeiro mfdia a trabalhar concretamente com 0 ovimento, isto é, com a telagdo espago-tempo”. » pene {A imagem fovosensve! eh condo com con qu " i Testabelecem uma disting&io entre dois planos do do enunciado (ver Ducrot ¢ Todorov, lo que o discurso enuncia, aquilo a sobre 0 que ele disserta, do exzgo bdimensional ¢ comer cm a plano daenunciagioe o plano tu conics temport, A medics gee ¢ tenis UR 1405-7), Este tltimo conceme aqui tm yo cure ink vr, ene do al emai del se refere, 0 que é nele descrito, nasrado, parribepepirdimbprne riveree ta etc, J4o plano da enunciagdo marca as posigdes do sujeito perante phiahlclanvintoley womnittmpieteee tro do discurso que enuncia, seus pontos de vista, sues interferéncias ‘ his ou sua impessoatidade em relagdo aquilo que é enunciado, Os tempos 1 enunciagio nfo sio coincidentes, pois, enquanto 0 tempo Jo no discurso, 0 tempo da as snuneciado © d junciado € o tempo daguilo que esté referid Iciagio 6 o tempo do préprio discurso, de sua consecuglo © dus mare esta deixa no discurso, No entanto, um salto de t a , um salto de transformagdo ainda Neen) u mais radical viria com infografia ou compuagio gréfica, provecando uma verddeira mutagig tegime de temporalidade da imagem, invoduzindo um “ei spectral jempo”, express it a te oueenecins eb Dera el nen 1994: 70) nuy forrespondendlo ao tempo da ent cones », mas que caberia com justeza para a descrigdo das imagens ser, ie ra dé oe é muit = ‘ ee fara dh imagem, é muito de fato, $6 aquele que produ 2 im: + cconsecugéo. mnciago no universo do discurso, 0 tempo dificil de ser precisamente estipulado, ragem pode ter 0 registro do tempo de 1.1.4. InFooRAFIA E 0 MOVIMENTO Na DIMENSAO DO TEMPO J. © TENPO Do GESTO no Gompurio grea, a esocagem mumérica compensa 0 carter ee Ca pein de cardter imaterial, que néo se fixa na tela, imagem Fee een ain eral fetornadas, quanto rtoques foram cars Li ema cr ee omede = onl A videogréfica até a infogréfica ai pate ane imagem cinematogrifica Picasso, No entanto, mesmo quando nfo hd esse tipo de registro, pelo. a eae seat an ene eee eae restr 4 oe algans sinais do processo sempre ficam registrados na matrialidad ) Siena eee oe ene eae pa ‘movimento que ovorre na p produto, tais como repetigio de tragos, camadas de tinta ete. Enfim, ha) erafia, © tempo na imagem parece tempo manual para cada trago, cada pincelada. Mas nZo € um fempo que (© caso do desenho € da pintura, por exemplo, é bastante ilustrativo das ficuldades para se conhecer o tempo da feitura de uma imagem. pois como consecuco foi lenta ou répida’ Quantas interrupgoes cexigidos para sua realizaglo? Fica mais ‘quando o produtor deixa, inclusive com uma verdadsiraexposigao do tempo | estar cada vex mais se a E :proximando do t ve tiniest err en ge tge sence econ Nh no tempo sonoro ot Bode ser medio, apenas inferido através do exame minucioso das marcas, dos See tea ec aera a aie ae sentido de fadices que foram se inscrevendo no decorrer do processo de producto de uma nem de dimensdes espaciais, tal ° ‘s componentes imagem artesanal cas, tal como ocorre na misica 2 a Renan) ‘Mais clara se torna a nogéo do tempo de fatura, no entanto, quando se ‘0s diferentes modos de faccio da imagem entre si, quer dizer, as estas com as cinematogriticas, es idcogréficas com as infogrsticas omparam imagens artesanais com as fotogrficas, ‘entio, com as Videogréficas e, por fim, a8 vi al Enquantows imagens manualmente prot nelas deixam mareas, as fotogriticas so neces Como instantaneos que siio, guardam em si o momento inrepetivel do di em que o obturador corta de um s6 golpe, para sempre, inexoravelment 6 fluxo do tempo. 6 certo que hd, na feitura da fotografia, algumas for Subsidiérias de tempo, tais como o tempo da exposigo o da revelagh Prineipalmente, mas isso no transforma sua marca temporal bisica que do instantaneo. 1.2.3. O rastao Das FOTOGRAMAS No caso das imagens cinematogrificas, a enunciagdo pressupse vérie fempos, que, como no teatro, envolvem, inclusive, o tempo dos bastidores, d que 0s fotogramas deixam inscritos no rolo do filme, este &, de fato, cde uma cena longa em oposigdo @ uma outra cena curta, E 0 tempo, enfim, das construgdes filmieas (ver Metz, 1972: 173-216), (1.2.3.2.) O enunciado harrativo: o tempo do enunciado ou referente diz respeito ao transcurso de tempo do acontecimento que o filme pretende narrar. E o tempo da histéria, da agiio das personagens, tempo diegetico, dos eventos que o filme narra (ver Martin, 1963: 22), 82 que Noite americana, de Truffaut, funciona como uma interessante ilustragio, Contudo, embora o tempo da feitura seja muito mais complexo do que o tempo otempa mais palpavel da enunciagio fflmica, E certo que a montagem, que aparecerd ‘o produto final, seré fruto de muitos cortes de edigéo que, tradicionalmenic, © cinema realizava através de tesoura e cola, Mas a comparagio entre os rolos riginais, as sobras que sio cortadas para serem eliminadas e produto final podem fomecer pistas mais ou menos precisas do tempo da feitura, que se divide, assim, emi dois tempos descontinuos: 0 tempo bruto da filmagem e o tempo construfdo da montagem; esta, por sua vez, apresentando uma novia subdivisio: (1.2.3.1.)A enunciagZo narrativa: o tempo da enunciag2o refere-se 2 duragtio dos planos e das sequéncias, tempo das cenas tal como aparecem na Projecto. E 0 tempo de duragao de um traveling, por exemplo, ou de duragio rizando amente como registro de imagens em tempo real, iferentemente da foto e do cinema, pode dispensar os processamentos Grios, a fatura videogrstfica permite, antes de tudo, a coincidéncia da emissio com o tempo da recepgdo. Entretanto, 0 tempo mais erfstico da enunciagfo televisiva nasce do contraste entre 0 continuum que a cimera registra e os cortes nesse continuum que a produgéi gio executam. E a escolha da cena e da sua duragio no at, diante de Ieque de possibilidades, que s6 tende a aumentar quanto mais cmeras iyerem cobrindo uma dada situagio, aquilo que se constitui no trago basico mpo televisivo: as montagens das escolhas aqui € agora, recortando a fnuidade do presente. 5, O Temro INTERATIVO L Alibertacio da imagem infogeéfica, imagem computacional, do registro do {ttouxe comoumade suas consequéncias mais fundamentais oaparecimento lotempo virtual, Entre outras,a grande revolugdo propiciada pelo tempo virtual {4 na insergao do papel a ser desempenhado pelo usuério nos destinos da lagem. Gracas is mudangas de parametros da imagem infogrética que ficam sponiveis ao usuério, um poder impensdvel Ihe € conferido para interferir, m brevissimos lapsos de tempo, no tempo de enunciago da imagem, um empo sem comego, meio ¢ fim, tempo do perperuum mobile. 3. Oxstio. Teda imagem depende de convengdes as mais diversas que se dividem icamente em convengdes de composigio © convengdes de representacio. fomando como referencia o universo da arte, no capftulo sobre “Verdade & sterebtipo”, de Arte e ilusdo, Gombrich (1979) teorizou largamente sobre f fungi do esquema como categoria preexistente sem a qual nenhuma forms nova seria possfvel, pois esta & sempre o resultado de uma adaptacio a esquemas que o artista recebeu da tradigdo e aprendeu a manejar. A necessria escotha de um esquema inicial, que ¢ adaptado ¢ corrigido de acordo com os novos desafios que se apresentam ao artista, € um indicador do caminho para a compreensio dos enigmas do estilo. Aquilo que o artista recebe da tradigiio 3 cinema, videografia e infografia, as interagdes entre o$ esquemas reek as preferéncias, escolhas e adaptagdes realizadas sobre o legado da tad ccaracterizam 0 estilo em quaisquer formas de produgaio da imagen 2. O TEMPO EXTRINSECO: DESGASTE, REFERENTE E ATEMPORALIDADE ‘Tempo extrinseco ¢ 0 tempo que esté fora da imagem e, de um modo ou d ‘outro, age sobre cla. A modalidade mais evidente do tempo extrinseco apa no desgaste ou envelhecimento da imagem. A modalidade menos expliel comparece no tempo do referente, isto é, em todos os tragos de época figuras representadas, aquilo também que, no cinema ¢ televisio, costul ser chamado de décor. Sob esse aspecto, as imagens sio temporalmen ‘mareadas, quando sio figurativas, ou temporalmente ndo-marcadas, quati stio simbélicas ou abstratas. Mas vejamos essas modalidades em mais detalhe 2.1. A GAO Do TEMPO: DESGASTE De acordo com Ambheim (1962; 307), “o tempo é a dimeastio da mudanga, Contribui para a descrigio da mudanca e nao existe sem ela”, Ora, a forma ‘mais perceptivel do tempo como mudanga, do trabalho do tempo, esté no envelhecimento, resultado das afecgdes da maiéria sob ago do tempo. ff assim que uma tela pintada envelhece, seus pigmentos se alteram. I assim que as cores de uma fotografia irremediavelmente mudario, especialmente se a foto ficar exposta a uma luz muito intensa, Enfim, no ha matéria que possa resistir A corrosio do tempo. Uma vez que toda imagem existe em algum tipo de suporte, nao ha imagem que, na sua materialidade, possa deixar de sofrer 4 intervengdo do tempo, Contudo, um certo nivel de excegao deve ser aberto Para a infografia, pois devido a estocagem numérica e ao carter imaterial, pura luminiscéncia fugidia, essa imagem nao fica mais fisicamente exposta erosio do tempo. ‘objeto(s) que a imagem representa, ha trés tipos fundamentais ‘as nflo-representativas, as figurativas e as simbolicas (ver cap. -representativas, comumente chamadas de abstratas, reduzem a o visual a elementos puros: tons, cores, manchas, brilhos, contomos, tos, ritmos ete, enfim, so formas que nao representa, a priori, e esté fora delas. imagens fgurativassioaquelasque tanspdem paraoplanobidimensional jam no espago tridimensional réplicas de objetos preexistemtes e, no mais visfveis no mundo externo, quer dizer, apontam com maior ou anbiguidade para objetos ou situagdes reconheciveis. simb6licas sio imagens que, mesmo sendo figurativas, representam de carster abstrato ¢ geral. p ponto de vista do tempo, essa tipologia de imagens divide-se em dois, 9S distintos: de um lado, as figurativas, fortemente marcadas pelo tempo Jeu teferente; de outro, as abstratas e as simbélicas, fracamente marcadas tempo do referente, até o extremo da atemparalidade. i imagem figurativa, como o proprio nome diz, a relagdo referencial é icita, quer dizer, trata-se de imagens que sugerem, indicam, designam ou situagdes existentes, Sendo existentes, esses objetos e situagdes i marcados por uma historicidade que Thes € prdpria. Ora, ao representar ferente, a iniagem acaba inevitavelmente por trazer para dentro de si lade que pertence ao referente. F nesse sentido que imagens wativas podem funcionar como documentos de época, Figurinos, cenirios, ltcturas, decorages, costumam aparecer como indicadores inequivocos ima época, Para Se constatar isso, basta comparar as Figuras 5.1. 5.2. Sendo imagens que registram acontecimentos reais ou ficticios que se jnvolver no ‘empo, 0 cinema, televisto e video apresentam, sob o aspecto referente, uma complexidade adicional se comparados as imagens Fixas, ish neles uma distingo entre o tempo interno da enunciago narrativa € 0 po externo do enunciado, tempo real do acontecimento, que a enunciaglo .ca manipula e transforma, 85 Figura 52. A cantora da rua (1862), Edouard Manet, Pais representando algo extrinseco, as imagens abstratas néo podem ‘como indivadoras do tempo do referente, Sa0, por isso, sob esse Imagens atemporais, que s6 so habitadas de tempo pela mediacao do ersticial, perceptive. imagens simbélicas, embora possam sugerir a temporalidade de s referentes, essa temporalidade é sempre tio geral e vaga quanto € ia € universalizante a funedo referencial desse tipo de imagem PMPO INTERSTICIAL Adjetivo intersticial qualifica aqui o tempo que nasce no cruzamento lum sujeito perceptor ¢ um objeto percebido, quer dizer, o tempo que € frufdo na e pela percepedo. Em todos os seus niveis, a percepgao feita impo. Entre os tempos da percepetio, os mais importantes so 0 tempo ico, o biolégico e 0 tempo l6gico. (© Texo FistoLoaico no nivel fisiolégico, perceber nfio é um fendmeno instantineo, pois 0 ssamento da informago, que esté envolvido em todo ato perceptivo, mvolve-se no tempo. E certo que alguns estigios da percepgio sio tio Mos a ponto de criarem a ilusio de que ocorrem fora do tempo. Contudo, ] que aparentemente imperceptivel, hé sempre uma durago envolvida eepelio ¢ processamento de estimulos pelos drgios sensérios ¢ pelo so, sendo até possivel quantificar as duracbes exigidas por diversos 83808 neurol6gicos,tais como reago dos receptores retinianos, excitagio Lurioso, por exemplo, € detectar © modo como exploramos uma imagem, ue € feito nfo de modo global, mas por fixagGes sucessivas que duram. décimos de segundo cada uma ¢ limitam-se estritamente as partes da em mais providas de informagao, “Nao ha varredura regular da imagem alto para baixo, nem da esquerda para a direita; ndo ha esquema visual de yjunto, mas, ao contrétio, varias fixagdes muito proximas em cada regido samente informativa” (Aumont, 1993: 60-1). nites, movendo-se em um espaco e tempo ampliados, expandidos, no dos mamfferos, a evolugao biol6gica equipou-nos com uma capacic la, aniecipadamente montada, de aprender o sentido imediato de padid modo, sem qualquer intervencao de uma reflexo consciente, saber (08 sentidos para encontrar medidas confidveis de intervalos de tem Se 0 cérebro de qualquer mamffero organiza os inputs sensoriais, Dercepeiio do mundo, a partir de modelos internos de espago e tempo formad pelo processo de adaptacio ao mundo real, a diferenga do ser humano “telagdo a todos os outros mamiferos esti no fato de que os humanos 1 apenas percebem objetos no tempo e no espaco, mas os percebem deni de esquemas légicos, além de que também criam simbolos para os objeto Dara o espaco ¢ para o tempo. A capacidade simbélica, que nos é dada peli linguagem, transcende o espago € tempo biol6gicos, criando novos padri 0 padroes de significados. 3.3, O Tempo Locico Uma das mais complexas teorias da percepedo foi aquela que 9 desenvolveu dentro dos esquemas légicos da semistica; esta, por sua ve7, inserida na filosofia cientifica de C.S, Peirce. Por ser uma teoria logica diy Percepgio, cla nos permite compreender em detalhes © funcionamento da Temporalidade I6gica da percepgao. Nao havendo espaco para uma explanagio mais panorémica da semistica da percepgao (ver Santaella, 1993b), serio dela ‘aqui mencionados apenas alguns dos aspectos mais relevantes. A grande novidade da teoria da percepedo de Peirce est no seu cariter {riédico. Em todo processo perceptivo ha trés elementos envolvidos: 88 que é comumente chamado de estimulo, Peirc ¢ como o elemento de compulsio ¢ insisténcia na percepgio. Esse eorresponde ti teimosia com que o percepto, ou aquilo que esté fora fapresentando-se & porta dos sentidos, insiste na sua singularidade, lindo-nos a atentar para el. 0 para. pos senripos i logo 0 percepto, ou um feixe de perceptos, atinge os nossos sentidos, imediatamente convertido em percipuum, ou seja, 0 modo como o plo se apresenta Aquele que percebe, ao ser filtrado pelos sentidos. £0 pto tal como aparece, traduzido na forma e de acordo com os limites e minagSes que nossos sensores Ihe impJem. , contudo, algumas subdivisées no percipuum que valeria a pena jionar. Ao atingir os nossos sentidos, 0 percepto pode fazé-lo de trés 8.3.2.1.) Como qualidade de sentir. Quando a consciéncia de quem be cstiiem estado de disponibilidade, pouco reativa, porosa e desarmada, ipuum traduz 0 percepto como mera qualidade de sentimento, vag finfvel. (3.3.2.2.) Na forma de um chogue, quando 0 percepto atinge fentidos de modo surpreendente, compelindo nossa tengo com menor ior brutalidade. Nesse caso, 0 percipuum tem um carster fortemente iyo. (3.3.2.3.) Através do“automatismo dos habitos. Em estados perceptivos s, 0 percipuum se conforma aos esquemas gerais reguladores da ago Ceptiva, desembocando numa interpretagao que corresponde ao julgamento ercepe20, ou seja, 0 terceiro ingrediente do processo perceptivo, conforme ‘methor explicitado mais a frente Bsscs trés niveis do percipuum so interligados, mas hé uma légica de renciagio que é, em menor ou maior medida, infinitesimalmente temporal uja duragdo ira depender da intensidade dos niveis de sentimento © de sa do percipuum, pois ambos produzem necessariamente uma certa 1 perceptiva. Além desses trés niveis, a I6gica de todo percipuum lui outros elementos de temporalidade que Peirce chama de antecipuum & tecipuum. Isso quer dizer que nao hé extensao de tempo presente tio curto ponto de nfio conter algo lembrado, ou de nfo conter algo esperado com ja confirmagdo contamos. Esse ingrediente, quase infinitesimal ce meméria std incluso em todo ato perceptivo, 6 chamado de ponecipuum, enquanto 89 3.3.3. O JULGAMENTO DE PERCEPCAO O terceito nivel do pereipuum, mencionado acima (3.3.2.3.), aquele dh dominado pelo automatismo dos esquemas mentais com que somos dot corresponde exatamente ao terceito ingrediente do processo percepth responsével pela formagao do juizo perceptive. Estamos continuamente recebendo uma chuva de perceptos que fluid de nds como percipua, 0s quals, tio logo afluem, sao imediatamente colhih € absorvidos nas mathas dos esquemas interpretatives com que est aparethados, convertendo-se assim em jilgamentos de pervepgio. £ s6 atray esse julgamento que identificamos e reconhecemos o estimulo percebido, Em sintese, o percepto bate a nossa porta, insiste, mas é mudo, O percipu € 0 percepto jé traduzido pelos sentidos, Essa tradugo pelos sentidos tei trés niveis, 0 do sentimento, o do choque e © do automatismo interpretativg este correspondendo exatamente ao jufzo perceptivo, © qual, por sua nature interpretativa, € aquele que nos diz. o que & que esti sendo percebido. Entretanto, de importincia fundamental para a compreensio da lz temporal da pereep¢a0, umatemporalidade, alias, infinitesimal,éaconsideragiio dos dois elementos de todo percipuum: 0 antecipuum e 0 ponecipuum. Sem eles, 0 juizo perceptivo nao seria possivel. A partir disso, pode-se extrair uma conclusdo cujas implicagdes. silo fundamentais para a percep¢do da imagem: onde quer que o ser humano ponha seu olhar, esse ato estaré irremediavelmente impregnado de temporalidade.

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