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JOAQUIM MATTOSO CAMARA JR. HISTORIA DA LINGUISTICA ‘Tradugio de Maria do Amparo Barbosa de Azevedo Ex-Prof* de Lingitistica nos cursos de graduagao e pés-gra- duago na PUCSP e Prof* de Lingua na USP Preficio de Albertina Cunha Especialista em Lingistica 6* edigao y EDITORA VOZES Petropolis © 1975, Bditora Vozes Ltda Rua Frei Luis, 100 5639-900 Petrépolis, RI Internet: http:/wwvozes.com.br ‘Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderé ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ‘fou quaisquer meios (eletronico ou meednico, ineluindo fotoeépia e gravaco) ou arquivada em qualquer sistema ou bbanco de dados sem permissio eserita da Editora, Projeto grifico: AG.SR Desenv. Grafico ‘Capa: Marta Braiman ISBN 85.326,0264.9 ‘Boe Bi fl compas eimproszo pela Batora Vues Lida SUMARIO Proficio&6* edigio... ao 1 Apresentagéo. n I. Abordagens diferentes ao estado a inguager, Pring paralingistica,linglstia propriamente dita.....+...++..15 M.Ov esta “prétingisios” “parang ma ‘Antiguidade......... 2 HILO esto da linguagem na Lad Média eos cone naa veedereteatsoénulo XIE 5... 30 Tait da ingiistica. A shordagem fesfca de Humboldt ‘A hordagem comparativa de Rask cocesseeeeee BT YEA descoberta do Sinserito pela erudigio moderna ..-....-....48 ‘VI.0s fundamentos definitives da gramdtica histrico- comparativa do indo-europeu. Bopp e Grimm, 49 IVIL Ox eto ind european endoinoeurepes depois de ‘Bopp e de Grimm ... st ‘VIII. A gramitica comparativa do indo-europeu como ponto de partida para uma ciéncia geral da linguagem. O trabalho de Schleicher 64 TK. A consolidagio do estudo geral da linguagem. Max Miller ‘e Whitney. 0 trabalho indo-europeu de Fiek arly E.Oadventoda fonética . a B XI. A nova visio dono curopeu depuis de Sehecher a XIL.O movimento dos neogramsticos a1 A spon on itn re ori ‘Wand, — Sehuchardt, Ascot, Marty. 98 XIV. Estados d indo europeun perodoneogramseo, ‘Lingoistiea rominica .. ees 105 Xv Eauls loner Grams emp. ‘A sintese da comparagio lingtistica ......... ug XVLUnanor song ring itr ‘Geografia linglistica cones 120 “XVIL A visio saussureana da lnguagem ....-.. 12 XVII. A tenen da andl de Saussure ea influncia de ‘seu pensamento, Sechehaye, Gardiner, Vendryes ........134 XIX. As novassordngenssusureanas. Bible. trabalho * e Bally 142 XX. 0 trabalho de Meillet. Hermann Hirt ....... 48. XXL. Os estudos do indo-europeu depois de Meillet 185, ‘XXII. Um estudioso nio-saussureano, Jespersen ....+++.-++.+-162 XXII 0 idem ngs Aen talan de Cree, Vossler, Leo Spitzer .. a XXIV.Alinguagem dentro da hs pation Menéndee dal e sua escola. Walter von Wartburg, ‘XV, Novas tendéncias no comparativismo Ingiistico, Investigagées pré-indo-européias. A nova doutrina de Mare Emprsimo como cass de agrupaent ings, TG Glotoeronologia .......esseeeseses 182, XXXVL 0 devnrvimento dfn, Font experinental ‘Rouseelote Grammont -.. a +190 XXVILO const de fonema. Baudovn de Courtenay, Saussure ‘¢o cireulo de Praga, Daniel Jones... “197 XXVIL Tenn de ings no Eton Union Bons Sapir .. . XXIX. Blond ua esa de lingstin XXX Una vio eral de otras tends a ingtisicn descrtiva - XxxI. Lg dati erate lg iin ‘Tradugiomeedinica ....... XXXIL 0 estudo da semanticn 204 2 219 BB PREFACIO A 6" EDICAO A Editora Vozes, coma acuidade e presteza que lhe sfo pe- * caliares, oferece a0 piblico estudioso da Lingiistica esta 6° ‘ecigio da Historia da Lingttéstica, do Professor Mattoso Ca- ‘mara, atendendo &exigéncia em primeiro lugar dos curriculos dos cursos de Letras. ‘Sem demérito de outras obras congéneres, consideramos este texto do Professor M. Camara indispensdvelleenriquece- or para qualquer pesquisador e estudioso do assunto. ‘Torna-se vital reviver a cada edigao a obra de tio presti- 080 brasileiro. ‘Trata-se de um trabalho do especialista, numa visto pano- ‘rimica da seqtiéneia do processo de evolugio dos prinefpios fi Tos6ficos que determinaram os tragos dahistéria da Lingiisti- «a, seguida, essa visio, de uma orientacho bibliogréfica indis- Densivel & elaboragdo dos métodos dos estudos linglisticos, efazendo os caminhos das correntes linglisticas em seu plu- Tifacetado desenvolvimento que exige um tragado orientador, nil apenas diaerénico, como sinerdnico. 0 corte, perpendicu- Tarao eixo do tempo, sem abstrair as referéncias, mesmo pré- ‘ximas, dé simultaneamente uma visio sinerénica em acordo om cada faixa temporal. _Observe-se que a diacronia ¢ a histérla no so precisa- Mente sindnimos quando aplicadas & apresentagio dos fatos sm seqiéncia, retratam o pensamento dentro da historia, ‘a Linguistica, dando contorno e substancia aos movimentose @colas, nas abordagens filolégicas e lingtifsticas, Uma comunicagdo objetiva, clara e conscienciosa produz no leitor seguranga, confiabilidade para a compreensao das correntes lingiisticas que marearam o advento do pensamen- to contemporineo. Um relato histérico, nfo de fatos mas de idéias, exige cui- dado, dominio, numa visio ao mesmo tempo global e detalha- da do significado dos movimentos caracteristicos de cada mo- 0 objetivo de uma historia da Linguistica é, assim, retra- tar fiele desapaixonadamente, numa apresentagio preserva- dda de qualquer interferéncia facciosa, as concepsées filos6fi- cas que norteiam os estudos lingisticos. 0 Professor Mattoso Camara realiza, nesta historia da Lingitistica, esses objetivos, pelo que esta obra é indispensivel 0s currieulos dos cursos de Letras de qualquer universidade. A Linguistica, em sua diversidade de coneeitos e de esco- Jas, em sua evolugéo, esta aqui apresentada de maneira clara desde os estudos pré-lingiisticos e paralingtiisticos até aos es- tudos da Fonétiea e aos de Fonologia. DaSemanticade Michel Bréal ao estruturalismo de Saussure, fornece dados precisos rum relato didético e metodolégico orientado pela lucidez.con- ceitual e euidado cientifico que earacterizavam o Professor Mat- toso Camara, contato do autor com lingiistas estrangeiros torna mais evidente o seu interesse pela histéria da Lingiifstiea quando, em 1988, traduz do especialista norte-americano Edward Sa- pir Lingiitstica: introduedo ao estudo da fala, que por ques- tes editoriais 56 veio a ser publicado em 1964. Traduziu, do ‘mesmo autor, artigos reunidos num livro que chamou Lin- giiistica como ciéneia (1964). De Roman Jakobson, de quem foi aluno nos Estados Unidos, Mattoso Camara verteu para ‘o portugués varios artigos num compéndio sob otitulo Fonema ¢ Fonologia (1967). Traduziu ainda, de Otto Jespersen, sem ublicagio, Language, ts nature, development and origin. 8 original desta Histéria da Lingitstcn, eseritoem inglés, ‘encontra-se no Acervo Professor Mattoso Camara, anexoa Bi- ploteca Central da Universidade Catélica de Petropolis. Parabéns, assim, a Editora Vozes por preencher com esta G6" edigd0 0 vazio que resultou por esta Historia da Linge ca achar-se esgotada. Albertina Cunha Bupecilista em Lingdistiea ; 9 APRESENTACAO, Esta Historia da Lingitstica foi originalmente eserita ‘em ingles pelo saudoso Pai da Lingistica no Brasil eomo fruto desua experiéncia docente na University of Washington, Seat- tle, durante o Linguistie Institute promovido pela Linguistic Society of America em 1962. ‘Trés anose meio mais tarde Mattoso Camara Jr. lecionou, ‘em portugués, um curso semelhante em Montevidéu, por 0ca- sio do I Instituto de Lingiistica promovido sob os auspfcios doPrograma Interamericano de Lingiifstiea e Ensino de Idio- mas (PILE) e da Associagio de Lingifstica ¢ Filologia da América Latina (ALFAL). Seguiu-se a experiéncia docente ‘em 1967-1968 no México, onde o autor de Princfpios de Lin- giltstica Geral ministrou um curso de Histéria da Lingiistica durante outro Instituto de Lingiiistica, por iniiativa das mes- mas entidades, texto original em linguainglesa, convém esclarecer, nfo ‘mais foi utilizado pelo autor, havendo, entretanto, citeuladono México uma série apostilada de ligtes incompletas em portugues. ‘Em vida, Mattoso Camara Jr. sempre desejou cumprir Juma promessa feita a Editora Vozes: ade publicar uma Histé- ‘ria da Lingiifstica para uso dos estudiosos dessa disciplina, indispensavel & formagdo humanistiea de todos que se dedi- Guem aos estudos linguisticos. Era intencSo do insigne lin- Siista redigir um texto em portugues com base na sua formu- lagéo original em lingua inglesa: infelizmente, a multiplici- ‘dade de compromissos assumidos e seu desaparecimento pre- ‘Maturo em 1970 impediram-no de fazer eumprir esse objetivo u altamente meritério. Atendendo aum pedido de D* Maria Ire ne Camara e a0 apelo de Claréneio Neotti, procuramos encon- trar, dentre os diseipulos do inesquecivel Mattoso, um tradu- tor para a diffel tarefa de transpor, ao portugués, a prosa eru- dita daquele mestre, também reconhecido estlista em inglés, ‘Acescolha recait na pessoa da Prof* Maria do Amparo Bar- bosa de Azevedo, profissional séria e competente, que atual- mente divide suas responsabilidades magisteriais entre a Pon- tiffcia Universidade Catdliea de Sio Paulo e a Universidade de ‘Séo Paulo. Bastaria isso, talvez, para ressaltar a qualidade im- peedvel da tradugio; fazemos, entretanto, questao de salientar que a tradutora, imbuida do espirito de objetividade e clareza humano. Como dissemos anteriormente, é uma criagéo social, baseada numa predisposicao bioldgica. O desenvolvimento da ciéncia pode levar a um estudo das caracteristicas bioldgicas, {que permitam aos homens o uso da linguagem. E através des- te estudo biol6gico chegamos a um novo tipo O Bstudo Biolé- ‘gico da Linguagem. ‘Umnovo impacto do desenvolvimento cultural sobre alin- sguagem, propiciando um estudo sistemstico, vem da historia, isto 6, o coneeito da sociedade humana como fendmeno histéri- 18 0, Sob esta nova luz todo trago social é visto como um aconte- timento histérico e o novo ponto de vista leva ao estudo histo treo da sociedade em todas as suas manifestacées culturais. A como manifestagio cultural da sociedade torna-se, assim, o objeto de um estudo histérico. Nao nos esquegamos que esta visio hist6rica é bem diferente da que chamamos O Estudo Filolégico da Linguagem. Na filologia os homens es- ‘Go cénscios de um contraste entre os tragos lingtiisticos do {pasado e os tragos linglisticos do presente. Ocontraste é, po- ‘rém, visto de um modo estatico. “A” é eonhecido como diferen- tede“B” mas A’ nao é visto como a causa de “B” ou “B” como [geonseqiiGneia de “A’. No sf imaginados como pontos re- Tacionados numa linha de desenvolvimento, A lacuna entre 0 ‘conceito filolégico e a concepeéo da linguagem esté claramen- ‘tellustrada quando confrontamos aquilo que afilologia grega ‘chamou de metaplasmo com aidéia dealternanciasonora,ela- Dborada pela lingtifstica moderna. 0 Bstudo Histérico da Linguagem, em face de outros es- fudos da linguagem por nés ja levados em consideragio, foca- Tiza-a como tal e tenta desenvolver sua natureza como um ‘acontecimento histérico. ‘Todo fato social, entretanto, além de ser um acontecimen- to histérico, possui uma fungéo social atual. Assim, deparamo-nos com um sétimo estudo da lingua- gem, aquele que focaliza sua fungéo na comunicagio social e ‘analisa os meios pelos quais ela preenche aquela fungi. Nao nos eabe aqui diseutir se este sétimo estudo, aquele a0 ‘qual podemos chamar de descritivg, deva ser independente, correlato ou entrelagado ao estudo histérico. Este éum proble- ‘ma que tem recebido respostas diversas de diferentes estudio- 4508 em linglistica e voltaremos a ele mais tarde, neste livro, Por enquanto, precisamos apenas demonstrar que O Estu- do Historico da Linguagem e 0 Estudo Deseritivo constituem ‘oAmago da ciéncia da linguagem ou lingifstiea. Em ambos, 19 tomamos a linguagem como um trago cultural da sociedade e tentamos chegar a sua natureza, ou explicando sua origem ¢ desenvolvimento através do tempo ou o seu papel e meio de funcionamento real na sociedade. Claro que 0 Bstudo do Certo Errado néo é ciéncia. Nada ‘mais € que uma pritica do comportamentolingistico.O Bstu- do da Lingua Bstrangeira apresenta alguns aspectos cientifi- cos na medida em que se baseia na observacao e na compa- rragdo objetivas, Mas ainda no éiéncia no sentido prépriodo termo, uma vez que ndo apresenta 0 verdadeiro significado dos contrastes que descobre e néo desenvolve um método ei- entifico de focalizar a sua matéria, O mesmo nao se pode dizer do Bstudo Filoligico da Lingwagem. Podemos chamar aqueles trés estudos da linguagem de Pré-lingitstica, isto 6, algo que ainda ndo ¢ lingutstiea. Por outro ado, o estudo bioldgico e o estudo légico(ou,em sentido lato, floséfico) da linguagem néo entram no dominio da linguagem propriamente dita. Permanecem nos seus limi- tes como um tipo de paralingiéstica. A lingitistica € uina ciéncia muito nova, Comegou a existir ‘na Europa em prineipios do século XIX sob o aspecto deum es- ‘tudo historico, como veremos mais tarde. Antes dessa épocaen- contramos apenas a pré-lingiiistica ea paralingiiéstica na cul- ‘tara ocidental. Nao ha qualquer tipo de lingiistica na cultura oriental, mesmo nos paises mais adiantados ento, ou seja, & China ea india antigas. 0 estudofilologicoe o estado fllos6fico a linguagem foram lé oferecidos, algumas vezes, com eficién- céabrilhante. Deve ter havido, naturalmente, O Estudo do Cer- toe Errada. lingiistica, porém, nao evoluiu desses esforgos. Uma histéria da lingifstica deveria concentrar sua aten- ‘¢io na Europa do séeulo XIX até os nossos dias incluindo, na- turalmente, a América como uma extenséo da cultura euro- péia e, entrementes, outros paises ndo-europeus que assumi- ram 0s prineipais tragos e tendéncias do pensamento cientifi- codominante. 2» ‘Nao devemos esquecer todavia que historia nada mais 6 quem desenvolvimento continuo. A lingiistica nio teria evo- Jidosem as experiéncias da pré-lingiiéstica eda paralingits- fioana Antiguidade, na Idade Média e nos Tempos Modernos, antes do século XIX. Somos compelidos.a levar em consideracao os estudos pré- € paralingiifsticos antes do advento da lingtisti- ynoséculo XIX, na Europa, como uma introducéo a histé- da lingtistica propriamente dita, Ademais, a pré-lingitstica e a paralingiiistica nio ces- de existir com oadvento da ingistca. Ambas continua- ja seguir 0 seu caminho, ora ganhando novos aspectos do de vista da lingiistica, ora contribuindo para esta com |préprio background. Mesmo nos séculos modernos uma ia dalingistica nao poderia ignorar inteiramente guns pré-lingiésticos e paralingittsticos que tratam dos igieos,biol6gicos e flos6ficos da linguagem. Portanto, uma assereio global da historia da lingistica se pode limitar&lingtifstica propriamente dita. E néo nos esquecer que esta nem sempre se apresenta no de- de sua historia como uma diseiplina isolada e auténo- Algumas escolas de lingiistica tém tentado agir assim, tem sido mais freqiente o debordamento da psicologia, ia e, mais recentemente, da antropologia no estudo da Agora podemos prosseguir ocalizando, inicialmente, 0 es- da linguagem na Antiguidade Classica. a Capitulo I OS ESTUDOS “PRE-LINGUISTICOS” E “PARALINGUISTICOS” NA ANTIGUIDADE Na Antiguidade o estudo da linguagem foi totalmente de- senvolvido na India e na Grécia, Encontramos em ambos os paises “O Estudodo Certoe Errado”, “O Estudo Filoséfico” ¢ ‘0 Estudo Filolégico da Linguagem”. Na india prevaleceu 0 aspeeto “filolégico” da linguagem, porém “O Estudo do Certo ¢ Brrado" se origina dele. A preocupagio principal foi acom- preensio correta dos antigos textos religiosos dos “Vedas”. Com vistas a isto surgiu um estudo analitico sob o nome de “Vyakarana” que, em sinserito, quer dizer “Anélise”, ( mais antigo tratado sobre a linguagem preservado até hoje, na India, & ode Yaska, um autor que viveu no IV séeulo a.C., e tem por nome “Nirukta” que signifiea “Explanagio”. , na realidade, uma explanacao das palavras do “Rigveda” {que jé se haviam tornado obscuras. A principal obra sobre a Tinguagem surgiu mais tarde, embora ainda no mesmo sécu- lo, econsistia na deserigdo detalhada do sanserito por Panini; consiste este tratado em quatro mil estrofes ou “Sutras”, as uais relatam, de maneira resumida e simbéliea, os fenéme- nos lingiifstieos do sanserito. E um tipo de cédigo simbéli- co baseado numa tradigio gramatical e, em si mesmo, mi ‘obscure, Foi explicado pelo “Grande Comentario”, ou “Ma- habhasya”,cujo autor Pantafjali viveu provavelmentena se- gunda metade do séeulo II 8.0. 2 ‘Panini e Pantafijali estabeleceram as bases da gramatica rormativa dosénserito eos tratados hindus que surgiram pos- inte nada mais eram que comentarios sobre as “Su tras de Panini” e sobre o“Mahabhasya de Pantanjali”. A orientagao do “certo ¢ errado” baseia-se numa observagio muito acurada dos sons do sinscrito e da composigdo do vo- ‘cabullo. Tarefa semelhante foi conduzidano prakrrits, isto é, 0s, ‘varios dialetos do Médio Hindu falado na India Antiga ao lado do sfnscrito, uma lingua escrita essencialmente para traba- Thos religiosos literrios e para uso das classes superiores. Quanto 20 estudo do “certo e errado” referente ao pra- Ieitspodemos citar o“Vyakarana’, ou “Andlise”, do gramatieo 'Kacediyana que viveu depois do séeulo VII da nossaera. A frientagio Hilologica estimulow a composigao das “Kosas” que ‘corresponclem aos nossos diciondrios,tais eomo 0 “Amarako- sa!” on dicionsrio de “Amera”, para o sanserito eldssieo (apa- rrentemente no séeulo VI da nossa era). | Mas os estudos lingiisticos permaneceram desconheci dosno Ocidente até fins do séeulo XVILL E porisso quenaoti- ‘veram qualquer influéncia no desenvolvimento do estudo da Tinguagem antes do advento da lingdistiea propriamente dita, noséeulo XIX. A tradigio do estudo da linguagem na Buropa, até esta {Ef0ca, ver da cultura da Grécia Antiga e, eomo etapa prelimi- nar de nosso curso, devernos examinar, sucintamente, o modo ppelo qual os estudos lingtifstieos gregos foram eonduzidos. A principal abordagem ao estudo da linguagem na Grécta foi através da filosofia, Podemos dizer que os primeiros estu- dos “paralingiisticos” comegaram sob o aspecto filos6fico de~ Tes. Quase todas as famosas “Eseolas” da filosofia grega inclui- Fama linguagem como um deseus objetos deinvestigagio. Po- demos mencionar, a propésito, a figura de Heréelito, que fez de “Logos”, “A Palavra” como a expressio do pensamento, fimago da sua filosofia panteistica; Parménides, e sua escola lestica; Demécrito e, noseu rastro, Epicuro e seus diseipulos Aiscutiram assuntos lingisticos. Os prineipais estudiosos “paralingtistieos” da Gréia fo- ram, entretanto, Plato e Aristételes. O principal trabalho de Platdo, noque se refere a linguagem, 6 oseu didlogo do Criti- Jono qual encontramos a famosa discussao entre Cratilo (um filésofo da linha de Heréclito) e Hermégenes (que se inclina para Demécrito e seus seguidores), Platéo claramente se iden- tifica com Heraclito, porém Aristételes desenvolveu uma teo ria lingifstica baseada nas idéias de Deméerito. Depois destes dois grandes filésofos, Plate Aristételes, 0s fildsofos que se interessaram mais profundamente pela lin. suagem foram aqueles da Escola Estoica, Desenvolveram um estudo sistematico da gramatica, baseado em Aristoteles, po- rém dele diferindo na sua teoriafilosofea, até no que se rete ria linguagem, Consideremos rapidamente a grande interrogagdo sobre a linguagem que a filosofia grega trouxe a baila. A primeira delas foi a relagio entre a lingua e as eoisas que ela exprime, Heréclito, com a sua teoria do “Logos”, dizia que a palavra é uma imagem exata do mundo, Por outro lado Parménides viu, xa multiplicidade das palavras, um produto da imaginagao hu- mana disfarcando a realidade aos homens. E os sofistas, se- guindo de perto Parménides, negaram 2 linguagem a capaci- dade de refletir arealidade. Plato, no seu didlogo do Crdtila diseutiu prineipalmente ‘a questio relacionada com o seguinte: alinguagem ¢impos- ta.aos homens por uma necessidade da natureza (8é0E) ou se origina do poder de julgamento dos homens (v6uo1). Pessoal- ‘mente parece ele participar da primeira dessas opinides, a ‘qual esté de acordo com a metafisica das idéias que regem, de fora, a mente humana. Aristételes, por outro lado, eré que & linguagem surgiu por convengao ou acordo entre os homens (Gé0¢t) mas faz uma distingao entre a linguagem propriamen- te (uovs)) como um produto de convengao, eo contetido da lin- guagem (A6yoc) que est de conformidade com as coisas e as- sim 0 € (Béott). a fma pesquisa semelhante aesse (yae1) debate foi oesta- ‘timologia (do Eryuos “verdadeiro”), Nada tinha a ver ine amoderna linglistica atribui hoje aesse termo, mas pesquisa do “verdadeiro” significado de um voeébulo ba- ina andlise de suas partes constituintes. Em vez.de uma fo sobre a origem de um voedbulo colocada numa pers- hhistérica, aflosofia grega visavauma compreensioda “original que dera lugar a esse voedbulo e ainda mantém erdadeira significagio, uma vez.que a lingua nao era vis- um acontecimento histérico em mutagao. jma grande parte do debate sobre alinguagem no dislogo Gritiloé dedicada aetimologia. De acordocom esse debateno ‘ voedbulo resulta da justaposigio de elementos mais © 0fildsofo tem que chegar aele pela andlise do seu corpo itieoe da comparagio com outros voedbulos com omesmo ou a vinho", e “drip” “ar” € assim porque “levanta” “aipc«” coisas do chao. Nessas dis- ‘etimolégicas Plato nao demonstra convie¢do mas é, jinconsistente e volivel: assim, “drip” & também aplica- base no fato de que “sempre lui”“éel pet”. Parece que jetimol6gica, mas estava também cOnscio da fragilidade odo empregado. ) Onitilo retoma uma velha orientagio sobre debates lin- abordados pela flosofia grega. Depois de Platéo, 0 tio da etimologia prosseguiu tornando-se cada ver mais no de sutilezas e arbitrariedades. 0 ponto eulminante des- tite foi a explicagéo "yar" évrfypaoic”, pela qual admi- e que a palavra exprimia, no seu corpo fdnieo, 0 oposto do -ado; porexemplo, “bellum quod res bellanot sit” Por outro lado, como filosofia (principalmente Aristételes Estoicos), desenvolveram uma analise mais completa da iguagem e chegaram as assergdes gramaticais, dando lugar 2B aum debate referente a natureza da gramética, isto 6 das re- ‘gras subjacentes que existem no uso da linguagem. Havia os “analogistas” que sustentavam que alinguagem é um sistema corrente governado por leis ¢ indicando tais eategorias por tais formas. Em oposi¢éo ales, os “anomalistas” eram de opi- ‘io que a linguagem nao possui regularidades e est domina- dapelaarbitrariedade. Aristareo, que viveuno século IT ou III C,, foi um notavel defensor da analogia. Os Estdfcos eram mais ou menos anomalistas¢& sua frente podemos meneionar Crates de Mallos, no séeulo II a.C., autor de um livro famoso, hoje desaparecido. Assim o estudo filos6fico da linguagem chegou a um as- peeto descritivo, que foi chamado de gramétiea, “younarixf” “A Arte”, relacionado aos earacteres escritos. Vale a pena no- tar que este nome é evidéneia do papel da lingua eserita como estimulo ao estudo lingtifstico, Os fundamentos da gramética grega foram langados por Aristételes e continuados pelos Estéicos. Aristételes via a lin- ‘gua através da légica e desenvolveu o estado logieo da lingua- ‘gem, que prevaleceu até o advento da lingiistica propriamen- tedita. Fez aprimeira distingéo nitida a respeito das partes do discurso (“substantivos”, “verbos”, e “particulas”, 5yua, pf, ‘ov55equ0s)e sobre a estrutura da oracio (onome como sujel- a toeoverbo como predicado). Os Bstéicos, por outro lado, intro- duziram 0 conceito dos casos nominais (r7601s). ‘A gramatica grega chegou ao seu auge no periodohelenis- tico. Suas formulagoes foram resumidas no pequeno trabalho de Dionisio da Trécia do século II aC, euja influéneia sobre todas as graméticas subseqtientes é incaleulével. ‘A gramatica greg, com base na ilosofia, ou melhor, na légi- ‘cae seguindo uma ntida orientagéo do “certo e errado” (visando ‘impor o dialeto ético), abrange a fonética com uma classificagio dos sons da lingua grega e do estudo do acento (npooo8{a) a0 lado do estudo do voedbulo e da oragio. A fonética foi também ‘objeto das investigagdes dos graméticos hindus; mas, enquan- 26 = toestestitimos partiram da observasio da articulagéo bucal, ‘agramitica grega opoiava-se na audigo. As primeiras inves- fonéticas na Grécia relacionavam-se & misiea e, no ‘eomeco, aqueles que as realizavam eram chamados tanto de tmiisieos como de gramiticos. ‘Desse modo podemos ver que a “paralingtistica", ob seu sspeciofiloséfico,e a“‘pré-lingtistica" teoriado “certo eerra- do’, tiveram um grande impulso na Grécia, dai nascendo & ‘gramitica no sentido que mantém até hoje. ‘Ao lado destes aspectos do estado da linguagem encontra- ‘mostambém, na cultura grega,oestudo ‘flol6gico”dalinguagem. A filologia 6 a grande tarefa do estudo da linguagem du- 0 periodo helenistico em Alexandria, Seu objetivo prin- foi a explanagio dos textos dos antigos poetas, prineipal- -Homero. Como a antiga literatura grega usavadialetos /evelhas formas dodiscurso que tinhamse tornado obso- sem face da expansio do dialetoético como lingua comum ‘a Grécia(xo1vs), os ilélogosalexandrinos eramlevados lar as antigas fases da lingua e os tragos distintivos dos gregos. Assim, em um dicionério de Hesiquio, que vi- jprovavelmentenoséeulo V de nossa era, eneontramos no te palavras ticas mas, também, vordbulos de outros di- gregos, do latim e, mesmo, de muitas linguas “néo-clés- ais como o egipeio, o acadiano, o lidio, o persa, ofrigio, io, o cita eo parto, Vemos, assim, 0 inicio do estudo “de estrangeira” como eonseqiéncia doestudo “flolégico”, 1s principais filélogos do periodo alexandrino foram Ze- (no séenlo IV ou III .C.); Aristareo, famoso como in- te de Homero; e Apolénio Discolo. O estudo filol6gico misturava-se, naturalmente, com as es gramaticais de carter normativo e com pontos de filoséfieos entre (usoet) © (@éoe1) e analogia e anomalia, 0, por exemplo, era um analogista, A cultura romana aceitou e aplicou ao latim, em suas li- gerais, oestude da ingua que os gregos haviam eriadoe a desenvolvido. Mas a abordagem filoséfiea deu mangem a.uma sgramatiea normativa mais estrita. Os problemas filos6ficos da, linguagem, levantados pelos gregos, foram utilizados pelos estudiosos romanos de maneira dessultsria.O objetivo prine- pal da gramatica latina foi oque vimos chamando de “O Estu- do do Certo e Errado”. No momento em que a gramética grega comecou a influ- enciar a cultura latina, olatim ndo era ainda uma lingua fixada eos habitoslingiisticos das classes ruraisestavamem conflito coma “urbanitas”istoé, oestabelecimento de uma norma ofi- cialpara an classes superiores da cidade. A medida queo Eata- do crescia através de suas conquistas, crescia também, assim, anecessidade de uma lingua tinea tendo sob seu dominio todo o Império Romano. ‘A gramatica latina vinha tentando, incessantemente, man- ter olatim classico em face da falaplebeiae dafala provinciana das populagoes heterogéneas. A abordagem do “certo e erra- do” estava sempre em jogo. aumentava seus esforgos &medi- da que as forgas contra o latim eléssico tornavam-se mais po- derosas. Podlemos mencionar, como 0 mais importante desses esta das em Roma, os vinte e quatro livros de De Lingua Latina, de ‘Varro, que viveu no séeulo TI a.C. Tomou como base para sea trabalho os Estéicos e Aristarco e foi um analogista, embora de modo nio muito decidido. Aplicou as iis gramatieais gregas 0 latim inteligentemente e com certa dose de originalidade. ‘Viu, por exemplo, a distingdo temporal em latim entre “infee- tum” e “perfectum”, que € peculiar a essa lingua. Em outros trabalhos, hoje desaparecidos, De Sermone Latina, Varrao es- tabeleceu os fundamentos da “latinidade” como sendo natura, analogia, consuetudo e auctoritas, isto é,a natureza da lingua ‘gem, as regularidades da gramética (como evitar exeeg’es), 0 ‘uso firmado ea autoridade de personalidades importantes, prn- cipalmente os grandes escritores. Vale a pena notar que tal vi- fo esté ainda viva na abordagem do “certo e errado’” 8 ‘Aolado de Varrao, podemos mencionay, também, oretérico Jntiliano, no séeulo I de nossa era, ¢ Aelius Stilo, mestre de ‘Yarrao, que trabalhou em etimologia & maneira dos Estsicos, fezum estado filoldgico dos Carmes Saliares (velhos ednticas ‘eligiosos da irmandade de Sélios), e chegou mesmo aestender fas vistas aos dialetos fora do latim. Em meados do século TV QC. Elio Donato escreveu sua gramétiea normativa do latim a igual, sb o titulo de Arte Menor, permaneceu, por duzentos anos, o modelo mais autorizado de gramética expositiva, Em Bizsincio encontramos, no reino de Justiniano, 0 gra- tioPrisciano, século Vd.C., que baseou suas Institutiones |Apoldnio Discolo, Na mesma époea, Santo Isidoro de Sevi- {desenvolveu, em vinte livros, um amplo tratado de Etimo- ja, seguindo os passos de Platao e dos seguidores destes. t ; | Capitulo I O ESTUDO DA LINGUAGEM NA IDADE MEDIA E NOS TEMPOS MODERNOS ATE 0 SECULO XVIII Nos autores mais tardios da Antiguidade, tais eomoDona- toe Prisciano, observamos jéum esforgo para manter anorma do latim elassieo em face da lingua popular do Império Na Idade Média, com o surgimento das verndculas nas vi- rias nagées que constituiram 0 Império Romano do pasado, este esforco aumentou a fim de conservar o latim puro como lingua universal de cultura acima daquelas vernéculas. ‘Tal situagdo fez com que se enfatizasse muito o estudo do “certo e errado”, Os tratados de Donato e Prisciano eram os, modelos para o ensino da gramética latina. Havia, entretanto, um fator conflitante em face das diserepSineias entre o latim classico eo latim da Valgata. Isto esti ilustrado por um abade francés do séeulo IX: “Eu discordo de Donato”, dz ee, “por ‘rer ser maior a autoridade das Escrituras”. Este confit es ‘imulou novos pontos de vista no que dizia respeito a correcao no uso do lati, A mais completa expresso da gramitica latina normativa na Idade Média ¢ a Doctrinale Puerorum do autor francés Ale- xandre de Villedieu, no século XII. Foi eserita em hexdmetro= latinos por se pensar; na época, que a versificagéo era muito itil 08 propésitos ie0s, Nao hi preocupagtes flloséficas nesse tratado. E um manual puramente pedagégico, base do, antes, no latim medieval do que no Iatim elissieo, embora seguindo, em suas linhas gerais, a gramstica de Prisciano. 30 | _Desenvolveu-se também intensamente a abordagem filo “sofa 1 medida que os escolsticos ganhavam terreno. Sob as véncias dos ensinamentos de Aristteles, a gramética era ‘como uma “auxiliar (ancilla) da Wégiea”, Eneontramos, ‘modo, durante Idade Média, um estado “légico” da lin- de grande importancia, pelo impacto que exereeu nos los subseqiientes e ainda exeree. Foi ento, por exemplo, nome eo coneeito de eépula teve lugar na teoria gram: tinha-se, em termos logieos, que toda oragéo possui artes essenciais— Sujeito, Copula, Predicada, uma ora- do tipo Petrus amat nada mais sendo que aredugo ‘est amans com a c6pula est estabelecendo a rela- sujeito com 0 predicado amans. lisputa entre os analogistas e os anomalistas surge na filos6fica da linguagemna Idade Média, nadiscus- {iva ao papel do gramético: se deve ou néo melhorar a dando mais regularidade aos seus padrdes e conser- mais perto do mundo dos objetos e das idéias. as questdes levantadas por aquelas graméticas flo- da Idade Média podemos mencionar as seguintes: A fica é Uma Ciéncia’ Sao 0s modos de significar, de com- € de ser idénticos? Nascem os modos de significar iedades dos objetos? ia subjacente era ade que existe uma estrutura gra- sniversal comum a todasaslinguas e que esta estrutu- ‘evidente em latim. Eneontramos aqui aidéia de uma ageral que tem dominado opensamentodos homens, Jinguagem, por muitos séeulos. is famoso desses tratados filoséficos sobre a lingua- De Modis Significandi Sive Grammatica Speculati- foi utribuido a Duns Seotus e até mesmo incluido nas de seus escritos, mas hoje considerado como sendo da ‘Thomas de Erfurt, que viveu no século XIV. Obser- ‘uso da palavra latina modus era largamente em- 31 pregado naqueles tratados, de modo que seus autores 880 co nhecidos pelo termo eomum de Modistae. O estudio da linguagem concentrava-se no latim € a5 lin ‘uas vernéelas ndo eram objeto de qualquer estudo normati- vo e especulativo. Havia, entretanto, certa curiosidade acerca das inguas faladas como também a necessidade de transmitir 0s povos que as falavamn a doutrina eristd. Isto dew lugar, no, inicio, ao que hoje chamamos “O Estudo de Linguas Estran- geiras”, embora aquelas linguas vernéeulas fossem “estran- geiras” aos escritores que com elas trabalhavam, apenas no sentido de que os mestnos se colocavain, do ponto de vista do latim, a considerar como latinos os falantes das linguas de seus respectivos paises. Podemos mencionar, a este respeito,o trabalho de Aclric, bade de Eynsham na Inglaterra anglo-saxdnica do séeulo XI, cujo texto revela o interesse dividido entre o anglo-saxio ¢ 0 latim: De Grammatica Latino-Sazonica, seguido de um Glos- sarium ou Dicionério Latino-Anglo-Saxo. No Renascimento, com o ressurgir do latim eldssico como lingua eserita dos estudiosos e com o novo interesse pelo gre- 0, oestudo normativo de ambas estas inguas da Antiguidade foi muito favorecido. Aomesmo tempo, entretanto, surgiu um grande interesse ppelas linguas faladas no mundo, como conseqiiéneia da curio- sidade do homem do Renascimento, por tudo que ocireundava na natureza e na sociedade. O estudo do “certo ¢ errado”, focalizando 0 latim cssico, & cexemplificado pelo Blegantiarum Linguae Latinae Sive de Li- quae Latinae Blegantia, do italiano Lorenzo Valla noséeulo XV. Oestudoda “lingua estrangeira” compreende livros sobre linguas orientais e indigenas americanas, tais como 0 etiope (por M, Vietorinus no séeulo XVID, o sirio comparado com o etiope eo drabe (A. Caninius no séeulo XVD), € 0 basco (A. de Pizza, nos fins do séeulo XVD. 2 jordagetn da especulagio filosifica, por outro lado, foi saplicada aos estudos lingiisticos. A distingao entre a ea “Vulgar” e a gramética “Filos6fica” ganhou terre: ‘claramente estabelecida por Francis Bacon no seu li- dignitate et Augmentis Scientiarum, Esse escritor a gramética filos6fiea como uma investigagéo nas rela- as palavras e 05 objetos ou idéias, principais manifestagdes da gramiitica floséfiea no foram oslivros De Causis Linguae Latinae, de Sealiger, e Minerva, de Francisco Sanchez de las, 1um autor espanol que teve grande infuéneia Sealiger nos diz que seu intento é apie rias logicas de Aristételes. Sanchez também visa de- ‘a estrutura légica que ele julga inerente a todas as século XVII aorientacdo ligica nas assergées grama- jeBoU ao seu auge com aGramética de Port-Royal, de de Lancelot ¢ Arnaud, época, notava-se atencdo sempre crescente pelas inguas da Europa, O latim passa ao segundo plano. por exemplo, é vin claramente o problema dos verné- face dolatim (cf. Bertoni, 1987). Cada pais demonstra 10 por sta prépria lingua. Conseqtiéneta: 0s “Louvo- francés, do italiano, ete. 'século XVI em diante encontramos gramaticas das lin- moderns, combinando a orientagio logica e a inten¢ao e errado” com a observacio, algumas vezes aguda a, dos verdadeiros fendmenos lingisticos. Podemos fonar, a este respeito, as gramaticas francesas de Mei- Robert Estienne e Theodore Beze no séeulo XVI, ¢ a ica castelhana de Anténio de Nebrija, no século XV. dos tratados deste tipo podem ser inclufdos no estudo a estrangeira” uma vez que seu propésito é ensinar ialingua a estrangeiros; tais sio os tratados de Mie jglés para uso de franceses), de Pereywall espanhol para 33 uso de ingleses), Palsgrave (francés para uso dos ingleses) ¢ Oudin (espanhol para uso de franceses). Nesses tratados, as assergées fonéticas so, muitas vezes, apreciaveis, A fonética néo era forte entre os gregos e 0s v0. ‘manos e, na Idade Média, deparamo-nos com uma complet confusio entre som e letra. Teorieamente havia distingio en tre os dois conceitos, porque as letras eram tidas eomo poss. indo figura (seu aspecto grifico), nomen (seu nome no alfabe. to), potestas (seu valor fonico). Mas, na pratica, o valor fonica era freqiientemente esquecido e o debate lingtistico concen. trava-se nas letras sob seu aspecto visual. Ora, a partir do séeulo XVI, devido ao estudo das linguas vivas modernas,o aspecto oral da linguagem foi trazido &baila ea teoria fonética, embora rudimentar, desenvolveu-se. Esta nova atitude, em relagéo & fonética foi apoiada pelo estudo “biol6gico” da linguagem que se desenvolveu no séeulo XVII devido aocrescente interesse pelos 6regaos da fala ea sua ‘maneira de produzir os sons da linguagem. O progresso alean- cado neste sentido foi suficientemente grande paraser utiliza. do no esforgo humanitério de ensinar surdos-mudos afalar. A gramética portuguesa, por Fernao de Oliveira, no século XVI, E notavel por suas assergdes fonéticas. Acesterespeito, devemos mencionar o tratado de um médico ilé, Joan Dafydd Rhys, no séeulo XVI, sob o titulo de De Itali- ca Pronunciatione, no qual os sons das vérias linguas européias so examinados e comparados aos sons do italiano. No Philoso- ‘phical Language, do inglés John Wilkins, no séeulo XVII, encon- framos quados para ilustrar as articulagbes bucais. Entretanto, a mais importante corrente no séeulo XVII a respeito do estudo da inguagem foi oesforco de comparar as linguas e classificé-las de acordo com suas semelhangas. Era pensamento comum considerar-se hebraicoalingua original a humanidade. No séeulo XVI, estudiosos como Postel, Buch- man (que traduziu seu nome para o grego como Bibliander), a ger fizeram tentativas no sentido de uma classi- as inguas. do da timologia, da Antiguidade, foi renovado, mas visio histérica. Foram feitos esforgos para derivar ingua as palavras de uma outra adigdo, subtragio, oeinversio de letras. Por ser ohebraicoescrito da ‘aesquerda, pensava-seser justificivel inverter as sbraico a fim de se chegar ao grego, latim e euro- . Nesta linha temos o tratado do franeés Ghi- ‘comegos do século XVII, sobre A Harmonia Bti- do Hebraica Stria Grego, Latim, Francés, Ialia- 0h Alena, Flamengo e Inglés. muito simples estes pontos de vista, eram eles tivos porque, dessa maneira, uma nova abordagem & [pouco a pouco tomava corpo: o estudo “histérieo” m, pelo qual o homem chegaria & lingiistica pro- ‘eomneco do séeulo XVIII esta corrente comparativa e ‘ganhou mais consisténcia e seguranca. dolf, por exemplo, airmava, em 1702, que oreconhe- ‘das afinidades das linguas deve depender antes das granmaticais do que do voesbulo,e nas correspon- de vocabuléio a énfase deve ser posta nas palavras es, como por exemplo os nomes para as partes do corpo. este respeito, vale citar 0 famoso fildsofo Leibniz. No vis Designatio Meditationum de Originibus Gen- Duetis Potissimum x Indiciis Linguarum, publicado fas da Academia de Berlim em 1710, afirma que nenhu- fngua histérica é a fonte das linguas do mundo, uma vez, ser derivadas de uma “Protolingua’. E esta idéia, que se encontra na base da linglistica historieo-com- tiva, como veremosmais tarde. Esbogou eleainda, em seu tuma classificagéo das linguas, com um grupo jafético lividiu em eitico aproximadamente as linguas indo-euro- 3) € céltico (aproximadamente as linguas uralo-altaicas) 35 Leibniz chamou atengio para as linguas do mundo em ge- rrale insistiu para que oimperador da Réissia, Pedro,0 Grande, determinasse o estado das muitas linguas de seu Império. Ele também tinha idéia de um alfabeto universal a fim de reduzir todas as inguas faladas & escrita. Esta iniciativa de Leibniz eo grande interesse pessoal da ‘imperatriz da Réssia Catarina II, que reinou depois de Pedro, © Grande, estimulou a elaboragio de grandes repertérios de todasaslinguas entéo conhecidas, taiseomooLinguarume To- tius Orbis Vocabularia Comparative, de Pallas, no final do sé- culo XVII, e nos comegos do séeulo XIX, 0 Catalogo de Lax Lenguas de las Naciones Conocidas, em espanhol,e0 Mithri dates oder allgemeine Sprachenkunde, em alemao. De um aspecto mais “paralingtistico” foram os esforgos para descobrir-se a origem da linguagem, partindo de um ter- reno filoséfic, tais como 0 debates de Hobbes, Rousseau, ‘Monboddoe Condillac. Um destes ficou famoso pelos aprecié- veis pontos de vista que oferece quanto inatureza e fungéo da linguagem: € 0 ensaio do estudioso aleméo Johann Gottfried Herder sobre A Origem da Linguagem, escrito para um con- curso aberto pela Academia de Ciéncias de Berlim, Herder sustentava que a linguagem era eriagéo do homem, nfo uma diva divina, nascida da necessidade da natureza humana. ‘Também adiantou a feliz idéia de que alinguagem deve ter co- ‘megado com verbos, ndo com substantivos. ‘Ao lado de Herder, como um estudioso “paralingtistico”, devenos colocar o italiano Jodo Batista Vieo, que em seus balhos, particularmente no Scienza Nuova, desenvolveuidéias filoséficas a respeito da linguagem. Ele se opée a Scaliger, ‘Sanchez ea todos os autores que atribuem o estudo da lingua ‘get lgica. A l6gica, visando a uma expresso universal do pensamento, no pode fazer justiga, de aeordo com o que ele diz, as infinitas particularidades que constituem 0 cerne de ‘qualquer lingua. Acha que a lingua, ao contrério, é um tipo de poesia e recebe seu impulso da imaginagéo humana. 36 Capitulo IV O ADVENTO DA LINGUISTICA. A ;ORDAGEM FILOSOFICA DE HUMBOLDT. A ABORDAGEM COMPARATIVA DE RASK ‘Vimos como no séeulo XVIII foram desenvolvidas, no es- jo da linguagem, idéias mais sidas do que no periodo ante- O eaminho estava sendo preparado para o advento de Verdadeira ciéncia da linguagem ou lingtistica propris- te dita. Partindo de uma abordagem filoséfica da linguagem pela ervagio direta de muitas linguas exotieas, o estudioso ale- Wilhelm von Humboldt nos oferece em seus trabalhos is do que um mero estudo “paralingtistico”. Coloca-se no ne dos fendmenos lingtisticos e tenta desemaranhar a na- ‘eomecanismo da inguagem. Podemos dizer que ele co- “fej alanar os fundametos do que vinos hamando oes jo“deseritivo” da ‘como ur aspecto da lingisti- propriamente dita, B verdade, entretanto, que fez, pouca, igo, no sentido de tratar, sistematicamente, com dados eretos. Prefere, a isso, uma série de racioesnios acerca da iguagem em geral,alicergando-os com exemplos das mais ‘Yariadas linguas. De seus trabalhos numerosos, 0 maisimportante 60 estudo dlatingua kawi daitha de Java, publicado postumamente. Como “introducio a este trabalho escreveu seus famosos debates s0- ‘bre a diversidade das estruturas lingtisticas e sua influéncia Sobre o desenvolvimento espiritual da humanidade. E nesta 7 “Introdugio", hoje consultada eomo um livro separado, que se encontram expostas suas idéias bisieas sobre linguagem. Entre seus outros trabalhos podemos meneionar a pes. inquérito sobre os primeiros habitantes da Espanha, partindo de um estudo do baseo, um dieionério do basco e um, tratado, em forma epistolar, sobre gramética geral e a lingua, chinesa. [Nao 6 muito ficil eaptar-se as idéias de Humboldt devido x seu estilo impenetrvel. Grande parte de seu pensamento tem reeebido interpretagées diversas, Suas idéias eentrais, entre tanto, so muito claras ¢ estimuladoras e, até mesmo, provoca tivas, Fagamos aqui uma pausa paraconsiderar algumas delas. Encaravaa lingua como uma atividade ineessante, um tr balho mental dos homens, constantemente repetido para es pressar seus pensamentos, Daf nao enearar as linguas como ‘um conjunto de formas linglistias e de regras criadas para ‘combinar estas formas, mas como uma série de atos da fala. Paraele,o que importa numa lingua é 0 processo dindmieo da, expressiio através dos sons voeais. Apresentou esta visio na afirmagio de que “a lingua nao é um produto paraser utilizado pelos falantes, ou, eomo sugere o termo grego “ergon”, ela & ao contrario, uma incessante cria¢ao de cada falante, ou, como cle mesmo exprimiu através de um outro termo grego, uma “energeia”. Em referéneia a isto Humboldt esté de aeordo com Vieo, que também enfatizara a eriagao subjacente a todo ato de fala. ‘Ao mesmo tempo em que fazia a afirmagio acima, Hum bolat convencia-se de que toda lingua reflete apsique do povo que a fala. E 0 resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal de fala. Ele acha, por outro lado, que alingua de um povo é0.¢a- nal natural pelo qual aquele povo chega a uma compreensio do universo que eireunda o Homem. F conclui que existe uma profunda influéneia de uma lingua na maneira pela qual seus 38 .¢ organizam 0 mundo dos objetos em torno de- vida espiritus Aidéia de uma gramética geral baseada dedutiva- spremissas|l6gicas, como vimos ser corrente no esti- s" dalinguagem at6 o:éeulo XVIII, Advogaa pos- ide fazer-se uma anilise de todas as linguas do mun- serem comparadas as diferentes maneiras pelas nocdo srramatieal é verdadeiramente expressa, diversas. Por esse tipo de andlise acha que se pode- -auma descricéo indutiva da lingua. E ofereceuuma de tal método em um estudo sobre a flexdode niime- ido como Dual como outros lingiiistas de seu tempo, como veremos, ‘Humboldt adotou uma classifieagao tipolégica das la na estrutura do voeabulo, do tipoligicaexistente até aquelaépoea, devida et, distinguia as linguas isolantes, aglutinantese fe- ppartindo do chinés,o modelo do tipo isolate, para che- ueza das flexies do sinserito, do gregoedolatim. A divi feitalevando-se em consideracioo fato de ero voetbulo. simples indivsivel, ou um composto de formas mais damestma importancia, ou um todo com uma forma cen- Taiz, seguido por formas secundérias ou fixos. classficagao de Humboldt nioest4inteiramente de acor- ‘esta, Considera o chinés eomo uma lingua sem qual- mt gramatical, juntando a seu lado tréstipos poss- inguas:oflexional,o aglutinante oineorporador.Ius- te timo tipo com linguastais eomo omaluatl, no Méxi- qual um tnico voedbulo incorpora os diferentes elemen- oragio, ‘outro lado, faz Humboldt uma distingio entre o que ele saa formaexterna dalinguaeo quechamaasua forma in- Por forma externa considerava os sons da lingua, 0 cor- do voeébulo, os recursos vocais da lingua, Por for- 39 ‘ma interna, a0 contrério, considerava as idéias subjacentes queles grupos de sons, as distingdes mentais dominantes na lingua, ou, em outros termos, os significados das formas lin gllistieas ¢ as categorias linguisticas tais como niimero, gé nero, tempo, ete. E atribui a forma interna o papel prineipal. Esereveu, por exemplo: “Todas as exceléneias, por mais ela- boradas e melodiosas, das formas fonéticas, mesmo se eombi- nnadas com o sentido articulatério mais delicado, ao ineapazes de manifestar o espfrito de uma dada lingua, sea irradiagao das idéias que aquela lingua mantém néo as atravessa com o seu calor e sua luz”. Em sua interpretagdo dinamica da linguagem, visualizou cada lingua sob a influéneia do poder mental mutavel de seus falantes e distinguiu dois periodos definidos em toda lingua, "umeriativo com um instinto lingiistico erescente eativo, e ou tro no qual aquele instinto criativo declina e uma estagnacao aparente tem inicio com respeito & “energeia” da lingua, Humboldt morreu em 1835 quando os prineipais estu- iosos em lingiistica tinham jé aleangado os fundamentos da ciéncia da linguagem, ou ingtistica propriamente dita, em ba- ses bastante diferentes, partindo para oestudo “hist6rieo” da linguagem através da comparacao de linguas vivas e mortas. Pode-se afirmar, com seguranca, que a orientagéo de Hum- boldt permaneceu isolada no mundo cultural de seu tempo. Possui um tinico seguidor importante, Heymann Stein- thal, que procurou esclarecer os conceitos de seu Mestre e insistir no aspecto psicoldgico da linguagem, como adiantara Humbolat ao afirmar que a lingua é uma “energeia”, uma ati- vidade incessante do pensamento humano. Um dos muitos trabalhos de Steinthal é um Manual de Lingitstiea (Abriss der Sprachwissenschaft) em meados do séeulo XIX, no qual trata de linguas as mais variadas, especialmente as de paises contemporaneos fora da Europa. A abordagem “hist6rica” da linguagem, como vimos, co- ‘mecou no séeulo XVIII por um esforgo em comparar eclassifi- 0 earas linguas de acordo com sua origem hipotética. Nesse es- forgoa linguagem veio a ser vista nitidamente através de uma, PriahistOrica de desenvolvimento, na qual uma lingua antign dé origem a uma ou a varias linguas novas. Esta concepeao esté subjacente A lingiistica historico-comparativa que se de- senvolveu no século XIX. (0 primeiro estudioso a fazer progressos na técnica da ‘comparacio histériea entre linguas foi o dinamarqués Ras- ‘mus Rask. 0 interesse na comparagio de linguas que vinha ganhando terreno desde o século XVIII persuadiu a Acade- ‘mia Dinamarquesa de Ciencias, em 1811, a estabelecer um ae competigdo cujo assunto era “ainvestigagao de que avelha lingua escandinava podria ter-se originado”. "ask, que eraum devotado aluno doislandés, considerada ‘aimais antiga lingua escandinava, ganhou o prémio com seu trabalho intitulado Investigagao sobre a Origem do Antigo Nordico on Islandés. 0 livro, escrito em dinamarqués, uma Iingua pouco conhecida fora da Dinamarca, néo foi publicado arante muito tempo. Por essa razao, Franz Bopp, eujotraba- Tho surgiu um poueo mais tarde, 6 considerado o fundador da Giéncia Histérieo-Comparativa da Linguagem. Entretanto, a idéias prineipais que deram & comparagio Histrica das inguas um método cientifico,em lugar das supo- figées do século XVIII, séo claramente expostas por Rask. Tnsiste na importancia das comparagées gramatieais em vez deaproximar palavras cuja concordancia é incerta, por pode- ‘Fem passar facilmente de um povo para outro. AS inflexées ‘morfoldgicas, ao contrério, afirma ele, sio raramente ou nun- €xtomadas de uma lingua para outra. Ele se apéia também, €ntretanto, na concordancia entre as palavras mais essenciais, ais concretas ¢ mais indispensaveis. Por outro lado, constatou que hé uma regularidade nas assagens das vogais e consoantes de uma dads lingua, com- Parada a outras com as quais tém relagées de parentesco. A ste respeito é muito sensivel aos valores fonieos e, no que diz, 41 rrespeito & mudanga de letras, tem nitidamente em mente 0 ‘que os escolisticos haviam chamado de Potestas da letra, isto 6, seu som no voedbulo articulado. Em uma gramética islandesa, anterior & Investigagdo pa- ra acompetigao da Academia Dinamarquesa, Rask apreenden a idéia tanto do que hoje chamamos Morfofonémica, como do ‘Sandi indu:a mudanga de vogais ¢ consoantes em contac- ‘to quando formas minimas entram na combinagio de um todo ‘mais complexo. Ele explicacertas alternncias voelieas no is- landés como devidas a aproximagao da vogal da raiz A vogal da terminagio. Em sua Investigagdo foi bem-sucedido a0 descobrir, de rmaneira mais ou menos aproximada, 0 grupo de linguas que viriam aser chamadas mais tarde de familia indo-européia ou indo-germanica. Nele ineluiu eineo grupos menores: 0 gético, isto 6, as inguas germanicas, entre as quais colocou oescandi navo, naturalmente, 0 eslavo, 0 lituano, olatim e o grego. Co- rmeteu oerto de deixar fora o celta. Ademais, nio vin arelagio entre este ramo europeu de linguas e as linguas asiéticas persas. Mais tarde chegou a se corrigir nestes dois pontos. O grande mérito de Rask foi dar os primeiros passos firmes em diregdo & Gramética Comparativa. Sob este aspecto pode ser eonsiderado 0 grande pioneiro do que vimos ehamando “O Estudo Histérico da Linguagem”, como uma das modalidades da ciéneia da linguagem oa lingdistica propriamente dita Com ele e, em menor grau com Humboldt, a Historia da Linguistica, como a definimos, tem seu verdadeiro inicio. O grande impulso, entretanto, para a elaboragio de estu- do histérico da linguagem teve inicio depois da descoberta do sanserito e da cultura da india pelos estudiosos europeus no comego do séeulo XIX. A marcha para alingdistiea, que come- cara desde o séeulo XVIII, na Europa, recebeu da gramatica do sinserito e da gramética hindu um estimulo inesperado, que foi decisivo para o estabelecimento da lingtfstica a Capitulo V ‘A DESCOBERTA DO SANSCRITO PELA ERUDICAO MODERNA* ‘A descoberta do sinserito e da cultura da {ndia, pela eru- /européia, resultou no dominio politico da india por parte “Inglaterra. A cultura hindu néo atrafa o interesse dos gre- ‘mesmo depois da conquista de Alexandre, devido a ten- ia grega de olhar todos os outros povos como bérbaros. fesmo durante a Renascencae os séculos seguintes s6 houve jinteresse muito vago e esporddico pela indiae pela Pérsia. a-se uma confusa idéia da eonexao do persa com Iinguas as, especialmente o alemao, Essa suposigdo, que visa- ‘Yaum alvo falso, foi apresentada pela primeira vez pelo ital Bonaventura Valeanius nos fins do século XVI e persistiu muito tempo. DS Arespeito da india alguns missionérios e viajantes, mais. Perspicazes, pereeberam que haviauma relagaodo sanseritoe das modernas linguas hindus, ligadas aele, como grego eola- tim. Desses argutos observadores merece men¢ao o italiano Sassetti, no século XVI, e 0 jesuita francés Coeurdoux, no sé- culo XVIII. 0 primeiro ventilou a idéia incidentalmente em *W,datrad Estecaptle, como extvesse paca Revitade Cuter Voces, Agora de 18T,p.58) nao ortredusmos. A Rago da revista, pore, informa, Aue o exo ¢ dea speta em portuguese dat, mito prone a eta in ts, possveimenetradugio d prprio Mtoe Camara

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