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BREVES ANOTACOES SOBRE A TEORIA DAS INTELIGENCIAS MULTIPLAS DE HOWARD GARDNER Ref: GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligéncias Miiltiplas. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1994 (Original: Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences. London: Heinemann, 1983). Hugo Assmann Professor do PPGE - UNIMEP 1. Situando a teoria das “inteligéncias miltiplas” Quando se entra com o duplo verbete “inteligéncias miltiplas” num dos melhores bus- cadores (search engines) da Internet, o Alta Vista, 0 resultado é impressionante: mais de mil ccorréncias localizaveis, seja em cabegalhos ou no interior de textos. Ha de tudo. Resumi- shos extremamente simplistas da teoria de Howard Gardner, marketing de colégios e cursi- shos de reciclagem, trivializagdes em slogans, mas também bons textos expositivos e uma série de agudas criticas ao tipo de cognitivismo informacional e localizacionista desse autor. Convém recordar algumas coisas da histéria da teoria das “‘inteligéncias multiplas”, para verificar, depois, qual é - segundo a reapreciacio que o proprio Gardner faz da sua teoria eo anos depois de langé-la - qual é, para ele, 0 ponto-chave numa perspectiva pedagégica. ‘Como veremos, com base em textos mais recentes do proprio Gardner, parece evidente que, per ele, a questo central nunca foi, embora parecesse ser, 0 famoso esquema das “sete inte- Seincias” enquanto tal, mas um recado pedagdgico mais fundamental ¢, até certo ponto, szdcpendente dessa esquematizagio. Prefiro que o proprio Howard Gardner, talvez um tanto sssustado acerca do modismo que desencadeou, o diga. Resumo histérico: em 1983, Howard Gardner, psicélogo da Universidade de Harvard, Sho de um casal de neurocientistas (Hilde Weilheimer Gardner e Ralph Gardner, ambos com psblicagdes nessa Area cientifica), editou um livro que Ihe daria uma fama nio isenta de s=biguidades. O titulo do livro, Molduras da Mente (Frames of Mind), sinaliza que 0 autor sentinuava preso ao cognitivismo classico de tipo informatico (localizagdo de fungdes espe- Sess do cérebro/mente ¢ acentuada énfase na metdfora do computador para teorias acerca & mente). A inteligéncia seria um conjunto de janelas diversificadas. Na mesma época, em 1981, Marvin Minsky, o crédulo profeta dos avangos ilimitados ‘& seeligéncia artificial, escrevia o seu livro acerca da mente como uma sociedade de mul- atores, uma espécie de mercado (4 Society of Minds). Pouco mais tarde surgiria, dentro mesma epistemologia pragmatica, o programa de computador Windows da Microsoft de ‘Bil Gates, ou seja, aquela “janelizagio informatica”, tio pritica e ao mesmo tempo tao redu- ‘Senists, como experimenta qualquer usudrio pensante do computador. Gmenacacdes 2” Quanto ao titulo do livro de Howard Gardner, Frames of Mind (Molduras da Mente) 6s italianos foram sensiveis 4 ambiguidade do original e preferiram verté-lo ao latim Formae Mentis (Milano: Feltrinelli, 1988), expresso carregada de lembrangas das brigas medievais acerca dos nexos entre razio, emogdo e vontade (Abelardo, Sio Boaventura versus Sao Tomas de Aquino). No Brasil, jé que somos cordiais ¢ caridosos, a tradugdo, com 11 anos de atraso sobre o original, também quis velar as escorregadelas seménticas do autor, mudando 0 titulo para Estruturas da Mente: Uma Teoria das Inteligéncias Miltiplas. (Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1994). Convenhamos, entre molduras, formas plasticas e supostas estruturas vaio Iéguas de diferenga. Mas o que pegou mesmo foi o subtitulo: “Uma Teoria das Inteligéncias Maltiplas”, E fundamental entender que, nessa repercusstio, se cruzam varias questées. Temos, por um lado, aquela velha cécega filoséfica e existencial da espécie humana, que nos leva cada tanto a perguntar: a gente é um s6 ou pode ser mais que uma tnica identidade? Estou obrigado a caber dentro de mim ou sou algo mais do que aquilo que cabe, aqui e agora, na aparente pele do meu eu? (Lembremos, por exemplo, as pluri-identidades do poeta Femando Pessoa e de tantos outros irrequietos). Para a Educagao, porém, o problema é bem mais cotidiano e radi- cal: que ha de certo ¢ que ha de profundamente equivocado no absoluto predominio dos “modos de conhecer” linguistico ¢ légico-matemitico em nossas formas de ensinar? 2. O esquema que se costuma divulgar Na divulgagio da teoria das “inteligéncias miltiplas” de Howard Gardner prevaleceu © seguinte esquema-resumo (ver Internet): Que entender por “inteligéncias multiplas”? Gardner ataca a nogdo de uma inteligén- cia genérica e propée, em seu lugar, sete inteligéncias ou areas de potencial intelectual. Seria possivel distinguir as seguintes sete formas de inteligéncii 1) a verbal-linguistica, relacionada com a verbalizagao escrita ou falada, dominante nos sistemas educacionais do Ocidente (localizagio: Iébulo temporal esquerdo); 2) a musical-ritmica, baseada no reconhecimento de padrées tonais, sons ¢ a sensibi- lidade para ritmos, batidas. ete.(localizacio: hemisféria direita); 3) a légico-matemética, por vezes chamada de “pensamento cientifico! lida com o raciocinio indutivo ¢ dedutivo, nuimeros ¢ reconhecimento de padrdes abstratos (localizagao: bastante difusa mas constituindo um “espago auténomo” de pré-disposiges para um deter- minado entrelagamento neuronal (algo disso ha também em Piaget); 4) a visual-espacial, que se apéia no sentido da visio, secundarizando os demais sen- tidos, com a tendéncia de visualizar tudo sob a forma de “‘objetos” e criar “representagdes” e “imagens” mentais (localizagdo: espacial: sistema éptico-neural e hemisfério esquerdo 5) a corporal-cinestésica, relacionada com 0 movimento fisico ¢ 0 conhecimento (¢ sabedoria) do corpo, incluindo 0 cortex cerebral motérico, suposto centro de controle do movimento corporal (localizagao: cerebelo, “cortex motérico” e hemisfério esquerdo); 6) a interpessoal, que se refere ao relacionamento pessoa-a-pessoa ¢ & comunicagio (localizagao: lébulos frontais); 40 COMUNICAGOFS 7) a intrapessoal, relacionada com os “estados intenos”, a auto-reflexdo, a metacog- igo (pensar sobre 0 pensar) e a consciéncia do “situar-se” no tempo € no espago (localiza- cio: lobulos frontais e hemisfério direito) Do jeito que Howard Gardner formulou a coisa, parecia haver provas de localizagdes neuronais para essas “sete inteligéncias”. Pessoalmente tenho a impresstio de que o autor, para dar forca a seu esquema, caiu na armadilha das teorias fatoriais ¢ localizacionistas, hoje bastante desacreditadas, Em alguns momentos o autor parece tomar disténcia das “localiza- ees”, em outros quase se obsessiona por elas. No fundo, Gardner parece referir-se sobretudo a miiltiplas “formas de conhecer”, € nfo tanto a “miltiplos cus”. O proprio autor Ievou um susto com a repercussdo da sua teoria de “sete inteligéncias” cohabitantes ou alternativas ¢, a0 que tudo indica, optou por entrar na quarentena dum siléncio e de uma certa distncia da sua prépria teoria. Dois anos mais tarde, em 1985, publicou um grosso livro no qual mal se refere & sua teoria (ver GARDNER, Howard. 4 Nova Ciéncia da Mente. Uma Histéria da Revolugio Cognitiva. Sio Paulo: Edusp, 1999 (orig. Basic Books, 1985). Mais tarde ainda, j nos anos 90, Howard Gardner esclareceu melhor o que realmente pretendia dizer com sua teoria das miiltiplas (sete, para ser exatos) inteligéncias. 3. Reservas criticas Antes de transorever um trecho no qual Gardner reaprecia a sua propria teoria, vale a pena sintetizar algumas criticas a Gardner. Tomo como exemplo um autor portugués que se dedicou ao estudo das diferentes teorias sobre a inteligéncia (ver ALMEIDA, Leandro S. Inteligéncia: Definigéo e Medida. Aveiro,Portugal: CIDIME (Centro de Investigagio, Difu- slo ¢ Intervengiio Educacional), 1994), Este autor enfatiza - corretamente, na minha opiniio - que a teoria da “‘inteligéncias miiltiplas” se inscreve dentro da abordagem cognitivista “cen- ‘sada numa ligagdo muito estreita entre zonas ¢ localizagdes encefilicas € 0 processamento informagiio” (p. 39). Mesmo reconhecendo que Gardner também se refere a diversas pesquisas sobre a ssterdependéncia entre faculdades mentais e especializagdes hemisféricas, Almeida é contun- este: “julgamos que a abordagem da inteligéncia que é feita (por Gardner) se enquadra melhor nas ‘teorias de processamento da informagdo” (sendo um dos autores que, a nosso ver, enta fazer uma ponte entre as duas abordagens, isto é, a factorial e das especializagdes bemisféricas e a computacional)” (p. 39). Fica sublinhado, desse modo, que Gardner assume, como ponto de partida, a existén- ia, no sistema neurolégico, de mecanismos de processamento da informagao adequados ao sstamento de tipos especificos de informagio que o individuo encontra em seu meio, mas 0 = ficando bastante preso ao modelo informitico-computacional. Além disso, citando pala- sxzs do proprio Gardner, a inteligéncia se definiria como “um mecanismo neural ou um sis- ‘==2 computacional que esta geneticamente programado para ser ativado ou ‘disparado’ por Zerminados tipos de informag&o que se apresentam interna ou externamente” (Gardner, 1983, p. 64 no original). SENICACOES 41 Em resumo, se distinguirmos as trés principais correntes do cognitivismo - 0 simbo- licismo (metafora: 0 computador), 0 conexionismo (metéfora: a rede), 0 dinamicismo (meté- fora: sistemas dindmicos, complexos e adaptativos) - Gardner esté mais préximo da primeira corrente, sumamente forte nos anos 60 e 70, mas hoje tida como neo-mecanicista e nfo ade- quada para a complexidade do cérebro/mente. A presenga do localizacionismo na teoria de Gardner foi criticada por muitos. Mas o critico Almeida reconhece que a obra de Gardner sempre volta a insistir em “‘certa flexibilidade dentro da confluéncia de elementos associados a organicidade, ou a pré-programacao genética, e de elementos ligados ao treinamento ao exercicio ¢ & aprendizagem, Essa confluéncia explicaria por que desenvolvemos mais uma ¢ ndo outras formas de inteligéncia” (p. 41). As ctiticas mais frequentes a Gardner podem ser resumidas da seguinte maneira: a) Suas consideragdes acerca da fisiologia neuronal, que servem de base e argu- mento para sua teoria, so a parte mais fragil e discutivel. b) Gardner tenta juntar duas perspectivas: o que decorre do substrato fisioldgico - geneticamente? - pré-programado, ¢ 0 que so elementos informativos decorrentes da educa- gio € aculturag&o. Sobre isso Leandro $. Almeida comenta: Uma e outra perspectivas parecem, convenhamos, bastante vagas, como é vaga a idéia que cada uma das inteligéncias apontadas possa emergir de uma estrutura pré-programada de indole genética. Mais uma vez o objetivo esté centrado no ‘reificar’a inteligéncia e ndo na sua explicagéo, em nossa opinido (p. 41). ©) “Aliés, a apologia de zonas cerebrais especificas para a localizagdo de cada uma das inteligéncias parece ser uma tarefa demasiado dificil. (...) Conclutmos, afirmando que a verificagio empirica dessa teoria é, no minimo, tarefa ardua como o é a tentativa de tomar as especializagdes de zonas cerebrais para apoio a essa explicagio” (p. 41). d) A propria idéia de “Molduras da Mente” é neomecanicista, A obsesstio por iden- tificar localizag4o é 0 aspecto mais sintomatico do predominio dessa visio mecanicista, Sua chave explicativa é 0 modelo computacional. O conceito-chave informagdo (algo compa- ravel ao famoso flogisto ou a vis imflammandi dos alquimistas, como observa Francisco Varela). 4. Gardner reapreciando a sua teoria Como ficari claro na propria palavra de Gardner, sua questo de fundo era/é 2 seguinte: a pedagogia deve preocupar-se com diversificar as “confluéncias possiveis” dos modos ¢ formas de conhecer, e ndo impor pedagogicamente um inico modelo de conheci- mento. Em sintese, o forte de Gardner me parece estar na sua preocupagiio com o direito dos alunos de ver valorizada a sua forma pessoal de aprender e é neste sentido que ele faz a pro- posta de uma “pedagogia centrada no compreender”. O que no se compreende, nao se aprende para valer e durar. 2 COMUNICAGOES Passo, agora, a transcrever o trecho esclarecedor entitulado “As sete inteligéncias” do |) lee de Howard GARDNER. The Unschooled Mind: How Children Think and How Schools Stould Teach. New York: Basic Books, 1991. (Utilizo a tradugfo italiana, comprada em Roma ha dois anos, pois nao existe (no conhego) ainda tradug&o ao portugues: Educare al Comprendere: Stereotipi infantili e apprendimento scolastico. Milano: Feltrinelli, 1993, p. 21-23). Até aqui falei dos estudantes como se se tratasse de pessoas que aprendem todos da mesma maneira e que possuem os mesmos tipos de visdes, certas ou erradas, os mesmos conhecimentos e os mesmos erros; de pesssoas capazes dos mesmos rendimentos mecénicos ou, melhor dito, de rendimentos que sao fruto de (real) competéncia no ensino de disciplinas - um modo de ver as coisas que é defensdvel na medida em que efetivamente existem tragos que tornam parecido 0 modo de aprender de todos os estudantes ou ao menos da grande maioria deles. Hi, contudo, um outro aspecto recorrente nas mais recentes pesquisas cognitivas, ou seja, que os estudantes possuem em larga medida tipos de mente diferentes e que, por isso, aprendem, lembram, executam e compreendem as coisas de maneiras diferentes. Uma coisa que esté amplamente documentada é 0 fato de que, enquanto a aproximagao de alguns é aprendizagem é primariamente linguisitca, a de outros privilegia um percurso espacial e quantitativo. Por conseguinte, alguns estudantes se desempenham ,melhor quando se Ihes pede para manipular simbolos (légico-mateméticos) de diversos tipos, enquanto outros con- seguem exprimir melhor a prépria compreenséo das coisas mediante provas praticas ou inte- ragdes com outros individuos. Eu postulei que todos os seres humanos so capazes de ao menos sete modos dife- rentes de conhecer 0 mundo - modos que, em outra parte (remete a seu livro de 1983) deno- minei as sete inteligéncias humanas. Segundo a minha andlise, todos nds estamos em condigées de conhecer 0 mundo mediante a linguagem, a andlise légica-matemitica, a representagdo espacial, 0 pensamento musical, 0 uso do corpo para resolver problemas para fazer coisas, a compreensdo das outras pessoas e a compreensio de nés mesmos. O que Giferencia os individuos entre si é 0 vigor dessas inteligéncias - 0 assim chamado perfil das inteligéncias - e as maneiras em que elas sio chamadas a intervir e combinadas entre si para evar a cabo as diversas tarefas, resolver os diversos problemas e progredir nos diversos campos. Os principios da teoria das inteligéncias miltiplas nao representam um componente mecessdrio na andlise que se realiza neste livro; contudo, um certo reconhecimento (un qualche riconoscimento) do fato de que os seres humanos aprendem, representam e utilizam ex conhecimentos de muitas maneiras diferentes é importante para a minha argumentagao. Exsas diferengas entre os individuos, amplamente documentadas, tornam mais complexo 0 =zame do aprender e do conhecer humano. Para comegar, elas representam um desafio para sedo sistema educativo que estiver baseado no pressuposto de que todos podem aprender ‘=s mesmas coisas da mesma maneira e que o aprendizado dos estudantes pode ser medido por medigées (un metro) uniformes e universais. Com efeito, 0 nosso sistema educativo, zssim como esta geralmente organizado, privilegia nitidamente modalidades de intrugéo e COBEUNICAGOES. 43 de avaliagao de tipo linguistico, e também, ainda que seja em medida mais modesta, as modalidades légico-quantitativas. Eu sustentarei que existe um conjunto de pressupostos contrarios aos que acabo de refe- rir e que prometem ser educativamente mais eficazes. Os estudantes aprendem por formas cuja diferenga é identificdvel; e conseguir apresentar as disciplinas em uma multiplicidade de modos diferentes, e avaliar a aprendizagem com uma variadade de meios igualmente diver- sificados significaria servir melhor toda a vasta e variegada gama de estudantes que frequen- tam as escolas e com isso, talvez, contribuir ao crescimento da sociedade inteira. Uma consequéncia da situagao atual é que, nos sistemas educativos contempordneos, muitos estudantes so considerados injustificadamente como sucessos, assim como muitos outros sdo considerados sem motivo como fracassos. Aqueles alunos que demonstram inte- ligéncia canénica (ou, como costumo dizer, “escolar” (no italiano: “escolastica”) se thes reconhecem boas capacidades, mesmo quando sua real compreensdo das coisas é limitada ou inexistente. Muitas pessoas - incluidos, por vezes, o autor deste livro e sua filha - chegam, sim, a passar no teste, mas ndo chegam a superar certas medidas da compreensao tidas como as mais apropriadas e comprobatérias. Outras pessoas, com menos sorte, embora déem provas significativas de inteligéncia, aparecem como escassamente dotadas simples- mente porque néo esto em condigées de vender bem os préprios conhecimentos na moeda corrente da escola, Existem, por exemplo, muitas pessoas que ndo tém familiaridade (domes- ticabilidade) em relagéo ds provas formais, mesmo que, quando aparecem problemas em contextos naturais, elas saibam dar provas convincentes de inteligéncia. Um dos objetivos deste livro é precisamente sugerir intervengées e avaliagées escolares capazes de atender melhor a essas pessoas” (os destaques grifados sio meus). 5. Nota final sobre a influéncia de Gardner Como ficou registrado acima, o pensamento de Howard Gardner nfo estagnou no que propusera em seu livro de 1983 sobre a “teoria das inteligéncias miltiplas”. Essse livro corre- sponde a uma época na qual muita gente estava 4 busca de “modelos explicativos” novos ¢ mais complexos para romper com as visdes mecanicistas ¢ entender melhor a inteligéncia humana como um conunto de processos altamente dindmicos. Distanciar-se dos esquematismos estrcitos subjacentes aos famosos “testes de QI” era um imperativo de honestidade intelectual minima. Creio que foi nessa diregdo que o autor pretendeu langar uma provocagio que pudesse contar com certo impacto pela propria maneira como era apresentada, Quis ser uma bandeira anti-simplismo. Mesmo assim produziu adesdes simplistas. O autor se deu conta disso e néio gostou que sua proposta instigadora fosse utilizada como caixinha de respostas ficeis. O “caso Gardner” revela que as diferengas epistemolégicas entre as diversas teorias cognitivis- tas - 0 simbolicismo computacional, 0 conexionismo eo dinamicismo - sfo to significativas que nao podem ser escamoteadas mediante uma simples metéfora mais ou menos bombistica. O que veio & luz nas supostas distorgdes da sua “teoria” foi simplesmente o fato de que pré- prio Gardner ainda nao havia dado o passo epistemolégico em favor de uma visto do cérebro/ mente como sistema dindmico, complexo ¢ adaptativo. Inscreveu uma provocagio dinami- cista num marco epistemoldgico preso ao neomecanicismo. ~ COMUNICAGOES

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