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Brissos Lino

Gilberto Celeti
Giovanni C. A. de Araújo
Israel Belo de Azevedo
J. T. Parreira
Josué Ebenézer
Luiz Flor dos Santos
Noélio Duarte
Sammis Reachers
Wolodymir Boruszewski (Wolô)
Org. Sammis Reachers

1
ÁGUAS VIVAS
Antologia de Poesia
Evangélica
Brissos Lino
Gilberto Celeti
Giovanni C. A. de Araújo
Israel Belo de Azevedo
J. T. Parreira
Josué Ebenézer
Luiz Flor dos Santos
Noélio Duarte
Sammis Reachers
Wolodymir Boruszewski (Wolô)
Org. Sammis Reachers

2
“Naquele dia também acontecerá
que sairão de Jerusalém águas
vivas, metade delas para o mar
oriental, e metade delas para o
mar ocidental; no verão e no
inverno sucederá isto.”
Zacarias 14.8

“Quem crê em mim, como diz a


Escritura, rios de água viva
correrão do seu ventre.”
João 7.38

3
ÍNDICE
UMA PALAVRA AO LEITOR ______ 9

Brissos Lino ____________________ 11


Salmo 23 ................................................................................... 12

A FORÇA DAS PALAVRAS ........................................................... 13

NOÉ SABIA DE DEUS ................................................................. 15

EL – pequenino ......................................................................... 18

NATUREZA MORTA ................................................................... 19

IGREJA VIVA COM UM REPARO ................................................. 20

OLHOS TRISTES ......................................................................... 23

O CÉU DE AUSCHWITZ ............................................................... 24

Gilberto Celeti ____________________ 26


EM NOVIDADE DE VIDA ............................................................. 27

FAZER O OUTRO FELIZ ............................................................... 29

CICATRIZES OU MEDALHAS? ...................................................... 30

DE JOELHOS EM SECRETO .......................................................... 31

FÉ CORRETA .............................................................................. 34

UMA ORAÇÃO ........................................................................... 35


4
AÇÃO OU ORAÇÃO .................................................................... 36

Giovanni C. A. de Araújo __________ 37


Sim, virá! .................................................................................. 38

Quem é este? ........................................................................... 39

Há de vir ................................................................................... 40

Concreto na flor ........................................................................ 41

Nesta mesa nos encontramos ................................................... 42

Elementos ................................................................................ 43

Perdoados ................................................................................ 44

Israel Belo de Azevedo___________ 45


A riqueza que eu quero ............................................................ 46

O Único .................................................................................... 47

Confissão de Natal ................................................................... 49

Coragem do Casamento ........................................................... 50

Isaías 53 ou a história da paixão ............................................... 51

Lamentos ................................................................................ 54

O jejum de Deus ...................................................................... 58

J. T. Parreira ___________________ 59
PASSAGEM .............................................................................. 60

ARTE MUSICAL ......................................................................... 62


5
Explicação do Salmo I ............................................................... 63

O beijo de Caravaggio ............................................................... 64

Anunciação .............................................................................. 65

O não ter Senhor começado uma rua ........................................ 66

A Segunda Vinda ...................................................................... 67

A Segunda Vinda (II) ................................................................ 68

A Lição de Música .................................................................... 69

O Bom Samaritano ................................................................... 70

Josué Ebenézer _________________ 71


As Janelas dos Céus Que Abrem ............................................... 72

Sentimento Cristão .................................................................. 82

Amor ....................................................................................... 85

SALMO 23 ................................................................................ 89

TRÍPTICO DA VIDA ................................................................... 90

ORAÇÃO DA FAMÍLIA .............................................................. 93

ONDE A GLÓRIA DO POETA? .................................................... 96

Luiz Flor dos Santos _____________ 97


José ........................................................................................ 98

A LUTA DE UM HOMEM COM UMA ALMA (TÉDIO) ................. 101

Crítica ................................................................................... 103

6
A MORTE ROUBA OS PLANOS ................................................ 105

O CINZA DESSES DIAS CINZAS ................................................ 106

O BEIJO ................................................................................. 108

HISTÓRIA DE UMA AMIZADE ................................................. 110

Noélio Duarte _________________ 111


PESSOAS ............................................................................... 112

DISPONIBILIDADE ................................................................. 115

DESCULPAS .......................................................................... 118

NECESSIDADE ....................................................................... 122

PERDI O TOM... ................................................................... 126

MADURO ............................................................................. 130

DECLARAÇÃO ....................................................................... 133

Sammis Reachers ______________ 137


Portas do engodo .................................................................. 138
Cantiga de ninar .................................................................... 139
A Blindagem Azul I ................................................................. 140
Diretrizes ............................................................................... 141
Paz Verde .............................................................................. 143
APOSTASIA ADVINDA ............................................................ 144

Há uns 5 anos, numa igrejinha em Itaboraí ............................ 147

7
Wolodymir Boruszewski (Wolô) __ 150
O tempo e o TEMPO ............................................................. 151
Guerra e paz ......................................................................... 152
Adeus heroínas: - Há Deus! ................................................... 153
Algo mais .............................................................................. 156
Restaurando o contrito ......................................................... 157
SONHO DE UM SONHO ......................................................... 158
Obra-prima? Eu? ................................................................... 160

Links para o Download de outros e-books ____ 162

8
UMA PALAVRA AO LEITOR

Águas Vivas, mais que uma simples antologia poética, nasce como um
oportuno projeto, que visa a aproximar ainda mais leitores e poetas
evangélicos contemporâneos. Por um lado divulgando a poesia evangélica
e incentivando a produção de bons autores, e por outro, apresentando ao
leitor um breve, mas significativo panorama da obra destes bravos bardos
que têm na fé evangélica e no manejo das palavras o traço de sua união. E
projeto ainda porque meu objetivo, se o Senhor assim o permitir, é
organizar de tempos em tempos novos volumes desta antologia,
contemplando a obra de muitos outros autores.

Os poetas aqui antologiados foram de certa forma congregados a partir do


blog Poesia Evangélica, aonde desde 2006 temos nos empenhando no
resgate e divulgação da poesia evangélica, seja ela antiga ou atual, dando
voz a, até aqui, mais de 80 autores.

São dez os poetas aqui presentes, de diferentes gerações e variados


fazeres poéticos, mas unificados por uma só inspiração: a presenteada
pelo Poeta Maior, cuja poesia está espalhada por todo o Universo.

Poetas imersos em seu tempo, que usam a internet e suas variadas


ferramentas para divulgar sua produção, já que a Poesia segue (ainda ou
sempre?) sendo objeto de certo desprezo por parte das editoras, sob a
eterna alegação de que ‘poesia não vende’. Bem, se poesia não vende, má
vontade não ajuda. E que não venda: Isso nunca a impediu de existir e
cumprir seu papel. Que seja ofertada de graça como este livro eletrônico,
que esteja livre destes grilhões do lucro, que a tanto e a tantos
circunscrevem, ou mesmo aprisionam. Liberdade assim para a poesia, que
existe para vivificar, e para louvor de Deus.

9
Que ela vivifique os homens, que os embale, console, constranja: que nos
faça refletir com beleza e profundidade nas coisas da vida e nas coisas lá
do alto; que dê consistência verbal à substância prima de seus (dos
poetas) corações, isso e para isso é a Poesia.

E ela se realiza, nos versos destes poetas.

Convido você, caro leitor, a ser vivificado, embalado, consolado e


constrangido pela Verdade que liberta, expressa com perfeição na Bíblia
Sagrada, e que ecoa poderosamente nas estrofes destes versos.

Tenha uma boa leitura, e sinta-se livre para compartilhar este livro
eletrônico com seus amigos, irmãos e contatos, mas lembre-se: a obra não
pode ser comercializada de nenhuma maneira, estando liberada sob uma
licença Creative Commons.

Sammis Reachers, organizador

10
Brissos Lino
Dr. Brissos Lino, português, é Docente universitário,
Mestre em Psicologia e Psicoterapeuta formador. Autor
de diversos livros, como Salmo Presente, Procurar Deus,
além de participar em diversas antologias. Um dos
signatários do Manifesto pela Nova Poesia Evangélica,
juntamente com os poetas Joanyr de Oliveira e J. T.
Parreira.
Mantém os blogs A Ovelha Perdida -
http://ovelhaperdida.wordpress.com
e Brissos Lino - http://brissoslino.wordpress.com

11
Salmo 23
“O Senhor é o meu pastor”.

Escuto. Mas o uivar dos lobos não me


assusta.
Nem o rumor do vento
porque o meu olhar se me alonga
para os pastos verdejantes
e as águas tranqüilas.

O bardo onde vivo refrigera-me


(já nem sei o que sejam veredas errantes).
A lã de que sou vestido é branca,
e só de alegria o peito me salta
porque a mesa em que me sento é farta
e os meus inimigos se espantam comigo.

12
A FORÇA DAS PALAVRAS
“Guardo no coração
as tuas palavras”.
Salmo 119:11

As Tuas palavras
são olhos
rasgados
navios
ancorados
em mim

as Tuas palavras
são punhos
fechados
martelo
a teimar na pedra
rebelde

são feitas de espanto


bordadas
de encanto

palavras que não hesitam


nascer

látego ou afago
lágrima rolante
enfado

palavras que ardem na carne


e ficam mel
no caminho

que choram
e aproximam

13
palavras que aguardam
uma bússola convicta.

As Tuas palavras
perfazem a esperança
ressuscitando a memória

as Tuas palavras
Senhor
constroem a História.

14
NOÉ SABIA DE DEUS
ou: o Dilúvio, para crianças

Noé
varão justo e recto
rejeitou o conselho dos ímpios
não parou no caminho dos pecadores
nem se assentou na roda dos escarnecedores
antes obtendo prazer no Senhor

Noé andava com Deus


Noé achou graça aos olhos de Deus
Noé sabia de Deus

um dia lindo e quente


o Divino
cansado de sofrer a desobediência dos homens
avisou Noé de que abriria as janelas dos céus
e chuvas torrenciais cobririam a Terra
- salário do pecado daquela geração -
e o varão justo e recto creu completamente

Noé andava com Deus


Noé achou graça aos olhos de Deus
Noé sabia de Deus

nos dias seguintes


lindos e quentes
Noé e seus filhos obedeciam
construindo a arca da salvação
uma embarcação fechada
segundo as medidas
o modelo e os materiais
que o Divino havia feito

15
gargalharam e troçaram de escárnio os vizinhos e conhecidos
da família
as vozes confundiam-se com o ruído dos martelos
e batiam
duras
na cabeça de Noé
com força

o céu estava seco


o tempo era quente
o mar era longe
mas o homem justo e recto
não parou

Noé andava com Deus


Noé achou graça aos olhos de Deus
Noé sabia de Deus

depois de acabada a arca da salvação


betumada e calafetada
equipada e abastecida
o homem justo e recto reuniu um casal de cada espécie
de animais
leões, tigres e girafas
elefantes, ratos e corvos
pombas, aranhas, camelos
pardais, macacos, galinhas
burros e outros mais

e depois entrou
o homem justo e recto
com a família
e fechou a porta

Noé andava com Deus


Noé achou graça aos olhos de Deus
Noé sabia de Deus
16
sete dias zombeteiros suportou
o homem justo e recto
e depois vieram as águas em catadupas loucas
cobrindo a face da terra
num lençol silencioso e líquido
de morte e destruição
de toda a carne

porém
os viajantes do Senhor
escaparam na arca da salvação

Noé andava com Deus


Noé achou graça aos olhos de Deus
Noé sabia de Deus

e eu?…

17
EL - pequenino
Gerado no útero morno da Promessa
venha a nós um Menino
recém-descido da glória

Na barca bela dos cânticos


por entre a neblina do sonho
vigiam anjos
e o clarão celeste da vitória
se faz pequenino

Logos divino, incriado


- ah! Jesus ressuscitado! -
que plantas um madeiro em cada colina
deixando cair vinte mágoas
ao câmbio diário da rejeição
junto aos pés imundos
dos sacerdotes da noite
no chão pétreo do templo
sem ruído

Pilatos acaricia o crepúsculo


lavando as águas

e ainda outra vez


o clarão celeste da vitória
se faz pequenino

EL - SHADDAI!

18
NATUREZA MORTA

“Prata e ouro são os ídolos deles,


obra das mãos de homens.
Tornem-se semelhantes a eles
os que os fazem,
e quantos neles confiam”.
do Salmo 115

Um pássaro a entornar manhãs


já podres
na boca ansiosa e muda
dos adoradores

uma lágrima a ansiar o fim


corda ou veneno
na garganta desesperada e muda
dos adoradores

uma estátua a amarrar os olhos


dos cegos.

19
IGREJA VIVA COM UM REPARO
“Tenho, porém, contra ti,
que abandonaste o teu primeiro amor”.
Apocalipse 2:4

Suponho em ti
corpo ataviado
essa renúncia absoluta
perfeita

a espera paciente do Amado

desvendo assim
a palavra Amor
que te enforma as mãos
que te aviva a boca
que te anima os pés
castigados da jornada

e por ela
o espanto da tua imagem
fustiga o mundo
e a janela

estes adornos bastantes

este rosto altissonante


que conhece toda a terra

este arado declarado


rasgando a palmos o chão
de Oriente a Ocidente

este viver o presente


a cavalgar o passado
com a alma com os braços

20
e a fé
amealhando o porvir

importa uma luz acesa na noite


despida e alta

e azeite que baste

noiva milenar
noiva boreal
guardando nas malas
um enxoval de manhãs

tricotando a custo
o prestígio do céu

quem procura confundir


os claros limites da formosa silhueta
com a penumbra do entardecer?

Casca de noz navegante


mastro feito de fé e beleza
velas brancas
de esperança remendadas

a alegria é uma mesa


arredondada
onde se come o pão da incerteza

no limiar cinzento das águas


neste anseio p’las nuvens
o mar corrupto e revolto
o mar adulto blasfema

oceano de medos e solidão


em que um barquinho dormita
à sombra de Deus

21
a alegria é uma cama
onde se acolhem os sonhos mais maduros

e contudo saltas os muros


para ir ver o pôr-do-sol

contra ti apenas
um reparo do Senhor

oh Éfeso
eleita e amada
que fizeste tu do primeiro amor?

22
OLHOS TRISTES
“Melhor é a mágoa do que o riso,
porque com a tristeza do rosto
se faz melhor o coração”.
Provérbios 7:3

os meus olhos tristes são vasos


quebrados contra o vento
debaixo da sombra diurna
do meu corpo
indiferentemente aceso

vêde-os
os cravos do meu rosto
num pedido indefeso.

23
O CÉU DE AUSCHWITZ
Os gritos, o medo
a força da vida
nos barracões de Auschwitz

metralhadoras miram
corpos nús

homens e mulheres
velhos
crianças
quatro milhões de inocentes
no espanto da igualdade

russos, judeus e polacos


franceses e outros
metralha e “Zyclon B”

a besta nazi rumina

vinte mil mortes por dia


nas câmaras de Auschwitz

toneladas de cabelo
milhares de óculos
roupas
dentes postiços
brinquedos e chupetas

o stock ignominioso
da besta

satanás desmascarado
no carnaval carioca
da morte

…………………………………..

24
o céu é cinzento e húmido
hoje
em Auschwitz.

25
Gilberto Celeti
Gilberto Celeti nasceu em 18/3/1949 em São Paulo-SP. É
Bacharel em Teologia, e serve como missionário na APEC
(Aliança Pró Evangelização de Crianças -
http://www.apec.com.br/), desde 1973. Em 1999, foi
nomeado Superintendente Nacional da APEC, e coordena
o trabalho da APEC em todo o Brasil. Casou-se em
29/12/1979, com Eneida Rangel Celeti. O casal tem três
filhos, todos nascidos em São Paulo-SP: Débora, Queila e
Filipe. A Débora casou-se com Ricardo em 2005 mas
Gilberto e Eneida ainda não são avós.
Mantém o blog Gilberto Celeti -
http://www.gilbertoceleti.com/

26
EM NOVIDADE DE VIDA

Quando sou contrariado


Ou então sou contestado;
Quando eu não sou aceito
Ou tratado com despeito;
Quando eu sou preterido
Ou até mesmo ofendido;
Quando não há elogio
Ou acabam com meu brio.

Eu preciso estar atento


Pra não ter o sentimento
Que revela o pecado
Lá no íntimo guardado.
A amargura lanço fora,
E a ira que aflora;
A indignação elimino
E os gritos que abomino.

Abandono o insulto;
A maldade eu sepulto.
Quero usar palavra boa
Que edifica e que abençoa.
Por Jesus fui libertado,
Pelo Espírito marcado,
Sou de Deus a propriedade,
Agirei só com bondade.

Dando a todos, atenção;

27
Liberando o perdão;
Sempre usar de gentileza,
Nunca, nunca de aspereza.
Deus criou-me à sua imagem
Usarei, pois, de coragem,
Pra ficar no seu padrão
Com Jesus no coração!

28
FAZER O OUTRO FELIZ

Vou um dia prestar contas


Do que fiz, do que não fiz;
Negligenciar ajuda,
Quando alguém diz: me acuda!
Para um crente não condiz.

O serviço mais humilde


Que é prestado a um infeliz,
Há de ser recompensado,
Quando for analisado,
Pelo sábio e bom juiz.

E o critério está bem claro,


Jesus mesmo é quem o diz:
Eu, Jesus, sou atendido,
Se ajudado ou preterido.
Esta é a sua diretriz.

Vou fazer meu semelhante


Entender que o bem lhe quis.
Não serei jamais omisso
Com amor farei o serviço
Quero vê-lo bem feliz.

29
CICATRIZES OU MEDALHAS?

O que Deus quer ver num filho não é medalha,


Pois toda a glória humana sempre atrapalha;
Pra que buscar e exibir tanto diploma,
Se a vida nunca muda e nunca se transforma?

De que vale ter um título importante,


Se fizer de quem o possui um arrogante?
De que vale ser no mundo tão famoso,
E viver na impiedade e rancoroso?

Quando enfim chegar a hora da partida,


O que vale é o bom combate nesta vida,
É mostrar que há em nós certas feridas.

O amor de Cristo deu-nos cicatrizes?


Fomos sempre fiéis às suas diretrizes?
Isto só é o que fará de nós felizes!

30
DE JOELHOS EM SECRETO

De joelhos em secreto

Sei que o Pai está bem perto,

Com Seus olhos bem abertos.

Ele dá o suprimento,

Pra viver cada momento,

Firme num só pensamento:

Que é preciso vigilância,

Pra enfrentar com tolerância,

Toda e qualquer circunstância.

Oração é contemplá-lo,

Sempre em tudo respeitá-lo,

E, de coração, amá-lo.

Somos fracos, pecadores,

Enfrentando ofensores,

Rodeados de temores.

31
Cada dia há perigo.

Oração nos dá abrigo,

Das ciladas do inimigo.

Oração perseverante,

Cada dia, cada instante,

É deveras importante

Para ter serenidade,

Demonstrando só bondade,

E viver pela verdade.

Pai Celeste exaltado

Com nome santificado

O teu reino é esperado.

Seja feita a Tua vontade

Nesta terra de orfandade

E no céu e na eternidade.

32
E o pão de cada dia

Nos dá hoje, obsequia,

E perdoa a quantia

Elevada que devemos

Por ofensas que fizemos,

Assim também como temos

Perdoado devedores

Que foram, sim, ofensores,

E que nos causaram dores.

E não nos deixes, pois, cair

Na tentação, que a rugir

Nos leva sempre a transgredir.

Livrar-nos vem de todo mal.

O teu poder é sem igual.

A Tua glória é eternal!

33
FÉ CORRETA

É preciso entender bem a diferença

Entre a fé que é de fato consistente,

E que na Palavra bem se alicerça,

Doutra fé que tem na fé a sua crença,

E que de maneira vã e prepotente

Dando ordens para Deus é que começa.

Saiba que toda atitude orgulhosa,

Que a fé na fé ensina e incita,

Só ofende a Deus e ignorância expressa.

As promessas do Senhor são preciosas,

Ele atende à oração que as solicita

Do Seu modo, no Seu tempo e bem depressa.

A mulher que com o juiz foi insistente

Na parábola por Cristo transmitida

Deixa claro a lição da fé correta,

De ser sim, na oração, bem persistente,

Pois que Deus justo juiz, Autor da vida,

Bênçãos amorosas sempre aos Seus decreta.


34
UMA ORAÇÃO

Sei que posso vir a ti em oração


E pedir-te qualquer coisa de tua mão;
E que tudo quanto ao Pai tiver pedido,
Em teu nome, sei que serei atendido.

Glorioso é o teu nome, ó Jesus!


E perfeito o teu trabalho sobre a cruz,
Que permite a Deus o Pai completo acesso,
E o prazer de estar aí, neste recesso.

Quero então fazer a ti o meu pedido,


Que eu seja com o Senhor mais parecido,
Que eu saiba discernir a Tua vontade,

E andar sempre segundo a Tua verdade,


Seja o tom da minha oração: a adoração,
E o louvor, e a intercessão, e a gratidão!

35
AÇÃO OU ORAÇÃO

Há momentos que exigem a ação,


E não é mais tão saudável a oração.
Quando a ordem já foi dada: avançar!
Não é hora para orar, e sim marchar.

Se o mar na frente há de ser rompido,


E caminho novo há pra ser seguido;
Se a muralha alta será derrubada,
Pra que eu possa prosseguir na caminhada;

É preciso agir com fé e obediência,


Só orar disfarça só a negligência.
Quando Cristo ordena: agora estenda a mão,

Ele a cura em resposta a esta ação.


E a pesca abundante só acontece
Quando a rede é lançada, não com prece.

36
Giovanni C. A. de Araújo
Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo nasceu em Belo
Horizonte, MG, viveu um tempo em Vandoevre-les-
Nancy, na França, em Manaus, AM, e, atualmente, vive
em*São*Paulo,*SP.
Conheceu o seu grande amor, Tatiana, em Ibiúna, SP, e
com ela se casou em Sorocaba, SP, em 2005. Para ela
publicou seu primeiro livro de poesia, Poemas para ela.
É formado em Teologia pelo Seminário Teológico de São
Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
É pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
desde*2006.
Escreve sermões, meditações, crônicas, músicas e
poemas, além de manter no ar, desde 2002, o blog Café
com Alecrim (http://cafecomalecrim.blogspot.com), onde
escreve tudo isso e de tudo um pouco.

37
Sim, virá!

Sim, virá!

Pregar as boas novas,

curar, libertar.

Sim, virá!

Resplandecente luz,

alimento e fé.

Sim, ele virá!

38
Quem é este?

Quem é este, no peito materno

acomodado em meio ao feno,

A mamar suave e terno?

Quem é este, na manjedoura acomodado,

dorme manso e suave,

sempre pelos pais observado?

Quem é este, nos braços de um rude pastor,

Não rejeita os humildes nem estranhos,

tão pequeno e sereno, tão cercado de amor?

Quem é este?

39
Há de vir

Há de vir.

Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte.

Há de vir.

Pai da eternidade, Príncipe da Paz, Rei dos reis.

Esperar é alimentar dia-a-dia

a fé, a esperança e o amor.

40
Concreto na flor

Concreto, asfalto, carros, pessoas.


Todos assustados andam,
violência por violência.

No meio da turbulência,
da efervescência da cidade,
rasgando o concreto e o asfalto,
a natureza insiste em brotar
apenas uma flor.
Tudo para me fazer lembrar:
não há barreiras para o Criador.

41
Nesta mesa nos encontramos

Nesta mesa nos encontramos

com pessoas de todo lugar.

Não há raça, sexo ou idéias

que nos possam separar.

Nesta mesa nos encontramos

com Jesus Cristo, o Salvador.

Vinde comei! Vinde bebei!

Esta é a mesa do Senhor.

42
Elementos

Trigo, farinha, fermento.

Suor de um povo

renovado pelo pão.

Pão da vida.

Uva, fermento,

cansaço de um povo

renovado pela esperança.

Vinho da vida.

43
Perdoados

Apesar de tantos erros e tropeços.

Apesar de tanta amargura e ressentimento.

Apesar de tudo de ruim que vivemos até agora.

Apesar de tudo isto, podemos nos alegrar.

Somos direcionados, sim, pela vontade de Deus.

Somos renovados, sim, pelo Espírito Santo.

Somos perdoados, sim, pelo sangue de Jesus Cristo.

Alegria! Tudo se faz novo em nossa vida!

44
Israel Belo de Azevedo
Bacharel em Jornalismo, mestre em Teologia, doutor em
Filosofia, autor de diversos livros, como O Prazer da
Produção Científica e Olhar de Incerteza. Pastor da Igreja
Batista de Itacuruçá, no Rio de Janeiro e ex-diretor do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
Mantém o site Prazer da Palavra -
http://www.prazerdapalavra.com.br
E o blog Prazer de Ler - http://israelbelo.blogspot.com/

45
A riqueza que eu quero
(2Coríntios 6.3-10)

Não seja por mim que o escândalo venha,


mesmo que a circunstância toda a força tenha
para açoitar com vigor a minha perseverança
que tornei o meu fruto do Espírito predileto.

Não importa o que digam a meu respeito,


farei da honra diante de Deus a minha senha,
pois dEle quero estar sempre bem perto.
É assim que eu oro com toda a confiança:

mesmo que triste, em mim se veja alegria,


mesmo que pobre, a muitos eu enriqueça,
como se eu tudo tivesse de noite e de dia,

por causa do Espírito, que comigo porfia


para que, no meu corpo, pureza e bondade
estejam como um farol para a humanidade.

46
O ÚNICO

"Tu és digno de receber a gloria, a honra e o poder, porque


todas as coisas por tua vontade vieram a existir e foram
criadas" (Apocalipse 4.11)

Os outros eram como todos somos


e se tornaram o que não somos.
O Único era diferente de nós
e se tornou o que somos.
Quando nasceu, na linha máxima da pobreza,
foi celebrado por vozes aos ouvidos estranhas
e saudado por gente que se despreza
e recebido por uma mãe toda surpresa
e perfumado por reis de história rasa.

Os outros deixaram frases de revolução


que trouxeram esperança de guerra ou paz.
O Único viveu palavras de plena verdade,
poesia vivida e roteiro claro para a eternidade.
Quando falou, a muitos pareceu em vão,
porque seus ouvintes preferiam sinais
que o tempo com o tempo desfaz.

Os outros buscaram corajosamente a santidade


e acertaram e erraram no trajeto.
O Único não trilhou um sequer desvio,
não porque já soubesse o caminho,
mas porque era o próprio Itinerário.
Quando viveu, não teve um travesseiro
47
mas serviu de ombro ao companheiro
que com um beijo renunciaria ao projeto.

Os outros chegaram ao fim como pó,


que é o destino de todo humano.
O Único ia tendo o mesmo destino,
mas dias depois de ter na cruz pendido
ainda partilhou um peixe com os amigos
antes de regressar para Onde veio.
Quando morreu, como parte do seu mistério
a história se rasgou bem no meio
como um relâmpago que o céu divide
como se uma saída para o retorno abrisse.

Os outros deixaram de viver conosco,


mas o Único me escolta todo dia
no percurso do deserto ao oásis desejado,
digno, pelo que fará e agora faz,
de escutar de mim a melodia
da honra e do louvor e da glória, que me traz
à memória o que sou: amado.

48
Confissão de natal

Amo o Deus que em Jesus se prostra,


inclinando-se para escutar quem não crê,
para encontrar aquele que ainda não tem fé,
por amar completamente -- eis a sua proposta.

Amo o Deus que em Jesus se mostra


como aquilo que amorosamente, plenamente é:
até para quem não queira se deixar por Ele escolher,
para o vazio do seu coração, Ele é a única e completa resposta

Amo o Deus de braços pregados na cruz


e cujas solenes palavras finais são longos gemidos
de gracioso perdão para os que do seu sangue fizeram pus.

Amo o Deus de corpo cortado ao ritmo dos cravos batidos


e cujo silêncio no túmulo não teve companheiros conhecidos
até que a história, no terceiro dia, conhecesse a plenitude da sua
luz.

49
Coragem do casamento

Das decisões, casar é delas a maior.


Compartilhar todas noites a mesma cama
na promessa de trocas tecidas de amor
é coragem para quem profundamente ama.

Das decisões, ficar casado é a melhor,


porque é querer para o outro toda a estima,
ver defeitos, mas as virtudes no alto pôr.
É baixar a voz quando tenso está o clima.

O amor é de Deus, como o mais belo poema,


dele e nosso, que juntos criamos com paixão
se o cultivo das diferenças for um lema...

que aqueça a todo instante o nosso coração.


O casamento, ainda que a razão trema,
é plano de Deus para a nossa salvação.

50
Isaías 53 ou a história da paixão

Esta é a história de Jesus, mas quem nela acredita?


Nele sorriu toda a graça de Deus, mas quem a solicita?
Esta é a mensagem que Seu amor a anunciar nos suscita.

Não estávamos lá naqueles dias de histórias vivas,


mas ouvimos os testemunhos fiéis que nos chegaram como
dádivas.

Ele não se destacava como um cedro


que, alto e forte, parece alcançar a celeste morada,
porque não passava de um galho vedro
correndo de uma raiz pelo sol queimada.

Não tinha gesto de rei, com beleza e bondade,


crescido em família comum ao lado da carpintaria
de quem, de tão simples, ninguém se orgulhar podia,
exceto a mãe para quem todo filho é pleno de majestade.

Estivéssemos, veríamos seu corpo se retorcendo de aflição,


a face, outrora doce, pelo sofrimento desfigurada.
Estivéssemos, nós o deixaríamos na desolação,
esconderíamos nossos rostos, negando-lhe nossa amizade.
Riscaríamos seu nome de nossas lista de convidados,
para não freqüentar nossas casas, participar de nossos
folguedos,
para ficar longe de nossas alegrias e distante de nossos segredos,
a fim de não sermos entre os seus seguidores contados.

Saberíamos que naquela cruz real de muita dor,


Deus o alcançava, fustigava, traspassava, castigava e esmagava
por causa do meu pecado que Ele tomou como se fosse seu,
por causa das minhas maldades que se tornaram suas,
para que o meu castigo deixasse de ser meu.
Agora plenamente eu enxergo como cristalinas águas,
Tanta oferta só tem um nome: amor.
51
Ah como alegro de ter sido perdoado.
Pena que tanto lhe tenha custado!

Minha história está no Calvário.


Como o cego que curou
com um feixe de luz,
como o paralítico que levantou
sem olhar para seu triste status,
como a prostituta que perdoou
como se fizesse jus,
como a mulher que curou
estancando-lhe o pus,
como o possuído que libertou
tirando-lhe o medo do simbólico capuz

eu me desviei, achando que minha escuridão brilhava,


certo que o meu caminho para o alvo certo me levava.

Até que eu vi, com os olhos que a graça operou,


o Pai desferindo sobre Ele a seta da minha iniqüidade,
oprimindo-o, para que eu encontrasse a liberdade,
afligindo-o, para que eu recebesse seu amor.

até que eu vi que Ele não quebrou o silêncio,


quando o Pai permitiu a farsa do seu julgamento,
quando o Pai o afligiu, para que eu vivesse,
quando o Pai o tosquiou, para o meu livramento.

Nele não havia violência nem mentira.


Para a todos trazer toda paz e verdade,
Ele derramou sua vida completamente,
morrendo a morte que era nossa propriedade.
Ele mesmo se entregou como presente
para que conhecêssemos o brilho da graça
que nos antecipa agora a glória da eternidade.

52
Então, a noite se fez como um tapete sobre a terra,
guardada por uma pedra na boca do seu corpo
morto de verdade e dado como morto.
Mas: a noite, aos olhos da esperança, era luz,
que da morte real a vida plena produz.
A pedra a palavra silenciosa do Pai ouviu
e o corpo do Filho da tumba selada saiu.

Durante a vida de Jesus,


a luz como noite soou;
agora, na morte sua noite brilhou
como a mais clara luz.

Então, como o cego que curou


com um feixe de luz,
como o paralítico que levantou
sem olhar para seu triste status,
como a prostituta que perdoou
como se fizesse jus,
como a mulher que curou
estancando-lhe o pus,
como o possuído que libertou
tirando-lhe o medo do simbólico capuz,

fui curado pelas feridas que minha culpa no seu corpo gravou.

Gritemos, com todas as forças, então:


Seu sofrimento não foi em vão.
Podemos ver a luz, que para sempre nos basta;
estamos livres do castigo que não mais nos vergasta;
podemos conhecer a justiça, que nos santifica
podemos experimentar a graça, que nos purifica.

53
Lamentos

"Como está deserta a cidade,


antes tão cheia de gente!"
(Lamentações 1.1)

Quero de volta a minha cidade um dia sorridente,


cheia de gente em toda praça e em toda esquina,
borbulhando de crianças correndo para baixo e para cima
coalhada de colegiais encostados nos muros em frente.
Não quero esta cidade pelo tráfico controlada.
Não quero esta cidade pela corrupção construída.
Não quero esta cidade pelo desespero possuída.
Não quero esta cidade pelo medo comprada.

"É por isso que eu choro".


(Lamentações 1.16)

Choro quando vejo que em nossa cidade


nos foi roubada, com a violência, a liberdade.
Choro quando vejo uma pessoa desconhecida
perder, por causa de um celular ou carro, a sua vida.
Choro porque, sendo tanta a maldade,
ela nos vai acompanhar pela eternidade.
Choro porque, além de chorar, chorar, chorar
é como se pudéssemos apenas chorar, chorar, chorar.

"Levante-se, grite no meio da noite,


quando começam as vigílias noturnas;

54
derrame o seu coração como água na presença do Senhor.
Levante para ele as mãos em favor da vida de seus filhos."
(Lamentações 2.19)

Não, Senhor, não são noturnas as vigílias,


não há manhãs, nem tardes tranqüilas:
Tenho que tecer o tempo em total tensão.
É por isto que derramo em Ti o meu coração,
por mim e também por nossos filhos e filhas,
que querem trabalhar mas só encontram estágios
que querem brincar sem ter ao lado maus presságios
A Ti levanto a minha mão, confiante na tua promessa
cuja realização, sei com fé, nada há que impeça.

"O Senhor é bom para com aqueles


cuja esperança está nele".
(Lamentações 3.25)

Meu amigo que, parece, está morrendo


me diz, convicto, que o Senhor é bom.
O poeta que, parece, está sofrendo
me diz seguro que o Senhor é bom.
Que direi, eu que não estou padecendo,
se não que o Senhor é bom?
Que lhe pedirei, já que é bom,'
se não que me ensine a nele ter
a esperança que preciso para viver?

55
5

"Não é da boca do Altíssimo que vêm


tanto as desgraças como as bênçãos?"
(Lamentações 3.38)

Se vêm de ti, Senhor, as desgraças,


do modo como descem as graças,
não devo lutar para que haja paz
não devo lutar contra o crime voraz?
Esta é uma pergunta que não posso calar,
à espera da resposta que preciso escutar,
para minha alma na posição certa colocar,
para minha voz com conteúdo certo alçar.
Então, me dizes que enquanto forças tenho
devo pelo bem dedicar todo o meu empenho.
Quando, no entanto, toda a minha parte fiz,
só esperando, descansado em Ti, serei feliz.

"Nossos olhos estão cansados


de buscar ajuda em vão".
(Lamentações 4.17)

Quem busca na política busca em vão,


mas a política é a via para a vida em comunidade.
Quem busca nos homens busca em vão
mas Deus usa homens como canais de felicidade.
Com coragem, que treme, apresento-me então
para servir a Deus com toda a disponibilidade.

56
7

"Por que haverias de desamparar-nos por tanto tempo?"


(Lamentações 5.20)

Se não abandonaste para sempre, Senhor


teu Filho no Calvário da cruz,
embora contra Ele estivesses irado
por causa do nosso pecado,
como vais nos desamparar, agora que Jesus
para sempre amigos nos tornou?

57
O jejum de Deus

(Lucas 5.33-39)

Não está no rosto o jejum.


Está no coração onde só o Pai penetra.
Não está na palavra o jejum.
Está no silêncio de quem com o Pai se acerta.
Não está no cântico o jejum.
Está no gemido solitário da alma aberta.
Não está na auto-exaltação o jejum.
Está na autonegação de fato completa

58
J. T. Parreira
João Tomaz (do Nascimento) Parreira, Lisboa, 1947.
Colaborador da imprensa religiosa evangélica. Poeta.
Escreve na revista «Novas de Alegria» e no Portal da
Aliança Evangélica Portuguesa. E no «Diário de Aveiro».
Na juventude escreveu poesia e artigos juvenis no
"República", entre 1970-1972, sob a direção de Raul
Rego. Tendo começado em 1965 no Juvenil do "Diário de
Lisboa", de Mário Castrim. Está representado no Projecto
Vercial, a maior base de dados da literatura portuguesa.
Entrada na Wikipédia. Tem publicados 5 livros de poesia
(o último "Os Sapatos de Auschwitz" em 2008, editado
por El Taller del Poeta, Pontevedra) e um ensaio
teológico. Participa em várias antologias de poesia
moderna e cristã contemporânea, em Portugal e no
Brasil.Integra o Grupo Poético de Aveiro. Um dos
signatários do Manifesto pela Nova Poesia Evangélica,
juntamente com Joanyr de Oliveira e Brissos Lino.
Mantém os blogs Papéis na Gaveta –
http://www.papeisnagaveta.blogspot.com/
e Poeta Salutor -
http://www.poetasalutor.blogspot.com/

59
PASSAGEM

Dorme o mar nos olhos de Jesus,

uma nuvem

passa o seu volume sobre o lago

e deixa uma sombra no lugar da luz

O vento nos Seus dedos

ainda dorme, a noite

nos sonhos infantis

o silêncio,

mas um trovão se ergue

e de repente um raio risca

um fósforo pelos ares

o mar parte-se como um espelho

do terrível céu

Porém conhece a criadora voz

o arcano das águas

60
e tudo volta ao que estava

a repousar.

61
ARTE MUSICAL

Debaixo dos seus dedos a água corre

Pássaros acendem raios

multicolores, sob os dedos de David

Pendem flores da mesa

na presença dos inimigos

e nos lábios os cálices

transbordam

Pastor de cordas no vento

quando os seus dedos tocam

até que à harpa regressem

os silêncios.

62
Explicação do Salmo I

Os ribeiros do salmo de David


têm tanta luz
que a nudez das raízes
que se vêem
são tanto cristais como água
pura

As raízes dos justos


de David
seguram o interior da terra

63
O beijo de Caravaggio

E um beijo rompeu as cordas


do silêncio
caiu na noite, caiu no rosto
como uma mentira, como uma estrela
cai no rotundo deserto

Um beijo soa do fundo, com pressa


um beijo astuto
dissimulando a lâmina
que vem do coração

nessa noite o ar
amacia a face
de Cristo, confiante
daquele beijo triste.

64
Anunciação

O que estava dentro dela


a Alegria, o Nome
escrito
da direita para a esquerda,
Maria não O via
ainda com seus olhos.

Um anjo imune
ao calor de dia, ao frio
do fundo das almas desertas,
desceria
do tecto do céu
para anunciar a passagem
de Deus no mundo.

65
O não ter Senhor começado uma rua

O não ter havido Senhor para ti


lugar na cidade, nas mãos
que deveriam ungir-te, até
lugar na voz que prometera
do fundo dos dias cantar-te

O não ter havido Senhor uma porta


uma casa cheia para receber-te
um espaço entre os peitos
de todas as mães, um olhar
onde morasses com ternura

O não ter Senhor começado uma rua


à espera do teu Nome
nem ainda hoje quando passas
Senhor no rosto de um homem
ou uma mulher feliz por te acolher.

66
A Segunda Vinda
Ele levará os nossos medos
como um ladrão a meio da noite
como um rio que porfia
pelas suas águas entre
a rude matéria da vida
A chave é o perfume que destila
dos seus dedos
e a escuridão gota a gota
cairá dos nossos olhos
algures na areia do deserto
a forma de um meteoro
apontará para um céu remoto
e as pedras acordarão do sono
no interior das grutas
as coisas caem ao lado, o centro
já não as atrai
Este mundo já não será para nós.

67
A Segunda Vinda (II)
À espera do Amado
como uma casa que espera
um ladrão gentil

que saltará
na casa
como um perfume

Ele verá esta


pálida
casa

Ele tomará
este bocado
de nada

Ele moverá meus pensamentos


dobrará as sombras
das coisas ignóbeis.

68
A Lição de Música

Mas quando David enviava os sons da harpa


para os céus, a harpa seduzida
pelos seus dedos, um sorriso
assomava aos olhos de Saul.
Os olhos baixavam ao coração sanguíneo
via dentro de si o tranqüilo
rio que a música fazia, como
água que traz o cheiro dos jardins.
Ao mesmo tempo que as pombas
voavam das cordas
assim velava a harpa de David.

69
O Bom Samaritano

Tive fome de pão e puseste a minha mesa


numa toalha em linho derramada
a sede, tive-a como um dia quente
a ondular entre os lábios e a água
e ungiste meu corpo com um óleo
quando a noite oxidou as minhas chagas
estive ao frio e teus vestidos coloriram
a palidez da minha carne nua
e na tua cama inclinei os meus ouvidos
os teus móveis abriram gavetas
para os meus cristais de chuva.

70
Josué Ebenézer
Josué Ebenézer de Sousa Soares. Poeta, escritor,
jornalista, pastor batista, membro da Academia
Evangélica de Letras do Brasil, AELB, e pastor da Igreja
Batista do Prado (Nova Friburgo, RJ). É casado com Katia
Cardoso Soares e pai de Lucas (1992), Murilo (1996) e
Noemi (2000). Líder batista, tem atuação destacada na
Convenção Batista Fluminense e é autor de várias revistas
de estudo bíblico. Articulista, possui vários textos seus
publicados em sítios da Internet. E-mail:
pr.jess@hotmail.com
Mantém o blog Tabuinha e Escrever -
http://www.tabuinhadeescrever.blogspot.com/

71
As Janelas dos Céus Que Abrem

As janelas dos céus que abrem

manhãs. Penso eu: o que são?

São o chorar de Deus pelo esconderijo dos

homens. O cadeado se arrebenta:

Abas largas e treliçadas se abrem sobre a

Terra: Engolem trevas,

dissipam nuvens carregadas,

reduzem o vento tempestuoso

à uma brisa mansa.

Uma criança com uma colorida

bola na mão, grita: É a paz!

E tudo se acalma.

Ao redor os raios que

atravessam as frestas do horizonte

se fazem bonança.

O sol escancara de vez

as janelas dos céus que abrem

manhãs de verão. E o céu?

É azul, penso eu. Tão azul


72
como um manto suave a cobrir o

firmamento. Mas, no momento,

o que se ouve é a voz

do menino moreno de pés descalços:

- O céu é espelho do mar!

Reparei.

Havia uma lágrima no seu olhar.

A voz do menino moreno falou de um

sonho: “Toda criança que desaparece

no mar é encontrada no céu.”

Sua irmãzinha se fora,

tragada pelas ondas,

e ele acreditava que o céu

era o Paraíso dos Afogados.

Formiguinhas humanas perambulavam

entrecaminhos,

bem abaixo das janelas dos céus que abrem

manhãs de trabalho.

É o azáfama da vida, penso eu.

E os homens e mulheres

73
mandam seus pequeninos pra escola,

distraem-nos com babás que jogam bola,

enquanto paramentados de profissionais e

perfumados de aparência,

carregam na pasta o ofício

e na consciência o desperdício

de vidas que não voltam mais.

As janelas dos céus que abrem

tardes. Penso eu: o que são?

São o pensar de Deus acerca dos caminhos da

humanidade. Alguém diz:

metamorfose -

e as lágrimas de Deus se transformam no suor dos

homens. Deus pensa no futuro de sua

Criação, mas o homem apenas guarda,

no bolso, o lenço já sujo da poluição.

Um adolescente com um caderno

escolar na mão, rasga folhas ao vento:

É a poesia!

E as páginas brancas daquela vida

74
clamam com paixão por uma

escrita qualquer.

As nuvens grávidas atravessam

as janelas dos céus que abrem

tardes de outono. E o céu?

É o salão de baile das simpáticas gestantes,

cujos filhos regarão a terra e

aparecerão nas árvores em formas e cores

multifacetadas.

Mas, naquele instante, o que se ouve

é apenas o farfalhar das folhas secas no chão,

açuladas pelos animaizinhos

que se divertem sem culpa.

Na copa das árvores, balouçam aves,

sibilam sons.

E o vento se encarrega de espalhar a música.

É o prazer! - Alguém disse alegre.

Não se viu, porém, o homem.

Estava na mesa do escritório

olhando o ar-condicionado desligado.

75
Blocos de concreto armado se empilham

nos espaços,

bem abaixo das janelas dos céus que abrem

tardes de embromação.

São as cidades - o arquiteto se apressa em dizer.

Mas as tardes que trazem a janela de Deus,

transportam também seu refletir.

- Não foi pra isso! A voz tonitruante sacode

as gentes.

Deus não está satisfeito com os rumos da humanidade.

Alguém falou: Liberdade!

Mas o homem, aprisionado pelo mercado,

já não consegue entender.

As janelas dos céus que abrem

noites. Penso eu: o que são?

São o cantar de Deus em seu grande amor

pela vida. O piano espalha teclas pelo

ar: pretas e brancas.

E os sustenidos e bemóis vão tocando a

76
noite. Luzes se acendem.

Fluorescentes cores crepitam no ar

fazendo palpitar nos corações a emoção.

Um jovem com uma raquete de

tênis na mão, joga bolinhas

amarelas ao vento. É o sonho.

E a pequena rede vibra aquelas

sensações, enquanto as

luzes da quadra se apagam

findando mais um treino de

esperança no futuro.

As estrelas risonhas saltam divertidas

por entre as janelas dos céus que abrem

noites de inverno. E o céu?

É um infinito misterioso onde

mergulham os olhares vindos,

qual setas, de corações apaixonados.

No momento, porém, o som é perturbador.

Faz-se ouvir o ronco das guitarras

produzidos nos bailes funks.

77
De há muito o romantismo desapareceu,

e amor virou sinônimo de sexo e

agressividade.

O volume de som atinge o ápice

enquanto no muro do clube

enfileirados rapazes urinam.

Um adolescente careca passa correndo

entre os carros. Pensa que é astro,

mas o crack que consumiu

faz dele um molambo sem rumo definido.

Pontos luminosos aproximam-se ligeiros

acompanhados de sons cada vez mais fortes,

bem abaixo das janelas dos céus que abrem

noites de diversão.

São as sirenes da Polícia em sua

blitz sobre a garotada do subúrbio.

Ninguém sai; ninguém se mexe.

Alguns eleitos são “premiados” com uma

carona até o Departamento.

Quem não é do ramo se petrifica

78
com os sons da noite,

que pecam por falta de musicalidade.

Engoli em seco:

- O homem tapou os ouvidos ao canto de Deus...

As janelas dos céus que abrem

madrugadas. Penso eu: O que são?

São o salvar de Deus do que restou da

humanidade. O Planeta se encolhe.

Toda energia se volta para sua gênese:

É Deus dando um tempo de restauração.

Ouço um lamento prolongado de bebê

de colo. Calo-me para ouvir o

movimento da madrugada.

Um adulto sai à rua, envolto num cobertor.

São passos lentos,

que parecem não ter rumo,

até que chegam à casa azul.

Coloca um embrulho de jornal no portão:

pode ser uma bomba, pode ser doação.

79
A lua prateada serve porções de

esperança, através das janelas dos céus que abrem

madrugadas de primavera. E o céu?

Acompanha o cardápio da lua, possibilitando

ao que busca um novo amanhecer

saciar-se de luz.

As árvores e plantas, do orvalho molhadas,

preparam-se para o novo dia.

Reparei nas cores.

Havia estilo nas flores,

mas uma me chamou atenção:

Amor-perfeito.

Como seria bom que os homens fossem assim.

Que as madrugadas de Deus se tornassem

laboratório de ações positivas,

substituindo a maquinação do mal

pela tal da oração.

Nos leitos, encolhidos, todos estão a dormir,

bem abaixo das janelas dos céus que abrem

madrugadas de restauração.

80
Quando o ser descansa no relógio

biológico do seu Criador,

dá chances à natureza de torná-lo melhor.

Um sorriso aparece no rosto daquele que dorme.

É o carinho de Deus em quem tem o coração em paz.

Mas as madrugadas também trazem sonhos,

comunicam mensagens.

- É a cruz! Alguém diz.

E no silêncio do Calvário, bem como

na madrugada das mulheres que foram ao Sepulcro,

o anjo de Deus a dizer:

As janelas dos céus sempre abrem-se

para a salvação de todo o que crê.

81
Sentimento Cristão

Cristão deste século

de tempo tão triste

de gente tão pobre

de espírito e amor.

É feio espetáculo

de gente que insiste

tornar o que é nobre

sem qualquer valor.

E agora, cristão?

Sua grande tarefa,

sua forte promessa,

seu bom coração.

É fazer a seu tempo

um reino de glória

mudando a história

em cada momento.

Cristão destes dias

82
o tempo é pesado

o apego ao pecado

não traz melodias.

As notas sucumbem

partituras já fecham

tons que enfecham

canções que se inibem.

E agora, cristão?

Seu amor é forte

mas qual é a sorte

pra ter salvação?

O povo perdido

que vive e sonha

que ama e estranha

está esquecido.

Cristão atual

do tempo de agora

que ri e que chora

pro bem e pro mal.

83
Seu gesto profundo

na vida que encerra

é ser sal da terra

e ser luz do mundo.

E agora, cristão?

O grande desafio

de vidas por um fio

está em sua mão.

Seu Deus é tremendo

na Palavra há poder

você se envolvendo

não há o que temer.

E agora, cristão?

Nova Friburgo, 03/06/2000 (6h10m)

84
Amor
(1Coríntios 13)

Ainda que dos homens a língua eu falasse,


que dos anjos o idioma angélico escutasse,
e até pudesse com as miríades conversar.
De que me adiantariam os torneios literários
se as belas palavras desses versos temerários
não ousassem forte na conjugação do amar?

Se os homens todos me levassem a sério,


das profecias findas conhecesse o mistério,
de que me valeria tal grande sapiência?
Se nos lábios o canto do amor não vibrar,
estas cordas bambas que aprenderam a amar
matariam a emoção em nome da ciência.

Em mim toda ação seria mero ativismo


barulho sem música dos sinos que dobram
se o amor não tangesse minha vida e oração.
Pois no tempo de Deus, do amor o batismo
não é como dos homens em que sinos repicam:

85
no tempo de Deus palpita o som do coração.

Ainda que tivesse toda a fé em mim reunida


de maneira tal que transportasse os montes
de maneira intensa, jorrando como as fontes.
Ainda assim - na plena razão da minha vida -,
não sendo fé no fogo do amor forjada, mas fria
como o zero na soma do amor, nada ela seria.

Se estivesse disposto ao meu maior sacrifício


da morte cruel em vorazes chamas de fogueira
ou mesmo abrisse mão do que é grande vício:
na terra ajuntar tesouros sem eira nem beira.
Mesmo a morte sacrifical e fortuna dada à pobres
na ausência de amor, não seriam atos nobres.

Que devo, então, fazer se quiser dar amor,


se quiser expressar algo bom através de mim?
Devo primeiro descobrir que ele é sofredor.
O amor é benigno, não é invejoso ou algo assim.
Ele não é egoísta, indecente e não se irrita.
O amor é justo, verdadeiro e de nada suspeita.

86
Mas que amor é esse, assim intenso e exigente?
Será que há no mundo alguém que possa vivê-lo?
Esse amor é de anjos e não tem cara de gente?
De um amor que tudo sofre, como pode este desvelo
- e ainda tudo crê, e tudo espera, e tudo suporta -,
encontrar-se em seres que se acham em vida torta?

O amor nunca falha e onde ele se faz bem presente:


havendo alguma profecia de pronto será aniquilada;
e havendo qualquer glossolalia, logo logo cessará;
também havendo ciência, em breve se fará ausente.
Porque conhecendo em parte, com a ciência abalada,
e em parte profetizando, a tudo o amor mudará.

Mas espero o grande dia da chegada do Perfeito


quando todas incompletudes serão exterminadas
e o tempo de menino será coisa só do passado.
Verei Deus face a face e se quebrará o espelho
pra ser reconhecido dentre as emoções continuadas:

87
fé, esperança e amor. Este, meu maior legado!

Nova Friburgo, 12 de outubro de 2001 (17h45m).

88
SALMO 23

O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.

Deitar-me faz em verdejantes e lindos pastos

e guia-me manso a águas tranqüilas e faustos

onde o refrigério d’alma, em Deus, me alegrará.

Guia-me nas veredas da justiça por amor

do nome que é sobre todo nome na terra.

Inda que ande em vale de sombra ou guerra

não temerei mal algum. Estás comigo Senhor!

Tua vara e cajado me consolam à mesa,

que diante dos inimigos preparada está.

O óleo na cabeça e o cálice a transbordar

mostram, certos, que misericórdia e gentileza

me seguirão em todos os dias da minha vida,

até habitar na Casa do Senhor ao fim da lida.

Nova Friburgo, 13/01/2005 (7h01m).

89
TRÍPTICO DA VIDA

Se existe dom supremo, só pode vir de Deus.

E que nome ele recebe, senão algo sublime?

Amor! É o próprio Deus vendo os filhos seus

que foram alvo na Terra da ação que redime.

Esse dom sublime, em suprema excelência,

amor que brota de Deus e logo dele emana.

Pois só nele tal sentimento é parte da essência

que na terra aos homens une e todos irmana.

Ah, amor! Vens de Deus e para onde vais agora?

Se não ficas em mim, sinto o moer de uma dor.

Se não ficares comigo, Deus presente da aurora

ao por do sol de uma vida que se abre em flor!

Amor, amor! Sentirei longo pesar e, abatido,

prosseguirei meu caminhar, triste e sofrido...

90
2

Por que? Por que estás abatida ó minha alma

e é triste o teu caminhar na face desta Terra?

Se o coração pede alívio e também a calma

em Deus encontras bálsamo que dor encerra.

Exercita-te naquela - que de todas as expressões

que o homem pode fazer -, o leva a se pôr em pé!

E que acende uma chama, brasa nos corações.

E que atende pelo nome; singelo nome de fé!

A fé é um remédio que levanta qualquer enfermo.

É força a animar o corpo e o coração cansado.

Que traz para o caminho o que se acha no ermo

e faz do oprimido um ser novo, revigorado.

A fé é alimento para sempre e todo instante

e na vida do crente se faz presença constante.

91
3

Além do amor e da fé, de que precisa o homem?

Que sentimento necessita para atravessar a vida?

Se os dias são frios, duros, áridos e já consomem

o que ele tem de melhor que é o motor de partida?

Então não fiques parado, esperando acontecer.

Quem sabe faz o tempo, faz a hora, e o momento.

A vida é pra ser vivida, tu nascestes para crescer.

A esperança é o motor que te põe em movimento.

Porque tens sonhos, caminhas; a estrada está aberta!

E a esperança que aninhas não está pra ti deserta.

É um oásis de vida, com sombra, água e amor.

Por isso desperta e prossiga com garra no coração.

Saboreie da árvore o fruto que tu vistes como flor.

E ao que achares no caminho, chame logo de irmão.

Nova Friburgo, 12 de Março de 2005. (7h34m).

92
ORAÇÃO DA FAMÍLIA

Senhor!

Que a chaleira sempre apite

Uma água fervendo;

Enquanto houver um amigo

Para tomar um café preto com a gente.

Que a brisa do vento

Sempre encontre uma janela aberta

Para atravessar toda a casa e espalhar

O perfume da esposa após o banho da noite.

Que haja sempre brinquedos

Espalhados pelos corredores

A indicar que filhos, netos e bisnetos

(ou ainda alguma criança amiga)

Povoam nosso lar de irreverência infantil.

Que o forno tenha a chance de ser

Aquecido de tempos em tempos

93
Para produzir uma gostosa broa de milho,

Fruto da criatividade culinária

De quem tem junto um sorriso para oferecer fora do pires.

Que haja sempre um sofá,

Mesmo que velho e recoberto de um pano rejuvenescedor,

Para abrigar nossos corpos e nossas vozes

Em um diálogo franco e criativo,

Tendo a televisão desligada.

Que a falta de água do verão

Não impeça de se produzir beijos molhados

E se dar abraços apertados

Multiplicando afeto por todas as estações.

E que, acima de tudo, haja sempre canções

A serem entoadas por corações agradecidos

Pela vida e pelo amor

Que começou em ti e que tocou os que

Simplesmente acreditaram no Eterno.

94
Amém!

Rio de Janeiro, 11 de Janeiro de 2007 (15h43min).

95
ONDE A GLÓRIA DO POETA?

A formiga altiva, a folha levanta,


Mas não se verga ao peso de seu labor.
No pedreiro, o tijolo, é esboço de planta
Que ergue o imaginário do construtor.

Quem sou eu com meus poemas e palavras,


Canções que ergo sem sequer usar as mãos?
Onde a glória dos poemas que são lavras,
Pepitas de ouro, não sentimentos vãos?

Hei de cantar meus versos, proferir canções.


Dedilhar arpejos dest’alma efervescente,
Erguendo mansões ou choupanas nos corações.

Só não desistirei de ser poeta nunca,


Pois a glória do poeta é dessa gente
Que a poesia põe sorriso em alma adunca.

São Gonçalo, 06 de Janeiro de 2008. (8h10min).

96
Luiz Flor dos Santos
Luiz Flor dos Santos é pastor da Igreja Batista
Fundamentalista em São Gonçalo do Amarante, Ceará.
Cultor da poesia quando jovem, re-descobriu a pouco
tempo a lira ‘guardada no fundo da gaveta’, e voltou a
dedicar-se à poesia.
Mantém os blogs Poesia de Graça -
http://poesiadegraca.blogspot.com/,
Blog do Pastor Flor - http://pulpito.blog.terra.com.br/
e Recanto da Alma - http://luizflor.wordpress.com/

97
José

Elevo os olhos para os montes: De onde me virá o socorro? O


meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Ele não
permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará Aquele que te
guarda. (Salmo 121.1-3).

* Uma releitura de José, de Carlos Drummond de Andrade

Para cima, José!

Para cima!

Por que teu olhar insiste em ficar cá em baixo, José?

José, para cima a saída é mais fácil. Pode pôr fé.

Para diante, José!

Para diante!

Por que você insiste em olhar para trás?

Para trás ficam os perdidos e nada mais, José.

José, amigo, aceite um conselho:

Não olhe no espelho.

98
Nele as imagens ficam distorcidas,

Muito distantes ou muito perto.

José, não hesite em subir o monte

De lá se vê tudo melhor.

Ai, amigo

Por que tanta depressão em teu semblante?

Para cima! Para diante!

Eleva teu coração, José.

José, não ouviste dizer, não:

Os que choram serão consolados?

Os que têm fome serão fartos?

Então, José, por que não olhas para cima?

Por que não deixas de ser tão turrão?

José, já ouvi alguém dizer com precisão:

Está alegre, cante,

Está triste faça uma prece.

Alegra esse teu coração, José

99
Não cesses, José!

Não cesse!

Há uma mão para te amparar.

Um ombro para chorares.

Um coração para te escutar.

Uma Providência para de ti cuidar.

Não desista, José. Nunca!

Não cesses, José. Jamais!

Para cima, José, sempre!

A providência nunca

Nem a ti nem a mim abandonará jamais!

Para cima, José!

Tira a tristeza do olhar.

Tira a desilusão do coração.

Liberta tua alma e anda firme, então!

100
A LUTA DE UM HOMEM COM UMA ALMA
(TÉDIO)

Há dias em que a alma enfastia.

Tudo principia com um gosto sem gosto.

Dia sem Fim alma fica meio assim assim.

Alma marota!

Em dias assim quer mesmo é um dengo pra si.

Alma, o que come?

Queria fazer-te um prato gostoso.

Mas ela não diz.

Fica assim que nem que nem

Menino trombudo tinhoso amargoso.

Alma, sossega!

Parece menino...

Fuxicando, mexendo, caindo em pranto.

Melenta no canto, andando, catucando

Procurado por quê?


101
Alma, alma menina peralta!

Paciência saiu mas não tarda chegar.

Se te pega tão alta te toma no rei.

Alma, alma depois não diga que não avisei.

...

O que que me deu?

Meu Deus... Meu Deus!

102
Crítica

Lança pontiaguda

Fera trombuda

Espada cortante

Flecha de ponta flamejante

Presas inoculadoras de peçonha

É melhor ter-te como amiga

E não fazer cerimônia.

Desespero da fome

Golpe desferido à traição.

Dizem ter um lado teu que constrói

Estranho, só conheço o que destrói.

Quem te criou, crítica?

O raciocínio ou o amor?

Se o amor, deverias chamar-te CONSELHO.

Doutro jeito tens o nome certo.

Tu possuis os homens
103
E os faze pensar que têm sempre razão.

Dragão alado

Por que não voas para terras gélidas

E lá não espirras teu hálito quente?

Farias um favor para todas as gentes da terra.

104
A MORTE ROUBA OS PLANOS

Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e
lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos; Digo-vos
que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa
vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se
desvanece. (Tiago 4.13-14)

Pensam muitos que são seguramente donos de sua sorte

Falam com toda arrogância de planos pra lhes trazer fama.

Ignoram que se Deus não quer não adianta tanta gana.

Um pequeno detalhe faz tudo desandar: o fato da morte.

II

Pra esses que pensam tudo saber fica um sério aviso

O que é a vida? É um vapor que aparece e logo desvanece.

É bom prestar atenção quem quer ser homem bem sucedido.

Senhor permita fazer isso ou aquilo. Deve ser a nossa prece.

105
O CINZA DESTES DIAS CINZAS

Os dias nestes dias

Estão de um brilho cinza.

Estão de um brilho fosco.

Exigem mais esforço da pupila.

O brilho não brilha.

Nestes dias cinza

A poesia não rima.

A poesia não canta.

Quase estanca.

A retina retém só os fatos.

E não se refina a rima.

Nestes dias cinza

A alma maior

Abriga amiga a dó dos amigos

Prosando em versos sem rima

Verdades tão suas

Recitadas de cór.
106
Enfim no fim de um dia tão cinza

Ouvi compungido gritar a ciência.

Falou-me alguém do nobre Conselho

Citando a fala da Divina Providência:

Melhor a boa fama do que o melhor ungüento,

E o dia da morte ao do nascimento.

Melhor ir à casa do luto a do banquete,

Naquela está o fim de todos os homens,

E os vivos aprimoram de si o conhecimento.

Melhor é a mágoa do que o riso,

Com a tristeza do rosto

Faz-se melhor o espírito.

Melhor o fim das coisas do que seu princípio.

107
Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo
são enganosos (Provérbios 27.6).

O BEIJO

O lábio

A intenção

O contato

O beijo.

Beijo na mão: honra, cortesia.

Beijo no filho: enche a mãe de alegria.

Beijo de pai no filho: ao filho honra.

Beijo de filho no pai: ao pai lisonja.

Beijo na mão soprado: desejo de estar perto.

Esperança de logo voltar.

Ósculo cristão: antiga e boa tradição

(não seria bom restaurar?).

Beijo falado: distância, agrado.

108
Beijo ardente, colado, molhado: patrimônio

Dos apaixonados.

Para os de compromisso firmado

(não é dos ficantes).

Desses é o beijo descompromissado. Malvado.

Beijo de Judas: traição.

Traição à esposa.

Traição ao marido.

Traição ao próximo.

Traição dos fundamentos morais.

Da lei de Cristo, o amor.

De Cristo, o bom Senhor.

Esse não espalhe não. Não distribua não.

109
HISTÓRIA DE UMA AMIZADE
À irmã Audilene Rodrigues Garcia

No principio só escuridão.
Eu não conseguia vê-la como você era.
Você a mim também não.

Não era caos. Havia ordem.


Estudar uma ao outro era o imperativo.
Cada um. Cada qual.

Mas Deus disse: Trevas, dêem lugar á luz!


Assim houve muitas boas tardes e manhãs.
Seguiram-se muitos bons dias a nossos dias.

Deus nos pôs em seu jardim.


Havia nele a árvore que dava vida.
E a árvore que nos mataria.

Muitas vezes comemos o fruto amargo


Da árvore da morte. Que destrói o melhor entre amigos.
Ma Deus nos deu de comer o fruto da vida. Vivemos bons dias de
novo.

E Deus viu tudo que tinha feito.


E tudo era muito bom.
Um anjo soou: Como é bom que vivam os irmãos em união!

Dissipou-se entre nós a escuridão.

110
NOÉLIO DUARTE
Noélio Duarte é Fonoaudiólogo (Com pós-graduações em
Voz e Comunicação Empresarial), Fisioterapeuta (Pós-
graduações em Eletroterapia e Dor Crônica),
Neurolinguista (Especialização em Motivação e gestão de
pessoas), Teólogo, Escritor (autor de 21 títulos, sendo 10
já publicados, incluindo: VOCE PODE FALAR MELHOR e O
INCRÍVEL PODER DA MOTIVAÇÃO, Conferencista
Motivacional Nacional e Internacional (África
Portuguesa), Membro Titular da Academia Evangélica de
Letras do Brasil (cadeira no. 13) e Apresentador do
programa televisivo REENCONTRO (TV BRASIL, aos
sábados).

111
PESSOAS

E pela vida nós encontramos

Pessoas que até admiramos

Ou aquelas menos agradáveis...

Há gente que vive triste, sofrendo

Outras vão alegres vivendo...

Pessoas são assim admiráveis!

Algumas pessoas cultivam animais,

Outras vivem as causas sociais;

Muitas defendem a natureza...

Há os promotores da cultura,

Outros incentivam a leitura

Várias, lutam com toda delicadeza...

Como eu admiro essa gente!

Pessoas são bem atraentes

E bem intrigantes em seu viver!

Há tipos interessantes, variados,

Há rostos alegres ou fechados

Há gente difícil de se entender...


112
Pessoas...

Grandes e pequenas,

Extravagantes e amenas,

Irritadas ou brincalhonas,

Servis ou bem mandonas;

Faladeiras ou pensativas,

Paradas ou sempre ativas,

Analfabetas ou escritoras,

Desenhistas ou escultoras,

Muito alegres ou inibidas

Limitadas ou esclarecidas...

Gosto de pessoas, festivamente,

Gosto de estar perto de gente!

É bom promover novas ações

É maravilhoso mudar situações:

Encontros, passeios, festivais,

Concursos, festas, chás literários,

Reuniões, estudos, seminários

113
E belos encontros de corais

Sabe o que vale a pena na vida?

Aquelas pequenas cenas esquecidas:

O gesto simples de um abraço,

O carinho de estender a mão,

A palavra amiga, uma bela canção,

O estar pertinho, estreitando o espaço!

Ah! Pessoas!

Há sempre uma precisando de você!

Há sempre algo bom a se fazer

Par dar-lhes alegria e esperança!

E quando a vida chegar lá na frente

Você vai se sentir feliz, intensamente

E se emocionar com cada lembrança!

Ah! Pessoas... Aproxime-se mais

Um abraço silencioso é mensagem de paz!

114
DISPONIBILIDADE

Se uma nota musical refletisse:

“Eu sou apenas uma nota sozinha...”

E nisto intensamente insistisse...

Não haveria a bela sinfonia!

Se a palavra, séria, anunciasse:

“O que uma palavra pode fazer?”

E se nessa atitude continuasse...

O livro não iria acontecer!

Se o tijolo, indiferente, proferisse:

“Sou um tijolo... Posso algo construir?”

Se isto continuamente repetisse...

Uma construção nunca iria surgir!

Se a gota d’água, triste declarasse:

“Sou mera gota, eu não me engano...”

E se ela isto diariamente argumentasse...

Claro, nunca haveria o belo oceano!

115
Se um grão de trigo bradasse:

“Um grão não faz semeadura perfeita...”

E se esta idéia nele se perpetuasse,

Jamais haveria a bela colheita!

Se cada cristão aqui pensasse:

“Que valor tem a minha oração?”

Se nisto intensamente acreditasse...

Cristo não traria a salvação!

Assim,

A sinfonia, da nota precisa, agora;

O livro, à cada palavra revigora;

A casa, com cada tijolo veio acontecer

O oceano, cada gota aclama,

A colheita ao grão proclama...

Pessoas, também precisam de você!

Portanto,

Repense isto e mostre o seu melhor;

116
Envolva-se, faça o bem ao redor,

Seja um vaso que brilha e reluz!

Você é um instrumento importante

E Deus conta com você neste instante:

Proclame a vida Plena que há em Jesus!

117
DESCULPAS

Deus nos chama para uma ação,

Um propósito, uma missão!

Mas, desculpas nós arranjamos

E o tempo nós consumimos

Para a vida aqui construirmos

E a Causa, não abraçamos...

Através de nós, certamente,

Deus espera pacientemente

Que saibamos observar e ver,

Que nossos ouvidos saibam escutar

Que nossas mãos, possam ajudar

E que o coração possa socorrer...

E na Bíblia, nós observamos

Servos de Deus que admiramos

Apresentando desculpas, sem valor:

Argumentos frágeis, contestados;

Lamentos fúteis, não considerados;

118
Afirmações sem qualquer vigor...

Abraão, disse ser velho e fraco

- Seu olhar estava turvo e opaco;

Jacó, relatou sua insegurança

- vivia fugindo de uma vingança;

José, alegou ter sido vendido

- ressentia de ter sido traído;

Moisés, alegou que gaguejava

- Esperança não lhe restava;

Lia, disse não ter atrativos

- Não tinha aspectos positivos;

Sansão era incorrigível mulherengo

- Vivia procurando um dengo;

Davi, teve uma atraente amante

119
- Uma falha séria, triste, gritante!

Elias, era um quase suicida

- Tinha desprezo por sua vida;

Jeremias, era um servo depressivo

- Chorava muito e vivia cativo;

Jonas, era um pregador relutante

- Sua atitude foi decepcionante!

Pedro, era um homem muito impulsivo

- Seu comportamento era muito negativo;

Zaqueu, era um fiscal indesejado

- Explorador, insensível, indelicado;

Tomé, coitado, era dúvida pura

- Não tinha a convicção que perdura;

Paulo, tinha uma frágil saúde

120
- Isto interferia em sua atitude!

Timóteo, era tímido até demais

- Falar em público e liderar? Jamais!

Mas a esses servos o Senhor utilizou:

Desajustados, fracos, sem vigor...

Deus vê sempre o melhor em nós!

E promoveu tremenda mudança

Trazendo ao povo a bela esperança

E Eles foram o Seu Porta-voz!

Ainda hoje, insistentemente, Deus clama

Para uma Missão Ele nos conclama:

A Sua Palavra libertadora semear.

Não dê mais desculpas ao Senhor,

Confie plenamente em Seu amor

E o mais, tudo mais, Ele o fará

121
NECESSIDADE

O mundo vasto e imenso,

Populoso, complicado, denso

Chegou a um grave limite:

Foi aniquilada a são moral,

Prevalece o que é anormal,

A corrupção tem forte apetite!

O que mais pode acontecer?

Como isto mudar, o que fazer?

Ainda existe uma esperança?

De que o mundo está precisando?

De que estamos necessitando?

Como deter o mal que avança?

Para uma mudança acontecer,

Deus precisa de mim e de você!

Deus precisa de pessoas inteligentes

Que lhe sejam fiéis e tementes;

122
Deus precisa de pessoas ativas,

Alegres, resolvidas e comunicativas;

Deus precisa de pessoas equilibradas,

Honestas, íntegras e empenhadas;

Deus precisa de pessoas amáveis,

Firmes, fortes, amorosas, estáveis;

Deus precisa de pessoas envolvidas,

Decididas, éticas, comprometidas;

Deus precisa de pessoas que avancem,

Motivadas, corajosas, que se lancem...

Deus precisa de pessoas com coragem,

Resistentes e que tenham Sua mensagem.

Deus precisa de pessoas ousadas,

Que tenha fé e sejam determinadas.

123
Deus precisa de pessoas com ações

Que saibam cumprir suas atribuições.

Deus precisa de pessoas especiais,

Verdadeiras que não mintam, jamais!

Deus precisa de pessoas visionárias,

Trabalhadoras, servas, missionárias.

Deus precisa de pessoas idealizadoras,

Sem orgulho, tranqüilas, servidoras...

Deus precisa de pessoas!

Sim, a missão é grande demais

E Ele convoca os simples e especiais

Para um trabalho intenso realizar.

Deus está intensamente preocupado

Com o mundo perdido e errado

E Ele tem a solução, Ele pode mudar!

124
Deus precisa de Pessoas!

Bem,

Podemos deixar tudo como está

E ver o inimigo ativo prosperar

Ou pregar a liberdade que reluz...

Então, se você tem de Deus o temor,

Apresente-se para a Missão de Amor:

Proclamar a Vida que há em Jesus!

125
PERDI O TOM...

Eu Perdi o tom...
Ainda agora
Tento,
Procuro,
Insisto,
Mas não harmonizo...
Estou desafinado,
Lentificado
Meio parado...

Perdi o tom...
Na minha pauta
Sinto falta
Dos alegres sons
Das melodias,
Das sinfonias,
Dos harpejos,
Dos solfejos...

Perdi o tom...
Onde estão os compassos
Terciários e quaternários
E mesmo os binários?
Sinto-me lento
Sem alento...
Eu até tento!

126
Eu perdi o tom...

Onde estão as notas


Hoje tão remotas
Que compunham minha canção?
Onde estão?

Os sons de agora
Incomodam-me nesta hora:
Dó – doem-me as lembranças;
Ré – remoem-me as cobranças;
Mi – mistérios me rondam;
Fá – fantasias me sondam;
Sol – soluções... Onde estão?
Lá – lamentos vem e se vão;
Si – Sim, esta é a situação:

Eu perdi o tom...

Mas eu vou viver assim


Neste silêncio sem fim?
Mas que vida é essa
Cujo movimento é nulo
E então eu me anulo
- Esta situação me estressa!

127
Eu perdi o tom!

E foi que eu olhei para o céu


E recebi a benção, o troféu
De ter comigo o Santo Deus!
Foi um encontro maravilhoso,
Foi um momento grandioso:
Ele perdoou todos erros meus!

Que harmonia!

Encontrei meu novo tom,


Novo compasso, outro som,
Novas notas foram colocadas,
Ritmo novo, configurado,
Majestoso, alegre, acelerado:
Outra melodia bem tocada!

Achei meu novo tom!

É tão bom ter esperança


Ter apagadas as lembranças...
Vivo feliz, Alguém me conduz.
E se vivo esta nova melodia

128
Afirmo com intensa alegria:
- Meu maestro hoje se chama JESUS!

129
MADURO

O amor, quando maduro,

É gentil, maleável, seguro...

Não é menor em intensidade,

É silencioso, definido, colorido,

Poético, criativo, até atrevido,

É sensível e cheio de verdade!

O amor, quando maduro,

E alegre, claro e nunca obscuro

É sincero e tem nobre sentimento.

Não carece daquelas demonstrações,

Presenteia com ternas ações

E resolve os conflitos de momento!

Ah! Amor maduro...

Vive daquilo que não morreu,

É sério, forte, pois cresceu

E cultiva o que jamais fermentou..

130
Cria dimensões novas, revigora,

Planta a comunhão que aflora

E semeia a alegria com vigor...

Fica feliz com um simples encontrar,

Compreende, gosta se emocionar

Vive a emoção sem disfarce...

Nunca foge dos problemas

Ajuda a quebrar as algemas

E a palavra que conjuga é dar-se!

O amor, o verdadeiro amor,

Quando maduro tem mais ardor...

Não pede, aquilo que quer,

Não reivindica, mas consegue,

Atrai sempre e nunca persegue

Porque não é um amor qualquer!

Amor, que se considera amor

Tem sempre um novo sabor,

E tem certeza daquilo que diz.

131
É maravilhoso viver e valorizar,

É lindo ter alguém para cuidar,

Vive para tornar a vida feliz!

Amor maduro é mais que amizade,

É a vida a dois vivida com intensidade!

132
DECLARAÇÃO

Quando nasce uma criança,

Vejo ali terna esperança

de algo novo acontecer;

É uma linda expectativa,

É uma visão pró-ativa

É um sono pra se viver...

Quando nasce uma criança,

É Deus que à terra lança

uma semente promissora:

sinal que é possível a paz,

símbolo este que nos traz

alegria terna e alentadora...

Quando nasce uma criança,

a minha alma não se cansa

de pensar bem objetivamente

que essa vida construtora,

essa mensagem redentora

133
devolve-nos a crença, novamente.

Quando nasce uma criança,

a minha alma não alcança

aquilo que ela se tornará:

uma pessoa bem abastada?

Uma vida fútil, necessitada?

Não posso prever como será!

Mas eu sei, também, algo sério

que para mim é doce mistério:

o molde do futuro são seus pais

que podem torná-la bondosa

ou transformá-la em maldosa:

comprova-se isso cada vez mais!

E se os pais doarem mais tempo,

mesmo passando por contratempos

e implementarem os bons valores,

será uma pessoa bem vitoriosa,

terá uma vida serena, dadivosa

134
e desfrutará os doces sabores.

Portanto,

É uma questão de investimento,

Não descuidar, um só momento

e em todo tempo administrar:

- do que ela irá se nutrir?

- o que vai aprender e ouvir?

- que literatura cultivará?

Então, pais,

comecem a moldar essa vida

com uma estrutura definida:

- para o coração, muito amor;

- para a inteligência, informação;

- para o espírito, Bíblia e oração;

- para o corpo, saúde e valor!

Pois é...

Quando nasce uma criança,

135
É uma autêntica aliança

Com um Deus grandioso:

é que a vida vai continuar!

E, agradecido, posso declarar:

Obrigado pelo projeto maravilhoso

que o Senhor veio à terra doar!

136
Sammis Reachers
Sammis Reachers Cristence Silva é um simples
colaborador do Evangelho e poeta, além pesquisador e
promotor da Poesia Evangélica. Autor* de “Uma Abertura
na Noite” e “A Blindagem Azul”, ambos e-books de
poesia. E também organizador dos e-books “3 Irmãos –
Antologia” (reunindo poemas de Gióia Júnior, Joanyr de
Oliveira e J. T. Parreira); “Antologia de Poesia Cristã em
Língua Portuguesa” (um apanhado desde a era
camoniana aos dias atuais, reunindo textos de mais de 80
autores lusófonos); e “SABEDORIA: Breve Manual do
Usuário” (antologia de frases, citações, trechos de
poemas, provérbios e versículos bíblicos).
É editor ou colaborador de diversos blogs de temática
evangélica variada, entre os quais: Poesia Evangélica –
http://www.poesiaevanglica.blogspot.com/
Veredas Missionárias –
http://veredasmissionarias.blogspot.com
Arsenal do Crente – http://arsenaldocrente.blogspot.com
Criador também do blog Liricoletivo, que reúne
coletivamente diversos poetas evangélicos -
http://liricoletivo.blogspot.com/

*Saiba, ao fim deste livro, como baixar gratuitamente os demais e-books


que escrevi ou organizei.
137
Portas do engodo

O inferno tem 666 portas;


O Céu apenas uma.

Ave
é lindo o alçapão de Satã,
e dulcíssimo seu alpiste,
e mimosas suas guirlandas de adorno.
666 portas, de altos pórticos em arco
e boa largura, feitas em mármore, ouro e prata,
com soleiras de esmeralda e berilo.

Dura é a prisão, e as
Chamas do forno lá dentro, ó ave.
E o canto de dor, ali, será pela eternidade.

No Céu há uma pequena porta apenas,


Humilde e escavada na rocha.

Mas é Viva esta Rocha onde se abre a Porta.

Saia da terra, ave; salte


E voe por sobre os laços.

Não temas o vento;


Peça força, e ser-lhe-á dado Poder.

Voe para os céus


Enquanto ainda é aberta a porta,
Enquanto ainda lhe há

As asas.

Do livro Uma Abertura na Noite


138
Cantiga de ninar

Há uma ciranda de crianças e luz;


E a luz é dessas crianças,
E as crianças são dessa luz.

Tudo em derredor tudo canta


E um Rei que é uma Rocha rege
O coro de todas as coisas.

Há provisão
De sorriso e perdão.

Não há precisão
Do sol ou das estrelas,
Dos planetas ou do luar:
Um que é a Rocha
Ilumina o lugar,
E o lugar que ilumina
Tem o nome de TUDO.

E o amor de Deus é aqui


Um tão grande estrondo
Que ensurdeceu para sempre
Tudo que era vazio.

139
A Blindagem Azul

“Vós também, como pedras vivas, sois edificados


casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis
a Deus, por Jesus Cristo.” 1Pe 2.5
I
Meu toque recambiado
É o da pedra viva
Que ensina o Caminho ao errante,
Pega o ladrão pela mão,
Dá-lhe perdão e mapa
Amor e direção.
Meu toque,
É o toque vulcanicorrosivo
De rochas igneovertidas e pulsantes,
Que rompem muros e fronteiras,
E criam ilhas de Amor, onde antes havia o nada.

Rocha de vida lançada à Vida


Ululante em seu vôo
Ofereço-me
Como preceptor para o que tropeça
Como Azul Blindagem
Ao que é perseguido de morte,
Como estalagem sempre azul
Para todo aquele do azul desabrigado.

Do livro A Blindagem Azul

140
Diretrizes

Importa
que as palavras lúgubres
fiquem no front, onde é feita
a morte,
do suor rubro das artérias e veias

Importa
que sejam despedaçadas as agruras
- os grilhões da timidez e do medo –

Importa
saber que o Deus que põe a rapina
no coração da águia
é o mesmo que põe o Amor
no coração do justo

Importa ainda
suportar esta verdade:
Se há homens mais miseráveis que nós,
há miseráveis mais homens do que nós;
Vaidade das vaidades,
TUDO É VAIDADE.

Importa, urge
soterrar os precipícios
inaugurar a cada dia
mil novas pontes, mil
novas naves
entre Deus e os homens
- sempre a estreitar pela Única Porta -
e morrer por alcançar
aquele que ainda morre
fora de nosso raio de alcance.

141
No mais,
“de tudo o que se tem ouvido, o fim é:
Teme a Deus e guarda os seus mandamentos;
porque este é o dever de todo homem.
Porque Deus há de trazer a juízo
toda obra e até tudo o que está encoberto,
quer seja bom, quer seja mau.” *

* Eclesiastes 12.13-14

Do livro A Blindagem Azul

142
Paz Verde

Criança amiga do sol,


sozinha no mato,
feita soldado do verde
sob as insígnias dos girassóis...

Corre, vigia, ri,


exulta
(seu corpo é
nau anil alada
por 7.000 asas)
nos campos criados por Cristo.

Sua avó lhe instruiu em todo o Evangelho


e sua imaginação hoje voa, só porque o pastor lhe disse:
“O melhor de Deus ainda está por vir.”

Seu sorriso e inocência são uma afronta,


eles bradam ao mundo e seu Satã,
num silêncio de supereloquências:
“Consumam vocês suas ba(le)las e logros.
EU NÃO ESTOU SOB O JUGO DO TEU JOGO.”

Corre, criança verde de sol.

Do livro A Blindagem Azul

143
APOSTASIA ADVINDA

Apostasia, Rainha do Hoje,


Reino (des)Encantado das Aparências...

Ninfa Bacante da Hipocrisia, a apostasia avança:


Lépida bailarina,
Semi-nua, semi-deusa, sereia
De canto fractal, fraturante, fraudulento,
Vestida com um talieur feito
De lâminas de Gillette
(Apostasia uma menininha rodopiante quase ao gosto de todos)
& ela
Baila & retalha,
Baila & retalha,
Baila & retalha...

Apostasia,
prostituta de desfraldado cio
Com uma auréola na cabeça
De doce mordedura
Porém letal incontornável peçonha

Camaleônica,
Camuflada na multidão que responde em uníssono
Ao apelo da moda:
- “Oh, hoje sou evangélico”,
Mas se recusa a nascer de novo,
E fazem-me lembrar
Como todos se diziam cristãos
Sob Constantino,
Constantino que almejou expandir a Porta Estreita
(que-sempre-será-estreita),
Constantino que quase (?) ferrou com tudo.

144
Sob o bafo de sua influência
Vejo irmãos deixando de pregar e orar para cantar,
E cantar e cantar
E cantar mais um pouquinho,
Pânica metralha...
Consumidores de bênçãos,
Consumidores de Deus
Mas
Surdos ao som do shofar,
À trombeta do atalaia
Que clama por santidade
E rasga suas vestes em arrependimento

Irmãos a amontoar doutores, doutrinas,


Bandeiras de igrejas
E torrentes (hoje até em bits) de amor fingido
Consumidores de bênçãos,
Consumidores de Deus (forçoso é repetir este refrão)

Eis a Apostasia que viria,


Linda e já chegada, Nova Luz Advinda
Fogosa & fagueira, & faceira
Te convidando para ver
Mutantes na TV,
Aí no teu sofá teleologicamente assentada.
A Bíblia segue o único veneno para erradicá-la,
Contanto que não esteja espada cega,
Com certos & fundamentais versículos apagados...

Apostasia, a menina dos olhos de Satanás


Globalizada cortesã que veio oferecer
(distorcer a Bíblia, eis seu dever)
O melhor desta terra
O melhor desta terra
O melhor desta terra

145
Heroína, cocaína advinda para arrancar
A cruz de nossas costas.

Salve, Rainha!

146
Há uns 5 anos, numa igrejinha em Itaboraí

Setembrino dia, severa manhã


O sol vem em seu crescente.
Um diácono abre janelas e portas
E inicia a oração.

Após vai aos fundos,


À casa de obreiros
Lá sete varões despertos
E sobre quatro camas, dois colchões
No chão deitados, no velho sofá
os restos de uma madrugada
Em orações despedaçada

Sete,
sete de pó
E quando há só arroz
Comem arroz
Se rara carne, carne

Sete de pó
Sete sem casa,
Abrigados na CASA única que existe,
A dAquele que é mais alto do que os altos.
Sete escapados do tráfico, da bebida,
Da vida escrava e inútil...

Sete de pó,
de monte, oração e jejum
147
Negros, sim, e dois deles
Deixaram o analfabetismo
Em cima de uma Bíblia
Invariavelmente doada, surrada...
(Mas blindada por aquele azul do amor de Cristo,
Que não me canso de citar)

Sete que o mundo não quis por soldados


Desertores, cães
Agregados para baixo da mesa do Sol da Justiça
E a quem Ele houve por bem
Patentear como Brigadeiros, Almirantes e Generais

Sete refugos do mundo


Singularmente sete,
15, 16, 16, 17, 25, 23, 18 anos
Generalíssimos

Sete do mais puro pó


Desempregados, de aparência desprezível
(oh quão desprezível!)
Sete a catar latinhas, serventes de obra,
Vivendo de biscate, sete a trilhar
O trigo no lagar, sem se importar
Com o que você irá pensar

Sete de pó, sete eles,



São só pó
Ou talvez não

148
Sete ignorantes de Agostinho, Erasmo, Bultmann
E de toda a multidão e compêndios desta nobre casta,
A dos teologais
Sete que jamais poderiam conceber
O horror das sedições de Pelágio, Ário, Maniqueu
Sete que nunca ouviram o som de um shofar
Sete incultos, mas que do dia
À noite falavam línguas desconhecidas,
Com a tranqüilidade da criança
Que sorri

Eram apenas sete,


Sete de pó
A esmigalhar os discursos do mundo,
A cada dia franqueando e abaixo pondo
As muralhas e os medos de uma nova Jericó

Sete cujo único moto,


Contínuo moto
Era louvar e dar plena execução
À Obra dAquele que preside desde a antiguidade

Sete cadáveres que um dia ancoraram na Rocha,


A Rocha das Ressurreições
Que os fez e faz
Pássaros para sempre.

Inspirado em fatos reais.


Dedicado ao meu amigo de infância, de hoje e de sempre, Wilson
Apolinário. Sim, um dos sete.

149
WOLÔ
Wolodymir Boruszewski, ou Wolô (15 Jun 51) nasceu
em São Paulo-SP, é violonista, compositor, Engenheiro
Aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA, turma 74), e possui Mestrado em
Meteorologia pelo INPE e Doutorado em Estruturas e
Mecânica dos Sólidos pelo ITA. Participou da equipe do
Instituto de Pesquisas Espaciais que desenvolveu e
colocou em órbita o primeiro satélite brasileiro.
Atualmente trabalha como Engenheiro de Estruturas no
desenvolvimento de turbogeradores e é presbítero da
Comunidade de Jesus, em São Paulo, além de fazer parte
do ministério de música.
Discografia:
LP “O que alua não pôde, não pode, nem poderá” (1974);
LP “Cristal” (1979);
LP “Pai Nosso, de Verdade!”(1985),
CD “Espiritualmente” (1999).
Contato: wolo@mail.com

150
O tempo e o TEMPO
O passado é relembrado
Entre medos sem prazer
O presente a gente sente
Entre os dedos escorrer
O futuro é uma constante ameaça
E cada instante que passa
É um escuro que se acende
E que transcende o meu querer
Mas a planta que a gente planta
Dá o fruto que a gente colhe
E o canto que a gente canta
Tem o tom que a gente escolhe

O passado é perdoado
Se o perdão se pede ao Pai
O presente, de repente,
Passa e não dá medo mais
O porvir um canto inteiro de esperança
E enquanto o ponteiro avança
É sentir que lá de cima
Se aproxima a eterna paz
Mas a planta que a gente planta
Dá o fruto que a gente colhe
E o canto que a gente canta
Tem o tom que a gente escolhe

151
Guerra e paz

Gritos, conflitos, avalanche,


Mitos, atritos, tanto nó;
Canto antes que eu desmanche em pó

Que existe amor, paz interior,


Que transcende e independe do chão;
Que existe paz que dá muito mais
Que um contrato barato e padrão.

Naves, entraves, bombardeio,


Aves suaves dizem não
Dizem antes num gorjeio bom

Que existe Deus nos gorjeios seus


Que uma pomba é uma bomba de paz;
Que existe paz que não se desfaz
Que o amor do Senhor é demais

Que existe paz que não se desfaz


No amor do Senhor que é demais.

152
Adeus heroínas: - Há Deus!

Era a melancolia
Do cotidiano morno,
Que torneava o torno,
Que só se repetia;
E a sede de amor ardia
Até incendiar o forno;
E a aridez era tanta
Que um simples vapor na garganta,
Gerava a miragem feliz
De mil transbordantes cantis.

Veio o degrau do fumo,


Do cotidiano tonto,
Do embalo sempre pronto
Nos becos do consumo,
E o consumidor sem rumo
Voltava pro mesmo ponto;
E a ilusão era tanta
Que a droga tragando a garganta
Soprava a imagem fugaz
De um minutinho de paz.

Veio uma vida tola,


De cotidiano asco,
Pois no pequeno frasco,
No bulbo da papoula,
No tubo daquela ampola
Reinava o seu carrasco,
E a dependência era tanta
Que o mínimo nó na garganta
Forçava na veia as poções,
Cadeias de suas prisões

153
Veio o inconformismo
Do cotidiano drama,
Atrás a pobre fama,
Na frente só o abismo
No chão movediço a lama,
No interior pessimismo,
E a solidão era tanta
Que o mundo apertando a garganta
Gritava que ele cedeu,
Berrava que ele se deu.

No beco sem saída


Deitou-se a céu aberto,
A morte já por perto,
A vista escurecida,
Mas num lampejo de vida
Olhou para o lado certo,
E a luz do céu era tanta,
Que o gritou jorrou da garganta:
- Senhor, não se esqueça de mim,
- Senhor tenha pena de mim.

O peito arrependido
Tomou a dose certa,
E numa Bíblia aberta
Achou o amor perdido
Pois Cristo Jesus liberta
O coração oprimido
E a libertação é tanta
Que arranca de vez da garganta,
O vício, o resquício, o pó,

154
O trago, o estrago e o nó.

Pois foi crucificado


O homem sem defeito
Que amava Deus no peito
E o pecador do lado
Que abominava o pecado
– Pecado por nós foi feito –
E a morte na cruz era tanta
Que Cristo o Senhor da garganta,
Doou seu Espírito são,
Semente da ressurreição.

Veio uma vida eterna,


Ressuscitada e nova,
E a cotidiana prova
É essa fonte interna
Na vida que Deus governa
E ternamente renova;
E a transformação é tanta
Que o próprio Senhor na garganta
Transborda a mensagem da cruz,
Convida a beber de Jesus.

155
Algo mais

Antes mesmo que eu fosse alguém


Tu me amaste e me disseste: - Vem!
Mesmo sendo eu tão rebelde e vão
Tu me amaste e me estendeste a mão

Já me deste tanto amor e paz


Que eu só te peço uma coisinha mais
Pra que eu possa cumprir a minha parte
Ensina-me Senhor a amar-te

156
Restaurando o contrito

Enquanto minha alma derramo


Diante do trono da graça
Escuto uma voz que me abraça:
- Sossega, meu filho, eu te amo

- Acalma o soluço sofrido,


Que manso chegou ao ouvido
Daquele que ama o contrito
No dia da paz ou do grito

- A lágrima limpa que brota


Denota um espírito santo
O pranto que Cristo desperta
Liberta o fiel da derrota

- E agora, passado o assombro,


Repousa tranqüilo em meu ombro;
Do amor deste instante sagrado
Escreve em teu peito um recado:

- Por amor a meu Pai amoroso


Abandono esse andar cambaleante
Enxugando meus olhos, com gozo,
Posso ver o meu alvo adiante

- Sem olhar para trás eu prossigo


Pois Jesus leva o fardo comigo
E em erguendo meus olhos avisto
O encontro perfeito com Cristo.

157
SONHO DE UM SONHO

Quem quer sair na contramão da pressa


e num suspiro desacelerar;
fechar os olhos, descobrir o olhar
e decolar pra onde o Amor começa?...

Silenciosamente,
doce docemente,
a semente adormecer...

Silenciosamente,
pura e simplesmente,
broto em flor amanhecer...

Sentir sumir aquele chão miúdo,


deixar o peito renovar o ar;
na luz do azul nascente se deitar
e despertar aonde o Amor é tudo?...

Silenciosamente,
doce docemente,
doce fruto florescer...

Silenciosamente,
pura e simplesmente,
berço de semente ser...

Suavemente a solidão termina


quando a ternura chega devagar
e inspira sonhos, sonhos de acordar...

Pra que fugir de onde o Amor germina


e sufocar a planta pequenina
e a oração jamais desabrochar?...

158
Silenciosamente,
doce docemente,
a semente adormecer...

Silenciosamente,
pura e simplesmente,
a semente adormecer...

Pra que fugir de onde o Amor germina?

159
Obra-prima? Eu?

Quando olhar pra si mesmo


E não vir nada mais
Do que um pássaro a esmo
Contra mil vendavais

Debatendo-se em penas
Tanta pena de si
Perguntando-se apenas:
- Porque foi que eu nasci?

Quando a própria certeza


Não passar de um talvez
Cada enzima, cada osso,
Só um fosso
De porquês...
E a mais pura beleza
For igual aos balões
Cada pêlo, cada nervo
Um acervo
De ilusões

Saiba, nem um cabelo


Cairá se não for
Sob o vivo desvelo
De um Deus Criador

Seu mais lindo poema


Se reflete em você
- Filho, venha, não tema;
Eu Sou o seu porquê

Você é um manifesto
Da verdade vital

160
Cada nervo, cada pelo
Um modelo
Original

Você mesmo é um gesto


Desmassificador
Cada osso, cada enzima
Obra-prima
Do Senhor.

161
Baixe gratuitamente os outros e-books
que escrevi, ou organizei (clique para
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3 Irmãos Antologia

Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa

SABEDORIA: Breve Manual do Usuário

A Blindagem Azul

Uma Abertura na Noite

162
FIM

163

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