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Historicamente relembro que o único conhecimento, as únicas respostas ou orientações relativas a vida, aos
seus mistérios e estranhos rumos estavam contidos nos textos religiosos, filosóficos ou esotéricos.
No primeiro caso, os dogmas mostravam claramente uma política de humildade, subordinação e absoluta
resignação.
Qualquer sofrimento, desgraça e mesmo alegria eram por desígnio divino. Tudo que ocorresse fazia parte dos
desejos e vontades de Deus. Portem acho que se Deus tivesse que passar o resto da eternidade julgando
pessoas, ouvindo reclamações, atendendo pedidos e socorrendo necessitados, estaríamos obrigados a admitir
que, como construtor e artífice da criação, foi um fracasso total, já que criou um ser tão imperfeito e pecador
que não tem as mínimas condições de valer-se por si só.
Sob esta ótica o homem haveria sido criado tão frágil e irresponsável que necessitaria de uma tutela constante
e de ameaça de punição para manter-se "bom".
Considero eu que é ridículo pensar que, se Deus em seu infinito poder é onipotente, onipresente e onisciente e,
em síntese, sabe tanto o passado como o futuro, indiscutivelmente saberá como e quando iremos pecar,
cometer atos impuros, roubar, matar, etc.. Então porque nos criar se sabia com antecipação de seu poder, que
seriamos tão imaturos, irresponsáveis e violentos?
Parece-me um tanto estranho que Deus propositalmente criasse um ser propenso a pecar. E ainda mais
cabendo em que momento, de que forma e quantas vezes pecariam e qual seria o destino final da própria
humanidade. Deus tem de saber, pelo seu poder, qual será o nosso destino e quando se realizara. Agora, se
durante o processo que nos levará ao destino final, em algum momento "Ele" realmente age, interfere
favorecendo ou intercedendo por alguém, acabou de admitir que sua maravilhosa obra esta despreparada para
vida. Admitiria na hora que não previu, no momento de criar, as possíveis reações, problemas ou exigências a
que seria submetido o ser humano e que, para continuar a existir e cumprir seu destino precisaria totalmente
d'ele.
Extrapolando poderia até pensar também que é possível que isso fosse proposital, os seja, que o homem fosse
criado imperfeito para depender de Deus e, nesse caso, seria uma criatura manipulada e submetida, já que
jamais teria capacidade de valer-se por si mesma e muito menos teria livre arbítrio.
Mas, de qualquer maneira, se o homem fosse criado para discernir, atuar com liberdade, assumindo o caminho
escolhido, caberia a este mesmo individuo aceitar as desventuras acarretadas pela escolha, pois o erro faz
parte do discernimento.
Se Deus penetra nos caminhos desta criatura humana, jamais permitira que aprendesse a valer-se por si-so,
sempre será dependente, e o único e total responsável pelo fracasso do homem na sua relação com a vida teria
de ser, obrigatoriamente, o próprio criador, Deus. Se "Ele" nos fez, e somos o reflexo do seu poder e
conhecimento, estaríamos então perdidos. Deus não passaria de uma entidade autocrática porem, protetora e
paternalista que, nessa dinâmica de relação, provocaria inequivocamente a acomodação, demonstrando um
enorme despreparo e irresponsabilidade para ser Deus. E em função das imperfeições com as quais fomos
criados, já que estamos vindo de um Deus parcial, limitado e inseguro, de acordo com essa linha de raciocínio,
não poderemos jamais esperar uma vida livre e plena , pois nunca poderemos saber se estamos pensando por
nossa própria conta e vontade, se cada ato a que executamos é um ato desejado por nós ou por Deus, ou se o
sentimento de culpa faz parte de tudo para garantir a dependência. De qualquer forma,este Deus criador seria
tão falho para ser Deus como nos para sermos humanos.