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Estabilidade de Medicamentos
no Âmbito da Farmacovigilância
Janaína de Pina Carvalho, Alzeir Santana Santos, Argentina Santos de Sa,
Christiane dos Santos Teixeira e Marcia Santos Nogueira
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Fármacos & Medicamentos
não há regulação específica para Guias de estabilidade internacionais
farmacovigilância e, apenas em abril País Guideline Ano de Introdução
de 2002, foi publicado o Guia para a Japão Standards for Stability Testing of 1980 (1984)
Realização de Estudos de Estabilidade. New Drugs
Em 2004, a resolução RE n.º 398 (4) Reino Guidance Notes on Applications for 1984
instituiu novo guia, em vigor, com a Unido Products Licenses
mesma finalidade, que tem como EUA Submitting Documentation for the 1987
Stability of Human Drugs and Biologicals
referência os guias de qualidade edi-
UE Stability Testing on Active Ingredients 1988
tados pelo ICH relativo a requeri- and Finished Products
mentos técnicos para registro de medi-
camentos para uso humano. Guias da qualidade do ICH (5).
Esse guia (4) define três tipos de Stability
estudos de estabilidade: a) estabilidade Q1A(R2) Stability Testing of New Drug Substances and Products
acelerada: estudo em que se acelera (Second Revision)
a degradação química ou mudanças Q1B Stability Testing : Photostability Testing of New Drug
Substances and Products
físicas de um produto em condições
forçadas de armazenamento; b) esta- Q1C Stability Testing for New Dosage Forms
bilidade de longa duração: estudo proje- Q1D Bracketing and Matrixing Designs for Stability Testing of Drug
Substances and Products
tado para verificar as características
Q1E Evaluation of Stability Data
físicas, químicas, biológicas e micro-
Q1F Stability Data Package for Registration Applications in Climatic
biológicas de um produto durante o Zones III and IV
prazo de validade esperado e, opcio-
nalmente, após seu vencimento; c) es- tempo de validade. Também a se- Para cada forma farmacêutica, há
tabilidade de acompanhamento: estudo gurança e a eficácia podem ser ava- diferentes parâmetros a ser avaliados:
realizado após o início da comercia- liadas por estudos de estabilidade, pe- propriedades organolépticas, veloci-
lização do produto, para verificar a ma- lo monitoramento da formação de pro- dade e volume de sedimentação, con-
nutenção das características físicas, dutos de degradação, que podem ge- sistência e viscosidade, polimorfismo,
químicas, biológicas e microbiológicas, rar perda de atividade terapêutica dureza, desintegração e outras.
previstas nos estudos de estabilidade ou toxicidade. Várias reações químicas podem re-
de longa duração. Classicamente, a avaliação da es- sultar na degradação de princípios
Dentre as novidades, destaca-se a tabilidade de produtos farmacêuticos ativos e excipientes. Qualquer altera-
inclusão do estudo de estabilidade de é separada em estudos de estabilidade ção na estrutura do princípio ativo pode
acompanhamento, do “plano de estudo física ou farmacêutica, química (inclu- reduzir a atividade terapêutica e levar
de estabilidade reduzido de medica- indo-se a bioquímica) e físico-química. a efeitos indesejados, devido à for-
mentos” e especificações para “estu- Reconhecer a estabilidade física mação de produtos tóxicos. Um
do de fotoestabilidade”. de uma formulação é importante para exemplo é a formação do furfural, um
Entende-se por estabilidade a o profissional e o usuário. Em primeiro produto com baixa DL50, a partir da
capacidade de uma formulação de lugar, o produto farmacêutico deve degradação do ácido ascórbico ou
manter as especificações físicas, quí- manter boa aparência. Alterações co- vitamina C (7).
micas, microbiológicas, terapêuticas mo descoloração ou escurecimento
e toxicológicas. Um bom estudo de devem ser motivos para desconfiança.
estabilidade é meta fundamental de Segundo, a uniformidade de dose do
um programa de garantia da qualidade. ingrediente ativo deve ser assegurada
Outra meta seria a segurança clínica, com o tempo, pois alguns produtos são
intimamente relacionada à estabilidade dispensados em embalagens de dosa- A degradação química de excipi-
farmacêutica (10). gem múltipla. Terceiro, o fármaco ativo entes pode acarretar problemas de
A monitorização da estabilidade de deve ter eficiência durante o tempo estabilidade física ou microbiológica.
medicamentos é um dos métodos mais de validade esperado da preparação. Por exemplo, a hidrólise do éster de
eficazes para avaliação, previsão e Uma separação no sistema físico pode sorbitol pode resultar em perda
prevenção de problemas relacionados levar à não-disponibilidade do medi- suficiente na habilidade de produzir um
à qualidade do produto durante seu camento ao paciente (10). filme interfacial, resultando na “que-
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Especial de Capa
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zada para doseamento. Nessa meto-
dologia, a absorção da luz para solu-
ções da mesma amostra é tanto maior
quanto mais concentrada for a solução
por ela atravessada. No entanto, su-
bstâncias diferentes absorvem quan-
tidades diferentes da luz com mesmo Argentina Santos de Sa é
Janaína de Pina Carvalho é
comprimento de onda. Assim, a leitura farmacêutica com habilitação em farmacêutica, com especialização em
de absorbância apenas tem correlação indústria, formada pela UFMG gerenciamento e atenção farmacêutica,
com a concentração da amostra quan- (Universidade Federal de Minas Gerais), pela UFC (Universidade Federal do
do comparada a um padrão, seja da com especialização em tecnologia Ceará). É especialista em regulação e
industrial farmacêutica pela UFRJ vigilância sanitária da UFARM/
substância ativa, seja de um produto (Universidade Federal do Rio de Janeiro). GGMED/ANVISA (Unidade de
de degradação. É farmacêutica da UFARM/GGMED/ Farmacovigilância da Gerência Geral
O estabelecimento de padrão para ANVISA (Unidade de Farmacovigilância de Medicamentos da Agência Nacional
fim de análise dos possíveis produtos da Gerência Geral de Medicamentos da de Vigilância Sanitária).
de degradação, a definição dos parâ- Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
metros específicos de análise e a jus-
tificativa de qualquer sinal no croma-
tograma são elementos essenciais à
identificação e avaliação dos produtos
de degradação em medicamentos.
Considerando que os produtos de
degradação podem resultar em ativi-
dade reduzida ou tóxica e que as noti-
ficações classificadas como possíveis Alzeir Santana Santos é Christiane dos Santos Teixeira é
desvios da qualidade com envolvi- farmacêutico, com especialização em farmacêutica, com especialização em
administração hospitalar, pela UFBA farmácia hospitalar, pela Universidade
mento de pacientes poderiam estar re- (Universidade Federal da Bahia). É Federal Fluminense e especialização
lacionadas a problemas de estabilidade especialista em regulação e vigilância em prevenção e controle de infecção
dos medicamentos, verifica-se a rele- sanitária da UFARM/GGMED/ANVISA hospitalar pela Universidade Gama
vância dos estudos de estabilidade para (Unidade de Farmacovigilância da Gerência Filho. É especialista em regulação e
Geral de Medicamentos da Agência vigilância sanitária da UFARM/
a farmacovigilância.
Nacional de Vigilância Sanitária). GGMED/ANVISA (Unidade de
Farmacovigilância da Gerência Geral
Referências Bibliográficas de Medicamentos da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária).
(1) BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976. Dispõe sobre a vigi-
lância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos,
cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências. DOU de 24 de setembro de 1976.
Disponível em http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php? id=178&word=>. Acesso em 25/2/05.
(2) BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n.º 696, de 7 de maio de 2001. Institui o Centro Nacional de
Monitorização de Medicamentos (CNMM) sediado na Unidade de Farmacovigilância da ANVISA.
DOU de 8 de maio de 2001, seção 1, p. 14.
(3) BRASIL. Ministério da Saúde. Anvisa. Resolução RE n.º 899, de 29 de maio de 2003. Determina a
publicação do Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos. DOU de 2 de junho de 2003.
Disponível em http://e-legis.bvs.br/leisref/public/show Act.php?id=15132&word. Acesso em 26/3/05.
(4) BRASIL. Ministério da Saúde. Anvisa. Resolução RE nº 398, de 12 de novembro de 2004.
Determina a publicação do Guia para a Realização de Estudos de Estabilidade. DOU 16 de
novembro de 2004. Disponível em http://e-legis.bvs.br/leisref/public/show Act.php?id=13227&word.
Acesso em 22/2/05.
(5) ICH. Stability Testing Of New Drug Substances And Products Q1A (R2), 2003. Disponível em
http://www.ich.org/Media Server.jser?@_ID=419&@_MODE=GLB. Acesso em 6/3/05.
(6) LAPORTE, J.R.; TOGNONI, G. Princípios de epidemiologia del medicamento. 2ª ed. Barcelona: Marcia Santos Nogueira é
Ediciones Científicas y Técnicas S. A. 1993.
(7) LIMA, U. F. Estabilidade de Produtos Farmacêuticos: Tecnologia Farmacêutica. Apostila consultora técnica da UFARM/
apresentada no curso de pós-graduação em Tecnologia Farmacêutica, em aula ministrada pelo autor, na GGMED/ANVISA (Unidade de
qualidade de professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, emw janeiro de 2004. Farmacovigilância da Gerência Geral
(8) LUND, W. The Pharmaceutical Codex. Principles and Paractice of Pharmaceutics. 12th ed.
London: The Pharmaceutical Press. 1994. de Medicamentos da Agência Nacional
(9) QUALITY Assurance of Pharmaceuticals: A Compendium of Guidelines and Related Materials. de Vigilância Sanitária). Licenciada em
V. 1. Geneva: World Health Organization, 1997. 238 p.
(10) VADAS, E.B. Stability of Pharmaceutical Products. In: Remington: The Science and Practice Letras e especialista em saúde
of Pharmacy. Phila-delphia: Lippincott Williams & Wilkins. 20º ed. P. 986–994. 2000. pública e vigilância sanitária pela
(11) WHO (World Health Organization). The Importance of Pharmacovigilance: Safety Monitoring Universidade de Brasília.
of medicinal products. World Health Organization. 2002
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