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Plotino e o Neoplatonismo
Plotino
Plotino morreu aos sessenta e cinco anos, em 270 d. C. Suas últimas palavras
ao médico Eustóquio foram: "Procurai sempre conjugar o divino que há em vós
com o divino que há no universo".
A Mensagem de Plotino
Eis um belo resumo das analogias poéticas da obra de Plotino (e, por ligação,
de Amônio Sacas) dada por Jostein Gaarder:
"Imagine uma enorme fogueira creptando no meio da noite. Do meio do fogo
saltam centelhas em todas as direções. Numa amplo círculo ao redor do fogo a
noite é iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda é possível ver o
leve brilho desta fogueira. À medida que nos afastamos, a fogueira vai se
transformando num minúsculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite.
E se nos afastarmos mais ainda, chegaremos a um ponto em que a luz do fogo
não mais consegue nos alcançar. Em algum lugar os raios lumiosos se perdem
na noite e se estiver muito escuro não vamos enxergar nada. Nesse momento,
contornos e sombras deixam de existir".
"Agora imagine a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é
Deus - e as trevas que estão lá fora são a matéria fria, onde a luz está fraca, da
qual são feitos homens e animais. Junto a Deus estão as idéias eternas, as
causas de todas as criaturas. Sobretudo, a alma humana é uma 'centelha do
fogo'. Mas por toda a parte na natureza aparece uma pouco desta luz divina.
Podemos vê-la em todos os seres vivos; sim até mesmo uma rosa ou uma
campânula possuem um brilho divino. No ponto mais distante do Deus vivo
está a matéria inanimada".
"Digo que tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino. Podemos ver o
brilho desta alguma coisa num girassol ou numa papoula. Percebemos um
pouco mais deste insondável mistério numa borboleta que pousou num galho,
ou num peixinho dourado que nada no aquário. Mas o ponto mais próximo em
que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma. Só lá é que
podemos nos re-unir com o grande mistério da vida. De fato, em alguns raros
momentos" - como falam Jung eMaslow - "podemos sentir que somos, nós
mesmos, este mistério divino". O psicólogo americano Abraham Maslow fez
exaustivos estudos provando a existência destas experiências culminantes,
frequentemente impossíveis de serem expressas em palavras sem que se
percam grande parte de sua força extraordinariamente bela e luminosa, e o
onde a sensação de íntimo encontro com algo transcendete é
o leitmotiv dominante.
As imagens que Plotino usa, e que Jostein Gaarder acabou de resumir, nos
remetem ao mito da caverna de Platão. Mas enquanto Platão é dualista,
distinguido de forma estanque a oposição entre o espírito e a matéria, Plotino
nos aponta para a realidade de que o isto está também ligado ao aquilo(como
também falava Buda), que o universo é uma imensa rede de relações onde
tudo tem sua razão de ser no conjunto, no holos. Tudo está ligado a tudo, e
tudo é Um, pois tudo concorre para o andamento da obra de Deus. Até mesmo
as sombras têm uma tênue parte desta "Unidade" ((holismo)).
Carl Gustav Jung e Joseph Campbell, bem como Plotino, nos dizem que aquilo
que chamamos comumente de "eu" não é nosso eu verdadeiro, é apenas uma
máscara, o ego. Em momentos de profundo amor e/ou emoção ou paz
podemos sentir rapidamente uma espécie de contato com um eu mais
profundo, que Jung chamava de self, e que alguns místicos chamam de Cristo
interior. Alguns vão ainda mais além, e se sentem unidos ao próprio Deus, ou a
uma "consciência cósmica" - termo muito utilizado na Psicologia Transpessoal.
O místico cristão Angelus Silesius (1624-1677) assim se expressou sobre esta
experiência: "A pequena gota (o indivíduo) se transforma em mar quando
chega até ele; e assim a alma se transforma em Deus quando é nele acolhida"
(Gaarder, 1995, p. 154).
Ora, o ego pode se revoltar contra a possibilidade de perder o controle e a
pessoa se "perder a si mesma" nesta fusão íntima com a consciência cósmica,
mas, como muito bem disse Jostein Gaarder, esta pseudo-perda (na verdade o
ego não é eliminado, continua a existir) é algo muito insignificante diante
daquilo que se ganha (veja-se a parábola de Jesus sobre o semeador que
encontra uma pérola no campo, e vende tudo o que tem para comprar aquele
campo). O místico perebe que seu ego é apenas uma parte ínfima de si
mesmo. Compreende que o "eu" real é algo infinitamente maior. Compreende
que faz parte do universo inteiro, que é Deus. É por isso que os hindus dizem
que o Eu é o maior amigo do ego, mas o ego é o pior inimigo do Eu. Ora, como
nos diz Jostein Gaarder, se tememos nos perder enquanto indivíduos num
mundo que para nós é a realidade (o mundo comum), talvez sirva de consolo e
estímulo saber que um dia de qualquer forma termos de perder este "eu
cotidiano" de uma forma ou de outra. Por que não tentar experimentar o
verdadeiro Eu conseguindo-se se libertar do jugo de um eu egóico? "Aquele
que quiser conservar sua vida, perde-la-á, e aquele que quiser perder sua vida,
por amor à verdade, a ganhará", já dizia o Cristo.
Bibliografia Sugerida
LeSham, Lawrence. O Médium, o místico e o físico, Summus Editorial, São Paulo, 1993