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Plotino

por

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Plotino e o Neoplatonismo

"A aspiração do homem não deveria limitar-se a não não ser


culpado, mas a ser Deus."

Plotino

Plotino, 205-270 d.C.


Durante o período helenístico pós-Alexandre e, posteriormente, no período
Imperial Romano, desenvolveram-se várias escolas de filosofia. Entre elas se
destacam a dos cínicos, a dos estóicos e a dos epicuristas. Embora sejam
escolas com características bem próprias, todas elas tinham por ponto de
partida os ensinamentos de Sócrates e/ou dos pré-socráticos Demócrito e
Heráclito. Mas, sem dúvida alguma, a mais importante, bela e orignal das
escolas do final da Antiguidade foi inspirada pelo gênio de Platão. Por isso ela
é chamada de neoplatonismo, se bem que ela seja, de fato, um
aperfeiçoamento extraordinário do pensamento filosófico grego, com matizes
bem mais originais e estruturadas do que tinha o pensamento platônico. De
fato, a escola neoplatônica nos parece extremamente atual, hoje em dia,
devido às grandes similiridade entre a visão e concepção de mundo que
emergem de seus pressupostos filosóficos básicos e a atual visão de mundo
que surge da Física moderna, da Teoria Geral dos Sistemas e da Psicologia
Transpessoal. A figura mais importante do movimento neoplatônico foi Plotino.

Plotino nasceu em 205 da era cristã, em Licópolis, permanecendo quase toda a


juventude em Alexandria até 243 d.C., quando deixou a cidade para seguir o
imperador Jordano em sua expedição oriental. Morto Jordano no meio de sua
expedição, Plotino deicide ir à Roma, onde chegou em 244 d.C., fundando uma
escola, espelhando-se no exemplo de seu mestre e real modelador do
movimento neoplatônico: Amônio Sacas.

Pelos escritos de um discípulo famoso de Plotino, Porfírio, sabemos que


Amônio foi um jovem brilhante, educado no seio de uma família cristã. Mas
depois que passou a se dedicar à filosofia, Amônio, por inclinação e vontade
próprias, se voltou novamente ao paganismo (talvez por achar mais liberdade
por buscar um caminho próprio de entendimento). Segundo Porfírio, ele tinha
um alto conhecimento da filosofia de sua época, e, tal como mais tarde faria
Plotino, aprofundou-se de tal modo na vivência da filosofia ao ponto de "ter
uma experiência direta seja da filosofia praticada pelos persas, seja daquela
preponderante entre os hindus" (Porfírio, Vida de Plotino). Outras referências a
Amônio são encontradas em obras de Teodoreto, que era um bispo cristão,
Hiérocles de Alexandria e em Nemésio, bispo de Emesa.

Amônio preferiu não se dar a público, rejeitando pertencer ao círculo de


celebridades consagradas de seu tempo, talvez por sentir uma certa
instabilidade emocional no ar entre as escolas cristãs e pagãs, e, por isso viveu
de forma modesta e esquiva, afastando-se do burburinho do mundo e
cultivando a filosofia não apenas como um exercício de inteligência, mas
também de vida e de aperfeiçoamento espiritual, buscando uma percepção
direta, de cunho místico (no sentido transpessoal do termo), da realidade, ou
da essência, da existência, juntamente com alguns discípulos mais
indentificados com a sua mensagem.
Tal como Sócrates e Jesus, Amônio nada deixou escrito, mas sua doutrina foi
levada adiante e aperfeiçoada pelo gênio de Plotino, tal como, antes, a
mensagem de Sócrates foi perpetuada pelo testemunhos de Platão e
Xenofonte. Amônio é apresentado como um filósofo que, elevando-se acima
das disputas e das plêmicas das outras escolas filosóficas, soube conciliar
Platão e Aristóteles e a transmitir a seus discípulos, sobretudo a Plotino, uma
filosofia livre do espírituo de polêmica, muitas vezes resultante da mera
vaidade pela disputa intelectual. Conta-se que Plotino, chegando a Alexandria,
teria ouvido a todas as celebridadas da época, cristãs e pagãs, mas continuava
insatisfeito. Levado por um amigo a Amônio, depois de te-lo ouvido falar
apenas uma vez, teria dito: "Este é o homem que eu buscava!", e tornou-se seu
discípulo por onze anos. Não é à-toa que nos vêm à mente que a relação entre
Amônio e Plotino tenha alguma semelhança com a que existiu entre a de
Sócrates e Platão. Outros discípulos famosos de Amônio foram Orígenes, o
Pagão, Longino, Erênio e Orígines, o Cristão.

Após fundar sua escola, em Roma, Plotino passou de 244 d. C. a 253 d. C.


apenas ministrando lições, sem nada escrever, por respeito a um pacto que
fizera com Erênio e Orígines, o Pagão, no sentido de não divulgar a doutrina de
Amônio. Mas logo seus colegas romperam o trato, permitindo a Plotino
escrever tratados, nos quais fixava suas lições. Todos os seus escritos foram
ordenados mais tarde por seu discípulo Porfírio, que os dividiu em seis grupos
de nove tratados, de onde veio o título Enéadas(leia a tradução inglesa na
internet: The Six Enneads by Plotinus - infelizmente, estes textos magníficos
não foram traduzidos ainda para o português), pois, em grego, nove se
escreve ennea. Estes escritos chegaram integralmente até nós, por sorte, e
eles são, juntamente com os diálogos platônicos e os escritos esotéricos de
Aristóteles, uma das mais elevadas e sublimes mensagens filosóficas da
Antiguidade. Através deles, podemos perceber o grau de profundida espiritual
do pensamento de Plotino, intensamente carregado de imagens poéticas, onde
vemos lindamente explicadas fenômenos tais como a saída da alma do corpo
(projeção), a análise do Uno (holos), como e porque existem um mundo físico e
um outro espiritual, etc.

Plotino possuia um carisma especial, e gozou de enorme prestígio em sua


época. E seu fascínio era tal que chegou a exercer uma profunda influência
sobre a própria teologia cristã, como sabemos pelos testemunhos de Eusébio,
do bispo Teodoreto, etc. Suas lições eram assistidas até mesmo pelo
imperador Galiano e sua esposa Solonina, e foi tal o impacto que Plotino
exerceu sobre eles que o imperador chegou a examinar um projeto de fundar
uma cidade de filósofos que deveria se chamar Platonópolis. O projeto não foi
adiante devido às tramas dos cortesãos.

Plotino morreu aos sessenta e cinco anos, em 270 d. C. Suas últimas palavras
ao médico Eustóquio foram: "Procurai sempre conjugar o divino que há em vós
com o divino que há no universo".

Segundo Reale & Antiseri, a escola de Plotino não se assemelhava a nenhuma


das escolas filosóficas anteriores: Platão havia fundado a Academia para a
formação de homens que pudessem renovar o Estado; Aristóteles havia
fundado o Liceu para organizar e sistematizar a busca do saber; Epicuro havia
fundado seu movimento visando dar aos homens a paz e a tranquilidade da
alma. Já a escola de Plotino visava ensinar aos homens um modo de entrarem
em contato direto com uma realidade mais abrangente, e reunir-se com o
divino, de uma forma que hoje chamaríamos de uma experiência direta de
cunho transpessoal. Ele dizia que o mero conhecimento intelectual pouco será
diante da certeza, da experiência direta das realidades supra-sensíveis. Estas
possuiam uma riqueza e uma força transformadora da percepção humana que
dificilmente poderiam ser posta em palavras. Aliás, isto é também o que dizem
todos os grandes e verdadeiros místicos, santos e pensadores da humanidade,
como Mestre Eckhart, São Juan de La Cruz, etc. O fato é que, tal como ocorre
em algumas formas de psicoterapia, notadamente a psicologia junguiana e as
abordagens existenciais, há fatores significativos em nosso desenvolvimento
psíquico que se colocam como indefiníveis, mas altamente significativas a nível
intuitivo, já que termos abstratos não são suficentes para descreve-los.
Enquanto para a mioria das pessoas, em nossos dias, a única abordagem
compreensível da realidade baseia-se na definição de tudo através de
conceituações literais, lineares, racionais e impessoais, algumas outras
redescobrem que o universo intuitivo pode ser tão ou mais abrangente quanto
este causal universo racional. Entre estas pessoas podemos citar Albert
Einstein e Carl Gustav Jung. Aliás, Jung julgava ser a intuição e o sentimento
faculdades indispensáveis para uma vivência adequada da psique, pois é
apenas através de todos os seus elementos (pensamento, sentimento,
sensação e intuição) que podemos tentar entendê-la. As dificuldades que a
pessoa moderna encontra ao tentar compreender a verdadeira
abordagem "mística" (não o fácil e simplório misticismo que vemos sendo
vendido a torto e a direito em cada esquina e nas bancas de revistas, mas o
real misticismo que vem de dentro da alma) baseia-se no fato de que, como
reação à tendência altamente introvertida, supersticiosa e ao obscurantismo da
Igreja medieval, o desenvolvimento científico ocidental recente enfatizou
excessivamente o pensamento objetivo abstrato, linear e racional. Este
desenvolvimento preocupou-se exclusivamente com a utilização prática de
objetos externos e necessidades externas e, em nossos dias, culminou no
extremo racionalismo lógico e impessoal de nossa sociedade. Assim, a
capacidade de sentir e a de intuir não recebem valor ou não são levadas em
consideração; os sentimentos são até mesmo considerados como algo
dispensável, e as intuições são vistas com desconfiança. Esta é uma
abordagem que já vem demonstrando ser falha há muito tempo, já que não é
capaz, entre outras coisas, de compreender a motivação básica do
comportamento moral do ser humano, por exemplo, que se baseia em alicerces
emocionais. Estas áreas até podem ser racionlaizadas, mas a razão em si
dificilemente as atinge, pois se assim fosse os cientistas já teriam solucionados
problemas como a violência, o suicídio, a apatia, a depressão (que hoje já virou
epidemia) e outros males da alma. Os apelos racionais são pouco eficientes
quando comparados aos emocionais. Nossa cultura é voltada para a lógica,
mas, ao lidar com problemas mais profundos, esta mesma lógica é incapaz de
nos oferecer respostas adequadas à compreensão da vida e de seus mistérios.
Por que, então, negarmos como fantasias ou irrealidades os fenômenos
místicos? Talvez o estado de vigília - considerado o estado pradão normal -
seja apenas um de vários níveis de consciência possível ao psiquismo
humano. Para maiores detalhes, veja a Psicologia Transpessoal.

A Mensagem de Plotino

Plotino, segundo Jostein Gaarder, via o mundo fenomênico e humano como


algo que está entre dois polos: Numa extremidade está o divino, de onde tudo
vem e para onde tudo vai, ao qual ele chamava de Uno. Plotino abraçava uma
concepção holística do universo (é pena que a palvra holismo esteja, hoje em
dia, misturada com uma falácia de lixo pseudo-místico, que lhe tiram o
signficado real). Às vezes Plotino chamava o Uno de Deus. Na outra
extremidade estaria aquilo que Plotino chamava de reino das sombras, onde
apenas uma fração ínfima da luz divina chegava. Mas Plotino usava estas
metáforas apenas como uma figuração didática. Ele dizia, por exemplo, que
estas trevas não tinham uma existência concreta. Elas eram apenas a ausência
momentânea da Luz Divina, como mais tardeMestre Eckhart diria que a matéria
era a condensação de algo espiritual. Assim, sendo este extremo apenas
ausência de luz, as trevas não são. Elas apenas estão na escuridão. A única
existência real é a existência da odem implícita que causa o mundo fenomênico
mutável. Assim, só Deus é o real. Mas, assim como uma fonte de luz pouco a
pouco se perde na escuridão, também podemos imaginar um lugar onde os
raios divinos chegam muito fracos, o que Plotino identificava com a matéria.
Mas até mesmo a matéria possui um pouco da luz divina. Sabemos hoje em
dia, pela Física, que a matéria nada mais é que uma condensação de algo
mais sutil: a nergia.

Eis um belo resumo das analogias poéticas da obra de Plotino (e, por ligação,
de Amônio Sacas) dada por Jostein Gaarder:
"Imagine uma enorme fogueira creptando no meio da noite. Do meio do fogo
saltam centelhas em todas as direções. Numa amplo círculo ao redor do fogo a
noite é iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda é possível ver o
leve brilho desta fogueira. À medida que nos afastamos, a fogueira vai se
transformando num minúsculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite.
E se nos afastarmos mais ainda, chegaremos a um ponto em que a luz do fogo
não mais consegue nos alcançar. Em algum lugar os raios lumiosos se perdem
na noite e se estiver muito escuro não vamos enxergar nada. Nesse momento,
contornos e sombras deixam de existir".
"Agora imagine a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é
Deus - e as trevas que estão lá fora são a matéria fria, onde a luz está fraca, da
qual são feitos homens e animais. Junto a Deus estão as idéias eternas, as
causas de todas as criaturas. Sobretudo, a alma humana é uma 'centelha do
fogo'. Mas por toda a parte na natureza aparece uma pouco desta luz divina.
Podemos vê-la em todos os seres vivos; sim até mesmo uma rosa ou uma
campânula possuem um brilho divino. No ponto mais distante do Deus vivo
está a matéria inanimada".

"Digo que tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino. Podemos ver o
brilho desta alguma coisa num girassol ou numa papoula. Percebemos um
pouco mais deste insondável mistério numa borboleta que pousou num galho,
ou num peixinho dourado que nada no aquário. Mas o ponto mais próximo em
que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma. Só lá é que
podemos nos re-unir com o grande mistério da vida. De fato, em alguns raros
momentos" - como falam Jung eMaslow - "podemos sentir que somos, nós
mesmos, este mistério divino". O psicólogo americano Abraham Maslow fez
exaustivos estudos provando a existência destas experiências culminantes,
frequentemente impossíveis de serem expressas em palavras sem que se
percam grande parte de sua força extraordinariamente bela e luminosa, e o
onde a sensação de íntimo encontro com algo transcendete é
o leitmotiv dominante.

As imagens que Plotino usa, e que Jostein Gaarder acabou de resumir, nos
remetem ao mito da caverna de Platão. Mas enquanto Platão é dualista,
distinguido de forma estanque a oposição entre o espírito e a matéria, Plotino
nos aponta para a realidade de que o isto está também ligado ao aquilo(como
também falava Buda), que o universo é uma imensa rede de relações onde
tudo tem sua razão de ser no conjunto, no holos. Tudo está ligado a tudo, e
tudo é Um, pois tudo concorre para o andamento da obra de Deus. Até mesmo
as sombras têm uma tênue parte desta "Unidade" ((holismo)).

Em alguns momentos de sua vida, Plotino experimentou a vívida sensação de


unir, fundir sua alma com Deus. Em nosso século, Abraham Maslow fez uma
enorme pesquisa para provar que as pessoas mais saudáveis e carismáticas
experimentaram, pelo menos uma vez na vida, uma espécie de experiência de
pico (as Peak Experiences de Maslow) onde parece que as divisões
convencionais do intelecto humano parecem perder todo o sentido, e a pessoa
sente-se plena de uma paz e de um contato mais íntimo com algo
transcendetal. Chamamos a este tipo de experiência de experiência mística.
Plotino, porém, como sabemos, não foi único a viver essa experiência. Como
nos fala Jostein Gaarder, pessoas de todas as culturas, em todos os tempos,
têm relatado experiências semelhantes. Hoje o estudo dessas experiências é
feito pela Psicologia Transpessoal. E um ponto básico destes relatos é o de
que, embora ocorram variantes na descrição desses fenômenos - devido ao
pano de fundo cultural e às crenças do sujeito -, esses relatos têm muitos e
supreendentes pontos em comum.
Misticismo

Em praticamente todos os relatos sobre os chamados êxtases místicos, desde


Plotino (e mesmo antes dele) até os dias de hoje com os pacientes/clientes da
psicoterapia transpessoal, o que vemos é uma espécie de união íntima com
algo que transcende nossos conceitos de realidade, que é difícil de por em
palavras. Na nossa cultura cristã - embora o próprio Cristo tenha relatado
muitas vezes que ele se sentia um com o Pai, de dizer que "vós sois deuses" e
de que "O Reino está em vós" - o padres, pastores e teólogos vários nos
inculcam que Deus fez o mundo sem que se envolvesse com o mundo, ou seja,
que há um abismo entre Deus e sua criação. Deus teria feito as coisas e
estaria apenas observando o andamento do drama universal, às vezes
interferindo momentâneamente em algo, nos chamados milagres. Mas no
oriente, especialmente no budismo e no taoísmo, e no ocidente, nas religiões
originais dos celtas e gauleses (druidas), bem como em alguns de nossos
índios da América do Norte e do Sul, em em todos os místicos de qualquer
religião, o que se vivencia é uma sensação de união, onde este abismo é
desconhecido (veja-se os relatos de Teresa D'Ávila e Juan de la Cruz). O que
ele - ou ela - conhece é uma elevação a Deuss (Gaarder, 1995; Grof, 1988;
LeShan, 1994).

Carl Gustav Jung e Joseph Campbell, bem como Plotino, nos dizem que aquilo
que chamamos comumente de "eu" não é nosso eu verdadeiro, é apenas uma
máscara, o ego. Em momentos de profundo amor e/ou emoção ou paz
podemos sentir rapidamente uma espécie de contato com um eu mais
profundo, que Jung chamava de self, e que alguns místicos chamam de Cristo
interior. Alguns vão ainda mais além, e se sentem unidos ao próprio Deus, ou a
uma "consciência cósmica" - termo muito utilizado na Psicologia Transpessoal.
O místico cristão Angelus Silesius (1624-1677) assim se expressou sobre esta
experiência: "A pequena gota (o indivíduo) se transforma em mar quando
chega até ele; e assim a alma se transforma em Deus quando é nele acolhida"
(Gaarder, 1995, p. 154).
Ora, o ego pode se revoltar contra a possibilidade de perder o controle e a
pessoa se "perder a si mesma" nesta fusão íntima com a consciência cósmica,
mas, como muito bem disse Jostein Gaarder, esta pseudo-perda (na verdade o
ego não é eliminado, continua a existir) é algo muito insignificante diante
daquilo que se ganha (veja-se a parábola de Jesus sobre o semeador que
encontra uma pérola no campo, e vende tudo o que tem para comprar aquele
campo). O místico perebe que seu ego é apenas uma parte ínfima de si
mesmo. Compreende que o "eu" real é algo infinitamente maior. Compreende
que faz parte do universo inteiro, que é Deus. É por isso que os hindus dizem
que o Eu é o maior amigo do ego, mas o ego é o pior inimigo do Eu. Ora, como
nos diz Jostein Gaarder, se tememos nos perder enquanto indivíduos num
mundo que para nós é a realidade (o mundo comum), talvez sirva de consolo e
estímulo saber que um dia de qualquer forma termos de perder este "eu
cotidiano" de uma forma ou de outra. Por que não tentar experimentar o
verdadeiro Eu conseguindo-se se libertar do jugo de um eu egóico? "Aquele
que quiser conservar sua vida, perde-la-á, e aquele que quiser perder sua vida,
por amor à verdade, a ganhará", já dizia o Cristo.

Jostein Gaarder aponta com muita propriedade que encontramos vertentes


místicas em todas as grandes religiões do mundo. "E tudo o que os místicos
escrevem sobre suas experiências apresenta visíveis semelhanças, a despeito
de todas as diferenças culturais. Somente quando o místico tenta uma
interpretação religiosa ou filosófica para a sua experiência é que se evidencia o
pano de fundo cultural". (Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia, 1995, p. 155).

Pelos trabalhos em Psicologia, especialmente na Psicologia Junguiana, na


Gestalt Terapia e nas terapias humanistas, e principalmente nas Psicoterapias
de orientação Transpessoal, sabemos que pessoas que não pertencem a
nenhuma religião têm passado e relatados experiências místicas. Elas
experiementam espontâneamente algo que chamam, entre outras coisas, de
"consciência cósmica" ou, como Freud chamava, de "experiências oceânicas":
neste momento, tempo e espaço e outras limitações físicas não passam de
figurações fantasiosas da percepção humana. A única coisa que existe é a
sensação de completude e consciência de se estar imerso e lúcido de uma
realidade maior e mais bela.

Bibliografia Sugerida

Campbell, Joseph, O Poder do Mito, Palas Athenas São Paulo, 1990


Porfírio. Vida de Plotino/Eneadas I-II, Editora Gredos, Madrid, 1996.
Grof, Stanislav. Além do Cérebro - Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia,
McGraw-Hill, São Paulo, 1988
Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. História da Filosofia Vol. I, Ed. Paulus, São Paulo, 1990
Gaarder, Jostein. O Mundo de Sofia, Companhia das Letras, São Paulo, 1995

LeSham, Lawrence. O Médium, o místico e o físico, Summus Editorial, São Paulo, 1993

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