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Estado do Rio Grande do Sul

Poder Judiciário

COMARCA DE PASSO FUNDO


5.ª VARA CÍVEL
Rua General Neto, 486
___________________________________________________________________

N.º de Ordem:
Processo n.º: 021/1.05.0033367-4
021/1.05.0033124-8
Natureza: Ordinária – Outros
Cautelar Inominada
Autor: Coodetec Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola
Coodetec Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola
Réu: D. M. Picolli e Cia. Ltda.
D. M. Picolli e Cia. Ltda.
Juiz Prolator: Juíza de Direito - Dra. Cintia Dossin Bigolin
Data: 04/06/2007

VISTOS ETC.

Trata-se de ação cautelar inominada


proposta por COODETEC – COOPERATIVA CENTRAL DE
PESQUISA AGRÍCOLA em face de D. M. PICCOLI & CIA.
LTDA., alegando, em suma, atuar na pesquisa científica de
cultivares, se dedicando no melhoramento genético de soja, trigo
e outras plantas. Disse ter licenciado várias empresas para a
difusão de seus cultivares, ressaltando que, dentre elas, não se
encontra a ré. Salientou que está sendo ameaçada pela pirataria
de seus cultivares. Afirmou que existe séria e fundada suspeita
de que a ré produz, manipula, estoca e comercializa as sementes
desenvolvidas sem a sua autorização, indicando, como prova do
alegado, a vistoria ocorrida em ação cautelar que tramita junto a
Comarca de Giruá. Alegou, ainda, haver suspeita de que a ré
também esteja intermediando a colocação no mercado de
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sementes ilegais de outros produtores, ensacando-as com seu


nome e vendendo-as como se fossem suas. Postulou,
liminarmente, a vistoria e a inspeção judicial no estabelecimento
da requerida, com a apreensão das sementes protegidas de sua
titularidade intelectual. Postulou, ainda, fosse obtida a cópia do
HD do computador central ou de quaisquer outros dados.
Sucessivamente, pediu para que fossem apreendidas as
sementes protegidas porventura encontradas nos depósitos. Por
fim, requereu a procedência da demanda. Juntou documentos.

Foi deferida a medida liminar apenas para


acolher o pedido de vistoria, com a apreensão da quantidade de
sementes necessárias, verificando estoques, catalogando e
discriminando, na forma do pedido inicial.

Não encontradas as sementes de


titularidade da requerente e tampouco os computadores, o
mandado foi devolvido.

A requerente se manifestou, juntado


documentos a fim de comprovar outras vendas de sementes de
sua titularidade.

Inexitosas as tentativas de citação nos


endereços indicados, foi deferida a citação editalícia.

A requerida contestou, argüindo que


encerrou as suas atividades em 27/01/2005. Segundo ela, a
certidão do Oficial de Justiça indica que a requerida não
comercializa ou produz sementes de propriedade intelectual da
requerente. Pediu a improcedência da demanda, com as
cominações de estilo. Juntou documentos.

Houve réplica.

Instadas as partes acerca das provas a


produzir em ambos os feitos, a requerente manifestou o interesse
pelo julgamento antecipado do feito, enquanto a requerida
permaneceu silente.

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Sobreveio manifestação da requerente.

Foram desentranhados documentos


alheios ao feito.

Pelos mesmos fundamentos expostos na


inicial da ação cautelar, a autora propôs ação cominatória e
indenizatória em face da ré, aduzindo que a demandada deve
indenizá-la pelos prejuízos materiais e morais advindos da
comercialização ilegal de sementes protegidas de sua
titularidade. Requereu a condenação pelo uso e comercialização
de toda e qualquer semente de propriedade da autora. Quanto ao
dano moral, ressaltou o comprometimento do seu nome e de sua
reputação. Invocou a Lei 10.711/2003 e o seu decreto
regulamentador, os quais estabelecem multas administrativas que
chegam a 250% do valor das sementes pirateadas. Citou, ainda,
a Lei do Software (9.609/98) e a Lei dos Direitos Autorais
(9.610/98) que estipulam multa de até 3.000 vezes o valor do
produto pirateado. Salientou que o seu sucesso depende
diretamente do sucesso de seus cultivares no mercado,
ressaltando que o insucesso comercial se traduz em diminuição
de royalties e de novos investimentos em pesquisa. Apontou a
necessidade de concessão de tutela inibitória, com a cominação
de multa em caso de não cessação da pirataria. Requereu a
reparação de natureza civil pelo uso e comercialização indevidos,
mediante a apuração do montante em liquidação de sentença por
artigos. Requereu a reparação de natureza intelectual, mediante
o pagamento de royalties. Postulou a condenação da ré a
indenizar pelos danos morais. Por fim, postulou que a ré fosse
compelida a abster-se de produzir, manipular e comercializar os
seus produtos sem a sua autorização. Pediu a total procedência
da demanda, com as cominações de estilo. Juntou documentos.
Foi deferido o provimento acautelatório,
com a fixação de multa diária.

Diante das inexitosas tentativas de citação


da ré nos endereços fornecidos, foi deferida a citação por edital.

A demandada contestou nos mesmos


moldes da contestação do processo cautelar, reiterando o
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encerramento de suas atividades. Impugnou os pedidos


indenizatórios e os seus valores. Em síntese, afirmou que não
produz e tampouco comercializa sementes de propriedade
intelectual da requerente. Pugnou pela improcedência da
demanda, com as cominações de estilo, juntando documento.

Intimada, a autora não replicou.

Vieram os autos conclusos.

É O RELATÓRIO.
DECIDO.

Os feitos comportam julgamento


antecipado, conforme o disposto no artigo 330, inciso I, do Código
de Processo Civil.

Na ação cominatória e indenizatória, a


autora busca ser ressarcida dos prejuízos advindos da
comercialização ilegal de sementes de sua propriedade, mediante
a apuração do montante em liquidação e o pagamento de
royalties, além dos danos morais e a proibição da ré de produzir,
manipular e comercializar produtos sem a sua autorização.

A requerida, em sua defesa, sustenta que


encerrou as suas atividades em 27/01/2005 e que nunca produziu
ou comercializou sementes de propriedade intelectual da autora.
Disse, ainda, que os supostos danos materiais e morais não
restaram provados, impugnando os valores pretendidos.

Inicialmente, necessário destacar que a


matéria debatida não diz respeito à produção de sementes
transgênicas, mas, sim, aos melhoramentos genéticos advindos
da pesquisa científica por métodos tradicionais, tais como
cruzamento e enxertos.
A controvérsia funda-se na
comercialização ou não das sementes melhoradas pela empresa-
ré, sem autorização e pagamento de royalties à autora. Não há
discussão sobre a propriedade da autora, a qual, inclusive, foi
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comprovada através dos certificados de proteção de cultivar


emitidos pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC
– do Ministério da Agricultura. A proteção sequer foi objeto de
alegação de nulidade (fls. 192/206 da ação de conhecimento).

Pelos referidos certificados, percebe-se que a


autora possui a titularidade da soja CD 201, CD 2002, CD 203,
CD 204, CD 205, CD 206, CD 207, CD 208, CD 209, CD 210, CD
211, CD 215, além do trigo CD 101 e CD 111, do algodão CD
401, CD 402 e CD 407 e do milho OC 705, CD 3121, CD 304, CD
305, CD 306 e CD 307. A certificação como proteção contra a
prática lesiva da comercialização das sementes está prevista no
artigo 2.º da Lei n.º 9.456/97:

“Art. 2.º. A proteção dos direitos relativos à propriedade intelectual


referente a cultivar se efetua mediante concessão de Certificado de
Proteção de Cultivar, considerado bem móvel para todos os efeitos
legais e única forma de proteção de cultivares e de direito que
poderá obstar a livre utilização de plantas ou de partes de
reprodução ou de multiplicação vegetativa, no País.”

O ordenamento jurídico, através da Lei n.º


9.459/97 e do Decreto n.º 2.366/97, institui a proteção de
cultivares1, assegurando ao titular o direito à reprodução
comercial no território brasileiro, ficando vedados a terceiros,
1
IV - cultivar: a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja
claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem mínima de descritores,
por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores
através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo
agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível ao público, bem
como a linhagem componente de híbridos;

V – nova cultivar: a cultivar que não tenha sido oferecida à venda no Brasil há mais de doze
meses em relação à data do pedido de proteção e que, observado o prazo de
comercialização no Brasil, não tenha sido oferecida à venda em outros países, com o
consentimento do obtentor, há mais de seis anos para espécies de árvores e videiras e há
mais de quatro anos para as demais espécies;

VI – cultivar distinta: a cultivar que se distingue claramente de qualquer outra cuja existência
na data do pedido de proteção seja reconhecida;

VII – cultivar homogênea: a cultivar que, utilizada em plantio, em escala comercial,


apresente variabilidade mínima quanto aos descritores que a identifiquem, segundo critérios
estabelecidos pelo órgão competente (SNPC);

VIII – cultivar estável: a cultivar que, reproduzida em escala comercial, mantenha a sua
homogeneidade através de gerações sucessivas;

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durante o prazo de proteção, a produção com fins comerciais, o


oferecimento à venda ou a comercialização, do material de
propagação da cultivar, sem sua autorização2.

O caput do artigo 37 da referida Lei traz


várias ações, as quais, realizadas sem autorização do titular,
geram ao agente a obrigação de indenizar, em valor determinado
em regulamento, além da apreensão do material e o pagamento
de multa equivalente a vinte por cento do valor comercial do
material apreendido.

Vejamos:

“Art. 37. Aquele que vender, oferecer à venda, reproduzir,


importar, exportar, bem como embalar ou armazenar para
esses fins, ou ceder a qualquer título, material de
propagação de cultivar protegida, com denominação
correta ou outra, sem autorização do titular, fica obrigado a
indenizá-lo, em valores a serem determinados em
regulamento, além de ter o material apreendido, assim
como pagará multa equivalente a vinte por cento do valor
comercial do material apreendido, incorrendo, ainda, em
crime de violação dos direitos do melhorista, sem prejuízo
das demais sanções penais cabíveis.”

A Lei n.º 10.711/03, dispondo sobre o


Sistema Nacional de Sementes e Mudas – SNSM, no intuito de
garantir a identidade e a qualidade do material de multiplicação e
de reprodução vegetal, prevê, em seu artigo 43, a aplicação

IX – cultivar essencialmente derivada: a essencialmente derivada de outra cultivar se,


cumulativamente, for:

a) predominantemente derivada de cultivar inicial ou outra cultivar essencialmente


derivada, sem perder a expressão das características essenciais que resultem do
genótipo ou da combinação de genótipos de cultivar da qual derivou, exceto no que diz
respeito às diferenças resultantes da derivação;

b) claramente distinta da cultivar da qual derivou, por margem mínima de descritores, de


acordo com critérios estabelecidos pelo órgão competente;

c) não tenha sido oferecida à venda no Brasil há mais de doze meses em relação à data
do pedido de proteção e que, observado o prazo de comercialização no Brasil, não
tenha sido oferecida à venda em outros países, com o consentimento do obtentor, há
mais de seis anos para espécies de árvores e videiras e há mais de quatro anos para as
demais espécies; (Lei n.º 9.456/97, art. 3.º e Decreto n.º 2.366/97, art. 5.º).
2
Art. 9.º da Lei n.º 9.456/97.
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isolada ou cumulativa de penalidades, dentre as quais: a multa


pecuniária e a apreensão e/ou condenação das sementes ou
mudas.

O parágrafo único do referido dispositivo


legal dispõe que a multa pecuniária será de valor equivalente a
até 250% do valor comercial do produto fiscalizado, quando
incidir sobre a produção, beneficiamento ou comercialização.

No caso dos autos, muito embora a


medida cautelar não tenha obtido êxito, os documentos e as fotos
trazidos aos autos pela autora são suficientes para se concluir
pela prática de comércio desautorizado das sementes de
titularidade da autora pela empresa-ré.

Ainda que tenha a demandada encerrado


as suas atividades em 27/01/2005, a nota fiscal n.º 851, datada
de 01/09/2004, emitida por ela, na descrição dos produtos objeto
de venda, contempla a quantidade de 2.700 sacas de soja
COODETEC 205, corroborando a comercialização da cultivar de
titularidade da autora (fl. 139 dos autos da ação de
conhecimento).

O atestado de garantia de sementes


fiscalizadas CESM/RS, datado em 27/08/2004 e assinado pelo
responsável técnico da empresa requerida, confirma a tese da
autora de que a ré estaria reproduzindo a cultivar protegida. No
documento, o responsável técnico atesta que as sementes de
soja da cultivar COODETEC 205, em número de 7.500, sacos de
40 quilos, foram produzidas sob sua responsabilidade técnica (fl.
142 dos autos da ação de conhecimento).

O Boletim de Análise de Sementes,


elaborado pela FUNDACEP em 23/08/2004, constando como
remetente a requerida, contempla no espaço destinado à
identificação das amostras a cultivar o registro “CD 205”,
evidenciando, mais uma vez, a propagação da cultivar (fl. 143 da
ação de conhecimento).

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Ademais, não se pode ignorar a busca e


apreensão feita no processo n.º 100/1.04.0001219-9 da Comarca
de Giruá. Na diligência junto ao depósito da Cooperativa Tritícola
Agropastoril Giruá Ltda foram encontradas: 7.685 sacas de
semente COODETEC 205; 2.900 sacas de semente COODETEC
201; e 1.231 sacas de semente COODETEC 206. E mais, na
sacaria das sementes apreendidas há indicação da cultivar “soja
CD 205” e do produtor “D. M. Piccoli & Cia. Ltda.”, tornando
visível a reprodução, o acondicionamento e a venda das
sementes protegidas pela empresa-ré (fls. 145 do processo de
conhecimento e 85/97 da cautelar).

Também foi juntada nota fiscal n.º 862,


emitida pela ré em 05/10/2004, demonstrando a venda de 1.000
sacas de soja CD 201 pelo valor de R$ 86.000,00 (fl. 299 dos
autos da ação de conhecimento).

Em 20/10/2004 foi emitida pela ré a nota


fiscal n.º 865, contemplando a venda de 650 sacas de soja CD
201 pelo valor de R$ 50.180,00 (fl. 310 dos autos da ação de
conhecimento).

O contexto probatório faz cair por terra a


alegação da ré de que nunca teria produzido ou comercializado
sementes de propriedade intelectual da requerente. Não resta
qualquer dúvida de que, quando em atividade, a ré
comercializava sementes melhoradas de titularidade da autora,
cuja espécie, por proteção legal, somente poderia ser
reproduzida, vendida ou embalada mediante sua autorização.

Ora, o melhoramento na produtividade e


na qualidade das sementes, com vistas a melhor adaptação aos
climas e solos e maior resistência ao ataque de pragas, demanda
anos de dedicação à pesquisa científica e pesados investimentos
econômicos.

A Lei n.º 9.456/97 prevê a multiplicação e


a comercialização das cultivares protegidas por outras empresas
sementeiras, o que é feito através do pagamento de royalties,
com a simples autorização para comercializar ou com a
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realização de contrato de know-how3. Contudo, é política interna


da empresa autora o licenciamento dos produtores e não a
comercialização direta de suas sementes. Diante disso, por óbvio,
o sucesso de seus cultivares está diretamente ligado ao seu
lucro. Em contrapartida, o insucesso das sementes acarreta
inevitável insucesso comercial do produto.

Não se mostra razoável e justo que


terceiros se sirvam do produto desse esforço, auferindo lucros,
sem autorização e não indenizem a titular das cultivares.

Com efeito, plausível a pretensão da


autora, escudada na legislação pertinente, de pretender
indenização material pelo uso e comercialização indevidos dos
cultivares de sua propriedade na época em que a ré desenvolvia
essa atividade.

A demandante não demonstrou qualquer


desembolso de valores (dano emergente). Entretanto, comprovou
a frustração da expectativa de mercado e os parâmetros
utilizados para se chegar ao valor pleiteado (lucro cessante).

A lesão ao patrimônio da vítima do ato


ilícito deve ser de todo apreciável e suscetível de avaliação
pecuniária. Há prova nesse sentido.

Senão vejamos.

Com relação à nota fiscal n.º 851, emitida


pela ré em 01/09/2004, foram vendidas 2.700 sacas de soja CD
205, ou seja, 108 mil quilos, pelo preço de R$ 140.400,00.
Considerando a margem de lucro média da autora na venda aos
seus licenciados, impositiva é a indenização em 35% sobre o
faturamento bruto da ré nessa negociação (fl. 139 da ação de
conhecimento).

3
Transferência de uma pessoa a outra de certos conhecimentos ou certas técnicas que
podem ser aplicadas ou podem dar lugar à criação de produtos de maneira vantajosa para
quem aplica esses conhecimentos e essas técnicas (Fran Martins, Contratos e obrigações
comerciais, 1997, p. 600).
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Tal indenização também deve atingir as


sementes vendidas à Cooperativa Tritícola Agropastoril Giruá
Ltda., na quantidade de 7.685 sacas de semente COODETEC
205, 2.900 sacas de semente COODETEC 201 e 1.231 sacas de
semente COODETEC 206. Tendo em vista a margem de lucro
média da autora na venda aos seus licenciados, impõe-se a
indenização em 35% do faturamento bruto da ré na negociação
dessas sementes (fls. 145 do processo de conhecimento e 85/97
da cautelar).

Também merece a mesma sorte a venda


de 1.000 sacas de soja CD 201, pelo valor de R$ 86.000,00, nos
temos da nota fiscal n.º 862 emitida em 05/10/2004. A autora
deve ser indenizada em 35% do faturamento bruto da ré sobre
essa negociação, já que este é o percentual de lucro médio da
autora na venda aos seus licenciados (fl. 299 dos autos da ação
de conhecimento).

O mesmo deve ocorrer com a venda


concretizada através da nota fiscal n.º 865 de 20/10/2004. Sobre
a venda de 650 sacas de soja CD 201, pelo valor de R$
50.180,00, deverão ser indenizados 35% do faturamento bruto,
tendo em vista a margem de lucro média da autora na venda aos
seus licenciados (fl. 310 dos autos da ação de conhecimento).

Portanto, a prova dos autos é suficiente


para reconhecer a violação dos direitos da autora e o seu direito à
remuneração pelo uso das cultivares por ela desenvolvidas,
mediante indenização pelo não-pagamento de royalties. A
pretensão tem amparo inclusive na vedação ao enriquecimento
sem causa, posto que se a empresa-ré tirou proveito das
sementes desenvolvidas pela autora, têm obrigação de
indenizá-la, ainda que não houvesse qualquer previsão no
ordenamento jurídico pátrio.

A tanto fica limitada a indenização.

Os valores resultantes da aplicação


desses percentuais deverão ser corrigidos monetariamente pelo
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IGP-M desde o ajuizamento da ação e acrescidos de juros legais


de 12% ao ano a partir da citação.

Outros prejuízos a título de dano material


não foram comprovados e, por isso, não podem ser presumidos.

Por outro lado, no tocante ao pedido de


danos morais, entendo que não assiste razão à autora.

Ampara-se o pedido no argumento de que


a ré, ao reproduzir, manipular e comercializar indevidamente
sementes melhoradas pela autora, acabou por constituir um ato
ilícito que teria afetado o seu bom nome comercial.

Com efeito, o dano moral da pessoa


jurídica é questão pacificada pela Súmula 227 do STJ. No
entanto, em se tratando de pessoa jurídica, necessária a prova da
ofensa à honra objetiva da empresa, consubstanciada no abalo à
reputação e ao prestígio de que goza perante a sociedade.

In casu, tal prejuízo não restou


comprovado. Não se ignora que o motivo narrado possa acarretar
um pedido de ressarcimento nesses termos. Contudo, no caso
concreto, não há elementos a ensejar a pleiteada indenização.

Nesse sentido:

INDENIZAÇÃO. CONTRAFAÇÃO. DANOS MORAIS.


PESSOA JURÍDICA. AUSÊNCIA DE DANO A
IMAGEM.
Inobstante seja reconhecida a possibilidade da
pessoa jurídica vir a sofrer danos morais, uma vez
atingida sua honra objetiva, não se formaliza a
agressão tão-somente pela comercialização de
produtos contrafeitos, exigindo prova do real
prejuízo a imagem e reputação. Empresa
demandante que não detém a marca, mas sim
licença para importação e comercialização. Apelo
da ré provido, e na extensão do apelo, para excluir
da sentença a condenação pelo dano moral.

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(Apelação Cível nº 70002321982, 10ª Câmara Cível


do TJRS, Rel. Des. Paulo Antônio Kretzmann j.
20.12.2001).

Finalizando, considerando que a liminar


concedida cautelarmente não obteve êxito, em função da não
localização das sementes e dos computadores,
esvaziou-se o objeto do pedido. Desapareceu, então, o interesse
na demanda.

Quando se esvazia o objeto do pleito,


surge o problema de definir a atribuição dos pagamentos das
custas processuais e dos honorários periciais e advocatícios.
Nesse caso, a solução deve advir do exame de aspecto da
questão de fundo, carregando-se parte que deu causa à
demanda, conforme a lição de Antônio Celso Camargo Ferraz,
"Processo" in "Justitia" 98/247-8 e 97/338-340. Vale dizer,
perquirindo-se a parte que deu causa à demanda.

Pois bem, no caso dos autos, razoável


interpretar-se que deve a requerida arcar com os ônus
sucumbenciais. Isso porque a autora foi obrigada a vir em juízo
para assegurar um maior número de provas a embasar o pedido
indenizatório.

Destarte, é de ser extinto o feito cautelar


em face da perda do objeto.

DIANTE DO EXPOSTO:

A) com fulcro no artigo 267, inciso VI, do


Código de Processo Civil, julgo EXTINTO o pedido cautelar, sem
resolução de mérito (processo n.º 021/1.05.0033124-8), por falta
de objeto.

Condeno a requerida ao pagamento das


custas processuais, bem como dos honorários periciais (fl. 253
dos autos da cautelar) e advocatícios, estes fixados em 15%
sobre o valor da causa, nos termos do artigo 20, § 4.º, do Código

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de Processo Civil, tendo em conta o trabalho desenvolvido e a


natureza da causa.

B) com fulcro no artigo 269, inciso I, do


Código de Processo Civil, julgo PARCIALMENTE
PROCEDENTES os pedidos formulados na ação n.º
021/1.05.0033367-4, pela COODETEC – COOPERATIVA
CENTRAL DE PESQUISA AGRÍCOLA em face de D. M. PICCOLI
& CIA. LTDA., para: a) determinar que a requerida se abstenha
definitivamente de produzir, manipular e comercializar sementes
de cultivares de titularidade da autora sem a sua autorização;
b) condenar a demandada ao pagamento de 35% (trinta e cinco
por cento) – margem de lucro médio - sobre o faturamento bruto
da ré nas comercializações registradas nas notas fiscais de n.ºs
851, 862 e 865, bem como na operação de venda das sementes
que foram objeto de busca e apreensão, a título de perdas e
danos e royalties não pagos, valores a serem corrigidos
monetariamente pelo IGP-M desde o ajuizamento da ação e
acrescido de juros legais de 12% ao ano a partir da citação (fls.
139, 145, 299 e 310 da ação de conhecimento e 85/97 da
cautelar), tudo a ser apurado em liquidação de sentença.

Tendo em vista a sucumbência recíproca,


conforme o artigo 21 do Código de Processo Civil, as custas
processuais ficam distribuídas na proporção de 70% para a
demandada e 30% para a demandante.

Ainda, condeno a ré ao pagamento de


honorários ao procurador da autora, fixados em 15% sobre o
valor da condenação. Por outro lado, condeno a autora ao
pagamento dos honorários advocatícios ao patrono da ré em 10%
sobre a diferença entre o valor atribuído à causa e a condenação,
admitida a compensação (Súmula 306 do STJ).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.


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Passo Fundo, em 04 de junho de 2007.

CINTIA DOSSIN BIGOLIN


Juíza de Direito

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