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FOTOEXPRESSA

DANDARAS

textos de referência
fotografias
inspiradas
nos versos
FOTO de Dandaras
da poesia

EXPRESSA
DANDARAS
fotografia de: Luana | Gabriella | Daiane

GENI GUIMARÃES
- Minha Mãe

gosto da inocência dela:


benze crianças,
faz simpatias,
reza sorrindo,
chora rezando.
gosto da inocência dela:
apanha rosas,
poda os espinhos,
coloca nas mãos,
de meninos branquinhos.
gosto da inocência dela:
conta histórias longas,
de negros perdidos,
nas matas cerradas,
dos chãos do país.
ama a todo o mundo,
diz que a ida à lua,
é conto de fada.
gosto da inocência dela:
crê na independência,
e é tanta a inocência,
que até hoje ela pensa,
que acabou a escravidão. …
inocência dela…
fotografias de: Agata | Beatriz | Kayque

RYANE LEÃO
se sou raio,
que eu saiba iluminar
a minha estrada
nesse breu
que eu saiba golpear
mesmo no escuro
me emprestem a retina
de minhas ancestrais
que enxergaram fé
quando tudo era medo

se carrego relâmpagos
nas veias,
que eu saiba
que o que corre em mim
tem brilho
tem jeito
tem potência
eu sou capaz de fazer
a terra tremer

se sou vento,
que eu passe pelos vãos
dos seus dedos
que nada possa
me segurar
me limitar
me fazer
menos presente
vendaval não pede licença
pra escancarar as janelas
ou o coração
se sou brisa leve,
que eu saiba me dividir
com aqueles que sorriem
ao me ver existindo
que eu saiba sustentar o amor
dentro do peito
dentro do abraço de quem me diz
que resistiremos
que lutaremos
que seremos
assim seja

se sou furacão,
então eu posso destruir
antes de ser destruída
e se preciso for
tiro absolutamente tudo do lugar
e defino como vai ser a partir
de agora

se sou sagrada,
que eu me benza com folhas
e búzios e velas e mãos
entrelaçadas
quando dizem eparrei
a força que me invade
não me permite
o silêncio
se sou nuvem carregada,
que eu me despeje e desague
e que mesmo que eu termine
chuva de granizo
nasci oceano
sou mais inconstante que o mundo
sou onde tudo começa e termina
sou a história que eu quiser contar
sou revide antes mesmo que
alguém
tente me atacar
sou estrondo de trovão
meus pés descalços tocam o chão
estremeço
mas sou profunda demais
pra acabar.
meu cacto coração eu inundo
é proteção poças d’água
fotografias de: Gabriel G. | Lucas
pra me manter intacta abaixo dos olhos
olheiras açudes
crio cortes profundos
LUZ RIBEIRO tentativa inválida
em mim
- sobre um domingo em manutenção em outrem
no fundo
pareço forte dentro
é tudo água não há merthiolate que cure
mas coleciono uma nova dor só faz arder
por dia que teima em transbordar
:lágrimas minha dor não estanca
há cicatrizes que se reconhecem
saram
há cicatrizes que se reproduzem
ferem

às vezes
minha pele negra
reconhecida pela dor
se acomoda
e suspeita que sofrer
seja condição

às vezes
a sua pele preta
tão acostumada com a dor
quer não doer
e torna tom grave
e espanca a própria cor

às vezes
a nossa pele preta
tão condicionada a ser só
abaixa a voz
e na solidão por vezes
descobrimos a multidão que somos

mas eu tempestuosa
tardo e fardo s
ou concretude
não não não
sou concreta
querendo planar
mas tenho
:asa quebrada
:sensações pesadas
finco no chão

o que paira é a desesperança


de eu ter alagado tanto
e não poder entrar em mim
Fotografias de: Carol | Raiane | Tais | Sara | Maria Eduarda

GESSICA BORGES
- Xodó

Você
De perto
Embaçado
Seu rosto
Desfoque
Colado
Do lado
Dedos Trançados
De longe
Só quero
Você.
fotografias de: Sara | Assaliah | Cauã | Jonathan | Matheus | Hugo

ESMERALDA RIBEIRO
- Ensinamentos

Ser invisível quando não se quer ser é ser mágico nato.


Não se ensina, não se pratica, mas se aprende.
no primeiro dia de aula aprende-se que é uma ciência exata.

O invisível exercita o ser “zero à esquerda”


o invisível não exercita a cidadania
as aulas de emprego, casa e comida
são excluídas do currículo da vida.

Ser invisível quando não se quer ser


é ser um fantasma que não assusta ninguém.
quando se é invisível sem querer ninguém conta até dez
ninguém tapa ou fecha os olhos
a brincadeira agora é outra os outros brincam de não nos ver.

Saiba que nos tornamos invisíveis sem truques, sem mágicas.

Ser invisível é uma ciência exata.


mas o invisível é visto no mundo financeiro
é visto para apanhar da polícia
é visto na época das eleições
é visto para acertar as contas com o Leão
para pagar prestações e mais prestações.

É tanto zero à esquerda que o invisível


na levada da vida soma-se
a outros lantos zero à esquerda
para assim construir-se humano.
fotografias de: Gabrielle | Raphael | Tamires |
Jennifer | Geovana | Jonatas

LUZ RIBEIRO
começo essa poesia
como quem quer findar

acabar com essa sensação


de não ser vista d
e não ser ouvida
de não ser

começo essa poesia


pelo meu fim
que seria ponto
meu

uma poesia que quer mais que like


quer atenção
quer jantar, junto
quer olhar

eu ando tão cansada


dessa mudança
de mudar de município
de mudar o peito de lugar
de mudar o olhar
e mudar, mudar, mudar
e por vezes
emu
d
e
c
e
r
eu não durmo
eu sonho muito
não tenho tempo
nem tato
nem planejamento
pra tanto sonho
Já sonhei mais
.
findo esse poema
sonhando recomeços
fotografias de: Jean | Ederson
O que os livros escondem,
CONCEIÇÃO EVARISTO as palavras ditas libertam.
- Do velho ao jovem E não há quem ponha
um ponto final na história
Na face do velho
as rugas são letras, Infinitas são as personagens…
palavras escritas na carne, Vovó Kalinda, Tia Mambene,
abecedário do viver. Primo Sendó, Ya Tapuli,
Menina Meká, Menino Kambi,
Na face do jovem Neide do Brás, Cíntia da Lapa,
o frescor da pele Piter do Estácio, Cris de Acari,
e o brilho dos olhos Mabel do Pelô, Sil de Manaíra,
são dúvidas. E também de Santana e de Belô
e mais e mais, outras e outros…
Nas mãos entrelaçadas
de ambos, Nos olhos do jovem
o velho tempo também o brilho de muitas histórias.
funde-se ao novo, e não há quem ponha um ponto final
e as falas silenciadas no rap
explodem. É preciso eternizar as palavras
da liberdade ainda e agora…
Fotografias produzidas pelos estudantes da
EMEF Luiz David Sobrinho, inspiradas em
poesias de Conceição Evaristo, Luz Ribeiro,
Géssica Borges, Ryane Leão, Geni Guimarães e
Esmeralda Ribeiro, durante a Semana Dandara
de Consciência Negra (2018), na oficina
FotoExpressa: Dandaras, coordenada por
Mauricio Virgulino Silva.

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