Palestra do Prof. Paulo Modesto no XVIII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo (15 de setembro de 2004)sobre Direito de Greve dos Servidores Públicos.
Palestra do Prof. Paulo Modesto no XVIII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo (15 de setembro de 2004)sobre Direito de Greve dos Servidores Públicos.
Palestra do Prof. Paulo Modesto no XVIII Congresso Brasileiro de Direito Administrativo (15 de setembro de 2004)sobre Direito de Greve dos Servidores Públicos.
Constituição Federal Posição do STF no Mandado de Injunção 20-DF e Efeitos Jurídicos da Omissão Inconstitucional (MI 107, 232 e 283) Efeitos Jurídicos de Greves Deflagradas pelos Servidores Conclusão Conteúdo e Eficácia do art. 37, VII, Constituição Federal Questões do primeiro tópico: Em que termos a CF distingue a disciplina da greve dos trabalhadores em geral (art. 9º.) e a greve dos servidores públicos (art. 37, VII)? A lei referida no art. 37, VII, da CF, é lei nacional ou expedida por cada ente da Federação? Qual o sentido da voz “servidores” no art. 37, VII? Diferenciação normativa do direito de greve na CF GREVE DE TRABALHADORES GREVE DE SERVIDORES
Trabalhadores definem Exercício do direito
oportunidade e interesses que definido nos termos e nos devem defender por meio de limites de lei específica greve Lei: especificará Lei define serviços e quando cabe atividades essenciais, (oportunidade) dispondo sobre atendimento de necessidades inadiáveis como cabe Lei: limita negativamente o (condições) exercício, informa a extensão quanto cabe do exercício legítimo (define (extensão do hipóteses de abusividade da exercício legítimo) greve) – Lei 7.783, 28/06/89 Direito não auto-aplicável, Direito auto-aplicável salvo proibição à greve de (eficácia de aplicação plena) militar (art. 142, §3º, IV). Greve de Trabalhadores em Geral (Lei 7.783/89) Greve legítima: suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador, com observância dos limites da lei Exige dos empregados (a) notificação prévia do empregador (48 horas, atividades comuns; 72 horas, nos serviços ou atividades essenciais), (b) assembléia de trabalhadores, (c) definição de comissão de negociação; (d) manutenção de serviços indispensáveis à coletividade nas atividades essenciais Proíbe as empresas de (a) constrangerem empregados a comparecerem ao trabalho ou limitarem divulgação da greve; (b) rescindirem contratos ou contratarem trabalhadores substitutos, salvo falta de acordo para manutenção mínima de serviços ou decisão sobre abusividade da greve Serviços/atividades essenciais, referentes à sobrevivência, saúde e segurança: tratamento/abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; assistência médica e hospitalar; distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; serviços funerários; transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; serviços de telecomunicações; guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; processamento de dados ligados a serviços essenciais; controle de tráfego aéreo; compensação bancária. Quem legisla sobre greve dos servidores públicos Lei ordinária de cada ente da Federação definirá termos e limites do exercício do direito de greve dos servidores públicos Lei federal n. 7.783/89 é lei expedida pela União porque é monopólio da União legislar sobre direito do trabalho A disciplina de greve de servidores públicos é matéria de direito administrativo Alcance do signo “servidores” no art. 37, VII, da CF Art. 37, VII, aplica-se aos agentes públicos estatutários e empregados públicos Não se aplica aos empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista (art. 173, §1º, II, CF) Não se aplica aos trabalhadores terceirizados Não se aplica aos trabalhadores de concessionárias e permissionárias de serviço público Não se aplica aos militares Posição do STF no MI 20 (Rel. CELSO DE MELLO, DJU 22/11/1996) sobre art. 37, VII STF restringiu direito de greve de que cuida o art. 37, VII, aos servidores públicos civis Considerou art. 37, VII, norma de eficácia meramente limitada, insuficiente para justificar possibilidade de imediato exercício do direito de greve Considerou que a Lei exigida pelo dispositivo constituía requisito de aplicabilidade e de operatividade do direito de greve dos servidores, declarando a impossibilidade do exercício do direito antes da edição da lei reguladora (à época, lei complementar) Reconheceu o estado de mora inconstitucional do Congresso Nacional na matéria Reconheceu a admissibilidade do mandado de injunção coletivo e exortou o congresso a legislar Efeitos Jurídicos da Omissão Inconstitucional (MI 107, 232 e 283) STF, MI 107, de 23/11/89, Rel. Moreira Alves - Mandado de injunção foi considerado instrumento auto-aplicável de declaração concreta e inter partes de inconstitucionalidade por omissão - Tribunal apenas declarou a mora, notificou o poder legisferante, mas reconheceu possuir a faculdade de determinar a suspensão de processos administrativos e judiciais, de que pudesse advir dano ao impetrante em razão da inércia inconstitucional STF, MI 232, de 02/08/91, Rel. Moreira Alves - Tribunal declarou a mora e fixou prazo de 6 meses para atendimento da ordem de legislar - Determinou que, vencido o prazo sem a edição da lei, o requerente poderia gozar da imunidade postulada (art. 195, §7º) STF, MI 283, de 14/11/91, Rel. Sepúlveda Pertence - Tribunal declarou mora e fixou prazo de 60 dias para edição da norma relativa a reparação econômica dos agentes tolhidos de atividades profissionais durante o regime militar (art. 8º, §3º, ADCT) - Declarou que, vencido o prazo, a lei requerida deixaria de ser obstáculo à fruição do direito, podendo o impetrante requerer judicialmente a reparação prevista na Constituição, por ser o Estado o sujeito passivo do direito obstado e o responsável pela mora inconstitucional - Declarou ainda que, após a decisão indenizatória, a superveniência de lei não prejudicaria a coisa julgada e viabilizaria a fruição de benefícios mais favoráveis Posicionamentos doutrinários sobre aplicabilidade do art. 37, VII, CF NORMA DE EFICÁCIA NORMA DE EFICÁCIA CONTIDA (CONTÍVEL) LIMITADA Celso Antônio Bandeira de Mello, José Afonso da Silva, Octavio Bueno Magno, Lúcia Valle Celso Bastos, Maria Figueiredo (entre outros) Sylvia Zanella di Pietro Enquanto não há a lei o direito de (entre outros) greve dos servidores pode ser exercido Lei complementar (até a) de forma ilimitada (Antônio Álvares EC 19/98) ou lei da Silva); ordinária específica b) nos termos dos demais trabalhadores (após EC 19/98): (Octavio Bueno Magno) requisito sem o qual é c) segundo critérios de razoabilidade, inviável o exercício do sem deixar desatendidas necessidades direito de greve inadiáveis da coletividade (Celso Greve de servidores Antônio Bandeira de Mello) antes da expedição da d) desde que guarde compatibilidade com necessidades do serviço público lei é ato ilegal por falta (Lúcia Valle Figueiredo) de “escoro jurídico” Entendimento pessoal adotado sobre aplicabilidade ao art. 37, VII - Norma de eficácia de aplicação limitada, cuja lacuna normativa deve ser suprida pelo recurso à analogia, por exigência: - do princípio da igualdade - da continuidade dos serviços públicos - do princípio da máxima efetividade da Constituição - Norma de eficácia de aplicação limitada, mas de eficácia de vinculação plena (Modesto, Paulo, RDP 99): - revogou todas as disposições que definiam a greve como ato ilícito, inclusive para fins disciplinares; - vedou a dispensa ou suspensão com fundamento exclusivo no exercício da greve, salvo abuso (Adilson Dallari) (Súmula 316) - caracterizou a greve como liberdade jurídica, sujeita a regras de responsabilidade Efeitos Jurídicos de Greves Deflagradas pelos Servidores (1) a) Efeitos para servidores - legitimidade do desconto dos dias parados, salvo compensação; - suspensão da contagem do estágio probatório; - suspensão do cômputo de tempo de serviço. b) Efeitos para usuários - suspensão de prazos processuais; - liberação de mercadorias sujeitas a perecimento (conflito do direito do importador e direito do consumidor a análise fito-sanitária) - renovação de licença médica; - direito de obter certidão ou prorrogar validade de certidão; Efeitos Jurídicos de Greves Deflagradas pelos Servidores (2) a) Efeitos para o Estado - responsabilidade por danos produzidos diretamente em razão de movimento paredista; - utilização de servidores públicos federais em caráter emergencial e provisório (lei 10.277, 10/09/2001), mediante convênio; b) Efeitos para os sindicatos - eventual condenação por abusividade de greve determinada em multa diária; - exigência de manutenção da prestação dos serviços indispensáveis. - Conclusão Inaceitável continuar a considerar greve de servidor ato ilícito em razão da inércia inconstitucional do poder legiferante; Inaceitável manter estado de anomia na matéria, assegurando- se ao servidor o direito de greve em termos ilimitados (até a edição da norma reguladora) Inaceitável recusar à greve a qualidade de liberdade jurídica, faculdade constitucional, sobretudo após EC 19/1998 haver substituído a exigência de lei complementar por lei ordinária específica Exigência de lei ordinária específica não inviabiliza a aplicação analógica da legislação geral de greve, em cada unidade da Federação, para regular a matéria em estado de lacuna Aplicação analógica prestigia o princípio da igualdade e também o princípio da continuidade do serviço público: defende o usuário, impõe limites ao Estado e responsabiliza sindicatos por abusos eventuais no exercício do direito de greve.