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Quando olhamos para trás, para os acontecimentos que nos marcaram ao longo da nossa
vida, quais são os que nos vêm à mente? O primeiro beijo? O falecimento de um
familiar querido? A nossa estreia, mais ou menos atribulada, na escola? O dia do nosso
casamento? O nascimento do nosso primeiro filho? As possibilidades são múltiplas.
Quantos destes acontecimentos marcantes tiveram lugar durante a adolescência?
Provavelmente apenas uma minoria deles.
Mesmo que, na maioria dos casos, estas mudanças sejam acompanhadas por diferentes
formas de o indivíduo se relacionar com os outros, em particular com os pais e com a
família, de olhar para o mundo, nomeadamente pelo acesso ao raciocínio abstracto e de
um interesse crescente pela sexualidade, o certo é que nem em todos os casos isto
acontece e encontramos muitos ditos ―adolescentes‖ cujo funcionamento é francamente
infantil, por vezes até aos 16-18 anos, para não dizer mais tarde.
Existe até quem fale da geração canguru, ou seja, aquela que vai permanecendo na
protecção e conforto da bolsa materna, diga-se de passagem muitas vezes com o
incentivo implícito ou explícito dos próprios pais, até bastante tarde, em particular se
comparado com o que acontecia em gerações anteriores.
Assim, acontecimentos que poderiam ser indicadores de uma maior autonomização das
figuras parentais e que se poderiam constituir como momentos-chave de entrada na vida
adulta (rituais de passagem, se se quiser), como é o caso da maioridade legal (e com ela
a possibilidade de votar e de tirar a carta), do cumprimento do serviço militar, do início
de uma vida profissional activa, ou até mesmo do ter filhos, acabam, nos dias de hoje
por não pôr um ponto final à adolescência.
Outros factores também põem em causa algumas das ideias que vigoram tanto no
discurso científico quanto no senso comum sobre a adolescência. Referimo-nos em
particular à ideia de que este é um período marcado pela instabilidade, pelos conflitos e
pelo sofrimento. Esta é uma herança que nos chega em grande parte de Stanley Hall
(1844-1924), psicólogo norte-americano que dedicou uma parte importante do seu
trabalho ao estudo da adolescência.
Ainda que, por esse mesmo motivo tenha tido fulcral importância no colocar o enfoque
sobre a mesma, a sua perspectiva sobre o adolescente não era das mais positivas. De
acordo com Hall, durante este período ocorre como que uma recapitulação das fases de
desenvolvimento da humanidade, começando com a barbárie, entre os 7 e os 13 anos,
em que o indivíduo não teria posse de funções mentais superiores tais como razão, a
moral ou o amor. O progresso ao longo do desenvolvimento permitiria ao indivíduo o
alcançar de estadios superiores do desenvolvimento humano. Assim, a adolescência
seria caracterizada pela instabilidade - sturm und drang (tensão e agitação) - devido ao
facto de recapitular um período histórico de transformações rápidas e caóticas ligadas ao
processo civilizacional (Sprinthall & Collins, 1988).
Apesar de muito criticadas na sua época e agora já ultrapassado muitas das suas ideias,
chega-nos como uma forte herança de Hall a ideia da adolescência como um momento
particularmente problemático do desenvolvimento. Porém, o que os estudos nos
demonstram, é que durante o período de vida que decorre aproximadamente entre os 10
e os 21 anos, apenas uma minoria (entre 10 e 20%) sofre de distúrbios psicológicos ou
desenvolvimentais graves. O consumo de drogas duras, por exemplo, apesar de chegar à
opinião pública com contornos de uma pandemia entre os jovens, ocorre apenas em
menos de 2% dos adolescentes portugueses (Matos et al, 2003). Da mesma forma,
problemáticas como sejam as relacionadas com o comportamento alimentar (anorexia e
bulimia), com a depressão e o suicídio, são característicos de apenas uma minoria dos
adolescentes.
Quais é que são, então, as grandes conclusões que daqui podemos retirar? Uma delas
será que a ideia de crise desenvolvimental, ou seja, a conceptualização de momentos da
vida em que, tipicamente, todos os indivíduos passam por determinado tipo de
problemas (e aqui falamos de adolescência, mas também da meia-idade, da entrada para
a escola, entre outras) é altamente questionável. Ainda que Erikson, um dos pais deste
conceito, o tenha descrito como um momento de crescimento potencialmente positivo, o
certo é que com ele se presume sempre uma standardização no funcionamento
psicossocial dos seres humanos, o que os padroniza e lhes retira assim a sua
especificidade individual que os torna seres únicos e especiais.
Referências bibliográficas:
Matos, M. E equipa do Projecto Aventura Social & Saúde (2003). A saúde dos
adolescentes portugueses (Quatro anos depois). Lisboa: Ed. FMH.
Sprinthall, N.A. & Collins, W.A. (1999). Psicologia do adolescente. Uma abordagem
desenvolvimentalista. 2.ª Edição (Edição original de 1988). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
Adolescentes e homossexualidade
Os porquês da discriminação
Não se trata portanto de dizer paternalisticamente que "o que cada um faz é da sua conta" e
que "temos que ser tolerantes", mas francamente, de muito mais: o de entender que a
sociedade é composta por indivíduos diferentes, na cor, no tamanho, nas capacidades, na
orientações sexuais e nas opções e estilos de vida. E se os determinantes dessas diferenças são
genéticos, ambientais ou um misto dos dois, dependerá muito do tema e do que a ciência
consegue (ou não) adiantar sobre o facto. E consegue muito pouco?
De facto, ainda há não mais do que vinte anos, a homossexualidade era definida como uma
"doença mental" por Academias de Psiquiatria tidas como cientificamente irreprováveis -
afinal provaram que não eram tão irreprováveis como isso? e o que é confrangedor é ver que,
ainda hoje, se assiste a classificações deste tipo.
Cada vez mais se entende que a homossexualidade, como uma das possíveis orientações
sexuais, não é uma questão de escolha, ou seja, não se escolhe ser homo, hetero ou bissexual.
É-se, apenas e tão só, embora permaneçam desconhecidos os determinantes dessa
orientação. O que já pertence ao capítulo das opções pessoais é a forma de comportamento e
os estilos de vida que as pessoas, homossexuais (ou não) adoptam, designadamente o tipo de
experimentação sexual e o viver (ou não) uma vida com relações homossexuais assumidas. Por
outro lado, é bom que fique claro que as experiências homossexuais, masculinas e femininas,
durante a adolescência, não são, para a larga maioria dos jovens, um factor predictivo da sua
orientação futura.
No que se refere à prevalência desta situação, embora alguns relatórios tenham indicado
estimativas, em adultos, de cerca de 4% para os homens e 2% para as mulheres, desconhece-
se a taxa na adolescência e estas prevalências variam enormemente de região para região e de
comunidade para comunidade, muito dependente do grau de aceitação social e até político.
A família e a sociedade
Não é apenas a nível da sociedade que um adolescente homossexual encontra problemas, pelo
contrário. A nível da família e do grupo de amigos as atitudes hostis e de incompreensão, ou
de humilhação e até agressividade podem ser a regra. O desprezo a que podem ser votados
leva, muitas vezes, a sofrerem assédios, ataques e outros tipos de situações, desde
"partidinhas dos colegas" e brincadeiras de mau gosto até violência inter-pares. Por outro
lado, a estigmatização e os preconceitos podem impedir uma socialização completa, com
repercussões no desenvolvimento (a todos os níveis), na escolaridade e no sucesso educativo,
e na integração laboral, conduzindo a maior secretismo e exclusão. Não são raros os empregos
onde os homossexuais têm que esconder as suas opções afectivas mas, por outro lado,
"aguentar" todas as anedotas e piadas relativas às pessoas que se sentem atraídas por outra
do mesmo sexo. Todos estes factores levam a que os homossexuais, principalmente os
masculinos, sejam mais facilmente "conduzidos" para estilos de vida e opções de maior risco,
marginalização e, no fundo, menor realização pessoal, profissional e falhas no seu bem-estar.
Os pais, por outro lado, sentem-se quase sempre frustrados e muitos "nem querem ouvir falar
do assunto", fechando as portas ao diálogo e recusando aos filhos adolescentes direitos
fundamentais: o da partilha dos seus problemas e o de poderem assumir a sua orientação sem
serem por isso penalizados ou até mesmo expulsos do lar. É por isso que é necessário
desdramatizar o assunto e falar abertamente nele - afinal, há tão pouco tempo uma coisa tão
diferente e tão menor como uma criança ter piolhos era ainda escondida e geradora de
vergonha nas famílias?
Temos que evoluír para uma cidadania plena? É normal na adolescência haver uma certa
"ambiguidade" quanto à orientação sexual, resultante não apenas da necessidade de
experimentação e de condutas de ensaio, como das várias hipóteses afectivas que se colocam
a qualquer jovem. A amizade, por exemplo, pode ser confundida pelo próprio com amor,
sobretudo para quem nunca experimentou certas sensações e sentimentos. O que é
importante é que os jovens não se sintam culpabilizados ou pressionados, e que tenham
acesso às fontes de informação sobre sexualidade, relações sexuais, planeamento familiar,
doenças de transmissão sexual, ou seja, exactamente a mesma informação que todos os
outros jovens.
É, desta forma, natural que o adolescente se sinta invadido por dúvidas. Elas estão
relacionadas com aquilo que se passa no seu corpo nesta fase, com estas transformações
e erupções que o deixam algo perplexo. É compreensível, assim, que ele procure
esclarecer estas dúvidas das formas que puder. É algo que lhe diz respeito, que o
perturba e espanta.
Em todos estes meios nos quais o adolescente procura informação, reina ainda o
silêncio na comunicação. Existe uma procura activa da informação, mas de forma
preferencialmente não interactiva, ou seja, de forma que não implique uma
comunicação com os outros sobre o interesse relativo ao sexo.
No entanto, esta fase informativa faz com que o adolescente tenha já muitos dados,
quando passa a uma outra fase – a fase da procura de informação junto dos outros. E
esta fase surge muito da necessidade de verificar se aquilo que ele sente e se aquilo por
que está a passar é unico, ou se existem outros que tenham a mesma experiência. Não
raras vezes o jovem se questiona sobre a normalidade dos seus sentimentos, já para não
falar das dúvidas sobre as formas do seu corpo.
Falar com os amigos e colegas é uma das formas mais habituais de aquisição de
informação sobre sexualidade junto dos jovens. E é possível perceber porquê. É através
dos amigos que o processo de socialização se efectua, nesta fase da vida. São os amigos
que vão ser investidos na proporção directa de que os pais vão ser desinvestidos. É com
eles que se cria uma intimidade emocional e afectiva que os torna confidentes dos
problemas e angústias. Tornam-se conselheiros por excelência nos momentos difíceis,
depositários dos sonhos e fantasias, dos projectos, bem como das ansiedades. Não é de
estranhar assim que, em diversos estudos efectuados que abordam esta questão, os
amigos surjam entre os principais meios de obtenção de informação em matéria de
sexualidade. Seguem-se alguns desses dados:
54,1% dos homens e 32,8% das mulheres afirmam que os amigos influenciaram, até
um certo ponto, a sua visão da sexualidade (Vasconcelos, 1998).
60,6% dos jovens do Concelho de Loures afirmam que os amigos constituiram fontes
de informação sobre sexualidade, percentagem esta bastante superior à dos que
afirmaram ter obtido esta informação junto dos pais (46,1%) ou de professores (15,5%)
(Machado Pais, 1996).
55,2% dos jovens adultos afirmam ter obtido informação sobre os contraceptivos que
utilizam junto dos amigos, valor este mais uma vez superior ao relativo aos pais
(49,6%) ou aos professores (23,4%) (Nodin, 2001).
O facto de os jovens procurarem informação sobre sexualidade junto dos amigos tem as
suas vantagens e desvantagens. Por um lado, sabe-se que a influência dos amigos se
conta de entre as mais intensas neste periodo do desenvolvimento, acabando, por isso
por ser uma moeda valiosa . As desvantagens prendem-se com o facto de que muitas
vezes os conhecimentos que os jovens têm sobre sexualidade são incorrectos,
fundamentados em crenças deturpadas ou pura e simplesmente falsas.
Também os pais jogam um papel importante nesta procura de informação dos jovens
sobre sexualidade. Relativamente a eles, pode-se dizer que são fontes de informação a
peso de ouro . E por diversos motivos. Para começar, é no contexto da família que os
jovens vão obter de tudo um pouco o essencial que lhes vai valer para a vida. O seu
equilibrio emocional, a sua personalidade, os seus valores, todos são fortemente
influenciados pela convivência e educação dos pais. Desta forma, também em matéria
de sexualidade, o básico vai ser obtido no contexto social que melhor conhecem, ou
seja, a família. Também aqui o não verbal tem um peso particularmente importante. É
mais por aquilo que se presencia e que se observa do comportamento e atitudes dos pais
que as crianças e os adolescentes vão construindo o seu próprio conceito de sexualidade.
Assim, mesmo nas famílias em que não se fala sobre este tema, as questões associadas
aos papéis de género, ou seja, as tarefas que são consideradas como sendo da
responsabilidade dos homens e das mulheres, a expressão dos afectos, de entre muitas
outras questões, são fornecidas logo com o leite materno. Daí que seja quase um lugar
comum dizer que a educação sexual se faz desde o berço e essencialmente pelos pais,
primeiros agentes no processo de transformar a criança em pessoa. O peso de ouro que
os pais adquirem neste processo advém exactamente desta sua função. Até porque não é
necessário que se fale sobre sexualidade em casa para que, logo à partida, os
adolescentes adquiriram toda uma postura face a estas questões que os vai acompanhar
durante toda a sua vida.
Isto não quer dizer que não seja necessário falar de sexualidade em casa. Tal é, não só
importante, como essencial para o à-vontade com que os jovens irão encarar a
sexualidade. Além de que lhes vai abrir as portas para que, de facto e de uma forma
activa, procurem informação junto dos pais quando de tal necessitarem. Esta é a forma
de os pais se transformarem, de facto, em pequenas grandes minas de ouro nas quais os
jovens podem adquirir preciosas informações que lhes são tão caras.
Por último, mas nem por isso menos importantes, vêm os professores. Qual é o preço da
informação que os professores podem dar sobre sexualidade? Qual o valor das suas
atitudes e posturas no decurso das suas aulas e fora delas? Há que não esquecer que uma
parte considerável do tempo dos jovens é passado em contextode sala de aula com os
seus professores e professoras. Assim, se é com os pais que o básico da personalidade e
capacidades dos jovens se vai formar, é com os professores que uma vasta quantidade
de informação pode ser colectada, consolidada e, desta forma, enriquecida a
personalidade dos adolescentes, também no que respeita à sexualidade.
Da mesma forma que com os pais, esta transmissão de conhecimentos e valores não
passa apenas por aquilo que se diz nas salas de aula, mas também por aquilo que se faz.
As atitudes, gestos e posturas dos professores são um veículo de valores, conceitos e
preconceitos sobre questões tão básicas como os papéis de género, o conservadorismo
ou o liberalismo na abordagem da sexualidade. Um exemplo clássico é o do
aparecimento da primeira menstruação a um arapariga na escola e da forma como a
instituião escolar lida com esta situação. É tratada como um acontecimento natural? Ou
como se de uma doença se tratasse? Como algo que deve ser comemorado? Ou ainda
como algo que deve ser mantido em segredo? Além disso, quem é que se encarrega de
falar com a rapariga sobre o sucedido? É o professor em cuja sala se deu a ocorrência,
ou é chamada uma professora de propósito para o efeito? A rapariga é enviada para o
gabinete de enfermagem e depois para casa?
Esta é uma sitação que faz parte do quotidiano da escola e, portanto faz parte do
quotidiano quer dos alunos quer dos professores. Lidar com estas questões é estar já a
fazer educação sexual. É também através da forma como o professor lida com estas
questões que um adolescente se poderá sentir mais confortável em procura-lo para pedir
ajuda para algum problema que tenha – por exemplo uma gravidez não desejada. Aqui
as coisas funcionam um pouco como um fundo de investimento. Se os professores têm a
disponibilidade e o à-vontade para abordar as questões da sexualidade na sala de aula,
então mais facilmente os alunos se lhes irão dirigir com dúvidas nesta área e os
procurarão se necessitarem.
Obviamente que nem sempre é fácil para os próprios professores falar sobre sexualidade
com os alunos, nas aulas ou fora delas. Muitos não tiveram a possibilidade de, ao longo
do seu próprio desenvolvimento, falar com alguém, pai, mãe, professor ou técnico,
sobre estas questões. Tão pouco tiveram formação adequada e específica sobre como
abordar a educação sexual em sala de aula. Isto deixa-os frequentemente numa posição
de insegurança face à abordagem destas questões, mesmo que para tal tenham
motivação .
É importante que o professor seja capaz de reconhecer que existem questões para as
quais não está qualificado para dar resposta. Situações em que não tem o troco
adequado para dar ao aluno que os procura. Isto não diminui o seu papel de educador
mas, pelo contrário, valoriza-o enquanto intermediário entre os problemas dos alunos e
os recursos que os poderão melhor ajudar.
De resto, a introdução da educação sexual nas escolas é uma realidade. De acordo com
as linhas orientadoras para a introdução da educação sexual em meio escolar (Ministério
da Educação et al., 2000), a sexualidade deverá ser abordada de forma transversal aos
currículos escolares. Ou seja, não irá haver uma nova disciplina específica de educação
sexual mas, em cada uma das disciplinas já existentes nos diferentes graus de ensino,
deverão ser abordadas questões relacionadas com a sexualidade articuladas,
obviamente, com os respectivos currículos.
Isto significa que, a curto prazo, a sexualidade será moeda de troca corrente entre
professores e alunos no contexto da escola. Até porque se privilegiam, para os
objectivos propostos, a utilização de metodologias dinâmicas e interactivas, e envolvem
assuntos sobre os quais é suposto que se debatam valores e posições pessoais, dos
alunos, bem como dos professores.
Os jovens de hoje em dia vão ter um privilégio que a grande maioria dos actuais adultos
e jovens adultos não teve durante o seu crescimento e percurso escolar que é o de terem
acesso a uma abordagem sistematizada da sexualidade no contexto da escola,
permitindo-lhes, assim, a possibilidade da integração de informações e valores ao longo
do seu desenvolvimento.
Este é um investimento que sendo feito hoje pode dar grandes lucros no futuro, ao
diminuir o desconhecimento, as falsas crenças, o conselho benevolente mas
tecnicamente incorrecto que, na verdade, só complica em vez de ajudar. Não irá,
certamente, resolver todos os problemas do mundo ou, à nossa escala, do país, mas
poderá, a seu tempo, diminuir alguns dos graves problemas de saúde que afectam os
nossos jovens, dos quais o VIH e a gravidez não planeada são apenas exemplos.
Moedas de troca, pedras preciosas, fundos de investimento e pesos de ouro, são valores
que continuarão, certamente, a fazer parte do quotidiano dos jovens. Preciosos já todos
eles são, cada um à sua maneira. Esperamos que, num futuro que começa agora, possam
passar a ser mais valorizados ainda.
Sentidos e Sensações
Este artigo expressa as teorias apresentadas por vários autores. Como todas as teorias,
também estas são constestáveis.
APAIXONAR-SE
Fase 1: Desejo
O desejo é "alimentado" pelas hormonas testosterona e estrogénio. A testosterona não
existe apenas nos homens e desempenha um papel importante no desejo sexual das
mulheres.
Fase 2: Atracção
Esta é a fase mais "aguda", durante a qual as pessoas envolvidas parecem não ser
capazes de fazer mais nada além de suspirar pelo(a) eleito(a) do seu coração. Os casos
mais graves incluem perda de apetite e insónia.
Nesta fase há um grupo de neurotransmissores que desempenham um papel importante
para induzir o comportamento que a caracteriza. Entre estes estão:
- dopamina
(é também activada pela cocaína e pela nicotina)
- norepinefrina/adrenalina
(acelera o ritmo cardíaco e provoca sudação)
- serotonina
(a sua acção traduz-se em alterações do comportamento)
ATRACÇÃO
Segundo alguns estudiosos, existem alguns factores que nos tornam mais ou menos
atraentes para o sexo oposto.
Simetria perfeita
Pensa-se que, sem nos apercebermos, encaramos a assimetria do rosto como um indício
da existência de problemas genéticos no indivíduo em causa. Assim, muitos estudos
revelaram que os homens parecem sentir-se atraídos pelas mulheres com os rostos mais
simétricos. Nas mulheres essa preferência não é tão acentuada.
A «mulher-ampulheta»
Os homens parecem apresentar uma preferência por mulheres com uma relação anca-
cintura de 0,7. Esta relação pode ser obtida graças à seguinte fórmula: medida da cintura
÷ medida da anca. Esta atracção não parece estar associada ao peso. Há quem estabeleça
uma ligação entre esta relação e a fertilidade da mulher.
E quem diz que os elementos de um casal são frequentemente bastante parecidos não
está assim tão errado, uma vez que (mais uma vez) há estudos que indicam que temos
tendência a procurar um parceiro que tenha algumas características em comum
connosco.
Andropausa
Durante a andropausa regista-se no homem uma descida nos níveis de testoterona
(hormona sexual masculina, segregada pelos testículos), à semelhança do que sucede
com a descida dos níveis de estrogénios (hormonas sexuais femininas produzidas nos
ovários) da mulher durante a menopausa.
No entanto, se na mulher este ciclo é marcado pelo fim da menstruação, no homem não
existe um marco claro que assinale a transição. As mudanças ao nível físico ocorrem
gradualmente e podem ser acompanhadas por mudanças na atitude e na disposição,
fadiga, bem como perda de energia, de desejo sexual e de agilidade física.
Regra geral, os sintomas começam a surgir a partir dos quarenta anos, prolongando-se
nas décadas seguintes, embora seja difícil de estabelecer uma idade para o seu
aparecimento. Refira-se ainda que em cada indivíduo as mudanças podem ser
diferentes (muitos homens não admitem sequer que existem mudanças). Além de os
sintomas serem vagos e de diferirem de homem para homem, os testes que avaliam a
disponibilidade da testosterona são recentes, o que, no passado recente, contribuiu para
que este problema fosse pouco diagnosticado e tratado.
Assédio sexual
O assédio sexual não é uma brincadeira sem consequências e, muito menos, uma
tentativa de aproximação romântica. O assédio é, isso sim, uma forma de agressão que,
além de atentar contra a dignidade da pessoa a quem se dirige, também acaba por minar
a sua própria relação com a função que desempenha na empresa.
E, se reparaste bem, até agora falámos nas vítimas enquanto pessoas, sem definir o seu
género. Isto porque, apesar ser mais comum colocar as mulheres no papel de vítima de
agressão (talvez devido à subserviência que lhes foi atribuída ao longo da História), a
verdade é que também os homens passaram a ser alvo de assédio sexual.
Estranho, não é?... ―Como é que uma mulher consegue assediar sexualmente um
homem?‖. Bom, tens que perceber que ―assédio‖ não é sinónimo de agressão física
(apesar de ser essa a conotação mais forte), mas sim de uma questão de poder abusivo.
Mas o facto é que, apesar da situação descrita, frequentemente as vítimas não chegam a
denunciar o assédio. Fazem-no porque temem ser completamente desacreditadas pelo
assediador e tornar-se alvo de chacota geral. Outros não o fazem por medo ou por não
saber o que fazer ou a quem recorrer nestas circunstâncias.
O facto é que é se torna difícil saber em que ponto é que um piropo (ou outra acção)
ultrapassa os limites legais.
No entanto, mesmo sem existir uma fronteira legal, a vítima de assédio não pode
simplesmente cruzar os braços e aceitar a sua (má) sorte de ―bom‖ grado. A partir do
momento em que não se denuncia um abuso destas proporções, passa-se a ser conivente
com uma situação que, como já dissemos, pode piorar e passar das palavras aos actos
(abuso físico).
Por isso, convém saberes que há atitudes a tomar caso esta situação de assédio se
verifique:
Começar por deixar bem claro que esses avanços te são desagradáveis e que te
recusas a participar.
Arranja provas que não deixem dúvidas sobre o que se está a passar. Grava
conversas, guarda bilhetinhos ou e-mails comprometedores e, se conseguires,
arranja uma testemunha.
Informa o teu sindicato do que se está a passar para que te possa defender. Caso
não sejas sindicalizado(a) faz queixa ao Delegado do Ministério Público do
Tribunal do Trabalho ou da Comarca da tua residência.
Como já percebeste, o assédio sexual é uma situação muito grave, por isso não deixes
que se prolongue. Mesmo que não se passe contigo, se tiveres conhecimento de alguém
que esteja a passar por esse problema, tenta ajudá-lo(a).
Breve estatística
Portugal é dos países da União Europeia o que regista a maior incidência de cancro de
colo do útero: cerca de 17 casos por cada 100 mil habitantes, com 900 novos casos por
ano.
Todos os anos morrem mais de 300 mulheres em Portugal com este tipo de cancro.
O que é
As infecções por Vírus do Papiloma Humano (VPH) são muito comuns - estima-se que
mais de 70% das pessoas com uma vida sexual activa contraiam pelo menos uma
infecção deste tipo. A esmagadora maioria das infecções é controlada pelo nosso
sistema imunitário e é quase inofensiva; mas cerca de 20% das infecções tornam-se
crónicas e podem estar na origem de um cancro, sobretudo se associadas a outros
factores, como os factores genéticos ou os adquiridos, como o tabagismo.
Estima-se que mais de 99% de todos os casos de cancro do colo do útero estejam
associados à infecção por VPH, sendo os subtipos 16 e 18 responsáveis por cerca de
70% destes casos.
A vacina
Em Outubro de 2008 a vacina começou a ser dada a raparigas com 13 anos de idade
(nascidas em 1995). Será realizada uma campanha de "repescagem", entre 2009 e 2011,
vacinando as raparigas que completem 17 anos no ano da campanha (ou seja
abrangendo as mulheres nascidas em 1992, 1993 e 1994).
A partir desses conceitos, foi valorizado um tipo de ?educação? que ao mesmo tempo
mantinha as crianças (e os adolescentes) sem informação e impunha-lhes um padrão que
reprimia determinadas expressões da sexualidade. Visando mantê-las afastadas da curiosidade
sobre os comportamentos sexuais. Os resquícios sociais de tais padrões educacionais
continuam, ainda hoje, em evidncia na angústia que a maioria dos adultos sofre face às
manifestações da sexualidade infantil (Ariès, 1988; Pais, 1987).
No entanto, ao longo do séc. XX assistiu-se a importantes mudanças no que se refere aos
padrões socialmente aceites para as diferentes expressões da sexualidade. Embora, de uma
maneira geral, exista, ainda, um duplo padrão relativamente aos dois sexos, a sexualidade tem
vindo, gradualmente, a ser melhor compreendida, deixando de ser, quase sempre, exercida
sem permissão social e usualmente condenada a clandestinidade (Lopez, 1999).
Grande parte desta mudança foi influenciada pelas ideias de Freud, ao afirmar a existência da
sexualidade na infância, correlacionando-a com as fases de desenvolvimento da criança. As
suas declarações foram muito contestadas pela sociedade da época, que relacionava ainda a
ausência de sexualidade a pureza e a inocência. Nessa concepção, era virtuoso todo aquele
que negasse a satisfação dos seus próprios desejos, especialmente quando a razão não os
autorizava. Freud ousou declarar que todos praticávamos sexo e que ele estava inserido na
natureza humana desde o nascimento, tratando a questão não como um ?pecado?, mas como
causa de sentimentos de culpa e, portanto, de algumas perturbações emocionais (Freud,
1905).
Hoje, admitimos que a sexualidade se manifesta desde o início da vida e que se desenvolve,
acompanhando o desenvolvimento geral do indivíduo e integrada no seu bem-estar
biopsicossocial (Lopez & Fuertes, 1999). Sabemos que, independentemente do ciclo de vida
em que estejamos, somos sexuados e temos manifestações e interesses sexuais. Sabemos,
igualmente, que a sexualidade muda ao longo da vida e que cada idade tem as suas
manifestações próprias, admitindo várias formas de expressão consoante os indivíduos (Félix.
1995).
Se a sexualidade infantil tem muitos aspectos semelhantes à dos adultos (procura de prazer e
de comunicação; conhecimento do seu corpo e do corpo dos outros), tem, no entanto,
características específicas, tais como:
Por último, não será demais realçar que as actividades sexuais das crianças se baseiam em
motivações muito diferentes das dos adultos. O que, na maioria das vezes, as crianças desejam
é imitar os adultos, conhecer o seu corpo e o dos outros. Assim se explicam muitos dos jogos
de conteúdo sexual que se realizam na infância, quer seja o brincar ?aos médicos?, quer aos
?pais e mães?.
Na faixa etária entre os 2 e os 6 anos a actividade sexual é essencialmente lúdica, exploratória
e informativa e assenta no auto-erotismo.
Consulta de Ginecologia
Na primeira consulta, em primeiro lugar, são feitas perguntas de rotina, para que o
médico conheça a história clínica da paciente. Perguntas como: quando surgiu a
primeira menstruação; se o ciclo menstrual é regular; se a menstruação é acompanhada
de dores mais ou menos fortes; se já teve relações sexuais; se utiliza algum método
contraceptivo; se já teve alguma gravidez, bem ou mal sucedida; se existe alguma
doença crónica na sua família, entre outras.
Nas consultas de rotina faz-se o exame ginecológico. Atenção! O exame não dói!
Trata-se, afinal, de um exame ao corpo, neste caso, a uma parte específica. Um dos
aspectos mais importantes deste exame é que a mulher tenha confiança no seu
ginecologista e não lhe esconda nada do que sentiu ou está a sentir durante o exame. Se
for a primeira vez e se sentir mesmo insegura, a jovem pode pedir ao médico que lhe
explique o que vai fazer. Qualquer bom médico o fará sem problemas.
Para fazer o exame, a mulher fica deitada de costas na mesa ginecológica, com os pés
apoiados num suporte e as pernas afastadas.
Durante o exame o médico usa sobretudo as mãos (enluvadas), podendo recorrer a
alguns instrumentos, como o espéculo (para facilitar o acesso e visibilidade na zona
vaginal) ou a espátula (para retirar amostras citológicas). É também feito o toque bi-
manual, exame durante o qual o médico introduz dois dedos na vagina, ao mesmo
tempo que colca a mão sobre o abdómen, a fim de sentir os órgãos genitais (como o
útero) e sentir se há alguma alteração (de posição, por exemplo) significativa a
assinalar.
E, para finalizar, algumas ideias erradas que ainda existem na cabeça de muitas pessoas:
Contracepção de emergência
Regra geral, não se trata de nada de especial; apenas uma pílula contraceptiva "normal",
com uma dosagem diferente da habitual. As pílulas de contracepção de emergência
devem ser tomadas o mais cedo possível (a primeira, o mais tardar, até 72 horas após o
acto sexual sem protecção).
O que fazer?
Como tomar?
A contracepção de emergência faz-se em duas etapas. A primeira toma deve ser feita o
mais cedo possível, até 72 horas após a relação sexual sem protecção. A segunda toma
deve ser feita 12 horas depois da primeira toma.
Meia-hora antes de cada toma, é aconselhável tomar um comprimido para o enjôo (para
prevenir eventuais vómitos).
A tabela seguinte, obtida a partir da página de Internet da Associação para o
Planeamento da Família (APF), revela a forma de aplicar este método recorrendo a
marcas presentes no mercado português. Note-se que já existe no nosso mercado uma
embalagem de quatro pílulas para contracepção de emergência, o Tetragynom).
ATENÇÃO!!!
Se depois de recorrer a este método a mulher desejar ter relações sexuais, é muito
importante que utilize um método de barreira (preservativo ou outro) até ao
aparecimento do período menstrual.
Nota final:
O que torna este método pouco atraente (recordar que se trata de um método de
emergência):
Não protege contra doenças sexualmente transmissíveis, o que inclui a SIDA, entre
outras.
Tem que ser posto em prática muito rapidamente.
Implica ter uma caixa de pílulas "sempre à mão".
Pode provocar efeitos secundários (enjôo e vómitos, p.e.).
Para obter mais informação sobre este ou outros métodos contraceptivos, consultar:
Associação para o Planeamento da Família
Culto do Corpo
Este corpo sexuado é o objecto mais privado que possuímos, sendo, simultaneamente, aquele
através do qual interagimos em sociedade. É através dele que sentimos e “infligimos” a
atracção física, e vivenciamos a beleza. É sem dúvida um objecto de culto, alvo de padrões
culturais de beleza que diferem de cultura para cultura de sexo para sexo e evoluem com o
passar dos anos e das modas. O corpo pode ser também um veículo de uma das nossas
melhores linguagens: a linguagem corporal. Os movimentos e as expressões possuem um
papel vital na manifestação de emoções e sentimentos como a paixão, o desejo ou o amor.
Quer queiramos quer não, a beleza individual, a imagem, o corpo, desempenham um papel
fundamental na escolha do parceiro. O ideal de beleza e o estatuto subjacente sobrepõe-se à
escolha de parceiro com fins reprodutivos. A ideia de beleza interior pode parecer um conceito
muito nobre, mas na realidade é em prol do aspecto físico que fazemos sacrifícios. Pensando
bem, não aproveitamos o nosso pouco tempo livre para lermos as últimas novidades literárias.
Não, vamos ao ginásio, fazemos exercício, aperfeiçoamos o corpo, melhoramos o nosso cartão
de visita.
Desde cedo aprendemos a olhá-lo e a compará-lo. Este é um ritual que começa logo na
infância quando descobrimos as diferenças entre “meninos e meninas”, mais tarde já durante
a adolescência iniciam-se as comparações entre os géneros. Entre grupos de rapazes e
raparigas gera-se um frenesim e uma competição pela presa do sexo oposto. As raparigas
anseiam pelo boom revolucionário de ancas e seios e exterminam pêlos voluntariosos os
rapazes contam pelos dedos das mãos os novos pêlos da face, exibem os músculos e medem o
pénis, consomem horas em frente a espelhos na esperança de parecer belos aos olhos de
quem se quer agradar.
Mais tarde fazem-se novos sacrifícios pela imagem, basta olhar para o comprimento (e
também para a largura) de saltos altos sobre os quais milhares de mulheres se equilibram das
9 às 17h ou a fileira de cremes e produtos de beleza, com que nos "besuntamos". A própria
força da gravidade é contrariada por wonder bras (aqueles soutiens que levantam os seios) ou
por wonder pants (roupa interior que tem o mesmo efeito, mas, neste caso no traseiro de
homens e de mulheres). Todas estas práticas retratam formas de estar e viver com o próprio
corpo, muitas delas apressando os anos, outras procurando retardá-los.
Um corpo bonito, uma boa forma física foram sempre sinónimos de uma maior receptividade
do sexo oposto por estarem associados a uma melhor performance sexual. Padronizou-se que
um corpo musculado, atlético era garantia de prazer. Em volta da sexualidade e do corpo
criaram-se inúmeros mitos, aliás, sendo ainda a sexualidade um assunto tabu que só em anos
mais recentes tem sido desmistificada. A Educação Sexual em meio escolar é popular entre os
mais novos, permitindo muitas vezes clarificar conhecimentos e eliminar tabus.
Todavia são ainda inúmeros os mitos erróneos que se espalham à velocidade da luz. Corpos
musculados podem ser sinónimo de prazer para uns, longe de o serem para outros, o sexy e o
sensual são conceitos muito pessoais, sentidos de diferentes e variados modos. Não são as
loiras que detém o poder da atracção sexual e as morenas o intelecto, de certo que não é o
tamanho dos seios ou o diâmetro das ancas que semeia desejo ou o tamanho do pénis que
assegura orgasmos. É a linguagem do corpo associada a uma boa dose de imaginação que nos
torna atraentes e sedutores.
W. Shakespeare "Othelo"
Se nem sempre este valor foi reconhecido como hoje, se ainda na actualidade em certos
contextos culturais e em certas circunstâncias peculiares (por exemplo, na guerra) a vida
humana pode ser posta em segundo plano em função de bens considerados maiores,
sejam eles materiais, espirituais ou outros, o certo é que o direito à vida, em termos da
política internacional como à luz das correntes ideológicas predominantes, é
considerado como o principal dos direitos humanos. Lê-se na carta internacional dos
direitos do Homem, logo no seu primeiro ponto que ―todos os Homens têm direito à
vida‖. Vejamos a lista completa destes direitos:
1 - O direito à vida.
2 - O direito à liberdade e segurança da pessoa.
3 - O direito à igualdade e o direito a estar livre de todas as formas de discriminação.
4 - O direito à privacidade.
5 - O direito à liberdade de pensamento.
6 - O direito à informação e à educação.
7 - O direito de escolher casar ou não e de constituir e planear família.
8 - O direito de decidir ter ou não os filhos e quando os ter.
9 - O direito aos cuidados e à protecção da saúde.
10 - O direito aos benefícios do progresso científico.
11 - O direito à liberdade de reunião e participação política.
12 - O direito a não ser submetido nem a tortura, nem a tratamento desumano ou
degradante.
Se a carta dos direitos humanos tem já vários anos de existência, em tempos mais
recentes surgiu a necessidade de salvaguardar outro tipo de direitos. Referimo-nos aos
direitos sexuais e reprodutivos que são o conjunto de princípios relacionados com a
sexualidade e com a saúde sexual e reprodutiva que todos os indivíduos deverão ter
garantidos. Não por acaso, quando se começou a pensar em criar esta lista, foi na
anterior, ou seja, na dos direitos humanos onde mais do que inspiração, se foi buscar o
mote para desenvolver um conjunto de princípios que se considera necessário
salvaguardar.
Deste modo, no que respeita ao referido direito à vida, ele foi utilizado para reforçar
algumas das questões que se têm colocado a este propósito no que se refere à questão do
género. Exemplos disso são que a vida de nenhuma mulher não deverá ser posta em
risco devido à gravidez, ou que a vida de nenhuma criança deverá ser posta em causa
devido ao seu género, masculino ou feminino. Sabemos que, ainda hoje existem
situações de grandes inequidades relacionadas com o facto de se nascer com um sexo
masculino ou feminino. Em alguns contextos culturais, ser-se mulher pode ser um factor
de risco. Mesmo em contextos considerados mais ―evoluídos‖, o género continua a ser
um factor de desigualdade, existindo contextos em que se proporcionam maiores
condições e possibilidades aos níveis familiares (saídas das raparigas à noite), sociais (o
que é permitido a uns e outros fazer em contextos sociais – para as mulheres certos
comportamentos podem fazer com que sejam vistas como ―mulheres mal
comportadas‖), profissionais (que profissões são mais acessíveis a indivíduos de que
género).
Por este motivo, um dos direitos consagrados pela legislação de diversos países é o da
não discriminação baseada do sexo. O que não significa necessariamente que esse
direito seja garantido a todas as pessoas. De resto, se optou por introduzir este direito
também na carta de direitos sexuais e reprodutivos, tal implica necessariamente que esse
é ainda um direito que não se encontra plenamente verificado por esse mundo fora.
Caso contrário não seria necessário salvaguardá-lo. Por outro lado, não será alheio a
este cuidado de quem elaborou a lista o facto de que a sexualidade é algo
intrinsecamente humano. Desde que nascemos que somos seres sexuados e sexuais.
Sexuados porque, como já foi reforçado, todos nascemos com um determinado sexo
biológico, que cria toda uma série de expectativas, ainda antes de se nascer, na fantasia
dos pais, potenciado pela tecnologia que permite que este tipo de informação esteja
disponível a partir dos cinco meses.
Somos também sexuais porque desde que nascemos que temos uma tendência natural
para gostar de experimentar o prazer. Além disso, o mundo da sexualidade não é
constituído apenas da dimensão física e muito menos genital do sexo, mas enriquecida
por toda uma dimensão imagética, fantasiada, vivida no âmbito do desejo e da atracção,
do sonho e da sedução, e tudo isto mesmo que nunca se chegue a concretizar o acto
sexual. É exactamente devido a toda esta dimensão da sexualidade que é importante
pensar sobre a questão dos direitos sexuais e reprodutivos.
Sendo uma questão que pode parecer relativamente teórica e pertencendo à esfera da
ideologia e eventualmente da política, ultrapassa em muito esta vertente e relaciona-se
com a vida de todos nós de uma forma muito próxima. No que respeita aos direitos
sexuais, como em relação aos direitos humanos, ou outros, temos sempre que ter em
consideração que os direitos de uns terminam quando se iniciam os de outros. Se na
actualidade é relativamente consensual o facto de que as pessoas têm relações sexuais
eminentemente e na grande maioria das vezes por prazer, será o prazer sexual um
direito de todos? A resposta aparentemente lógica a esta questão é que sim, ou seja,
todas as pessoas têm direito a ter prazer sexual. Mas e se a minha forma de ter prazer
interfere com o bem estar de outros, será que se mantém este direito? O exemplo talvez
mais actual desta questão é o da pedofilia. Um pedófilo é, por definição, um indivíduo
que se excita sexualmente e que tem desejo sexual por crianças e pré-adolescentes. A
sua forma preferêncial de ter prazer sexual é, assim, através das relações sexuais com
menores. Terá este indivíduo direito a concretizar as suas fantasias e desejos? De acordo
com muitos destes indivíduos, a resposta é que sim. De acordo com a maioria das
restantes pessoas e de acordo também com a legislação vigente ma maioria dos países, a
resposta consensual é que não. Neste caso em particular o direito que um indivíduo tem
em ter prazer não é superior à possibilidade de, através desse acto, ser posto em causa o
bem-estar e equilíbrio de uma criança.
Um outro exemplo, relacionado com situações que, à semelhança da pedofilia, não são
frequentes, mas que vão encontrando alguma expressão em alguns meios,
nomeadamente entre os mais jovens. Refiro-me ao sadomasoquismo, ou seja, a todas e
quaisquer práticas em que se utilize a indução de dor, humilhação e sofrimento sobre
outra pessoa ou sobre si próprio com o objectivo de obter gratificação sexual. Têm as
pessoas sadomasoquistas direito aos seus (des)prazeres? É legitimo provocar dor
noutras pessoas ou em si próprio para satisfazer as suas fantasias? Durante muito tempo
o sadismo e o masoquismo foram considerados como perturbações mentais, como
perversões do desejo e portanto como desvios do comportamento sexual considerado
―normal‖. Porém, o que é considerado normativo num dado momento deixa de o ser
num outro e é sempre importante que existam outros parâmetros que nos permitam
qualificar um dado comportamento ou preferência como ―anormal‖. Em relação à
pedofilia, já vimos que no momento actual se consideram os direitos da criança ao bem-
estar e à protecção como superiores aos desejos de outrém, fazendo com que o desejo do
pedófilo seja considerado perturbado. Em relação ao sadomasoquismo, a posição é um
pouco diferente, desde que seja praticado entre adultos que consintam em envolver-se
nesses comportamentos e também que não sejam motivo de preocupações e angústias
que interfiram com o bem-estar subjectivo do indivíduo. É certo que isto se passa ao
nível do que é actualmente mais consensual entre os profissionais da saúde mental, e
não propriamente ao nível do senso comum em que o olhar sobre este tipo de práticas é
ainda pesado.
Mas nem precisamos de recorrer a exemplos tão extremos para continuarmos a discutir
as questões dos direitos sexuais. Refiro-me à questão da livre associação amorosa, ou
seja, supostamente todos temos o direito de nos relacionarmos amorosa e sexualmente
com quem quisermos (e também com quem se queira relacionar connosco). O certo é
que se a pessoa com quem optamos por nos relacionar é do mesmo sexo, as coisas
mudam um pouco de contornos. Não é que seja proibido o relacionamento afectivo
entre pessoas do mesmo sexo (ainda que a não discriminação com base na orientação
sexual não esteja consagrada na lei), mas o certo é que o assumir publicamente de uma
relação homossexual não é livre de riscos, quanto mais não seja do olhar crítico,
chocado, divertido ou de desprezo dos outros. Mas, além disso, existe ainda o risco da
discriminação ao nível profissional ou social isto apesar de, na maioria dos casos e, pelo
menos entre nós, prevalecer a tradicional tolerância que, nunca deixo de reforçar, não é
sinónimo de uma verdadeira aceitação, mas antes uma solução de compromisso devida
aos laços afectivos que se tem em relação às pessoas em causa.
Outra área muito actual em que se colocam questões a propósito dos direitos sexuais e
reprodutivos é a relativa ao corpo e a quem tem a autoridade ou a liberdade para agir
sobre ele. Esta questão coloca-se, por exemplo, ao nível do transexualismo. Como é do
conhecimento comum, o transexualismo é uma condição em que existe uma não
coincidência entre o corpo biológico, muito em concreto entre os caracteres sexuais
(primários e secundários), e a identidade sexual, ou seja, a consciência internalizada de
que se é homem ou mulher. Assim, um indivíduo que tenha órgãos e características
sexuais femininas pode sentir-se, do ponto de vista psicológico, como um homem. O
que acontece é que, na maioria das vezes, essa pessoa vai ter o desejo de modificar o
seu corpo em função da sua vivência interna do mesmo, ou seja, vai desejar efectuar
uma mudança de sexo para se sentir bem consigo próprio. Se alguém decide fazer uma
operação plástica para modificar, por exemplo, um nariz que se considera
demasiadamente grande, recorre a um cirurgião desta especialidade, paga e fica com o
nariz desejado, no caso de uma operação de mudança de sexo, é necessário um sem
número de procedimentos, exames, avaliações, peritagens, para que se chegue à
conclusão de que esse indivíduo está em condições ou não de fazer essa operação. Só
para se ter uma ideia, é um processo que implica pelo menos 2 anos para estar
concluído, isto na melhor das hipóteses e apenas se os peritos, os homens da ciência,
decidirem que essa pessoa cumpre com os critérios pré-determinados para o efeito.
Podemos ainda dar um outro exemplo, talvez um pouco mais extremo, para esta questão
em particular. Refiro-me à Apotemnofilia, condição de quem tem fantasias sexuais
sobre ser amputado de um ou vários membros do corpo. Algumas destas pessoas
chegam ao ponto de quererem passar as suas fantasias à prática e de optarem por fazer
uma operação para que lhes sejam retiradas as pernas ou os braços, porque é assim que
se sentem bem consigo próprias. A questão é: deverá ser-lhes concedido este desejo?
Sabemos à partida que tal operação é irreversível e que irá implicar uma série de
limitações para a vida do indivíduo, por exemplo, dificuldades na obtenção de um
emprego, o que fará com que provavelmente tenha que viver da assistência social; terá
certamente que ter uma série de cuidados de saúde especiais que serão que serão
suportados pelo Estado. Terá essa pessoa direito de optar por si própria o que fazer em
relação ao seu corpo? Quem é que é ―dono‖ do seu corpo: o próprio, o Estado, os
técnicos de saúde?
Há que não esquecer que qualquer direito implica também um dever, dever este que
implica a salvaguarda da integridade e bem-estar do outro. Direitos sexuais e
reprodutivos são também direitos humanos, ainda que não estejamos sensibilizados para
pensá-los enquanto tal. Está, porém, na altura de o fazer e tal é tarefa da
responsabilidade de todos nós, não só técnicos de saúde, como profissionais das áreas
sociais e humanas, politicos, teóricos, investigadores, homens, mulheres, cidadãos.
Estas doenças contraem-se por contacto uma pessoa infectada, que pode ou não exibir
sinais exteriores da doença (trata-se de um portador, uma pessoa que está infectada,
transmite a doença mas não apresenta - ainda - os sintomas).
Por o ambiente que rodeia os órgãos sexuais ou ligados ao acto sexual (vagina, pénis,
ânus, boca) ser quente e húmido, ele constitui um habitat ideal para o desenvolvimento
dos microorganismos patogénicos que provocam a doença.
No entanto, algumas DST, como a sífilis, podem transmitir-se da mãe (que pode não
saber estar infectada) para a criança durante o parto, causando sérias lesões ou até a
morte do bebé.
Hepatite B
A hepatite B é uma infecção provocada por vírus e que ataca o fígado. Este vírus vive
no sangue, na saliva, no suor, no esperma e no corrimento vaginal. Muitos casos de
hepatite resultam da partilha de agulhas e seringas infectadas, mas a transmissão sexual
é também frequente. O risco de contrair hepatite B é oito vezes superior ao de contrair
SIDA.
A infecção pelo vírus da hepatite B pode não provocar qualquer queixa, ou apresentar
sintomas ligeiros como cansaço, náuseas e dores. Pode também dar origem a icterícia, o
que faz com que a parte branca dos olhos e a pele se tornem amarelos e a urina fique
muito escura.
A doença pode ser muito grave, até mortal. Algumas pessoas infectadas passam a ser
portadoras e transmissoras do vírus.
Existe vacina contra a hepatite B.
A observação de qualquer alteração estranha nos órgãos sexuais justifica uma ida ao
médico.
Após detectar estes sinais, a pessoa afectada deve alertar os parceiros sexuais, habituais
ou ocasionais, a fim de que também eles (mesmo que não apresentem sinais exteriores
de contaminação) procurem um médico.
É muito importante que as pessoas que apresentem estes sinais não se tratem sozinhas,
com cremes, comprimidos ou "receitas caseiras/tradicionais" mais ou menos infalíveis,
sem terem consultado um médico.
Um pouco de história
Ainda no que diz respeito à origem da doença, enquanto alguns afirmam que já o médico
grego Hipócrates (no séc. V a.C.) havia feito a sua descrição, outros dizem que foram os
tripulantes dos navios de Cristóvão Colombo que trouxeram consigo a doença no regresso do
continente americano.
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, resultante da infecção por uma bactéria cujo
nome científico é Treponema pallidum.
A forma mais frequente de transmitir/contrair a sífilis é através do contacto sexual (oral,
vaginal ou anal) com um parceiro infectado com a bactéria, uma vez que esta atravessa as
mucosas (como a que reveste a boca) mesmo que estas não tenham qualquer lesão/ferida.
Uma mulher grávida que esteja infectada pela bactéria que provoca a sífilis pode transmitir a
doença ao feto através da placenta. Se tal acontecer, a probabilidade de aborto ou de o
recém-nascido morrer após o parto é cerca de 25% destes casos. Se a sífilis (activa, nas
crianças nascidas nestas circunstâncias) não for diagnosticada a tempo, as crianças poderão
desenvolver lesões nos olhos, no cérebro e no coração.
Quais os sintomas?
O período de incubação, ou seja, o tempo que decorre entre o contágio e as primeiras
manifestações da doença varia entre duas e quatro semanas mas pode chegar às vinte e três
semanas.
Na sua fase inicial (sífilis primária) a doença causa o aparecimento de lesões (pequenas feridas
arredondadas com os bordos duros) relativamente indolores que geralmente se localizam nas
zonas genitais, mas que também podem aparecer noutros locais do corpo. Cerca de quatro a
seis semanas após o seu aparecimento estas lesões “curam-se”, mesmo sem tratamento.
Quando não é tratada e evolui “sem controlo” a sífilis é uma doença crónica, na qual os
períodos em que os sintomas se fazem sentir alternam com intervalos longos durante os quais
não se registam sintomas. Assim, a evolução desta doença é dividida em quatro períodos: a
sífilis primária (acima descrita), a sífilis secundária, a sífilis latente e a sífilis terciária. Com a
sífilis secundária aparecem sintomas semelhantes aos de uma gripe (dores de cabeça e de
garganta, febre baixa) associados a pequenas manchas rosadas na pele que aparecem
espalhadas pelo tronco, abdómen, zona genital, palmas das mãos e plantas dos pés. Mais uma
vez, os sintomas tendem a desaparecer sem intervenção após duas a seis semanas.
Quando a pessoa afectada atravessa estas fases sem consultar o médico, entra numa fase que
dura vários anos e durante a qual não tem sintomas.
Vários anos após a infecção, se o doente não foi tratado, entra-se na fase terciária da doença.
Aparecem tumores na pele e nos ossos, surgem problemas cardíacos, convulsões, paralisia,
alterações do comportamento e, finalmente, demência. A associação de todas estas lesões
pode levar à morte.
Numa fase inicial, o tratamento é fácil e eficaz e barato pois consiste na injecção de penicilina.
Nos doentes alérgicos à penicilina estão indicados antibióticos alternativos, mas que não são
tão eficazes.
Numa fase posterior o tratamento também é feito com penicilina, mas a sua duração é mais
prolongada e as lesões que foram aparecendo nos vários órgãos, podem não melhorar.
Usando o preservativo, que reduz substancialmente o risco de contágio, sempre que se tem
relações sexuais.
Educação Sexual nas Escolas
Aristóteles
Neste número do Boletim resolvemos por em destaque o tema da Educação Sexual nas
Escolas, por considerarmos ser um assunto que está na ordem do dia e na preocupação
dos Professores, Pais e Escolas. Contudo, se dermos uma vista de olhos ao que já foi
escrito e dito em entrevistas, artigos de jornais, revistas, noticiários... tem-se a
impressão de que já foi tudo dito. Mas, qual ou quais as conclusões?
Lembro-me do caso, verídico, de um rapaz que, tendo pedido namoro a uma colega, foi
confrontado no dia seguinte com a entrega de um calendário onde, segundo ela
informou, podia verificar os dias em que podiam ter relações sexuais e aquelas em que
as mesmas eram interditas. E... ele foi-se embora. Aquela moça não sabia que não há
nada mais excitante do que o jogo da sedução.
É triste ver os nossos jovens, alguns ainda tão novinhos, em práticas sexuais para as
quais não estão preparados nem física nem psicologicamente. Quantas relações antes de
tempo deixam marcas negativas para toda a vida. Quantos problemas físicos e
psicológicos resultantes de situações complicadas com as quais não se está preparado
para lidar.
Ouvimos os alunos a pedir com uma certa emotividade: Educação Sexual na Escola, já!
Mas que entendem eles por Educação Sexual? Quem a vai dar? Qual a preparação
desses professores (ou não vão ser professores?)? Quem e como avaliar os resultados
dessa educação?
Há anos que a Educação Sexual é obrigatória nas Escolas do Reino Unido, a partir dos
12 anos. Quais os resultados? A número 1 da Europa em adolescentes grávidas. O que
significa isto? Que lá a educação não foi bem orientada? Então, como fazer? O
Primeiro-Ministro Britânico, além de ter afirmado em recente entrevista que pretendia
tomar a profissão docente como a mais prestigiada na Grã-Bretanha, dizia também uns
meses antes que pretendia fomentar a virgindade entre os jovens do seu país. É por aí
que se deve ir?
Só podemos concluir uma coisa: não são os jovens que andam desorientados. São os
adultos que não sabem que orientação lhes dar. E tudo isto se faz em nome de uma
liberdade que, analisada criticamente, defende interesses económicos que ninguém tem
a coragem de enfrentar. E os nossos jovens não deviam ser respeitados dando-lhes a
oportunidade de crescerem equilibradamente sem serem espicaçados para uma
sexualidade prematura que só aumenta as suas dificuldades? Depois... os professores
que os eduquem...
A educação da sexualidade faz parte da educação global do ser humano e, como tal,
deve ser tratada com o mesmo cuidado que qualquer aspecto da educação da nossa
juventude nos deve merecer. Mas, como deve ser feita? Na tentativa de procurarmos a
resposta que a nossa sociedade propõe, levamos até vós a legislação e extractos de
alguns artigos que recolhemos sobre esse tema. Tire depois as suas próprias conclusões.
Artigo 2.°
3- A educação para a saúde sexual e reprodutiva deverá adequar-se aos diferentes níveis
etários, consideradas as suas especificidades biológicas, psicológicas e sociais, e
envolvendo os agentes educativos.
Artigo 3.°
(...)
Artigo 1.°
Artigo 3.°
Artigo 5.°
1- Para efeitos do disposto no n.°5 do artigo 2.° da Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto, os
serviços competentes do Ministério da Educação devem integrar nas suas prioridades a
concessão de apoios à realização de acções de formação contínua de professores no
domínio da promoção da saúde e da Educação Sexual.
Isto é o que a lei diz... Contudo, percorrendo a imprensa a que nos foi possível aceder,
encontramos as mais variadas opiniões sobre a Educação Sexual nas escolas, o que
indicia que o assunto é, no mínimo, polémico.
Para Ana Benavente, "a escola esta disponível para dar o seu contributo, mas isso não
liberta a sociedade de intervir nessa área". (...) "Por outro lado, gostaríamos também que
as associações de estudantes tivessem um papel activo, organizando as iniciativas que
entenderem de forma a mobilizar os jovens nas escolas".
Mas, ainda segundo a Secretária de Estado, o ministério poderá não contar com as
gerações mais antigas de docentes, "menos abertas à discussão da sexualidade",
afirmando ainda que "haja professores com formação em Educação Sexual, mas que não
conseguem avançar com projectos nas escolas devido a essas tendências".
A mesma fonte ouviu André Pires e Diana Dionísio, dois dos milhares de alunos do
Ensino Secundário que saíram à rua exigindo a Educação Sexual na escola. Sobre a
natureza da Educação Sexual, Diana Dionísio exige que "ela diga a verdade sobre a
diversidade das formas de viver a sexualidade e de relações afectivas e familiares, sem
preconceitos ou tabus. É que às vezes parece que ainda nos querem fazer acreditar na
cegonha". Quanto à aprendizagem normal dos jovens em matéria de sexualidade André
Pires acrescenta que os "rapazes só falam entre rapazes e as raparigas entre raparigas,
em contexto informal. As ideias erradas e as pressões para se assumirem determinados
papeis persistem, e os tabus e as vergonhas também".
Daniel Sampaio acrescenta ainda que "a falta de formação dos professores, a dificuldade
em apresentar projectos originais relacionados com o contexto local e a insuficiência e
indefinição dos materiais de apoio poderão complicar esta missão. Daniel Sampaio
critica também as "orientações técnicas sobre Educação Sexual em meio escolar",
realçando "a sua falta de flexibilidade, utilização de expressões equívocas e opções
discutíveis e inexistência de definição de objectivos". E conclui, advertindo que é
"necessário agir com prudência", pois "um início errado pode lançar o descrédito sobre
o tema, comprometendo as acções futuras".
Estamos a iniciar um processo educativo inédito no nosso pais cuja importância parece
inquestionável mas convém não esquecer, como lembra Rui Rosas da Silva, que "toda a
Cândida inocuidade das iniciativas deste tipo, como se está a verificar em muitos países
onde ela se instalou, nem se tem mostrado inofensiva nem favorável a saúde publica".
E-mail: info@appbg.rcts.pt
URL: http://www.appbg.rcts.pt
A transição para a fase adulta e as mudanças consequentes, podem provocar tanto sensações
de felicidade, êxtase e orgulho, mas também, de ansiedade, tensão, confusão e mesmo de
algum desespero. É ainda uma fase de procura de informação fiável de busca de resposta para
muitas questões. Neste processo de maturação, é decisiva a liberdade de escolha, a
confidencialidade e o recurso a um apoio compreensivo.
No que diz respeito à questão da sexualidade, e apesar deste ser uma tema cuja importância
vai sofrendo alterações ao longo da vida, para o jovem é algo que quase se impõe,
independentemente da sua vontade. Mas é importante salientar que o jovem poderá não se
sentir ou não querer ser sempre sexualmente activo.
O ingresso neste mundo está intimamente ligada a ritos de iniciação, que se diferenciam entre
regiões do mesmo país ou entre países, mas constituem uma importante parte da cultura,
tendo lugar na puberdade e de formas separadas para rapazes e raparigas. Nestes momentos,
simplesmente traduzidos, por exemplo, numa conversa entre um dos pais e o filho(a), ou
adquirindo a dimensão uma cerimónia comunitária, pretende-se ensinar a lidar com a
sexualidade e outros aspectos da vida adulta, ajudando a compreender um conjunto de
mudanças ocorridas no corpo. Numa preparação para os desafios da vida em sociedade, os
ensinamentos são transmitidos, consoante a tradição ou a oportunidade, pelos pais, pela
família, por educadores, por pessoas mais velhas e de experiência reconhecida...
Mas a entrada no mundo dos adultos implica muitas outras dimensões e acarreta consigo um
primeiro contacto com algumas responsabilidades que farão parte da vida futura, mas que o
jovem poderá recear. A escolha de uma profissão, o sair de casa, encontrar uma habitação,
constituir família enfim, uma série de responsabilidades sociais, financeiras, de deveres e
direitos com que o jovem, gradual ou abruptamente, se vai confrontando.
O jovem prepara-se para dar entrada no mundo dos adultos, mas este é diferente do dos seus
pais. As influências são marcadas pela actualidade, as experiências têm uma outro contexto,
num crescimento marcado por uma dualidade entre dois percursos, social e individual, que se
acompanham, por vezes, em conflito, outras de forma mais harmoniosa.
Bibliografia
Federação Internacional para o Planeamento Familiar
BBC World Service
A faceta mais marcante da sexualidade, no contexto escolar, é o facto de ser uma das
características humanas mais determinadas e moldadas pelo processo de socialização. O que
cada um de nós é, fantasia, deseja ou põe em prática a nível sexual é o resultado de uma
processo de interacção e aprendizagem contínuo, realizado num contexto formal (a escola ou
a religião, por exemplo) ou informal (os meios de comunicação social, são o exemplo por
excelência).
Uma vez que todas as sociedades procuram, formal ou informalmente, transmitir valores
fundamentais e normas de conduta no que à sexualidade toca, a Escola tem um papel a
desempenhar neste âmbito, enquanto espaço privilegiado de socialização para as crianças e os
jovens.
É, porém, necessário frisar que em circunstância alguma deverão estes jovens assumir papéis
que cabem a profissionais e técnicos adultos.
Gravidez na adolescência
De acordo com estudo "Mães Adolescentes - Alguns Aspectos da sua Inserção Social",
realizado por Isabel Lereno, Carla Gomes e Paula Faria, em 1993, na Maternidade Júlio
Dinis (Porto), ?as conclusões apontam no sentido de as jovens que engravidam e
prosseguem com a gravidez até ao parto pertencerem a grupos sociais desfavorecidos e
com uma subcultura própria em que os padrões de comportamento e organização
familiar diferem da norma social estabelecida.?
Mas, ao contrário do que acontecia anteriormente, a informação está muito agora mais
disponível aos jovens. As delegações da APF - Associação para o Planeamento da
Família (por exemplo, através do projecto de Estudo, Prevenção, Apoio à Gravidez e
Maternidade na Adolescência ?Mamãs de Palmo e Meio?), os Centros de Saúde, as
diversas linhas de apoio e os programas de educação sexual nas escolas são alguns
exemplos da ajuda que os jovens podem encontrar.
A disponibilização de preservativos nas escolas, uma medida que tem gerado alguma
polémica, foi objecto de um estudo recente realizado nos E.U.A.. As conclusões da
pesquisa vêm revelar que esta disponibilização não contribui para o aumento da
actividade sexual entre os adolescentes. A medida tem um efeito positivo na protecção
dos que já iniciaram a vida sexual, nomeadamente ao nível da prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis.
Muitos ainda têm a ideia que com eles não acontece nada de mal. Esse tipo de coisas
acontece sempre aos outros. De facto, não é raro ouvir uma mãe adolescente afirmar que
"nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo, embora soubesse que podia
engravidar".
E quando descobrem que estão grávidas, a maior parte das adolescentes passa por
momentos de grande angústia e tensão. Têm medo de contar ao namorado (se é que a
relação é estável), de contar aos pais, que os amigos descubram e as isolem. A opção,
para muitas, é o aborto, feito às escondidas, muitas vezes sem dizerem nada a ninguém.
Outras optam (seja por medo ou por falta de recursos financeiros, ou até mesmo pelas
suas convicções) por enfrentar tudo e todos e ir avante com a gravidez. Tanto umas
como outras acabam por marcar irremediavelmente as suas vidas: forçam-se
casamentos, interrompem-se planos de vida e as crianças, mesmo que sejam muito
amadas, são um imprevisto que fica para sempre. Muitas vezes, o medo da jovem pode
levá-la a esconder a gravidez até às últimas consequências. Nesse casos, a falta de uma
acompanhamento médico desde o início, pode trazer complicações, tanto para a mãe
como para a criança.
Para as que decidem ter o filho, a fantasia deixa de existir para dar lugar à realidade na
hora do parto. É um momento muito delicado que pode gerar medo, angústia e rejeição.
A somar a isto, quando a relação não é estável ou foi apenas uma aventura, as relações
entre duas famílias que "não têm nada em comum excepto a criança" podem ser muito
tensas e até hostis... E quem sofre não é só a criança, são todos os envolvidos.
Mas dar apenas informações técnicas aos jovens não basta. É muito importante que os
jovens tenham espaço para fazerem perguntas, conversarem com amigos e parentes
mais velhos e aconselharem-se com um especialista quanto à escolha do melhor método
contraceptivo. É essencial que também sejam orientados em casa, na família, que falem
e sejam ouvidos, sem preconceitos ou julgamentos.
Lendas em torno da pílula
Nota: O risco de engravidar será maior quando as pílulas esquecidas são as do princípio
e do fim da carteira. O que não é ―desculpa‖ para ignorar descansadamente as pílulas
―do meio‖…
Actualmente as pílulas têm uma dosagem muito mais baixa, pelo que não é
recomendado um período de pausa às mulheres que a tomam excepto, claro, se estas
quiserem engravidar ou houver alguma indicação específica por parte do médico
assistente.
Portanto, se tomar e pílula e lhe for receitado um antibiótico, fale com o médico sobre o
assunto. Com muitos antibióticos não é possível prever com certeza essa redução de
eficácia, pelo que será mais prudente recorrer também a outro método contraceptivo,
como o preservativo.
Este segundo método contraceptivo deverá ser mantido até uma semana após a ter
terminado a toma do medicamento. Não suspenda a toma da pílula.
Existem outros princípios activos que poderão diminuir a eficácia da pílula, pelo que, se
estiver a tomar a pílula, deverá perguntar ao seu médico assistente se os medicamentos
prescritos poderão reduzir o efeito da pílula.
A pílula engorda?
Não. Isso era antes. Ou seja, há alguns anos atrás, quando a pílula continha dosagens
relativamente elevadas de hormonas registaram-se aumentos de peso. Esse aumento
acontecia por duas razões: porque os estrogénios que compunham as pílulas combinadas
podem provocar retenção de água (resultando num aumento de peso) e porque os
progestagénios (outro componente da pílula) podem provocar um ligeiro aumento de
apetite.
Actualmente são receitadas pílulas de baixa dosagem que não têm esse efeito
secundário.
Masturbação
Quem pratica a masturbação consegue, assim, saber e conhecer melhor as zonas do seu
corpo (erógenas) — para além das genitais —que lhe proporcionam maior prazer,
podendo contribuir para uma vida sexual mais gratificante. Para além do toque aquando
da masturbação, as fantasias sexuais individuais accionam a excitação e o prazer
momentâneo.
A masturbação pode ser praticada por pessoas de ambos os sexos e não acontece apenas
na adolescência. Faz parte da sexualidade humana, ao longo da vida, embora possa ser
mais frequente nesta fase, que está associada à descoberta do corpo.
Não existe nenhum estudo científico que demonstre que a masturbação causa problemas
de saúde ou alterações/reacções físicas, como o crescimento anormal de pêlos,
impotência, aparecimento de borbulhas, perda da virgindade, aumento de peso ou,
ainda, que cause infertilidade, entre outros.
É importante esclarecer que a masturbação não faz mal à saúde. É uma simples e natural
prática sexual, em que se explora e descobre o próprio corpo em busca de prazer. Só
poderá ser considerada prejudicial quando altera a rotina diária do indivíduo, em que
este se refugia na masturbação, evitando sociabilizar, por pensar que é mais fácil e
simples do que procurar a companhia e o relacionamento com outras pessoas. Nesta
perspectiva, é importante gostarmos do que vemos quando nos olhamos ao espelho e a
masturbação faz parte dessa descoberta, de nós próprios e dos outros.
Segundo a Declaração dos Direitos Sexuais, ―a sexualidade é uma parte integral da
personalidade de todo o ser humano. O desenvolvimento total depende da satisfação de
necessidades humanas básicas, tais como desejo de contacto, intimidade, expressão
emocional, prazer, carinho e amor‖.
Menopausa
Caracterização
Trata-se de um fenómeno fisiológico, logo, absolutamente normal, mas que tem um grande
impacto na vida da mulher. As implicações decorrentes deste período da menopausa podem
ser maiores ou menores consoante a mulher, o seu prévio estilo de vida, os seus hábitos
desportivos, os seus comportamentos alimentares e sexuais, entre outros. A menopausa surge
por volta dos cinquenta anos de idade, mas este limite pode variar bastante de mulher para
mulher. É antecedida por uns anos ou meses (pró-menopatisa) caracterizados por
irregularidades menstruais devidas à falta de ovulações.
Com a redução progressiva do funcionamento das glândulas que são conhecidas como ovários,
deixa de haver produção das hormonas femininas, denominados estrogénios e deixa também
de se efectuar a libertação mensal de óvulos. Assim, o organismo feminino adapta-se a um
novo ambiente hormonal designado hipoestrogenismo que se caracteriza por uma descida
acentuada dos níveis de estrogénio no corpo. Importa referir que esta situação pode ocorrer
mesmo antes do período de menopausa, nos casos de aparecimento de doenças que também
acarretam o hipoestrogenismo. Se, na fase da menopausa, houver uma redução rápida e
intensa dos estrogénios, é natural que nestas mulheres com doenças haja uma exacerbação
dos sintomas da menopausa, que necessitarão de tratamento específico, para alívio dos seus
sintomas, ao contrário dos casos em que o hipoestrogenismo se vai instalando lenta e
progressivamente (e para o qual o respectivo tratamento só é feito nos casos em que os seus
médicos pretendem fazer a prevenção de doenças que surgirão anos mais tarde em
consequência do hipoestrogenismo).
Se há várias décadas, as mulheres tinham uma esperança média de vida não muito elevada,
com taxas de mortalidade acentuadas, a verdade é que, presentemente, se verifica a situação
inversa, ou seja, assiste-se ao envelhecimento global da população, encontrando-se uma
percentagem cada vez maior da população feminina em fase pós-menopausa. Actualmente,
pode dizer-se que as mulheres viverão cerca de um terço da sua vida em pós-menopausa. Esta
realidade faz toda a diferença, não apenas a nível fisiológico, onde os efeitos da privação das
hormonas sexuais femininas sobre vários órgãos se fará sentir concretamente, mas também a
nível psicológico, social e financeiro. A mulher deparar-se-á com novos problemas relativos a
estas áreas, nomeadamente os riscos aumentados de doença cardiovascular, doença óssea e
até doença psíquica. Como tal, afiguram-se de extrema importância todos os tratamentos de
correcta compensação hormonal que permitirão dar "mais anos às suas vidas e mais vida aos
seus anos".
Sintomas
Como tal, sempre que não haja contra-indicação, deverá proceder-se à substituição hormonal.
A partir da década de cinquenta, foi desenvolvida uma terapia de substituição hormonal (TSH),
usando apenas estrogénios, ou com progesterona, para colmatar os efeitos da menopausa. A
realização desta terapia, a longo prazo, tem sido associada ao aumento de incidência do
cancro do útero e à formação de coágulos nos vasos sanguíneos, mas formulações recentes,
que usam estrogénios naturais, não têm sido associadas a estes efeitos secundários. Sem uma
terapia de substituição hormonal existe um aumento do risco de aparecimento da
osteoporose (adelgaçamento e fragilização dos ossos), o que pode levar a fracturas ósseas,
muitas vezes fatais no caso de mulheres de idade avançada.
Alerta-se para o facto de nunca se dever iniciar um tratamento sem que se conheçam os
resultados de uma mamografia, de uma ecografia ginecológica, de análises bioquímicas, ou de
uma citologia cervico-vaginal (Papanicolau).
Eis uma lista de exames a efectuar antes de iniciar a Terapêutica Hormonal de Substituição:
Tratamento
Cada caso tem de ser estudado criteriosamente, de modo a escolher-se o melhor tipo de
hormonas a utilizar, a dose recomendada e a melhor via da sua administração. Durante o
tratamento é indispensável verificar se se obtém a desejada eficácia clínica e se há
normalização dos factores de risco ósseo e cardiovascular. Por isso, nas mulheres que possuem
útero devem utilizar-se sempre as duas hormonas femininas: os estrogénios e a progesterona,
administrados em combinação diária ou sequencialmente (no primeiro caso, não surgem
sangramentos; no segundo, há "menstruações" mensais).
No caso das mulheres que já não possuem útero deverão utilizar-se apenas os estrogénios.
É necessário tomar o equivalente a 1 grama de cálcio por dia (contido em 1 litro de leite). É
altamente recomendada a prática de exercício físico regular bem como uma alimentação
equilibrada e com muitas fibras (vegetais, cereais). Saliente-se que o recurso a antidepressivos
e tranquilizantes é muito raro, ainda que pareça ser muito indicado o seu uso.
Bibliografia:
http://www.spmenopausa.pt/
www.universal.pt
Menstruação
Em média este fluxo dura 28 dias, mas pode ser mais curto, de 25 ou 26 dias ou mais longo,
até aos 31 ou 32 dias.
O ciclo menstrual decorre em três fases e tem início com o aparecimento da menstruação. No
desenvolvimentos das raparigas o aparecimento da menstruação – ou menarca - é a
transformação fisiológica mais importante que ocorre na adolescência e que implica alterações
no sistema reprodutor feminino. Este sistema é constituído pelos ovários (que produzem os
óvulos), pelas vias genitais (que incluem as trompas, o útero e a vagina) e ainda pela vulva, que
é um órgão externo.
Até surgir o fluxo sanguíneo que caracteriza a menstruação decorre todo um processo que
vamos explicar a seguir.
A libertação das referidas hormonas é também responsável pelo aumento ao afluxo de sangue
no útero e do desenvolvimento do endométrio (uma camada espessa no útero e que em caso
de gravidez constitui uma fonte de alimento para o embrião).
A ovulação dá-se, assim, cerca do 14.º dia, dando origem à fase ovulatória.
Nesta altura o óvulo pode ser fecundado por um espermatozóide. Caso o óvulo não seja
fecundado (a fecundação daria origem a uma gravidez), continuará o seu trajecto descendente
pelo canal vaginal. O óvulo sobrevive durante um período de 24 horas no corpo da mulher,
enquanto que um espermatozóide pode sobreviver até 72 horas. Da fecundação do óvulo
resulta o ovo que se instala na parede uterina – ocorre a nidação.
Após a libertação do óvulo do folículo este transforma-se no chamado corpo amarelo, uma
massa sólida dessa cor que, depois de amadurecer e degenerar, será depois expelida aquando
da menstruação, fluxo sanguíneo, na fase luteínica.
A menstruação caracteriza-se assim como uma descamação do endométrio caso não tenha
ocorrido uma gravidez.
A menstruação, dura, em média, de 3 a 5 dias. Mas “o período” varia de mulher para mulher e
pode também variar na mesma mulher entre ciclos – neste caso diz-se que tem ciclos
irregulares. Durante a menstruação por vezes surgem sintomas de uma maior irratabilidade,
excitação, ou depressão, e ainda distúrbios digestivos e dores abdominais. Se o mau estar
menstrual é acentuado, pode ser o sinal de uma disfunção ovárica.
Durante as três semanas (21 dias) em que deve estar aplicado, o anel confere uma
protecção eficaz. Na quarta semana ele é retirado e aparece a menstruação.
A colocação e retirada do anel é fácil, sobretudo porque não existe uma posição
obrigatória que condicione a sua eficácia. Para retirar o anel basta inserir um dedo na
vagina até o sentir e puxa-lo para fora, suavemente.
Contrariamente ao que algumas pessoas possam pensar, e porque fica colocado na zona
mais profunda da vagina, o anel não interfere nem é "sentido" durante a relação sexual.
Para obter informação mais detalhada sobre o anel vaginal, clicar aqui.
As pessoas que praticam acções que te deixam desconfortável (como tocar-te "sem querer"
num transporte público ou dar-te uma palmada no rabo quando te vêem porque te
"conhecem desde pequeno(a)") podem ser pessoas que conheces há muito tempo ou que são
mais velhas. E esse facto pode fazer-te duvidar, fazendo-te pensar se não será tudo imaginação
ou se estás a "ver maldade em tudo". Nestas situações, confia nas tuas sensações: tu melhor
que ninguém sabes se o teu espaço íntimo está a ser invadido.
Não deixes que o teu pensamento seja afectado por mitos. Para rebater alguns desses mitos,
eis algumas verdades.
1.
Quando uma rapariga (ou um rapaz) é vítima de violação, parte da culpa é da vítima. Ou
porque usava uma roupa provocante, ou porque "as pessoas decentes não vão para ali àquela
hora" ou porque podiam ter lutado mais...
Nada disso. Toda a violação é uma agressão. As vítimas não querem ser violadas e,
frequentemente, os violadores atacam pessoas que sabem ser mais fracas.
2.
Os violadores são desconhecidos que atacam as suas vítimas ao acaso.
Não é bem assim; em cerca de 80% dos casos de violação o violador conhece a vítima e vice-
versa. E acontece que a vítima não comunique a agressão por sentir "vergonha" face a um
agresso que conhece.
3.
A verdade é que nenhuma vítima sente prazer durante uma violação. A violação é uma
experiência humilhante e dolorosa.
Se conheceres alguém que esteja a ser alvo de abuso sexual dá-lhe apoio. Ajuda-o(a) a quebrar
a "lei do silêncio" e fá-lo(a) compreender que é possível sair do labirinto de vergonha e medo
em que se encontra.
É claro que a actividade sexual dita ―normal‖ entre duas pessoas que a desejem e
consintam é legalissima, excepto nas situações em que ocorre em contextos
considerados menos apropriados, como sejam no meio da rua ou em qualquer outro
local público, como sejam uma discoteca ou um centro comercial.
Quando falamos do que é imoral ou não, referimo-nos a padrões, que são individuais e
subjectivos, mas também sociais e culturalmente determinados, do que é considerado
correcto ou incorrecto, bom ou mau, enfim, referimo-nos a padrões que implicam
sempre uma avaliação positiva ou negativa relativa a um dado objecto ou
acontecimento. No que respeita às drogas, assim como no que respeita à sexualidade, a
aplicação de critérios de moralidade vai depender de quem os está a utilizar e do
contexto histórico, social e cultural em que se encontra.
Assim, de alguma forma o consumo de drogas sempre foi julgado por uma parte
importante da população de uma forma negativa. A imagem do consumidor de drogas
foi muitas vezes associada à de um indivíduo pérfido e perigoso e a droga considerada
como um cancro social, responsável por vários males. É claro que, para contrabalançar
esta posição, temos algumas outras pessoas, que certamente não serão em tão grande
número, que consideram a droga como algo de interessante e até divertido.
Provavelmente são mais os jovens que pensam desta forma, abertos que estão a novas
experiências e ávidos de sensações agradáveis e fáceis, mas não apenas os mais novos
advogam desta posição.
No que respeita à posição moral sobre a sexualidade, esta obviamente que também
variou ao longo do tempo. Ao contrário do que se possa pensar, nem sempre existiu a
ideia de que a sexualidade era qualquer coisa negativa e em alguns contextos chegou, e
chega ainda nos dias de hoje, a ser considerada como algo de extremamente positivo,
uma forma superior de espiritualidade, como é o caso das correntes tântricas da religião
hindu (daí a questão do sexo tântrico), que deram origem à construcção de templos com
estátuas de casais a terem relações sexuais que podem ainda actualmente ser vistas em
certas zonas da Índia.
Mas também no ocidente se encontram alturas da História em que existia uma maior
abertura para com as questões da sexualidade, por exemplo durante o Renascimento, o
que permite, por exemplo, que Leonardo da Vinci realize os seus estudos sobre
reprodução e sobre anatomia sexual e que ele próprio e outros realizem algumas das
belíssimas obras de arte que todos já vimos e que retratam corpos perfeitos e
despudorados. Por outro lado, períodos como a Idade Média ou o século XIX, em que
predominou a corrente do Vitorianismo, verifica-se uma repressão explícita e por vezes
mesmo agressiva da sexualidade.
Na actualidade, vivemos num período de transição, em que assistimos a uma
progressiva abertura face à sexualidade mas em que, ao mesmo tempo, ainda existem
ecos de um passado que condenava a sexualidade e que a associava ao pecado e a tudo
aquilo que pode ser negativo no ser humano – visão esta radicalmente diferente da
hindu que já referimos.
Por último, resta-nos a questão de saber se sexo e drogas fazem mal à saúde. É uma
questão também ela controversa, mas em relação à qual temos já certas informações que
nos chegam da investigação científica e já não da subjectividade da moral ou da rigidez,
por vezes desadequada (em relação à diversidade de realidades com que tem de lidar),
da lei.
Quando falamos dos efeitos das drogas para a saúde, temos de ter a consciência de
que estamos a referirmo-nos a muita coisa diferente. Ou seja, de todas as drogas que
existem, ou mesmo se nos ficarmos por aquelas que são mais comuns entre nós, existem
algumas que se sabe serem mais ou menos inócuas para a saúde, como é o caso da
heroína ou do cannabis, e outras que podem afectar a saúde de uma forma por vezes
grave, como é o caso do álcool, dos barbitúricos ou do ecstasy. Em relação a estas
últimas, sabemos que a sua toma pode ter efeitos por vezes graves sobre o organismo,
como é o caso de problemas cardíacos em consumidores de ecstasy, ou dos problemas
de fígado em alcoólicos, sendo que alguns destes efeitos são potencialmente
irreversíveis.
É por esse motivo que alguns defendem que se deve dar droga aos toxicodependentes,
porque essa seria uma maneira de evitar alguns dos problemas sociais e médicos que se
encontram associados à toxicodependência. Mas, por outro lado, há a ter em conta os
efeitos que a droga tem sobre a consciência e sobre o comportamento. O que acontece é
que muitos toxicodependentes, em particular de drogas duras, acabam por fazer coisas
que lhes afectam a saúde. Assim, ainda que não seja a droga em si a afectar a saúde
destes indivíduos de uma forma directa, eles acabam por ter muitos problemas de saúde
devido ao que fazem para arranjar droga (por exemplo, prostituir-se), ao que fazem
quando estão sob o efeito da droga (por exemplo, conduzir sob o efeito de álcool) ou
ainda ao que fazem por causa das consequências sociais da toxicodependência (por
exemplo, dormir na rua ou não ir ao médico quando se está doente).
Mesmo um simples charro pode afectar o que o indivíduo faz ou a forma como pensa e
levá-lo a fazer coisas que de outro modo não faria, como seja ter relações sexuais sem
preservativo ou qualquer coisa tão simples como seja atravessar a rua sem olhar para os
dois lados e, devido a isso, ser atropelado. Certamente que muitas mais coisas haveriam
a dizer sobre esta questão da relação entre a droga e a saúde, sendo que me limitei a
apontar alguns dos que me parecem mais importantes. Não queria deixar de referir,
porém que muitas vezes quando se consomem drogas está-se também a levar muitos
brindes.
O que eu quero dizer com isto é que uma das formas de aumentar o lucro que se tem
com a droga é misturando-lhe outras substâncias, os chamados produtos de corte, e que
esses sim podem ser prejudiciais para a saúde. Tal é o caso do gesso, do giz ou até do
amoníaco ou do cimento, que podem ser misturados na heroína ou na cocaína, muitas
vezes com efeitos fatais para quem os consome.
No caso da sexualidade, o que se sabe sobre as suas relações com a saúde não é muito
mas, regra geral, o que se pode dizer é que o sexo faz bem à saúde! Desde o facto de
constituir uma forma de exercício físico moderado, passando pela possibilidade que
oferece de estimular a círculação sanguínea, sabe-se ainda que pode ser uma forma de
aliviar a tensão e até de atenuar a dor em pessoas que possuam problemas de dor
crónica. Falando em saúde num sentido lato, que inclui tanto a vertente física como a
emocional, a sexualidade acaba também e obviamente, por ter uma importância
determinante na manutenção da saúde mental, por exemplo, por possibilitar a
proximidade e a intimidade entre um indivíduo e o seu parceiro, aumentando a sua
satisfação e bem estar em relação à vida em geral, entre muitas outras coisas.
É claro que, no meio de todos estes aspectos mais positivos, não nos podemos esquecer
que existem aspectos da sexualidade e comportamentos sexuais que podem afectar de
uma forma negativa a saúde. Aliás, hoje em dia é muito fácil cair na tentação de apenas
abordar a sexualidade em relação ao que de mau ela pode trazer, o que se deve, em
grande medida ao aparecimento da SIDA em inícios dos anos 80, com todas as
complicações que veio a trazer em termos de saúde e em termos sociais. De resto, a não
utilização do preservativo, a possibilidade de engravidar num momento da vida em que
não se deseja que tal aconteça, uma interrupção da gravidez feita em condições pouco
adequadas, uma violação, uma doença sexualmente transmissível, são alguns exemplos
de situações em que saúde e sexualidade se intersectam da pior forma, com
consequências graves para o bem-estar do indivíduo e, consequentemente, para o
daqueles que o rodeiam.
Conclusões gerais
Direito, moral e saúde: três áreas que com alguma frequência são associadas a drogas e
ao sexo, ambas frequentemente consideradas polémicas. Desta nossa análise, um tanto
ou quanto superficial, relativamente às questões que se levantam a propósito da
toxicodependência e da sexualidade quando os parâmetros de leitura são estes três,
resta-nos tecer alguns comentários em jeito de conclusão:
Por último, há também que não esquecer que muitas pessoas procuram consumir
drogas por motivos sexuais. Ou seja, por vezes o motivo que leva algumas pessoas a
consumir drogas pode ser por quererem sentir-se mais descontraídas e, portanto, mais
capazes de travar novos conhecimentos. Outras tomam certas drogas porque acham que
vão ter mais prazer nas relações sexuais. Outras ainda, tomam-nas porque são muito
inibidos em relação ao sexo e por isso pensam que vão ser mais capazes de se envolver
em relações sexuais se consumirem a droga A ou B. Quase todas as drogas podem ser
utilizadas por estes motivos, ainda que algumas sejam mais associadas a esta questão,
como sejam o álcool, o cannabis ou o ecstasy.
Sem dúvida que, se a pessoa estiver um pouco desinibida, acaba por estar mais
disponível para um envolvimento sexual. Pode até acontecer que tenha certos
comportamentos e que se envolva com certas pessoas, o que não faria se estivesse no
seu estado ―normal‖. Porém, de investigações realizadas, sabemos que álcool e drogas
podem, pelo contrário, prejudicar a actividade sexual, por exemplo, dificultando a
erecção no homem e a lubrificação vaginal da mulher. No caso do ecstasy, então, a
perspectiva é ainda pior: apesar de as pessoas que consomem esta droga dizerem que se
sentem muito próximas das outras – é a chamada love drug – o facto é que sob, o seu
efeito, raramente se consegue ter relações sexuais.
Sexo e drogas, legais, ilegais, morais, imorais, bons e maus para a saúde. Como tudo na
vida, deverão ser utilizados com conta peso e medida. Mesmo em relação ao álcool,
existem médicos que aconselham que um copo de vez em quando faz bem à saúde. É
claro que o ideal é que as pessoas consigam evitar as drogas porque de facto podem, na
maioria das circunstâncias ser prejudiciais para si próprias e também para terceiros.
Em relação à sexualidade, já não se pede o mesmo... Pobres de nós se as relações
sexuais tivessem que ser evitadas por poderem fazer mal. Apesar de que, também em
relação à sexualidade, se tenha que ter certos cuidados e que também ela deva ser
utilizada com moderação e ponderação quanto baste, para que não chegue a ser ilegal,
imoral ou que faça mal à saúde...
Sexualidade
A sexualidade humana é uma das competências mais interessantes e alargadas das funções
vitais, pelo que não deve ser em nenhum caso resumida de uma maneira simplista a relações
sexuais e muito menos ao uso do preservativo, como às vezes acontece.
Não estranha também que o ser humano seja um ser dotado de uma sexualidade muito
evidente, que se manifesta desde o primeiro momento de vida, e é exercida até ao fim. Poderá
não ser expressa, evidentemente, do mesmo modo, da mesma maneira ou com os mesmos
ritmos, mas é do cruzamento das diversas curvas sinusóides das vertentes mencionadas acima
que se vai construindo os diversos equilíbrios, ao longo da vida, permitindo viver o conjunto da
sexualidade de uma maneira harmoniosa, tranquila e gratificante. Muitas vezes, infelizmente,
tal não acontece e, seja como for, a construção desse equilíbrio requer muita "maestria", já
que a instabilidade, as dúvidas e os conflitos internos e externos, os riscos e os perigos são
uma regra quase geral.
O namoro
O namoro é um dos pontos mais interessantes da vivência da sexualidade e pode (deve) ser
vivido em todas as idades. Se é, quanto a mim, ridícula a insistência actual de muitos adultos
em tentarem atribuir namorados e namoradas a meninos de 3 e de 4 anos (ou mesmo de 8 e
9), a palavra namorar é das mais expressivas e tem vários significados - de facto, (...)
"namorar" pode significar: acotiar, agradar, apaixonar, apetecer, arrulhar, atrair, azeitar,
cativar, catrapiscar, chamar, cobiçar, cortejar, derriçar, desejar, embelezar, enlevar, falar,
flertar, galantear, graxear, namoricar, prosear, rampanar, rascar, rentear, requebrar,
requestar, sapecar, seduzir, servir, simpatizar, tourear (in Enciclopédia ?Educar Adolescentes?
? Lexicultural).
Muitas noções poderíamos tirar destes sinónimos, alguns deles verdadeiramente inesperados,
mas uma coisa é certa: namorar implica desejo, atracção, cobiça, e todo o processo de
"conquista" ("catrapiscar"?!?) do ser amado, que passa por galantear, cativar ou até, segundo
o dicionário, por "dar graxa" (azeitar... graxear...)? e também exercer a arte da sedução, uma
das artes mais nobres e mais fascinantes (e também mais divertidas) de que o ser humano é
capaz. Já a expressão "tourear", confessamos que deverá sempre ser considerada como
estando por acaso, pois embora comum na "arte de namorar", não expressa geralmente
relações muito transparentes e honestas? mas enfim. Dicionário é dicionário?
Voltando atrás, há uns milhões de anos (dados surgidos no início de Dezembro de 2002
apontam já para 6 milhões de anos...), quando as raparigas atingiam a menarca e tinham pois a
sua primeira menstruação, ficavam capacitadas para ser mães. Os rapazes, por sua vez, ao
terem as primeiras ejaculações, eram potenciais pais. Mas se durante alguns milénios,
provavelmente, as relações reprodutivas terão sido (com o são ainda em alguns pontos do
Planeta) diferenciadas dos afectos, rapidamente as coisas começaram a evoluir no sentido da
monogamia (que, repetimos, não é "lei corrente" em muitos pontos e em muitas sociedades e
pessoas, sem que possamos fazer sobre isso quaisquer juízos de valor, éticos ou outros). O
sentimento de poder masculino, associado ao "ter" (ter "pilinha", leia-se), acasalou bem com o
sentimento de "não ter", com o complexo de castração das mulheres, com afinal o culto do
"ser" (e às vezes do "parecer"). Eles a quererem conquistar, elas a quererem deixar-se
conquistar. Estavam na mesa todos os ingredientes necessários ao jogo ? a um grande jogo.
Por outro lado, estando também na mesa responsabilidades grandes - como o de escolher o
pai ou a mãe dos filhos, o companheiro ou a companheira de uma vida e, tantas vezes, o
herdeiro ou herdeira de fortunas, bens, terras ou outras coisas semelhantes, bem como a
integração na família, no clã, na tribo ou na comunidade - a escolha prévia ao "acasalamento"
passou também a ser mais elaborada e a envolver muita outra coisa. Acresce que a chamada
"lei do mais forte", que através de várias formas afastava os potenciais concorrentes até deixar
o que, geralmente pela sua força física, se conseguia impor, perdeu muita da sua validade - a
astúcia, o poder de sedução, o charme (e tantas outras coisas) começaram a ganhar valor. Bem
como os verdadeiros afectos e sentimentos.
É assim que surge o namoro - uma fase que começa, muitas vezes, sem se saber muito bem
porquê e que evolui com diversos ritmos e desenlaces. De facto, não se sabe muito bem o que,
numa pessoa, atrai outra - provavelmente muitos factores, também eles valorizados conforme
a personalidade, as expectativas e os desejos e prioridades de cada um. As feromonas, espécie
de hormonas sentidas a larga distância pelo nariz, têm o condão de atrair - a ciência explica
isso. A beleza (e há tantos conceitos diferentes de beleza, de graça, de ser-se "giro" mesmo se
feio, etc, etc), a inteligência, a ternura, a simpatia, o humor, o feitio, a elegância (no corpo e na
maneira de ser), enfim, são alguns entre tantos e tantos ingredientes que provocam a atracção
e o desejo de conquistar o outro ou a outra.
Depois deste primeiro click, segue-se outra fase: a da confirmação da escolha, que terá que
passar por um melhor conhecimento dos pontos fracos e fortes da pessoa amada. Mas o pior é
que a paixão e o desejo de conquista, pela sua natureza "transitoriamente patológica", faz
muitas vezes (provavelmente sempre) perder a noção crítica e a lucidez - uma pessoa
apaixonada não tem os pés na Terra, para ela só o outro existe, e o mundo e as pessoas são
algo que perdeu totalmente a prioridade e o valor.
Outro aspecto importante no início do namoro é tentar ter a certeza, não apenas de que
aquela pessoa é a pessoa amada, como a de que as outras que ficaram de fora (mas perto) não
são também pessoas amadas, pois para quem começa a desenvolver sentimentos afectivos
que nunca experimentou (e se calhar ao longo de toda a vida isto acontece?), é por vezes difícil
ter essa certeza. Um dia parece ser aquela pessoa, mas no dia seguinte parece ser a outra. Só
que os compromissos que se assumem com uma, excluem à partida (pelo menos nas
sociedades ocidentais) compromissos de timbre igual com as outras.
Uma vez tida essa certeza - seja ela mais duradoura ou menos duradoura, mais firme ou
menos firme -, "as coisas começam a aquecer", pois o passo seguinte é ser correspondido.
"Apenas isso"? mas o "isso" é tanto e às vezes tão penoso!. A gestão desta fase é
tremendamente difícil e, em caso de um desenlace negativo, pode dar azo a grandes
traumatismos, sentimentos destrutivos da auto-estima e do auto-conceito, e regressões a
vários níveis, designadamente uma grande desconfiança e insegurança quanto à capacidade de
"conseguir" - o "desempenho" é um dos fantasmas que sempre acompanha os adolescentes,
nas suas relações amorosas.
Diga-se também, que tudo isto se passa, pelo menos ao princípio, em linguagem codificada -
corporal, falada ou outra -, mas codificada. Há quem avance logo com os termos e os
propósitos, sem estar com "rodriguinhos", mas é raro e ainda mal visto. O jogo da sedução é
um jogo de interpretações e de sugestões. E tantas vezes, sobretudo para quem é inexperiente
(como é o caso dos adolescentes) ou quem não tem grande jeito ou aptidões para estas coisas,
as sugestões podem ser mal interpretadas e as interpretações mal sugeridas. Se ela sorri para
mim, que fazer? Será que sorriu porque se lembrou de uma coisa engraçada? Será que sorriu
porque estava bem disposta? Será que sorriu porque teve um espasmo do músculo risorius?
Ou porque até achou piada ao que eu disse, mas não mais do que isso? Ou, pelo contrário, isso
e muito mais? Como saber? E se avanço, como quem fez a interpretação mais correcta (leia-se,
a que me convém), que fazer se ela diz para eu ir "dar uma curva", que estou a meter-me e
que vai chamar alguém e acusar-me de assédio? Ou que, simplesmente, estava a sorrir para o
parceiro do lado, eu é que deveria estar estrábico? mas pode ser, mesmo que numa ténue
hipótese, que me diga que, sim, que era para mim o olhar dela, porque também se sente
atraída.
É neste jogo de parada alta, de grandes inquietações e indefinições, de registos muito subtis e
indefinidos que os adolescentes têm que (sobre)viver. Mas é esse mesmo jogo, com todas as
vitórias e derrotas, penaltis e cartões amarelos, aplausos e vaias, que vai permitir um enfoque
mais certeiro e uma visão cada vez mais lúcida do que se quer, do que se pretende e,
sobretudo, do que é possível face ao que se desejaria se fossemos nós a formatar o mundo e
as pessoas. Mas se calhar, estaremos enganados - a realidade do século XXI não deixa aos
adolescentes a hipótese de perguntar, tímida e inocentemente, ruborizando-se só de pensar
nisso "então, qual é a tua música preferida?", mas sim, porventura, de modo directo e incisivo:
"então, qual é o teu preservativo preferido?". Mas isso não é namoro, pelo menos no sentido
de que estamos a falar. Pode ser uma atitude muito "pragmática" mas mais nada do que isso.
A fase da "manutenção"
E se, em alguns casos, mesmo com "acidentes de percurso", arrufos, amuos e zangas (mas com
o momento inesquecível e indescritível do "fazer as pazes"), as coisas evoluem na
tranquilidade e no sentido da estabilidade - pelo menos durante algum tempo -, noutros o
namoro acaba por ser uma fase de constantes altos e baixos, uma sinusóide que leva a um
grande sofrimento, conflitos e desânimos, os quais desvirtuam o verdadeira intenção do
namoro: o preparar uma solução estável com vista a um futuro comum.
Se o namoro é uma coisa para ser fruída a dois, com todo o encantamento que tem essa
relação privada e quase mística, não é menos verdade que vivemos em sociedade e que as
pessoas não são eremitas, mesmo quando parecem viver no nirvana ou no limbo. E quando
outros valores, para além dos afectos e do amor, entram em jogo - "mas de que família é que
ela é, afinal?", "vamos a ver a quem vão parar os nossos bens?", "não me parece que seja a
melhor pessoa para ser mãe dos nossos netos!", "ele tem cara de quem trabalha pouco e vai
querer explorar a nossa filha!" - e tantas outras coisas semelhantes -, o "caldo" corre mais risco
de "se entornar", surgindo provas de forças, desaguisados, incompreensões, mal-estares,
chegando muitas vezes ao ponto de pré-ruptura ou mesmo rupturas, o que só agrava ainda
mais as coisas.
Ainda um conselho: não vale a pena dar demasiada importância aos namoros dos filhos,
sobretudo no início e quando são os primeiros. É terrível ver pais a darem um relevo a
namoricos que são quase "condutas experimentais", como se se tratasse já de uma coisa
definitiva, envolvendo os avós, os tios e sei lá mais quem. Até uma certa idade, esses
"namorados" deverão ser considerados como amigos e ficar por aí. Isso evita que haja
"hipertrofia" de coisas menores e que, se o namoro acabar, o acontecimento passe a ser um
autêntico "problema nacional". Deixa também aos adolescentes a margem de manobra
necessária para gerirem da melhor forma o namoro, nos vários aspectos relacionais, incluindo
poder pôr-lhe um fim, sem demasiada dor.
Este é uma vertente que os pais têm também que considerar: os receios, riscos, perigos e
realidade das doenças de transmissão sexual, da infecção pelo VIH, da gravidez, não devem
centralizar as suas preocupações e factores de interesse exclusivamente nessa área. A
sexualidade é um fenómeno plurifacetado e que têm a ver com afectos e sentimentos. As
relações sexuais são fundamentais nesse processo e é natural que, a páginas tantas (às vezes
no "prefácio", às vezes só no "epílogo"), o processo de descoberta do corpo e da alma acabe
por terminar nas relações sexuais. É bom os adolescentes estarem prevenidos e serem
conhecedores dos métodos anticonceptivos e preventivos das situações de perigo - mas
espera-se que os pais tenham tido, ao longo de toda a vida, uma acção pedagógica gradual que
evite ter que chamar os filhos, à última da hora e sobre os acontecimentos, para uma conversa
"sobre abelhas e flores".
Os namoros podem ou não ter fim. Por vezes acabam por desistência de um ou dos dois
interessados. Com maior ou menor sofrimento, de uma ou de ambas as partes, mas sempre
com a necessidade de fazer um luto, porque o fim de uma relação, mesmo que por mútuo
acordo e/ou com sensação de alívio, é sempre uma perda e exige um período de reflexão e de
balanço. Não fazer esse luto é perigoso, porque ele virá, inexoravelmente, mais tarde,
podendo cair como uma assombração sobre uma relação posterior.
Outras vezes o namoro evolui para um relacionamento estável e permanente, com vivência
em comum, casamento ou seja a forma que for, filhos, etc. Mas mesmo nesses casos - ou até
sobretudo nesses casos -, é bom que o namoro continue. Sempre. Namorar é bom e é um
factor protector. Mesmo com filhos pequenos, mesmo com filhos menos pequenos. A relação
"horizontal" entre duas pessoas deve sempre manter-se e é independente dos outros
relacionamentos e afectos que possam existir. E não há idades fixas nem limitativas para
namorar? porque o namoro, no que tem de sonhador, de reconfortante, de bom, é necessário
e um bálsamo para qualquer idade.
Mário Cordeiro, autor deste artigo gentilmente cedido pela revista Adolescentes, é Professor
de Pediatria.
SIDA
SIDA
Os médicos afirmam que a SIDA é causada por um vírus (Vírus da Imunodeficiência Humana -
VIH). O VIH é um vírus frágil que não sobrevive fora do organismo, a não ser em condições
excepcionais. Mas após entrar no organismo, pode aí permanecer "silencioso" ou "escondido"
durante meses ou até anos e, com maior ou menor velocidade, fazer grandes estragos no
sistema imunitário.
Por isso, é frequente que pessoas que parecem estar de boa saúde possam, sem o saber,
transmitir o vírus a outras. Os médicos ainda não têm certezas sobre a percentagem de
pessoas contaminadas com o vírus virão a desenvolver a doença a que chamamos SIDA.
Também ainda não se sabe quanto tempo pode passar desde o momento da contaminação até
ao aparecimento visível da doença.
Contudo, parece não haver dúvidas de que com o tratamento médico adequado, menos
pessoas contaminadas virão a desenvolver SIDA. Actualmente, julga-se que muitas pessoas
contaminadas pelo VIH podem viver com a doença durante muitos anos. Cada vez mais a
doença provocada pelo VIH é uma doença crónica, que pode ser controlada, tal como a
diabetes ou a hipertensão arterial.
O vírus não se transmite pelo ar, através dos espirros ou da tosse. Por isso, não há perigo
nenhum no contacto social quotidiano com pessoas infectadas pelo VIH. "Seropositivo" para o
VIH não é a mesma coisa que SIDA, as pessoas com VIH não têm, automaticamente, SIDA.
O sistema imunitário humano tem como função reconhecer agentes agressores e defender o
organismo da sua acção. Os órgãos e células que o constituem asseguram essa protecção.
Entre as células do sistema imunitário, destacam-se os glóbulos brancos (também designados
linfócitos), que podem ser de tipos T e de tipo B.
Os glóbulos brancos são produzidos na medula óssea, um dos órgãos primários do sistema
imunitário, juntamente com o timo (que, como sabes, é uma glândula localizada na base do
pescoço, atrás do esterno). Os órgãos secundários são o baço, as amígdalas e os adenóides e o
sistema linfático.
Os sintomas
Não existe um sintoma ou um conjunto de sintomas que possa levar qualquer profissional de
saúde a fazer um diagnóstico eficaz e imediato da SIDA em quem quer que seja. Os sintomas
que surgem associados à SIDA são os sintomas das infecções oportunistas cuja penetração no
corpo o vírus VHI facilita, ao destruir progressivamente o sistema imunitário. E uma vez que os
sintomas se podem reforçar mutuamente, mascarar ou misturar, o leque de sintomas pode ser
vastíssimo, embora existam alguns mais comuns (porque são também mais comuns as
infecções oportunistas que os provocam).
Assim, algumas pessoas contaminadas apresentam sintomas semelhantes aos de uma gripe
como febre, suores, dores de cabeça, de estômago, nos músculos e nas articulações, fadiga,
dificuldades em engolir, glândulas linfáticas inchadas e uma leve comichão. Segundo algumas
fontes ligadas à indústria farmacêutica, calcula-se que cerca de 50 por cento dos infectados
apresentem estes sintomas.
Algumas pessoas também perdem peso e outras, ocasionalmente, podem perder a mobilidade
dos braços e pernas, mas recuperam-na passado pouco tempo. A fase aguda da infecção com
VIH dura entre uma a três semanas. Todos recuperam desta fase, em resposta da reacção do
sistema imunitário, os sintomas desaparecem e observa-se uma redução do número de vírus
presentes no organismo.
Os seropositivos vivem um período em que não apresentam sintomas, embora o vírus esteja a
multiplicar-se no seu organismo o que pode prolongar-se por diversos anos. É neste período
que se encontram, actualmente, 70 a 80 por cento dos infectados em todo o mundo.
Prevenção
Sucintamente, eis algumas medidas que previnem a transmissão da SIDA: usar sempre
preservativo nas relações sexuais, não partilhar seringas e outros objectos cortantes (agulhas
de acupunctura, instrumentos para fazer tatuagens e piercings, de cabeleireiro, manicura).