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O QUESTIONAMENTO DOS ALUNOS E OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO UNIVERSITÁRIO....................... 111
AS QUESTÕES DOS ALUNOS NA AVALIAÇÃO EM QUÍMICA, NO ENSINO UNIVERSITÁRIO ............................................ 113
IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO/APRENDIZAGEM E DE AVALIAÇÃO EM DISCIPLINAS
CLÁSSICAS – RETRATO DE UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR.............................................................................. 117
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal – Uma Apresentação
O conjunto de textos que compõem este livro têm uma característica em comum, são todos eles relatos de
práticas de actores da Educação em Ciência em Portugal. Ao fazer a sua apresentação geral impõem-se algumas
questões: O que são relatos de práticas? Qual o valor e importância dos relatos de práticas? Qual a visibilidade
das práticas?
Estes “relatos de práticas” não são, certamente, representativos do que se faz em Portugal. Eles surgiram num
contexto específico: a realização do XII Encontro Nacional de Educação em Ciências, realizado na Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro (onde os textos foram apresentados também oralmente) que dedicou especial
atenção às práticas. São todavia relevantes, na medida em que resultam de um duplo esforço de os tornar
públicos: antes de mais dos próprios actores/autores e também do trabalho de um conjunto de pessoas que
asseguraram a avaliação duplamente cega dos textos antes de serem aceites e da sua valorização posterior.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal – Uma Apresentação
membros da Comissão de Profissionais (pessoas especialmente habilitadas pelas suas competências práticas e
não necessariamente pelas suas competências de investigação) e arbitrados pelo presidente da Comissão
Científica do XII ENEC. Este processo foi duplamente blindado (dos autores para os avaliadores e vice-versa) e
teve em conta os seguintes critérios:
• Adequação da proposta aos objectivos do encontro,
• Enquadramento aos objectivos e características dos relatos de práticas,
• Qualidade do texto (estrutura, clareza e pertinência dos aspectos tratados),
• Linguagem (terminologia da área e clareza),
• Relevância e inovação da proposta,
• Apreciação global que incluía um parecer a favor de uma aceitação, aceitação após revisão ou
rejeição.
Os relatos submetidos ao XII ENEC foram em número de 43, tendo sido aceites 35, dos quais 23 após
reformulação. Estes números só por si dizem da exigência que se impôs e do cuidado em valorizar os relatos de
práticas.
Os relatos foram agrupados por área/nível de ensino dando origem a cinco fóruns (apresentados no livro nas
respectivas secções):
• Práticas de ensino nos primeiros anos de escolaridade.
• Práticas de ensino em ciências naturais/biologia-geologia (3ºceb/Sec.)
• Práticas de ensino em ciências físico-químicas/física-química (3ºceb/Sec.)
• Práticas de ensino no ensino superior
• Práticas de divulgação de ciência
Cada um destes fóruns teve um coordenador que apreciou e valorizou à posteriori os relatos previamente
avaliados e seleccionados. O texto de cada coordenador figura no início de cada secção.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Neste texto pretende-se enquadrar e relevar as práticas presentes neste fórum. Situando-as, porém, num âmbito
mais amplo de relações que se podem estabelecer entre elas, a inovação que reflectem e a investigação em que se
ancoram. Elencando, na medida do possível, questões que continuam a emergir e cuja tomada de consciência pode
ajudar a melhorar umas e outras.
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Práticas de Ensino nos primeiros anos de escolaridade
Seguidamente faz-se uma breve apreciação de cada relato destacando o que se considera mais relevante e
enunciando algumas questões que eles possibilitam debater.
Assim no que respeita a “Círculos Experimentais de Matemática” este relato mostra como é possível
aprender num contexto informal, de uma forma lúdica, com maior ou menor esforço mas certamente com prazer.
Terão eles de ser forçosamente excludentes? Será desejável estabelecer ,e se sim como, alguma articulação
com o trabalho curricular “sério”?
Em “Dissolução de Materiais Sólidos em Água: Uma Abordagem Experimental Sócio-construtivista Com
Alunos do 1º Ano de Escolaridade” trata-se de um relato claro e conceptualmente rigoroso, um bom testemunho
da importância de um questionamento adequado no sentido de nessa interacção ajudar as crianças a
ultrapassarem dificuldades e avançarem na aprendizagem. Questionamento esse que apela, antes de mais, a uma
formação científica básica dos professores do 1º Ciclo. Mas não exige também uma boa formação científico-
metodológica de modo a saberem colocar, e ajudar os alunos a construírem, as “boas” questões de que fala
Sheila Jelly? E, ainda, articular na formação ambas as vertentes? Embora no contexto do ensino/aprendizagem
das ciências este relato sublinha o papel fulcral da aprendizagem no desenvolvimento humano, relançando a
questão das relações entre ambos, dos contributos de Piaget e Vygotsky e da possibilidade de conciliação entre
epistemologias tão diversas.
O relato “Materiais Didácticos Para A Abordagem Da Qualidade Da Água No 1º Ciclo do Ensino Básico,
Segundo Uma Perspectiva CTS” aposta na construção e validação de materiais didácticos considerando-os
como facilitadores de uma aprendizagem de conhecimentos mas também de capacidades, atitudes e valores
revelando preocupações de articulação e coerência nem sempre presentes em trabalhos deste teor. Sendo um
apoio fundamental para o professor não poderão constituir uma mudança ilusória se não se alterarem as suas
concepções e atitudes/valores?
Com “Concepção, Construção, Publicação e Validação de um Site Promotor do Trabalho Experimental No
1º Ciclo” tem-se um relato de uma enorme relevância face à acelerada evolução tecnológica e aos problemas que
ela coloca à função do educador/professor. Representa um esforço significativo de tornar as ciências apelativas
para os jovens colocando as TIC ao serviço da sua educação científica dos jovens sem deixar de desenvolver
também capacidades no seu campo específico. Configurando-se, ainda, como recurso significativo para os
professores para além da pesquisa de informações que já vai sendo mais comum. Porém e sobretudo neste
domínio como conciliar a necessária abertura `a mudança com uma não menos necessária atitude crítica, face à
evolução científica e tecnológica e às suas implicações no desenvolvimento humano e planetário, como há muito
nos vem alertando Edgar Morin (2000)?
No conjunto destes relatos há ainda alguns aspectos significativos. Todos eles se referem a práticas levadas
a cabo com crianças, nalguns casos mediadas por investigadores, embora com colaboração mais ou menos
directa dos professores, noutros já assumidas pelos próprios professores. Enquadram-se todavia em trabalhos de
mestrado. Por um lado mostra haver uma consolidação de investigação com os professores ( para além da que é
feita para e sobre os professores e que não deixa de ter o seu lugar), com vantagens para ambos e em particular
dos professores promovendo a sua actualização científica específica e metodológica no domínio do
ensino/aprendizagem das ciências mas sobretudo facilitando o seu acesso à investigação e a uma permanente
actualização. Acaba assim, por outro lado, por ser revelador da distância que ainda há que vencer para criar
condições de modo a que outras práticas sejam também aqui presentes. Porém apesar de uma vulgarização cada
vez maior dos mestrados a acentuar-se com o Processo de Bolonha há muitos professores que a eles não têm
acesso.
Muito há ainda a fazer no domino da formação de professores, inicial e contínua, para haver uma efectiva
mudança de práticas. Mesmo investindo em modelos que implicam um maior envolvimento com os professores
(Jorge, 2006) as condicionantes são muitas e de vária ordem. Tal tem sido bem visível no decorrer do Programa
de Formação de Professores do 1º CEB em Ensino Experimental das Ciências (Martins, et al., 2006) lançado
pelo ME e pelo qual se tem sido responsável na UTAD.
Julga-se que seria vantajoso para investigadores e professores dar passos mais decisivos na superação do
fosso ainda existente entre as instituições de formação e as escolas, entre teoria e prática, tendo embora em conta
as suas especificidades (Rozada, 2006). De modo a conseguir-se uma melhoria efectiva das práticas de Educação
em Ciências. Sobretudo se se considerar quanto elas podem ser determinantes no desenvolvimento dos jovens, e
como os professores podem contribuir fortemente para a aprendizagem dos alunos (Wenglinsky, 2002). Não será
esse afinal o motivo que justificou este fórum?
Referências Bibliográficas
Cachapuz, A., Praia, J., Jorge, M. (2002). Ciência, Educação em Ciências e Ensino das Ciências. Ministério
da Educação, IIE: Lisboa.
Harlen, W. (1996) .The Teaching of science in Primary Schools. David Fulton: London
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Jorge, M. (2006) . Formação Contínua de Professores do 1ºCiclo do Ensino Básico na Área das Ciências
Naturais – Uma Perspectiva Inovadora de Formação para o Ensino do Tópico “Ar. Dissertação de Doutoramento
não publicada. Universidade de Trás-os Montes e Alto Douro.
Martins, I., et al. (2006). Educação em Ciências e Ensino Experimental – Formação de Professores.
Ministério da Educação, DGIDC: Lisboa.
Morin, E. (2000) Les Sept Savoirs nécessaires á l´education du future. Ed.Seuil: Paris.
Rozada, J., Mª. (2006). Son Posibles las puentes entre la teoria y la práctica, por todo el mundo demandadas,
sin pilares intermedios?. In Con – Ciência Social, nº 10: Sevilla
Wenglinsky, H. (2002). How Schools Matter. The link Between teacher classroom practices and student
academic performance. Education Policy Analysis Archives, 10 (12).
Nesta comunicação apresenta-se o relato de uma prática de ensino experimental reflexivo, desenvolvida numa
turma do 1º ano de escolaridade, sobre a dissolução de materiais sólidos em água. A descrição e análise do
processo são concomitantes com a apresentação de resultados de aprendizagem que vão ocorrendo na turma. Da
análise do processo de ensino-aprendizagem, conjugada com os resultados obtidos em inquérito de avaliação
individual, conclui-se que uma larga maioria dos alunos desenvolveram, para o fenómeno de dissolução, um
modelo de fragmentação do material em partículas, que se dispersam no líquido, tornando-se invisíveis.
questão. Outras respostas dos alunos exprimem a previsão de que a areia continuará visível dentro da água. Ao
ser reformulada a questão, ninguém exprime a ideia de que a areia deixa de se ver.
Elaboração de um plano simplificado:
Excerto do diário: O que deveremos fazer para ver se as vossas opiniões estão correctas? - Temos que ter
um copo transparente para se ver (Filipa; 6,2 anos); põe-se um copo com água e depois põe-se lá a areia e
mexe-se (Pedro; 6,3 anos); e depois mexe-se (Gabriel; 6,3 anos); temos que ter um coiso para mexer (Susana;
6,6 anos); pode ser uma colher (Mafalda); um lápis também dá (Júlia; 6,7 anos).
No plano construído colectivamente estão presentes os seguintes elementos: i) material: copo transparente,
com água, areia e colher; ii) procedimentos: deitar a areia no copo e agitar; iii) observar (“para se ver”). O
discurso dos alunos, ao invés de egocêntrico, revela uma efectiva comunicação. Cada aluno reafirma, de forma
implícita ou explícita, a ideia anteriormente expressa por outro aluno, e intervém num dos seguintes sentidos: i)
dar à ideia anterior uma formulação mais elaborada; ii) complementar a ideia anterior com novos elementos a
integrar no plano.
Em grupo, os alunos executam os procedimentos práticos e realizam observações.
A visibilidade da areia parece ser tomada como óbvia e, talvez por isso, as observações incidem
preferencialmente sobre algo mais relevante, em termos perceptivos: a sujidade da água. Quando a areia se
imobiliza alguns alunos sublinham a visibilidade da areia no fundo do copo.
O que irá acontecer se colocarmos agora um pouco de açúcar num copo também com água?
Previsões acerca do comportamento do açúcar na água: A previsão dominante é que o açúcar vai deixar de
se ver. Na discussão há uma aluna que revê uma ideia inicial e apresenta uma teoria criativa e elaborada: O
açúcar vai desfazer-se devagarinho e depois como a cor é parecida com a água ficava depois tudo igual
(Mafalda; 6,4 anos).
Os grupos realizam a actividade experimental: Perante a evidência, as crianças dizem que o açúcar
desapareceu, apesar de o investigador-professor colocar as questões em termos da possibilidade de o açúcar se
ver ou deixar de se ver. A palavra desaparecer, utilizada pelas crianças, pode ter diferentes significados: deixar
de existir ou permanecer no líquido de forma não visível.
Dissolução do açúcar com noção de conservação
Nível 1: Depois da discussão é claramente maioritária a ideia de que o açúcar permanece na água (61,1% vs
38,9%). Os alunos que não têm noção de conservação afirmam que o açúcar não está no recipiente, porém,
quando questionados, assumem desconhecer o seu destino.
Nível 2: Depois de provarem a água açucarada, nenhum aluno reafirma a inexistência do açúcar . A Mafalda
expõe a teoria já antes apresentada, numa forma mais elaborada: “o açúcar está espalhado, mas ainda está lá. Só
que como o açúcar ficou em coisinhas muito pequeninas não se conseguem ver porque a cor é muita parecida,
esses coisinhos pequenininhos espalham-se por todo o lado e não se conseguem ver bem”. A concepção
atomística e invisível do açúcar dissolvido (Piaget & Inhelder, 1971), alicerçada na divisibilidade (o açúcar ficou
em coisinhas muito pequeninas) e dispersão no interior da água (espalham-se por todo o lado), conferem maior
inteligibilidade à noção de conservação da matéria. Esta concepção é apresentada à apreciação colectiva.
Solúvel e insolúvel
Nível 1: São introduzidos os termos solúvel e insolúvel. Os alunos, em interacção de pequeno grupo e com o
investigador-professor, são estimulados a reflectir sobre o significado dos termos aplicados ao açúcar e à areia,
respectivamente. Nas respostas a sucessivas questões que vão sendo formuladas, estão presentes os seguintes
atributos:
Solúvel: o açúcar depois de agitado na água deixa de se ver, porque: i) se espalhou; ii) se desfez em
fragmentos que ficam escondidos na água; iii) fica da cor da água.
Insolúvel: a areia depois de agitada na água continua a ver-se e fica no fundo.
Nível 2: Os grupos classificam outros materiais de acordo com o critério solúvel/insolúvel em água. Há
consenso nos conjuntos formados: i) pedra, arroz e plasticina – materiais insolúveis; ii) sal – material solúvel. As
evidências produzidas pelos grupos são concordantes com as previsões.
Nível 3: Excerto do diário: Depois da reflexão em grupo, os grupos apresentam oralmente as seguintes
explicações, através de um porta-voz:
Grupo 1: o sal é solúvel, porque separou-se em pedacinhos pequeninos e depois ficou todo na água e não se
vê. Os outros são insolúveis, porque vêem-se na mesma. (…)
Grupo 4: o sal desapareceu e os outros não. Perguntei-lhes se queriam dizer que saiu do copo. - Não,
fomos nós que mexemos e depois ficou muito pequenino e ficou dentro da água; espalhou-se por todo o lado da
água, é solúvel; Os outros ficaram na mesma, a ver-se no fundo, são insolúveis…; a pedra não mudou de forma.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Grupo 5: o sal é solúvel, porque desfez-se em coisinhos pequeninos e depois espalhou-se por todo o lado e
para o meio e agora não se vê; A pedra, o arroz e a plasticina são insolúveis, porque não se espalharam como o
sal e ficaram na mesma a ver-se no fundo.
A visão atomística da dissolução do sal, baseada na divisibilidade e dispersão, é agora partilhada por todos
os grupos. A comunicação dos alunos é fluente, contrariamente ao processo pedagógico do nível 1. Os atributos
de solubilidade são aplicados, pela negativa, aos materiais insolúveis, o que não acontecia antes. As novas
evidências e a consequente discussão-reflexão nos grupos enriqueceram os significados dos termos solúvel e
insolúvel, e promoveram um modelo para o fenómeno de dissolução.
Assinala com uma cruz (X) a resposta que completa correctamente a frase.
Um sólido é solúvel, porque….
a) desaparece e deixa de estar na água.
b) desfaz-se em pedacinhos muito pequeninos que não se vêem.
c) continua a ver-se no fundo do copo, como a areia.
%Respostas assinaladas
100
14:77,8%
80
60
40
4:22,2%
20
0:0%
0
a) b) c)
Verifica-se que uma larga maioria dos alunos (77,8%) desenvolveram para o fenómeno de dissolução um
modelo de fragmentação do material em partículas, que se dispersam no líquido, tornando-se invisíveis. O termo
solúvel aplica-se a esses materiais. Tal modelo é concomitante com a noção de conservação da matéria: nenhuma
criança assinalou como correcta o item a), apesar daquela ideia ter sido explicitada, na fase inicial da aula, por 7
crianças (38,9%). Tratando-se de dados recolhidos 2 meses após o ensino, essas aprendizagens mostram-se
perduráveis no tempo.
para o plano intrapsicológico, dentro da criança (Vygotsky, 1987). Concebida segundo esta perspectiva, a
aprendizagem é um factor de desenvolvimento favorecendo aprendizagens conceptuais que o nível de
desenvolvimento de partida faria supor não serem possíveis.
Referências Bibliográficas
Davydov, V. V. & Zinchenko, V. P. (1995). A contribuição de Vygotsky para o desenvolvimento da
psicologia. In: Vygotsky em foco: Pressupostos e Desdobramentos. Daniels, H. (Ed.). Papirus Editora, São
Paulo.
Piaget, J. & Inhelder, B. (1971). O Desenvolvimento das Quantidades Físicas na Criança. Zahar Editores,
Rio de Janeiro.
Sá, J. & Varela, P. (2000). The Generative Meaning Process of Living Being With Children 6/7 Years Old:
Learning to think as a strategy for conceptual development. Comunicação apresentada na European Conference
on Educational Research (ECER 2000), organizada pela European Educational Research Association,
Universidade de Edimburgo, Escócia, 20-23 de Setembro.
Sá, J. (1996). Estratégias de Desenvolvimento do Pensamento Científico em Crianças do 1º Ciclo do Ensino
Básico. Tese de Doutoramento. I.E.C. – Universidade do Minho, Braga.
Sá, J. (2000). A Abordagem Experimental das Ciências no Jardim-de-Infância e 1º Ciclo do Ensino Básico:
sua relevância para o processo de educação científica nos níveis de escolaridade seguintes. Inovação, 13, (1), 57-
67.
Sá, J. (2002). Diary Writing: An Interpretative Research Method of Teaching and Learning. Educational
Research and Evaluation , 8 (2), 149-168.
Sá, J.; com Varela, P. (2004). Crianças Aprendem a Pensar Ciências: uma abordagem interdisciplinar. Porto
Editora, Porto.
Varela, P. (2001). Ensino Experimental e Reflexivo no 1º ano de Escolaridade. Provas de Aptidão
Pedagógica e Capacidade Científica. I.E.C. – Universidade do Minho, Braga.
Vygostky, L. S. (2000). A Formação Social da Mente. Martins Fontes Editora, São Paulo.
Vygotsky, L. S. (1987). Pensamento e Linguagem. Martins Fontes Editora, São Paulo.
Na presente comunicação, pretende-se apresentar o trabalho realizado no âmbito de um estudo que promoveu a
exploração da temática “A Qualidade da Água” no 4º ano de escolaridade do 1º Ciclo, segundo uma perspectiva
de ensino CTS. Foram desenvolvidas actividades e estratégias diversificadas e concebidos, produzidos, validados
e aplicados materiais didácticos originais. Os resultados foram positivos no que se refere ao interesse, participação
e aquisição de competências e valores, pelas crianças. Espera-se que os materiais didácticos possam ser utilizados,
por professores e alunos, de forma a concretizar as inovações subjacentes a uma educação em ciências, segundo
uma orientação CTS.
Introdução
Considera-se que o ensino das ciências deve constituir “uma via para a literacia científica nas crianças através
da aquisição de conceitos, atitudes e competências associadas à exploração, socialização, resolução de problemas
e capacidade crítica” (Martins et al., 2002).
Esta orientação do ensino das ciências parece convergir para contextos ligados à Ciência, Tecnologia e
Sociedade (CTS).
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Contexto da Prática
O principal objectivo deste estudo foi desenvolver um processo de concepção, produção e validação de
materiais didácticos, bem como a implementação e avaliação dos mesmos pelos alunos do 4º ano de escolaridade
do 1º Ciclo do Ensino Básico, no decurso do processo de ensino-aprendizagem da temática “Qualidade da
Água”, segundo uma perspectiva de ensino CTS.
Considerou-se ainda relevante levar o aluno a questionar o comportamento humano e o impacto da Ciência e
da Tecnologia na gestão das questões relativas à água.
Para a escolha desta temática foram tidos em conta o Currículo de Ciências, de Educação Tecnológica e de
Estudo do Meio, bem como os critérios de selecção de temas CTS.
Constatou-se que a temática da água e da sua qualidade enquadra -se a diversos níveis no currículo do 1º
ciclo.
No Currículo Nacional do Ensino Básico a exploração desta temática pretende desenvolver as seguintes
competências gerais: (1) “Participar na vida cívica de forma crítica e responsável”; (4) “Utilizar os saberes
científicos e tecnológicos para compreender a realidade sociocultural e abordar situações e problemas do
quotidiano”; (5) “Contribuir para a protecção do meio ambiente, para o equilíbrio ecológico e para a preservação
do património”; (8) “ Cooperar com os outros e trabalhar em grupo” e (13) “Seleccionar, recolher e organizar
informação para esclarecimento de situações e resolução de problemas, segundo a sua natureza e tipo de suporte,
nomeadamente o informático” (DEB, 2001).
As competências específicas situam-se nas áreas de: (1) Estudo do Meio, no domínio do dinamismo das
inter-relações entre o natural e o social; Ciências Físicas e Naturais no tema Sustentabilidade na Terra e na
Educação Tecnológica no sector Tecnologia e a Sociedade e Tecnicas e Consumo (DEB, 2001).
No que se refere ao enquadramento no Programa de Estudo do Meio, o tema da Qualidade da Água situa-se
no Bloco Temático À Descoberta das Inter-Relações entre a Natureza e a Sociedade.(DEB, 1998)
A população-alvo foi constituída por um grupo de 11 alunos, que no ano lectivo de 2005/06 integravam o 4º
ano de escolaridade na turma onde leccionava a professora-investigadora. Esse grupo correspondia ao número
total de alunos do 4º ano que frequentavam a turma.
Relato da Prática
O estudo de natureza qualitativa desenvolveu-se em três fases distintas: na primeira, foram concebidos,
produzidos e validados os materiais didácticos; na segunda, estes foram aplicados no decorrer das actividades
programadas e avaliados pelos alunos; na terceira e última fase, procedeu-se à apresentação e análise dos
resultados obtidos.
Inicialmente, seleccionou-se a temática globalizadora e procedeu-se à sua planificação, de acordo com os
elementos representados no diagrama da Figura 1.
Concluída a concepção, foram estabelecidos contactos, recolhidos materiais e realizadas visitas preparatórias
guiadas às instalações das Estações de Tratamento de Águas de Abastecimento – ETA (Figura 2, lado esquerdo)
– e residuais – ETAR Norte (Figura 2, lado direito) – que servem a localidade onde os alunos estão inseridos.
Posteriormente foram construídos os materiais didácticos, originalmente construídos pela professora-
investigadora e direccionados especificamente para a exploração da temática seleccionada: um Caderno de
Actividades do Aluno, um Guião de Apoio ao Professor, material para pesquisa em suporte papel (Dossier Água)
e informático; dois filmes vídeo (ETA e ETAR) e duas apresentações animadas de PowerPoint (A Poluição e
Água: Poupar Hoje para não Faltar Amanhã).
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Práticas de Ensino nos primeiros anos de escolaridade
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
No decorrer desta etapa foram reunidas informações por intermédio da observação directa das aulas e
das visitas de estudo, da realização das fichas de avaliação diagnóstico e final e do preenchimento das grelhas de
avaliação e de auto-avaliação. Assim, foi concretizada a recolha dos dados.
Todos os materiais didácticos foram utilizados e suscitaram o interesse dos alunos, mesmo daqueles que
revelavam maiores dificuldades de concentração e baixa motivação.
Os resultados obtidos por intermédio da análise das fichas de avaliação diagnóstico e final, permitiram
verificar que, globalmente: (1) os alunos revelaram uma evolução positiva relativamente à aprendizagem dos
conteúdos mais relevantes de cada unidade temática explorada; (2) foi possível constatar que, oralmente, nas
discussões e debates, todos os alunos: reconheciam a importância da água para o Homem e para a Natureza e as
suas utilizações nas diferentes actividades económicas humanas, identificavam os locais onde água pode ser
encontrada no planeta, com especial ênfase na localização de água “doce”, reconheciam os principais agentes
poluidores dos cursos de água, as consequências da poluição e algumas formas de reduzir os seus efeitos
negativos. (3) as inter-relações CTS foram percepcionadas, uma vez que as crianças demonstraram compreender
globalmente a importância das estações de Tratamento de Águas na salvaguarda da qualidade das águas da
localidade onde vivem e do consequente benefício para as populações; (4) os alunos compreenderam que os
problemas relativos à água afectam a sociedade e o ambiente e que a solução dos mesmos passa pela sua
utilização racional.
Referências Bibliográficas
Acevedo Romero, R, Acevedo-Díaz, J. A. (2003). Proyectos y materiales para la educación CTS: enfoques,
estructuras, contenidos y ejemplos. Em linha em Sala de Lecturas CTS+I de Ia OEI, http://www.campus-
oei.org/salactsi/acevedo19.htm.
DEB (1998). Organização Curricular e Programas Ensino Básico – 1º Ciclo. Editorial do Ministério da
Educação, Departamento de Educação Básica: Mem Martins.
DEB (2001). Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais. Ministério da Educação,
Departamento de Educação Básica: Lisboa.
Martins, T. V., Ferreira, J. P. & Martins, I. (2002). Chuvas Ácidas: uma proposta de acção para o 4º ano de
escolaridade. In Fernandes, Margarida (Org.), Actas do 5º Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da
Educação, O particular e o global no virar do milénio: cruzar saberes em educação. Lisboa: Edições Colibri /
Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, pp. 475-480.
Tenreiro-Vieira, C., Vieira, R. M. (2004). Produção e validação de Materiais Didácticos de cariz CTS para a
educação em Ciências no Ensino Básico. In Martins et al. Perspectivas Ciência – Tecnologia – Sociedade na
Inovação da Educação em Ciências. (pp. 81-87). Aveiro: Universidade de Aveiro.
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Práticas de Ensino nos primeiros anos de escolaridade
[1] Escola Ensino Básico 1º Ciclo Maria Máxima Vaz, Odivelas, paulinhalmeida@netcabo.pt
[2] Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa, ichagas@fc.ul.pt
A presente comunicação descreve uma proposta de integração da Internet no ensino experimental em ciências
adequado ao 1º Ciclo do Ensino Básico. Esta proposta passou pela realização de diversas actividades
experimentais e pelo desenvolvimento de materiais com alunos do 3º e 4º ano, e pela pesquisa de literatura,
cruzando as temáticas: educação em ciências, utilização educativa das TIC e desenvolvimento de software
educativo hipermédia. Como resultado foi desenhado e publicado um site, em português, vocacionado para
promover o ensino experimental das Ciências, assim como o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC).
Introdução
As recentes orientações curriculares, preconizadas pela Reorganização Curricular, colocam a ênfase na
obrigatoriedade do ensino experimental das ciências, no aprofundamento da aprendizagem das línguas
modernas, no desenvolvimento da educação artística e da educação para a cidadania e no reforço do núcleo
central do currículo nos domínios da língua materna e da matemática, mas também na utilização educativa das
TIC. Perspectiva-se que, na escolaridade obrigatória, o trabalho a desenvolver pelos alunos integre,
necessariamente, tarefas de natureza experimental e de pesquisa, adequadas às características das diferentes
áreas, nomeadamente das ciências, dado que este novo documento aponta para a importância que os alunos
aprendam a observar, manusear, relacionar, inferir, descobrir, medir, experimentar, realizar uma exploração
activa do ambiente imediato, realizar trabalhos experimentais, iniciar o desenvolvimento de uma perspectiva
cientifica sugerindo-se que se faça da Ciência uma actividade prática e não apenas algo de que os alunos ouvem
falar. O mesmo documento aponta para que todos os alunos sejam capazes de utilizar as TIC, nomeadamente
para seleccionar, recolher e organizar informação de modo a esclarecerem situações e a resolverem problemas,
processos através dos quais possam desenvolver diversos saberes e competências, assim como comunicar com
outros colegas e outros utilizadores da Internet.
Nos últimos anos, muitas propostas de utilização educativa da Internet têm surgido, entre as quais se
destacam, dado o seu particular interesse no âmbito das Ciências, as webquest (Carvalho, 2006), as visitas de
estudo virtuais (Botelho, Afonso e Chagas, 2004) e os colaboratórios (Chagas, Bettencourt, Sousa e Matos,
2005), todas elas se apresentando como modalidades que podem favorecer a aprendizagem das ciências e o
desenvolvimento de competências de diferentes domínios, assim como de atitudes favoráveis à aprendizagem.
Tais propostas perspectivam um ensino centrado no aluno, em torno dos seus interesses, das suas capacidades,
contemplando diferentes ritmos de aprendizagem.
Contudo, e apesar de “inúmeros professores adoptarem já as novas tecnologias, nomeadamente o recurso à
Net/web como elemento integrante da prática lectiva” (d´Eça, 1998, p.56) e de existirem numerosos projectos de
integração das TIC a decorrer a nível nacional, é uma queixa comum, tanto dos professores como dos alunos, o
reduzido número de recursos disponíveis, nomeadamente de sites em português, adequados ao currículo em geral
e aos programas de Ciências em particular.
Pretendendo dar resposta a estas lacunas, prestando, assim, um contributo para o aperfeiçoamento e
actualização do ensino da ciência e da integração das TIC no 1º ciclo foi criado no ano de 1999, no âmbito das
actividades do Centro de Competência Nónio da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e subsidiado
pelo programa Ciência Viva, o projecto Observatório de Ciências no 1º ciclo (Chagas e Fragoso, 2003) cujos
objectivos visavam o estabelecimento de uma rede inter-escolas de forma a estimular e apoiar o ensino
experimental das ciências, em que as TIC eram utilizadas como ferramenta para a sua concretização e,
consequentemente, a aprendizagem de competências adequadas às actuais exigências curriculares, bem como
contribuir para a criação de sites que se coadunam às exigências dos alunos, dos professores e do currículo.
Neste projecto teve particular importância o desenvolvimento do site que funcionou como contexto para a
abordagem de tópicos programáticos envolvendo o questionamento, a resolução de problemas, a troca e a
partilha de informação. (Fragoso, 2003).
De acordo com o relatório final do projecto, no item Orientações Futuras, seria fundamental actualizar o site
inicial do Observatório; promover o trabalho colaborativo entre professores e entre escolas e desenvolver
projectos de investigação-acção em parceria com as escolas com a finalidade de clarificar os efeitos das
propostas curriculares decorrentes do “Observatório” no desempenho dos alunos em ciências, na sua
17
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
familiarização com as TIC e no desenvolvimento de atitudes e valores que permitam um interesse sustentado
pela aprendizagem da ciência e suas implicações na sociedade actual. (Chagas e Fragoso, 2003, p.26).
No prosseguimento do projecto, em que o presente estudo se integra, pretendeu-se dar resposta às
condicionantes identificadas na primeira fase e dar mais relevância aos alunos, encorajando-os a realizar
actividades que os iniciem nos processos científicos. O site, adequadamente reformulado, continua a funcionar
como contexto, ponto de entrada para a exploração na Internet e para a troca e partilha de informação (Chagas,
2006). Neste quadro, enunciou-se a questão orientadora do presente estudo: qual a organização de um site
dirigido a alunos do 1º ciclo que seja adequado às actuais exigências curriculares em ciências e em TIC? A
seguinte finalidade permitiu operacionalizar aquela questão: identificar aspectos que caracterizam um site
dirigido a alunos e professores do 1º ciclo, promotor do ensino-aprendizagem de Ciências numa abordagem
investigativa e que recorre às TIC de acordo com as orientações curriculares expressas na Reorganização
Curricular. Os seguintes objectivos permitiram detalhar questão e finalidade: seleccionar os materiais
desenvolvidos na primeira fase do projecto Observatório da Ciência no 1º ciclo e a que a presente investigação
dá continuidade, para inclusão na versão reformulada do site; averiguar a aplicabilidade dos materiais
seleccionados em alunos do 4º ano de escolaridade; conceber, desenhar e publicar uma versão actualizada do site
e proceder a uma primeira validação do mesmo (Almeida, 2006).
assim como quanto à natureza e qualidade dos conteúdos. Estas sugestões têm vindo a ser tomadas em
consideração num processo contínuo de melhoramento do site que se pretende melhorar de acordo com as
exigências da sua implementação.
O site, em contínuo desenvolvimento, tem vindo a ser melhorado e acrescido com novas actividades cujo
desenvolvimento tem sofrido uma validação semelhante junto de alunos e professores. Prevê-se a promoção da
sua utilização alargada no ano lectivo de 2007/2008.
Referências Bibliográficas
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Experimental no 1º Ciclo. Dissertação de Mestrado não publicada. Faculdade de Ciências da Universidade de
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Ciência no 1º ciclo. http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/observatorio
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Projecto P-IV-864. CIEFCUL, Lisboa.
d`Éça, T.A. (1998). NetAprendizagem – A Internet na Educação. Porto: Porto Editora
Fragoso, J.V.M. (2003). Factores que condicionam a Integração das tic nas escolas do 1º ciclo – um estudo
exploratório – Dissertação de Mestrado não publicada. Universidade de Lisboa, Lisboa.
Andreia Hall [1], Liliana Costa [2], Lucinda Serra [3], Emília Silva [4], Rosa Amélia Martins [5]
19
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Exemplos de actividades
Todas as actividades descritas, com excepção da última, foram desenvolvidas com crianças do 1º e 2º anos do
Ensino Básico.
A linguagem utilizada na sua descrição é muito próxima da que foi usada com as crianças. Mais do que o
rigor da linguagem preocupou-nos a adequação à idade do nosso público-alvo.
Problema de trânsito: numa estrada estreita, onde não passam dois carros a par, há um beco perpendicular
onde se pode arrumar apenas um carro. Na estrada, de cada lado do beco, estão dois carros que querem continuar
a andar no mesmo sentido (para o lado em que está o beco) mas não cabem passando uns pelos outros. Como
resolver o problema?
(usámos carrinhos ou tampas coloridas ou peças de lego)
Teias de aranha: pinta as teias de aranha de maneira que duas regiões encostadas não levem a mesma cor.
Tenta usar o menor número de cores possível.
Formigueiros: na folha de papel está representado um formigueiro azul e outro amarelo. As sementes estão
espalhadas. Deves pintar de amarelo as que estiverem mais próximas do formigueiro amarelo e de azul as que
estiverem mais próxima do formigueiro azul.
Impedir o estacionamento: Uma tabela de dupla entrada 5x5 representava um parque que estava dividido em
quadrados e onde não queríamos que estacionassem carros para podermos lá brincar. Os carros ocupavam dois
quadrados seguidos, na horizontal ou na vertical, mas nos quadrados onde desenhássemos cruzes, com tinta, os
carros já não podiam estacionar. Só que a tinta (imaginária) era muito cara e portanto interessava-nos gastar o
menos possível. Depois os carros iam sendo cada vez mais complicados e eram máquinas estranhas que
ocupavam 3 ou 4 quadrados encostados, cujas configurações as crianças iam descobrindo.
20
Práticas de Ensino nos primeiros anos de escolaridade
Contar os comboios: Com 5 cubos coloridos, sendo 3 vermelhos e 2 azuis, quantos “comboios” diferentes é
possível construir?
vvvaa, vvava, vavva, avvva …
Contar os caminhos: Na grelha seguinte, de quantas maneiras se pode ir de A até B sem “andar para trás”?
Lançamento de dois dados (I): Foi distribuída uma folha a cada aluno com colunas numeradas de 2 a 12,
números correspondentes à soma das pintas obtidas no lançamento de dois dados, um de cada cor. As duas
primeiras colunas estavam parcialmente preenchidas com as formas possíveis de obter as somas 2 e 3. O
objectivo era que as crianças preenchessem as restantes colunas.
Lançamento de dois dados (II): Cada jogador escolhe um número de 2 a 12 e faz um certo número de
lançamentos de dois dados. De cada vez soma os pontos obtidos. Ganha aquele que tiver obtido mais vezes o
número que escolheu no início. Pressupõe-se, nesta formulação, que o número de lançamentos é igual para
todos.
A ideia era que relacionassem com a tabela que tinham preenchido antes. Alguns, sobretudo no 2º ano,
escolheram o 7 por essa razão, mas houve bastantes que escolheram o 12 por ser o máximo.
Dividir um terreno (I): Queremos dividir em quatro partes iguais um jardim com a forma de um quadrado,
com oito árvores dispostas conforme a figura, sem estragar as árvores e fazendo apenas dois traços. (Foi preciso
usar 3 etapas: 4 nos cantos, 4 ao centro e finalmente as 8.)
Dividir um terreno (II): Queremos dividir cada um dos terrenos seguintes em 4 partes iguais. Será possível?
(em nenhuma das partes deve haver partes separadas)
Esta actividade foi apresentada a crianças do 2º ciclo.
A cabra: Numa folha de cartolina verde, a representar um prado, espeta-se um pionés onde se prende um fio
atado a uma cabra de brincar. Pede-se às crianças que risquem (ou pintem) a região do prado que a cabra vai
comer. (Conforme o comprimento do fio e a localização do pionés, vão-se obtendo respostas diferentes.)
Muitas destas actividades vêm na sequência de uma história que lhes lemos (da autoria de Andreia Hall, um
dos elementos do projecto EECM).
Jogo do NIM (para dois jogadores): De um monte de 10 pedras (ou caricas) cada um dos dois, à vez, retira
uma ou duas pedras. Ganha o que retirar a última.
Depois pode-se ir alterando o número inicial de pedras e/ou o número de pedras que cada jogador pode
retirar. (O que é interessante é descobrirem a estratégia vencedora.)
De um modo geral, as crianças aderem muito bem às propostas que lhes são apresentadas, considerando-as
como desafios e não como “obrigações”. O carácter voluntário da frequência dos círculos e a quase inexistência
de desistências revelam a forte adesão que temos tido por parte das crianças. Observamos, também, uma
evolução, embora não a possamos quantificar, na forma como as crianças reagem inicialmente às questões, na
forma como as abordam e no conceito que têm da matemática.
As professoras do 1º ciclo que acompanham os círculos que funcionam na respectiva escola têm vindo a
interessar-se cada vez mais pelas actividades desenvolvidas e experimentam algumas delas com os seus alunos
nos tempos lectivos normais.
Por vezes, algumas das actividades tiveram de ser reformuladas e sentiu-se a necessidade de acrescentar
actividades intermédias para melhor conduzir o raciocínio das crianças.
Referências Bibliográficas
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http://www.naturalmath.com/
K. Zvonkin, Mathematics for Little Ones, Journal of Mathematical Behavior 11, 207-219 (1992).
22
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
O valor formativo do Fórum de Práticas centra-se no contributo dado à partilha de saberes e experiências
profissionais entre docentes de Ciências. Valorizou-se, particularmente, a importância dos professores
descreverem o que fazem e por que o fazem, enriquecerem perspectivas pessoais através da reflexão mediada
pelos seus pares e reconstruírem saberes que lhes permitirão desenvolver novas abordagens com os alunos. Os
contributos apresentados foram desenvolvidos em diferentes contextos, nomeadamente no âmbito dos currículos
de disciplinas do Ensino Básico ou do Ensino Secundário, em áreas curriculares não disciplinares, bem como em
intervenções realizadas no âmbito da formação de professores.
24
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Rochas, Arquivos que relatam a História da Terra e foi aplicado com alunos do ensino secundário (disciplina de
Biologia e Geologia) e por eles avaliado.
Recursos didácticos como os anteriormente referidos (Vídeo Didáctico e Documento Hipermédia) podem
ajudar os professores a introduzir, com mais frequência, as Tecnologias da Informação e Comunicação nos
processos de ensino e aprendizagem das Ciências da Terra.
Este tipo de recursos afigura-se de extrema importância no contexto educativo, pois, segundo alguns autores
(e.g. Bennet, 2003; Orion, 2001) apresentam várias potencialidades, tais como as seguintes: i) favorecer o
desenvolvimento de atitudes positivas nos alunos para a aprendizagem de conteúdos de ciências; ii) promover
uma aprendizagem mais efectiva de conceitos e ideias relacionados com a ciência; iii) favorecer o
desenvolvimento de competências nos alunos, nomeadamente, a capacidade de interpretar informação gráfica e
organizar dados em tabelas; iv) simular fenómenos e processos que, devido ao seu tempo de duração ou riscos,
dificilmente se podem realizar em laboratório; v) recolher informação diversificada de uma forma mais rápida e
flexível; vi) permitir a comunicação rápida e eficaz; vii) promover o trabalho colaborativo.
O Trabalho de Campo no contexto educativo
O trabalho “Uma Aula de Campo na Serra do Alvão: Relato de Uma Actividade Prática” descreve uma aula
de campo realizada com alunos do 11º ano, no âmbito da disciplina de Biologia e Geologia, integrando-se na
exploração do tema programático Processos e Materiais Geológicos Importantes em Ambientes Terrestres. Os
autores apresentam a metodologia que adoptaram, o número de alunos envolvidos (77 alunos) e as diferentes
etapas desenvolvidas na preparação da saída (ex. calendarização, escolha do local a visitar, selecção das
paragens, concepção e construção de um guião de trabalho). Descrevem, ainda, a forma como decorreu a
implementação da saída e como esta foi avaliada.
Os autores do relato “A Geologia da Península de Peniche – Um Ambiente de Aprendizagem de Excelência
no Contexto do Ensino da Geologia no Ensino Secundário” defendem que a Península de Peniche constitui um
ambiente de aprendizagem ímpar no âmbito das Geociências, não só pelos afloramentos e ambientes que a
caracterizam, mas também pelo facto de ser uma zona bem estudada do ponto de vista geológico. Assim, são
assinaladas as potencialidades educacionais desta área, tendo em conta os conteúdos conceptuais dos programas
da componente de Geologia do Ensino Secundário, é feita alusão a saídas de campo realizadas em diferentes
anos de escolaridade (no 10º ano, integrada no tópico do programa A Geologia, os Geólogos e os seus Métodos
e, no 11º ano, Ocupação Antrópica e Problemas de Ordenamento) e à forma como foi avaliado o trabalho
desenvolvido.
Os Relatos de práticas relativas a Trabalho de Campo (TC) são um contributo importante neste Fórum de
Práticas, na medida em que constituem oportunidade para salientar como este recurso didáctico é um
instrumento indispensável para a construção do conhecimento geológico e uma ferramenta epistemológica de
base nesta área do conhecimento, área esta caracterizada por especificidades relativas aos fenómenos e processos
que ocorrem na natureza. Por outro lado, o TC trata-se dum instrumento educacional relevante para que os
alunos aprendam e sigam alguns dos caminhos e processos científicos que os geólogos percorrem e aos quais
estão associados alguns conceitos intrinsecamente ligados à construção do conhecimento.
Pode-se dizer que as ideias nucleares do TC são: i) propor e orientar actividades de ensino-aprendizagem a
partir de tarefas cada vez mais problematizantes e não susceptíveis de serem abordadas na aula, ainda que se
relacionem curricularmente com elas; ii) ajudar a pensar as causas que teriam originado o que se observa em
cada uma das situações, ou seja, realizar observações sistemáticas, pensadas e que obriguem a questionar o que
se está a observar; iii) contribuir para uma fundamentada compreensão entre as singularidades do ambiente local
em ligação com as do ambiente regional, com vista a uma visão mais global.
Práticas de Ensino em Áreas Curriculares não Disciplinares
As áreas curriculares não disciplinares fazem hoje parte dos currículos nacionais, quer do Ensino Básico
(Estudo acompanhado, Formação Cívica e Área de Projecto) quer no 12º ano do Ensino Secundário
(nomeadamente Área de Projecto nos Cursos Científico – Humanísticos e Projecto Tecnológico nos Cursos
Tecnológicos).
Ao nível do Ensino Secundário, a Área de Projecto constitui um espaço de confluência e integração de
saberes e competências adquiridas ao longo do curso, em torno de metodologias de estudo, investigação e
trabalho de grupo. O aluno, entre outros aspectos, deve envolver-se em processos de recolha, análise e selecção
de informação, resolução de problemas, tomada de decisões adequadas e fundamentadas, comunicação,
oralmente e/ou por escrito, utilizando suportes diversificados e, desejavelmente, esta área deverá permitir que
haja articulação de saberes teóricos e práticos, em dimensões inter e transdisciplinar, (M.E., 2006).
O relato “Área de Projecto no Ensino Secundário – Contributo para a Educação em Ciências” é um relevante
exemplo de concretização desta área curricular não disciplinar na Educação em Ciências, pois o trabalho
desenvolvido promoveu os seguintes aspectos: a utilização de metodologias de pesquisa; o trabalho colaborativo;
a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
25
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Considerações finais
Os relatos de práticas apresentados e discutidos neste Fórum de Práticas constituem um acervo de exemplos
de abordagens didácticas e pedagógicas desenvolvidas em diferentes contextos da prática profissional dos
professores de Ciências.
Este tipo de partilha de experiências docentes pode revestir-se de grande importância para o desenvolvimento
profissional dos docentes. Se por um lado, os relatados traduzem a preocupação e o empenho dos professores
participantes encontrarem formas mais eficazes de promover a aprendizagem das Ciências, por outro traduzem,
também, o reconhecimento da importância de partilhar as perspectivas individuais com um conjunto mais
alargado de pares.
Embora os reptos colocados pelos novos currículos e disciplinas dos Ensinos Básico e Secundário, bem como
as recomendações emanadas da investigação em Didáctica tenham, seguramente, presidido ao processo de
tomada de decisão dos docentes que partilharam as suas práticas, bem como à sua análise plenária, não foi
objectivo deste Fórum ajuizar em que medida os contributos apresentados deram ou não efectiva resposta
adequada a esses desafios.
Como decorre da diversidade de exemplos apresentados e analisados na secção 2, o Fórum de Práticas criou
oportunidades para os professores partilharem e reflectirem, com os seus pares, exemplos de estratégias de
ensino e de aprendizagem desenvolvidas para dar resposta a sugestões metodológicas contidas nos actuais
programas dos Ensinos Básico e Secundário e/ou a recomendações provenientes da investigação em Didáctica
das Ciências. Com esta convicção, considera-se que este espaço de partilha e construção de saberes possa
favorecer a implementação de novas estratégias de ensino e aprendizagem. Espera-se, também, que a adaptação
26
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
de estratégias e materiais didácticos apresentados e analisados, a contextos diversos e por diferentes professores,
contribua para promover nos alunos o desenvolvimento de saberes mais consentâneos com os científicos, bem
como atitudes mais positivas face à Ciência e ao papel que esta desempenha nas suas vidas.
Referências Bibliográficas
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Projecto dos Cursos Científico-Humanísticos. Projecto Tecnológico dos Cursos Tecnológicos, 1-34. Ministério
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http://www.saum.uvigo.es/reec/
Considerando que uma “Educação para o sucesso” implica um Ensino das Ciências diferente do actual e que tenha
como propósito a alfabetização científica dos alunos e a sua formação integral, preocupa-nos o “como alfabetizar
cientificamente os cidadãos”.
Do nosso ponto de vista, muitos dos obstáculos à alfabetização científica residem no que, num sentido lato,
chamaremos concepções alternativas face à ciência.
Pensamos que uma das formas de auxiliar na sua superação passa pela implementação de planificações
curriculares verdadeiramente interdisciplinares, alicerçadas na história da ciência, numa visão externalista de
ciência e potenciada pelo movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (C/T/S/A).
É pois objectivo deste relato de práticas a apresentação de um estudo que inclui instrumentos de trabalho,
balizados neste domínio por uma tese de mestrado, que demonstrem a viabilidade, o impacto e o sucesso que tais
planificações podem ter em escolas “reais” com actores “reais”.
Contexto da Prática
A questão de uma adequada Educação em Ciência coloca-se, actualmente, com toda a sua pertinência, no
âmbito da educação formal, não formal e mesmo informal (Cachapuz, Praia & Jorge, 2002).
27
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Mas que educação é necessária? A UNESCO reuniu alguns dos maiores especialistas do mundo na
Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, da qual resultou o relatório "Educação: um tesouro a
descobrir" (Delors, 1998). Nele, a Comissão destacou quatro pilares fundamentais para a educação ao longo de
toda a vida: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
No ano lectivo de 2002/2003, entrou em vigor a Reforma Educativa para o 3º ciclo do Ensino Básico, que
visa o desenvolvimento de dez competências gerais (ME-DGEBS, 2002). Essas competências gerais são
concretizadas, para as Ciências Físicas e Naturais, nas Competências Essenciais para a Literacia Científica dos
alunos no final do Ensino Básico, a saber: competências de conteúdo, competências epistemológicas,
competências de aprendizagem, competências metodológicas, competências comunicacionais, competências
éticas (Galvão et al., 2001).
Na verdade, este documento, associado aos Pilares da Educação da Unesco, constitui a base da prática
lectiva que de seguida se apresenta.
Mas qual a finalidade do ensino das ciências? Consideramos que a escola não pode continuar a limitar-se à
“transmissão” de conhecimentos (provisórios por natureza). Sendo assim, considerar a promoção da
alfabetização científica dos nossos alunos é, do nosso ponto de vista, a primeira e principal finalidade de um
ensino das ciências.
Mas, como o conseguir? Na verdade, logo à partida temos de contar com uma série de obstáculos à
alfabetização científica. Diríamos que, num sentido lato, estamos a falar de concepções alternativas face à
Ciência.
Sendo assim, consideramos, no nosso estudo, a questão/problema: como promover a alfabetização científica
dos nossos alunos?
É, para nós, impossível conseguir uma aproximação a este objectivo, se cada área disciplinar continuar a
trabalhar nas nossas escolas de uma forma isolada. Sendo a ciência “construída” em equipas multidisciplinares,
não faz sentido que em nenhum momento, os alunos sejam confrontados com processos interdisciplinares de
ensino/aprendizagem.
Partimos, assim, da hipótese de que a alfabetização científica dos cidadãos poderia ser melhor trabalhada se
implementássemos planificações curriculares verdadeiramente interdisciplinares, alicerçadas na história da
ciência, numa visão externalista de ciência, potenciada pelo movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e
Ambiente (C/T/S/A). Sendo assim e resultado da vertente epistemológica e psicológica associada, a escolha do
modelo de ensino a adoptar estava também, à partida, definida: o modelo de ensino por pesquisa.
Definida a questão/problema e as hipóteses de trabalho, a preocupação seguinte foi a de enquadrar o estudo
no trabalho do nosso dia-a-dia. A opção, não poderia ser outra: alunos do 7º ano de escolaridade. Na verdade,
desde o início da nossa carreira temos trabalhado sempre com alunos deste nível de escolaridade.
No documento sobre competências essenciais para as Ciências Físicas e Naturais (Galvão et al., 2001),
determina-se que os temas Terra no Espaço e Terra em transformação sejam leccionados no 7º ano de
escolaridade. Assim sendo, o nosso trabalho visou a produção de uma planificação, a médio e curto prazo (que
passaremos a designar por proposta de intervenção), que enquadrámos no 7º ano de escolaridade, no tema Terra
no Espaço, mais concretamente no seu sub-tema Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente.
Para o sub-tema escolhido diz-se: “este assunto é comum às duas disciplinas e estará subjacente à
exploração dos conteúdos ao longo de três anos.” (Galvão et al., 2001). Resulta desta leitura o facto de
propormos, na proposta de intervenção elaborada, não só a simples articulação interdisciplinar, mas também que
todas as aulas sejam ministradas em co-docência entre os professores de Ciências Naturais e de Ciências Físico-
Naturais.
A validação da proposta de intervenção produzida foi feita através de um júri de avaliação de uma tese de
mestrado, um docente orientador de estágios pedagógicos do 3º ciclo e secundário, um docente Coordenador do
Departamento das Ciências Físicas e Naturais e três docentes das áreas curriculares disciplinares do mesmo
departamento.
Relato da Prática
A nossa proposta de intervenção para a sala de aula seguiu os três momentos básicos veiculados pelo modelo
de Ensino por Pesquisa ancorados, essencialmente, em cinco estratégias: “Ficha de Avaliação Diagnóstico/Guião
do Filme”; “Julgamento da Ciência”, “B.I. Espacial”, “Prós e Contras” e a construção de um “Esquema
Organizador”. Sob a forma de tabelas encontraremos a planificação a médio prazo, projectada para oito aulas
com a duração, cada uma, de 45 minutos (tabelas 1 a 6).
A Ficha de Avaliação Diagnóstico/Guião do Filme foi pensada como estratégia multivalente. Na verdade, e
como o nome indica, ela constituiu-se como um momento de avaliação diagnostica.
Encontra-se dividida em quatro partes principais, sendo que, cada uma delas foi preenchida após a
visualização de excertos, previamente seleccionados, do filme Apollo 13. Esta é, assim, uma forma de
motivação, não só para a nova temática em estudo, mas também para o preenchimento do respectivo guião.
28
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Para além disso, ela foi pensada de tal forma que possa constituir-se como o ponto de partida para o
estabelecimento da questão/problema para a unidade. Na verdade, os excertos seleccionados do filme, permitem
apresentar situações problemáticas de âmbito C/T/S/A. Estas, enquadradas nos saberes pessoais, académicos,
culturais e sociais dos alunos e condicionadas ao assunto pelos docentes, potenciaram o levantamento de
situações problema, em contexto de turma, inerentes ao currículo, estabelecendo-se, assim, uma questão-
problema, orientadora do processo ensino-aprendizagem (Cfr. Tabela 2.1). A questão-problema estabelecida
perspectiva e enquadra todas as “questões de conteúdo” associadas ao tema em estudo. Na verdade, a resposta à
questão-problema só poderá ser plenamente conseguida, se os alunos forem desenvolvendo as competências
associadas a essas mesmas questões. Desta forma, os alunos percepcionam a relevância do estudo da temática,
estando motivados na procura da resposta a uma questão própria, por eles formulada e cuja necessidade de
resposta não é imposta, mas pessoal.
Cumpre aqui realçar, que a avaliação diagnóstico não pode constituir um momento único e inicial do
processo de ensino/aprendizagem. Este guião de filme foi apenas um primeiro momento de avaliação
diagnóstico, pois ela deve ser permanentemente actualizada ao longo de todo o processo de
ensino/aprendizagem.
No “Julgamento da Ciência” pretendeu-se, na sala de aula, simular um julgamento. Esta é uma actividade
cooperativa com recurso às novas tecnologias da informação e comunicação (NTIC). Assim sendo, os
professores têm a seu cargo não só toda a organização de um trabalho cooperativo, mas também o papel de
“juízes” aquando do julgamento. Aos juízes coube o interrogatório aos réus e às respectivas testemunhas, para
além da redacção da respectiva sentença.
Os réus foram Ptolomeu e Copérnico, que viram “julgados” os seus modelos para o Universo. A testemunha
abonatória foi, por parte de Ptolomeu, Aristóteles e por parte de Copérnico, Galileu. Por limitações no número de
grupos de trabalho, as testemunhas Kepler e Newton, abonatórias de Copérnico, foram introduzidas no cenário
do julgamento como tendo sido inquiridas anteriormente por vídeo-conferência.
Cada um dos grupos foi incumbido de estudar, quer por documentos fornecidos pelo professor, quer por
pesquisa orientada pelo professor na biblioteca (incluindo a manipulação das NTIC), quer mesmo por pesquisa
empreendida pelos próprios alunos, um dos réus ou uma das testemunhas, inteirando-se da biografia do autor,
modelo apresentado e contexto sócio-cultural vigente à altura da elaboração do modelo.
Com esta actividade pretendeu-se que os alunos entrassem em contacto com os modelos geocêntrico e
heliocêntrico, valorizando todo o conhecimento científico, mesmo o que hoje se sabe estar desactualizado, e
compreendam as relações mútuas entre Ciência e Sociedade. Para além disso, esta actividade permitiu a
promoção de uma visão mais actual do que é a ciência e da forma como ela se constrói. Paralelamente, foram
trabalhadas outras competências que estão enunciadas na planificação a médio prazo e que incluem o domínio
das NTIC, mais concretamente, da Internet. Contudo, não houve preocupação com a simples utilização da
Internet, mas com o sentido com que tal utilização foi feita. Ou seja, o que esteve verdadeiramente em causa foi
o que procurar e seleccionar, como procurar e para que procurar.
Na actividade “B.I. Espacial” foi pedido que os alunos, em díades, construíssem, com base num documento
fornecido pelos professores, o Bilhete de Identidade de tecnologias utilizadas na exploração espacial. Para além
desse documento, os professores forneceram uma cartolina, que apresentava numa das faces a fotografia e nome
da tecnologia espacial e na outra face os itens que os alunos teriam de preencher de forma a completar o B.I.
Com esta actividade pretendia-se que os alunos distinguissem as diferentes tecnologias espaciais e se
apetrechassem cognitivamente para a actividade de discussão “Prós e Contras”.
Aquando da realização da actividade “Prós e Contras”, os alunos tentaram “encenar” o modelo televisivo,
posicionando-se relativamente à questão “É importante a Exploração Espacial?”. Pretendia-se, assim, que os
alunos tomassem consciência, mais uma vez, das relações C/T/S/A e compreendessem os riscos e benefícios
inerentes à exploração espacial.
Na aula que antecedeu a realização da Ficha de Avaliação Sumativa, procedeu-se à construção de um
esquema organizador, assim chamado uma vez que se pretendeu a construção de um instrumento de trabalho que
explanasse mais claramente o conjunto de conceitos/termos chave associados a esta temática.
Referências Bibliográficas
Cachapuz, A. F., Praia, J. F. & Jorge, M. P. (2002). Ciência, Educação em Ciência e Ensino das Ciências.
Lisboa: Ministério da Educação.
Costa, I. A. P. M. (2005). Concepções Alternativas em Astronomia à luz do Modelo de Ensino por Pesquisa.
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Galvão, C. (Coord.), Neves, A. Freire, A. M., Lopes, A. M. S., Santos, M. C., Vilela, M. C., Oliveira, M. T.,
Pereira, M. (2001). Orientações Curriculares Ensino Básico – Ciências Naturais. Lisboa: Ministério da
Educação – Departamento da Educação Básica.
ME-DGEBS. (2002). Programa de Ciências Naturais. Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências
Essenciais. Lisboa: Ministério da Educação, Direcção Geral dos Ensino Básico e Secundário.
Visualização de
excertos do filme:
“Apollo 13”. Avaliação
Terra no Espaço
diagnóstico.
30
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
31
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
5 - Reconhece que o
conhecimento científico
está em evolução
Trabalho cooperativo:
permanente e que se “BI espacial” .
Avaliação da
constrói numa interacção
participação.
constante entre 5
pensamentos e observações.
Terra no Espaço • O que é a Actividade de discussão
7 – Organiza e implementa
tecnologia? sobre o “BI espacial”.
Ciência, trabalhos cooperativos.
Tecnologia,
• Como e porque 8 – Coopera com os outros
Sociedade e
se faz investigação em tarefas e projectos Elaboração de um
Ambiente comuns. Como se tornou
espacial? quadro síntese.
possível Avaliação da
10 - Compreende a
conhecer o participação.
Ciência e
• Quais as influência recíproca entre
Universo?
Actividade de
consequências dos tecnologia, ambiente e discussão: “Prós e
conhecimento do
programas ciência. Contras”.
Universo
espaciais? 6
Avaliação
11 – Sintetiza as relações
ciência, tecnologia, Ficha de Avaliação Formativa.
sociedade e ambiente. Formativa.
12 – Distingue sonda,
estação espacial, satélite,
telescópio, foguetão e
vaivém.
Construção de esquema
organizador. Avaliação da
participação
Terra no Espaço Entrega das 7
competências para a
Ciência, ficha de avaliação
Tecnologia, sumativa (anexo B17,
Sociedade e pág. 193)
Ambiente Como se tornou
13 – Aplica conhecimentos possível
a novas situações.
Ciência Produto da conhecer o
Actividade Humana 14 – Aplica as Universo?
competências trabalhadas a
Ciência e novas situações
Ficha de avaliação 8
Conhecimento do sumativa. Avaliação
Universo Sumativa.
32
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
9 - Utiliza fontes de
informação diversificadas,
Sensibilização do aluno.
Avaliação do
adequando linguagens e desenvolvimen
técnicas aos contextos e às Utilização da caderneta to socio-
necessidades. do aluno para
afectivo.
Terra no Espaço 15 - Presta atenção a comunicação com o
situações problema encarregado de
manifestando envolvimento Apontar na
Ciência, educação, sempre que
e curiosidade. caderneta do
Tecnologia, necessário.
16 - Questiona a realidade professor
Sociedade e observada, exprimindo informações
Ambiente dúvidas, opiniões e Como se tornou Comunicação estreita
Todas as sobre os
dificuldades. possível com o director de turma alunos,
17 - Realiza as actividades aulas
Ciência Produto da conhecer o sobre o desenvolvimento sempre que
de forma autónoma, Universo? escolar e afectivo do
Actividade Humana necessário.
responsável e criativa. aluno.
18 - Identifica e articula
Ciência e saberes para compreender Avaliação de
Conhecimento do uma situação ou problema. Todas as estratégias e todas as
Universo 19 - Aplica normas e regras actividades estratégias e
escolares/sociais na sala de programadas para a actividades
aula. unidade. empreendidas.
20 - Interpreta situações de
comunicação oral e escrita.
Seguindo as tendências em criar soluções alternativas à situação de aprendizagem em sala de aula e fomentando a
componente transdisciplinar, foi projectada esta saída de campo que pretende abordar vários temas observáveis
num percurso de cerca de 4km que se estende da praia de Matosinhos ao forte de S. João Baptista da Foz. Esta
saída apesar de utilizando a Geologia como ciência de base, vai focando diversos temas que são aflorados nas
mais diversas disciplinas lecionas ao nível do secundário. Assim os alunos podem ter uma relação directa com o
que é aprendido nas salas de aula com o que observam no percurso.
Contexto da Prática
As visitas de estudo e as saídas de campo são uma abordagem científica e pedagógica com grande caracter
transdisciplinar que se apresentam quase de forma antónima ao ensino tradicional de sala de aula. Para projectar
esta saída de campo, idealizou-se o que seria mais benéfico aos alunos apreenderem e observarem, ao longo de
um percurso de cerca de 4 km. Para definir os conteúdos teve-se em atenção as diversas disciplinas lecionadas na
escola e o que poderiam observar in situ. Assim, nesta saída, serão abordados alguns temas das disciplinas de
Geologia, Geografia, Biologia, Química, Física, História, entre outras, e acordo com o currículo português e
Environmental Mamagement leccionado em escolas internacionais de acordo com o currículo britânico.
Cada vez mais as novas orientações pedagógicas indicam uma perspectiva transdiciplinar, o que faz muito
sentido em visitas de estudo, através das quais poderão ser abordados inúmeros temas de diversas disciplinas.
Estas temáticas podem ser exploradas com pontos de vista diferentes, mas igualmente importantes e válidos.
33
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Relato da Prática
Esta saída pode ser auxiliada com posteres explicativos como Pa
meio de apoio visual para qualquer aspecto de cariz mais teórico.
Desta forma, alia-se uma explicação teórica ao que é observável in Pa
loco. No caso em concreto, foi criado um sistema móvel de
flipchart que permite ser utilizado durante o percurso dando um
apoio visual sempre que for necessário introduzir temas que Figura 1 – Mapa da foz do Porto
possam ser elucidados com esquemas, gráficos ou mesmo que não evidenciando as 11 paragens. (Adaptado de
possam ser observados directamente como o caso das variações mapas Turinta Oporto/Gaia, escala 1:16600)
das marés.
Este percurso pode ser dividido em 11 paragens (ver figura 1), onde serão abordados diferentes temas
tentando dar uma sequencia lógica e progressiva em termos de grau de complexidade dos tópicos abordados.
34
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
por cima da estrutura não será difícil imaginar o que poderá acontecer ao edifício transparente ao verificar-se
uma subida do nível da água do mar.
Paragem 3- Edifício em ruínas (antigo CLIP- Colégio Lusointernacional do Porto)
Perto do edifício em ruínas, existe um pequeno curso de água que escoa em direcção ao mar criando um
fenómeno de ravinamento. É observável na base do ravinamento, sedimentos finos de cor avermelhada
diferentes dos sedimentos da areia circundante (ver figura 4).
Estes sedimentos finos poderão provir da mesma camada de argilas anteriormente retractada. Se assim for, é
possível estabelecer-se diversas analogias com os princípios de Steno, como os princípios da continuidade
lateral; da intersecção; da sobreposição e da horizontalidade original.
Paragem 4- Frente ao Forte de S. Francisco Xavier
O forte de S. Francisco Xavier (ver figura 5) foi edificado em 1661-1662 e teve a sua contribuição em marcos
importantes da história portuguesa como a guerra da restauração da independência, guerras liberais (cerco do
Porto) e na revolta de Maria da Fonte. Estes factos, aliados à sua arquitectura digna de relevo, tornam-se
relevantes no enquadramento da importância do local.
Em frente ao forte está a rotunda João Gonçalves Zarco, este teve um papel preponderante nas descobertas
marítimas, sendo como marco importante a descoberta da ilha de Porto Santo e da ilha da Madeira (onde se
estabeleceu e actualmente está sepultado).
Paragem 5- Um dos flancos do forte
Um dos problemas detectados pela própria Câmara Municipal do Porto é a perda da qualidade do ar. A
qualidade do ar pode ser medida pelo estudo da comunidade de líquenes. Torna-se necessário nesta paragem
estabelecer a diferenciação entre bioindicação e biomonitorização, uma vez que os termos são largamente
confundidos. Num dos flancos do forte (ver figura 6) é possível observar a proliferação de líquenes incrustados
na rocha granítica do forte. Torna-se então necessário explicar os benefícios da associação simbiótica que dá
origem ao líquen indicando a função do micobionte e do fotobionte.
Paragem 6- Flanco Sul do forte, granito do castelo do Queijo
Nesta paragem é observável vários processos erosivos sobre esta rocha nomeadamente a disjunção esferoidal,
queda de blocos, alteração química da biotite e diáclases. No local poderemos mostrar, os diversos minerais que
compõem o granito.
Os metassedimentos (ver figura 7) são constituídos principalmente por micaxistos. Apresentam xistosidade
evidente e noutras paragens é observável dobras (tanto de natureza dúctil como frágil).
Sob a camada de metassedimentos situa-se uma falha provável que serve para explicar o fenómeno de
cisalhamento ocorrido permitindo agrupar as rochas a sul na zona de Ossa Morena e os granitos e as rochas a
norte à zona Centro Ibérica. Contactando os metassedimentos a sul temos ortognaisse. Ao passarmos dos
granitos ao gnaisse temos um grande salto temporal de cerca da 300 milhões de anos que seria interessante
demonstrar in situ.
Paragem 7- Plataforma de abrasão
Nesta paragem sobre uma plataforma de abrasão podemos observar os “ocelos” perfeitos do gnaisse (ver
figura 8), que se torna uma oportunidade para poder explicar a sua génese, também se observa uma extensa
plataforma de abrasão com diversas estruturas que estão associadas à sua superfície polida, nomeadamente: -
marmitas litorais e solapas.
Paragem 8- Ponto de contacto de gnaisses e metassedimentos.
Os gnaisses neste ponto têm cerca de 607 Milhões de anos (M.a) e aquando a sua formação, por intrusão
granítica, esta intruíu numa camada mais antiga. É de supor que os metassedimentos sejam ainda mais antigos
que os gnaisses. Este processo ocorreu durante a orogenia Cadomiana e foi extensamente deformada
posteriormente na orogenia Hercínica, alterando os granitos a gnaisses.
Paragem 9- Passadiço aéreo sobre a pequena praia do Aquário
A Engenharia natural tenta utilizar os recursos naturais existentes para preservar o ambiente. Neste caso,
utilizaram algumas técnicas de engenharia natural para estabilizar o talude da vertente ajardinada mas não obteve
os resultados pretendidos.
A pequena praia que se situa abaixo do passadiço é composta por seixos mais grosseiros o que indica um
ambiente de maior energia e possivelmente erosivo.
Mais à frente é observável um tipo de gnaisse diferente, o gnaisse biotítico (ver figura 9). Este é facilmente
distinguível do anterior gnaisse pela sua forte coloração azulada.
Paragem 10- Brecha ignea- Praia dos Ingleses
Até se chegar a esta paragem percorre-se um longo percurso onde se podem observar anfibolitos.
35
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Estes anfibolitos devido às sucessivas orogenias formaram estruturas de deformação (ver figura 10 A e B)
muito interessantes para serem explorados uma vez que podem apresentar dobras de pequenas dimensões
(microdobras) a dobras de dimensões consideráveis (macrodobras).
Perto da Praia dos Ingleses é observável uma brecha ígnea. Esta estrutura apresenta grandes cristais (mega
cristais) de feldspato. Os anfibolitos são das rochas mais antigas que se tem registo em Portugal. O que são de
extrema importância na caracterização do passado geológico. Estas rochas têm cerca de 1,05 G.a. e são o produto
de alteração de basaltos que possivelmente representaram rochas de uma crista média oceânica ou de um
fenómeno associado a rifting.
Paragem 11- Forte de São João Baptista da Foz
No última paragem é retratado uma breve história do forte de São João Baptista da Foz, resaltando as guerras
em que participou e o facto de ter servido de residência a uma famosa poetisa, a Florbela Espanca.
Referências Bibliográficas
Araujo, M. A. - Evolução geomorfológica da plataforma litoral da região do Porto – Tese de doutoramento.
Edição da autora, Porto, 1991, 534 p.
Assunção. C. F. T., 1962. Rochas Graníticas do Minho e Douro. Novos elementos para o seu conheciemento.
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Edição do autor.
Silva, J.C.V., Flores, D., 2002. Viagem ao património geológico da faixa litoral da cidade do Porto. Geologia
no Verão 2002. Faculdade de Ciências do Porto. Agência Nacional para a cultura Científica e Tecnológica-
Ciência Viva. P. 1-27.
[1] Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Lousada, Lousada, hnovais@gmail.com
[2] Dep. Geologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, rpereira@utad.pt
[3] Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), Porto, paula.avila@ineti.pt
Uma vez que os alunos desenvolvem um conjunto de concepções alternativas antes do ensino formal da Ciência
procedeu-se, no âmbito da exploração sustentada dos recursos geológicos, ao seu diagnóstico numa amostra de 79
alunos do Ensino Secundário. Com base nos resultados foi produzido um filme, de forma a potenciar a mudança
conceptual. Este permitiu a evolução de parte dos conceitos. Dos que apresentaram evolução verificou-se que,
passadas duas semanas sem abordar a temática, não houve regressão à concepção alternativa inicial. O filme de
ensino afigura-se assim como um importante recurso na abordagem desta temática na sala de aula.
36
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Introdução
Um dos aspectos de grande importância no ensino da Ciência relaciona-se com a promoção da mudança
conceptual das concepções alternativas. Na área da Geologia, a temática da exploração dos recursos geológicos é
abordada no 11º ano de escolaridade, na disciplina de Biologia e Geologia e no 12º ano, em Geologia. Trata-se
de uma área relativamente vasta e cativante para os alunos, mas em relação à qual as orientações programáticas
não recomendam uma abordagem exaustiva. Assim, é importante o desenvolvimento de recursos que respondam
às solicitações dos alunos e, simultaneamente, promovam a mudança conceptual.
Foi elaborado um estudo diagnóstico de concepções alternativas de alunos do Ensino Secundário (11º e 12º
ano) de Ciências, tendo-se criado, com base nas mesmas, um recurso didáctico promotor da evolução das
concepções anteriormente diagnosticadas. O recurso consistiu num filme, produzido totalmente com meios
digitais. A amostra era composta por 79 alunos do Ensino Secundário, do Curso Científico Humanístico de
Ciências e Tecnologias, da Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Lousada. Destes, 66 alunos
frequentavam a disciplina de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade (ano 2) e 13 a disciplina de
Geologia do 12º ano.
O diagnóstico de concepções alternativas relacionadas com a exploração dos recursos geológicos e a
avaliação das potencialidades do filme na promoção da mudança conceptual foram objectivos deste trabalho.
Produção do filme
A primeira etapa consistiu num diagnóstico das concepções alternativas, com recurso a um questionário na
forma de pré-teste (tabela 1).
As concepções alternativas foram várias e similares entre os alunos do 11º e 12º ano (tabela 2).
Dada a semelhança das respostas entre os dois níveis de ensino, pode-se concluir que, para os alunos do 12º
ano da amostra, o ensino desta temática no ano lectivo anterior não se revelou eficaz.
Atendendo às concepções alternativas diagnosticadas, o recurso seleccionado foi o filme, pois afigurou-se
com mais potencialidades para o trabalho na sala de aula. Numa primeira análise verifica-se que este se sobrepõe
a outros recursos, como é caso dos que recorrem unicamente à visão. Para além disso, o equipamento necessário
à sua aplicação é acessível e encontra-se difundido pelas escolas. Outros pormenores se revelaram importantes
na escolha deste recurso. Por exemplo, a abordagem da contaminação dos solos e águas, com recurso a conceitos
37
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
como o da mobilidade de elementos químicos, apresenta uma considerável carga abstracta por não ser
percepcionado pelos sentidos. Assim, a associação imagem/som/movimento em relação ao aspecto físico dos
meios contaminados permite uma diminuição de parte da “carga” abstracta dos conceitos.
Em relação à estrutura entendeu-se produzir um vídeo de ensino que, segundo Pons (1995) é aquele que
apresenta uma estruturação pedagógica. Para optimizar a aprendizagem, optou-se por introduzir elementos
semânticos que, de acordo com a classificação de Cabeno Almenara (1989), consistiram na formulação de
perguntas (pré-definem as operações mentais a desenvolver pelos alunos), separadores (diferenciam sub-parcelas
de informação que integram a mensagem, permitindo uma melhor estruturação da mesma) e redundâncias
(repetições de informação, que facilitam a sua integração na memória a curto e médio prazo). Para as filmagens
seleccionou-se as Minas de Ervedosa, de onde se extraiu estanho e óxido de arsénio, através de explorações
subterrâneas e a céu aberto. As minas encontram-se em situação de abandono desde 1969 e apresentam
evidências de contaminação por arsénio nos solos, sedimentos de corrente e água subterrânea (Ávila et al.,
2006). Foi elaborado um guião que permitisse a abordagem dos aspectos nos quais os alunos revelaram
concepções alternativas (tabela 3).
O produto final foi editado, a nível de imagem, banda sonora, locução e legendagem com o programa Adobe
Premiere 7.0, de acordo com as orientações técnicas de Freitas (2002).
38
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
É de salientar que o desempenho poderia ser mais satisfatório, principalmente nas três primeiras questões,
caso se tivesse efectuado uma actividade de discussão após a visualização do filme. Como os instrumentos de
diagnóstico foram aplicados em diferentes turmas, solicitou-se que após a visualização do filme não fosse
iniciada uma actividade de discussão sobre o assunto, de forma a não introduzir outra variável na interpretação
dos resultados.
Após comparação das respostas entre as duas aplicações do pós-teste nota-se que, em relação aos tópicos
nos quais houve evolução significativa, também se verificou uma importante retenção da informação. No
entanto, alguns dos alunos tiveram de ser eliminados do tratamento estatístico por terem faltado à aula da 2ª
aplicação do pós-teste.
Deste estudo conclui-se que, para a temática em questão, o filme revelou-se como um recurso ideal para
promover a mudança conceptual, em relação aos sub-temas abordados de forma explícita. Uma vez que a
tecnologia digital permite melhorar facilmente o recurso, o filme apresenta um potencial ainda por explorar, que
poderá levar a uma maior mudança conceptual, principalmente nas partes onde esta não foi satisfatoriamente
atingida.
Referências Bibliográficas
Ávila, P., Pereira, M. R., Novais, H., Ferreira, A. (2006). Arsénio nos solos, sedimentos e águas na
envolvente da mina do Tuela (Vinhais, NE de Portugal). In: Resumos do VII Congresso Nacional de Geologia
(J. Mirão; A. Balbino (coords.)), pp. 443-446. Universidade de Évora, Estremoz.
Cabeno Almenara, J. (1989). Tecnología educativa: utilización didáctica del vídeo. Promotiones y
Publicationes Universitárias, S.A. Barcelona.
Freitas, M. (2002). Adobe premiere 6 – curso completo. (2ª edição), FCA – Editora de Informática, Lisboa.
Pons, J.P. (1995). El vídeo: usos didácticos fundamentales. In: Tecnologia educativa. Nuevas tecnologias
aplicadas a la educación, (J. L. Diéguez; S. O. Barrio (coords.)), pp. 233-249. Editorial Marfil, Alcoy.
39
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Contexto da prática
A descoberta da estrutura do DNA, em 1953, foi apenas o início de uma era dedicada a muitas outras
descobertas, integradas num conjunto de iniciativas e de projectos que marcaram o século passado e se reflectem
cada vez mais nos tempos actuais. Um dos mais importantes projectos, o Projecto Genoma Humano, iniciado em
1990, destacou-se pelo seu ambicioso objectivo: identificar os cerca de 30 000 genes presentes no DNA humano.
Como consequência da produção contínua de sequências de nucleótidos e de aminoácidos, os bancos de dados
biológicos foram surgindo com uma importância crescente, nomeadamente ao nível do armazenamento,
organização, análise e interpretação da informação biológica.
A grande quantidade de informação que se tornou disponível, desde a década de noventa, impulsionou um
avanço significativo em diversas áreas, desde a Biologia Molecular até à Ciência Computacional, sendo também
o resultado de uma forte interdisciplinaridade.
São vários os recursos temáticos incluídos nos Bancos de Dados, nomeadamente bibliotecas digitais que
proporcionam buscas automáticas de bibliografia, métodos de análise de DNA, previsão da estrutura de
biomoléculas, conhecimento das características de doenças e a relação destas com genes específicos.
A tabela 1 apresenta alguma informação disponível em bancos de dados, informação essa que pode ser
explorada utilizando recursos de Bioinformática existentes online e gratuitamente.
Tabela 1: Tipo de informação disponível em bancos de dados internacionais e itens temáticos da área da
Bioinformática que utilizam essa informação. (Luscombe, et al., 2001)
40
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Biologia Molecular, Bioquímica e Genética tornaram o GenBank num dos bancos de dados de maior utilização
por investigadores de diversas áreas.
“Bioinformatizar” os currículos
A mudança tecnológica acelerada tem exigido indivíduos com Educação em diversas áreas, aliado à
capacidade de aprender ao longo da vida.
A integração das Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino Português permitiu definir um
espaço multidimensionado e um novo carácter ao processo cognitivo. A construção do conhecimento é
activamente participada pelo aluno, tendo a interacção aluno/computador ganho uma dimensão particularmente
relevante. Neste contexto, a Bioinformática permite a articulação de conceitos e processos biológicos com a
potencialidade e aplicabilidade de ferramentas informáticas, estimulando o desenvolvimento de uma
aprendizagem cooperativa.
Tendo como base as finalidades e sugestões metodológicas dos Programas Curriculares, sobretudo ao nível
do Ensino Secundário, uma das estratégias propostas para o Ensino da Biologia é a de desenvolver capacidades
de pesquisa, análise, organização e avaliação crítica de informação (Mendes, et al., 2003); aliada a esta estratégia
encontra-se a informação disponibilizada em bases de dados, através da qual se poderá aprofundar os
conhecimentos biológicos e desenvolver hábitos de problematização.
A título de exemplo, a tabela 2 apresenta alguns conteúdos procedimentais/sugestões metodológicas,
incluídos no Programa Curricular de 12.º Ano, que podem ser explorados recorrendo a uma base de dados
genéticos.
Tabela 2: Exemplo de tipo de base de dados que disponibiliza recursos onde podem ser rentabilizados os
Conteúdos Procedimentais/Sugestões Metodológicas incluídos nos Programas Curriculares do 12.º Ano do
Ensino Secundário (componente de Biologia) (adaptado de Mendes, et al., 2003).
Base de Dados Conteúdos Procedimentais/ Sugestões Metodológicas
Unidade 2 – Património Genético
1. Património Genético
1.1. Transmissão de características hereditárias.
1.2. Organização e regulação do material genético.
2. Alterações do material genético.
2.1. Mutações.
2.2. Fundamentos de Engenharia Genética.
Ácidos Nucleicos e Enfatiza a ligação ao sexo de algumas características.
Genes Enfatiza o carácter hereditário de algumas patologias humanas (daltonismo,
fenilcetonúria, hemofilia, surdez…).
Evidencia os cromossomas como entidades que contêm os genes.
Enfatiza o cariótipo humano e a determinação genética do sexo.
Permite a análise dos aspectos que caracterizam o cariótipo humano e
permitem compará-lo com o de outras espécies.
Permite a análise e a interpretação de casos de mutações, sua génese e
consequências.
Além da análise das modificações que ocorrem em termos de currículo escolar, é também importante
reflectir sobre o papel que o Professor vai assumindo nos caminhos que se abrem, face à mudança. Neste
contexto, é prioritário, segundo Pedrosa e Mateus (2001) (re)credibilizar a função/ missão dos professores,
investindo mais e melhor na sua formação (inicial e) contínua.
A integração da Bioinformática no Ensino permite a articulação entre o progresso científico e tecnológico,
numa perspectiva CTSA (Ciência – Tecnologia – Sociedade - Ambiente), pelo que este projecto deve ser
pensado para os Alunos, mas primeiramente trabalhado e explorado com e pelos Professores.
A implementação desta perspectiva de Ensino, com recurso a ferramentas de Bioinformática, esteve na base
da planificação e dinamização de um curso de Formação Contínua para Professores, designado “Introdução à
Bioinformática – utilização da Bioinformática no Ensino da Biologia”.
41
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Relato da prática
A supracitada Acção de Formação, destinada a Docentes de Biologia e Geologia do 11.º Grupo B, decorreu
no Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.Com a duração de 25 horas, os
principais objectivos inerentes a esta Formação foram os seguintes:
• Produzir e testar, com professores de Biologia/Geologia, actividades de cariz teórico-prático, com
recurso a (novas) tecnologias;
• Conceptualizar material didáctico de apoio a aulas temáticas de Biotecnologia, utilizando
ferramentas de Bioinformática como processo de abordagem.
Em cada sessão, foi proposto aos docentes a concretização de uma actividade temática, com acesso à
Internet, sob orientação de um guião contendo instruções e questões específicas para cada actividade.
A tabela 3 sumaria o tipo de actividades realizadas em cada sessão.
Tabela 3: Recursos de Bioinformática utilizados durante as actividades temáticas realizadas durante a Acção de
Formação “Iniciação à Bioinformática: utilização da Bioinformática no ensino da Biologia”.
42
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Referências Bibliográficas
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MENDES, A. (Coord); REBELO, D.; PINHEIRO, E. (2003). Programa de Biologia e Geologia 11.º ou 12.º
anos – Curso Científico-Humanístico de Ciências e Tecnologias. Ministério da Educação – Departamento do
Ensino Secundário, Lisboa.
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condições de exercício da cidadania? In Ensino Experimental das Ciências – (Re)Pensar o Ensino das Ciências,
141-154. Ministério da Educação – Departamento do Ensino Secundário, Lisboa.
Com este trabalho pretende-se mostrar que a Geologia da Península de Peniche apresenta um conjunto bastante
diversificado de potencialidades didácticas adequadas ao Ensino Secundário, tendo por base um conjunto de
experiências de campo realizadas com alunos da cidade de Peniche e de outras regiões do país. Os
afloramentos/ambientes geológicos utilizados nas saídas de campo funcionam como locais de aprendizagem
através dos quais se torna possível promover a compreensão de conceitos estruturantes e a discussão em torno de
problemas geológicos.
Introdução
Esta comunicação assenta fundamentalmente no trabalho desenvolvido, ao longo dos anos, na leccionação
de disciplinas enquadradas nas Geociências. O contacto intenso com a Geologia local, a diversidade de
experiências realizadas e as reflexões efectuadas têm possibilitado a produção de ferramentas cada vez mais
adequadas às novas exigências no âmbito do Ensino da Geologia.
Os afloramentos/ambientes presentes na Península de Peniche constituem um ambiente de aprendizagem
ímpar, pois além de estarem acessíveis e bem conservados exibem uma excelente geodiversidade (Fig. 1). Além
do seu valor intrínseco, os trabalhos de campo, permitem a articulação com trabalhos de laboratório e de
pesquisa bibliográfica. Uma vez que os trabalhos de campo assumem um papel cada vez mais relevante no que
concerne ao Ensino da Geologia torna-se fundamental usar os recursos disponíveis de modo sustentável.
A Península de Peniche, dada a excelente qualidade dos afloramentos jurássicos, tem funcionado como
laboratório natural e é sede de uma intensa actividade científica nos domínios da estratigrafia, paleontologia e
sedimentologia (Duarte, 2003). Acrescente-se também que os locais em jogo possuem um enorme potencial
pedagógico e (geo)cultural (Duarte, 2003; Dias, 2004; entre outros). Realce-se ainda uma outra mais-valia, ou
seja, a existência de uma vasta bibliografia sobre a região e também o facto desta ter sido alvo de estudos
geológicos praticamente desde o advento da Geologia em Portugal e simultaneamente ser atractiva para outros
geólogos, nomeadamente os europeus.
Muitos dos trabalhos de campo propostos potenciavam a realização de trabalhos experimentais com base em
materiais recolhidos (caracterização sedimentológica de areias, morfometria de balastros, quantificação do
resíduo resultante da alteração das rochas carbonatadas, entre outros) e também pesquisas adicionais. A
exploração de elementos quantitativos e a utilização das TIC na aprendizagem da Geologia assume também um
papel relevante.
Fig. 1: Esboço cartográfico das principais unidades geológicas presentes na Península de Peniche e locais de
referência para trabalho de campo I – Papôa; II – Portinho da Areia do Norte; III – Ponta do Trovão; IV – Praia
do Abalo; V – Remédios; VI – Bairro do Visconde (adaptado de Duarte, 2006b).
44
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
reúne condições excepcionais para se documentar o tema – as rochas sedimentares, arquivos da história da Terra.
“Ao circundar toda a península de Peniche é possível contar uma história contínua que totaliza 20 milhões de
anos, contemporânea de uma fase onde não existia aquilo que é hoje o Atlântico” (Duarte, 2006b, p. 249). O
registo fóssil é muito significativo e com facilidade tem-se acesso a fósseis de braquiópodes, bivalves,
amonóides, belemnites e crinóides (Pentacrinus penichensis), nomeadamente nas falésias do Forte da Luz,
Portinho da Areia do Norte, Ponta do Trovão e Cabo Carvoeiro. A análise dos estratos proporciona condições
para se poder entender a deformação das rochas e praticar in situ a determinação da atitude das camadas.
Fig. 2: Trabalho de campo na Ponta do Trovão (alunos Fig. 3: Alunos da Escola Secundária de Emídio
do 10º Ano da Escola Secundária de Peniche). Navarro (Viseu) iniciam trabalho de campo na Brecha
Discussão do tema: A Geologia, os geólogos e os seus Vulcânica da Papôa (Abril, 2007).
métodos (Abril, 2007).
45
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Esta comunicação não teria sido apresentada se não fosse o incentivo do Prof. Doutor Luís Vítor Duarte, do
Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologias, da Universidade de Coimbra.
Agradeço-lhe também as sugestões apresentadas aquando da elaboração do esboço da presente comunicação.
Referências Bibliográficas
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Lisboa.
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valor cultural (Tese de mestrado). Universidade de Lisboa, Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências,
Lisboa.
Duarte, L. V. (2003). O Jurássico do Cabo Carvoeiro. 20 milhões de anos de histórias geológicas com valor
patrimonial. In: Livro de Actas do III Seminário de Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do
Território, pp. 263-272. Vila Real.
Duarte, L. V. (2006a). Património geológico de Peniche. Elementos para a sua caracterização. In: Actas das
1as Jornadas de Arqueologia e Património da Região de Peniche – Apresentação de Projectos e Trabalhos em
Curso, pp. 228-241. Câmara Municipal de Peniche, Peniche. Disponível em: http://www.cm-
peniche.pt/Patrimonio1/Subdivisao_Jornadas/
Duarte, L. V. (2006b). O Jurássico da Península de Peniche (Portugal). Uma contribuição para o Ensino da
Geologia Sedimentar. Livro de Actas do Simpósio Ibérico do Ensino da Geologia, pp. 249-254. Universidade de
Aveiro, Aveiro.
Elmi, S. (2006). Pliensbachian/Toarcian boundary: the proposed GSSP of Peniche (Portugal). Volumina
Jurassica, Volumen IV, pp. 5-18.
Orion, N. (1993). Model for the development and implementation of field trip as an integral part of sciences
curriculum. School Science and Mathematics, 93 (6), pp. 325-331.
Orion, N. (2001). A educação em ciências da terra: da teoria à prática-implementação de novas estratégias
de ensino em diferentes ambientes de aprendizagem. In: Geociências nos currículos dos ensinos básico e
secundário. Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores e Departamento de
Didáctica e Tecnologia Educativa (Ed.), pp. 93-114. Universidade de Aveiro, Aveiro.
Ribeiro, M. L., & Ramalho, M. M. (1997). Notícia explicativa da carta geológica simplificada Parque
Natural de Sintra-Cascais. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.
A existência de poucos materiais didácticos interactivos pode ser considerada como um dos factores pouco
motivadores dos alunos para a aprendizagem da Geologia, nomeadamente se os pretendemos em língua
portuguesa para que o seu uso em sala de aula possa ser eficaz. Nesse sentido, construiu-se um documento
hipermédia relativo ao “Ciclo Litológico – aspectos sedimentares” tendo-se, posteriormente realizado a sua
avaliação. Os resultados obtidos com o recurso a uma escala de avaliação, a uma ficha de trabalho e a notas de
campo, demonstram o forte potencial educativo deste tipo de material didáctico.
anos, se tenha verificado um maior esforço na construção de instrumentos de ensino que possibilitem a utilização
das Tecnologias da Informação e Comunicação na sala de aula, não se conhece nenhum que trate exclusivamente
e de forma mais completa um dos temas estruturantes da área da Geologia - O Ciclo Litológico.
O ciclo litológico é um conteúdo conceptual abordado na disciplina de Biologia e Geologia ao nível do 10º
ano de escolaridade. Enquadra-se no tema “A Geologia, os geólogos e os seus métodos” e no subtema “As
rochas, arquivos que relatam a História da Terra”. No sentido de minimizar as dificuldades sentidas por
professores e alunos no ensino-aprendizagem desta temática, desenvolvemos um trabalho de investigação que
teve como objectivos: (i) a construção de um documento hipermédia educativo, em suporte off-line, escrito em
língua portuguesa, relativo ao tema “O Ciclo Litológico”; e, (ii) a avaliação do seu impacte, junto de alunos do
ensino secundário.
O Ciclo Litológico
O Ciclo Litológico ou petrogenético é um conjunto de processos geológicos a partir dos quais se geram os
diferentes tipos de rochas que ocorrem na crusta terrestre, e que permitem a reciclagem constante dos materiais
crustais formados a partir das partes mais profundas e transformados sucessivamente em processos cíclicos
(Figura 1). A génese das rochas ígneas e metamórficas depende essencialmente de processos que ocorrem no
interior da crusta e na parte superior do manto. Por sua vez, a génese das rochas sedimentares resulta de
processos que ocorrem à superfície da Terra.
Lava
Fusão
Magma
Calor e Pressão
Rochas Metamórficas Rochas Ígneas
METEORIZAÇÃO / EROSÃO
As rochas sedimentares TRANSPORTE
afundam-se na crusta e,
por acção do calor e da Levantamento tectónico, DEPOSIÇÃO
pressão transformam-se meteorização, erosão,
transporte e deposição A meteorização fragmenta
em rochas metamórficas. as rochas e os sedimentos
são transportados e
METAMORFISMO depositados em bacias
sedimentares.
Levantamento tectónico,
meteorização, erosão,
Rochas Sedimentares Sedimentos
transporte e deposição
LITIFICAÇÃO
Os sedimentos são
compactados e
cimentados, formando
rochas sedimentares.
47
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Figura 2 Estrutura hierárquica de navegação num documento hipermédia (Adaptado de Vaughan, 1997; in
Ribeiro, 2004).
Definida a estrutura do documento, seguiu-se o desenho dos ecrãs e da interface e a produção dos vários
conteúdos a introduzir no documento. Estes conteúdos incluem textos, animações, sons, imagens, fotografias,
gráficos, tabelas, etc., produzidos em software como o Microsoft Word, Macromedia Flash, Microsoft
PowerPoint, PhotoPaint, CorelDraw e Sony Pictures Digital ACID Pro. No desenho da interface, e tendo em
consideração que esta é a parte do documento hipermédia que estabelece o contacto entre este e o utilizador,
pretendeu-se criar uma interface simples e acessível (intuitiva), consistente e funcional, de modo a criar um
ambiente agradável e motivante para o utilizador durante a realização de uma tarefa (Figura 3).
A B
Figura 3: Interface do Documento Hipermédia “O Ciclo Litológico”. A) Ecrã de apresentação do menu principal;
nele se visualizam três gráficos relativos aos ambientes sedimentar, metamórfico e magmático. Cada um destes
gráficos possui hotspots sob a forma de animações (que correspondem aos conceitos associados com o ciclo
litológico), que permitem ao utilizador aceder às informações relativas aos diferentes subtemas; possui, ainda,
botões para controlo do som, retirar as ligações do Ciclo Litológico e para sair. B) Ecrã de apresentação do
subtema “Erosão e Transporte” quando, neste subtema, o utilizador opta por ver uma das animações possíveis;
neste ecrã também é possível controlar o som e regressar ao menu principal.
48
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
concretização de uma tarefa. Para tal, aplicamos uma escala de avaliação e uma ficha de trabalho, e redigimos
algumas notas de campo.
Para constituir a amostra, seleccionaram-se todos os alunos de uma escola a frequentar o 2º ano da disciplina
de Biologia e Geologia (três turmas de 11º ano de escolaridade, num total de 78 alunos).
Inicialmente, os alunos responderam a uma ficha de trabalho com o recurso ao documento hipermédia.
Pretendia-se averiguar o tempo gasto na realização desta tarefa e a eficácia do documento no auxílio ao aluno na
sua consecução. Durante essa realização foram registadas notas de campo, que também foram alvo de análise.
Pela apreciação dos dados obtidos na ficha de trabalho, verificou-se que a utilização do documento hipermédia
permitiu à quase totalidade dos alunos (91%) concretizarem, com sucesso, as tarefas propostas em tempo útil (25
minutos foi o tempo médio despendido na realização da tarefa). A análise das notas de campo permitiu verificar
que a utilização das TIC na prática lectiva, segundo as novas orientações didácticas para o ensino das ciências,
motiva os alunos predispondo-os para aprender ciências.
Posteriormente, os alunos preencheram a Escala UDH (Usabilidade do Documento Hipermédia) relativa à
usabilidade do documento hipermédia. Esta escala foi adaptada da escala de Davis (1989) e Lund (1998), tendo
como suporte dessa adaptação revisão bibliográfica actualizada. Encontrava-se constituída por 18 itens,
repartidos por três dimensões: (i) a dimensão Eficácia (6 itens) - para avaliar a utilidade do documento
hipermédia; (ii) a dimensão Eficiência (6 itens) - para avaliar a facilidade de utilização do documento
hipermédia; e, (iii) a dimensão Satisfação (6 itens) - para avaliar a satisfação que o documento hipermédia
promove nos utilizadores ao concretizarem uma tarefa. A validade e fidelidade destas dimensões foram obtidas
em estudos desenvolvidos por Davis (1989) e por Lund (1998).
Ao analisar os resultados da escala UDH, e no que concerne à dimensão Eficácia, verificou-se que os alunos
concordam com a capacidade do documento hipermédia para ajudar a realizar uma tarefa, aumentar o
desempenho, aumentar a produtividade, aumentar a eficácia, tornar mais fácil o estudo, sendo, por isso, útil. Em
relação à dimensão Eficiência, os alunos concordam em afirmar que o documento hipermédia é fácil de aprender
a usar, é fácil de controlar, é claro e fácil de perceber, permite realizar as tarefas com recurso a menos etapas,
permite vários tipos de interacção, sendo, por isso, fácil de usar. Relativamente à dimensão Satisfação, os alunos
afirmam que o documento hipermédia é agradável, funciona como eles querem, é divertido, gostariam de dispor
de um exemplar em casa, recomendariam a um amigo, pelo que se consideram satisfeitos com a sua utilização.
Pelo exposto, podemos concluir que os alunos consideraram o documento hipermédia é: (i) eficaz, uma vez
que lhes foi útil na aprendizagem dos conceitos explorados na aula; (ii) eficiente, já que exigiu pouco esforço na
sua utilização; e, (iii) motivador, já que se sentiram satisfeitos durante a aprendizagem da Geologia.
Referências Bibliográficas
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Davis, F. D.; (1989). Perceived Usefulness and Perceived Easy of Use, and User Acceptance of Information
Tecnology. <http://www.cba.hawaii.edu/chismar/ITM704/Davis-TAM1989.pdf> (30/03/2006).
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Lund, A. M.; (1998). Measuring Usability with the USE Questionnaire. STC Usability SIG
<http//:www.stcsig.org/usability/newsletter/ 0110_measuring_with_use.html> (30/03/2006).
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and Company.
Ribeiro, N.; (2004). Multimédia e Tecnologias Interactivas. Lisboa, FCA-Editora de Informática.
49
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
[1] Agrupamento Vertical de Escolas de Mesão Frio. Escola Básica 2,3/Secundária Professor António da
Natividade, Mesão Frio, nunopsantos@oniduo.pt
A Reforma Curricular do Ensino Secundário integra nos curricula dos cursos Científico-Humanísticos a Área de
Projecto. Esta disciplina integra saberes e competências adquiridos durante o percurso escolar, fomentando
metodologias de estudo, investigação e trabalho de grupo. Formar indivíduos capazes de pesquisar e seleccionar
criteriosamente a informação constituem finalidades desta disciplina, podendo ser mobilizadas no fomento da
literacia científica dos cidadãos. A importância da Ciência e Tecnologia na preservação da Biosfera surgiu como
tema aglutinador culminando na construção de um aquário pedagógico para estudos comportamentais dos peixes e
divulgação do trabalho aos alunos do Pré-escolar e do Primeiro Ciclo.
Contexto da Prática
O Decreto-Lei nº 74/2004, de 26 de Março, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 24/2006, de
6 de Fevereiro integra nos curricula dos cursos Científico-Humanísticos a Área de Projecto (A.P.). Sob o ponto
de vista teórico esta disciplina visa uma ruptura com um sistema mais tradicionalista de ensino no qual o
Professor é o protagonista, passando esse papel a ser exercido pelos alunos. Desta forma, pretende-se promover o
espírito de iniciativa/liderança nos alunos, a par da capacidade de pesquisar e seleccionar criteriosamente a
informação. Naturalmente que todo o processo é acompanhado pelo docente, cujo papel deve ser secundário,
com vista à autonomia intelectual e cívica do aluno.
De acordo com as directrizes do Ministério da Educação, não só a A.P. deverá estar associada à disciplina
específica do Curso (no nosso caso Biologia), mas “(…) deverá fomentar o desenvolvimento pessoal e social dos
alunos e dos professores ao fomentar o trabalho cooperativo alicerçado na exploração e aplicação de processos
mentais complexos, promotores da confiança em si e nos outros, do gosto pela investigação e pela descoberta e
geradores de autonomia intelectual e cívica.” (DGIDC, 2006). Como havíamos dito anteriormente, a A.P.
poderá constituir uma ferramenta importante numa nova abordagem do ensino das Ciências, culminando na
reflexão defendida por certos autores, no qual o sistema educativo português deve ir um pouco mais longe de
aspectos como “que Ciência ensinar” ou quais as teorias pedagógicas a adoptar de “como ensinar Ciência”,
preocupando-se com os aspectos ligados ao “porquê e para quê ensinar Ciência” contribuindo para a formação
de “cidadãos livres, autónomos, intervenientes e cultos, portadores de um novo discurso e de novas práticas
sociais, mais democráticas e humanistas” (Fontes e Silva, 2004).
Face ao exposto, procuraram-se atingir os seguintes objectivos:
- Explicar o papel dos diferentes intervenientes num ecossistema (organismos decompositores,
autotróficos e heterotróficos).
- Justificar a existência de elementos decorativos, não só para recriar os abrigos naturais, mas também na
manutenção das características da água (dureza, pH).
- Compreender a importância da Tecnologia na recriação/recuperação das condições ideais para a
manutenção da vida.
- Fomentar o espírito crítico/inquiridor do público-alvo.
- Debater questões ligadas à produção de alimentos/sustentabilidade das sociedades humanas.
- Observar e registar comportamentos característicos da família dos Ciclídeos.
- Promover a mudança conceptual face a concepções alternativas relativas à Educação Ambiental e às
Ciências em geral.
- Conhecer a anatomia e a fisiologia dos peixes.
- Desenvolver competências nas áreas da comunicação, laboratorial e das TIC.
- Promover o espírito de grupo e aprendizagem cooperativa.
Relato da Prática
Após uma breve descrição do funcionamento da disciplina, foi realizado um “brainstorm” com o intuito de
definir o tema objecto do Projecto, problemas associados à sua implementação e produto(s) a obter. O
crescimento das sociedades humanas associado a uma crescente necessidade de recursos provocou impactes
naturais de valor não negligenciável. A sustentabilidade das sociedades humanas, a produção de alimentos e a
50
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
minimização dos impactes das actividades antrópicas, serviram de mote à discussão. Naturalmente houve
necessidade de concertar os diversos interesses, no sentido de congregar grupos de alunos em função de
subtemas que foram surgindo. Foi assim estabelecido como tema geral “O papel da Ciência e da Tecnologia na
Preservação da Biosfera”. Tratando-se de uma área demasiado vasta, foram formuladas várias questões para
definir um tema mais específico:
- Qual o contributo da Ciência e da Tecnologia na preservação da biosfera?
- Quais os casos de sucesso na conservação do ambiente?
- Que impacte apresentam as intervenções antrópicas para conservação ambiental?
- Como demonstrar/recriar as condições naturais em laboratório?
- Que recursos vão ser necessários? Custos?
- Qual o público-alvo?
- Qual a utilidade da compreensão da dinâmica dos ecossistemas?
- Quais os problemas associados à produção de alimentos via aquacultura?
- Que concepções possuem as crianças sobre a Biosfera?
Face às questões colocadas e depois de muita discussão os alunos optaram por construir um aquário
pedagógico, no qual seriam colocadas 6 espécies da família dos Ciclídeos. A estrutura do projecto encontra-se
esquematizada na figura 1. Foi elaborado um cronograma por período definindo os produtos/metas a atingir, e
atribuídas as tarefas aos grupos de trabalho que visavam o seguinte:
- Elaboração do projecto do aquário, levantamento de necessidades e orçamentos;
- Caracterização da espécie em estudo (pH, dureza da água, intervalo de tolerância de temperatura,
tipologia de materiais a usar na decoração, grau de sociabilidade num tanque comunitário e cuidados mais
frequentes). Para esse efeito foram consultados livros e revistas de aquariofília, pesquisa na Internet e visita aos
laboratórios de aquacultura da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
- Realização de apresentações e discussão dos trabalhos de grupo perante o grupo turma, sendo avaliados
e discutidos, os aspectos a manter e/ou a melhorar, nos trabalhos e nas defesas orais.
- Participação no VII Mini-Fórum Ciência Viva com uma comunicação oral e um poster.
- Realização de panfletos educativos vocacionados a alunos do Pré-escolar e do 1º Ciclo (material
destinado a ser explorado à posteriori em cenário de aula com os respectivos professores).
- Registo de comportamentos dos peixes (registo em vídeo e fotografia) e elaboração de vídeos
educativos.
- Divulgação do projecto aos alunos do Pré-escolar e 1º ciclo de escolas do Agrupamento.
Grupo 1 Grupo 6
Reformulação/Reajustes no Projecto
Grupo 2 Grupo 5
Avaliação de Processo
Grupo 3 Grupo 4
Levantamento de Necessidades
Orçamentos
Pesquisa
Execução do Projecto
Poster
Vídeos pedagógicos
Visitas à Escola
A execução deste projecto foi ainda integrada no Projecto C.R.I.E. – Computadores, Redes e Internet na
Escola, explorando não só os recursos materiais, mas permitindo igualmente um alargamento das competências
dos alunos na vertente das TIC.
Referências Bibliográficas
DGIDC – Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (2006). Orientações – Área de
Projecto dos Cursos Científico-Humanísticos. Projecto Tecnológico dos Cursos Tecnológicos, 1-34. Ministério
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Fontes, A., Silva, I. R. (2004). Uma nova forma de aprender ciências – A educação em
Ciência/Tecnologia/Sociedade (CTS), 5-55. ASA Editores, Porto.
Fontes, A., Souto, M., Nascimento, P (2005). Outra forma de ensinar e aprender ciências – um estudo para
alunos do 8º ano. Revista de Educação, n.º2 volume XIII, 117-130.
Fontes, M. (2000). Metáforas e Analogias na Produção e Reprodução do Conhecimento Científico – Série
Didáctica Ciências Aplicadas (146), 4-27. SDE-UTAD, Vila Real
52
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Fontes, M., Silva, M. (1997). O Movimento das Concepções Alternativas e o Sucesso dos Alunos em
Ciências – Série Didáctica Ciências Aplicadas (98), 4-37. SDE-UTAD, Vila Real
Loughland, T., Reid, A., Walker, K., Petcoz, P. (2003). Factors influencing young people’s conceptions of
environmental. Environmental Educations Research, n.º9, vol 1, 3-18.
[1] Escola S/3 S: Pedro, Rua Morgado de Mateus, 5000 Vila Real, candidaferreiravrl@sapo.pt
[2] Dep. de Geologia, Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000 Vila Real, soliveir@utad.pt
Este trabalho apresenta uma estratégia de aprendizagem utilizada por docentes que leccionaram a disciplina de
Biologia e Geologia de 11º ano. Foi realizada uma saída de campo na Serra do Alvão, a noroeste da cidade de Vila
Real, com alunos de 4 turmas e com a duração aproximada de três horas. Foi colocada aos alunos uma situação-
problema: quais os processos geológicos que estão na origem da modelação da paisagem observada? Tendo como
base um roteiro fornecido com a identificação de paragens e respectivos objectivos definidos, os alunos em
actividade cooperativa tinham que elaborar uma memória descritiva. Concluiu-se que este tipo de actividades
predispõe os alunos para a aprendizagem de fenómenos geológicos, desenvolve competências cognitivas e
atitudinais em conformidade com o novo desenho curricular da disciplina de Biologia e Geologia. No domínio da
cidadania desenvolve competências, de preservação e valorização dos espaços e dos recursos naturais
Contextualização
As aulas de campo constituem uma actividade que quando devidamente planificada permite aos alunos o
contacto directo com a paisagem, a várias escalas, facilitando a interpretação de fenómenos geológicos básicos e
específicos. Consiste numa viagem através de determinado espaço geográfico que possibilita a exemplificação
de fenómenos no meio natural onde é possível concretizar acções que não podem ser feitas no contexto de sala
de aula. O espaço seleccionado serve de laboratório em meio natural apresentando a vantagem de poder abordar
uma determinada unidade do programa curricular. Estas actividades permitem aos alunos uma melhor percepção
espacial das formações geológicas e dos processos associados à sua génese (Rocha, 2003). A importância destas
actividades prende-se, também, com o desenvolvimento de estratégias de carácter investigativo em torno de
questões problema de acordo com o nível de formação dos alunos e dos seus professores. Estes devem ser
facilitadores da aprendizagem programando a informação e o modo como deve ser feita, estimulando, orientando
e coordenar e avaliar o trabalho do aluno ou do grupo (Marques, 2000; Chaves, 2003). As saídas de campo
constituem uma estratégia motivadora e são um espaço privilegiado para o desenvolvimento de atitudes de
exercício de uma cidadania responsável no respeito pela protecção da natureza, na valorização do património
natural e cultural e na gestão sustentável de recursos naturais (Marques et al, 1996, Gomes, 2006).
53
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
População amostra
A amostra era constituída por 77 alunos de quatro turmas de 11º ano a frequentar a disciplina de Biologia e
Geologia desde o 10º ano. Estas turmas estavam distribuídas por três docentes que as acompanhavam desde o
10º ano à excepção de uma.
Preparação da aula de campo
Na preparação desta aula teve-se em conta a interligação teoria/prática no ensino das Geociências e os
conteúdos de aprendizagem. Como factores determinantes no seu planeamento estiveram: Motivar os alunos;
Justificar o carácter prático dos assuntos abordados ou a abordar; Realizar aprendizagens num contexto fora da
sala de aula e Promover o estudo de fenómenos in situ. Calendarizou-se esta actividade de modo a ser realizada
depois de leccionar a unidade Magmatismo – rochas magmáticas e antes de leccionar as unidades Deformações
das rochas e Metamorfismo. No primeiro caso, para comprovar a ocorrência de fenómenos geológicos, ilustrar
com exemplos no campo e aplicar conhecimentos. No segundo caso, para motivar, identificar problemas e
levantar questões. Esta preparação decorreu nas seguintes fases: Fase I – Calendarização da(s) aula(s) de campo
para todas as turmas de 11º ano com a disciplina de Biologia e Geologia, em Setembro de 2005 e sua integração
no Plano de Actividades. Fase II- Escolha do percurso e selecção das paragens a partir de uma visita de
reconhecimento ao local integrando os estagiários de Biologia/Geologia em Fevereiro de 2006. A selecção do
local da aula teve em consideração a afinidade entre os conteúdos programáticos e o enquadramento geológico
regional de uma área geográfica tão próxima da escola quanto possível. Fase III- Concepção e construção de um
guião para os alunos que os orientou no terreno, em Março. Fase IV- Execução da aula de campo, em 28 de
Abril. Fase V- Elaboração, por parte dos alunos de uma memória descritiva da aula de campo, em actividade
cooperativa, em Maio. Fase VI - Reflexão crítica dos docentes sobre o trabalho realizado.
A aula de campo
A aula de campo foi precedida de uma aula de 90 minutos para dar informações importantes acerca do
enquadramento geográfico do local a visitar, do comportamento a adoptar no campo, do tipo de material a
utilizar e do seu manuseamento, da definição dos grupos de trabalho, da distribuição de tarefas por cada
elemento do grupo e da forma de recolher amostras. A aula de campo foi realizada na vertente SE da Serra do
Alvão num percurso entre a aldeia de Paredes e o Fojo do Lobo, com a duração aproximada de 3 horas. Cada
turma foi dividida em grupos heterogéneos, acompanhada por dois professores vigilantes e um terceiro professor
que orientava a aula. Cada elemento do grupo além das tarefas previamente estabelecidas tinha também um
guião elaborado especificamente para esta aula. Deste constavam uma situação problema, o enquadramento
geotectónico, as paragens a efectuar e os objectivos de cada paragem. Os alunos manifestaram muito interesse,
colaboraram em todas as actividades previamente acordadas e recolheram informação necessária à realização de
uma memória descritiva (figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6). Houve uma interdependência positiva com responsabilidade
individual e partilha de responsabilidades no seio de cada grupo, aplicando os princípios de aprendizagem
cooperativa no sucesso dos alunos ao nível das competências cognitivas e atitudinais.
Figura 1 - Meteorização em granito - Figura 2 - Aspecto erosivo em ambiente Figura 3 - Aspecto de erosão em
pormenor de disjunção esferoidal. granítico - bloco pedunculado. granito - taffoni.
54
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Avaliação da prática
Elaboração de uma memória descritiva
Na escola, nos 90 minutos da 1ª aula que se seguiu à aula de campo, discutiram-se as dúvidas de natureza
científica colocadas pelos alunos. Seguidamente efectuaram-se as correcções consideradas pertinentes aos
apontamentos recolhidos nos seus cadernos de campo. Posteriormente, os alunos entregaram as memórias
descritivas para a avaliação.
Avaliação e resultados
A avaliação desta actividade foi feita tendo como base os comentários dos alunos apresentados nas
memórias descritivas que nos permitiram fazer um levantamento das principais limitações manifestadas. Destas
constam “ dificuldades em interpretar escalas de espaço e de tempo geológico”, “falta de destreza visual devido
ao pouco hábito que há em realizar aulas de campo” e “dificuldades em interpretar estruturas e fenómenos
geológicos na natureza”. Os alunos manifestaram, ainda, espírito crítico e conhecimentos de relações (CTSA)
Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente quando afirmam: “ é uma zona com potencialidades para a produção
de energia eólica”, “é uma zona de caça associativa”, “com potencialidades para o ecoturismo e geoturismo”, “
presença de habitats a preservar” e “interacção entre a paisagem e as populações humanas num equilíbrio
dinâmico”.
Conclusões
As atitudes reveladas pelos alunos antes, durante e após a execução da aula demonstraram a existência de
empenho, responsabilidade individual e de grupo, em termos de auto-avaliação e de heteroavaliação. Foram
propostas sugestões para melhorarem o funcionamento dos grupos numa perspectiva de aprendizagem
cooperativa. Os alunos revelaram algumas limitações na identificação e interpretação de objectivos e processos
geológicos decorrentes deste novo espaço de aprendizagem. Face aos resultados e às limitações referenciadas
pelos alunos pode inferir-se da necessidade destas actividades no âmbito do ensino da Geologia. As aulas de
campo despertaram nos alunos a necessidade da preservação do património natural e o reconhecimento destas
como um importante recurso didáctico. Destaca-se, ainda, que há um entendimento da paisagem como um
recurso turístico para a região.
Referências Bibliográficas
Chaves, M. R. B. J. (2003) - O trabalho de campo em Geologia na formação inicial de professores: uma
nova Orientação Didáctica.Tese de Mestrado. Departamento de Geologia. Universidade do Porto.
Gomes, S. C. C. (2006) - Um percurso na Serra do Alvão: Contributo das saídas de campo no ensino da
Geologia. Tese de Mestrado. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real.
Marques, E. (2001) O trabalho experimental no ensino das Geociências: Construção de materiais e sua
validação no contexto de sala de aula. Tese de Mestrado (não publicada). Departamento de Didáctica e
Tecnologia Educativa. Universidade de Aveiro.
Marques, L. (2000) - Uma perspectiva sobre os conteúdos de geociências nos programas do 7º ano de
escolaridade à luz da investigação em Didáctica das Ciências. Comunicação apresentada no XX Curso de
Actualização de Professores de Geociências. Associação Portuguesa de Geólogos. Porto.
Marques, L.; Futuro, A.; Leite, A. & Praia, J.(1996) - A aula de campo no ensino da Geologia: Contributos
para uma clarificação e prática do seu papel didáctico. IX Simposio sobre la Ensñanza de la Geologia, vol. Extra:
32-39.
55
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
[1] Em 05/06, na Escola Básica 2,3, Dr. Reis Leitão, Loriga, filvagos@hotmail.com
[2] Departamento de Comunicação e Arte, Universidade de Aveiro, Aveiro, clopes@ca.ua.pt
Viagem ao teu corpo humano consistiu num projecto criado e desenvolvido por crianças para crianças, do 2º Ciclo
de escolaridade para o Jardim-de-infância e 1º Ciclo. Numa dinâmica alegoricamente dialéctica entre a
imaginação, o imaginário (Sartre, 1936 e 1940) e a realidade real (Watzlawick, 1992), destacada no processo a
dimensão e nível de aprendizagem definida por (Bateson, 1980) “aprender como se aprendeu a aprender”, o
coração, os pulmões e as células constituíram-se três temáticas escolhidas, da ciência médica, organizadas num
circuito labiríntico, de ludicidade (Lopes, 1998). Em contexto e cenários antropomórficos criados artefactos e
formas plásticas três dimensões, conceitos científicos foram comunicados, no espaço, à comunidade escolar.
Contexto da Prática
O projecto Viagem ao teu corpo humano, desenvolvido ao longo do ano lectivo 2005/2006, na Escola Básica
2,3 Dr. Reis Leitão, Loriga (Foto 1), pelos alunos do 5º ano de escolaridade do 2º CEB, materializou-se no
âmbito da área curricular não disciplinar Área de Projecto.
As actividades desenvolvidas nos três períodos lectivos contaram com a coordenação científica de três
docentes de três departamentos curriculares do 2º CEB, da supracitada escola: Educação Artística e Tecnológica,
Educação Física e Ciências Físicas e Naturais.
Do título às práticas tomaram-se escolhas respeitando integralmente as motivações dos grupos de trabalho
envolvidos. O projecto evoluiu na sequência imanente de diferentes registos, orais e gráficos, provenientes dos
grupos, ideias e livre imaginação inerente ao desenvolvimento do próprio artefacto geral de ludicidade.
Considerado o público-alvo que foram os Jardins-de-Infância e 1º Ciclo do Ensino Básico, para além do
restante Agrupamento, a finalidade objectiva do projecto consistiu, por um lado, na experimentação lúdica
(Lopes, 1998) e lúcida do processo na comunicação da Ciência, e, por outro lado, atribuir dimensões de
ludicidade no trabalho. Em paralelo, fomentou-se uma prática no nível de aprendizagens (e da comunicação
humana) delineado por Bateson: “aprender como se aprendeu a aprender”. O autor afirma que “L’essence et la
raison d’être de la communication sont la création de la redondance, de la signification, du modèle, du
prévisible, de l’information et/ou de la réduction du hasard par la « restriction » ” (1977 :170).
Se de um ponto de vista pragmático a ideia é fundamental no quadro da comunicação e da aprendizagem
humana que induz a mudança, por outro lado, faz todo o sentido reiterar “ Il est, je pense, de toute première
importance d’avoir un système conceptuel qui oblige à considérer le «message» (l’objet d’art, par exemple) à la
fois comme structuré intérieurement et comme partie d’un univers structuré plus vaste: la culture ou une partie de
celle-ci” (1977 :171).
Curioso, não deixa de ser, o facto do conhecimento, adquirido nas estruturas mais profundas do espírito,
evidenciar-se pela sua ausência ao nível consciente. Segundo os níveis e tipos lógicos de aprendizagem traçados,
Bateson cita “Samuel Butler disait que, mieux un organisme «connaît» quelque chose, moins il est conscient de
56
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
cette connaissance – c’est-a-dire qu’il existe un processus par lequel la connaissance (ou l’«habitude» d’action,
de perception ou de pensée) s’enfonce à des niveaux de plus en plus profonds de l’esprit.” 1 (1977 :174).
Tendo em conta as complexas disposições do consciente e do subconsciente, bem como a selectividade,
parcial e subjectiva, da apreensão da realidade pelo espírito, leva a deduzir, por princípio, que o conteúdo da
consciência é meramente uma parte da realidade. Ora, se esta parte é sistematicamente seleccionada, significa
que, de uma forma ou de outra, as verdades parciais da consciência representam, então, uma deformação da
realidade de um conjunto mais vasto. Esta visão da realidade é também partilhada por Paul Watzlawick. Lança,
na sua obra A Realidade é Real?, uma teoria da comunicação tendo por base o modelo orquestral da
comunicação, cita inúmeros exemplos, e, em análise, apresenta uma problemática (epistemológica): a Realidade
(o mundo ontológico) é Real? (corresponde ao mundo gnoseológico?), isto é, corresponde ao que pensamos dele
(ontológico)? Haverá uma ou uma pluralidade de realidades, tantas quantos os números de seres humanos que
habitam o planeta? E será a realidade imutável? Ou transformar-se-á a cada instante? Será esta última a resposta
correcta? Pois, se há um número incomensurável de Realidades, não será essa a verdadeira Realidade?
Quanto aos objectivos do projecto, encontravam-se estruturados em três blocos, dimensionados às
respectivas ocasiões. Na ocasião primeira: seleccionar as ideias-chave do projecto; seleccionar a área da Ciência
(a predominar) e conceitos a comunicar; seleccionar método de pesquisa sobre ciência. Na ocasião segunda:
recolha, análise e síntese da informação a comunicar; seleccionar o suporte da síntese da informação; determinar
diferentes artefactos de ludicidade. Na ocasião terceira: determinar o espaço e contexto de ludicidade; construir
cenários e artefactos tendo por base a imaginação e o imaginário dos mentores; realizar e optimizar na logística a
exposição.
Relato da Prática
Três períodos lectivos constituem um ano escolar e permitem a visão estratégica de correlacionar a
possibilidade de promover um trabalho dialéctico e meta dialéctico.
Na primeira ocasião, os grupos formados por duas turmas, em tempos lectivos de aula distintos, procuraram
estabelecer um diálogo nivelado no domínio das tarefas a realizar, no desenvolvimento de respostas a interesses
comuns à concepção dos artefactos e no de curiosidades despertadas nas aulas de Ciências da Natureza pela
Ciência, e ainda, no da ciência médica, após o acordo estabelecido entre ambos sobre a ideia-chave do projecto.
O coração, os pulmões e as células foram três temáticas seleccionadas aceites e a desenvolver2.
1
Repare-se no interesse do exemplo que dá: “Adalbert Ames a démontré que les images visuelles conscientes à
3D, que nous formons à partir de ce que nous voyons, se constituent à travers des processus qui impliquent des
prémisses mathématiques de perspective, etc., sur ces processus nous n’avons aucun contrôle volontaire. La
représentation d’un chaise dans perspective de Van Gogh contredit toute prévision «rationnelle» et rappelle à la
conscience ce qui avait été (inconsciemment) considéré jusque-là comme donné. ” (1977 : 174)
2
Nesta fase, todavia, ainda não se encontravam indícios de qualquer pré configuração sobre cenários, de
ludicidade.
57
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
O que ocorreu na ocasião correspondente ao terceiro período lectivo foi a desmistificação do imaginário
posto em prática concreta, do projecto ao acto, à acção. Levou à construção real das artefactomodelagens
motivada pela imaginação da cena a construir – os espaços interactivos – à medida do ser humano, à sua altura,
na sua medida, antropomórfica (Foto 3).
Um elemento importante que pontuou os cenários, do início da construção à exposição final, foi a noção de
indicador de contexto. Segundo Bateson, “ Le stimulus est un signal élémentaire interne ou externe. Le contexte
du stimulus est un métamessage qui classifie le signal élémentaire.”5 (1977 : 309). Onde depreende-se que “ Le
contexte du contexte du stinulus est un méta-métamessage qui classifie le métamessage. Etc.” (1977 : 310).
Acrescenta, “ Il nous faut introduire ici le terme d’«indicateur» de contexte. Un organisme répond différemment
au «même» stimulus, dans des contextes différents, et nous devons donc nous interroger sur la source
informative de l’organisme. D’où tient-il l’information que le Contexte A est différent du Contexte B ?” (1977 :
310).
3
Imaginação: Acto ou efeito de imaginar; faculdade de inventar, de conceber, unida ao talento de reproduzir
vivamente essas concepções; capacidade de representação de objectos, acontecimentos ou relações ainda não
observadas; faculdade de combinar ou reorganizar elementos ou ideias de forma construtiva; … (in, Costa, J.
Almeida, Melo, A. Sampaio et al., 2006, Dicionário de Língua Portuguesa, Porto Editora, pp. 920)
4
Imaginário: Que só existe na imaginação, que não é real; fictício; fantástico; … (in, Costa, J. Almeida, Melo,
A. Sampaio et al., 2006, Dicionário de Língua Portuguesa, Porto Editora, pp. 920)
5
Bateson cita o seguinte exemplo: “ L’audience assiste à une représentation de Hamlet au théâtre et les
spectateurs entendent le héros monologuer sur le suicide, dans le contexte de la relation avec son père mort, avec
Ophélie et tout le reste. Si les spectateurs ne se précipitent pas pour téléphoner à la police, c’est parce qu’ils ont
reçu l’information sur le contexte du contexte de Hamlet. Ils savent qu’il s’agit d’une pièce de théâtre et cette
information leur a été fournie par de nombreux «indicateurs de contexte de contexte» : affiches, disposition des
fauteuils, rideau, etc. Le «Roi», en revanche, qui se laisse prendre à son jeu, par l’astuce de la pièce dans da
pièce, ne tient pas compte de ce genre d’«indicateurs de contexte de contexte».” (1977 : 310).
58
Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
Criaram-se grupos de trabalho dentro de cada turma. Os coordenadores limitaram-se à sua função: coordenar,
apenas. Seis grupos de crianças. Dois em cada módulo temático. Três por cada turma, um grupo em cada módulo
(pulmões, coração e células). O trabalho efectivamente assumiu dimensões de ludicidade à medida que o jogo
das relações evoluía entre as crianças elas próprias e o seu próximo e cada um dos coordenadores. As atitudes
subiram ao palco das representações autênticas.
Num primeiro momento os três grupos delinearam na superfície do espaço disponibilizado o labirinto a
construir. Surgiu a estrutura em madeira (reutilizada) e o arame. Logo após, o papel de cenário a modelar os
espaços circulares referentes ao círculo dos módulos bem como das passagens entre aqueles (Foto 2 e 4).
Procedeu-se à coloração dos espaços (Foto 5), que se reportou ao imaginário colectivo de que são usuais, na
projecção do design gráfico, quando se trata de sangue oxigenado e, em relatividade, menos oxigenado – o azul e
o vermelho (arterial e venoso).
59
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
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Práticas de Ensino em Ciências Naturais/Biologia-Geologia (3ºCEB/Sec.)
criaram os cenários. Por último, dinamizaram, no dia da exposição, os espaços que eles próprios criaram. Os
visitantes tiveram a oportunidade de apreenderem ludicamente aquela realidade, de forma consciente, a
informação científica (conteúdo da mensagem).
Finalmente, um outro aspecto importante a considerar neste projecto foi a noção de virtualidade real. Esta
apresenta-se, na prática, num palco diametralmente oposto à realidade virtual, nomeadamente quanto à sua
natureza, atitude e estado. Toma a realidade real como génese para, a partir dela, com imaginação pontuar os
contextos da comunicação humana, com artefactos cénicos antropomorficamente modulados valorizar a
ludicidade, com atitude natural – recriar a existência e condição do humano uno e múltiplo – já que na voz de
Camus “O mundo das relações entre os homens não é menos absurdo do que a situação do homem no meio da
natureza. Em ambos reina, no fundo, a lei das categorias de pensamento complementares, que a física atómica
tornou evidente: ambas as maneiras de pensar opostas se excluem uma à outra, e ao mesmo tempo condicionam-
se como os dois lados de uma folha, que, fazendo ambas parte dela, no entanto não se vêem um ao outro, apesar
de poderem existir simultaneamente”… No fundo, “o perigo está no momento subtil que precede o mergulho”
(2005: 162). Ou, numa linguagem contemporânea ao olho das consciências, no voo vertiginoso 6 do século XXI.
Referências bibliográficas
Bateson, Gregory, 1977, Vers une écologie de l’esprit, Tome I, Éditions Seuil
Camus, Albert, 2005, O Mito de Sísifo, Edição Livros do Brasil, Colecção Obras de Albert Camus
Lopes, Conceição, 1998, Comunicação e Ludicidade, dissertação de doutoramento, Universidade de Aveiro
Sartre, Jean Paul, 1936, L’imagination, Presses Universitaires de France
Sartre, Jean Paul, 1940, L’imaginaire - psychologie phénoménologique de l’imagination, Collection
Folio/Essais, Éditions Gallimard
Watzlawick, Paul, 1992, A Realidade é Real?, Edições Relógio d’Água, Lisboa
Agradecimentos
Agradecemos a colaboração e envolvimento em primeiríssimo lugar aos dois grupos de crianças do 2º CEB.
A todos os colegas dos Jardins-de-Infância e dos 1º CEB do Agrupamento que acompanharam as crianças à
exposição, participando também nas actividades. Ao Conselho Executivo pelo apoio. Por último, aos autores das
obras publicadas que no silêncio se fizeram ouvir no nada receptivo e inerente à natureza do imaginário do ser-
no-mundo da imaginação reflexiva da ludicidade.
6
Acerca da novíssima corrente estética, Filipe Vagos e Augusto Aragão, em 2001, assinam o primeiro manifesto
do Vertiginismo – uma estética para o século XXI, Edição de Autor, Coimbra, distribuição gratuita.
61
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Regina Gouveia
Foram analisados dez textos com relatos de práticas, uma para o 7º ano, três para o 8º, duas para o 9º, duas para o
10 º ano e duas para 8º e 10 º. Em nove das comunicações as situações formativas têm a ver com conteúdos bem
definidos (Luz e visão, som e audição, atmosfera, mudança global, energia e movimentos, circuitos eléctricos e/ou
electrónicos, constituição do mundo material). Os textos são apresentados por professores do ensino básico e
secundário (dois), por universidades ( dois) e conjuntamente (seis). As universidades envolvidas são a UTAD e a
UA e as escolas básicas e/ou secundárias são do Porto, Lamego, Aveiro, Paços de Ferreira, Boticas, Mesão Frio e
Santa Cruz da Trapa.
Referências Bibliográficas
Marcelo García, C. (1999), Formação de Professores, Porto Editora
Toscano, J. M.(1997), El análisis y la comunicación de experiencias. Algunos exemplos y recursos”, in
Alambique nº 13, Graó, Barcelona, (25-33)
62
Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Isabel Machado [1] (professora responsável pelo projecto na escola e que simultaneamente é
responsável pela prática lectiva), Maria Emília Quintas [2] (responsável pelo projecto na escola e que
simultaneamente é responsável pela prática lectiva), Daisi Silva [3] (responsável pelo projecto na escola),
Nilza Costa [4] (coordenadora do projecto), Maria Paula Pires [1] (responsável pela prática lectiva), Cátia
Gomes [1] (responsável pela prática lectiva), Tânia Fernandes [1] (responsável pela prática lectiva),
Regina Gouveia (consultora)
Trata-se de um projecto para o Ensino Experimental das Ciências, ao nível do 8º ano de escolaridade, visando a
Sustentabilidade na Terra e procurando sempre transversalidades com outras áreas, nomeadamente a poesia.
Partindo da exploração de textos poéticos, desenvolve-se com os alunos um conjunto de actividades, que permita,
de forma adequada ao seu nível etário e tendo sempre em vista a sensibilização para um desenvolvimento
sustentável, a exploração de conceitos científicos, a partir da experimentação. Outras disciplinas, nomeadamente o
Português e a Educação Visual podem dar um contributo importante na implementação do projecto que se
pretende transversal.
Contexto da Prática
Reconhecidos:
(a) O papel fundamental da escola (ao nível da sala de aula e de outros espaços menos formais) na
sensibilização de crianças e jovens para o Desenvolvimento Sustentável.
(b) A necessidade em melhorar o desempenho dos alunos portugueses ao nível das literacias no final da
escolaridade obrigatória.
(c) As potencialidades da componente experimental das ciências na promoção da literacia científica
(d) A necessidade de se articularem diferentes áreas do saber (por ex. científicas e artísticas) para um
desenvolvimento integral da pessoa.
Desenvolveu-se um projecto a implementar em três escolas, envolvendo 8 turmas do 8º ano de escolaridade,
no âmbito da disciplina de Física e Química, com os seguintes objectivos:
· Sensibilizar a curiosidade e o respeito relativamente ao mundo natural que nos rodeia
· Desenvolver, desde cedo, uma literacia científica que ajude a compreender o mundo em que vivemos
· Explorar o mundo em que vivemos através de múltiplas vias, nomeadamente a experimentação
· Desenvolver a criatividade
· Contribuir para o crescimento integral das crianças e dos jovens, numa perspectiva multi e
transdisciplinar
No âmbito do projecto, partindo de diversos poemas, são criadas situações formativas(10) que procuram dar
uma visão integradora das ciências, e destas com outras áreas do saber, com vista ao desenvolvimento de
competências de cidadania nos e com os alunos. A exploração dos poemas, feita inicialmente no âmbito literário,
evolui depois para a exploração de conceitos científicos implícita ou explicitamente referidos nos poemas. Essa
exploração tem grande incidência:
· Na componente experimental, nomeadamente com actividades realizadas pelos alunos
· Na sensibilização para o Desenvolvimento sustentado do Planeta
Relato da Prática
A prática aqui descrita foi implementada na Escola EB23 Nicolau Nasoni tendo por base uma planificação
comum elaborada para as três escolas envolvidas no projecto. Foram utilizados vários textos poéticos, para, a
partir da leitura dos mesmos, fazer emergir questões a explorar. Assim, a partir de um dos “Poemas da Infância”
de Manuel da Fonseca (5) que refere a dispersão da luz, fez-se a introdução aos fenómenos luminosos. A partir
do poema “Poesia” de Regina Gouveia (8) fez-se o estudo dos fenómenos ondulatórios, o poema “Luz” da
mesma autora (8) foi utilizado para estabelecer diferenças e semelhanças entre luz e som, o poema “Ozono” (8)
levou à reflexão sobre problemas causados pela radiação ultravioleta e, o poema “Pedra Filosofal” de António
63
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Gedeão (6) foi utilizado para introduzir o problema da comunicação à distância. Toda esta abordagem foi sempre
acompanhada de uma forte componente experimental e de uma sensibilização para os problemas da
sustentabilidade na terra. Refere-se, em particular, o contributo da disciplina de Língua Portuguesa, pois a
abordagem prévia dos poemas na referida disciplina desempenha um papel altamente facilitador na referida
implementação.
Após a exploração dos poemas, feita nas aulas de Língua Portuguesa, a exploração nas aulas de Física visou
a construção/reconstrução de conhecimento conceptual, processual e atitudinal. Assim, por exemplo, a leitura do
poema de Manuel da Fonseca, fez emergir questões tais como: Que tem de extraordinário o vidro do Tóino? O
que acontece à luz quando incide em outros objectos diferentes do “vidro extraordinário” do Tóino? O que é o
arco-íris? Como se forma? Como explicar a cor diferente dos objectos? Afinal o que é a luz? A leitura dos
poemas “Poesia”, “Luz”, “Ozono”, fez emergir questões tais como: O que é uma onda? O que nos leva a
considerar que o som tem comportamento ondulatório? Que semelhanças e diferenças podemos encontrar entre
fenómenos sonoros e luminosos? Por que vemos? Por que ouvimos? Alguns problemas relacionados com a
radiação electromagnética são o aumento da radiação UV devido à diminuição da camada de ozono e o efeito
estufa Em que consistem estes problemas? Finalmente, a partir do poema Pedra Filosofal fez-se emergir a
questão: Temos vindo a referir aspectos negativos da actividade humana no que respeita à sustentabilidade na
Terra. E quanto aos aspectos positivos? Toda a exploração das questões levantadas foi feita com uma forte
componente experimental do tipo investigativo ou tarefas de Gunstone (10) bem como pequenos trabalhos de
pesquisa e selecção de informação.
Referências Bibliográficas
Fonseca, M. (1969), Poemas Completos, Portugália Editora
Gedeão, A. (1968), Poesias Completas, Portugália, Lisboa
Gouveia, R. (2002), Reflexões e Interferências, Edição Palavra em Mutação e Autor
Lopes, J.B. (2004), Aprender e Ensinar Física, Fundação Calouste Gulbenkian
Moreira, I. (2002), Poesia na sala de aula de Ciências? A literatura poética e possíveis usos didácticos,
Física na Escola, vol 3, nº 1, (17,23)
Pozo,J. I. (1996), Las ideas del alumnado sobre la ciencia: de dónde vienen, a dónde van y mientras tanto
qué hacemos com ellas, Alambique, nº 7, Graó, (18-26)
Watts, M. (2001), Science and poetry: passion v. prescription in school science?, International Journal of
Science Education, vol 23, nº 2, (197-208)
Bibliografia complementar:
Cachapuz, A. (1989), Linguagem metafórica e o ensino das ciências, Revista Portuguesa de Educação, 2(3),
Universidade do Minho, (117-130)
Cole, K. (2002), Primeiro constrói-se uma nuvem, Gradiva
Dawkins, R. (2000), Decompondo o Arco-Íris, Gradiva
Fiolhais, C. (2003), Física e Poesia têm pontos de contacto, Gazeta de Física, volume 26, fasc 1,(46)
Gouveia, R. (2000), Se eu não fosse professora de Física... Algumas reflexões sobre práticas lectivas, Areal
Editores
Gouveia, R. (2004), Educação em Ciências, Cultura e Cidadania: A poesia na sala de aula, Gazeta de Física,
volume 27, fasc 4, (40-43)
Anexo 1
Avaliação do projecto “Literacias na década do desenvolvimento sustentável: o trabalho experimental na sua
promoção”
64
Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Anexo 2
Síntese da avaliação feita por três professoras responsáveis pela prática na sala de aula
Finda a implementação, na sala de aula, do Projecto “Literacias na Década do Desenvolvimento Sustentável:
o trabalho experimental na sua promoção”, projecto no âmbito do Programa Ciência Viva, é importante fazer
uma avaliação do mesmo. Agradecemos, desde já, mais esta sua colaboração.
1ª Parte
Q1- Para cada um dos seguintes itens, manifeste o seu grau de concordância/discordância, marcando um X
no quadrado respectivo (1-discordância total, 4 – concordância total)
1.1 A sessão inicial, realizada na Escola Secundária Carolina Michaelis, para clarificação do 3,0
projecto foi esclarecedora
1.2 Os materiais apresentados na sessão referida em 1.1 foram suficientes 3,0
1.3 O apoio dado pelas professoras “ pivot” no desenvolvimento do projecto foi importante 4,0
1.3 A utlização dos poemas nas aulas foi um factor de motivação dos alunos 3,0
1.4 Os poemas foram facilitadores da aprendizagem dos alunos 3,0
1.5 Os poemas foram adequados à exploração dos assuntos a serem abordados 4,0
1.6 A utilização dos poemas permitiu fazer articulações com outras disciplinas 3,7
1.7 As actividades experimentais foram adequadas aos assuntos abordados 4,0
1.8 As actividades experimentais foram facilitadoras da aprendizagem 4,0
1.9 Os alunos aderiram favoravelmente à estratégia 3,7
1.10 A estratégia usada permitiu sensibilizar os alunos para o problema do desenvolvimento 3,0
sustentável
1.11 Os resultados obtidos revelam que a estratégia teve uma grau de eficácia elevado no que diz 2,7
respeito às aprendizagens dos alunos
2ª Parte
Faça uma breve apreciação do Projecto, relativamente às dimensões referidas na Tabela que a seguir se
apresenta, para preenchimento.
Apreciação do Projecto quanto....
a eventuais dificuldades de foi referida essencialmente a dificuldade inicial relacionada com a falta
implementação de material que chegou à escola relativamente tarde
a aspectos mais positivos foi referida essencialmente a articulação com outras disciplinas
(nomeadamente Língua Portuguesa) e a forte componente experimental
a aspectos menos positivos pouco tempo disponível para a implementação da estratégia
a indicadores de sucesso/insucesso positivos: o entusiasmo dos alunos nas aulas
negativos: as classificações nos testes
à eventual importância tida no seu muito importante pois a inovação implementada foi altamente
desenvolvimento profissional enriquecedora
3ª Parte
Indique sugestões que, na sua opinião, devam ser tidas em linha de conta em futuras implementações do
projecto, no sentido de o melhorar
65
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Mário Talaia [1], Liliana Madaleno [1], Ana Vicente [1], Margarida Soares [2]
As Orientações Curriculares do 3.º Ciclo de Ciências Físicas e Naturais, do Ministério da Educação, da sub-
unidade Mudança Global valorizam a descrição e previsão do tempo atmosférico e, tem em conta que os alunos
devem tomar consciência da importância que o conhecimento do tempo atmosférico tem para a nossa sociedade e
para a prevenção de desastres. Neste trabalho mostra-se como uma actividade experimental simples, usando
materiais reciclados, de fácil acesso e de baixo custo, podem motivar e envolver alunos para o Ensino das
Ciências. Um fenómeno atmosférico, considerado “extremo” foi detectado e interpretado fisicamente.
Contexto da Prática
A ligação da Ciência a contextos do dia-a-dia, não só motiva os alunos, como facilita a compreensão de
muitas ideias científicas, facilitando o processo ensino / aprendizagem.
Com este trabalho, pretendeu-se que o ensino de alguns conteúdos da temática Mudança Global, leccionado
no 8º ano de escolaridade, tivesse uma ligação directa com contextos reais, numa dinâmica Ciência, Tecnologia,
Sociedade e Ambiente.
Foi construído material didáctico, bastante simples, usando materiais reciclados, de fácil acesso e de baixo
custo (a recuperação de materiais permitiu não só transformar os materiais inúteis em novos produtos de forma a
diminuir a quantidade de resíduos, como a obtenção de um produto final de custo muito reduzido).
Conforme mostra a Figura 1 foi construído um psicrómetro e um higrómetro de cabelo “crina de égua”,
como complemento, para a estação meteorológica adquirida pela Escola.
O psicrómetro é constituído por dois termómetros iguais, com os bolbos em contacto com o ar e com um
corpo de água através de uma musselina, respectivamente. O higrómetro de “cabelo” é constituído por um
sistema de leitura numa escala de disco devidamente calibrada e um cabelo de “crina” de égua com cerca de 50
cm de comprimento. Os valores registados, num determinado instante, para a humidade relativa do ar, pelos dois
instrumentos de medida, devem ser iguais. O termómetro de bolbo húmido é condicionado pela humidade
relativa do ar, assim como a dilatação / contracção do comprimento da “crina”.
Relato da Prática
A ligação da Ciência a contextos do dia-a-dia não só motiva os alunos como facilita a compreensão de
muitas ideias científicas, facilitando o processo ensino / aprendizagem.
O material didáctico foi exposto a toda a Comunidade Escolar, e os alunos foram divididos em grupos e ao
longo do dia registaram observações, que foram cuidadosamente retiradas, evitando erros de paralaxe (ver Figura
2, lado esquerdo).
Em folha de Excel, criaram-se mapas de informação dos dados meteorológicos registados. A informação foi
disponibilizada a toda a Comunidade Escolar através da afixação de painéis na entrada da Escola (ver Figura 2,
lado direito).
66
Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Na Figura 3 são mostradas diversas linhas que indicam a evolução do registo da temperatura do ar,
temperatura do termómetro molhado e diferença entre elas para dois horários (9:15 horas e 16:30 horas). A
observação visual do gráfico mostra que durante o dia 19, entre os valores registados, houve alteração
significativa das condições do tempo atmosférico. De facto, durante a tarde, a diferença entre a temperatura do ar
e temperatura do termómetro molhado diminui, condicionando um ar húmido mais próximo da saturação, o que
levou a uma inversão da posição dos valores. Esta situação é compreendida mais facilmente quando se observa a
Figura 4. O dia 19 indicia uma alteração brusca do tempo atmosférico. Na Figura 4 são indicadas linhas de
evolução de humidade relativa do ar. É digno de nota, o excelente acordo dos valores indicados a partir do
registo fornecido pelos dois instrumentos de medida, o que valoriza ainda mais o ensino / aprendizagem.
Discussão de ideias e de conceitos enriqueceram a interpretação física do fenómeno “extremo”.
40
termómetro seco (9:15 h) termómetro seco (16:30 h)
termétro molhado (9:15 h) termétro molhado (16:30 h)
diferença (T-Tw) (9:15 h) diferença (T-Tw) (16:30 h)
30
temperatura (ºC)
20
10
0
Terça Quarta Quinta Sexta
Abril 2007 (17 a 20)
Figura 3 – variação da temperatura no tempo
O acontecimento de fenómeno extremo, com queda inesperada de granizo, foi recebido com grande
surpresa, curiosidade e alegria pela comunidade escolar.
Os alunos foram incentivados a recolher informações em noticiários de jornais ou magazines da região e
estarem atentos ao noticiário televisivo desse dia. Havia um objectivo comum, procura de explicações físicas
para o fenómeno tendo por base os conhecimentos adquiridos na leccionação da unidade temática Mudança
Global.
Uma notícia, do dia 20 de Abril facultada pela Lusa, dizia: “…fenómeno localizado mas pode-se repetir.
Tempestade de granizo de Oliveira de Frades afectou agricultura”.
Uma outra notícia, dava conta: “a repentina e violenta tempestade de granizo que assolou o concelho de
Oliveira de Frades, Viseu, na tarde de ontem, gerou grande confusão mas menos prejuízos do que o esperado,
disse hoje à Lusa o vereador. Segundo o autarca, que é responsável pela protecção civil e actividades económicas
do município, logo após a nunca vista e violenta queda de granizo de ontem, temia-se o pior, mas durante a
manhã de hoje foi possível verificar que os estragos são menores que as expectativas criadas, vide Público.
Ainda uma outra escrevia: Tromba-d'água e granizo viraram a vila do avesso. Cinco minutos, foi quanto
durou a tromba-d'água com queda de granizo que lançou, ontem, ao meio da tarde, o caos na vila de Oliveira de
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Frades. O comandante dos Bombeiros Municipais, descreve um cenário infernal. Faltavam poucos minutos para
as cinco da tarde quando uma violenta tempestade se abateu sobre nós. O granizo, do tamanho de pequenos
berlindes, caiu em catadupa. Em alguns locais, chegou a atingir o metro e o metro e meio de altura. Nunca vi
uma coisa assim, confessou, segundo o Jornal de Notícias.
100
80
humidade relativa (%)
60
40
0
Terça Quarta Quinta Sexta
Abril 2007 (17 a 20)
Face aos dados recolhidos, foi possível encontrar uma explicação simples para a ocorrência do fenómeno
atmosférico considerado “extremo”.
Os alunos compreenderam que se o volume de ar húmido da região, fosse confinado por uma parede
invisível, a uma variação abrupta do arrefecimento da temperatura do ar, mantendo a mesma pressão parcial de
vapor à temperatura do ponto de orvalho, está associado um aumento brusco da humidade relativa do ar que, que
favorecido por uma corrente ascensional “provocou” a condensação do vapor de água, a sua passagem ao estado
sólido, com respectiva queda de granizo.
A interdisciplinaridade da “questão problema” envolveu ampla discussão de saberes com professores da
área de geografia.
68
Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
seu dia-a-dia e permitiu a discussão, partilha e reflexão dos resultados obtidos, conseguindo-se um maior
envolvimento e interesse por parte dos alunos. Os alunos participaram entusiasticamente nesta actividade, tendo
sido de louvar o seu empenho e dedicação.
Esta actividade foi muito interessante e enriquecedora, pois para além de permitir a implementação de uma
estação meteorológica, criou uma cultura meteorológica dentro e fora da Escola e mais do que isso, permitiu
explicar um fenómeno “extremo” através da implementação e utilização de instrumentos de medida simples
construídos na escola.
A Radiossondagem é um dos métodos utilizados para conhecer a estrutura vertical da atmosfera. Esta consiste no
registo, em altitude, de vários parâmetros meteorológicos previamente seleccionados, antes do “lançamento” da
sonda. Neste trabalho, analisam-se dois casos distintos em diferentes alturas do ano. É feita uma interpretação
física dos desvios registados por cada parâmetro meteorológico. Uma abordagem desta natureza permite um
conhecimento da variabilidade da atmosfera e contribuiu para uma melhor compreensão de alguns aspectos
abordados nas unidades Mudança Global (8º ano de escolaridade) e Atmosfera (Química do 10ºano de
escolaridade).
Contexto da Prática
Hoje em dia, é cada vez mais partilhada a ideia de que a formação científica dos cidadãos em sociedades de
cariz científico / tecnológico deve incluir três componentes: a educação em Ciência, a educação sobre Ciência e
a educação pela Ciência. As orientações curriculares visam o desenvolvimento de competências em diferentes
domínios e exigem o envolvimento do aluno no processo ensino / aprendizagem, o que lhe é proporcionado pela
vivência de experiências educativas diferenciadas.
Desde há vários séculos o Homem tem mostrado grande interesse na problemática da mudança climática e
cada vez mais se ouve falar neste assunto, quer nos meios de comunicação social, quer nos conteúdos
programáticos da área das ciências. A mudança global é um tema, muito interessante no ensino das ciências. Há
um envolvimento individual. No geral, todos os indivíduos estão interessados em saber o estado do tempo
quando programam, por exemplo, um passeio ou férias.
A estrutura vertical da atmosfera é uma estrutura complexa e está dividida em distintas camadas. A camada
mais importante para os meteorologistas, e também para o nosso estudo, é a Troposfera.
A ideia do estudo da Troposfera proporciona aos alunos a capacidade de “olhar” o mundo que os rodeia de
uma maneira um pouco diferente, permitindo a compreensão de acontecimentos do dia a dia (como se processa a
previsão meteorológica) e combatendo a iliteracia científica. A Atmosfera está disponível, acessível e apresenta
uma quantidade de fenómenos físicos susceptíveis de serem investigados e analisados. É de facto, o melhor
“laboratório” de ensino, por isso deve ser usado.
As radiossondagens permitem conhecer a estrutura vertical da atmosfera, e constituem a principal fonte de
informação de dados meteorológicos atmosféricos. Uma radiossonda é um aparelho que transmite
automaticamente a um operador localizado em Terra os dados recolhidos pelos elementos de um equipamento
meteorológico transportado por um balão – sonda, ao longo da sua ascensão. As medições efectuadas numa
radiossondagem disponibilizam informações necessárias à análise do tempo, previsão e alerta de condições
meteorológicas adversas. Através da radiossondagem é possível conhecer como a pressão atmosférica, a
temperatura e humidade relativa do ar, a humidade absoluta, a temperatura do ponto de orvalho, a temperatura
do termómetro molhado, a intensidade e rumo do vento, variam desde a superfície terrestre até à altura de
rebentamento do balão, que em geral é superior a 20 km. Os dados meteorológicos recebidos num sistema
receptor são fundamentais na eficiência de modelos de previsão numérica do estado do tempo (à escala
sinóptica) e são utilizados em climatologia de altitude, na vigilância das condições meteorológicas de dispersão
de poluentes atmosféricos e no cálculo da altura da camada de mistura e classes de estabilidade da atmosfera. A
instabilidade atmosférica, os níveis de condensação, a velocidade de corte e o conteúdo de água podem ser
69
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
analisados através das radiossondagens. Para cada latitude, a partir dos dados da temperatura do ar em altitude é
possível avaliar o gradiente vertical da temperatura, cujo valor varia entre 6 a 7 ºC (ou K) por cada km. Para a
região de Aveiro, Talaia (2000), avaliou para o gradiente vertical de temperatura o valor de 6.44 ºC/km e cerca
de 12,5 km para a altitude da Tropopausa.
É muito interessante a observação da Figura 1. Nela está indicado o número de radiossondagens e sua
localização realizadas no dia 24 de Abril de 2007.
A Figura 2 mostra, de uma forma típica, o posicionamento de alguns equipamentos e a sua interligação no
Sistema de Observação Global.
O estudo da estrutura vertical da atmosfera através de dados registados por radiossondagem, em termos de
Ensino das Ciências, apresenta uma forte componente CTSA (Ciência – Tecnologia – Sociedade – Ambiente),
uma vez que os alunos poderão verificar a forte ligação existente entre a Física (relação entre os parâmetros
meteorológicos em altitude), os meios tecnológicos (computador, antena de rádio, ADAS – sistema de aquisição
de dados, sonda e teodolito), a Sociedade [agricultura, pesca …, ou mesmo na prevenção de desastres
meteorológicos (ciclones, furacões, cheias, etc.] e o Ambiente [também são usados balões cativos com diferentes
sondas (meteorológicas e de poluentes) localizadas a diferentes níveis].
É muito importante lembrar que a sonda, antes de iniciar a sua viagem na atmosfera, deve ser calibrada
“contra” valores registados por instrumentos de medida localizados numa estação meteorológica. Na Figura 3
mostra-se, durante uma visita de estudo de uma turma do 8º ano de escolaridade, a importância de cada
instrumento de medida localizado no abrigo meteorológico (figura do lado esquerdo) e como cada instrumento
está relacionado com os sensores da sonda (figura do lado direito).
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Relato da Prática
Analisaram-se duas radiossondagens realizadas em Fevereiro e Agosto de 1998. A escolha destes meses
deve-se ao comportamento que se esperava para a estrutura vertical da atmosfera para um mês considerado
“frio” e um mês considerado “quente”.
A Figura 4 mostra que a pressão atmosférica diminui em altitude e que os valores registados pelas
radiossondagens são idênticos, como era de esperar.
A Figura 5 mostra como a temperatura do ar e temperatura do ponto de orvalho variam em altitude. A
observação do gráfico mostra que acima de cerca de 4 km o gradiente de temperatura é coincidente. A diferença
da temperatura do ar é maior à superfície e é muito interessante o registo das inversões de temperatura abaixo de
1 km. Os valores da temperatura do ponto de orvalho para os dois dias são semelhantes até cerca de 4 km.
Assim, é a temperatura do ar (mais alta no verão) que faz diminuir a humidade relativa do ar e elevar o seu
“poder secante”. De notar que a temperatura do ponto de orvalho é um bom indicador da “massa de água”
existente na atmosfera.
10000
10000
(8-8-98)
8000 (15-2-98) 8000
altitude (m)
altitude (m)
6000 6000
4000 4000
ar (8-8-98)
ponto de orvalho (8-8-98)
2000 2000 ar (15-02-98)
ponto de orvalho (15-02-98)
0 0
0 200 400 600 800 1000 1200 -80 -60 -40 -20 0 20 40
pressão (hPa) temperatura (ºC)
Na Figura 6 é mostrado o resultado da relação entre temperaturas (ar e ponto de orvalho) dada pela
humidade relativa. A humidade relativa do ar é o cociente entre a razão de mistura observada (à temperatura do
ponto de orvalho) e a razão de mistura em condições de saturação (à temperatura do ar) no mesmo nível
isobárico. Se o conteúdo de vapor de água permanecer constante, uma diminuição na temperatura do ar faz
aumentar a humidade relativa do ar, devido à diminuição da pressão de saturação, e vice-versa. Para o dia do
mês de Fevereiro, a humidade relativa é superior em toda a altitude como seria de esperar. No entanto são
registadas duas excepções, uma entre os 3-4 km e outra entre os 8-9 km. Estas diferenças são devidas à presença
de nuvens.
A Figura 7 complementa as análises feitas anteriormente. A razão de mistura de saturação para o dia de
Agosto é sempre superior à do dia de Fevereiro, enquanto a razão de mistura à temperatura do ponto de orvalho
seguem, com alguma variabilidade, a mesma tendência. Interessante é a observação directa do gráfico que marca
o “grande poder secante” para o dia de Agosto até aos 4 km.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
10000
10000
8000
8000 rs (Td) - (8-8-98)
rs (Tar) - (8-8-98)
altitude (m)
altitude (m)
6000 rs (Tar) - (15-2-98)
4000 4000
HR (8-8-98)
HR (15-2-98)
2000 2000
0 0
0 20 40 60 80 100 0 5 10 15 20 25 30 35
humidade relativa (%) razão de mistura (g/kg)
Referências Bibliográficas
http://www.wmo.ch/web/www/OSY/GOS.html (on line: 24 de Abril de 2007).
Talaia, M.A.R. (2000). Os factores meteorológicos e a instabilidade da atmosfera: uma contribuição para o
estudo da “Atmosfera e Mudanças do Tempo”. Tema: Saberes transversais na educação em ciências.
http://www.esev.ipv.pt/cn/Actas/comunica2.htm
Ana Luísa Silva [1], Esmeralda Fernandes [1], Maria Inez Morais [1], Teresa M. Santos [2], José
Fernando Mendes [3]
Neste trabalho apresenta-se uma metodologia de pesquisa orientada na Web, baseada no formato “Caça ao
Tesouro”, adaptada a uma estratégia educacional que se insere no âmbito dum Projecto, na Área da Físico-
Química. Este trabalho compreende várias fases: enquadramento da “Caça ao Tesouro” no acesso à informação do
ensino actual, caracterização da metodologia utilizada, descrição da concepção do projecto e sua posterior
utilização em sala de aula. São referidos os resultados obtidos, as conclusões e algumas sugestões de
melhoramento desta actividade. A aplicação didáctica desta “Caça ao Tesouro” representou iniciativa,
envolvimento, colaboração e aprendizagem mútua.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Contexto da Prática
Numa altura em que as novas tecnologias de informação são ferramentas essenciais no processo de ensino-
aprendizagem torna-se necessário desenvolver estratégias que permitam motivar os alunos e, ao mesmo tempo,
proporcionar-lhes um acesso facilitado e eficaz de aprendizagem de conteúdos e de conceitos essenciais em
Ciência.
A Internet é uma gigantesca biblioteca de informação e, por isso mesmo, deve ser aproveitada e utilizada
nos contextos de aprendizagem. É uma ferramenta cada vez mais acessível, tanto ao nível particular como nas
escolas, as quais têm vindo, a este nível, a aumentar e a melhorar progressivamente os seus recursos (Paiva,
2003).
Um dos instrumentos que pode ser utilizado no contexto da Internet é a chamada “Caça ao Tesouro”. Não se
conhece ao certo quem foi o pioneiro na construção de uma actividade deste tipo, mas sabe-se que se rege por
princípios idênticos aos da construção de uma WebQuest (Dodge, 2006). A grande diferença entre uma
WebQuest e uma “Caça ao Tesouro” é a duração da actividade, sendo que a “Caça ao Tesouro” ocupa menos
tempo, podendo ser completada em duas ou três aulas.
Uma “Caça ao Tesouro” na Web, em linhas muito gerais, consiste numa pesquisa orientada num “mar de
informação”, a Internet. Parte-se dum tema globalizante, escolhido pelo professor de acordo com os objectivos a
que este se propõe, construindo-se em torno dele um questionário que serve de base à pesquisa inicial.
Relacionam-se depois as questões com links seleccionados, de acordo com o assunto, os quais servem para a
consulta orientada dos alunos. A “Caça ao Tesouro” culmina numa tarefa facilmente exequível e interessante que
guia toda a pesquisa. A “Caça ao Tesouro” é um instrumento motivador para a aprendizagem, de forma
construtivista, de conceitos e de competências nas áreas da pesquisa e da organização da informação” (Costa,
2006).
No âmbito do Estágio de Física e Química (Prática Pedagógica) desenvolveu-se uma “Caça ao Tesouro”
dedicada aos alunos do 10º Ano. Os conteúdos programáticos na base desta “aventura” dizem respeito à sub-
unidade “2.1 – Evolução da Atmosfera – Breve História”, inserida na Unidade 2 – Na Atmosfera da Terra:
radiação, matéria e estrutura”, do Programa do 10º Ano da disciplina de Física e Química A, actualmente em
vigor. No entanto, qualquer tema, ou sub-unidade, dos programas actuais poderá ser adaptado a uma actividade
deste tipo.
Dado que os conteúdos programáticos a leccionar assentavam numa base essencialmente teórica, com
conceitos áridos e pouco motivadores, enveredou-se pela implementação de uma estratégia de ensino mais
aliciante, tanto para os alunos como para o professor.
Enquanto actividade educativa, esta “Caça ao Tesouro” teve, fundamentalmente, quatro objectivos de
aprendizagem (Costa, 2006; Mueller, 2006):
· Aquisição de conhecimentos específicos sob a temática referida;
· Desenvolvimento de competências de pesquisa e selecção de informação relevante;
· Realização de trabalho colaborativo;
· Desenvolvimento do espírito crítico.
Existem centenas ou milhares de “Caças ao Tesouro” disponíveis na Internet, uns mais elaboradas que
outros, uns com mais informação, outros mais desenvolvidos a nível gráfico. Todos os dias surgem novos
“Caças ao Tesouro” e há até algumas páginas que permitem a sua elaboração, de forma mais ou menos simples.
Este tipo de actividade deve, no entender da docente autora deste Projecto, servir não apenas para motivar e
enriquecer o conhecimento dos alunos, mas também para fazer crescer a educadora enquanto docente (já que esta
é ainda Estagiária). Quer-se com isto dizer que uma “Caça ao Tesouro” não é algo que se elabore de ânimo leve
apenas por ser uma actividade engraçada e empolgante.
É sempre necessário um estudo prévio e exaustivo do tema, ou temas, a abordar, assim como uma
caracterização da turma à qual se propõe esta actividade, que não deve ser encarada de forma estandardizada. As
condições em que se realiza são também extremamente importantes, pois o mais certo é que nem todos os alunos
possuam computador e Internet em casa, não podendo, por isso, ser discriminados em detrimento dos outros.
Importa, assim, perceber se a Escola pode fornecer os meios necessários à realização de uma actividade deste
tipo.
Relato da Prática
Esta “Caça ao Tesouro”, em Power Point, é constituída por quatro tarefas, que constituem etapas na
“viagem” e são de realização obrigatória, pela ordem em que se encontram (e que permitirão alcançar o
tesouro!). O professor deve assumir o papel de “Capitão da Tripulação”, o que lhe exige que oriente tarefas,
ajude os alunos a ultrapassar os obstáculos e esclareça as dúvidas que deverão surgir durante a “viagem” (Fig. 1).
73
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Caça ao Tesouro
Documento em Power Point
Com acesso a…
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Referências Bibliográficas
COSTA, R.C. P. (2006). Caça ao tesouro e pesquisa na Web. Uma actividade de ensino da Química para o
9º ano; http://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/raquelc (consultado na Internet em 09 de Março de 2007).
DODGE, B. (2006). The WebQuest Page, http://webquest.sdsu.edu/ (consultado em 09 de Março de 2007).
MUELLER, R.R. (2006). Webquest: Desenvolvendo a autonomia através da pesquisa na Web;
http://www.webquest.futuro.usp.br/artigos/textos_rafael.html (consultado na Internet em 09 de Março de 2007).
PAIVA, J. (2003). As Tecnologias de Informação e Comunicação: A utilização pelos Alunos;
http://www.giase.min-edu.pt/nonio/pdf/estudo_alunos-v3.pdf . (consultado em 09 de Março de 2007).
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Paula Morgado Fraguito [1], José Paulo Cravino [2], J. Bernardino Lopes [3]
[1] Departamento de Física da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, [1]
paulafraguito@gmail.com, [2] jcravino@utad.pt, [3] blopes@utad.pt
Este artigo faz parte de um projecto de Tese de Mestrado intitulado “Uso das calculadoras gráficas (CG) no
Ensino da Física. Uma prática baseada na investigação”. Com este projecto pretende-se dar resposta às seguintes
questões: Qual a influência das percepções que os docentes têm sobre as calculadoras gráficas no modo como as
utilizam nas aulas? De que forma os professores de Física integram as calculadoras gráficas no currículo? Qual o
contributo do uso de calculadoras gráficas nas práticas de ensino e na aprendizagem dos alunos? Para tentar dar
resposta às questões anteriores, foram construídos, desenvolvidos e validados guiões de utilização das CG no
ensino da Física, para uma AL do 10.º ano de escolaridade, fundamentados na investigação, orientados para
melhorar a prática de ensino, bem como a qualidade de aprendizagem. Por outro lado, foi avaliado o modo como
os professores participantes no estudo utilizam as CG, averiguando a sua influência nas práticas de ensino e na
qualidade das aprendizagens. Um outro modo de obter respostas foi a distribuição de inquéritos a docentes e a
alunos do ensino secundário, de vários estabelecimentos de Ensino português. A investigação que se desenvolveu
apresenta características de estudo qualitativo do tipo multicasos. Foram desenvolvidos estudos de caso de
avaliação (Cohen, et al., 2000) da utilização de guiões criados para o efeito que privilegiam a utilização da CG.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Numa segunda etapa, após constatadas e discutidas as percepções e as dificuldades sentidas no decorrer da
implementação do primeiro guião em sala de aula, foram realizados melhoramentos no guião da AL 2.2. Este
renovado guião foi implementado no 3.º período do ano lectivo 2006/2007 no mesmo estabelecimento de ensino.
O que surgiu de novo no guião foi a inclusão, como anexo do guião, de um documento onde se encontram as
instruções respeitante à CG. Nele estão presentes indicações para que a CG funcione de forma correcta e
desejada nas diversas etapas em que consiste o guião. É de salientar que estas instruções estão em anexo, num
documento com várias páginas, funcionando como um “livro de instruções” da CG para permitir uma maior
liberdade e independência no desempenho do aluno ou do grupo de alunos no desenrolar da AL. Este facto retira
o carácter de receituário da AL e sobrevaloriza as competências em questão, uma vez que as instruções referidas
serão facilmente apreendidas por parte dos alunos e assim poderão utilizá-las em outros guiões sem recorrer a
este documento e também em outras situações no decorrer das aulas da disciplina em causa ou até mesmo em
outras, uma vez que a CG possui inúmeras valências capazes de auxiliar e complementar as actividades, dando
assim transversalidade aos conhecimentos adquiridos.
As outras alterações feitas, consideradas de maior relevância, são relativas à Montagem do
equipamento/material e também à Realização da Experiência. Ambos foram retirados, restando apenas um
pequeno apontamento que podem ser considerados conselhos. Pretendeu-se dar ainda mais autonomia aos alunos
nesta actividade incentivando-os à pesquisa e ao debate com os colegas, dinamizando a tarefa.
Conclusão
Relativamente aos inquéritos:
Das três escolas onde os inquéritos foram implementados, apenas a que se situa no interior Norte do país
possui equipamento para além das CG, nomeadamente CBL e CBR2, pertencentes ao Departamento de
Matemática da escola. As restantes escolas secundárias não possuem alegando falta de verbas e também
justificam que nunca sentiram necessidades de utilizar novos equipamentos em detrimento dos convencionais. É
de salientar que os docentes inquiridos que pertencem a este estabelecimentos de ensino não se baseiam nas
Orientações Curriculares para prepara as aulas, mas sim no manual adoptado pela escola. Infelizmente os
docentes da escola do Centro e do os da escola do litoral Norte do país não mencionaram qual o manual
adoptado e por esse motivo não é possível analisá-lo. Este facto é bastante relevante porque os docentes das
turmas onde os guiões criados foram implementados tomaram um conhecimento mais pormenorizado das
capacidades de CG em adquirir dados, pois o manual do 10.º ano adoptado pela escola já inclui nas AL indicadas
os sensores das CG como equipamento a ser utilizado.
Quando coloquei a questão: “Há quantos anos lecciona?” no inquérito para docentes, confesso que esperava
encontrar uma relação entre o desgaste profissional e a falta de estímulo e de disponibilidade para adquirir novas
competências. É certo que os percursos académico e profissional influenciam bastante na postura com que se
encaram novos desafios mas ainda assim, julgo poder afirmar, com um grande alívio, de que não existe uma
correlação entre os anos de experiência profissional e o grau de motivação para adquirir novos conhecimentos e
desenvolver competências.
Por todos estes dados recolhidos, é possível afirmar que as percepções que os docentes têm sobre as CG,
influenciam o modo de integração das mesmas nas suas aulas e consequentemente as percepções dos alunos em
relação a estes equipamentos.
Um outro resultado obtido é o facto de nas aulas de Física a CG ser utilizada apenas para cálculos, para
esboço de gráficos e sua análise.
Relativamente aos guiões:
Na 1.ª etapa, em ambos os turnos existiram múltiplas dificuldades, uma vez que a utilização da CG para o
tratamento de dados não era frequente nas aulas e relativamente à aquisição de dados era praticamente nula,
embora o primeiro e único contacto com o equipamento para a aquisição tenha sido bastante recente, pois nesta
turma já tinha sido implementado um guião com o mesmo propósito, da AL anterior, a AL 2.1 – Energia cinética
ao longo de um plano inclinado, por uma outra docente participante na Oficina de formação já mencionada.
Tratava-se de uma AL com tarefas um pouco complexas, uma vez que exigia um grau de abstracção e de
compreensão elevados, pois contemplam inúmeras grandezas físicas, exigindo compreensão das suas variações
e/ou constância, de entre os quais eram mencionadas algumas que não vêem mencionadas nas Orientações
Curriculares, mas que na AL sugerida pelos mesmos documentos é exigida a sua compreensão, aliás essencial
para o desenrolar da AL. Revelaram-se por isso algumas dificuldades na tentativa de dar resposta à segunda
Questão – Problema.
Ao contrário do que foi defendido, os temas que constavam na Fundamentação Científica ainda não tinham
sido exploradas em sala de aula com a docente da turma, facto que exigiu um maior dispêndio de tempo na
exploração do conteúdo deste segundo documento distribuído.
77
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Relativamente à proposta para um Procedimento Experimental, a maioria dos alunos com a orientação dos
docentes, consegui adaptar o material fornecido ás grandezas físicas que eram necessárias medir e outras
calcular. Para tal, escreveram e/ou desenharam a montagem necessária e as etapas ordenadas.
No que diz respeito à Montagem e à Realização da Experiência, verificou-se alguma destreza no
manuseamento do equipamento e até na execução da experiência, apesar da novidade!
Fazendo uma apreciação distanciada da concepção do guião, é possível detectar que existiram algumas
falhas, nomeadamente no desenho/formulação da Tabela I, pondo em causa a boa execução das tarefas que dela
dependiam, essenciais para os resultados finais da AL. É também necessário referir que se trata de uma AL
extensa, diria que é impossível terminá-la numa aula de noventa minutos com uma turma que não tem contacto
permanente com a CG nas vertentes mencionadas necessárias para a execução da AL. Por este motivo, nenhum
grupo conseguiu acabar as tarefas propostas, no entanto, os dois grupos do segundo turno, apesar de não terem
efectivamente escrito as respostas das questões finais, á medida que iam encontrando novos resultados, iam
tirando conclusões, respondendo oralmente às questões formuladas no final da AL.
No que diz respeito à 2.ª etapa: Desta vez, o guião foi explorado durante várias aulas, facto que permitiu
analisar com mais cuidado tudo o que ia acontecendo. Essas aulas ocorreram tanto por turnos como com a turma
inteira.
Todo este processo teve início com a revisão dos assuntos relevante para esta AL, uma vez que a parte da
Fundamentação Científica foi retirada nesta versão. Assim, foram explorados, em debate alargado a toda a
turma, assuntos relativos ao Teorema da Energia Cinética e ao Trabalho da força resultante.
De seguida foi distribuída, a cada um dos alunos, a primeira folha do guião. Foi feita a leitura das Questões
– Problema e análise do conjunto de imagens presente. Na tentativa de dar respostas à primeira Questão –
Problema, um elemento de um dos grupos foi demonstrar, com as três bolas diferentes que existiam, o que
acontecia à altura do ressalto de cada uma das bolas, para que todos os elementos pudessem reflectir e dar
repostas às Questões – Problema colocadas. Após um extenso debate, foi possível chegar a uma única resposta
para a primeira Questão – Problema. Essa conclusão foi colocada no quadro da sala de aula para que, mais uma
vez e de uma forma mais concreta, fosse possível reflectir sobre a conclusão a que chegaram.
À segunda Questão – Problema não foi dada resposta devido à dificuldade em descodificar a expressão
“coeficiente de restituição”.
Em seguida foi distribuída a segunda folha do guião e, com a ajuda do manual escolar, todos os grupos
propuseram um Procedimento Experimental capaz de testar a proposta dada à primeira Questão – Problema. As
etapas relativas à Montagem do Material/Equipamento, à Realização da Experiência e á Análise de dados
fluíram sem quaisquer dificuldades de maior.
Referências Bibliográficas
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Presença.
Almeida, B. F. (1997). Preparação Para Exames Nacionais Finais. Lisboa. Edição Sílabo.
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conhecimentos em Ciência. Actas do VI Congresso Galaico – Português de Psicologia, Vol. 2, 323-336.
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Questionários. Oeiras. Celta Editora.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Pretende-se com este relato dar a conhecer o trabalho desenvolvido com alunos de uma escola rural, com idades
compreendidas entre os 13 e os 16 anos, que frequentavam o 8º ano e que manifestavam pouca apetência para a
aprendizagem das Ciências. Este trabalho foi inserido na implementação e avaliação de uma proposta de currículo,
baseada em situações formativas e desenvolvida no tema “Propriedades e Aplicações da Luz”. Os alunos
participaram sempre activa, assumindo papéis de responsabilidade, e eficazmente, contribuindo para a co-
construção das suas aprendizagens. Em todo este processo, a mediação efectuada foi determinante no
envolvimento dos alunos nas tarefas propostas, o que se traduziu numa aprendizagem mais eficaz dos temas
abordados, bem como num aumento do interesse pela disciplina.
Contexto da prática
A actividade prática foi desenvolvida no âmbito da implementação e avaliação de uma proposta de currículo
desenvolvida no tema “Propriedades e Aplicações da Luz” e leccionada no 8º ano de escolaridade, numa escola
rural, cujo corpo discente possuía características sócio-culturais e económicas pouco favoráveis. Participaram
neste estudo três turmas: turma A, com 21 alunos; turma B, com 22 alunos e turma C, com 22 alunos. No geral,
todas demonstravam pouco interesse na aprendizagem da Física. Os resultados obtidos pelos alunos destas
turmas foram comparados com os obtidos pela turma D, da mesma escola, que seguiram o mesmo currículo, mas
onde a mediação não foi tida em conta pois a professora interveniente não participou na elaboração do mesmo.
Foram ainda comparados com os resultados obtidos em outras duas turmas, que seguiram o currículo tradicional,
de outra escola, com características sócio-culturais e económicas mais favoráveis.
Com esta proposta, nas turmas intervenientes, toda a unidade temática foi abordada tendo como base 12
situações formativas e respectivas dimensões (Lopes, 2004), dando-se especial atenção à mediação efectuada
pela professora. Foram ainda propostos três trabalhos de projecto. Além da preparação prévia de todo o material
necessário à realização das tarefas, organizou-se o espaço da sala de aula de modo exequível para o trabalho em
grupo. Em cada grupo, foram atribuídos três papéis rotativos: responsável pela aprendizagem, responsável pelo
incentivo e responsável pela organização (Fernandes, 1999). Da atribuição destes papéis resultou um maior
empenho, uma participação mais activa e uma maior colaboração entre alunos. Dividiu-se, ainda, o quadro da
sala de aula em três secções “o que eu sei”, “o que eu fiz” e “o que eu aprendi”, que os alunos preencheram com
os respectivos registos.
Neste caso concreto, os alunos tinham como objectivo formular hipóteses que posteriormente validariam (ou
não) e que levassem à correcção da miopia e da hipermetropia. Como tal, foram abordados vários conceitos que,
no final, deveriam estar consolidados: a constituição do olho humano; defeitos de visão e suas correcções;
distância focal; foco; imagem real e virtual; lente convergente e lente divergente; reflexão; refracção; receptor de
luz; visão normal; raio luminoso; entre outros.
Todo este trabalho foi tutorado pela professora que intervinha somente quando era necessário, durante a
realização das tarefas. No final das mesmas, procedia-se à “negociação” dos significados e à sistematização de
toda a informação considerada relevante.
Relato da prática
No início da aula foi colocada a seguinte questão: como corrigir a miopia e a hipermetropia?
Praticamente todos os alunos foram unânimes na resposta: com óculos ou lentes de contacto, facto que
registaram na secção “o que eu sei”.
Como nenhum deles referiu o tipo de lente, questionaram-se novamente: as lentes usadas nos óculos dessas
pessoas são todas do mesmo tipo? Perante a resposta negativa, a professora relembrou que as pessoas que têm
miopia vêem mal ao longe e as que sofrem de hipermetropia vêem mal ao perto.
Na mesa de trabalho, estavam colocadas várias lentes convergentes e divergentes, uma vela, um alvo, o
banco de óptica e respectivos suportes. Com este material conseguem simular um olho normal? questionou a
professora. Após uma breve reflexão, os alunos conseguiram relacionar o alvo com a retina e uma lente
convergente com o cristalino. Usando a vela acesa, todos os grupos conseguiram simular, com êxito, o olho
normal (secção: “o que eu fiz”).
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Novo desafio foi colocado. Os alunos deveriam descrever o funcionamento do olho normal para objectos
próximos e distantes, simular o olho míope e hipermétrope e respectivas correcções (Figura 1).
Figura 1- Fotografias dos alunos durante a execução das tarefas propostas: simulação de um olho normal, míope
e hipermétrope e respectivas correcções.
Durante a realização destas tarefas, a professora interveio apenas quando considerou necessário. Foi sempre
dado tempo de reflexão e de discussão aos alunos. No final, a maior parte dos alunos afastou o alvo para simular
o olho míope e aproximaram-no para a simulação do olho hipermétrope, de modo a desfocar a imagem. Houve
ainda quem substituísse a lente que simulava o cristalino, concluindo que uma lente com maior potência poderia
servir para simular o olho míope e uma lente com uma menor potência, o olho hipermétrope. Todos os alunos
experimentaram estas duas opções (secção: “o que eu fiz”).
Relativamente à correcção destes dois defeitos de visão, todos os alunos responderam, inicialmente, serem
as lentes convergentes as que iriam corrigir a miopia. Referiram, ainda, que a lente teria que ser colocada entre o
objecto e a lente que representava o cristalino (secção: “o que eu sei”). Contudo, alguns alunos revelaram alguma
dificuldade na colocação da lente que simulava os óculos de correcção. Aqui, a professora perguntava Se o alvo
representa a retina e esta lente o cristalino, onde se devem colocar os “óculos”? Após esta pergunta, havia logo
um elemento do grupo que adiantava: se colocarmos a lente que corresponde aos óculos entre este alvo e a lente
é como se estivéssemos a colocar os óculos dentro do olho!
Todos os grupos realizaram experimentalmente estas actividades. Os resultados obtidos foram confrontados
com as hipóteses formuladas inicialmente. Eles próprios chegaram à conclusão que, afinal, as lentes
convergentes não eram as apropriadas para a correcção da miopia mas sim para a hipermetropia. Por fim, os
alunos esquematizaram o olho normal, míope e hipermétrope e respectivas correcções.
Toda esta informação foi analisada, sistematizada e registada na secção: “o que eu aprendi”.
Solicitou-se, de seguida, a intervenção dos alunos responsáveis pelo projecto de título “novas tecnologias no
diagnóstico e tratamento das várias doenças de visão”. Neste debate, mediado pela professora, foram referidas
outras doenças de visão como as cataratas, o astigmatismo, o glaucoma, a ambliopia e a presbitia, bem como as
técnicas usadas pelos oftalmologistas para as diagnosticarem e tratarem. Foi novamente abordado o laser (já
abordado em aula anterior). Consequentemente, mais uma vez se questionou Qual é a radiação do laser? e (mais
uma vez) se levou os alunos a concluir que esta radiação é visível, podendo haver radiações laser com outras
cores do espectro da luz visível.
No final da apresentação do projecto, distribuíram-se algumas receitas oftalmológicas pelos diferentes
grupos. A finalidade desta actividade era a de identificarem os defeitos de visão associados às mesmas, as lentes
prescritas para cada caso. Tinham também que comparar as potências das lentes prescritas (Figura 2).
Das opiniões recolhidas dos alunos, pode concluir-se que, no geral, gostaram do método utilizado (Figura
3).
Os papéis atribuídos a cada aluno, no início das aulas, revelou-se uma boa ideia, pois notou-se uma maior
iniciativa, participação e intervenção de todos os estudantes. Pode mesmo concluir-se que o assumir destes
papéis os tornou mais autónomos e interdependentes.
A divisão do quadro em três secções, que os alunos tinham que preencher no decorrer das aulas, também
revelou aspectos positivos. O que, de início, parecia difícil foi, gradualmente, conseguido com relativo sucesso.
Os alunos aprenderam a registar as suas ideias prévias, os passos seguidos na realização das tarefas e a
sistematizar toda a informação relevante e útil no processo de ensino/aprendizagem. Como resultado, todos os
alunos criaram o seu port-folio, uma fonte de informação acerca do seu desenvolvimento cognitivo que, quando
analisado, pode dar informações úteis acerca das dificuldades, potencialidades e peculiaridades do pensamento
dos seus autores.
No final do ano lectivo, todos estes trabalhos (assim como os posters resultantes dos trabalhos de projecto)
foram apresentados pelos alunos intervenientes à comunidade escolar aquando da realização da “Semana
Aberta”. No final desta apresentação, os alunos visitantes foram convidados a deixar as suas sugestões
relativamente aos mesmos. Dos testemunhos recolhidos, verificou-se grande curiosidade pela Física,
nomeadamente pelos alunos dos 5º e 6º anos.
Referências Bibliográficas
Fernandes, J. A. (1999). A Escola de Sofia – Projecto SOFIA para uma escola comunidade. Porto, Edições
Salesianas.
Lopes, J. B. (2004). Aprender e Ensinar Física. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.
Partindo da assumida problemática que é o fraco desempenho académico dos alunos na disciplina de Física, tentou
perceber-se com um pequeno grupo de alunos, o que será o professor ideal de Física. O bom ambiente de sala de
aula e a integração de actividades num contexto útil e com significado parecem ser características que os alunos
consideram importantes num bom professor de Física. Sendo um instrumento usado na planificação de
actividades, a opinião dos alunos relativamente ao desempenho do professor e à forma como a aula pode decorrer
tem, como mais valia, um maior envolvimentos dos alunos nas actividades que apesar das condicionantes
inerentes, facilita a consecução de actividades.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Contexto da Prática
Este trabalho assenta na prática lectiva das aulas de Física. O objectivo é partilhar experiência e emitir
opinião. Sem pretensão de protagonismo científico, a opinião dos alunos é uma mais valia na implementação de
estratégias no decorrer das actividades desenvolvidas no contexto aula.
Um dos muitos problemas com que o processo ensino – aprendizagem de Física se depara é a fraca
motivação dos alunos por isso, é preciso encontrar estratégias de actuação para a minimizar. Sem querer de
momento encontrar responsáveis, até porque seriam muitas as explicações válidas, desde o professor ao aluno,
passando pela escola e por toda a sociedade, é um facto que nos últimos anos os alunos têm vindo a abandonar
estudos relacionados com ciências, entre os quais se encontra a Física (Fourez, 2001). É uma constatação que os
resultados escolares dos últimos anos lectivos têm sido desastrosos e que o número de alunos a escolher estudar
Física no 12º ano, nas nossas escolas, tem diminuído de forma alarmante.
Os factores que podem influenciar a escolha, o interesse e a aprendizagem dos alunos no que concerne à
Física, foram trabalhados por Fernandes & Lopes (2005) e tem como algumas das conclusões, a descoordenação
entre as várias dimensões das dinâmicas organizacionais da escola e da sala de aula e ainda, a escassez de
actividades intra e extra curriculares que permitam uma visão da Física útil, operacional e com significado para
os alunos.
A quando da planificação do trabalho a desenvolver durante o ano lectivo, procurou fazer-se a selecção de
um conjunto de actividades que permitissem uma integração de saberes e que reflectissem a utilidade da Física
no quotidiano. Surgem então questões como:
Que actividades são essas?
Como implementar e desenvolver essas actividades?
Relato da Prática
Ao longo deste ano lectivo foi pedido a alguns alunos de ensino básico e secundário, que descrevessem, no
seu entender, como dever actuar o professor ideal de Física com vista a melhorar as suas aprendizagens. As
respostas podem sintetizar-se da seguinte forma:
O professor de Física ideal deve:
· Manter um bom clima de aula de forma a esta decorrer com ordem, disciplina e sem inibir os alunos de
participarem activamente nela.
· Dinamizar o trabalho de aula sem separar as actividades (as actividades devem ser interligadas)
· Fazer regularmente o ponto da situação relativamente ao que se aprendeu.
· Preocupar-se com os resultados escolares dos alunos.
As actividades implementadas tiveram em conta a opinião dos alunos relativamente àquilo que deveria ser
feito e implementado nas aulas de Física; teve como principal resultado um maior envolvimento dos alunos na
execução das tarefas, factor que se considera ter contribuído para o sucesso das aprendizagens.
activamente na realização de tarefas centradas em objectivos educativos específicos fazem ou conseguem mais
progressos em relação aos mesmos” (Paik, S. & Walberg, H.J., 2000).
Fazer o ponto da situação parece ser um factor que os alunos consideram importante na sua aprendizagem,
ainda segundo os autores anteriormente citados: “Às vezes, os professores e os manuais podem fazer um uso
eficaz de organizadores prévios de tipo gráfico. Mapas, horários, organigramas que representam sequências de
actividades e outros dispositivos podem valer mais que centenas de palavras. Podem também ser mais fáceis de
recordar.”
A preocupação com os resultados escolares dos alunos foi umas das características referidas. Os professores
preocupam-se com os resultados dos seus alunos mas, será que os alunos sentem isso? Foi pedido esclarecimento
sobre esta resposta e percebeu-se que os alunos precisam de se sentir apoiados, encorajados e estimulados.
“Parece demonstrado que o sistema de crenças de um individuo em relação à aprendizagem de ciências é como
que um pré requisito que, se não é positivo, torna-a impossível, e habitualmente considera-se como um dos
indicadores essenciais para valorizar a qualidade da educação científica”(Sanmartí,N.).
Numa época em que as escolas estão a ser equipadas com tecnologia recente e que os professores se
esforçam por acompanhar o desenvolvimento tecnológico, os alunos parecem não preferir um ou outro recurso
material. Daqui se poderá concluir que não são os recursos que, só por si, marcam os alunos no seu processo
ensino – aprendizagem, será provavelmente a forma como são usadas as suas potencialidades. Os recursos
materiais disponíveis devem ser usados de forma a transformá-los em oportunidades de aprendizagem (Venâncio
& Otero, 2003).
Recordo que a amostra em estudo não tem relevância estatística mas, para responder às questões levantadas
apelo ao bom senso do professor na definição de objectivos e selecção das actividades. Ter em conta a opinião
dos alunos promove um maior envolvimento destes na execução de actividades, facilita a criação de um bom
ambiente de trabalho na sala de aula e pode contribuir para o sucesso das aprendizagens.
Considerações finais
Ser um bom professor é a ambição de qualquer docente no entanto, repito a frase comum ao dizer que não
há receitas para a excelência.
Cabe-nos a cada um de nós definir estratégias, adaptá-las aos nossos alunos, analisar e reflectir sobre o
sucesso da sua implementação. Fazer com que todos os alunos aprendam Física com gosto, é uma Pedra
Filosofal que não deixaremos de tentar alcançar. Porém, não devemos esquecer que a procura dessa Pedra
Filosofal nos abre uma caixinha de Pandora de onde vemos sair, não só todas as condicionantes ao nosso
trabalho mas também, todos os nossos defeitos e erros. Numa altura em que a avaliação dos professores está na
ordem do dia, esta deve passar, entre outras vertentes, pela sua auto avaliação e não deve ser encarada (ou não
deveria ser usada) numa perspectiva sancionadora.
É com o orgulho do que fizemos bem, procurando a correcção ou minimização dos nossos defeitos e lutando
para que as condicionantes sejam minimizadas, com a consciência de que fizemos o melhor pelos nossos alunos,
que conseguiremos transmitir o gosto de aprender Física. Afinal, não é o sonho que comanda a vida?
Referências Bibliográficas
Fernandes, A. & Lopes, J.B. (2005). Dinâmicas de Escola que Potenciam/Inibem a aprendizagem, o
Interesse e a Escolha de Física; Enseñaza de Las Ciencias, 2005. Número extra. VII Congreso)
Fourez, G. (2002), Les science dans L’enseignement secondaire, Didaskalia, n.º21, pp. 107-122
Lopes, J.B.; (2004), Aprender e Ensinar Física, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, Ministério da Ciência e do Ensino Superior.
Paik, S.; Walberg, H.J. (2000) Práticas educativas Eficazes, Academia Internacional de Educação,
Departamento Internacional de Educação, UNESCO, série Práticas Educativas - 3
Sanmartí, N. (consultado em Junho de 2007) Enseñar y Aprender Ciencias: algunas
refexiones,http://www.guiasensenanzasmedias.es/temaESO.asp?tema=1&materia=natura&dir=&nodo=2
Venâncio, I.M.; Otero, A.G. (2003), Eficácia e Qualidade na Escola, Edições Asa.
Vieira, H. (2000), a Comunicação na Sala de Aula, Editorial Presença, pp. 39-73.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Contexto da Prática
Foi desenhado, implementado e avaliado um currículo de Física para o Ensino Básico, relativo aos
“Sistemas Eléctricos e Electrónicos” incluído no tema “Viver melhor na Terra” do 9º ano de escolaridade,
baseado em situações formativas (Lopes 2004).
Além de desenvolver um currículo baseado em situações formativas, de modo a adequar o ensino aos alunos
e mobilizando os seus saberes disponíveis, foi nosso objectivo estudar aspectos relativos à linguagem gráfica,
não só em termos de produção e leitura de representações gráficas, mas também visando a sua utilização como
ferramenta instrumental para o desenvolvimento de conhecimentos, competências e atitudes.
Neste contexto, durante o desenvolvimento curricular, os alunos foram confrontados com tarefas que lhes
possibilitaram aprender a dominar os códigos simbólicos da linguagem gráfica, desenvolvendo competências em
termos da sua leitura e produção (Astolfi et al., 2000).
Este estudo, de investigação-acção, realizado no ano lectivo 2005/2006, teve uma duração de 12 semanas.
Estiveram envolvidas duas turmas do 9º ano de escolaridade de uma escola pública do concelho de Chaves.
Este relato da prática reporta à segunda situação formativa, no âmbito do desenho curricular proposto,
correspondente a três aulas e meia (90 min cada). O campo conceptual era o da electricidade e os conceitos
centrais: representação de circuitos; circuito em série; circuito em paralelo; intensidade da corrente eléctrica;
diferença de potencial; resistência eléctrica; Lei de Ohm; bons e maus condutores eléctricos.
Relato da Prática
Todas as aulas decorreram no laboratório de Física e Química, onde os alunos, divididos por grupos de
quatro, ocupavam os lugares nas três bancadas existentes. O espaço da sala de aula era bastante amplo e permitia
que todos se movimentassem à vontade. Em cada grupo, os alunos estavam sentados aos pares, frente a frente, o
que permitia o diálogo entre os elementos e o fácil acesso ao material de trabalho na bancada. Como havia
desdobramento das turmas em turnos, o número máximo de alunos na sala era inferior a 12, o que facilitou a
gestão das tarefas e mediação realizada.
O problema central, nesta situação formativa, dizia respeito ao funcionamento dos circuitos eléctricos de
uma casa e as situações físicas eram dois conjuntos de lâmpadas de Natal (série e paralelo).
Após compreendido e apropriado o problema, os alunos apresentaram as suas hipóteses de resolução,
mobilizando os seus saberes disponíveis. Depois, foram apresentadas as situações físicas, refinado o problema
inicial e pedida a explicação sobre o funcionamento de cada uma delas.
Os alunos começaram por explorar os dois conjuntos, ligando-os à tomada de rede e retirando algumas
lâmpadas. Depois desenharam cada um deles nos cadernos (Figura 1). Como os conjuntos tinham muitas
lâmpadas, optaram por um desenho simplificado.
85
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Em paralelo:
Em série:
Circuitos
em série:
Circuitos
em
paralelo:
mesma (montar um circuito semelhante com o material disponível) seguido de uma representação gráfica deste
modelo (Figura 3).
Após a montagem dos vários circuitos eléctricos e a realização das respectivas representações, foi pedido
que observassem o brilho das lâmpadas e verificassem, em cada caso, o comportamento quando se retirava uma
lâmpada, apresentando possíveis explicações para os factos observados.
Sem a representação
da fonte:
Com a
representação
da fonte:
Circuito semelhante ao da
sala de aula montado com
o material disponível:
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Figura 5: Gráficos elaborados pelos alunos com base nos dados experimentais
De um modo geral, esta situação formativa decorreu melhor em termos de autonomia dos alunos, sendo
menos solicitada a intervenção da professora. As questões dos alunos foram-se tornando cada vez mais
interessantes e pertinentes. Os alunos dialogavam uns com os outros durante a realização das tarefas e, aqueles
que revelavam mais dificuldades, questionavam os seus pares e, só por último, a professora.
Os alunos tiveram sempre um papel muito activo na sua aprendizagem e foram muito empenhados durante a
realização das tarefas, mesmo quando a resposta não surgia à primeira tentativa. Não desanimavam perante a
incerteza ou o erro e questionavam bastante acerca do que se estava a passar. Foi dado tempo para que
realizassem autonomamente as tarefas propostas e, de um modo geral, os alunos manifestaram muito entusiasmo
e envolveram-se de modo satisfatório na sua realização. Os alunos mostraram-se empenhados na realização das
tarefas, desenvolvendo competências em vários domínios, uma vez que se envolveram em verdadeiras
actividades de aprendizagem.
Referências Bibliográficas
Astofi, J.P., Darot, E., Vogel, Y., Toussaint, J. (2000). Práticas de Formação em Didáctica das Ciências.
Instituto Piaget. Lisboa.
Cravino, J.P. (2004). Ensino da Física Geral nas Universidades Públicas Portuguesas e sua relação com o
Insucesso Escolar: Caracterização do Problema e Desenho, Implementação e Avaliação de uma Intervenção
Didáctica. Tese de Doutoramento. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real.
Engelhardt, P., Beichner, R. (2004). Students’ Understanding of Direct Current resistive electrical circuits.
American Journal of Physics, 72 (1), 98-115.
Lopes, J.B. (2004). Aprender e Ensinar Física. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Tendo em conta as múltiplas vantagens que podem advir da mudança do ensino das ciências, as revisões
curriculares têm demonstrado uma preocupação em renovar as práticas de ensino (Abrantes, 2001). Já as
orientações curriculares da disciplina de Ciências Físicas e Naturais realçam a utilização de actividades práticas,
de modo a contribuírem para a formação integral do aluno, valorizando não só o domínio dos conhecimentos mas
também das atitudes, valores e capacidades. Deste modo, o presente relato tem por base uma investigação cujo
objectivo é, para além dos anteriormente descrito, desenvolver nos alunos o gosto pela aprendizagem da disciplina
de Física.
Contexto da Prática
A actividade prática reporta-se a uma investigação que teve como propósito contribuir para o aumento do
gosto da aprendizagem das ciências e, em particular, pela Física, para melhorar a qualidade desse ensino, bem
como a qualidade das aprendizagens dos alunos e seus resultados.
Deste modo, desenhou-se, implementou-se e avaliou-se um currículo de Ciências Físicas para o Ensino
Básico, na unidade temática “Sistemas Eléctricos e Electrónicos”, leccionada no 9º ano de escolaridade, tendo
como alicerce o conceito de Situação Formativa (Lopes, 2004) e o seu uso como ferramenta instrumental, no
sentido de desenvolver conhecimentos, competências e atitudes.
Durante a execução curricular, estudou-se o papel do currículo implementado na qualidade das
aprendizagens realizadas pelos alunos, diversos aspectos relativos ao papel das tarefas na aprendizagem,
nomeadamente as suas características, gestão na sala de aula e apropriação e a relação entre a autonomia dada
aos alunos na consecução das tarefas e as características da interacção professor-alunos com a qualidade das
aprendizagens que daí decorrem.
Este estudo foi realizado no ano lectivo de 2005/2006, em cinco turmas, do 9º ano de escolaridade, de três
escolas diferentes.
Relato da Prática
O relato que a seguir se apresenta, diz respeito à descrição detalhada de uma situação formativa que fazia
parte do desenho curricular desenhado e implementado e decorreu por um período de tempo correspondente a
uma aula (90 minutos). Esta situação formativa dizia respeito ao consumo de electricidade numa habitação e à
sua optimização.
A situação formativa inicia, tal como todas as outras, com a apresentação, em acetato, do problema, aos
alunos. O problema ao qual pretendíamos dar resposta era o seguinte: De que depende o consumo de
electricidade numa habitação? Foi dado aos alunos, como habitual, tempo suficiente para eles debaterem e
responderem ao problema nos respectivos cadernos diários.
Após as respostas dadas, o elemento responsável pela aprendizagem dos respectivos grupos profere a
resposta dada com base nos saberes disponíveis do grupo.
Para dar continuidade à tarefa, a professora apresenta a situação física aos alunos: um secador de cabelo e
um aquecedor de barras. No contexto das mesmas foi refinado o problema. Deste modo, a professora coloca, aos
alunos, novamente em acetato, o seguinte sub-problema: De que depende o consumo de electricidade deste dois
aparelhos? Para dar início à resolução do
sub-problema, a docente apresenta as seguintes tarefas, em acetato, que os alunos registam nos respectivos
cadernos: i) Observar e manipular os aparelhos eléctricos, de modo a encontrar uma explicação para o princípio
de funcionamento de cada um dos aparelhos eléctricos; ii) ler e analisar as especificações técnicas do aquecedor
e do secador de cabelo.
Através da descrição e contextualização das duas situações físicas e ainda da mediação efectuada pela
professora, foi possível avaliar as ideias que os alunos possuíam e levar os mesmos a aprofundá-las, e reformulá-
las sempre que necessário, à luz da informação adequada para as situações físicas.
Ao circular pela sala de aula, a professora reforça e encoraja os alunos a serem persistentes na realização das
tarefas, e verifica e incentiva o diálogo entre os elementos dos grupos.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Relativamente à análise das especificações técnicas, a grande maioria dos alunos coloca para o aquecedor de
barras 2 x 750 W e para o secador de cabelo 1200 W. Quando se apercebe deste facto, a professora lança
novamente um diálogo alargado a toda a turma, no sentido de ajudar os alunos a identificar o símbolo. O Hélder
pergunta: Esse não é o símbolo que está nas lâmpadas? (refere-se às lâmpadas de incandescência). Os restantes
colegas concordam com ele. Através de uma conversa em grande grupo, a professora informa, então, que o
símbolo é o Watt e corresponde à unidade da grandeza física potência. Referem, ainda que se recordam do termo
potência, quando no 7º ano, estudaram o capítulo relativo à Energia.
Figura 1: Especificações técnicas das duas situações físicas, identificadas pelos alunos
Depois de efectuadas e percebidas as tarefas propostas, a professora lança, novamente em acetato, uma
outra: Estimar o consumo de energia eléctrica, com base na potência e no tempo de funcionamento dos dois
aparelhos eléctricos. Para estimular ainda mais a resolução da tarefa e a tornar mais enriquecedora, a professora
lança, faseadamente, os seguintes desafios, para reflexão:
“Em qual das posições do interruptor as resistências brilham mais?”; “Porque razão isso acontece?”; “Em
qual das posições há um maior consumo de energia eléctrica?”; “Qual dos dois aparelhos eléctricos consome
mais energia no mesmo tempo de funcionamento?”; “Como minimizar o consumo energético?”.
Os alunos parecem estar entusiasmados com a tarefa. Colocam os aparelhos em funcionamento, fazem a
medição do tempo de funcionamento, efectuam registos nos cadernos e debatem ideias. Estes estão cada vez
mais autónomos e mais produtivos conceptualmente. Durante a monitorização da tarefa, a professora vai
questionando os respectivos grupos sobre as conclusões alcançadas. Todos os grupos respondem que o consumo
energético depende do tempo de funcionamento do aparelho e da potência do mesmo. Facilmente concluíram,
pela manuseamento e análise dos aparelhos eléctricos, nas possíveis posições de funcionamento e medição dos
respectivos tempos de funcionamento, que quanto maior for a potência eléctrica de um aparelho, maior será o
seu consumo de energia eléctrica. Os mesmos chegaram, desta forma, à resposta do sub-problema apresentado.
Estas ilações foram alcançadas durante e após a conclusão da tarefa.
Após as inferências anteriores, a professora solicita que confirmem as respostas dadas ao sub-problema
com o que aprenderam até ao momento. Responde um aluno: “Afinal, o consumo depende da potência. No caso
do aquecedor, o consumo é maior quando as duas barras estão ligadas”. Acrescenta o Jorge: “Não depende
apenas da potência, mas também do tempo que o aparelho está ligado”.
A professora aproveita as conversas pertinentes dos alunos e utiliza-as para, em conjunto, sintetizarem e
sistematizarem informação relativa à potência eléctrica.
Seguidamente, os alunos responderam a um questionário com base na análise de uma factura relativa ao
consumo de energia eléctrica. Nesta tarefa os alunos tinham de interpretar a informação presente na factura e
analisar os gráficos de consumo nela apresentados. No final da realização da tarefa, foram apresentadas as
respostas para cada uma das questões e discutida a validade das mesmas, de acordo com a figura 2.
No seguimento desta tarefa, a professora informa-os de que já estão em condições para reavaliarem as
respostas dadas inicialmente ao problema e reformulá-las, caso seja necessário.
Finalmente, a professora e os alunos avaliam as repostas dadas ao problema e aproveitam para fazer a
síntese e sistematização de conceitos e de informação sobre optimização do consumo energético numa habitação.
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Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
Referências Bibliográficas
Abrantes, P. (2001). Reorganização Curricular do Ensino Básico: princípios, medidas e implicações. Lisboa:
Ministério da Educação, Departamento do Ensino Básico.
Cravino, J.P. (2004). Ensino da Física Geral nas Universidades Públicas Portuguesas e sua relação com o
Insucesso Escolar: Caracterização do Problema e Desenho, Implementação e Avaliação de uma Intervenção
Didáctica. Tese de Doutoramento. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Galvão, C., (Coord.), Neves, A., Freire, A. M., Lopes, A., Santos, M. C., Vilela, M. C., Oliveira, M. T.,
Pereira, M. (2001). Ciências Físicas e Naturais: Orientações curriculares para o 3º ciclo do Ensino Básico.
Lisboa: Ministério da Educação, Departamento do Ensino Básico.
Lopes, J.B. (2004). Aprender e Ensinar Física. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Contexto da Prática
A experiência educativa aqui apresentada surge na continuidade de um trabalho iniciado há alguns anos,
baseando-se em práticas pedagógicas no âmbito da Física e da Química, utilizando estratégias de “Ensino
Aprendizagem centradas na Resolução de Problemas”.
A experiência foi desenvolvida em contexto de sala de aula, numa turma de vinte e um alunos do 7º ano de
escolaridade com aulas de 45 minutos (1 aula com a turma desdobrada), na disciplina de Física e Química,
procedendo-se a uma abordagem dos subtemas “Constituição do Mundo Material” e “Substâncias e Misturas de
Substâncias”, pertencentes ao tema “Terra em Transformação”. Neste contexto, toda a planificação teve como
objecto central a tentativa de resolução de uma Questão - Problema que foi formulado a partir de um pequeno
texto que permitiu o desenvolvimento de toda a prática lectiva. Os alunos resolveram as tarefas planificadas
trabalhando em grupos cooperativos.
Relato da Prática
As aulas do subtema foram previamente preparadas tendo por base uma abordagem do ensino e
aprendizagem baseados na resolução de problemas. Em particular elegeram-se algumas questões centrais a
propor aos alunos baseadas em situações quotidianas, as quais foram abordadas com o auxílio de tarefas
realizadas pelos alunos. A realização de tarefas ia permitindo ao professor realizar sínteses que consolidavam os
assuntos tratados e permitiam lançar as bases para novas tarefas a propor aos alunos e permitia aos alunos
adquirem conhecimentos e competências para responder à questão central.
Nas aulas os alunos trabalhavam em grupo, utilizando o método cooperativo ”Mesa Redonda”. Após a
formulação da “Questão-Problema”, “Como é construído o mundo material”, os alunos, em grupos de três e
quatro elementos, realizando Tarefas (cinco) com indicações precisas onde constavam: a “Questão - Problema”,
a “Competência” a desenvolver, a “Tarefa”, “Sugestões” para o desenvolvimento da tarefa, o tempo (limitado) e
a metodologia a utilizar pelo grupo no desenvolvimento do seu trabalho.
7º ANO
Tarefa- Com base no texto seguinte, enumerem os diferentes materiais que existem na sala de aula.
Texto:
“Se olharmos à nossa volta, com atenção, verificamos que temos
ao nosso dispor uma grande variedade de materiais que usamos
para os mais diversos fins.”
Registo-
92
Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
As tarefas desenvolvidas permitiram aos alunos observar o mundo que os rodeia, confrontar e partilhar
ideias, inter-ajudar-se, organizar registos e desenvolver trabalho experimental. Finda cada tarefa, procedeu-se à
respectiva síntese, aproveitando os registos de cada grupo, tendo em vista possíveis respostas à “Questão-
Problema” inicialmente formulada. Na síntese procedeu-se à clarificação de ideias e conceitos, assim como à
utilização de linguagem científica. O professor coordenou todo o trabalho na sala de aula, preocupando-se em
não “ajudar demais, nem de menos” de modo a que recaísse nos alunos uma parcela razoável do trabalho.
7º ANO
Tarefa- Agrupem os materiais que vos são apresentados de acordo com os critérios:
• Combustíveis e incombustíveis
• Solúveis e insolúveis em água
• Orgânicos e inorgânicos
Material:
Gobelés
Tubos de ensaio
Esguicho
Espátula
Açúcar
Cloreto de sódio (“sal das cozinhas”)
Azeite
Erva
Fósforos (sem caixa)
Álcool etílico
Registo:
Sugestão: Utilizem a tabela representada e registem os resultados que observaram nas experiências
que forem realizando ou a partir de observações que fazem diariamente
Critérios
Materiais
A questão central “Como é construído o mundo material” foi abordada com base em quatro tarefas:
Tarefa 1: Com base no texto seguinte, enumerem os diferentes materiais que existem na sala de aula.
Tarefa 2: Agrupem os materiais seleccionados na tarefa 1 de acordo com o seu estado físico.
Tarefa 3: Agrupem os materiais seleccionados na tarefa 1 quanto à sua origem, tentando atribuir uma
designação a cada grupo que formarem.
Tarefa 4: Agrupem os materiais que vos são apresentados de acordo com os critérios:
· Combustíveis e incombustíveis
· Solúveis e insolúveis em água
· Orgânicos e inorgânicos
Também se deu atenção ao trabalho experimental, privilegiando-se uma abordagem aberta.
É relevante referir que esta experiência educativa esteve integrada numa Acção de Formação dinamizada
pelos professores da UTAD, Helena Santos Silva e José Pinto Lopes, “Métodos da Aprendizagem Cooperativa”.
93
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Assim, no desenvolvimento das tarefas os alunos utilizaram o método cooperativo “Mesa Redonda”. A
utilização deste método, teve como objectivo incentivar a interdependência positiva, de forma a que,
simultaneamente à aprendizagem do conteúdo dos subtemas “Constituição do Mundo Material” e “Substâncias e
Misturas de Substâncias”, os alunos desenvolvessem a criatividade, partilhassem informação e consolidassem
conhecimentos.
Como professor responsável por esta experiência, saliento os cuidados tidos na elaboração da planificação,
nomeadamente na articulação entre as competências a desenvolver, os conceitos e as tarefas a realizar, de modo
a que toda a prática pedagógica resultasse eficaz e não se prolongasse no tempo. Saliento ainda o grande
entusiasmo e empenho por parte dos alunos que, na sua maioria, respeitaram as regras de trabalho de grupo que
lhes foram indicadas no âmbito do método da “Aprendizagem Cooperativa”, tendo sido, contudo, nalguns casos,
necessário gerir pequenos conflitos.
Referências Bibliográficas
Candler, L. (1994). Cooperative Learning & Hands-On Science. Grades 3-8. San Juan Capristano, CA:
Kagan Cooperative Learning.
94
Práticas de Ensino em Ciências Físico-Químicas/Física-Química (3ºCEB/Sec.)
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Virginia: Educational Research Service.
Kagan, S. (1999). Cooperative learning. San Juan Capristano, CA: Kagan Cooperative Learning.
Lopes, J. B. (1994). Resolução de problemas em Física-Química, Lisboa: Texto Editora,
Lopes, J. B. (2004). Aprender e Ensinar Física, Cap. 1 e 6. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian
Lopes, J. P. e Silva, Helena (2007). Aprendizagem cooperativa na sala de aula. Um guia prático para
professores. Porto: Edições Asa (no prelo).
95
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Os relatos de práticas de ensino constituem uma forma exemplar de encontrar respostas diferentes e a vários
níveis, para as dificuldades conhecidas na aplicação de metodologias de ensino e aprendizagem, nomeadamente
nas preconizadas pela Declaração de Bolonha no Ensino Superior. São também conhecidas as necessidades de
formação de professores nos diferentes níveis de ensino. Este Fórum pretende, com a apresentação de relatos de
práticas do Ensino Superior, contribuir para colmatar aquelas dificuldades e para minorar as necessidades de
formação. São relatadas seis práticas que contribuem para os objectivos acima referidos.
96
Práticas de Ensino no Ensino Superior
No seu conjunto, estes relatos evidenciam o empenho de professores do Ensino Superior em melhorar a
aprendizagem activa dos seus alunos actuais, e dos alunos que serão, futuramente, os seus, formando melhores
professores nos outros níveis de ensino.
[1] Secção Autónoma Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas (SACSJP) da Universidade de Aveiro,
3810-193 Aveiro, betinasilvalopes@hotmail.com
[2] Departamento de Química e CICECO da Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, mclara@dq.ua.pt
O desenvolvimento das energias renováveis, solução-chave para uma sociedade sustentável, passa pela sua
valorização por parte do cidadão. Para tal é imperativo apostar na Educação. O primeiro passo neste sentido é
divulgar os esforços comunitários e nacionais realizados neste domínio. No âmbito do mestrado Comunicação e
Educação em Ciência (Universidade de Aveiro) foi organizada a palestra “Sensibilização para as Energias
Renováveis: da contextualização a algumas sugestões de concretização” destinada a professores cujas disciplinas
prevêem a leccionação deste tema e que integrou a aplicação de um pequeno questionário a fim de recolher
testemunhos escritos relativos à necessidade de mais (in)formação.
Contexto da Prática
A garantia de um futuro para o planeta Terra passa pelo desenvolvimento das energias renováveis. A
consciencialização deste facto por parte das entidades governamentais levou nos últimos anos, e sobretudo após
a assinatura do protocolo de Quioto em 1997, ao desenvolvimento de diversas medidas socio-económicas
promotoras das “energias amigas do ambiente”. No entanto parece existir um desconhecimento genérico dessas
mesmas medidas por parte do cidadão comum. É neste contexto que surgiu a dissertação de mestrado “Energias
Renováveis em Portugal – situação actual. Contributos para a sua divulgação” na qual se procedeu ao
levantamento da informação mais relevante, designadamente metas estabelecidas no que respeita ao
desenvolvimento das energias renováveis a nível mundial e comunitário e consequentes esforços realizados e
resultados obtidos, sobretudo em Portugal.
No âmbito da dissertação em causa, e numa filosofia “Pensar Global/Agir Local”, foram realizadas as
seguintes “acções de divulgação”: Poster «Promoting Teachers Formation on Renewable Energy Resources – the
unpostnable option for education!» apresentado no dia 13 de Junho de 2006 na International Conference in
Mathematics, Sciences and Sciene Education – ICMSE realizada na Universidade de Aveiro; Comunicação Oral
«As Energias Renováveis em Portugal: Enquadramento Legal e principais projectos portugueses» apresentada no
dia 23 de Novembro de 2006 na Universidade de Aveiro no âmbito da Semana Aberta da Ciência e Tecnologia;
Poster «Promoting Renewable Energy Resources – A look beyond the portuguese School program of
Chemistry» apresentado nos dias 14-16 de Dezembro de 2006 no XX Encontro Nacional da Sociedade
Portuguesa de Química que teve lugar no Campus da Caparica da Universidade Nova de Lisboa e finalmente a
palestra «Sensibilização para as Energias Renováveis: da contextualização a algumas sugestões de
concretização» apresentada no dia 10 de Janeiro de 2007, na Escola Secundária Dr.ª Maria Cândida de Mira e
principal alvo deste relato de prática.
A motivação para a organização de uma palestra sobre energias renováveis aberta a todo o público, mas
dirigida essencialmente aos professores, prende-se com o facto da abordagem das energias renováveis estar
prevista nos programas curriculares de várias disciplinas do 3º ciclo do ensino básico e secundário (Quadro I).
No entanto conversas informais tidas com colegas professores permitiu constatar que existe muita informação
recente a nível de iniciativas comunitárias e nacionais que, de um modo geral, é desconhecida dos professores,
acabando estes por não as incluir na planificação das suas aulas.
98
Práticas de Ensino no Ensino Superior
Quadro I – O tema das Energias Renováveis nos Programas/Orientações curriculares do 3º ciclo do Ensino
Básico e do Ensino Secundário
Relato da Prática
Em termos temporais a prática desenvolvida pode ser subdividida nos seguintes momentos: Palestra seguida
de debate; Aplicação do questionário e análise das respostas obtidas. Segue-se uma descrição mais detalhada dos
mesmos.
Palestra seguida de debate
A palestra foi apresentada no dia 10 de Janeiro de 2007 (ver cartaz de divulgação – Figura 1), data
correspondente à segunda semana do início do 2º período, altura em que a disponibilidade dos professores é
maior, na medida em que não existiam testes marcados nem reuniões de avaliação. À comunicação assistiram 15
professores tendo a mesma tido uma duração de aproximadamente duas horas: apresentação oral
(1hora15minutos) + discussão (45minutos).
Figura 1 – Cartaz de divulgação da palestra organizada na Escola Secundária com 3º ciclo Dr.ª Maria Cândida de
Mira.
99
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
a) Enquadramento geral: os livros da União Europeia (ex: Livro Branco sobre Fontes de Energia
Renováveis – COM(97)599final).
b) Directivas promotoras das fontes renováveis de energia (ex: Directiva 2001/77/CE).
c) Ponto de situação das fontes renováveis de energia na Europa: relatórios comunitários e o barómetro
para as energias renováveis (EURobserv´ER).
II - As energias renováveis em Portugal
a) Enquadramento geral: estratégias nacionais para a energia (ex: Programa E4 – RCM nº 154/2001).
b) Enquadramento legal: legislação e outras medidas regulamentares (ex: Decreto-Lei nº 66/2006).
c) Exemplos concretos de promoção e divulgação das energias renováveis.
d) Ponto de situação das energias renováveis em Portugal: Caracterização do sistema energético renovável
nacional.
No final da comunicação foi oferecido, como forma de motivação na abordagem das energias renováveis em
aulas futuras, um dossier com artigos sobre as energias renováveis em Portugal reunidos ao longo da pesquisa
bibliográfica (Quadro II). Foi ainda oferecido um CD com uma cópia da comunicação, com os Decretos-lei mais
relevantes no âmbito da promoção das energias renováveis e os relatórios do Eurobserv´ER - Barómetro para as
energias renováveis - relativos ao ano de 2005 (disponíveis em
http://ec.europa.eu/energy/res/publications/barometers_en.htm), sendo estes últimos muito úteis para a análise de
dados estatísticos, sugestão de actividade de sala aula várias vezes apresentada ao longos dos
programas/orientações curriculares.
Quadro II – Alguns artigos do dossier sobre energias renováveis oferecido à escola de Mira
100
Práticas de Ensino no Ensino Superior
101
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
102
Práticas de Ensino no Ensino Superior
d) Conjunto de recursos didácticos elaborados especificamente para a leccionação desta temática (ex:
fichas de trabalho, etc.).
Referências Bibliográficas
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Departamento do Ensino Secundário. Lisboa.
Martins, I.P.; Caldeira, H; Magalhães, M.C.; Simões, M.O.; Simões, T.S.; Lopes, J.M.G.; Costa, J.A.L.;
Bello, A.; San-Bento, C. e Pina, E.P. (2001a). Programa de Física e Química B - 10º ano – curso tecnológico.
Ministério de Educação – Departamento do Ensino Secundário. Lisboa.
Martins, I.P.; Costa, J.A.L.; Lopes, J.M.G.; Magalhães, M.C.; Simões, M.O.; Simões, T.S.; Bello, A.; San-
Bento, C.; Pina, E.P. e Caldeira, H. (2001b). Programa de Física e Química A - 10º ou 11º anos - curso
científico-humanístico de ciências e tecnologias. Ministério de Educação – Departamento do Ensino Secundário.
Lisboa.
Martins, I.P.; Costa, J.A.L.; Lopes, J.M.G.; Simões, M.O.; Claro, P.R. e Simões, T.S. (2004). Programa de
química de 12º ano – curso científico humanístico de ciências e tecnologias. Ministério da Educação – Direcção
Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. Lisboa.
Martins, O.S.; Albert, A.F. e Além, M.G. (2001). Programa de Geografia B – 10 º ano – curso tecnológico de
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Mendes, A.; Rebelo, D.H.V. e Pinheiro, E.J.G. (2004). Programa de Biologia 12º ano - curso científico-
humanístico de ciências e tecnologias. Ministério de Educação – Direcção Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular. Lisboa.
Mendes, A.; Rebelo, D.H.V.; Pinheiro, E.J.G.; da Silva, C. P.; Amadora, F.; Baptista, J.F.P. e Valente, R.A.
(2003). Programa de Biologia e Geologia 10º ou 11º ano – curso científico-humanístico de ciências e
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Ministério da Economia e da Inovação (2006). Decreto-Lei nº 66/2006, Diário da República nº 58/2006, série
I-A, de 22 de Março de 2006. Lisboa.
Nascimento, T. (2006). Martifer constrói fábrica de biodiesel em Aveiro. água & ambiente, ano VIII, nº 86,
p. 31.
103
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
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do Conselho de 27 de Setembro de 2001 relativa à promoção de electricidade produzida a partir de fontes de
energia renováveis no mercado interno de electricidade (JO L283). Bruxelas.
Pires, G. (2006). Telhados solares vão à escola. água & ambiente, ano VIII, nº91, p.34.
Sem autor (2006). Energias renováveis – casca de amêndoa para água quente em Bragança. Tecnologias do
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Sem autor (2006). Primeiro parque de ondas português na Póvoa de Varzim. Tecnologias do Ambiente,
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Silva, C.P.; Amadora, F.; Baptista, J.F. e Valente, R.A. (2001). Programa de Biologia e Geologia 10º ou 11º
ano – curso científico-humanístico de ciências e tecnologias. Ministério de Educação – Departamento do Ensino
Secundário. Lisboa.
Lúcia Pombo [1], Marta Abelha [2], Hélder Caixinha [3], Luís Marques [4], Nilza Costa [5]
Face aos desafios actuais da sociedade, urge encontrar respostas diferentes e a vários níveis, em particular no que
concerne à formação de professores. Esta comunicação centra-se na formação contínua de professores de
Ciências, vista como enriquecida através da partilha de experiências educativas no contexto europeu e, também
por isso, com uma abordagem com recurso às tecnologias de informação e de comunicação. Propõe-se apresentar
linhas de orientação que permitam transformar estratégias de formação presencial em contexto online, tendo como
base dois projectos Europeus, SySTEM e EuSTD, e na senha dos desafios colocados actualmente ao nível da
formação.
Introdução
O carácter de inovação subjacente ao Ensino das Ciências implementado recentemente nas Escolas Básicas e
Secundárias em Portugal, aliado à necessidade de investir na formação contínua de professores, poderá ser
potenciado num contexto de trabalho Europeu alargado, tendo em consideração as especificidades de diferentes
países, com vista à resolução de problemas comuns. Neste contexto, foi conceptualizado em 2001 e com a
duração de três anos, no âmbito do Programa Socrates-Commenius, um Projecto Europeu, SySTEM - Systematic
Professional Development Through Science Teacher Education (94343 CP-1-2001-1-PT-COMENIUS-C21/09)
que contou com a participação de nove Universidades pertencentes a sete países Europeus: Bulgária, Estónia,
Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa e Suécia.
Os principais objectivos deste projecto foram:
- Congregar uma pluralidade de abordagens e de metodologias consideradas relevantes para a Formação
de Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico.
- Partilhar boas práticas, no âmbito do Ensino das Ciências e da Formação de Professores de diferentes
países europeus;
Cada Universidade ficou responsável pela elaboração de diferentes módulos de formação para professores
que leccionam Ciências nos primeiros anos de escolaridade, sua implementação presencial e validação. A
elaboração dos módulos implicou a construção de materiais didácticos. Salienta-se o facto de todos os módulos
terem sido partilhados com todos os parceiros do projecto. Esta implementação foi dirigida a um grupo de cerca
de vinte professores de cada país. O módulo elaborado pela equipa de investigadores portugueses, “Ciência
Integrada”, foi aplicado numa primeira fase em Portugal e posteriormente na Bulgária.
104
Práticas de Ensino no Ensino Superior
A crescente evolução tecnológica, aliada ao aumento da sua acessibilidade, bem como às necessidades de
aprendizagem ao longo da vida, entre outros, conduziram também várias Instituições de Ensino Superior a uma
aposta no que se tem designado por e-learning, nas suas várias vertentes (Carvalho, 2006).
Neste âmbito, surgiu o Projecto Europeu EuSTD – European Teachers Professional Development for Science
Teaching in a Web-based Environment (129455-CP-1-2006-1-PT-COMENIUS-C21) que se baseia na elevada
experiência investigativa e de formação dos parceiros, nos resultados obtidos no projecto SYSTEM,
nomeadamente nos módulos de formação desenvolvidos e no reconhecimento da importância das novas
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) como veículo para o desenvolvimento profissional dos
professores, em particular quando se pretende compartilhar experiências de diferentes contextos europeus.
O objectivo desta comunicação, e para além do enquadramento que a sustenta, é apresentar um exemplo
sobre possíveis formas de transformar módulos de formação desenvolvidos presencialmente para um contexto
online. No presente estudo foi utilizada como ferramenta de ensino à distância, a plataforma Moodle, que
permite a criação e gestão de um curso totalmente via Internet (Figura 1). Na comunicação pretende-se ilustrar
exemplos práticos dessa transformação.
105
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
e-learning e das suas ferramentas (nomeadamente as de comunicação, como estilos de linguagem, por exemplo)
e (vi) o tempo médio que o formador demorará a responder a qualquer solicitação dos alunos; entre outros.
No caso de não existirem sessões presenciais, no início dos módulos é necessário prever na primeira sessão
on-line actividades que promovam a socialização dos participantes de forma a sentirem-se confortáveis, por
exemplo na colocação de dúvidas (Figura 2), a apresentação do(s) formador(es) e do módulo, a formação dos
grupos de trabalho, etc. (Modelo e-Tivities proposto por Salmon, 2005).
Figura 3 – Exemplo de uma sessão de apresentação, referindo o foco de cada sessão e respectivos objectivos de
aprendizagem.
(ii) A duração temporal
(iii) Os recursos de aprendizagem, utilizando ficheiros:
a) Em formatos apropriados para a disponibilização na Web:
· PDF – formato recomendado para a disponibilização de documentos, facilitando a descarga e posterior
impressão;
· DOC, XLS, PPT – permitem a edição por parte dos formandos e a sua posterior submissão aos
docentes;
· GIF, JPG – formato recomendado para a disponibilização de imagens;
· MP3 – formato recomendado para a disponibilização de clips de áudio;
· Recursos na Web – nestes deve ter-se o cuidado de verificar periodicamente se os endereços indicados
ainda existem e mostram o conteúdo pretendido;
106
Práticas de Ensino no Ensino Superior
b) Com o tamanho adequado para uma transferência fácil de acordo com as condições locais do servidor,
podendo usar-se, se necessário, programas de compressão como Winzip ouWinrar.
(iv) Actividades desenvolvidas
Devem ser seleccionadas as ferramentas que melhor se adeqúem às actividades (ferramentas de
comunicação/interacção e avaliação), assim como assegurar que os formandos possuem as ferramentas
apropriadas para as actividades propostas (isto é, que dispõem dos canais necessários para responderem,
interagiram e submeterem os seus trabalhos). Essas ferramentas deverão ser conjugadas adequadamente,
podendo ser assíncronas (indicadas para a discussão e submissão de trabalhos e potenciadoras de uma maior
flexibilidade temporal) (Figura 4), ou síncronas, (indicadas para encontros, implicando a presença em simultâneo
de todos os envolvidos).
Considerações finais
São evidentes as vantagens da utilização de uma plataforma de e-learning, como por exemplo o Moodle,
especialmente porque permite i) um ajuste às necessidades individuais tendo em conta os diversos estilos e
107
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
ritmos de aprendizagem dos formandos, ii) alcançar um público-alvo mais alargado, podendo colaborar
diferentes países europeus, possibilitando a partilha de experiências educativas no âmbito da Educação em
Ciências que se poderá traduzir numa melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem.
No caso concreto do projecto EuSTD os módulos, depois de aplicados e monitorizados, serão avaliados no
sentido de melhorar as linhas orientadoras propostas para formações futuras.
Referências Bibliográficas
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Europa e América Latina. Porto: Edições Politema.
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Koper, R., Tattersall, C. (Eds.) (2005). Learning Design, A Handbook on Modelling and Delivering
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XIV, 223 p. ISBN 0-7494-3686-7.
108
Práticas de Ensino no Ensino Superior
resolução de problemas e do uso das novas tecnologias e, ainda, a capacidade para continuar a adquirir, ao longo
da vida, novos conhecimentos e práticas. Todas estas capacidades e competências pressupõem uma
aprendizagem muito mais activa, em oposição aos processos tradicionais.
A realidade já identificada por alguns investigadores (Pedrosa de Jesus, 1990,1991; Susskind, 1969) é que os
alunos normalmente não formulam ou formulam poucas perguntas em sala de aula. O discurso do professor
domina a interacção didáctica, e estes formulam, em média, 2-3 perguntas por minuto enquanto que os alunos se
limitam a 1 pergunta por semana. Estes resultados, que foram, e continuam a ser, encontrados em diversos países
em contextos e níveis de escolaridade diversificados, mostram o contra censo de um ensino centrado nas
perguntas do professor, que domina o conhecimento da sua especialidade, enquanto o aluno, que ainda não
domina este conhecimento e que deveria questionar, não pergunta, nem é estimulado para esse efeito.
O que apresentamos neste fórum de práticas fez parte de um projecto de doutoramento (Neri de Souza, 2006)
que assenta na convicção de que é possível promover a aprendizagem activa de Química, através do incentivo à
competência de questionamento no contexto da interacção didáctica entre professores e estudantes do 1º ano dos
cursos de Ciências e Engenharias. Reflecte ainda a ênfase que um número crescente de educadores tem vindo a
colocar na importância da formulação de perguntas de qualidade nos processos de ensino e de aprendizagem,
bem como na necessidade de criar instrumentos e estratégias para as estimular. Assim, foram criados
instrumentos e desenvolvidas diversas estratégias visando estimular a formulação de perguntas pelos estudantes,
com o objectivo de possibilitar o seu maior envolvimento na aprendizagem. Recorreu-se, ainda, ao uso das novas
tecnologias (computador) para facilitar a interacção entre os estudantes e o professor.
A análise das perguntas dos estudantes constitui um valioso instrumento de reconhecimento e diagnóstico das
suas dificuldades conceptuais, fornecendo ao professor pistas importantes para a constante adequação de
conteúdos lectivos e métodos de ensino-aprendizagem. Por isso, procuramos identificar as relações entre as
perguntas dos estudantes e a aprendizagem, e ainda compreender melhor as dificuldades na aprendizagem da
Química do 1º ano universitário, através das suas perguntas.
As estratégias foram usadas e desenvolvidas durante toda a investigação com a intenção de promover um
ambiente de aprendizagem activa, onde o questionamento desempenhou um papel central:
i) Aulas teóricas – procuraram motivar os estudantes através de estratégias diversificadas e
contextualização curricular.
ii) Aulas teórico-práticas – centradas na resolução de “casos para estudo”;
iii) Aulas práticas – centradas no questionamento e na autonomia dos estudantes;
iv) Aulas suplementares – proporcionaram apoio para as dúvidas e dificuldades dos estudantes.
v) Aulas “Questões em Química” <Q/Q> – baseadas nas questões dos estudantes sobre um tema
específico.
vi) Aulas conferência – baseadas em temas de elevado interesse científico, tecnológico e social.
109
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
vii) Mini-projectos – trabalhos sobre temas escolhidos pelos estudantes, visando incentivar o trabalho em
grupo e proporcionar uma ideia do que é a investigação em Química.
Para alcançar os objectivos propostos, utilizou-se uma metodologia de investigação qualitativa do tipo
naturalista-etnográfica na perspectiva da teoria fundamentada (Grounded Theory). A recolha de dados foi feita
através de observação directa das aulas, observação participante, entrevistas semi-estruturadas, questionários que
incluíam situações-problema, registos de acesso ao computador, e ainda as explicações e perguntas dos
estudantes. Foram utilizadas gravações em áudio e/ou vídeo nos diversos contextos da recolha de dados.
As perguntas escritas pelos estudantes, nos seus diversos contextos, foram analisadas quanto ao seu sentido
semântico e qualidade cognitiva, tendo sido definidos indicadores de qualidade. Procurou-se, também, identificar
as dificuldades em Química por elas reveladas. Do mesmo modo, foram também analisadas as perguntas
induzidas pela leitura de um pequeno texto científico, bem como as explicações perante situações-problema
específicas. Naturalmente, neste fórum de prática será apresentada uma visão geral dos resultados e uma
discussão um pouco mais pormenorizada de apenas algumas das análises efectuadas.
110
Práticas de Ensino no Ensino Superior
Referências Bibliográficas
Biggs, J. (1999). Teaching for quality learning at university. Philadelphia: Open University Press.
Bonwell, C. C., & Eison, J. A. (1991). Active learning: Creating excitament in the classroom. Washington,
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Chalmers, D., & Fuller, R. (1996). Teaching for Learning at University Theory and Practice (First ed.).
London: Kogan Page Limited.
Neri de Souza, F. (2006). Perguntas na Aprendizagem de Química no Ensino Superior. Tese de doutoramento
não publicada, Universidade de Aveiro, Aveiro.
NG, G. S. (1997). Teaching Effectively with Visual Effect in an Image-Processing Class. Computer
Applications in Engineering Education, 5(2), 111-114.
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Portuguesa de Educação, 3(2), 37-56.
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Teixeira-Dias, J. J. C., Pedrosa de Jesus, H., Neri de Souza, F., & Watts, D. M. (2005). Teaching for Quality
Learning in Chemistry. International Journal of Science Education, 27(9), 1123-1137.
Neste relato de práticas são apresentados resultados de um estudo realizado no âmbito de um projecto de
investigação que decorreu na Universidade de Aveiro, com alunos do 1º ano dos cursos de Ciências e
Engenharias, nas disciplinas de Química. O objectivo principal deste estudo consistiu na procura de possíveis
relações entre as questões dos alunos e os seus estilos de aprendizagem. Aqui relatam-se, de forma breve, as
estratégias fundamentais desenvolvidas ao longo dos 3 anos lectivos em que o estudo decorreu, e apresentam-se os
resultados e as conclusões principais.
111
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Contexto da Prática
Este trabalho visou contribuir para o desenvolvimento de modelos pedagógicos que estimulassem os alunos
do primeiro ano universitário a ser participantes activos no processo educativo, e os professores a agirem como
promotores de estratégias de ensino inovadoras. Assim, este estudo inseriu-se num programa de investigação
concebido com o objectivo de dar resposta às mudanças necessárias associadas à implementação do Processo de
Bolonha em Portugal.
As diferenças evidenciadas pelos alunos na sua forma de encarar o processo de ensino-aprendizagem, assim
como as diferenças encontradas na postura questionadora dos mesmos alunos constituíram o ponto de partida do
estudo que aqui apresentamos.
Apesar dos estilos de aprendizagem estarem já amplamente estudados (p.ex. Entwistle, et al., 2000; Kolb e
Kolb, 2006; Zeegers, 2001) e da aprendizagem-baseada-em-questões ser uma área da Didáctica em franca
expansão (p. ex. Pedrosa de Jesus, 1991; Pedrosa de Jesus, et al., 2005; Pedrosa de Jesus, et al., 2006), poucas
têm sido as tentativas de estabelecer uma relação entre os dois campos (Chin e Brown, 2000).
No entanto, e por se nos afigurar que uma possível relação entre as duas áreas do saber seria uma mais valia
para a optimização do processo de ensino-aprendizagem, pareceu-nos pertinente estabelecer um possível ponto
de contacto entre as questões formuladas pelos alunos e os seus estilos de aprendizagem. Assim, definiu-se a
seguinte questão de investigação principal:
Será possível estabelecer uma relação entre o tipo de questões elaboradas pelos alunos e os seus estilos de
aprendizagem?
Como consequência, definiram-se duas grandes finalidades:
- identificar e caracterizar relações entre os estilos de aprendizagem dos alunos e os tipos de questões
formuladas pelos mesmos;
- identificar, conceber e desenvolver possíveis formas de intervenção sobre os alunos, a nível individual ou
institucional, como meio de optimizar o ensino.
Como meio de atingir as finalidades referidas anteriormente, definiram-se os seguintes objectivos:
- identificar/caracterizar os tipos de questões que os alunos formulam na aprendizagem de Química no 1º ano
universitário;
- identificar/caracterizar os estilos de aprendizagem predominantemente adoptados pelos referidos alunos de
Química;
- relacionar as questões dos alunos, em contextos diversificados, com os seus estilos de aprendizagem;
- desenvolver (conceber, produzir, implementar e avaliar) estratégias de ensino com vista à optimização da
aprendizagem, no ensino universitário.
Relato da Prática
O estudo presente, desenvolvido ao longo de 3 anos lectivos: de 2001/2002 a 2003/2004, e realizado com
alunos do primeiro ano de várias licenciaturas em Ciências e Engenharias, a frequentar as disciplinas de Química
I, Química Básica e Química II, na Universidade de Aveiro, procurou identificar e caracterizar tanto as questões
formuladas por estes alunos como os seus estilos de aprendizagem.
Procurou-se, ainda, relacionar as questões formuladas pelos alunos, em contextos diversificados, com os seus
estilos de aprendizagem (Kolb, 1984), com vista à optimização dos processos de ensino e de aprendizagem.
A metodologia de investigação utilizada foi de natureza qualitativa do tipo naturalista-etnográfica. Foram
concebidas e implementadas diversas estratégias de ensino, ao longo dos três anos lectivos (2001 a 2004) em que
decorreu o estudo empírico, que foram sendo aperfeiçoadas após análise crítica efectuada no final de cada
semestre. Foram, ainda, recolhidas todas as questões orais e escritas dos alunos, formuladas em contextos
diversificados, e identificados os seus estilos e abordagens de aprendizagem, através de um questionário (Kolb,
1999) e entrevistas semi-estruturadas. Foram, também, realizadas gravações em áudio e vídeo, em diversos
contextos da recolha de dados. No último semestre em que o estudo foi realizado (ano lectivo 2003-2004) foram
ainda tentados novos processos de avaliação compatíveis com as estratégias de ensino desenvolvidas.
Os resultados revelam a existência de relações entre o desenvolvimento dos estilos de aprendizagem
definidos por Kolb, as abordagens de aprendizagem e o nível cognitivo das questões formuladas pelos alunos. As
questões dos alunos mostraram representar, assim, uma ferramenta que permite estabelecer uma relação entre as
abordagens à aprendizagem e a teoria da aprendizagem experiencial, que representam duas dimensões dos estilos
de aprendizagem com bases teóricas diferentes.
112
Práticas de Ensino no Ensino Superior
Os resultados também confirmam que é possível criar um ambiente propício ao questionamento dos alunos,
em que as diferentes características dos estilos de aprendizagem destes podem ser contempladas para o design de
diferentes estratégias de ensino.
Os resultados obtidos permitem-nos ainda afirmar que é possível desenvolver métodos de avaliação
compatíveis com as estratégias de aprendizagem implementadas.
A revisão da literatura, feita ao longo de todo o estudo, permite-nos concluir que a investigação presente
representa um contributo para o estabelecimento de relações, baseadas em dados empíricos, entre os estilos de
aprendizagem e as questões formuladas pelos alunos.
Referências Bibliográficas
Chin, C. & Brown, D.E. (2000). Learning in Science: A Comparison of Deep and Surface Approaches.
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Pedrosa de Jesus, M. H. T. (1991). An Investigation of Pupils’ Questions in Science Teaching. Unpublished
Ph.D. Thesis. University of East Anglia, Norwich, U.K.
Zeegers, P. (2001). Approaches to learning in sciences: A longitudinal study. British Journal of Educational
Psychology, 71, 115-131.
O presente estudo surge num contexto de promoção de uma aprendizagem activa e centrada no aluno, com base no
desenvolvimento da sua competência de questionamento, em disciplinas de química do primeiro ano de
licenciaturas em Ciências e Engenharias da Universidade de Aveiro. Com o objectivo de articular as estratégias de
ensino, de aprendizagem e de avaliação foram desenvolvidos instrumentos específicos para avaliar as perguntas
dos alunos, com base na resolução de problemas, em contextos formativo e sumativo. As perguntas dos alunos
foram analisadas segundo o seu nível cognitivo, relação e orientação para o problema, considerados como
indicadores da sua qualidade.
113
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Contexto da Prática
O presente estudo surge num contexto de ensino e aprendizagem em Química, no ensino universitário, em
que o desenvolvimento de competências de elevado nível cognitivo nos alunos é considerado um elemento
central. O projecto em que surge integrado decorreu desde o ano lectivo de 2000-2001 nas disciplinas de
Química I (1º semestre) e Química II (2º semestre), comuns ao primeiro ano de várias licenciaturas em Ciências
e Engenharias da Universidade de Aveiro. O principal objectivo desse projecto é desenvolver e explorar
estratégias de ensino e de aprendizagem centradas no aluno, procurando estimular uma aprendizagem activa e
promotora da qualidade das interacções na sala de aula, através do estímulo às questões dos alunos (Pedrosa de
Jesus, Teixeira-Dias, & Watts, 2003). Diversas estratégias de ensino e de aprendizagem têm sido concebidas,
aperfeiçoadas e implementadas ao longo destes anos (Teixeira-Dias, Pedrosa de Jesus, Neri de Souza, & Watts,
2005), no sentido de desenvolver a competência de questionamento dos alunos e de promover uma
aprendizagem mais significativa em Química. É reconhecido que o papel activo na aprendizagem, através da
formulação de questões, permitirá aos alunos o desenvolvimento de capacidades de pensamento crítico e de
auto-regulação, numa promoção da sua autonomia e capacidade de decisão (Ikuenobe, 2001; King, 1994; Zoller,
1987). As questões dos alunos permitem revelar os seus pensamentos e esquemas mentais (Dillon, 1982; Maskill
& Pedrosa de Jesus, 1997b), assim como dificuldades de aprendizagem, permitindo ao professor adequar as suas
práticas (Maskill & Pedrosa de Jesus, 1997a).
Num contexto de promoção do questionamento dos alunos no ensino e na aprendizagem em Química,
revelou-se fundamental a sua articulação com o processo de avaliação. Um ensino promotor de competências de
alto nível cognitivo deverá reflectir uma adequação ao nível das práticas de avaliação (Lubezky, Dori, & Zoller,
2004). Essa articulação é considerada fundamental para aprendizagens mais significativas (Biggs, 1999;
Cumming & Maxwell, 1999).
A utilização do questionamento dos alunos como método de avaliação foi descrito, com sucesso, por um
número restrito de autores (Y.J. Dori, 2003; Y.J. Dori & Herscovitz, 1999; Zoller, 2001). Por exemplo, Dori e
Herscovitz (2003) sugerem a avaliação das questões dos alunos perante a resolução de problemas autênticos, não
rotineiros e sem soluções óbvias, como complemento aos exercícios de avaliação convencionais. A resolução de
problemas genuínos permite contextualizar a aprendizagem (Hofstein, Navon, Kipnis, & Mamlok-Naaman,
2005), desenvolvendo uma atitude crítica e a formulação de questões relevantes (Dahlgren & Öberg, 2001).
Assim, os objectivos deste estudo foram (i) explorar a utilização das questões dos alunos como instrumentos
de avaliação alternativos e (ii) desenvolver situações formativas e sumativas de avaliação da competência de
questionamento dos alunos, num contexto de resolução de problemas.
Relato da Prática
Este estudo foi realizado com uma turma de 124 alunos no ano lectivo de 2004/2005. Durante esse ano
lectivo foi implementada uma nova metodologia de avaliação com base nas questões formuladas pelos alunos
perante a resolução de problemas. Foram concebidos instrumentos específicos, em formato escrito, que
consistiam na descrição de situações-problema relacionadas com conteúdos de química previamente leccionados,
e também com fenómenos naturais, sociais e/ou do quotidiano, tornando o seu contexto mais motivante e
autêntico. Pretendia-se que estes problemas constituíssem um desafio intelectual para o aluno. Após a leitura da
informação fornecida, era solicitado ao aluno que formulasse questões, cujas respostas lhe permitisse a
compreensão do problema apresentado.
Estas situações-problema foram exploradas em contexto formativo, durante as aulas teórico-práticas e
introduzidas nos exames finais de cada disciplina. Os momentos formativos consistiam apenas da resolução de
uma situação-problema, onde os alunos podiam consultar o manual da disciplina e discutir com os colegas ou
professor. Estes momentos antecederam os testes sumativos, que incluíam uma situação-problema, para além de
questões de escolha múltipla. Após cada momento de avaliação, o professor fornecia orientações gerais a toda a
turma, no sentido de um questionamento crítico e de qualidade, exemplificando com questões que poderiam ser
colocadas e explicando o problema em causa. Os testes formativos eram classificados qualitativamente de acordo
com os critérios definidos pelo professor e seguindo as orientações dadas. As situações-problema dos testes
sumativos eram avaliadas quantitativamente de acordo com os mesmos critérios.
As questões formuladas pelos alunos foram contabilizadas, analisadas e classificadas independentemente em
cada uma das três categorias a seguir apresentadas. As subcategorias estão descritas numa ordem crescente de
qualidade:
1. Nível cognitivo: (i) Conhecimento factual; (ii) Compreensão; (iii) Aplicação e/ou Análise; (iv) Síntese
e/ou Avaliação – com base na taxonomia de Bloom, (1956).
2. Relação com a situação-problema: (i) A resposta à pergunta é totalmente fornecida na descrição da
situação; (ii) A resposta encontra-se parcialmente descrita (ou de uma forma implícita) na informação fornecida;
(iii) A resposta à pergunta não se encontra na informação fornecida.
114
Práticas de Ensino no Ensino Superior
3. Orientação para o problema: (i) perguntas não orientadas para o problema; (ii) perguntas orientadas
para aspectos gerais do problema, não relacionados com química; (iii) perguntas orientadas para os aspectos
químicos do problema.
Na categoria “Outras” foram consideradas as perguntas ilógicas, com falta de clareza ou de sentido, ou
ininteligíveis.
No sentido de conhecer e compreender a opinião dos alunos relativamente aos novos métodos de avaliação
foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a 10 alunos. Sete alunos foram entrevistados no fim do primeiro
semestre e 6 no fim do segundo semestre, sendo que 3 alunos realizaram as duas entrevistas.
Pôde também verificar-se que, de uma forma geral, o número médio de perguntas por aluno e por teste
aumentou do primeiro para o segundo semestre, de 3,2 perguntas no 1º semestre, para 3,9 perguntas no 2º
semestre.
Considerando a análise das perguntas de acordo com o seu nível cognitivo, verificou-se que o maior número
de perguntas correspondeu aos níveis inferiores, com 47% de perguntas de ‘conhecimento factual’ e 40% do
nível da ‘compreensão’. Os níveis cognitivos superiores representaram 12% do número total de perguntas.
A análise das perguntas segundo a sua relação com a situação-problema revelou que, para as várias situações
de avaliação ao longo do ano lectivo, a maioria das perguntas não encontrava as suas respostas na informação
disponibilizada (68%). Foi também possível observar uma melhoria da qualidade das perguntas no decurso do
ano, relativamente a este parâmetro.
No que diz respeito à orientação para o problema constatou-se que, em todos os testes de avaliação, a maioria
das perguntas estava predominantemente orientada para aspectos gerais do problema. Os testes com maior
número de perguntas ‘não orientadas para o problema’ foram aqueles em que era mais evidente a sua relação
com aspectos sociais e/ou do quotidiano do que com os aspectos de química. Por sua vez, o maior número de
questões com uma orientação para os aspectos químicos do problema foram aqueles em que estes estavam mais
evidentes na descrição do problema.
Foi ainda possível relacionar positivamente as três variáveis de análise das perguntas. Assim, de uma maneira
geral, perguntas de baixo nível cognitivo apresentaram uma orientação geral e as suas respostas encontravam-se
parcial ou totalmente na informação. Por outro lado, perguntas de alto nível cognitivo, estavam geralmente
orientadas para aspectos químicos do problema e as suas respostas não se encontravam na descrição do
problema. Estas foram consideradas questões de qualidade superior por apresentarem valores elevados nos três
parâmetros de análise. Constatou-se que 80% dos alunos formulou pelo menos uma dessas questões no decurso
do ano lectivo. Verificou-se, ainda, que as questões de maior qualidade foram principalmente formuladas por
alunos com melhores resultados finais em Química. Os resultados globais são considerados positivos face à
complexidade das situações-problema e às suas especificidades.
Da análise das entrevistas realizadas, os alunos reconheceram uma melhoria na sua competência de
questionamento ao longo do ano lectivo. De uma forma geral, revelaram uma atitude positiva perante a
implementação das novas estratégias de avaliação, considerando-as um estímulo às suas capacidades de
raciocínio e de resolução de problemas. Todos os alunos salientaram a importância da avaliação formativa e,
fundamentalmente, das orientações do professor, legitimando a sua inclusão nos testes sumativos. Salientaram,
115
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
ainda, a importância do desenvolvimento desta competência não só na disciplina de química, mas também
noutros contextos académicos e, em termos futuros, como profissionais.
A integração das questões dos alunos na avaliação, com base na metodologia adoptada, foi concretizada com
sucesso, permitindo uma articulação com as estratégias de ensino e de aprendizagem promotoras dessa
competência nos alunos.
Referências Bibliográficas
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Bloom, B. S., Engelhart, M. D., Furst, E. J., Hill, W. H., & Krathwohl, D. R. (1956). Taxonomy of
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learning in chemistry education. Chemistry Education: Research and Practice in Europe, 2(1), 9-17.
116
Práticas de Ensino no Ensino Superior
Contexto da Prática
Na sequência da elaboração de uma proposta do Departamento de Biologia ao Projecto Qualidade de Ensino,
e da sua aprovação pela Reitoria da Universidade do Minho, deu-se início a uma experiência pedagógica
apelidada Ano Piloto da Licenciatura em Biologia Aplicada. Esta proposta “tinha como objectivo a integração, a
curto prazo, na Licenciatura em Biologia Aplicada, de novas metodologias de ensino/aprendizagem/avaliação,
mantendo em perspectiva a adopção de Bolonha. A opção estruturante deste projecto piloto consistia na
reorganização pedagógica em torno de um modelo de ensino/aprendizagem por blocos disciplinares, associado a
uma alteração das metodologias clássicas de leccionação/avaliação e a uma programação do ano lectivo que
considera a previsão do tempo do trabalho pessoal que o aluno terá de desenvolver, de acordo com o sistema
ECTS (European Credit Transfer System) preconizado pela Declaração de Bolonha”. Este projecto alternativo
foi inicialmente implementado no 2º ano curricular do Curso de Licenciatura em Biologia Aplicada, no ano
lectivo de 2004/2005.
O presente trabalho não é mais que um recorte de um álbum desse projecto-piloto e pretende relatar a
experiência que desenvolvi no ano lectivo 2004/2005 na unidade curricular de Genética, abrangendo um
universo de cerca de 40 alunos. Naturalmente, a participação num projecto desta natureza desencadeou
alterações variadas e mais ou menos profundas em termos da concepção dos docentes sobre o ensino, a
aprendizagem e a avaliação bem como relativamente às metodologias e práticas associadas, das finalidades e
competências estabelecidas, nos perfis delineados para o estudante e para o futuro Biólogo e na reorganização do
tempo e espaço educacionais, desdobrando-se em desafios constantes à gestão e formação dos professores
envolvidos. Adicionalmente, porque consciente dos crescentes desafios que a investigação em Biologia - ou em
Ciências, de um modo geral – impõe, norteava-me a preocupação de que os alunos adquirissem competências
que os fizessem encarar e responder eficazmente a novos problemas, sendo assim necessário propiciar ao aluno
as ferramentas essenciais à construção da sua autonomia como estudante do Ensino Superior e como futuro
Biólogo, em permanente formação, com as quais seria depois capaz de mobilizar estratégias cognitivas,
conceptuais, práticas e comportamentais para responder com competência a novos desafios.
Relato da Prática
A implementação desta experiência pedagógica teve início com a sua apresentação (Figura 1) aos alunos de
Genética, disciplina integrada no Ano Piloto da Licenciatura em Biologia Aplicada, à semelhança aliás do que
acontece normalmente numa 1ª aula de qualquer unidade curricular. Na altura, definiu-se o contexto da Genética,
apresentou-se o conteúdo programático, definiram-se os objectivos de aprendizagem, estabeleceu-se a
calendarização da disciplina bem como a sua planificação semanal e diária, clarificaram-se as metodologias de
ensino/aprendizagem, clarificaram-se os pressupostos subjacentes e propuseram-se os tipos de avaliação a
adoptar tendo o cuidado de explicitar os critérios envolvidos.
117
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Tempos Segunda Sala Terça Sala Quarta Sala Quinta Sala Sexta Sala
GENÉTICA 8.00
9.00
9.00
10.00
10.00
P1
11.00
11.00
12.00
13.00
P2
14.00
TP TP TP
15.00
15.00
16.00
16.00
P1 P1
17.00
17.00
P2
18.00
18.00
P2
19.00
19.00
20.00
A estratégia adoptada no que concerne as metodologias de ensino e aprendizagem, passou por transferir uma
maior autonomia e responsabilidade ao aluno, para que este fosse capaz de, de uma forma cada vez mais
autónoma, construir o seu próprio conhecimento. Neste processo, passou-se gradualmente de aulas de carácter
mais expositivo, ministradas pela docente, para apresentações orais de pequenos grupos de alunos – os
seminários – subordinados a determinados conteúdos programáticos restritos e específicos. Estes seminários
foram precedidos por sessões de auto-aprendizagem com estudo individual e em grupo, por sua vez orientadas
por resultados de aprendizagem previamente definidos e discutidos e dissecados em sessões presenciais
periódicas.
Em termos da avaliação procurei, relativamente a práticas anteriores, diversificar os tipos de avaliação e
tornar mais explícitos os critérios envolvidos em cada um desses tipos, convicta de que, assim, poderia melhorar
práticas já experimentadas e validadas e que uma avaliação seria tanto mais válida quanto mais diversificada
fosse. A estratégia adoptada em termos da tarefa avaliativa foi (re)pensada e discutida por todos os agentes
intervenientes no processo, tendo sido decidida/acordada após um pequeno período de reflexão. O diálogo com
os alunos foi sempre privilegiado e as suas opiniões auscultadas, tendo sido consideradas na elaboração e
redacção final dos tipos e critérios de avaliação (Figura 2).
AVALIAÇÃO
… as “regras do jogo” …
Critérios de avaliação
Os alunos tiveram a seu cargo a correcção de alguns problemas de hereditariedade resolvidos por um colega
nos vários mini-testes realizados no âmbito da disciplina, recorrendo para o efeito a uma grelha de correcção
contendo as respostas correctas e a respectiva classificação. Esta correcção foi, sempre, validada posteriormente
pela docente. Na elaboração dos seminários, cada aluno foi ainda interpelado a fazer a sua auto-avaliação dentro
do grupo no qual se inseriu (Figura 3) e, cada um dos grupos de trabalho procedeu ainda a uma avaliação dos
seminários apresentados pelos restantes grupos, de acordo com grelhas de correcção previamente definidas na
sala de aula (Figura 4). Neste contexto avaliativo, procurei implementar e estimular a auto, e a hetero-avaliação,
julgando assim estar a promover a importância da diversidade de opiniões e da análise crítica, apesar de os
alunos terem desde logo demonstrado maior resistência à adopção de tarefas de hetero-avaliação e maior
receptividade às de auto-avaliação.
PARÂMETROS PARA A AUTO-AVALIAÇÃO DOS GRUPOS DE TRABALHO
118
Práticas de Ensino no Ensino Superior
A B C D E F
2 Avaliação do Grupo 1
3 Cotação: Docente Grupo 2 Grupo 3 Grupo … Class. final
4 APRESENTAÇÃO
5 Ritmo
6 Coordenação
7 Gestão do tempo (30 minutos)
8 "Visual"
9 CONTEÚDO
10 Objectivos
11 Estrutura
12 Aspectos relevantes
13 Domínio dos conteúdos/nível de conhecimentos
14 ABORDAGEM
15 Originalidade
16 Exposição (enquadramento, compreensão, exploração)
17 Casos particulares/curiosidades
18 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
19 Tipo de bibliografia / qualidade da informação
20 Referências
21 Ilustração/imagens
22 SOMATÓRIO (20)
23 Classificações parciais e final (60% avaliação docente+40% média avaliação dos colegas)
24
119
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Começa-se por uma breve referência a factos e resultados com que se pretende justificar o interesse das práticas de
divulgação científica. Em seguida, desenvolve-se um pequeno comentário sobre as práticas relatadas, assinalando
alguns pontos que se antevê parecerem merecer destaque na discussão a realizar aquando da respectiva exposição
oral.
120
Práticas de Divulgação de Ciência
Na década de 80 do séc. XX, começaram a acentuar-se as preocupações com a compreensão da Ciência pelo
público e a necessidade de uma literacia científica popular mínima. Os cientistas, os políticos e os educadores
exigiam mais. Colocam-se, porém, com pertinência, as questões: O que se entende por compreensão pública da
Ciência?; Quando é que um indivíduo se pode considerar cientificamente letrado?
Extensos rios de tinta se têm gasto a tentar responder e a polémica persiste até na própria definição do
conceito de literacia científica. Assim, muitos consideram equivalentes as formas literacia científica, mais usada
nos Estados Unidos, o termo “compreensão pública da ciência” utilizado nas culturas anglo-saxónicas,
“alfabetização científica” usado nas culturas francófonas e mesmo “cultura científica” uma designação adoptada
pela UNESCO. Outros, porém, consideram que estas diferentes designações representam conceitos que, embora
relacionados, possuem significados distintos (Bybee, 1997; Burns et al., 2003) e acentua-se um progressivo
desvio da exigência da compreensão pública da Ciência (PUS) para uma maior consciencialização da Ciência
pelo público (PAS) e especialmente um maior envolvimento público na Ciência e na Tecnologia. Como referia
Massimiano (1998) “Understanding, awareness, engagement, participation: all approaches of science
communication which are important to build a sustainable relationship between science and society.”.
Outros autores usam ainda a expressão literacia científica e tecnológica, enfatizando a importância da
abordagem da tecnologia num contexto abrangente de ligação entre aspectos científicos e tecnológicos e de
ligação entre tecnologia e aspectos sociais (Fourez, 1994).
Numa breve revisão sobre as diversas concepções de cidadão cientificamente alfabetizado/letrado pode
constatar-se que não diferem substancialmente entre si nos objectivos principais, embora se distingam na ênfase
que atribuem ao grau de profundidade e especificação utilizados. De um modo geral, a definição de literacia
científica é multidimensional e engloba essencialmente um entendimento das normas e métodos da Ciência e de
termos e conceitos científicos chave e uma consciência e compreensão do impacto da Ciência e e da Tecnologia
na sociedade.
Os estudos mais recentes sobre o grau de literacia científica em Portugal revelam que os portugueses têm
consciência do défice de cultura científica que apresentam, não só sobre o seu grau de informação acerca das
recentes descobertas científicas e sobre as invenções e novas tecnologias, como e também sobre o grau de
conhecimento de conteúdos de Ciência. Muitos dos inquiridos afirmam ter fracos ou muito fracos conhecimentos
sobre a Ciência, com um número elevado a ambicionar melhorá-los. Este desejo de melhoria de conhecimentos
científicos acentua-se com o grau de escolaridade e diminui com a idade (Ávila et al., 2002; OCT, 2000). No
estudo internacional PISA 2003, Portugal encontra-se entre os países com resultados significativamente mais
baixos do que a média da OCDE e muito distanciado dos países que obtiveram melhores classificações médias
(Ramalho, 2004).
A divulgação científica assume um papel fundamental, na promoção da literacia científica considerada
condição primordial para uma intervenção activa e consciente do cidadão em geral. Contudo, a simples difusão
de notícias científicas não garante a participação do público no mundo da ciência. A educação informal é uma
das principais fontes de conhecimentos para o cidadão comum e provém maioritariamente dos media. Nem
sempre estes desempenham com rigor este papel. Questões como “Que informações e como se devem apresentar
através destes meios de comunicação? Que imagem da Ciência dão a conhecer? “, entre muitas outras colocam-
se com relevância e existe a percepção geral da necessidade de formação de profissionais que possam cumprir
este tão relevante papel adequadamente.
Os espaços de educação não formal, em particular os Museus e Centros de Ciência, devem constituir
alternativas credíveis e consideradas úteis pelo público, devendo almejar ser por ele cada vez mais procuradas.
Apesar de vir sendo cada vez mais valorizado e fomentado o papel dos Museus e Centros de Ciência como
ambientes de aprendizagem não formal, procurando ajudar a entender os avanços científicos e tecnológicos e a
criar uma maior proximidade entre quem faz ciência e o público em geral, no nosso país, a procura destas
instituições pelo público é ainda muito reduzida face à média europeia.
Com a progressiva consciencialização do importante papel educacional que os museus podem desempenhar e
com a criação do programa Ciência Viva, a situação de divulgação científica em Portugal viu-se melhorada
substancialmente, no que diz respeito à quantidade de oferta de actividades em prol da melhoria da literacia
científica do cidadão comum e, em particular, do ensino experimental e aprendizagem não formal das Ciências
por parte do público escolar. Assiste-se hoje, a um desenvolvimento nunca antes verificado, reconhecendo-se
esforços em numerosos sectores que vão da escola aos museus e centros culturais, às autarquias e aos meios de
comunicação social. Por outro lado, a comunidade escolar também vem solicitando, de maneira mais sistemática,
visitas de grupos de estudantes aos museus e suas exposições, tornando esta prática mais comum no âmbito das
acções educativas e culturais propostas na educação formal.
Pensamos que tudo isto justifica a pertinência de debates em torno destas questões e o relato de práticas mais
ou menos bem sucedidas pode constituir um ponto de partida para uma reflexão crítica, partilha de experiências
e estímulo à participação de todos neste combate por uma maior literacia científica do público em geral.
121
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
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Práticas de Divulgação de Ciência
Uma nota comum: a preocupação de avaliação em cada projecto. Em relato mais ou menos circunstanciado,
todos os projectos retratam uma avaliação positiva, mais uma vez comprovadora do sucesso deste tipo de
actividades nos diferentes públicos.
Referências Bibliográficas
Ávila, P. e Castro, P. (2002). Compreender a Ciência: o inquérito à cultura científica dos portugueses. In: Os
portugueses e a Ciência. Maria Eduarda Gonçalves (Ed.). Publicações D. Quixote, Lisboa.
Bybee, R. W. (1997). Achieving scientific literacy: From purposes to practices. Heinemann, Portsmouth, NH.
Burns, T. W., Connor, D. J. e Stocklmayer, S. M. (2003). Science Communication: a contemporary
definition. Public Understanding of Science, 12, 183-202.
Caldeira, M. H, Gutiérrez, J. O. e Landazábal, M. C. (2007). Educación Científica en España y Portugal: la
Formación de los futuros ciudadanos. In: Landazábal, M. C., Caldeira, M. H. e Gutiérrez, J. O. (coords.), La
Relevância Social de la Educación Científica, pp.115. UNED Ediciones, Madrid.
Fourez, G. (1994). Alphabétisation scientifique et technique. De Boeck-Wesmael, Bruxelas.
Massimiano, B. (1998). Science and the media, alternative routes in scientific communication. Routeledge,
New York.
OCT (2000). Relatório do Inquérito à Cultura Científica dos Portugueses. Observatório das Ciências e das
Tecnologias, Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Lisboa.
Pagels, H. (1989).The Dreams of Reason: The Rise of the Sciences of Complexity. Bantam Books, Inc.,
New York.
Ramalho, G.(2004). Resultados do Estudo Internacional, PISA 2003. Primeiro Relatório Nacional. Gabinete
de Avaliação Educacional, Ministério da Educação, Lisboa.
Snow, C. P. ( 1993). As Duas Culturas. Editorial Presença, Lisboa.
Isabel Machado [1] (responsável pelo CIRC), Maria Paula Pires [1] (colaboradora), Cátia Gomes [1]
(colaboradora), Tânia Fernandes [1] (colaboradora), Regina Gouveia (consultora),
Projecto para o Ensino Experimental das Ciências desde o jardim de infância até ao 9º ano (inclusive), a funcionar
na Escola Nicolau Nasoni, no Porto, visando a Sustentabilidade na Terra e procurando, sempre, transversalidades
com outras áreas nomeadamente a poesia. Partindo da exploração de textos poéticos, desenvolve-se com os alunos
um conjunto de actividades adequadas ao seu nível etário, que permita a exploração de conceitos científicos a
partir da experimentação e tendo em vista a sensibilização para um desenvolvimento sustentável. Assim, por
exemplo, a partir do poema Era uma vez… o vento (8) são explorados vários conceitos (energia eólica, entre
outros).
Contexto da Prática
Reconhecidos:
(a) O papel fundamental da escola (ao nível da sala de aula e de outros espaços menos formais) na
sensibilização de crianças e jovens para o Desenvolvimento Sustentável.
(b) A necessidade de essa sensibilização acontecer o mais cedo possível.
(c) A necessidade em melhorar o desempenho dos alunos portugueses ao nível das literacias no final da
escolaridade obrigatória.
(d) As potencialidades da componente experimental das ciências na promoção da literacia científica.
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Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
(e) A necessidade de se articularem diferentes áreas do saber (por ex. científicas e artísticas) para um
desenvolvimento integral da pessoa.
Considerou-se que um Centro Interactivo de Ciências (o CIRC no caso em análise) poderia dar um contributo
importante, criando situações formativas que procuram dar uma visão integradora das ciências, e destas com
outras áreas do saber, com vista ao desenvolvimento de competências de cidadania nos e com os alunos. Assim,
são objectivos do centro:
· Sensibilizar a curiosidade e o respeito relativamente ao mundo natural que nos rodeia.
· Desenvolver, desde cedo, uma literacia científica que ajude a compreender o mundo em que vivemos.
· Explorar o mundo em que vivemos através de múltiplas vias, nomeadamente a experimentação.
· Desenvolver a criatividade.
· Contribuir para o crescimento integral das crianças e dos jovens, numa perspectiva multi e
transdisciplinar.
As actividades, destinadas a alunos desde o jardim de infância até ao 9º ano (inclusive), são flexíveis, de
modo a permitir a adequabilidade a um público alvo tão diversificado.
Relato da Prática
O centro que, até ao momento, funciona no agrupamento vertical das Antas, destina-se, como foi referido, a
alunos desde o jardim de infância até ao 9º ano (inclusive) e as actividades são adaptadas aos diferentes níveis
etários. Antes de cada visita é explorado com os alunos, na sua escola, um poema de entre os seleccionados pelo
centro. Durante a visita os alunos realizarão actividades sobre fenómenos passíveis de serem relacionados com
conceitos científicos, implícita ou explicitamente referidos no poema. No sentido de ilustrar o que acaba de ser
referido, apresentam-se em seguida alguns dados de uma das muitas actividades propostas a partir do poema
“Era uma vez …o vento”(8), que previamente foi lido e explorado na escola pela professora de uma turma de
crianças de cinco anos. A propósito do excerto A história do vento perde-se no tempo. Começou há muito, muito
tempo quando começou a história do ar de que precisamos para respirar. Embora não o possamos ver -é
transparente - sabemos que à nossa volta está presente…….foram propostas às crianças diversas actividades
experimentais (usando seringas, tinas com água, balões, etc) que levam, de uma forma lúdica, a uma primeira
construção do conceito de corpos transparentes e de vento como ar em movimento. Por exemplo, em relação ao
primeiro conceito e, tendo em conta o nível etário das crianças, a definição de corpo transparente é
essencialmente operacional. Assim, partindo do excerto do poema que a seguir se transcreve *, as crianças
começam por reconhecer que não vemos o ar mas podemos ver através dele, o mesmo se passando com outros
corpos. De seguida, usando uma “fonte de luz” (nomeadamente uma “caixa de raios”) irão ver o percurso da luz
ao incidir em diferentes corpos, alguns deles transparentes e poderão assim aprofundar um pouco mais o
“conceito”: a luz ao incidir num corpo transparente “passa através dele”. A actividade com as “fontes de luz”
permite também levar os alunos a perceber que, para vermos um determinado corpo, é necessário, mas não
suficiente, que haja luz a incidir sobre ele e que, após essa incidência, a luz chegue até aos nossos olhos. Surgem
assim, embora sem a necessidade de lhes atribuir o nome, os conceitos de refracção e reflexão (difusa e
especular). É também a partir da mesma actividade que podemos levar os alunos a distinguir entre corpos
iluminados e luminosos.
* Embora não o possamos ver - é transparente -
sabemos que à nossa volta está presente.
Do mesmo modo não vemos a vidraça da janela, se limpinha,
e por isso há dias bateu nela a Joaninha
e ficou com um galo na cabeça.
Também o ar, embora não pareça,
não se consegue ver, mas está lá…..
Também, a propósito de outro excerto …. o vento que não é mais que o ar em movimento que hoje tão bem
faz girar, mesmo no cimo do monte, as asas dos geradores que de energia são fonte, gerando electricidade que
depois vai ser usada na aldeia e na cidade … foram propostas às crianças diversas actividades experimentais
(simulação de um gerador eólico, construção de um cata-vento, etc ). Para além do poema referido outros têm
vindo a ser explorados, nomeadamente Era uma vez …o mar(8)
Assim, e no que se refere ao exemplo anteriormente referido, após a visita ao CIRC as crianças fizeram
desenhos e expressaram a sua opinião (figura 1). Também a professora acompanhante avaliou a visita. O
entusiasmo das crianças durante a visita bem com os comentários feitos a posteriori, nomeadamente o desejo de
voltarem a visitar o CIRC , parecem reveladores do interesse do projecto. Os documentos de avaliação seguem
em anexo juntamente com fotografias mostrando as crianças em actividade.
Referências Bibliográficas
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Universidade do Minho, (117-130)
Cole, K. (2002), Primeiro constrói-se uma nuvem, Gradiva
Dawkins, R. (2000),Decompondo o Arco-Íris, Gradiva
Fiolhais, C. (2003), Física e Poesia têm pontos de contacto, Gazeta de Física, volume 26, fasc 1,(46)
Gedeão, A. (1984), Poemas Póstumos, Edições João Sá da Costa
Gouveia, R. (2000), Se eu não fosse professora de Física... Algumas reflexões sobre práticas lectivas, Areal
Editores
Gouveia, R. (2004), Educação em Ciências, Cultura e Cidadania: A poesia na sala de aula, Gazeta de Física,
volume 27, fasc 4, (40-43)
Gouveia, R. (2006), Era uma vez…Ciência e Poesia no Reino da Fantasia, Editora Campo das Letras
Lopes, J.B.(2004), Aprender e Ensinar Física, Fundação Calouste Gulbenkian
Moreira, I,. (2002), Poesia na sala de aula de Ciências ? A literatura poética e possíveis usos didácticos,
Física na Escola, vol 3, nº 1, (17,23)
Pozo,J. I. (1996), Las ideas del alumnado sobre la ciencia: de dónde vienen, a dónde van y mientras tanto qué
hacemos com ellas, Alambique, nº 7, Graó, (18-26)
Providência, C., Alberto, H., Fiolhais, C. (2004), Ciência a Brincar, Bizâncio e SPF
Providência, C., Costa, B., Fiolhais, C. (2004), Ciência a Brincar , Bizâncio e SPF
Providência, C., Reis, I.(2004), Ciência a Brincar 2, Bizâncio e SPF
Watts, M. (2001), Science and poetry: passion v. prescription in school science?, International Journal of
Science Education, vol 23, nº 2, (197-208)
125
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Trata-se de uma proposta de trabalho que tem por finalidade oportunizar aos estudantes um espaço, lúdico e
descontraído, de investigação – discussão – reflexão – construção de conceitos científicos, a partir dos princípios
físicos existentes no “funcionamento” de alguns aparatos tecno-científicos, tais como brinquedos e objetos de
decoração. Para tanto, buscando uma Aprendizagem Significativa dos conteúdos, levamos em consideração a
natureza do material (logicamente significativo) e a estrutura cognitiva do aprendiz durante todo processo de
aprendizagem.
Contexto da Prática
Estamos cercados de aparatos tecno-científicos que invadem nossas vidas e por vezes até influenciam o
nosso modo de viver. Esses aparatos (instrumentos, objetos de decoração, aparelhos, brinquedos ...) já fazem
naturalmente parte do nosso cotidiano, no trabalho, em nossas casas, no lazer, onde quer que estejamos.
Tomando como ponto de partida o “funcionamento” desses aparatos, e levando em consideração as
condições propícias para a ocorrência de uma Aprendizagem Significativa, desenvolvemos, a partir dos
princípios físicos existentes em alguns desses aparatos (brinquedos e objetos de decoração), uma prática
pedagógica com a finalidade de oferecer a estudantes da 8ª série (13-14 anos de idade) do Ensino Fundamental
um espaço para construção de conceitos da Física.
Com esse trabalho objetivamos despertar a curiosidade dos aprendizes e motivá-los para o desejo de estudar
Física, além de oportunizar-lhes atitude de investigação, promovendo, assim, uma (re) aproximação com o
campo das Ciências e abrindo possibilidades de explicar, à luz da Física, os fenômenos observados, bem como
utilizar os conceitos elaborados em outros estudos e no tratamento de novas situações.
Relato da Prática
O trabalho proposto foi desenvolvido com um grupo voluntário de 20 (vinte) estudantes, da 8ª série do
Ensino Fundamental do Colégio Gênesis na cidade de Feira de Santana (Bahia-Brasil), que se manifestaram
interessados em participar dessa atividade, após exposição da proposta feita pelo professor e mediador do
processo.
Para a realização do trabalho propriamente dito, os estudantes foram divididos em grupos de três e quatro
componentes.
O desenvolvimento metodológico constou de 08 (oito) etapas, assim distribuídas: (1) contextualização e
justificativa da proposta, feitas pelo professor; (2) observações, realizadas pelos estudantes (nos grupos ) sobre o
funcionamento dos aparatos, atentando para o fenômeno apresentado, e discussão entre eles sobre o observado;
(3) tentativa, por parte dos estudantes (baseada em seus conhecimentos prévios), de classificação dos fenômenos
observados conforme a área de conhecimento da Física; (4) descrição dos elementos que compõem os aparatos e
possíveis explicações sobre o fenômeno observado; (5) socialização(inicialmente nos pequenos grupos e
posteriormente com toda classe) das hipóteses elaboradas pelos estudantes e, com a mediação do professor,
construção dos conceitos e princípios físicos que explicam o fenômeno observado em cada objeto(aparato)
estudado; (6) ampliação dos estudos em Física a partir dos conceitos e princípios construídos e identificados nos
diversos aparatos estudados; (7) produção de textos explicativos abordando os conceitos e princípios físicos
existentes em cada aparato estudado; (8) avaliação processual e formativa da aprendizagem, tendo como
instrumentos: registros, produções textuais e observações do desempenho dos estudantes.
126
Práticas de Divulgação de Ciência
diferenciação, elaboração e estabilidade das suas concepções prévias e, conseqüentemente, da própria estrutura
cognitiva.
Referências Bibliográficas
ALVARENGA, B., MÁXIMO, A. (2003). Física, volume único, 318p..Editora Scipione, São Paulo.
MOREIRA, M. A. (c 1999). Aprendizagem Significativa, 130 p. Editora da UNB, Brasília.
VALADARES, E. de C. (2000). Física mais que divertida, 116p.Editora UFMG, Belo Horizonte.
Apresentamos um conjunto de actividades experimentais usadas no Centro Ciência Viva de Tavira relacionadas
com a fotossíntese. Usam-se várias técnicas laboratoriais para abordar desde os produtos da fotossíntese (amido e
oxigénio), aos organelos onde esta ocorre, passando pela dependência da luz e das características da luz eficiente.
Descrevemos ainda a execução e avaliação dum ensaio piloto de avaliação deste pacote de actividades.
Contexto da Prática
A fotossíntese é um aspecto comum a vários níveis de ensino e integrador de conhecimentos de Ciências
Naturais e Físico-químicas. Efectivamente, as orientações curriculares em toda a escolaridade englobam a
temática da fotossíntese de modo implícito ou explícito na compreensão da diversidade dos seres vivos, seja no
que respeita ao processo de produção de energia, seja para a compreensão dos conceitos de produtor e do papel
das plantas no equilíbrio dos ecossistemas (ME., 2001).
Este pacote de actividades foi desenvolvido no Centro Ciência Viva de Tavira, para alunos do 1º ao 3º ciclo,
no âmbito de parcerias com professores. A visita tem a duração de 90 minutos, na qual a turma é dividida em 3
grupos de 6 a 8 alunos por subconjunto de actividades.
O objectivo geral das actividades é conhecer a fotossíntese como um processo vivo e observável, mensurável
pelos seus produtos de reacção, e manipular alguns dos factores intervenientes, tornando possível:
Compreender a fotossíntese como um processo dependente da luz, tanto na produção de oxigénio como na
formação de amido como substância de reserva;
o Compreender que as plantas usam o amido para se alimentarem.
o Perceber que a luz verde não contribui para a fotossíntese.
o Conhecer as estruturas intracelulares onde ocorre a fotossíntese – os cloroplastos.
Um outro objectivo é o desenvolvimento de competências relacionadas com a execução de actividades
práticas laboratoriais, como sejam a leitura e interpretação de protocolos experimentais, o conhecimento e
destreza nos procedimentos utilizados em laboratório, a capacidade de realizar observações de resultados
experimentais e interpretá-los, integrando-os com os conhecimentos teóricos, e o despertar da criatividade
científica inerente à investigação.
Relato da Prática
Cada grupo desenvolve duas das seguintes actividades: O que produz a planta?; O amido mais perto; As
plantas e a produção de oxigénio; Observa os cloroplastos e E se o Sol fosse verde?. A integração dos
conhecimentos aprendidos por via dos vários subconjuntos de actividades na turma é feita posteriormente pelo
professor como um trabalho de partilha na sala de aula.
Cada grupo de alunos é acompanhado por um monitor do Centro Ciência Viva de Tavira, que promove uma
breve introdução ao tema geral e às actividades em particular, ajuda à organização do grupo para a realização das
tarefas e promove a reflexão e discussão dos resultados, introduzindo os conceitos necessários.
127
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Os alunos recebem o protocolo experimental das actividades e realizam-nas autonomamente como grupo de
trabalho, distribuindo as várias tarefas por todos.
A ficha da actividade contém perguntas que orientam a observação e a interpretação dos resultados, que são
respondidas e discutida pelo grupo.
O que produz a planta?
Esta actividade consiste na pesquisa e comparação da presença de amido em folhas de plantas, na presença e
ausência de luz. Usam-se folhas de malva previamente cobertas durante oito dias e folhas descobertas,
submetendo-as de igual modo a um processo de coloração com tintura de iodo.
O monitor introduz a experiência falando do objectivo principal da fotossíntese: a produção de glucose
(alimento), armazenado sob a forma de amido. O amido é explicado como sendo um hidrato de carbono muito
comum na nossa alimentação. Introduz-se também à técnica, explicando que o iodo reage quimicamente com o
amido apresentando uma cor púrpura, e por isso pode ser usado para identificar a sua presença.
Os alunos podem inferir a relação causal entre a presença de luz e a acumulação de amido e portanto, da
realização da fotossíntese, bem como reflectir sobre o significado do seu desaparecimento na escuridão.
O amido mais perto
Esta actividade, que complementa a anterior, consiste na observação microscópica de uma
amostra de batata, corada com tintura de iodo, de modo a se distinguir o amido nas células.
Com o mesmo objectivo, também se realiza a observação de folhas duma planta aquática,
elódea (Egeria canadensis), coradas como na actividade anterior.
As plantas e a produção de oxigénio
Pretende-se comparar a produção de oxigénio por plantas iluminadas e não iluminadas.
Insere-se um pedaço de elódea num copo com água, com um funil invertido por cima, terminando
numa proveta (figura 1). Toda a montagem deve estar cheia de água, para se medir o volume de
gás produzido. Os alunos preparam dois sistemas deste género, cobrindo um deles para promover a escuridão.
Ao fim de 20 minutos de iluminação, os alunos comparam o volume de gás produzido por ambas as plantas.
Questionam-se os alunos quanto à natureza e proveniência desse gás, revendo os conceitos da
fotossíntese. Figura 1
Apresentamos de seguida os resultados dum ensaio piloto realizado com 82 crianças de 4º ano.
Apresentou-se aos alunos um inquérito de diagnóstico, constando de 8 frases relacionadas com os conceitos-
chave a aprender, para que respondessem antes e depois da realização das actividades.
35
30
25
Inquérito Diagnóstico
Inquérto À Posteriori
20
Nº de alunos
15
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Nº de respostas acertadas
Gráfico 1 - Distribuição dos resultados dos inquéritos efectuados antes e depois das actividades experimentais
Houve em geral um aumento das respostas acertadas depois da realização das actividades experimentais
propostas (gráfico 1), podendo-se concluir que as actividades tiveram um impacto positivo nos conhecimentos
dos alunos.
No entanto, pode-se também notar que no pré-teste a quase totalidade dos alunos acertou a 50% ou mais das
respostas, o que traduz a necessidade da sua reformulação de modo a tornar mais evidentes os ganhos de
aprendizagem.
Inquirimos, ainda, os alunos quanto à sua percepção de satisfação, de aquisição de conhecimentos e de
facilidade na execução das actividades. A tabela 1 mostra as respostas dos alunos.
Questão Média
Gostaste da actividade? 5,7
Aprendeste algo novo? 5,5
Tiveste dificuldade em manusear o material? 4,7
Tabela 1- Média da avaliação das actividades, realizada pelos alunos, pela atribuição de um valor de 1 a 6.
Recolhemos também o parecer dos professores quanto ao interesse da visita. Segundo eles, os alunos
demonstraram muito interesse pelas actividades e prazer na sua realização. Os professores elogiaram a forma
como o trabalho estava organizado e o apoio e motivação dados aos alunos; deram particular ênfase ao facto dos
alunos terem adquirido novos conhecimentos sobre a fotossíntese.
Posteriormente à visita, os alunos também realizaram uma avaliação/relatório das actividades, dinamizada
pelo professor, da qual se depreende principalmente a satisfação na realização das actividades experimentais e a
apreensão de conteúdos por parte dos alunos. Consideramos que este tipo de reflexão à posteriori em contexto de
sala de aula e, portanto, totalmente desligado da influência do Centro, é de grande importância para consolidar a
aprendizagem e para avaliar os conceitos realmente apreendidos.
Relativamente a esta visita, consideramos que correu positivamente e que cumpriu a sua finalidade. A
impressão recolhida pelos monitores que a realizaram foi de que em geral tinha corrido bem, salvo o final das
actividades, em que os alunos já estavam muito dispersos.
Este estudo piloto de avaliação permite concluir da utilidade das actividades desenvolvidas para a
aprendizagem da fotossíntese e sugere um conjunto de procedimentos de avaliação que se desenvolverão no
próximo ano de modo mais sistemático.
129
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Referências Bibliográficas
Ardley, Neil (1996) 101 Experiências com a Ciência, Texto Ed, Lisboa.
Griffith, David (1999) Biology Labs with Computers Student Workbook – Activity B08: Rate of
Photosynthesis, PASCO Scientific, Roseville, California.
http://www.iit.edu/~smile/bi8904.html
http://www.iit.edu/~smile/bi9201.html
Vancleave, Janice (1994) Biologia para Jovens, 44-45, Ed. Dom Quixote, Lisboa.
Cientes da importância do trabalho prático no ensino das ciências e da dificuldade, por razões diversas, de
implementar esta modalidade de ensino desenvolvemos esforços para criar um espaço próprio. Desse esforço está
a nascer o Centro Regional de Ciências Experimentais onde procuramos proporcionar a alunos desde a mais tenra
idade a oportunidade de, recorrendo a materiais simples realizarem actividades práticas sobre diversos temas.
Durante o corrente ano trabalhamos com jovens do 1.º Ciclo e para o próximo ano planeamos intervir ao nível do
pré-escolar e 2.º Ciclo.
Contexto da Prática
O Centro Regional de Ciências Experimentais foi criado na Escola Secundária de Vila Cova da Lixa, no ano
lectivo 2006/2007 com o objectivo de implementar o ensino prático das ciências, com jovens do ensino pré-
primário ao ensino secundário, a metodologia de ensino, que a nosso ver é a mais adequada, para promover a
funcionalização dos conhecimentos, nos diferentes escalões etários. Pretendemos também mostrar que sem
grandes recursos se pode desenvolver o trabalho prático, adequando o grau de exigência de cada actividade, quer
em conhecimentos, quer em destrezas, às diferentes idades. Com os alunos mais jovens pode recorrer-se a
materiais reaproveitados e de uso corrente tornando acessível a qualquer escola e a qualquer professor promover
junto dos seus alunos o ensino prático.
Neste âmbito iniciamos as actividades com alunos do 1º ciclo de escolas das imediações, tendo contado já
com a presença de cerca de 250 alunos, de diferentes anos de escolaridade.
Relato da Prática
Já que um mesmo tema pode ser abordado ao longo de todo o processo educativo, de forma sucessivamente
mais aprofundada, optamos pelo tema “Água”. A este propósito realizaram-se actividades abordando:
Água na Terra
O ciclo da água
a) De onde virá a água da chuva?
Então, experimenta:
Precisas de: aquário com água + corante; proveta; funil; película plástica; algodão.
O que deves fazer:
- Coloca água misturada com corante no aquário até à altura aproximada de 3 cm.
- No centro do aquário, coloca a proveta graduada com o funil, que servirá para colectar a água condensada.
- Cobre o aquário com a película de plástico de forma que o sistema seja vedado fazendo uma inclinação em
direcção ao funil.
130
Práticas de Divulgação de Ciência
- Coloca sobre a película uma camada fina de algodão que deverá ser mantida húmida durante a experiência
para que esta área permaneça resfriada.
- Monta a experiência em local exposto à luz solar durante o período de observação.
- Ao longo da semana vai registando o que observas.
Contaminação da água e tratamento sumário da água
a) Poderemos transformar água suja em água mais limpa?
Então, experimenta.
Precisas de: garrafa de água suja; garrafão vazio; pedaço de algodão; seis mãos de areia fina; seis mãos de
areia mais grosseira.
O que deves fazer:
- Corta o garrafão abaixo da parte cónica.
- Coloca esta espécie de funil invertida sobre o resto do garrafão.
- Dentro do funil coloca o algodão.
- Sobre o algodão deita a areia fina e sobre esta a areia mais grosseira.
- Despeja a água suja lentamente no funil.
- Observa com atenção a água que vai caindo na garrafa cortada.
c) Poderemos “tirar” a água da lama?
Então, experimenta.
Precisas de: recipiente com lama; toalha.
O que deves fazer:
- Coloca o recipiente com lama num ponto alto.
- Coloca a toalha com uma das pontas dentro da lama e a outra caindo para um recipiente que esteja abaixo
do recipiente com lama.
Características físicas e químicas da água
a) Se me congelares, rebento!
Já alguma vez aconteceu em tua casa, alguém se esquecer de uma garrafa de vidro cheia de água no
congelador e ela rebentar?
Então, experimenta.
Precisas de: garrafa com água; congelador.
O que deves fazer:
- Marca com uma caneta de acetato o nível de água na garrafa.
- Coloca a garrafa no congelador.
- No dia seguinte retira a garrafa do congelador e verifica o “nível” da água congelada.
Densidade dos líquidos
a) Como se comportam os diferentes líquidos quando se juntam num mesmo recipiente? E se juntarmos
diferentes sólidos?
Então experimenta.
Precisas de: copo de vidro alto; água; corante alimentar; azeite; mel; álcool etílico; pedaço de borracha;
pedaço de palito; pedaço de rolha; plástico.
O que deves fazer:
- Deita um corante alimentar na água, de maneira, a que esta fique ligeiramente corada. (a adição do corante
é feita para tornar mais fácil a visualização das fases)
- Deita a solução de água com corante alimentar no copo.
- De seguida, cuidadosamente, deita o azeite na superfície da água corada. (podes fazer a adição com a ajuda
do cabo de uma colher de mesa)
- Depois, adiciona o álcool etílico.
- Finalmente, adiciona o mel.
- Deita os sólidos, um de cada vez, no copo.
Mais quente ou mais frio
131
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
a) Ao nadar num lago, já alguma vez foste mais ao fundo, longe da superfície lisa e achaste que a água
estava, de repente, mais fria?
Então, experimenta.
Precisas de: dois balões pequenos; dois frascos grandes e altos; água da torneira quente e fria.
O que deves fazer:
- Enche cada um dos balões com água fria, enrola as extremidades e dá-lhe um nó apertado para manter a
água lá dentro. (Se a água da torneira não estiver muito fria, deita um pouco de água num jarro e acrescenta-lhe
gelo antes de encher os balões.)
- Enche um dos frascos até meio com água fria da torneira e outro com água quente.
- Coloca um balão cheio de água em cada um dos frascos.
Água como solvente
a) O nível de um copo de água mais um copo de açúcar é igual ao nível de dois copos de água?
Então, experimenta.
Precisas de: - frasco de vidro grande; caneta de acetato; papel absorvente; copo medidor; água; açúcar.
O que deves fazer:
- Despeja um copo de água para dentro do frasco e marca, com caneta de acetato, o nível que ela atinge.
- Acrescenta um segundo copo de água e, de novo, marca o nível da água.
- Despeja toda a água do frasco e seca por dentro com papel absorvente.
- Despeja um copo de água para dentro do frasco e acrescenta um copo de açúcar.
- Mexe bem e verifica o nível do líquido.
Cristalização
a) Como se obtém o sal nas salinas?
Então, experimenta.
Precisas de: - cloreto de sódio; tina.
O que deves fazer:
- Deita água quente na tina e dissolve cloreto de sódio até à saturação.
- Observa e regista os resultados ao fim de uma e duas semanas.
Solução camaleão
a) Como saber se uma solução é ácida, básica ou neutra?
Então, experimenta.
Precisas de: panela; fogão; coador; faca; tábua de cozinha; cinco copos; couve-roxa; água destilada; água da
torneira; sumo de limão; vinagre; detergente limpa-vidros; sabão.
O que deves fazer:
- Corta em pedacinhos, uma ou duas folhas de couve-roxa (bem roxa). (deves cortar a couve sobre uma tábua
de cozinha, para ser facilitado o próximo passo da experiência)
- Leva pelo menos 1 litro de água destilada à ebulição. O aquecimento da água pode ser feito num fogão a
gás, com a ajuda de uma panela.
- Quando a água atingir a ebulição, tira a panela do fogão e deita a couve na água. (deverás ter cuidado com o
manuseamento da panela com a água a ferver, pois pode causar graves queimaduras)
- Deixa arrefecer a água destilada com a couve-roxa até esta ficar fria. Depois coa o líquido resultante. O
líquido deve ter uma cor roxo - avermelhado - escura.
- Começa por deitar um pouco da solução de cozimento da couve-roxa nos cinco copos disponíveis.
- Deita sumo de limão no primeiro copo.
- No segundo copo deita vinagre.
- No terceiro copo deita água destilada.
- No quarto copo deita detergente limpa-vidros.
- Finalmente, no quinto copo coloca um pedaço de sabão triturado.
- Repara na mudança da cor das soluções.
Visto tratar-se de miúdos muito jovens (6-9 anos) e sem experiência neste tipo de actividades procuramos
motivá-los estabelecendo paralelo com situações do dia-a-dia e cada tema a abordar. Com questões simples
132
Práticas de Divulgação de Ciência
orientamos os jovens para o trabalho prático a realizar de forma a facilitar a concretização deste. Em cada
actividade foi solicitada a participação de diferentes alunos.
Todas estas actividades integram um guião de trabalho prático que o aluno foi seguindo e sucessivamente
registando as suas observações e conclusões, com o apoio dos professores acompanhantes.
Para cada situação experimental foram colocadas questões, tais como:
O que observaste?
Que conclusões podes tirar?
Compara os resultados com a ideia que tinhas inicialmente.
Ao constatarmos a dificuldade em tirar conclusões frequentemente auxiliávamos os alunos nessa fase do
processo discutindo, em conjunto, os resultados obtidos.
Referências Bibliográficas
Breckenridge, J. (1998). Experiências Simples de Física com Materiais Disponíveis. Bertrand Editora, Venda
Nova.
Cachola, A. & Tomaz. M. A. (1992). Colecção de Fichas. Lisboa: Texto Editora, Lda. 1ª edição, Lisboa.
Charpak, G. (1998). Crianças – Investigadores e cidadãos. Horizontes Pedagógicos. Instituto Piaget, Lisboa.
Loeschnig, L. (1998). Experiências Simples da Terra com Materiais Disponíveis. Bertrand Editora, Lisboa.
Loeschnig, L. V. (1998). Experiências Simples de Química com Materiais Disponíveis. Bertrand Editora,
Venda Nova.
Projecto “ABC da Ciência”. Ciência Viva – Ministério da Ciência e Tecnologia, Lisboa.
Ribeiro, M.G. et al. (2004). Educação – Soluções e Solubilidade. Centro de Química da Universidade do
Porto, Porto.
http://www.educa.fc.up.pt/experiências
www.sitiodosmiudos.pt
133
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
Anabela Fátima Coelho [1], Maria de Fátima Moura [2], Norberto Magalhães [3], Paula Fernandes [4]
Neste trabalho descreve-se a actividade Laboratório Aberto, que tem vindo a desenvolver-se nos últimos anos
na escola EB2,3/S de Murça e promovida pelos docentes do departamento de ciências exactas e experimentais. A
actividade consiste na demonstração de princípios e leis das ciências físicas e naturais de forma científico/lúdica,
realizadas pelos alunos do ensino secundário, e levando o espectador a satisfazer a sua curiosidade em relação às
ciências e a sua relação com o quotidiano. Esta actividade tem suscitado muito interesse na comunidade escolar
que é observável pelo crescente número de participantes desde a primeira vez que foi realizada.
Descrição da actividade
A actividade Laboratório Aberto iniciou-se no ano lectivo 2001/ 2002, com o objectivo de divulgar e motivar
os alunos para a ciência e desde essa data realiza-se anualmente, tendo inclusivamente sido alargada a toda a
comunidade educativa. Começou por ser uma apresentação dos trabalhos experimentais desenvolvidos pelos
alunos no âmbito das disciplinas da componente técnica, as Técnicas laboratoriais de Química e de Biologia,
tendo sofrido alterações ao longo destes anos no que diz respeito aos seus pressupostos.
A actividade encontra-se dividida em três momentos chaves: a preparação prévia, a execução e por último, o
balanço da actividade.
A preparação é feita um dia antes da abertura da actividade ao público. Por tradição, a actividade tem-se
realizado nos dois últimos dias do final do 2ºperíodo. As experiências/demonstrações que os alunos do ensino
secundário do curso de Ciências e Tecnologias e professores recolhem são seleccionadas a partir de livros,
programas do ministério da educação, programas de televisão, revistas de divulgação científica, Internet, etc. e
são preparadas com cuidado, havendo lugar a um ensaio prévio para diagnóstico das potencialidades de
execução. Os alunos preparam, com a ajuda do professor, a explicação do fenómeno recorrendo a uma
linguagem simples e adaptada à faixa etária de cada grupo, não descurando a cientificidade do fenómeno. O
material de cada experiência é depois colocado nos respectivos Laboratórios, em local previamente definido
pelos professores organizadores, e ao lado de cada experiência inclui-se um pequeno texto que ajuda a
complementar a informação prestada pelos alunos apresentadores.
Quanto às experiências a demonstrar, estas devem obedecer a alguns requisitos: não utilizar substâncias
perigosas, serem de fácil execução e manuseamento, estarem relacionadas com o quotidiano e serem de fácil
compreensão. De forma a aumentar a motivação são seleccionadas experiências visualmente atractivas, com
mudança de cor, aparecimento de gases, formação de espumas, estalidos, entre outros aspectos motivadores de
134
Práticas de Divulgação de Ciência
espanto e atenção. Os materiais necessários à sua execução encontram-se disponíveis nos laboratórios e os
restantes são encomendados previamente por forma a garantir a disponibilidade do material no dia da execução.
Durante a execução da actividade, os alunos vestem as batas e são “cientistas” por um dia notando-se uma
enorme satisfação nos seus rostos. Todos são conhecedores das experiências apresentadas, a fim de garantir a
rotatividade dos elementos, e interagem constantemente com o público em pequenos grupos previamente
distribuídos pelos docentes responsáveis. Estes grupos são compostos pelos alunos da escola do 5º ao 12ºano,
que foram previamente avisados da hora a que poderiam visitar o Laboratório Aberto. Os alunos do ensino pré-
escolar e do 1ºciclo do agrupamento são convidados atempadamente e vêm à actividade num dos dias,
acompanhados da respectiva educadora/professora. A participação de professores de outras áreas do saber bem
como os auxiliares de acção educativa também tem vindo a aumentar. De facto, estes elementos têm
demonstrado igualmente um forte entusiasmo pela actividade. A próxima aposta do grupo organizador pretende
trazer os pais/EE à actividade mas tal ainda não foi conseguido por dificuldades logísticas e de calendarização.
De facto, a realizar-se a actividade para tal público, terá que repensar-se o horário da actividade para que o
número de pais/EE que possam vir à escola seja o maior possível.
Avaliação da actividade
A avaliação que se tem feito da actividade é claramente positiva. Por um lado, os docentes das substruturas
envolvidas justificam a pertinência da actividade e por esse motivo incluem-na todos os anos no plano anual de
actividades do agrupamento. Por outro, os alunos envolvidos demonstram grande motivação e empenho
desenvolvendo competências diversas nos domínios do saber ser, saber estar e saber fazer.
Esta actividade tem sido muito elogiada por parte da comunidade escolar nomeadamente pelo Presidente da
Assembleia do Agrupamento, pelo Presidente da Associação de Pais e Encarregados de educação e pelo
Presidente do conselho Executivo na qualidade de responsável pelo Órgão de Gestão do agrupamento. Também
os restantes departamentos curriculares da escola expressam-se favoravelmente em relação a esta actividade.
O balanço da actividade é sempre feita com os alunos, no seio da sala de aula, e com os docentes envolvidos,
no seio das reuniões de departamento de Ciências Exactas e Experimentais.
Pelo exposto concorda-se que é necessário e urgente um forte compromisso com a ciência por parte dos
governos, da sociedade civil e do sector produtivo, bem como um compromisso igualmente forte dos cientistas e
das escolas. Possibilitando aos jovens o acesso à ciência recorrendo à demonstração experimental de fenómenos,
a faceta mais divertida da ciência é posta em evidência e o gosto pela mesma sai reforçada.
Referências Bibliográficas
CARRASCOSA, Jaime, M; GIL, Daniel Pérez (2005) Papel de la actividad experimental en la educación
científica, Caderno Brasileiro do Ensino da Física (23), 157-181.
GALVÃO, Cecília; REIS, Pedro; FREIRE, Ana; OLIVEIRA, Teresa; (Junho, 2006), Planear,ensinar,
desenvolver e avaliar competências – síntese do que se sabe; Edições Asa, capitulo 1 (11-21).
GALVÃO, Cecília; REIS, Pedro; FREIRE, Ana; OLIVEIRA, Teresa; (Junho, 2006), Exemplos de
intervenção em contextos educativos – visitas de estudo, recolha e classificação de material, realização de
projectos e actividades experimentais, discussões – tipo, portefólios; Edições Asa, (9-67).
GIL, Daniel; VILCHES, Amaparo (2004) Contribución de la ciência a la cultura ciudadana, nº16 (3), 259-
272.
LOPES, J. Bernandino, (Março 2004), Aprender e ensinar Física, Fundação Calouste Gulbenkian (243-289).
SÉRÉ, M.G.; COELHO,M.S.; DIAS, N.A. (2003), O papel da experimentação no ensino da Física , Caderno
Brasileiro do Ensino da Física (20).
http://www.unesco.pt/pdfs/ciencia/docs/Declaracaociencia.doc.
135
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
C. Pires [1], H. Caldeira [1], P. Redol [2], E. Antunes [1], G. Pereira [1], V. Gomes [2], C. Santos [2], C.
San-Bento Santos [3], C. Pinheiro [3], D. Cruz [4], E. Lopes [4]
Relatam-se iniciativas do Museu de Física da Universidade de Coimbra, relacionando Física com diversas
manifestações de Arte. Assumindo como vocação imprescindível do Museu a educação, promoveram-se
actividades complementares destinadas a alunos do Ensino Básico. Os resultados, muito satisfatórios, foram
avaliados pela apreciação de alunos e professores. Permitem concluir ser possível unir Ciência e Arte em prol de
uma educação mais dinâmica e interdisciplinar. No que respeita ao contributo para uma melhor cultura científica
da comunidade, considera-se igualmente, uma experiência altamente positiva colocar, através do trabalho artístico,
o conhecimento científico como foco de atenção de públicos não despertos para a Ciência.
Contexto da prática
Como afirmou recentemente Cachapuz (2007), “Arte e Ciência reflectem o potencial criativo do Homem
como fazedor de símbolos, seja uma obra prima de Chagal ou uma equação da Mecânica Quântica. Ambas
representam a luta do Homem contra a perda da sua finitude e em ambos os casos ajudam a corrigir a estreiteza
do senso comum. O que as distingue é o modo como o fazem e os produtos a que chegam.”
É notório o facto de como a dicotomia entre Ciência e Arte é ainda o paradigma vigente para muitos, retrato
da visão ainda persistente da existência de duas culturas, ao invés da integração de pleno direito da Ciência na
Cultura. Ficou bem conhecida a preocupação de Snow (1993) que alertava para que a separação existente
Ciência e Arte dificultava a busca pela solução de graves problemas que afectavam a Humanidade.
No campo educacional, inclusivamente, a divisão entre Ciências exactas e Humanidades, sem quaisquer
relações interdisciplinares contribui para acentuar este estigma. Como se não fosse necessária a emoção nas
Ciências e o raciocínio nas Humanidades... (Carvalho, 2006). Esta autora recorda, ainda, as palavras de Pujol, “A
ciência fornece a motivação racional, que nutre a intuição estética e artística, e a arte oferece instrumentos
intuitivos para se apropriar dos conceitos que a Ciência propõe.”.
Procurar relações entre Ciência e Arte pode parecer tarefa difícil, mas as aproximações entre estes dois
campos da cultura são bem maiores do que se imagina habitualmente. Neste trabalho procuramos justificar esta
afirmação, descrevendo como o Museu de Física da Universidade de Coimbra se estabeleceram pontes entre a
Física e a Arte.
Relato da Prática
Física e Teatro
Alicerçados num discurso simples e dinâmico, direccionado prioritariamente às camadas mais jovens,
Eureka! Uma viagem mágica ao mundo da Física e Physicomic constituíram espectáculos de natureza
transdisciplinar, baseada nas linguagens universais do gesto, da mímica e da pantomima, da acrobacia, da dança,
da música e do clown. Os espectáculos foram imaginados a partir de situações do quotidiano onde se evidenciam
alguns princípios e conceitos físicos. As leis do movimento, a inércia, a gravidade e a queda dos corpos, a óptica,
são algumas das áreas em destaque. Já a peça Sol e Lóquio usa primordialmente a História da Física em
conjugação com alguns mitos em torno do Sol, contrastando-os com a sua desmontagem à luz da Ciência.
É essencial que as idas aos Museus não surjam como episódios isolados das restantes actividades curriculares
e extra-curriculares, mas antes, dialecticamente, se harmonizem com elas; sejam, cuidadosamente, preparadas
por professores e alunos e, pelo menos, alvo de posterior actividade reflexiva (Freitas, 1999). Para que a
aprendizagem efectuada em Museus seja frutuosa, muitos autores advogam três fases para a preparação da visita
- antes, durante e após a visita -, salientando que a qualidade da preparação prévia da visita na sala de aula, as
actividades no Museu de Ciência e as actividades depois da visita são todos aspectos importantes da sua
preparação (Stevenson, 1994; Rennie e McClafferty, 1995; Brooke e Solomon, 1996; Anderson, Lucas, Ginns e
Dierking, 2000, entre muitos outros). Contudo, muitos professores não fazem o trabalho de preparação pré e pós-
visita (Griffin, 1994; Tuckey, 1992). Conscientes desta realidade, delineámos actividades em forma de
passatempos, para realização na sala de aula, posteriormente à visita, com atribuição de prémios individuais e
136
Práticas de Divulgação de Ciência
para as escolas. Para apoiar o professor, elaborámos pequenas brochuras com a explicação dos fenómenos
recriados no palco.
Física e Pintura
Ler uma imagem é interpretar signos, identificar os seus significados, tendo em conta que esta é,
simultaneamente, a captação e figuração de uma determinada realidade e a expressão individual do seu autor,
através da qual este faz uma representação da sua percepção pessoal da realidade em determinadas coordenadas
espaço - temporais. De facto, o sentido da visão é aquele que permite ao ser humano melhor conhecer o mundo
que o rodeia. A luz e a cor são elementos fundamentais para a compreensão desse mundo, do espaço que o
envolve, o que está longe e o que está perto, os volumes, etc.
Na Arte, e na Pintura em particular, a cor é especialmente importante. É através dela que o pintor transmite
os seus sentimentos, as suas intenções e define as formas. A evolução do conhecimento acerca da luz e da cor, na
Arte e na Ciência, podem ser analisados como processos complementares: a cor / pigmento é a substância que
permite ‘imitar’ os fenómenos da cor / luz, o processo de formação de cores através dos diferentes pigmentos da
paleta do pintor baseia-se em métodos físicos, em que a luz ao atingir a camada de pigmentos sofre processos de
reflexão, absorção e transmissão produzindo assim a(s) cor(es) desejada(s). O estudo da relação entre as duas
áreas do conhecimento revela-se igualmente fértil se analisado através da tecnologia. É sobejamente conhecido o
uso, pelos artistas, de mecanismos e aparelhos ópticos desenvolvidos pelos filósofos naturais para estudo de
determinados fenómenos ópticos.
A exposição O Sol do Pintor. Olhares Transversais, propõe uma leitura das obras de arte e instrumentos
científicos, como produto de um contexto alargado no qual o conhecimento científico e o desenvolvimento
tecnológico se entrecruzam com a criação artística. Pretende, assim, sensibilizar para uma visão abrangente e
enriquecedora da complementaridade do conhecimento científico (História da Ciência) e da prática artística
(História da Arte). A abordagem pedagógica é feita através de módulos interactivos que integram a exposição,
construídos pelo Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra, e de actividades paralelas, como ateliers,
visitas orientadas, etc.
Figura 2. Exposição O Sol do Pintor. Olhares Transversais (Museu de Física da Universidade de Coimbra)
e a palavra, e conta histórias da História da Física. Proporciona o contacto das crianças com temas de
cruzamento entre a Física e a expressão artística, num contexto que contribui para uma situação de atenção e
debate capaz de despertar a curiosidade e, por vezes, mudar a atitude das crianças e jovens em relação ao
conhecimento científico.
A aproximação entre física e literatura tem igualmente servido de base a outras actividades do Museu de
Física. Poderemos enunciar a actividade Museu dos pequenitos, em que um conto serve de pretexto a uma
viagem pelos instrumentos de Física expostos no Museu (Caldeira, 2004), ou Conto contos com cor, no âmbito
da exposição temporária O Sol do Pintor. Olhares transversais.
Nestas actividades, o cruzamento entre as diferentes áreas epistemológicas é conseguido sobretudo a partir da
imaginação desencadeada pela audição de histórias, estórias e contos. Pretende-se, ainda, que esta abordagem
sirva de estímulo ao gosto pela leitura, essencial na formação integral de crianças e jovens.
Referências Bibliográficas
Anderson, D., Lucas, K.B. e Ginns, I. S. (2000). Theoretical perspectives on learning in an informal setting.
Journal of Research in Science Teaching, 40 (2), 177-199.
Brooke, H. e Solomon, J. (1996). Hands-on, brains-on; playing and learning in an interactive science centre.
Primary Science Review, 44, 14-16.
Cachapuz, A. F. (2007). Arte y Ciência: Que papel juegan en la educación Ciencias?. Rev. Eureka. Enseñ.
Divulg. Cien. 4 (2), 287-294.
Caldeira, H. (2004). Museu de Física. Percursos para os mais pequenos. Rua Larga, Revista da Reitoria da
Universidade de Coimbra, 3, 33-34.
Carvalho, S. (2006). Física, Astronomia, Teatro e Dança. Física na Escola, 7, 11-16.
Freitas, M. (1999). Os Museus e o Ensino das Ciências. Comunicar Ciência, Ano I, 3, 1-7.
Griffin, J. (1994). Learning to learn in informal science settings. Research in Science Education, 24, 121-128.
Rennie, L. e McClafferty, T. (1995). Don’t compare, complement: Making the best use of Science Centres
and Museums. Research Information for Teachers, 1, 1-4.
Snow, C. P. ( 1993). As Duas Culturas. Editorial Presença, Lisboa.
Stevenson, J. (1994). Getting to grips. Museums Journal, 5, 30-32.
Tuckey, C. J. (1992). Scoolchildren’s reactions to an interactive science centre. Curator, 35, 28-38.
138
Práticas de Divulgação de Ciência
Este estudo desenvolve-se à volta da confluência de duas linguagens – a da Ciência e a da Poesia – socorrendo-se
de exemplos da Poesia portuguesa do século XX. Exploram-se intersecções/articulações entre estas duas áreas da
criação humana, na convicção de que se contribua para um enriquecimento cultural, designadamente no tocante à
comunicação da Ciência e à promoção da chamada cultura científica. Exploram-se pontes entre a Poesia e a
Ciência numa perspectiva integradora de saberes. Em especial, conceberam-se e implementaram-se várias
actividades, privilegiando a diversidade, baseadas em poemas de Fernando Pessoa, Vitorino Nemésio, António
Gedeão, José Saramago, Eugénio Lisboa e Adília Lopes.
Contexto da prática
O presente trabalho constitui a parte principal de uma dissertação no âmbito do Mestrado em Comunicação e
Educação em Ciência da Universidade de Aveiro. O propósito geral do projecto era explorar confluências entre
Ciência e Poesia, duas linguagens por vezes tidas como inconciliáveis, procurando, ao mesmo tempo, ajudar a
criar uma perspectiva transversal e integradora de saberes e uma utilização da Poesia como instrumento
complementar para a comunicação da Ciência, designadamente em centros interactivos. O projecto haveria de se
centrar na Poesia portuguesa do século XX. Perante a, talvez inesperada, vastidão e variedade de exemplos,
procedeu-se a uma selecção representativa de obras de poetas portugueses desse século. Com vista a uma melhor
exploração do binómio Poesia-Ciência nestes exemplos, foram desenhadas, construídas, implementadas e
avaliadas diversas actividades, que constituem, também, um ponto de partida para trabalhos futuros.
O público-alvo foi constituído, sobretudo, por visitantes do Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra,
com idades variadas conforme a natureza da actividade. Tirou-se, igualmente, partido de um dos módulos
interactivos da exposição Sol do pinto e respectivos visitantes.
Relato da prática
O poema de Fernando Pessoa Doze signos do céu o Sol
percorre integra as actividades de Astronomia que o Exploratório
desenvolve num dos cubos de vidro do Parque Verde do
Mondego:”Sol ao cubo” (Sol3) (Fig.1). Estas actividades incluem a
construção de vários instrumentos – relógios de Sol, astrolábios,
etc. – além de observações do Sol (e observações nocturnas). Nesta
primeira fase do estudo, o poema surge como parte-desafio de um
cenário centrado na Ciência, sendo os visitantes, sobretudo adultos,
confrontados com tal desafio,
… …
Ficções da nossa mesma consciência,
Jazemos o instinto e a ciência.
E o sol parado nunca percorreu
Os doze signos que não há no céu.
139
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
desenvolveu-se uma actividade especialmente com alunos do 3º ciclo, com base num programa multimédia,
construído no Exploratório, que executa a estatística dos utilizadores de acordo com algumas das suas
características genéticas: cor dos olhos e do cabelo, forma do nariz, etc….impressão digital. Nesta sequência,
desafiaram-se os participantes a colocarem perguntas relacionadas com este tema.
Como se poderia esperar, foram vários os poemas de António Gedeão utilizados:
A partir do poema Catedral de Burgos,
140
Práticas de Divulgação de Ciência
O burro puxa
o carro
o carro puxa
o burro
graças ao atrito
que tudo resolve
do sexo ao ciclotrão
o carro anda
o burro anda Figura 5 – Participantes a medir as
e a lei da acção-reacção intensidades das forças
que exerciam um sobre
141
Relatos de Práticas: A Voz dos Actores da Educação em Ciência em Portugal
não é violada
mas esta história
está mal contada
o próprio poema foi utilizado como instrução para uma experiência com duas pessoas, cada uma em sua
plataforma móvel, uma a simular o burro e outra a carroça (Fig.5). É uma actividade sobre Mecânica em que os
participantes, por um lado, concluem da necessidade do atrito para que se inicie o movimento e, por outro, se
interrogam sobre o que é que justifica os dois últimos versos (mas esta história / está mal contada).
Foram, ainda, esboçadas quatro actividades para desenvolvimento futuro, relacionadas com os poemas
Lágrima de Preta, Poema para Galileu e Mãezinha de António Gedeão e o livro O Ilimitável Oceano de Eugénio
Lisboa, que contemplam, respectivamente, a análise de águas, a queda dos graves, a resolução de equações (a
nível de iniciação) e a História da Ciência.
Referências bibliográficas
GAMMON, B. (2003) Assessing learning in museum environment – A practical guide for museum
evaluators, Science Museum, Londres.
RENNIE, L. (2006), The Impact of Science Centers/Museums on their Surrounding Communities: Summary
Report, Apresentação na Conferência Asia Pacific Network of Science & Technology Centres (ASPAC),
http://www.astc.org/resource/case/Impact_Study02.pdf Disponível em: 16 de Maio de 2007.
142
COMISSÕES DO XII ENEC
Comissão Organizadora
J. Bernardino Lopes (Presidente)
J. Paulo Cravino (Vice-Presidente)
Ana Edite Cunha (Vice-Presidente)
Helena Santos Silva (Vice-Presidente)
João Carlos Baptista (Vice-Presidente)
Comissão Científica
Alice Fontes (UTAD)
Ana Freire (UL)
António Alberto Silva (ESE IPP)
António Cachapuz (UA)
Conceição Duarte (UM)
Fátima Paixão (ESE IPCB)
Helena Caldeira (UC)
Isabel Martins (UA)
J. Bernardino Lopes (UTAD) (Presidente)
João Praia (UP)
Joaquim Sá (UM)
Laurinda Leite (UM)
Luís Marques (UA)
Luísa Veiga (ESE IPC)
M. Jimenez Aleixandre (U.S. Compostela)
Maria Odete Valente (UL)
Mário Freitas (UM)
Nilza Costa (UA)
Pedro Membiela (U.Vigo)
Phil Scott (U. Leeds)
Victor Trindade (UE)
Comissão de Profissionais
Daisi Silva
Dorinda Rebelo
Idalina Martins
José Manuel Lopes
José Paulo Cravino
Lucília Santos
Manuela Jorge
Margarida Morgado
Margarida Teixeira
Regina Gouveia
Virgínia Sousa
143