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CPI BANCOOP - 15ª Legislatura

19/10/2010 - 17ª reunião - Dr. José Carlos Blat

ATA DA DÉCIMA SÉTIMA REUNIÃO DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO


CONSTITUIDA PELO ATO Nº 13, DE 2010, COM A FINALIDADE DE INVESTIGAR
SUPOSTAS IRREGULARIDADES E FRAUDES PRATICADAS CONTRA MUTUÁRIOS DA
COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO -
BANCOOP, E PROPOR SOLUÇÕES PARA O CASO.

Aos dezenove dias do mês de outubro de dois mil e dez, às onze horas, inicialmente
no Plenário "Dom Pedro I" da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,
realizou-se a Décima Sétima Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito
constituída pelo ato nº 13, de 2010, com a finalidade de "investigar supostas
irregularidades e fraudes praticadas contra cerca de três mil mutuários da
Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo - BANCOOP, e
propor soluções para o caso", da Quarta Sessão Legislativa, da Décima Sexta
Legislatura, sob a presidência do Deputado Samuel Moreira. Presentes os Senhores
Deputados Bruno Covas, Chico Sardelli, Roberto Morais, Vanderlei Siraque, Vicente
Cândido (efetivos) e Celso Giglio (substituto). Presente o Senhor Deputado Antonio
Mentor que integra este Colegiado na qualidade de membro substituto. Presentes,
também, durante o decorrer da reunião, os Senhores Deputados Estevam Galvão e
Ricardo Montoro. Ausente o Senhor Deputado Waldir Agnello. Havendo número
regimental, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou à
secretária a leitura da ata da reunião anterior, que foi dispensada a pedidos e
considerada aprovada. O Senhor Presidente indagou sobre a presença dos
convocados a depor. Foi informado do não comparecimento do Senhor João Vaccari
Neto e da presença do Senhor José Carlos Blat, Promotor de Justiça, a quem
convidou para tomar assento à mesa. Pela ordem, o Senhor Deputado Bruno
Covas, tendo em vista o grande número de pessoas presentes à reunião, propôs a
transferência para um plenário maior, que pudesse acomodá-los. Aceita a proposta,
a reunião foi suspensa e reiniciada no Auditório "Teotônio Vilela". Dando sequência
aos trabalhos, o Senhor Presidente convidou o Senhor Promotor de Justiça para
tomar assento à mesa dos trabalhos. Pela ordem, o Deputado Antonio Mentor
indagou sobre a tomada de compromisso. O Senhor Presidente informou que o Dr.
José Carlos Blat não comparecera na condição de testemunha, uma vez que é o
responsável pelo inquérito em tramitação na justiça. Pela ordem, o Deputado
Vanderlei Siraque solicitou que o Procurador se manifestasse sobre a questão. O
Dr. Carlos Dutra informou ter baseado suas conclusões no artigo 3°, inciso II, da
Lei 11.124, de 10 de abril de 2002, que disciplina a atuação das Comissões
Parlamentares de Inquérito e afirma que a Comissão poderá "II - tomar
depoimentos, sob compromisso se assim entender necessário a Comissão;" e no
artigo 34-B, § 2º, ao final, do Regimento Interno. Indagado pelo Deputado
Vanderlei Siraque se o Dr. José Carlos Blat figuraria como parte, réu ou
testemunha, o Dr. Carlos Dutra informou que figura como autoridade, vem à CPI na
condição de Promotor de Justiça que oficia no inquérito policial e, portanto, a CPI
pode ouvi-lo na forma prevista ao final do § 2º, do artigo 34-B do Regimento
Interno: "Artigo 34-B A Comissão Parlamentar de Inquérito poderá, observada a
legislação específica: ... II - determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir
testemunhas sob compromisso, ... tomar depoimentos e requisitar os serviços de
quaisquer autoridades, inclusive policiais;" Por esses motivos, pode a CPI dispensar
o depoente de prestar compromisso, se assim entender conveniente. O Senhor
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Presidente colocou em votação a questão da dispensa do compromisso, prevista no


artigo 3° da Lei 11.124, de 10 de abril de 2002. Em votação nominal, foi aprovado
que o Promotor de Justiça fizesse suas declarações sem prestar compromisso,
tendo o Deputado Vanderlei Siraque se manifestado contrariamente, com
abstenção do Deputado Vicente Cândido. Em sua declaração, o Dr. José Carlos Blat
apresentou uma síntese da denúncia, que, de acordo com ele, contém indícios e
materialidade suficientes para dar prosseguimento às investigações na esfera
judiciária. Informou ter apresentado denúncia junto à 5ª Vara Criminal da Capital,
contra vários dirigentes da Bancoop. Após o seu depoimento, por solicitação dos
Senhores Deputados, o Dr. José Carlos Blat comprometeu-se a encaminhar a esta
CPI cópia da denúncia apresentada. O Senhor Presidente passou a palavra aos
Deputados presentes. Apresentaram questões os Senhores Deputados Antonio
Mentor, Vanderlei Siraque, Vicente Cândido, Ricardo Montoro e Chico Sardelli. Nada
mais havendo a tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e deu
por encerrados os trabalhos. A presente reunião foi gravada pelo serviço de
Audiofonia e após transcrição fará parte integrante desta Ata, que eu Fátima
Mônica Bragante Dinardi, Agente Técnico Legislativo, lavrei e assino após sua
Excelência. Aprovada em reunião de 25/10/2010.

Deputado Samuel Moreira

Presidente

Fátima Mônica Bragante Dinardi


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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

BANCOOP

19/10/2010

PRESIDENTE

DEPUTADO SAMUEL MOREIRA – PSDB


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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO


BANCOOP
BK CONSULTORIA E SERVIÇOS LTDA.
19/10/2010

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Havendo número


regimental, declaro aberta a Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito, constituída
pelo Ato n. 13, de 2010, com a finalidade de investigar supostas irregularidades e
fraudes praticadas contra cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional dos
Bancários do Estado de São Paulo – BANCOOP e propor soluções para o caso.
Registro, com prazer, a presença dos Deputados Chico Sardelli, Roberto Morais,
Celso Giglio e Bruno Covas.
Solicito à Secretária da Comissão que proceda à leitura da Ata da reunião
anterior.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Pela ordem, Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – É para solicitar a dispensa da leitura da Ata.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É regimental. Os


deputados que forem favoráveis permaneçam como estão. (Pausa.) Aprovada a dispensa
da leitura da Ata.
Passamos, então, ao primeiro item da nossa pauta que é a oitiva dos senhores
João Vaccari Neto e José Carlos Blat.
Gostaria de constatar e verificar a presença. Dr. João Vaccari Neto não está
presente. Está aqui seu advogado que protocolou um ofício que será apreciado por esta
Presidência, no sentido de que seja marcada nova data, especificamente no dia 26, e nós
estamos conversando para que se possa ver outra data de consenso, porque, no dia 26,
nós deveremos já estar com o relatório, no mínimo, em apreciação, por conta do nosso
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prazo, porque o encerramento desta CPI é no dia 27, ainda deste mês. Mas será
apreciado e nós vamos tratar desse assunto com o senhor.
Presença do Dr. José Carlos Blat, que já se encontra entre nós. E eu gostaria,
então, de convidar o Dr. José Carlos Blat para que sentasse aqui, ao nosso lado.
Obrigado pela presença.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Pela ordem, Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Sr. Presidente, antes de iniciar a oitiva, eu


vejo, hoje, uma grande presença do público que vem acompanhar aqui a nossa reunião e
muitos estão em pé, por falta de lugares aqui em nosso auditório, e até trazer aqui a
ideia, perguntar a V. Exa. e aos demais deputados que estão aqui fazendo parte da CPI,
a possibilidade de a gente transferir esta reunião para o Auditório Franco Montoro, onde
todos poderiam acompanhar a reunião, sentados. Se V. Exa. pudesse verificar isso com
a Secretaria e verificar se os demais deputados têm algum tipo de objeção a isso.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado, eu


colocaria, então, à apreciação dos demais deputados. Se algum deputado quiser se
manifestar sobre o assunto. Algum deputado tem alguma objeção? (Pausa.)
Gostaria de constatar a presença dos Deputados Antonio Mentor, Vicente
Cândido e Vanderlei Siraque.
Deputado, sinceramente, eu não vejo motivos para nós transferirmos para outro
auditório, apesar de ver aí pessoas sentadas e outras em pé. O senhor faz questão?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – É que como tem inclusive algumas pessoas
de idade em pé, enfim, e até o Auditório Teotônio Vilela que é aqui neste mesmo andar.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – A Secretaria poderia


verificar se há possibilidade.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Eu não queria criar nenhuma confusão. É só


uma...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Há possibilidade de


ocuparmos? (Pausa.) Há disponibilidade de algum desses? (Pausa.) Há alguma objeção
dos deputados com relação a transferirmos para o Auditório Teotônio Vilela?

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Chico Sardelli.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Eu acho a medida colocada pelo Deputado


Bruno Covas correta. Pelo menos dá condição física para que todos possam se assentar
e participar dos trabalhos. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Então, nós vamos


suspender a sessão e a reiniciaremos no Auditório Teotônio Vilela.

* * *

A reunião é suspensa por alguns minutos.

* * *
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Reabertos os nossos
trabalhos.
Mais uma vez agradecendo a presença do Dr. José Carlos Blat. Antes de passar a
palavra a ele, para que ele possa discorrer, para que ele possa falar o que ele puder falar
para contribuir com esta CPI sobre esse assunto, e depois pediríamos também Dr. Blat
que o senhor pudesse ouvir os deputados e interagir com eles.
Nós queremos esclarecer que o Dr. Blat não veio na condição de testemunha e,
por conta disso, nós vamos passar diretamente a palavra para ele.
O Deputado Antonio Mentor solicita que a gente esclareça essa condição em que
vem o Dr. Blat. Ele não vem na condição de testemunha e baseado na Lei nº 11.124, de
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acordo inclusive com a nossa Procuradoria da Casa, de 10 de abril de 2002, que


disciplina a atuação nas Comissões, são considerados poderes próprios da autoridade
judicial para os efeitos desta lei, além de outros previstos no Regimento Interno da
Assembleia na legislação, tomar depoimento sob compromisso se assim entender
necessário a Comissão.
Isto posto, nós entendemos que possamos passar a palavra diretamente ao Dr.
Blat para que ele fale sobre o que conhece sobre o assunto e o senhor fique à vontade.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O Promotor vem em que condição,


senhor Presidente? Se não vem como testemunha, em que condição ele vem?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Ele vem na condição


de quem possa falar o que ele conhece sobre o assunto, para que possa esclarecer ainda
mais os Deputados e os Deputados possam interagir com ele e verificar que
contribuição cada Deputado possa subtrair dessa vinda dele.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não, porque aqui ou a pessoa vem


como testemunha ou vem como parte. E todo depoimento aqui tem de ser prestado sob
juramento.
Aliás, o Dr. Blat é convocado. O Dr. Blat vem na qualidade de convocado.
Convidados são outros. Porque para prestar esclarecimento e para que tenha validade o
esclarecimento dele tem de ser sob juramento. Esse é o requerimento aprovado por esta
Comissão. Não tem outro requerimento. Ou é testemunha ou é parte.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas de acordo com a


nossa...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Qual a outra condição? Ou é


testemunha ou é parte. Isso que eu queria saber. Se for testemunha é uma coisa, se for
parte é outra coisa.
Até entendo que ele poderia ser parte no processo. Ou é acusador, ou é acusado
ou é testemunha. Qual a condição? Aqui nós temos autoridades próprias do Poder
Judiciário. Alguém vai ao Judiciário como parte, como testemunha ou como réu. Não
existe outra possibilidade.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nós estamos aqui sob


consulta permanente à nossa Procuradoria da Casa e o Dr. Blat vem como autoridade.
Não há necessidade...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Gostaria de ouvir o Procurador da


Casa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Está aqui. Poderia se


manifestar o Procurador?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Gostaria de ouvir o Procurador.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem microfone para o


Procurador se manifestar?

(Manifestação na galeria)

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não tenho dúvida nenhuma que a CPI


é contra o PT e contra a Dilma.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu peço que os


convidados não se manifestem.
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O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Inclusive tem manifestante do PSDB


por aí. É um empenho contra o PT.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Se pudermos ouvir a


manifestação do nosso Procurador.
Deputado, por solicitação de V. Sa. nós vamos ouvir. Peço, por favor, que os
nossos convidados, por favor, não se manifestem para o bom andamento dos trabalhos
da nossa reunião.
Tem a palavra, então, o nosso Procurador.

O SR. PROCURADOR – Bom dia a todos. A Procuradoria da Casa ontem se


reuniu, reuniu os Procuradores que estão auxiliando esta CPI para debater essa questão
que havia sido trazida como eventual tema a ser debatido aqui.
Mencionou o Deputado Presidente a lei que regula o andamento das CPIs em
âmbito estadual, que permite que os Deputados ouçam, no art. 3º da Lei nº 11.124/2002,
que estipula os poderes da CPI Estadual, e considera entre esses poderes o inciso I:
convidar ou convocar depoimentos, promover acareações. No inciso II: tomar
depoimentos sob compromisso, se assim entender necessário, o que leva à indicação de
que o compromisso nem sempre é necessário. O depoente pode ser ouvido,
independentemente do compromisso, e aí ele não fica sujeito às penas pelo falso
testemunho.
Também nesse sentido, o próprio Regimento Interno da Assembleia Legislativa,
quando trata das Comissões Parlamentares de Inquérito, prevê, no art. 34-b, que a
Comissão Parlamentar de Inquérito poderá, observada a legislação específica, inciso II:
determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso,
requisitar de órgãos e entidades da Administração Pública, inclusive concessionárias de
serviços públicos, informações e documentos, requerer audiência, e aqui uma distinção
entre testemunhas e autoridades; requerer a audiência de Deputados e Deputadas e
Secretários de Estado, tomar depoimentos e requisitar os serviços de quaisquer
autoridades do Estado.
Então, nos parece, s.m.j., que é nessa condição de autoridade do Estado que o
membro do Ministério Público vem prestar informações. E fica a critério da CPI tomar
o seu depoimento sob compromisso ou não. Ele não é, a rigor, uma testemunha, porque
ele vem como autoridade do Estado. Ele não presenciou os fatos, como testemunha. Ele
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está oficiando num inquérito policial sobre o assunto, mas não é testemunha de fatos. É
autoridade e vem falar sobre o seu ofício. Na nossa singela opinião.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem. Eu quero fazer uma


pergunta ao Procurador. Mas, no caso, ele é uma autoridade acusadora, é parte, é
testemunha, porque é autoridade sem dúvida nenhuma, mas essa autoridade do Estado,
no caso do Dr. Blat, ele é autoridade nesse processo especificamente como parte, como
réu ou como testemunha?

O SR. PROCURADOR – Bem, o membro do Ministério Público, conforme diz


a legislação, ele é o autor da Ação Penal Pública, mas ele não é parte. Ele é imparcial.
Tem o dever de imparcialidade enquanto membro do Ministério Público.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Só para ficar bem caracterizado. Tudo


bem, ele é autoridade, mas nesse caso ele é parte, ele é acusador. Ele está dirigindo um
inquérito contra.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – No caso da nossa


CPI...

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Ele foi convocado, mas ele vem como
autoridade acusadora, parte do processo.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – De qualquer forma


nós, Deputado Vicente Cândido, entendemos que ele é uma autoridade, pode ser ouvida
por todos nós, nessa condição colocada pelos nossos Procuradores, e eu vou tomar o
cuidado inclusive que esta CPI delibere sobre essa condição. Eu vou pôr em votação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.


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O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pelo que eu ouvi do


Procurador...

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Acho desnecessário votar, senhor


Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pelo que eu ouvi das


palavras do Procurador, cabe à CPI, não ao Presidente, dispensar essa condição.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente. Eu


gostaria que fosse lido o requerimento de convocação que foi aprovado por esta CPI.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não se trata de


discutir se ele tinha de vir ou não; se trata de discutir em que condição que ele vai
colaborar com esta CPI, em que condição ele vai falar.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – A base é o requerimento aprovado.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Se foi convocada uma


convocação para ele vir ou um convite, não vem ao caso. Ele está aqui.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não teve convite. Teve convocação.


Não tem convite aqui não.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas de qualquer


forma ele está aqui.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.


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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Já havia pedido,


Deputado Vanderlei Siraque eu já lhe passo a palavra. Com a palavra o Deputado Chico
Sardelli.
Gostaria de destacar a presença do Deputado Estevam Galvão.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Respeitando a posição dos Deputados da


oposição, mais do que acusador ou acusadora, a presença do Promotor, ela pode ser
muito mais esclarecedora para os nossos trabalhos, para poder dar cabo às denúncias
existentes. Entendo que o depoimento do Promotor aqui é de suma importância, acima
de tudo, não como acusação, mas como fato esclarecedor para os nossos trabalhos.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vanderlei Siraque; depois passarei a palavra ao Deputado Antonio
Mentor.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, eu ouvi o Procurador


da Assembleia, aliás um grande Procurador, mas o Ministério Público não é imparcial.
Quem é imparcial é o Poder Judiciário. O Ministério Público é parte sim, e
especialmente neste caso é parte. O Ministério Público deu entrevista na imprensa, no
Jornal Nacional, deu entrevista em diversas revistas, em diversos meios de comunicação
como parte, como acusador. Então, isso já é público e notório.
Segundo. O requerimento aprovado por esta CPI é de convocação. Não foi de
convite. Nós podemos convidar sim. A CPI pode convidar, mas, no caso, o
requerimento que foi aprovado foi de convocação. Nós convocamos o Dr. Blat. Aliás, é
muito importante mesmo o esclarecimento dele aqui, é tão importante que deve ser
prestado sob juramento. Deve ser prestado sob juramento, porque aí vai servir inclusive
para o relatório do nobre Deputado Bruno Covas. Caso contrário, é um depoimento que
não tem validade para nós aqui. É tão importante que deve ser prestado sob juramento
sim.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Antonio


Mentor.
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O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, como um dos autores do


requerimento, gostaria de registrar os termos em que foi apresentado e aprovado por
esta Comissão Parlamentar de Inquérito o nosso requerimento, para que fique claro em
que condições nós queremos sim que o Sr. José Carlos Blat se pronuncie a esta CPI.
Vou ler. O requerimento aprovado por esta CPI diz que: requeremos, nos termos
regimentais, que esta Comissão Parlamentar de Inquérito convoque – convoque – para
prestar esclarecimentos o Sr. José Carlos Blat, Promotor de Justiça, e o Sr. João Vaccari
Neto, Presidente da BANCOOP no período de 2005 a 2010, convoque, para prestar
esclarecimentos.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Antonio


Mentor, para que a gente possa dar celeridade à nossa reunião e com bastante
prudência...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O senhor me permite terminar?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pode. Achei que o


senhor havia concluído.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Não terminei ainda.


Nós pedimos a convocação do Sr. José Carlos Blat, que já se pronunciou
inúmeras vezes a respeito dos episódios que envolvem a nossa investigação, para que
ele viesse nos ajudar a esclarecer ainda mais aquilo de que esta CPI está tratando.
Agora, evidentemente que todos que passaram por esta CPI e prestaram
esclarecimentos e depoimentos o fizeram sob juramento. Não será diferente para o Sr.
José Carlos Blat, que vem aqui na condição de depoente, para nos ajudar. Mas nós
queremos que essa ajuda seja marcada pela verdade. Eu tenho certeza que será isso que
será apresentado aqui pelo Sr. José Carlos Blat.
Porém, para que se cumpra a norma regimental, a norma legal, nós não podemos
diferenciar o Sr. José Carlos Blat dos demais depoentes que compareceram a esta CPI.
Todos são cidadãos, exercem essa ou aquela função neste momento, mas todos são
cidadãos e têm de ser tratados por esta CPI de forma igual. Não há como se aceitar a
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diferenciação no tratamento entre as pessoas que vieram colaborar com as nossas


investigações.
Como autor do requerimento, eu faço questão absoluta de que o Sr. José Carlos
Blat preste depoimento, será útil para nós, mas o faça sob juramento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Concluiu, Deputado?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Concluí. Quer que eu fale mais alguma


coisa?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não. É que eu achei


que o senhor havia concluído e fui falar e o senhor falou que não tinha concluído.
Agora, para não ter dúvidas, eu pergunto se o senhor concluiu.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Concluí.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Primeiro, nós


atendemos estritamente o seu requerimento, de autoria de V. Sa., e acredito que o Dr.
José Carlos Blat, por estar vendo-o aqui, atendeu também o nosso requerimento,
trazendo a esta Casa. Ele veio.
O que está se discutindo aqui é em que condição, que não estava...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, ele tem obrigação de vir a


esta Casa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem. De qualquer


forma ele está aqui.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Tem obrigação de vir.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não estamos


discutindo se ele veio, se ele não veio ou de que forma veio. Nós estamos discutindo em
que condição ele vai se pronunciar e nós vamos interagir com ele.
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E nós estamos propondo, por orientação da nossa Procuradoria, por desejo desta
Presidência, que nós vamos submeter à apreciação de cada Deputado, agora, neste
momento, que ele seja ouvido não na condição de testemunha e sim como autoridade. É
isso que nós estamos propondo e eu quero a permissão, se ninguém for fazer um aparte,
de colocar rapidamente em votação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Foi aprovado um requerimento por


esta Casa, por esta Comissão e para modificar esse requerimento deveria ser anulado e
para anular tem de fazer um requerimento por escrito e aí nós vamos analisar o
requerimento por escrito, porque aqui, Sr. Presidente, nós só queremos a verdade. E a
verdade...

(Manifestação na galeria).

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não sei por que as pessoas estão


incomodadas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Nós queremos a verdade e é o


seguinte, senhor Presidente: qualquer autoridade, em qualquer lugar do Brasil, pode ser
Presidente da República, pode ser Deputado, pode ser o que for, está sob a Constituição.
Nós estamos numa República e não estamos em outro regime de exceção.
E para nós aqui. Por exemplo, quantas vezes nós fomos ao Poder Judiciário
como testemunha, como parte ou como réu e sempre nós prestamos juramento, porque
se nós não dissermos a verdade nós podemos cometer o crime de perjúrio.
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Então, Sr. Presidente, não me venha fazer distinção entre brasileiros, entre
depoentes aqui, porque em nossa Constituição, não está em nenhum lugar, não tem
nenhuma lei que diz o que está sendo dito aqui.
Então, Sr. Presidente, todos estão submissos à Constituição e o requerimento
aprovado, qualquer cidadão, porque nós respeitamos todos, todos têm de prestar
depoimento sob juramento, porque nós queremos a verdade aqui, senhor Presidente.

(Manifestação na galeria).

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu vou pedir, por


favor, para que vocês contribuam com o andamento da nossa reunião.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, vou pedir para garantir


a minha palavra ou vou pedir para evacuar o Plenário.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estão aqui para


assistir, para contribuir com o silêncio, sem manifestações.
Tem a palavra o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Então, Sr. Presidente, primeiro pedir


que o senhor garanta a palavra nossa e que o senhor se responsabilize, porque eu
também não vou admitir que venha pessoal da nossa oposição aqui achar que isso aqui é
um circo. Isso aqui não é debate político. Isso aqui é uma CPI para esclarecer a verdade,
inclusive encontrar soluções para aqueles que ainda não receberam as suas casas lá da
BANCOOP.
Agora, se alguém quer fazer política, vai fazer campanha lá fora. Aqui dentro
não, senhor Presidente. Então, peço respeito e que sejam conduzidos os trabalhos com
segurança, de acordo com o Regimento da Casa e que o depoimento seja realizado sob,
para que nós possamos, de fato, chegar a uma conclusão e encontrar a solução aqui, que
é o que interessa. Inclusive os cooperados que desejarem podem também prestar
depoimento aqui sob juramento.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pela ordem, senhor Presidente.


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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Vicente


Cândido, eu só queria... Estava até interrompendo antes o Deputado Vanderlei Siraque,
e agora queria usar da palavra para dizer o seguinte.
Todos os respeitos nossos aos cooperados. Nós não acreditamos que aqui esteja
nenhum time organizado, nem de filiação partidária de ninguém. E nós queremos dizer,
Deputado, o seguinte: para tentar caminharmos com a nossa reunião. Primeiro que o Dr.
José Carlos Blat ele não fez parte de diretoria nenhuma, não é cooperado, ele não é parte
desse processo para ser testemunha. Ele é uma autoridade que está investigando o caso,
que nós queremos ouvi-lo. Ele não é cooperado, como nós ouvimos; ele não é diretor da
BANCOOP, como nós ouvimos; ele não está aqui na condição de testemunha. E nós
queremos dar encaminhamento à nossa reunião com uma votação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, qual a condição, então?

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – A condição foram as


palavras do nosso Procurador, baseado no nosso Regimento Interno e na legislação. A
condição é de que ele fale aqui como uma autoridade e fique à vontade para que a gente
possa interagir com ele. Só isso. É nessa condição que ele vai falar.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Sr. Presidente, antes do encaminhamento


do senhor, eu acho muito boa a vinda do Promotor aqui, esclarecedora, espero que
contribua muito com a CPI.
Agora, querer mudar qualquer rumo do requerimento aprovado meses atrás aqui
é querer criar um subterfúgio que esta CPI não pode aceitar. Ele é autoridade, ele não é
testemunha, ele é simplesmente o promotor de acusação, só isso. Nós queremos tratá-lo
nessa condição. Ele já fez várias acusações públicas e por escrito contra diretores e
contra a direção da BANCOOP. Ele vem nessa condição e não tem mais que discutir
isso. Não vamos criar nenhum subterfúgio, porque acho que é ruim para esta Casa.
Espero que a presença dele aqui contribua para a investigação da CPI. Só isso. Além
disso, é criar subterfúgio.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nós estamos tomando


todos os cuidados com relação a isso.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, há alguma razão para que


o Sr. José Carlos Blat não preste o juramento que todos os depoentes que passaram por
esta Casa prestaram? Há alguma razão para isso? Tem algum motivo que o impeça ou
que o diferencie dos demais, para que ele não preste o juramento que todos os depoentes
que passaram por esta CPI fizeram, sendo eles cooperados ou não? Porque nós não
ouvimos aqui apenas cooperados e não cooperados, dirigentes e não dirigentes. Nós
ouvimos várias pessoas aqui que por alguma razão têm relações com a BANCOOP.
Fornecedores, várias pessoas de várias origens.
Quero saber, em primeiro lugar, há alguma razão para que o Presidente desta
CPI insista tanto para que o Sr. José Carlos Blat não preste juramento? Tem algum
motivo para isso? Qual é a diferença que existe entre um depoimento que o Sr. José
Carlos Blat prestará a esta CPI sob juramento ou não? Em algum deles vai haver alguma
mudança de comportamento, de palavras? Acredito que não. Então, por que não vamos
fazer a coisa da forma correta, deixar sob dúvida essa questão? Por quê?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não há dúvida.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Pela ordem.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, há dúvida sim. Há dúvida


sim. Há dúvida sim. O Sr. Presidente está propondo que esta CPI modifique o
Regimento Interno da Casa, que regula o funcionamento das CPIs e vou ler. Não olhe
com essa cara, de espanto. Eu vou ler para lhe mostrar.
Art. 34-b: a Comissão Parlamentar de Inquérito poderá, observada a legislação
específica, inciso II, determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob
compromisso. Nesses dois casos, não há um terceiro caso de depoimento previsto no
19

Regimento Interno das CPIs desta Casa. Não há oitiva de autoridades. Não há. Há
apenas dois casos.
Sr. Presidente, o senhor está muito apressado. Não sei por que essa ansiedade
toda. Estamos aqui tratando de um assunto tão importante. Queria saber qual foi a
piada? Está dando risada do quê? Está rindo do quê?

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O senhor está nervoso?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Qual o problema? O


senhor está com a palavra.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O senhor está ansioso, fazendo piadinhas,


dando risadinha do lado. Para que isso, senhor Presidente? Esse não é o comportamento
adequado ao Presidente de uma CPI, Deputado Estadual eleito e reeleito nesta Casa,
com uma votação expressiva, diga-se de passagem.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pessoal, por favor.


O Deputado concluiu?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Não, ainda não.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Então continue,


Deputado.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Se o senhor me permitir, eu só gostaria


que o Presidente não ficasse fazendo galhofa, tratando isso de maneira hilariante aí ao
lado. Só queria que mantivesse o comportamento adequado ao Presidente de uma CPI.
Estou dizendo, Sr. Presidente, novamente vou repetir que o Regimento...
20

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O Regimento da Casa, Sr. Presidente,


prevê duas alternativas para depoimentos nas CPIs. A primeira como indiciado e a
segunda como testemunha, segundo consta do art. 34, letra “b”, inciso II, do Regimento
Interno da Casa. Não há outra alternativa de depoimento às CPIs. Portanto, nós
queremos que o Sr. José Carlos Blat preste esclarecimentos, importantes
esclarecimentos a esta CPI ou na qualidade de indiciado ou na qualidade de testemunha.
Nas duas alternativas ele vai prestar juramento a esta CPI.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, com a


palavra o Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Sr. Presidente, queria em primeiro lugar


fazer um esclarecimento. V. Exa. já disse, mas os Deputados retornaram a essa questão,
é importante esclarecer.
O Dr. Blat veio aqui convocado, não convidado. Concordo plenamente com isso.
Nesta condição, ele foi obrigado a vir depor. Agora, prestar ou na prestar juramento, na
qualidade de testemunha, na qualidade de autoridade, essa é outra questão. Porque se a
gente admitir que o convocado é obrigado a prestar juramento, isso significa que o
convidado não é obrigado, e muitos já vieram depor em CPIs aqui na Casa, convidados,
que aceitaram o convite e prestaram juramento. Então, a questão de ser convidado ou
convocado diz respeito à obrigatoriedade de vir, não diz respeito à obrigatoriedade de
falar, de deixar de falar ou de prestar juramento. Primeiro ponto.
Segundo ponto. O Dr. Blat vem na condição de autoridade. O mesmo art. 34-b,
inciso II, que o Deputado Mentor aqui traz, diz que cabe à CPI determinar diligências,
em primeiro lugar; ouvir indiciados em segundo lugar; inquirir testemunhas sob
compromisso em terceiro lugar; e vai listando várias outras atividades. E uma delas é
requisitar os serviços de quaisquer autoridades.
Ele veio aqui para prestar um serviço, para dizer sobre um processo, sobre um
inquérito judicial do qual ele faz parte como Promotor.
21

E terceiro ponto. O Dr. Blat é membro do Ministério Público. O Ministério


Público, de acordo com o art. 127, da Constituição Federal, a ele cabe a defesa da
ordem jurídica, a defesa do regime democrático e a defesa dos interesses sociais e
individuais indisponíveis.
O Dr. Blat já prestou um juramento quando entrou para o Ministério Público. É
por isso que nós não vamos prestar juramento aqui, porque seria acabar com uma
instituição, que tem os seus deveres, os seus direitos, colocados na Constituição, na Lei
Orgânica do Ministério Público e se ele mentisse aqui, qualquer eventual mentira dele,
ele já vai responder por isso no Conselho Nacional ou em qualquer outro instrumento de
Corregedoria do Ministério Público.
É por isso que eu acho que nesse caso a gente pode sim apreciar e deliberar, nos
termos do art. 3º, inciso II, da Lei Estadual, portanto, aprovada por esta Casa, nº
11.124/2002, que diz que as pessoas podem prestar depoimentos sob compromisso se
assim entender necessária a Comissão.
A Comissão, a meu ver, não precisa entender necessário, porque o Dr. Blat já
prestou juramento quando entrou para o Ministério Público.
Muito obrigado, senhor Presidente. (Palmas.)

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor, sem


manifestação.
Eu acho que a fala do Deputado Bruno Covas contribui para esclarecer e nós
vamos dar o encaminhamento para que a CPI vote se ela entende ser necessário ou não a
fala do Dr. Blat como testemunha. Nós vamos colocar em votação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nós vamos colocar


em votação.
Pela ordem, Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu ouvi atentamente as contribuições


do Deputado Bruno Covas, inclusive nós somos colegas também, jurídico, e ele foi
22

brilhante na fala dele. Só que nós não convidamos o Dr. Blat para prestar nenhum
serviço a esta CPI. Nós convocamos o Dr. Blat como parte acusadora da BANCOOP.
Quem está aqui para prestar serviços à CPI, de fato sim, tem aqui um representante da
Receita do Estado, até porque tem alguns sonegadores de impostos que vieram prestar
depoimento e nós pedimos para que fosse investigado, tem aqui outro que presta
serviços, o Procurador da Assembleia, que foi convocado para prestar serviços em
diversas CPIs, como, por exemplo, à CPI dos Precatórios Ambientais vieram diversos
Procuradores do Estado e também representantes do Ministério Público auxiliar os
trabalhos da CPI, o que acontece mesmo. Mas não é o caso do Doutor Blat.
Se ele estivesse prestando um serviço para auxiliar a nossa CPI, estaria correta a
interpretação dada aqui pelo Deputado Bruno Covas, mas o nosso requerimento é
convocação do Dr. Blat para que ele esclareça as acusações que ele fez à diretoria da
BANCOOP, as acusações que ele fez sobre desvio de verba da BANCOOP para
partidos políticos, as acusações que o Dr. Blat fez ao Jornal Nacional, fez em revista,
fez em diversos meios de comunicação.
Então, nós queremos que ele faça o depoimento sob juramento para saber se a
entrevista que ele deu está baseada em provas ou não. Essa é a questão. Tem prova ou
não tem prova das acusações, porque se tiver prova, aí nós vamos requerer essas provas
para que esta CPI tome as devidas providências, doa a quem doer.
Agora, se não tiver prova, aí respondam os acusadores, e aí o Conselho Nacional
de Justiça ou do Ministério Público, a Assembleia Legislativa é um poder autônomo,
independente e nós estamos aqui, nós não vamos submeter a Assembleia Legislativa a
nenhum outro poder, a nenhuma outra instituição, que nós respeitamos. O Judiciário, o
Ministério Público, são instituições importantes para a democracia, o Poder Executivo,
mas também é importante o Legislativo. Nós não estamos submissos ao juramento
prestado lá no Ministério Público, como o Judiciário também não está submisso ao
juramento que nós fizemos quando nós assumimos como Deputado Estadual. Toda vez
que vou ao Poder Judiciário eu presto juramento sim como testemunha. E por que nós
vamos fazer distinção entre os brasileiros? Não existe distinção. Aqui não tem distinção,
independente da função. Todas as funções, para nós, são importantes, especialmente a
do Ministério Público, tanto é que está aqui.
Agora, qual o problema? Não existe problema em prestar depoimento sob
juramento. Onde está o problema?
23

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Roberto Morais.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Sr. Presidente, eu não ia me manifestar,


mas é meio-dia, uma hora já, então eu gostaria, eu vim aqui para ouvir, para inquirir o
Dr. Blat, como os demais Deputados e as pessoas que estão aqui.
Então, em respeito a todos, já mudamos de auditório para que as pessoas fiquem
melhor acomodadas, mas gostaria que o senhor desse encaminhamento à votação para
dar sequência aos nossos trabalhos, porque às duas e meia nós temos o Colégio de
Líderes e hoje é um dia normal de trabalho na Assembleia e aqui vários líderes vão ter
de se ausentar para participar da pauta da semana. Então, eu gostaria de uma definição.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Esta Presidência


entende ter atendido o requerimento formulado, está presente o Dr. Blat, e baseado na
Lei nº 11.124, de 10 de abril de 2002, nós vamos votar, vou dar encaminhamento à
votação, vou pôr em votação. Os que não entendem ser necessário que o Dr. Blat se
manifeste pelo compromisso...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente. O


senhor está fazendo um requerimento?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estou pondo em


votação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O requerimento de autoria de vossa


excelência?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estou pondo em


votação se a Comissão entender necessário...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu entendo que eu posso inclusive


pedir vistas do requerimento de vossa excelência.
24

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estou formulando


uma votação que dispense essa condição de compromisso do Dr. Blat, baseado na lei.
Aqueles que forem favoráveis que dispense essa condição permaneçam como estão.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Os que forem


contrários, se manifestem.
Pela ordem, tem a palavra o Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, primeiro esse


encaminhamento que V. Exa. está dando está totalmente equivocado, está confrontando
com a norma interna da Assembleia Legislativa e das CPIs. Requerimento, para ser
votado, precisa ser formulado por escrito, ele tem de ser discutido. O senhor está
querendo subverter a ordem das coisas.

O SR. ESTEVAM GALVÃO – DEM – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Um momento,


Deputado Estevam Galvão.
Tem a palavra ainda o Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, o senhor quer impor aqui a


sua vontade despótica.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estou tentando


viabilizar ouvirmos o Doutor Blat.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, o senhor está querendo


justificar o injustificável, querendo passar por cima do Regimento Interno da Casa,
querendo mudar o Regimento Interno.

O SR. ESTEVAM GALVÃO – DEM – Pela ordem, senhor Presidente.


25

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra ainda o


Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Obrigado, senhor Presidente.


O senhor está querendo alterar o Regimento Interno da Casa com uma votação
que não tem o menor significado, a menor sustentação no Regimento da Casa. O senhor
está apresentando uma proposta de mudança do Regimento Interno através de um
requerimento verbal apresentado por V. Exa. e que sequer foi discutido e o senhor já
está colocando em votação, imediatamente.

O SR. ESTEVAM GALVÃO – DEM – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Como é que pode? Como pode o


autoritarismo passar por cima do Regimento da Casa dessa forma?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Essa é a opinião do


senhor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Não é opinião, não.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor tome as


medidas que o senhor achar necessárias.
Está em votação a dispensa dessa condição. Já foi amplamente discutida.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O senhor está rasgando o Regimento


Interno da Casa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por solicitação dos


Deputados, nós vamos prosseguir.
Está em votação. Os que forem favoráveis que se dispense essa condição
permaneçam como estão.
26

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O senhor está rasgando o Regimento


Interno da Casa. Novamente, o senhor está rasgando o Regimento Interno da Casa.
Eu quero pedir, pela ordem, Sr. Presidente, a votação desse absurdo que o senhor
está propondo; que a votação deste absurdo que o senhor está propondo seja feita
nominalmente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Como vota então, nós


vamos dar o encaminhamento novamente, para que se dispense a condição de falar em
compromisso, conforme a legislação que nós já manifestamos.
Os que forem favoráveis a que dispense essa condição permaneçam como estão.
Votação nominal. Como vota o Deputado Bruno Covas?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Dispensando o Doutor Blat.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Favorável.


Como vota o Deputado Celso Giglio?

O SR. CELSO GIGLIO – PSDB – Dispensando o Doutor Blat.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Como vota o


Deputado Vanderlei Siraque?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Para garantir o requerimento aprovado


por esta Casa e pela importância do depoimento do Dr. Blat, que ele preste o
depoimento sob juramento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Contrário.


Como vota o Deputado Vicente Cândido?

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Me abstenho desta votação, Sr.


Presidente, porque acho inoportuno esse encaminhamento do senhor.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Como vota o


Deputado Estevam Galvão?
27

O SR. ESTEVAM GALVÃO – DEM – Favorável.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Como vota o


Deputado Chico Sardelli?

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Favorável.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Como vota o


Deputado Roberto Morais?

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Favorável.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Quero manifestar meu


voto favorável.
Então, aprovado.
Dr. Blat, o senhor fique à vontade para suas considerações e depois nós
gostaríamos muito de pedir ao senhor que interagisse com os Deputados.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Bom dia a todos.


É uma honra estar aqui nesta Casa Legislativa, na CPI da BANCOOP.
Cumprimento o Sr. Presidente, o Sr. Relator, os demais membros e todos merecem meu
respeito e acatamento, até porque entendo que a Assembleia Legislativa de São Paulo
tem um papel fundamental para a manutenção do estado democrático de direito.
Queria aqui também colocar minha condição como Promotor de Justiça
Criminal, nos termos do que dispõe o Código de Processo Penal. Eu faço, obviamente, o
papel constitucional descrito no art. 129, inciso I, como titular da Ação Penal Pública, e
obviamente, que pode acompanhar e deve acompanhar as investigações realizadas pela
Polícia Judiciária do Estado de São Paulo.
E nesta condição de Promotor de Justiça, como “custos legis” e parte acusadora,
como foi bem dito aqui por alguns Deputados, mas não na condição de testemunha, isto
porque não poderia prestar um compromisso sob pena do falso testemunho porque se
assim fosse estaria impedido de trabalhar na ação penal em juízo na segunda fase da
28

persecução criminal. E, aliás, a ação penal que daqui a pouco vou me manifestar a
respeito dos envolvidos do caso da Cooperativa Habitacional dos Bancários.
Mas antes disso, queria fazer um rápido relato do cronograma da investigação
criminal. Ela, na verdade, teve início no ano de 2007, através de representação feita por
vitimas do empreendimento Torres da Mooca. E na sequência foi instaurado inquérito
policial junto ao 1º Distrito Policial da Capital. Esse inquérito foi distribuído entre os
120 promotores criminais da Capital e eu, obviamente, como Promotor de Justiça
natural, funciono desde então no aludido inquérito policial.
Esse inquérito policial hoje, Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs. Deputados, senhoras
e senhores, possui já 27 volumes, 68 anexos e agora também sendo apensado outro
inquérito policial que foi instaurado “a posteriori”. Inclusive, nesse inquérito policial
alguns dos investigados já foram ouvidos a respeito dos fatos, dentre os quais o Sr. João
Vaccari Neto.
Nós temos também algumas considerações a respeito da complexidade das
investigações. Quando aqui estive, em maio de 2008, s.m.j., perante a Comissão de
Defesa do Consumidor desta Casa, para relatar alguns fatos tratados na investigação
criminal, lá já se dava publicidade de vários desvios, várias fraudes praticadas por
dirigentes e ex-dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários. E não fui eu que
disse, mas, obviamente, analisando depoimentos que foram colhidos ao longo dessa
investigação criminal, que várias pessoas apontaram uma série de irregularidades que já,
já serão declinadas aqui, uma a uma.
Como membro do Ministério Público, nós, a partir de um requerimento feito ao
Poder Judiciário desta Capital, ao Departamento de Inquéritos Policiais, em março de
2010, pedindo a complementação da quebra de sigilo bancário e fiscal envolvendo,
nesse caso, dois dirigentes e ex-dirigentes: o Sr. João Vaccari Neto e a Sra. Ana Maria
Érnica, o Juiz não indeferiu o pedido; apenas pediu a complementação das informações.
Diante dessas circunstâncias e diante da complexidade, até porque foram
examinados ao longo dessa investigação pelo menos oito mil cheques, microfilmes de
cheques, milhares de transferências, extratos bancários, balanços contábeis, fiscais,
notas fiscais emitidas por fornecedores, enfim, diante do requerimento feito pelo Juiz
Corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais, muito embora entendesse que era
absolutamente dispensável a complementação, nós solicitamos ao Laboratório de
Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro do Ministério Público do Estado de São Paulo,
que fizesse um exame mais aprofundado.
29

Diante até mesmo dessa providência nós já temos indicativos suficientes de


indícios de autoria e de materialidade contra vários diretores ou ex-diretores e algumas
pessoas que participaram dessa verdadeira organização criminosa que fraudou milhares
de cooperados que não receberam as suas unidades habitacionais, ou ainda foram
achacados de certa maneira.
Diante dessas circunstâncias e observando a juntada de um inquérito policial
aonde alguns dos investigados já tinham sido ouvidos, diante das notificações feitas ao
longo desses meses, inclusive a partir de março de 2010, e em agosto de 2010 nós
notificamos vários dos investigados que não compareceram alegando uma série de
justificativas que ao Ministério Público não são plausíveis, e observando também o
compartilhamento de informações existente entre a CPI e o Ministério Público do
Estado de São Paulo, conforme requerimento feito por esta Casa, na pessoa do Sr.
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, nós compartilhamos informações
sigilosas e não sigilosas a respeito dos fatos, inclusive os mais de 70 depoimentos que
colhi ao longo desses meses, a partir de março até a semana passada.
Diante dessas circunstâncias, no dia 20 de setembro de 2010, tendo já em mãos o
primeiro laudo do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro, nós
reiteramos o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal do Sr. João Vaccari Neto e da
dona Ana Maria Érnica.
Ocorre que a Dra. Cláudia Ribeiro, antes de examinar este pedido, observou a
existência de um pedido de juntada de inquérito policial. Esse inquérito policial voltou
novamente ao Ministério Público, nos manifestamos e devolvemos o inquérito para a
análise. Ocorre que na semana passada outro inquérito policial, posterior ao nosso, foi
juntado a esse inquérito e o inquérito voltou ao Ministério Público.
Diante de várias circunstâncias extremamente graves, diante do fator da
prescrição penal, diante da cobrança do Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas,
com relação ao Sr. Hélio Malheiro, cujo prazo está praticamente vencido e ele deve ser
ouvido com urgência perante o Juiz Criminal, nós, obviamente, analisamos esses 100
volumes e hoje, Sr. Presidente, às 10h57min, com a remessa do Ministério Público de nº
4344, em 19 de outubro de 2010, este membro do Ministério Público ofereceu a
denúncia formal perante a 5ª Vara Criminal contra o Sr. João Vaccari Neto, dona Ana
Maria Érnica, Tomás Edson Botelho Fraga, Letícia Achur Antonio, Henir Rodrigues de
Oliveira, Helena Conceição Pereira Lage e, obviamente, pedindo a extinção da
30

punibilidade pela mortes dos agentes que faleceram no dia 12 de novembro de 2004, do
Sr. Luis Eduardo Saeger Malheiro, Alessandro Robson Bernardino e Marcelo Rinaldo.
No nosso pedido, da cota de oferecimento de denúncia, é claro que agora o Juiz
da vara poderá examinar o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal do Sr. João
Vaccari Neto e da dona Ana Maria Érnica, bem como também um requerimento que fiz
no sentido de ser aplicado o art. 4º da Lei nº 9613/98, que é a Lei de Lavagem de
Capitais, para que se proceda ao arresto ou seqüestro e apreensão dos bens daqueles que
participaram do esquema criminoso inerente à lavagem de capitais.
Então, Excelência, eu peço licença, tendo em vista que o processo é público a
partir de agora, obviamente ressalvadas as questões inerentes ao sigilo bancário e fiscal,
que permanecem sob sigilo, eu vou aqui narrar o que foi apurado pelo Ministério
Público, de 2007 até a presente data.
Então hoje, a partir de hoje não mais acompanhando a investigação criminal e
sim como Promotor de Justiça Criminal, natural da 5ª Vara Criminal, nós estamos
acompanhando a partir de agora a ação penal proposta em juízo.
Muito bem. Do crime de quadrilha ou bando, nós aqui relatamos como funciona
a estrutura e funcionamento da BANCOOP. A BANCOOP foi constituída em 1996 e
tinha em seu estatuto, como objetivo, proporcionar aos seus associados construção e
aquisição de unidades habitacionais sem almejar qualquer finalidade lucrativa,
conforme estatuto juntado nos autos.
A Cooperativa Habitacional dos Bancários deveria se sujeitar ao art. 29, § 4º, da
Lei do Cooperativismo. Todavia não foi o que se verificou na BANCOOP. Estou lendo
aqui termos constantes da nossa denuncio oferecida em juízo.
Então, esta BANCOOP, na verdade, acabou; todavia, não foi o que se verificou
na Cooperativa, uma vez que foram constituídas empresas para prestar serviços
exclusivos para aquela instituição, sendo que as referidas empresas particulares
pertenciam a dirigentes e pessoas vinculadas à Cooperativa Habitacional, desviando
recursos dos cooperados.
Os denunciados, na qualidade de diretores da Cooperativa, acobertando a
existência de esquemas criminosos, realizando assembleias gerais ordinárias e
extraordinárias fraudulentas, aprovando as contas da instituição, fraudando dados,
manipulando balanços e movimentações financeiras e contábeis, alguns dos
denunciados participando de sociedades comerciais ou como prestadores de serviços,
transformaram-na em negócio lucrativo, utilizando os benefícios da lei para lesar
31

milhares de cooperados que aderiram através dos contratos para construção de


moradias.
Os senhores denunciados: João Vaccari, Tomás Edson Botelho Fraga e os
falecidos, acompanhados da supervisão jurídica da denunciada Letícia Achur Antonio,
eles, numa espécie de revezamento, comandavam a Cooperativa Habitacional ao longo
desses anos. A partir de 13 de março de 1999, o falecido Malheiro e o Sr. João Vaccari
Neto exerciam as funções administrativas e financeiras com mandato de três anos.
Da criação da empresa Germany Construtora e esquemas anteriores com
empreiteiros. A empresa Germany foi criada para visar lucros e tinha como exclusivo
objetivo fornecer mão-de-obra para construção dos empreendimentos imobiliários.
A denunciada Letícia Achur Antonio assessorou a quadrilha dando subsídios
jurídicos para a celebração do contrato da Germany, redigiu os seus termos conforme se
depreende de documento juntado nos autos. Para assegurar a realização de negócios
escusos entre a BANCOOP e a Germany, o denunciado João Vaccari Neto, na condição
de diretor administrativo financeiro, contando com o respaldo do falecido Malheiro,
permitiu que a empresa Germany utilizasse as dependências da BANCOOP, sendo que
o falecido contador Marcelo Rinaldo cuidava das contas bancárias, movimentações
financeiras, pagamentos e outras atividades referentes a essa empresa captadora de mão-
de-obra no mesmo local onde as contas bancárias, movimentações financeiras,
pagamentos e outras atividades contábeis da BANCOOP.
Essa relação espúria e criminosa entre BANCOOP e Germany resta evidenciada
em um contrato de comodato firmado entre a BANCOOP e o representante da
Germany. Esse contrato inclusive era de conhecimento de todos os dirigentes da
Cooperativa, em especial do denunciado João Vaccari Neto, diretor administrativo
financeiro, responsável pelo pagamento das contas de água, luz, IPTU, pela comodante
em benefício da comodatária Germany.
A BANCOOP possui um departamento de engenharia que era, na época,
chefiado por Ricardo Luis do Carmo. E esse engenheiro narrou várias situações em que,
vou me ater a um resumo da nossa denuncia formal, porque ela tem 81 laudas. Então,
esse senhor conta que aos poucos foram sendo cortados os fornecedores ou
subempreiteiros contratados, para que a Germany pudesse assumir os serviços, e
obviamente que todos os denunciados tinham conhecimento dessa circunstância.
Verifica-se também que no período de 13 de fevereiro de 1999 a 26 de fevereiro
de 2002, os responsáveis dessa Cooperativa têm aqui uma gestão fraudulenta financeira,
32

inclusive narrada pelo Sr. Walter Amaro da Silva, subempreiteiro contratado, que
inclusive repassou os cheques e esses cheques... Repassou valores ao senhor Hélio
Malheiro.
Da confecção, hoje, do segundo laudo, que foi entregue na data de ontem ao
Ministério Público, nós pudemos constatar várias movimentações financeiras do Sr.
Hélio Malheiro para a BANCOOP, repercutindo exatamente a veracidade das suas
informações a respeito do dinheiro de caixa dois, corroborado para a BANCOOP e para
outros negócios escusos, inclusive campanhas político-partidárias, no valor aproximado
de 120 mil reais.
A organização criminosa ainda teve o cuidado de transformar a Germany, que
era uma pequena empresa, numa empresa de médio ou grande porte, isso em 24 de julho
de 2003.
Para dar continuidade a esses negócios criminosos, nós observamos o seguinte.
Segundo levantamento feito pelo Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de
Dinheiro, através dos integrantes da quadrilha que dirigiam a BANCOOP, a Germany, a
Germany recebeu, aproximadamente, em valores não totalizados, mas aproximados, em
respeito ao sigilo bancário, de mais de 80 milhões de reais. A Germany, todavia,
movimentou nas suas contas não mais do que 35 milhões de reais entre débitos e
créditos, aí resultando, portanto, um valor injustificado de caixa dois em que a Germany
recebeu um valor aproximado de quase 50 milhões de reais.
E mais. O Sr. Ricardo Luis do Carmo disse, afirmou, e nós pudemos constatar a
partir dos extratos de movimentações financeiras, que efetivamente era cobrada uma
taxa de superfaturamento dos trabalhos da Germany em 18 milhões de reais.
Além da Germany, temos a empresa Mizu Gerenciamento e Serviços, uma
empresa criada no centro de Poá, aonde, na verdade, era um endereço fantasma, onde
morava uma família, isso devidamente constatado por depoimentos; e segundo o
depoimento de um dos sócios da Mirante e ex-funcionário da Mizu, Sr. Fábio Luis
Silveira, que foi ouvido pelo Ministério Público, que disse que a Mizu Gerenciamento e
Serviços não tinha um objeto social claro e trabalhavam todos, a Mizu funcionava no
quinto andar da Rua Líbero Badaró, onde é a sede da BANCOOP. Isso, inclusive,
colocado pelo Sr. Fábio Luis Silveira, mas também pela Sra. Camila de Jesus Ribeiro,
que inclusive recebeu vários cheques que eram nominais a ela e ela, assim como o Sr.
Sérgio Luis Marcelino, eram obrigados a sacar esses valores e entregar nas mãos dos
diretores da BANCOOP.
33

Tudo isso, obviamente, à luz do que nós observamos que a Mizu, muito embora
fosse uma empresa de gerenciamento e serviços, não tinha um objeto claro e não
prestava nenhum serviço para a BANCOOP, sangrou os cofres da BANCOOP, no ano
de 2002, em 500 e poucos mil reais, sendo que nesse período, em assembleia geral, foi
apurado um resultado líquido negativo da BANCOOP de mais de 600 mil reais, ou seja,
talvez o dinheiro da própria Mizu tivesse servido como justificativa. Claro que aqui se
trata de uma operação fraudulenta de estelionato em formação de quadrilha ou bando, e
depois, pelas movimentações financeiras e pelas condutas dos acusados, em efetiva
apuração de lavagem de capitais.
A Mizu Gerenciamento, segundo Fábio Luis Silveira, estabeleceu que é possível
detectar nos extratos internos da Mizu, que não estão sob sigilo e que vieram a público
em maio de 2008, que foi observado que é possível detectar vários lançamentos nesse
relatório interno com a rubrica Doação PT, porém tais lançamentos correspondem a
cheques nominais à BANCOOP, totalizando o valor de 40 e poucos mil reais para
aludido partido político, segundo Fábio Luis Silveira.
Inclusive nos autos, às folhas 3555 do volume 17 e também no apenso 9, nós
podemos verificar vários cheques com essa rubrica, destinados à BANCOOP, e quando,
na verdade, os relatos e extratos internos diziam que esses valores eram destinados a
outra finalidade, uma finalidade político-partidária.
Com relação a essa informação, obviamente que faz parte da fraude inerente ao
estelionato praticado contra as vítimas, nós pedimos à época que fosse encaminhado à
Procuradoria Geral Eleitoral para que tomasse as providências com relação a eventuais
crimes eleitorais.
Da mesma forma, o Sr. Sidney de Jesus, que era motorista da BANCOOP,
recebeu a quantia superior a 60 mil reais da Mizu e de outras empresas coligadas, sendo
que ele tinha um salário de 900 reais mensais. Esse senhor, Sidney de Jesus, que era
motorista da BANCOOP, não era cooperado e pertencia ao Conselho Fiscal da
BANCOOP; era ele que analisava os balanços e as contas a serem aprovadas em
assembleias pelo Sr. João Vaccari Neto, pela Sra. Ana Maria Érnica e tantos outros,
inclusive o Sr. Tomás Edson Botelho Fraga.
Nós temos também a empresa Mirante Artefatos de Concreto. Estou aqui,
rapidamente, porque são muitos detalhes, comprovados, detalhes que determinam a
possibilidade do oferecimento da denúncia, como o fiz nesta data, e a partir de hoje,
inclusive, eu quero dizer aos senhores da imprensa que à tarde será repassada uma nota
34

à imprensa a respeito dessa denúncia, em respeito à Casa aqui, que não é o local de dar
esses esclarecimentos, mas, sim, aos Srs. Deputados, e a partir daí eu só vou me
manifestar nos autos do processo.
A empresa Mirante Artefatos de Concreto foi criada em sucessão à Mizu, que
era uma empresa fantasma, e tinha como principal finalidade a fabricação de blocos de
concreto. Esses blocos, segundo Ricardo Luis do Carmo, segundo Hélio Malheiro e
segundo Danilo Manuel Antunes, que era engenheiro da BANCOOP e funcionário da
BANCOOP, cooperado da BANCOOP, e durante o período em que era empregado da
BANCOOP figurou como conselheiro fiscal juntamente com sua esposa, disse que esses
blocos, todos eles disseram que esses blocos eram de baixíssima qualidade, obrigando a
BANCOOP a comprar outros blocos e os blocos utilizados para serviços secundários.
A Mirante recebeu, no período em que prestou serviços para a BANCOOP,
aproximadamente quatro milhões de reais, sendo que da movimentação feita pela
Mirante, Mizu, observadas pelo Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de
Dinheiro, tanto no laudo que foi entregue no dia 3 de setembro, quanto no laudo que foi
entregue na data de ontem, 18 de setembro, foi possível observar que existe uma
diferença de pelo menos dois milhões a mais recebidos pela Mirante nas suas
movimentações.
Também foram criadas várias empresas por pessoas ligadas à BANCOOP, como
por exemplo, a BAN Administradora de Condomínios, aonde tinha o principal objetivo
de manter sob vigilância os cooperados que recebiam seus imóveis sem escritura, sem
Habite-se e sem condições de regularidade quanto à propriedade, e obviamente, diante
dessas circunstâncias, não podiam inclusive ter o seu estatuto ou o seu regimento de
condomínio. Essa BAN Administradora recebeu da BANCOOP, fora o que ela recebeu
dos cooperados, a quantia superior a 800 mil reais.
Foi criada também uma empresa sucessora da BAN chamada Conservix, que
tinha como principal objetivo cuidar de portaria e de segurança dos prédios. Recebeu
mais de 300 mil reais.
Foi criada, visando à sucessão e o controle dos senhores cooperados, a empresa
Vitta, que foi, obviamente, teve seu arquivo de seu estatuto e figuravam como sócias a
Dra. Letícia Achur Antonio e também a senhora Henir Rodrigues de Oliveira.
Nós verificamos também algo que foi imperioso para o desvio de valores
fraudulentos da BANCOOP e que era de conhecimento de todos os denunciados. O
próprio Ricardo Luis do Carmo, em depoimento prestado ao Ministério Público, disse
35

que Tomás, assim como outros, tinha como principal função escolher terrenos para os
empreendimentos da Cooperativa e contrataram os serviços da empresa Della Libera
Consultoria S/C, do Sr. Carlos Roberto Della Libera e de seu filho.
Marcelo Baker, outra testemunha ouvida, e cooperado do Recanto das
Orquídeas, afirmou ao Ministério Público que essa empresa cobrava valores
elevadíssimos da BANCOOP para a escolha de terrenos, sem qualquer critério técnico.
Bom, nós então procedemos na nossa investigação à verificação de escrituras,
coisa que qualquer um presente poderia fazê-lo, e verificamos que o Livro de Registro
nº 2 do Terceiro Cartório de Registro de Imóveis do Estado de São Paulo, Matrícula nº
68.779, referente a um terreno localizado no Horto Florestal, foi vendido em 12 de julho
de 2001 pela empresa Fator Empreendimentos para o Sr. Carlos Roberto Della Libera
Filho, pelo valor de 221 mil reais. No dia 1º de outubro de 2002, a BANCOOP assinou
um termo de compra desse terreno por um milhão, setecentos e cinquenta mil reais.
Dados que não são sigilosos, que estão nas escrituras e obviamente demonstram a
cooptação de empresas, de pessoas interessadas, de terceiros fornecedores com relação a
essa situação.
E mais. Nós ouvimos a Sra. Patrícia Policastro Nascimento, que trabalhou no
setor de custos de empreendimentos da Cooperativa. Ela trabalhou lá durante dois anos
e depois que saiu da BANCOOP ela foi concluir seu curso de engenharia civil e
apresentou um termo de conclusão de curso na Universidade Anhembi-Morumbi sob o
tema Planejamento Estratégico em Cooperativas Habitacionais, exatamente para
discutir, para criticar, e ela em mais de 70 laudas, esse material já está inclusive à
disposição da CPI há bastante tempo, ela coloca todos os entraves administrativos, ou as
malversações administrativas de todo o grupo.
Nós temos também o depoimento de dona Maria Angélica Covelo Silva, que foi
contratada pela BANCOOP supostamente para dar uma regularidade nos setores
administrativos. Essa senhora permaneceu durante alguns meses na BANCOOP e não
conseguiu sequer dar continuidade a um procedimento de boa administração da
BANCOOP.
Nós temos também a prestação de serviços de segurança para a BANCOOP.
Isso, por conta do que disse Andy Roberto Gurczynska, que disse também o Sr. Freud
Godoy em depoimento prestado a esta CPI, conforme depoimentos que nós temos,
assim como também depoimentos prestados que demonstram o seguinte. Na época em
que o Sr. Andy, a sua empresa foi contratada, eles receberam um montante de
36

aproximadamente 400 mil reais. Quando o Sr. Freud Godoy, que na verdade a empresa
sequer é dele, pertence à mulher e outra pessoa, quando a Caso Sistemas de Segurança
foi contratada, a BANCOOP pagou mais um milhão e quinhentos mil reais para prestar
serviços de segurança desarmada, para cuidar de canteiros de obras abandonados,
porque a partir de fevereiro de 2005 poucas eram as obras em andamento e quase
nenhum desses canteiros tinha qualquer tipo de relevância patrimonial, segundo
informações prestadas por várias pessoas em depoimentos ao Ministério Público.
Nesse período, inclusive, a BANCOOP era dirigida por João Vaccari Neto e pela
denunciada Ana Maria Érnica, e em 2005 já apresentava um déficit superior a 70
milhões, segundo os próprios relatórios que se tem e balanços apresentados
publicamente. E obviamente que diante de tantas obras paralisadas, empreendimentos
em descontinuidade ou não continuados, segundo eles, foi possível pagar a quantia
milionária de um milhão e quinhentos mil reais para uma empresa de segurança.
Nós temos também a movimentação financeira criminosa da BANCOOP, que é
objeto também de investigação pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Nós, a partir de depoimentos prestados no Ministério Público, podemos constatar que há
também irregularidades e fraudes praticadas no levantamento de Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço, que foram malversados ou com destinação diversa daquela que
deveria ser com relação aos cooperados. Quem diz isso é o Sr. Ronaldo William de
Oliveira, que em 2002 foi chamado a uma reunião com o Presidente da BANCOOP, o
falecido Luis Malheiro, e com a denunciada Letícia, e começaram a agilizar
procedimentos para liberação de Fundo de Garantia, valores esses, superiores a dois
milhões de reais.
Em meados de março de 2003, com a liberação desses valores e de outros
valores, a quadrilha resolveu encerrar as contas correntes individuais das seccionais. Ou
seja, para cada seccional ou para cada empreendimento existia uma conta corrente com
o seu respectivo lançamento de débitos e créditos. Essas contas, propositalmente, foram
encerradas e foram abertas outras contas, sendo uma delas a chamada conta “pool”, no
Bradesco, e depois sucedida por outra conta “pool” do Bradesco, de outra agência, num
outro período, em que foi movimentado, nessas duas contas, mais de 700 milhões de
reais.
Nessas contas nós pudemos observar que existiram inúmeras situações que
levam, por exemplo, ao relatório do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de
Dinheiro, que vários recursos foram desviados através de saques na boca do caixa, ou
37

então cheques nominais à própria BANCOOP ou cheques nominais à empresa


Germany, que era uma laranja do esquema criminoso, e também cheques nominais à
instituição Bradesco. Esses valores de desvios, de saques na boca do caixa superaram
pelo menos um valor aproximado de 20 milhões de reais, fora o que foi sacado pela
empresa Germany e fora o que foi sacado através de um esquema criminoso relatado
por Flávio Fernandes dos Santos, que era o seguinte: ele era caixa da BANCOOP e
nesse período a BANCOOP emitia cheques para pagamento, como se faz em qualquer
empresa, para pagamento de duplicatas, notas, despesas, e os cheques nominais ao
Bradesco. Regra geral, e segundo determinações do próprio COAF do Banco Central,
esses cheques devem conter a relação do pagamento de fornecedores, o que não foi
constatado em mais de 85% dos cheques analisados nominais ao Bradesco.
E mais do que isso. Nós observamos também que existia um esquema, por
exemplo, como relatado pelo Sr. Flávio Fernandes Santos, um cheque de 80 mil reais,
exemplificativamente, apenas para ilustrar o funcionamento do esquema criminoso, 40
mil reais seriam destinados ao pagamento de notas, duplicatas, faturas etc., e os outros
40 mil reais para saque em dinheiro na boca do caixa e entregues para os diretores ou
dirigentes da BANCOOP.
Nós temos também que no período investigado existe a triangulação fraudulenta
da Germany, Mizu e BANCOOP, aonde há vários cheques destinados a situações
estranhas à atividade da Cooperativa Habitacional. Nós temos também, com relação ao
valor movimentado e narrado pelo Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de
Dinheiro, que é o seguinte. Foram verificados alguns picos de movimentações que
fugiam às normas ou fugiam aos padrões normais da movimentação financeira da
BANCOOP e da Germany. Foi verificado que o grande pico de movimentação, através
da verificação dessas contas “pool” Bradesco, a primeira delas, saíram das contas das
BANCOOP, no mês de novembro de 2004, através de vários lançamentos, inclusive
lançamentos esses suspeitos a indicar efetivamente o desvio, mais de 40 milhões de
reais. No mesmo período, em setembro de 2004, a Germany fez lançamentos
absolutamente distintos dos demais da sua movimentação financeira, superando a cifra
de quatro milhões de reais.
Nós observamos também, a título exemplificativo, para que os senhores possam
entender como funcionava o esquema criminoso na BANCOOP, para dificultar
inclusive o seu objeto da nossa denúncia por lavagem de dinheiro, que é exatamente a
ocultação ou a dissimulação da movimentação ou a destinação de recursos obtidos
38

através dessa prática criminosa. E há um dado bastante interessante, que foi investigado
pelo Ministério Público na checagem dos cheques, dos microfilmes, dois cheques num
valor superior a 100 mil reais, os dois cheques de 50 mil reais e pouco cada um, um em
outubro de 2004 e outro em janeiro de 2005.
O primeiro cheque foi assinado pelo falecido Malheiro e pelo denunciado Tomás
Botelho Fraga, e endossado pelo Sr. Malheiro, ou seja, endosso em branco. E esse
cheque foi depositado em uma determinada conta. Da mesma forma, em janeiro de
2005, um cheque assinado por Vaccari e pelo Sr. Tomás Edson, num valor também
aproximado de 50 mil reais, endossado pelo Sr. João Vaccari Neto. Esse cheque caiu na
mesma conta do cheque anterior.
Fomos verificar a conta. A conta pertence ao Hotel Grand Hyatt de São Paulo,
aproximadamente 100 mil reais, e obviamente requisitamos as informações para saber a
que se destinava. Podia ser até uma assembleia, podia ser um evento da BANCOOP, um
lugar bastante adequado para se fazer uma assembleia dos cooperados, que são todas
pessoas que merecem todo o luxo e conforto, que não receberam da BANCOOP, e de
repente nós recebemos a seguinte informação do hotel: que se tratava, tanto o primeiro
cheque, quanto o segundo cheque, para reservas e pagamento de estadias para o Grande
Prêmio de Fórmula-1 de 2004 e o Grande Prêmio de Fórmula-1 de 2005.
A fim de evitar qualquer confusão, até porque a confusão negocial que se
estabeleceu na BANCOOP era de grande monta, poderia ser possível que esses cheques
pertencessem, eventualmente, à pessoa que reservou ou que pagou o hotel, que é uma
empresa. Nós entramos em contato com essa pessoa responsável pela empresa, ela é
uma pessoa que cuida inclusive do circuito internacional de Fórmula-1, ela arregimenta
pessoas para assistirem as corridas de Fórmula-1 nos paddocks, cujo ingresso é,
segundo ela, foi até a título de curiosidade, chega a mais de oito mil reais por pessoa, e
que esses valores, segundo essa pessoa, ela já está inclusive arrolada na denúncia para
prestar esclarecimentos ao juízo, que podem servir não só para estadia como também,
na época, para translado de helicóptero do Hotel Grand Hyatt para o Grande Prêmio de
Fórmula-1 em Interlagos.
Nós, obviamente, tomamos o cuidado de perguntar a essa senhora se ela tinha
algum negócio com a BANCOOP, porque durante o período investigado verificamos
vários cheques, inclusive para pessoas conhecidas do grande público, políticos etc., que
receberam valores estornados porque não quiseram mais participar da Cooperativa. Isso
é perfeitamente plausível e nós verificamos várias pessoas nessas circunstâncias. E
39

perguntei, então, a essa senhora se ela tinha algum apartamento, ou se ela tinha vendido,
de repente poderia ter vendido um terreno superfaturado, a exemplo dos outros que nós
verificamos aqui, e na verdade foi observado que ela desconhece por completo e não
sabia dizer quem seriam as pessoas que a contrataram. Mas essa medida me parece que
é necessária e essencial e agora, no curso da ação penal, para que o hotel responda quem
são as pessoas hospedadas.
Para nós, a importância que tem, tecnicamente, é que o dinheiro foi desviado, e é
um exemplo muito claro de como funcionava o esquema criminoso dentro da
BANCOOP, com esses milhares de lançamentos que eram feitos.
Aliás, nesse período, João Vaccari Neto, Ana Maria Érnica e os demais
denunciados acabaram aprovando as contas de 2004 e 2005, e sendo que nesse período,
segundo depoimento da própria Ana Maria Érnica a esta CPI, e esclarecimentos
prestados, que estão juntados nos autos, porque é oficial, a oitiva do Sr. João Vaccari
Neto na CPI das ONGs e na Comissão Mista da Câmara dos Deputados, e esses
depoimentos estão constantes dos autos e fazem parte do período pré-processual e
absolutamente válidos. E nesse período já apresentava um endividamento aproximado
de 70 milhões de reais.
Então, o que alegam os denunciados é que os recursos para, que a falta de
recursos para a conclusão dos empreendimentos ocorreu por conta da suposta falta de
planejamento e previsão de gastos, ou pela necessidade de pagamento de valores
residuais por parte dos cooperados. A verdade é outra, pois a falta de recursos da
BANCOOP se deve única e exclusivamente aos desvios fraudulentos praticados pelos
denunciados, que formaram uma verdadeira organização criminosa, prejudicando
milhares de cooperados.
Na sequência, na nossa denúncia, nós narramos todos os prejuízos sofridos por
empreendimento, sendo que a cobrança indevida desses aportes, segundo a
demonstração, inclusive pelos depoimentos colhidos, documentos juntados nos autos,
representam crimes de tentativa de estelionato, no período compreendido entre o ano,
mais ou menos, de 1999 a 2008, dependendo do empreendimento.
Aliás, foram denunciados por esses crimes, e aqui vai o número exato das vezes
em que essas pessoas estão incursas no crime de estelionato tentado e estelionato
consumado: estelionato consumado, 1133 vezes; estelionato tentado, 2362 vezes;
obviamente isso de acordo com as regras de concurso material, formal e crime
continuado, e para a questão de dosimetria penal, obviamente que não serão condenados
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à prisão, o que daria prisão perpétua. Obviamente que há regras técnicas jurídicas para
estabelecer, mas é necessário que na denúncia nós esclareçamos quais foram as vítimas,
porque cada vítima, cada apartamento, cada unidade habitacional houve uma espécie de
negociação de contrato, houve, obviamente, as suas peculiaridades, e portanto isso está
representado em nossa denúncia.
Além dos empreendimentos, nós verificamos o seguinte. No afã de cobrir os
rombos inerentes a essas construções todas, foi feita uma espécie de tentativa de
cobrança, que é apenas mencionada, para outros empreendimentos, e esses
empreendimentos, que são vários, representam mais 2096 pessoas que foram cobradas
indevidamente e à época o valor cobrado para cobrir os rombos da BANCOOP chegava
a aproximadamente 23 milhões, 994 mil reais. Esses dados não são sigilosos e constam,
obviamente, nas Atas e nos documentos apresentados pelas testemunhas e vítimas.
Além disso, nós observamos que no período investigado foi possível determinar,
entre prejuízos e desvios, o valor aproximado de 170 milhões de reais. Ou seja, a
BANCOOP hoje é deficitária em 165 milhões de reais, segundo o último balanço
apresentado por seus dirigentes, e na verdade ela representa exatamente, ou
praticamente, o rombo e os desvios praticados, seja pelo desvio dos cheques nominais,
saque na boca do caixa, através utilização de empresa fantasma, através do
superfaturamento e utilização de caixa dois da empresa Germany e assim por diante.
Os crimes de lavagem de capitais ficaram devidamente estabelecidos por conta
do seguinte. Essa dinâmica, que é muito bem explicitada aqui na denúncia, sobre o
desvio, a dissimulação e a ocultação da movimentação, destinação e origem dos
recursos se deu exatamente com o enceramento das contas das seccionais da
BANCOOP e abertura de uma conta “pool”, impossibilitando que qualquer um dos
cooperados pudesse ter acesso efetivo à movimentação financeira ocorrida.
Nós verificamos que a concentração de recursos captados pela BANCOOP
foram sistematicamente desviados em um montante aproximado de quase 70 milhões de
reais e também determinou um desvio, um prejuízo, melhor dizendo, de mais de 100
milhões de reais pelas unidades não construídas, pelas unidades não acabadas, pelos
valores de mercado à época em que os imóveis foram lançados.
E mais. Nós aqui não computamos os valores inerentes aos aportes financeiros,
porque muitas das associações, e aqui quero deixar registrado de público que todas as
associações adquirentes e vítimas da BANCOOP, a partir, se o Juiz assim entender, a
partir do momento que venha a receber a denúncia formalmente, os senhores podem
41

ingressar nos autos do processo-crime como assistentes da acusação, para levar essas
informações espúrias, essas informações escandalosas, esdruxulamente escancaradas,
sob a égide dessa organização criminosa, para que os juízes cíveis tenham
conhecimento, porque há uma grande distinção, e eu ouvi muita bobagem de advogado
que não conhece nada de Código de Processo Penal, inclusive me ofendendo
publicamente, pessoas que na verdade precisariam voltar aos bancos acadêmicos para
entender um pouquinho mais do Código de Processo Penal e a legislação penal, que não
se confunde a investigação civil da investigação criminal.
Muitos me cobraram, inclusive cooperados, para que eu criticasse um Termo de
Ajustamento de Conduta com a esfera cível da Promotoria do Consumidor. Quero dizer
que são objetos absolutamente distintos e obviamente repercute de maneira
absolutamente distinta cada um na sua esfera de atribuição.
E mais. Posso aqui assegurar aos senhores, posso aqui assegurar aos senhores,
que esta investigação jamais foi sonhada, jamais foi pensada ou imaginada por algum
Promotor de Justiça do Consumidor, porque eles não tiveram acesso a esses dados. Ao
contrário, tiveram acesso aos balanços forjados, às contas manipuladas, aos extratos
sem qualquer controle financeiro.
Aliás, nesse sentido nós observamos que existe, são muitas coisas, mas a gente
vai destacando o mais importante. A BANCOOP, só para os senhores entenderem o que
estou dizendo aqui, há um crime de falsidade ideológica que salta aos olhos e que faz
parte da investigação, para que eu possa explicar melhor a lavagem de dinheiro. Vejam
só os senhores. O Sr. Tomás Botelho Fraga, junto com a Sra. Letícia Achur Antonio,
fizeram inserir declaração falsa consistente na elaboração do instrumento particular de
substituição de dação em pagamento por pagamento em dinheiro e quitação de crédito
hipotecário tendo como credor hipotecário um Sr. Pedro Fuchter e sua esposa, e tendo,
obviamente, como devedora, a BANCOOP, representada por Tomás, sendo que esse
contrato falso foi confeccionado por Letícia Achur Antonio. E obviamente com a
participação de Ana Maria Érnica, de João Vaccari Neto e dos outros falecidos.
O que aconteceu? Esses documentos me foram apresentados pelos Sr. Fábio
Luis Silveira, que foi sócio da Mirante e que trabalhou na Mizu. Segundo ele, inclusive
esses documentos já tinham sido trazidos pelo jornalista Sandro Barbosa, em 2008, mas
não havia... Com a existência dos documentos nós não sabíamos exatamente do que se
tratava. Então, o que aconteceu? O Sr. Fábio Luis Silveira explicou.
42

Foi feito um contrato entre a BANCOOP e esse cedente, porque ele vendeu um
terreno para a BANCOOP e não quis ficar com os apartamentos que lhe foram
oferecidos e resolveu então negociar com a BANCOOP, que recomprou os
apartamentos. Esse é o contrato. Mas o contrato real revela outra situação. Na verdade,
foi feito um contrato de gaveta entre o Sr. Pedro Fuchter e a BANCOOP e que
funcionava da seguinte forma, inclusive narrado por quem assina os cheques, a gerente
administrativa da BANCOOP à época, a Sra. Rosilene Cristina dos Santos Flausino,
ouvida pelo Ministério Público e obviamente que constatou esta fraude, que era a
seguinte.
A cessão hipotecária, por força do falso instrumento particular assinado pela
BANCOOP, com assessoria da Dra. Letícia, estabeleceu lançamento na contabilidade
oficial da BANCOOP da recompra dos aludidos apartamentos, como se fosse a
BANCOOP que estivesse comprando os 16 apartamentos. E esses imóveis foram
colocados à venda juntamente com os outros imóveis do empreendimento Veredas do
Carmo, observando que 43,59% desses 16 apartamentos e garagens pertenciam a
Malheiro e à Mizu.
Ora, nessas circunstâncias, o que nós observamos é que foi colocado na
contabilidade oficial da BANCOOP como se os apartamentos todos fossem dela. Esses
apartamentos foram vendidos, foi feito o lançamento no balanço e aprovação de contas
por parte da BANCOOP, e na verdade esses 43 vírgula “x” por cento acabaram,
obviamente, sendo desviados pelas condutas criminosas já noticiadas. Cheque sacado na
boca do caixa, cheque nominal à BANCOOP da própria BANCOOP, cheques nominais
à instituição Bradesco e assim por diante.
Então, só para encerrar, Sr. Presidente, com relação à lavagem de dinheiro, que
nós observamos nessas investigações que tiveram, infelizmente, um período de
interrupção, em maio de 2008 eu depus aqui nesta Casa a respeito das investigações, já
dizia o que digo hoje, não retiro nenhuma palavra, em absoluto, até mesmo como titular
da Ação Penal, acusador neste caso junto à 5ª Vara Criminal, todos os fatos, inclusive
noticiados pela imprensa, e é bom que se diga, os cooperados desesperados procuraram
muitas e muitas vezes a imprensa e depois, através da imprensa, nós tivemos
conhecimento de muitos desses depoimentos. Foi exatamente a ordem inversa, e
obviamente, os fatos foram noticiados, como devem ser, com transparência, porque a
Cooperativa deveria, em tese, pertencer aos milhares de cooperados, mas na verdade
serviu a um pequeno grupo criminoso.
43

Nós temos também algo que é importante destacar aqui, Excelências, com
relação ao “modus operandi” da BANCOOP. Nós ouvimos os Srs. Ronaldo William de
Oliveira, Sr. Flávio Fernandes, Sra. Rosilene Cristina dos Santos Flausino e outras
pessoas que narraram o seguinte. As assembleias gerais, inclusive a que escolheu para
presidente da BANCOOP, em 2005, o Sr. João Vaccari Neto e a diretora administrativa
financeira Ana Maria Érnica, as assinaturas foram colhidas depois, ou antes, sem a
presença das pessoas que assinaram, dentre os quais, inúmeros, entre aspas,
funcionários cooperados, que sequer tinham conhecimento do que era discutido em
assembleia. Então, era colhido, e isso foi devidamente certificado e isso está constando
da denúncia.
Nós temos também uma situação muito grave com relação ao Conselho Fiscal. O
Conselho Fiscal não fiscalizava absolutamente nada e nem por isso nós denunciamos os
conselheiros, até porque eles, na verdade, não foi possível determinar que agiram de
forma dolosa. É o depoimento de Danilo Manuel Antunes, é o depoimento de Adriana
Lage Correia, é o depoimento prestado por Sidnei de Jesus e outras pessoas, inclusive
da própria Rosilene Santos Flausino, que era gerente administrativa, outras pessoas que
trabalharam em outros setores da BANCOOP, que relataram que eram manipulados os
dados. Esses dados eram apresentados “a posteriori”, em 24 horas para os conselheiros
fiscais, que não tinham acesso a qualquer tipo de movimentação financeira, contratação
etc. E submetida à aprovação, a organização criminosa conseguia aprovar as suas
contas.
E mais. Já estou encerrando, Excelência, desculpem aqui, mas são muitas as
vertentes da investigação.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Fique à vontade.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Obrigado.


Há outra questão bastante interessante, que não é objeto da investigação
criminal, mas é digna de destaque, que é a questão dos empréstimos feitos pela
BANCOOP, sem a anuência de seus cooperados.
Aliás, hoje a BANCOOP tem, absurdamente constando em seus balanços
oficiais, empréstimos com cláusula de confidencialidade e, obviamente nós checamos,
isso inerente ou ao Sindicato dos Bancários ou à Federação dos Bancários ou outros
sindicatos, onde, na verdade, hoje, muito embora a BANCOOP tenha quitado ou tenha
44

se acertado com o fundo chamado FIDC, que determinou uma movimentação


milionária, sem aprovação dos senhores cooperados, ela continua devedora em mais de
45 milhões, valor este que representa, obviamente, a necessidade da cobertura do rombo
praticado por essas agruras todas que eu acabei de noticiar aos senhores.
Existem cheques, por exemplo, dados pela Mizu, Mirante, pela Germany e pela
própria BANCOOP para um centro espírita, num valor aproximado de 50 mil reais.
Certamente, diante dessa investigação, alguém vai puxar meu pé lá em cima, mas
absolutamente contrário aos interesses da BANCOOP. Há uma tal de Capisc, que na
verdade relata problemas, é uma entidade que cuida de menores com problemas de
deficiência, num valor superior a 160 mil reais, e por aí afora. Temos cheques e
transferências eletrônicas e transferências bancárias absurdas.
Há uma coisa que chamou a nossa atenção e que efetivamente simula as
operações contábeis da BANCOOP, a chamada transferência bancária. Imaginem os
senhores que inúmeros cheques, de valores vultosos, vultosos, foram emitidos pela
BANCOOP, de uma determinada conta, cheques não, transferências bancárias para a
mesma conta, para o mesmo titular. Então, são operações que ao final do dia, credora e
devedora acabam zerando. Ou seja, é como se a operação não tivesse ocorrido.
Exemplo, como se alguém aqui neste auditório fosse ao caixa do banco, com o seu
cheque, e pedisse ao caixa: Estou fazendo um cheque meu e o senhor deposita na minha
mesma conta. O que vai acontecer? O cidadão vai pedir que o senhor seja interditado,
porque não é possível. É uma operação absolutamente esdrúxula, inexplicável sob o
aspecto financeiro, porém tem lá as suas justificativas porque nós observamos uma
prática bastante comum a partir da adoção da chamada conta “pool”, dos chamados
empréstimos solidários. Um grupo de cooperados de um determinado empreendimento,
sem qualquer anuência, emprestava um milhão ou dois milhões de reais para outro
grupo de cooperados, para outro empreendimento.
Isto, obviamente, resultou aí na manipulação dos dados e, obviamente, a
manutenção e erro, e obviamente em prejuízo de todos os milhares de cooperados, que
hoje, concretamente, além da denúncia oferecida, essas pessoas, obviamente, e qualquer
um pode constatar o estado lamentável da Cooperativa Habitacional dos Bancários. Não
por falta de aporte, mas sim pelos desvios praticados.
Deixe ver se tem mais algum dado, Excelência, para complementação.
Basicamente é isso. Quais são os próximos passos? O Juiz da 5ª Vara Criminal deverá
examinar os pedidos de quebra e eventual bloqueio de bens dessas pessoas investigadas;
45

se for o caso e se assim entender que existem indícios de autoria e materialidade,


determinará que essas pessoas sejam notificadas e apresentem a defesa preliminar em 10
dias. Depois dessas defesas apresentadas, ele vai examinar se recebe ou não recebe a
denúncia. Neste exato momento a denúncia foi ofertada, formalmente ofertada, de
acordo com o protocolo que foi lido no início da nossa fala.
Queria dizer também que o laudo trazido ontem, em complementação, pelo
Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro, o Laudo nº 39/10, elaborado
pela Dra. Márcia Monaci e pela Oficial Lídia Brasil, que merece aqui os meus sinceros
parabéns pelo detalhamento, aliás, o Ministério Público inaugurou o Laboratório de
Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro exatamente no caso BANCOOP. Já foi
repassado à CPI e, obviamente, oportunamente, hoje, ao final do dia eu faço questão de
mandar a cada um dos representantes desta Assembleia Legislativa, que estão na CPI, a
cópia da denúncia e demais elementos, para que os senhores possam, obviamente,
verificar.
E o que eu achei interessante é que foi usado um sistema chamado I2. É uma
pena que não possa apresentar aos senhores, mas quiçá um dia a imprensa possa ter
acesso, não aos dados, mas à forma como é elaborado esse tipo de laudo. É um
programa utilizado pelas principais forças de inteligência de combate à lavagem de
dinheiro. Aliás, em vários casos que inclusive atuei, nós utilizamos com muita
dificuldade à época, como, por exemplo, na Máfia dos Fiscais, que tive o grande prazer
de estar ao lado de um grande amigo, um grande político, um grande sujeito, que é o ex-
Deputado José Eduardo Martins Cardozo, uma pessoa que merece todo o meu respeito e
acatamento, que juntos fizemos uma investigação como esta, só que tratando de
dinheiro público; assim como também na CPI do Banestado, na CPI dos Combustíveis
aqui desta Casa, na CPI, que nós participamos em Brasília, da Pirataria, aliás, época
inclusive em que fui homenageado inclusive pelo próprio Presidente Lula, Luiz Inácio
Lula da Silva, pelo trabalho realizado em conjunto com os Deputados Medeiros, João
Paulo Cunha e tantos outros que participaram dessa investigação. Assim como também
a CPI dos Combustíveis desta Casa, assim com a CPI da Favela Naval, em 1997, assim
como na CPI do PAS, assim como nas CPIs da Pedofilia, tanto Federal quando da
Assembleia Legislativa, e o grande problema que nós encontramos, como operador do
direito, e aqui fica uma sugestão, porque na verdade quando nós estamos aqui, não só
para relatar os fatos, mas também para traduzir algumas coisas que podem se
46

transformar em preceitos necessários para que se façam, obviamente, o aparelhamento


do Estado no combate à lavagem de dinheiro.
O grande problema que nós tivemos na BANCOOP, isso inclusive é público e
notório e de fundamental importância que os senhores saibam, seja BANCOOP ou
qualquer outro investigado dessa magnitude, quando envolve milhares de cheques,
milhares de extratos, nós trabalhávamos com papel, e é difícil fazer todo esse trabalho.
A partir do caso BANCOOP inclusive, foi possível, com as instituições
financeiras, que eles remetessem o material em dados digitais, para que o Laboratório
pudesse trabalhar essas informações, de maneira absolutamente precisa através de um
programa denominado I2, que serve ao FBI, serve à Polícia Financeira da França e
tantos outros lugares, e foi inaugurado em São Paulo e me parece que dá, obviamente,
os indicativos e a segurança necessária para o operador do direito.
Eu quero fazer aqui a minha sugestão, obviamente na qualidade de Promotor de
Justiça Criminal, que se faça alguma coisa para aparelhar a nossa Polícia Civil, a Polícia
Judiciária, no sentido de dar esses mecanismos. Esse programa, que é federal, de
compartilhamento, de cruzamento de dados, é extremamente caro, e só o Ministério
Público de São Paulo o possui. Então, seria interessante fazer aí, obviamente, as
medidas necessárias, para que isso seja levado a campo, porque uma investigação dessa
magnitude, nós observamos uma maior celeridade na sua condução a partir do momento
em que nos foi dada a oportunidade de trabalhar com esses mecanismos de tecnologia
de combate à lavagem de dinheiro.
Até então, só para os senhores terem uma ideia, dos 60 anexos contendo as
informações bancárias e fiscais, nós tivemos, pelo menos em 40 anexos, que são mais
de 300 folhas por anexo, digitar, os oficiais de Promotoria, enfim, as pessoas ligadas ao
Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro, tiveram de digitar cheque a
cheque, dado a dado, para a obtenção dessas questões.
E não é crível, não é possível, neste momento em que nós vivemos, com a
informática estando, obviamente, a todo vapor, que o Estado não se equipe e não exija
das instituições financeiras, parece que agora a Procuradoria Geral de Justiça está
assinando um convênio, a exemplo do que já acontece no Ministério Público Federal,
para receber toda e qualquer informação bancária e fiscal através de dados consolidados
digitalmente, que possam ser objeto de investigação.
E só para encerrar, Excelência, eu sou membro do Ministério Público desde
1993, atuei em muitos casos, este é mais um, como qualquer outro caso que nós
47

tratamos. Não houve da minha parte qualquer interesse político, qualquer interesse
pessoal, qualquer interesse que não fosse apuração do que nós denominamos verdade
real. Aqui nós defendemos a sociedade.
Em especial, muito nos comoveu - na qualidade de operadores do direito –
verificar que as pessoas pagaram por suas casas e pagaram por seus apartamentos,
pagaram para a obtenção do sonho da casa própria, e hoje vivem um verdadeiro
pesadelo.
Quero também dizer, e repetir mais uma vez aos senhores cooperados que
participam das Associações de Adquirentes e Vítimas da BANCOOP, não há a menor
possibilidade, pelo que nós verificamos nas contas da própria BANCOOP e de alguns
dos investigados, a possibilidade de recuperação desse prejuízo, pelo menos a nosso ver.
E mais, não é na esfera criminal que nós vamos cuidar dessas questões. Aqui na
esfera criminal o nosso único objetivo é, de acordo com a individualização das
condutas, verificar se esses denunciados devem ser ou não condenados. O oferecimento
da denúncia não quer dizer um pré-julgamento. O oferecimento da denúncia quer dizer
que existem indícios de autoria e materialidade suficiente, independentemente da pessoa
que está sendo investigada, ora denunciada. Seja ela pertencente a partido político A, B,
C ou D.
Aliás, quando vim aqui em maio de 2008, na sequência nós fizemos uma
investigação enorme que envolveu a denominada Máfia dos Fiscais 2. Naquela época eu
fui acusado de petista. Na CPI da Favela Naval, quando foi dada a possibilidade de
extinguir a Polícia Militar, eu fui acusado de petista. Quando fiz a investigação da
Máfia dos Fiscais, ao lado de José Eduardo Martins Cardozo, eu fui acusado...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.


O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Eu fui acusado de petista.
O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.
O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – E assim, dentro dessas circunstâncias...
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Dr. José Carlos Blat,
só um momento.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Aqui não tem acusação de petista.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Uma hora e quinze minutos nós estamos


ouvindo.
48

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Pelo contrário.


O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Isso é absolutamente desnecessário.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Fale do seu partido.
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputados...
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não vem falar do PT.
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputados, vocês
terão a oportunidade.
O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Totalmente desnecessário.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Aqui não é palestra. É para fazer
depoimento. Respeite o nosso partido.
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Você terá a
oportunidade em breve. O Dr. José Carlos Blat está com a palavra.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Mas aqui não é palestra, é
depoimento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Ele já anunciou que


irá para a conclusão, já anunciou. Já está indo para a conclusão.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Ele anunciou que estava indo para a


conclusão. Quarenta minutos atrás já começou a concluir e há 40 minutos ele está
concluindo.
Ele está falando sobre questões que são absolutamente dispensáveis para esta
CPI.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Nós queremos saber das provas.


O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Já vai chegar o
momentos de os Deputados terem uso da palavra.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Mas nós não estamos aqui discutindo
partido político.
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra...
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O dia em que alguém for petista... é
acusação ser petista? Isso é uma brincadeira.
49

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O Dr. José Carlos


Blat está com a palavra para concluir.
Tem a palavra o Dr. José Carlos Blat.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Excelência, na verdade não no sentido


pejorativo dos partidos políticos, ao contrário. Respeito todos eles, inclusive o Partido
dos Trabalhadores, onde tenho grandes amigos, pessoas que inclusive inspiram o regime
democrático de direito, inclusive V. Exas. que aqui pertencem a essa bancada.
Não foi nesse sentido, e quero aqui, obviamente, esclarecer que a investigação
criminal não tem cunho político-partidário algum, seja do PSDB, seja do PT ou de
qualquer outro partido.
A mesma coisa aconteceu quando nós investigamos o Paulo Salim Maluf e a
Avenida Água Espraiada, eu fui acusado de tucano. E assim por diante.
A interpretação que quero dar é a seguinte. Que na verdade nós estamos,
obviamente, fora de qualquer contexto político-partidário. A investigação foi feita, a
denúncia foi oferecida e a partir de hoje nós só vamos nos manifestar dentro dos autos
do processo.
Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.


O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Obrigado Doutor José
Carlos Blat.
Por favor, pediria que não houvesse manifestação das pessoas aqui presentes.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.


O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Quero agradecer as
suas considerações e passar a palavra então aos Deputados.
Pela ordem, tem a palavra o nosso Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, apenas para solicitar a


juntada da denúncia oferecida pelo Dr. José Carlos Blat, enquanto Promotor de Justiça,
aos autos, com cópia. Por favor, com cópia. Se for deferido...
50

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – A Secretaria faça a


anotação.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Está deferido? E os documentos anexos,


com os documentos anexos. Está deferido o meu pedido, senhor Presidente?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Está. Perfeitamente.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Então, na sequência, solicitar que essas


cópias sejam distribuídas por avulso a todos os Deputados que compõem esta CPI,
imediatamente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu peço à nossa


Secretaria da CPI que já inicie as providências no sentido da distribuição desses
documentos.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – É a cópia da CPI e as provas que o


Promotor narrou aqui, para que nós possamos... Não é à tarde. O depoimento está sendo
agora e o senhor já falou agora. Quero as provas agora, para inquiri-lo aqui. Tem
pessoas acusadas aqui e eu quero ver as provas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O Dr. José Carlos


Blat fará isso no tempo possível.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Tem ou não tem a prova? Não. Foi


apresentada a denúncia, já foi comunicada à imprensa e eu, como Deputado, quero as
provas.
51

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – E ele fará isso no


tempo adequado a ele.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O tempo é agora.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Adequado possível,


quero dizer. No tempo possível.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Quem tem a denúncia tem as provas.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, pela ordem. Senhor


Presidente.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Cadê as provas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pessoal...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu quero as provas, Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Calma, Vanderlei.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu preciso inquiri-lo.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor.


Serão providenciadas as cópias. A partir deste momento já estão sendo
providenciadas.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Apenas isso, nada mais do que isso.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tudo bem.


52

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Então vamos suspender os trabalhos


para que sejam providenciadas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Alguém quer usar da


palavra?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, para ficar bem claro, a


cópia de inteiro teor da denúncia apresentada pelo Promotor José Carlos Blat na Justiça.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nenhuma objeção.


Ele tem aqui e possivelmente, o que for possível do ponto de vista técnico, ele fará para
nos distribuir as cópias. Não há problema, não há objeção.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Só um minutinho


pessoal. Não vamos nos manifestar, os convidados, por favor.
Nós estamos abrindo, neste momento, a palavra aos Deputados. A palavra aos
Deputados que queiram se manifestar. Há algum Deputado que queria se manifestar?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu sugiro então que a gente levante,


aliás, suspenda por alguns minutos, até que venham as cópias e os documentos, para que
nós possamos...

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor.


53

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Isso aqui é um circo?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu quero ouvir a


opinião dos Deputados. Estamos ouvindo.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu gostaria, para que eu possa


verificar, porque eu acho gravíssimas as acusações e eu preciso verificar as provas e o
documento apresentado pelo promotor, até para que eu possa fazer as perguntas.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Como não é possível


instantaneamente, nós poderíamos suspender por alguns minutos, para que nós
pudéssemos ver as provas, porque houve uma fala, agora quero ver as provas para que
eu possa inquiri-lo.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Roberto Morais.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Olha, respeitando o posicionamento do


Deputado Vanderlei Siraque, mas entendo que muitas das questões já podem começar a
ser levantadas agora, independente ainda das dúvidas ou aguardando as provas que o
Siraque tenha neste momento. Alguns Deputados já têm perguntas formuladas, então,
para a gente ganhar tempo. Como eu disse, às duas e meia temos o Colégio de Líderes,
e já são uma e vinte da tarde, então daqui a pouco eu, principalmente, vou ter de me
ausentar, talvez o Deputado Mentor também, que é líder partidário.
Então, apenas para esse encaminhamento, porque o próprio Deputado Chico
Sardelli já tem perguntas elaboradas aqui para o Doutor Blat.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Algum Deputado que


sinta que não necessite dessas cópias para fazer alguma intervenção, fazer uso da
palavra, quer fazer uso da palavra?
54

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Eu, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Chico Sardelli.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Primeiro, agradecer a participação do


Doutor Blat.
Segundo. Eu tenho aqui três questões que me chamaram a atenção durante a sua
fala.
V. Exa. disse aqui que esse processo se iniciou em 2007, é isso?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Sim.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – O senhor tem noção, ideia ou lembra-se da


primeira reclamação? Como que isso se deu? Como isso aconteceu? Qual era o
problema onde deu origem a esse processo?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Com a palavra o


Doutor José Carlos Blat.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Aliás, Excelências, gostaria de dizer o


seguinte. Diante da complexidade dos autos, do conjunto de documentos apresentados,
nós tomamos uma providência no Ministério Público que foi a seguinte: para agilizar
inclusive esses pedidos que foram hoje feitos, assim como também dos advogados, das
pessoas interessadas que podem ter acesso aos autos, nós digitalizamos os 100 volumes,
que estão constando já, boa parte deles nós entregamos a V. Exa. através do pedido de
compartilhamento de informações da Juíza Corregedora, Exma. Dra. Cláudia Ribeiro,
em que é possível verificar cada um desses documentos em CD. Eles estão todos eles
digitalizados e, obviamente, repercutem todas as folhas que estão juntadas.
Inclusive com relação a essa colocação, Sr. Deputado, se me permite dois
segundos, porque são muitas coisas, mas nos autos principais, eu vou ao volume
primeiro, uma pena que não é possível usar telão, datashow.
55

Para que vocês tenham uma ideia, o inquérito policial, ele na verdade foi
encaminhado...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Dr. José Carlos Blat,


se o senhor quiser, pode ser instalado.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Nós tomamos o seguinte cuidado durante a


investigação criminal. Muita gente confundiu isso achando que havia quebra de sigilo,
uma grande bobagem. Nós pedimos, e isso está determinado judicialmente pela Dra.
Cláudia Ribeiro, as informações bancárias e fiscais ficaram do anexo I ao anexo LX. As
informações não sigilosas ficaram no volume I ao volume XXVII, que podem ser
acessados por qualquer pessoa interessada.
Só peço um pouco de paciência por conta da fragilidade dessas informações.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Já está sendo


retransmitido na tela. Ele está mostrando algum documento que ele achou importante
para a pergunta do Chico Sardelli.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Só para exemplificar como estão os


documentos aqui, para que os senhores possam depois fazer a consulta. Para fazer a
consulta, nós dividimos por volume e esses documentos podem ser acessados mediante
PDF, copiados se quiserem e destacados.
Aqui nós temos um documento encaminhando representação contra atos
praticados pela diretoria e membros do Conselho Fiscal da BANCOOP para tomada de
providências, que foi encaminhado, o primeiro protocolo que deu entrada, na verdade,
na Promotoria de Defesa do Consumidor, em 10 de abril de 2006, pela Comissão de
Representantes do Empreendimento Residencial Torres da Mooca.
Esse documento foi para a apuração das cobranças abusivas e também na esfera
cível a respeito de tudo aquilo que estava sendo objeto de questionamento por parte dos
cooperados.
O que aconteceu? Isso foi encaminhado, essa representação foi encaminhada ao
Ministério Público na esfera do consumidor e lá se instaurou o inquérito civil. Esse
inquérito civil tramitou durante um tempo. E no final de 2006 ou 2007, o Promotor,
tomando as providências cíveis, enfim, cabíveis à espécie que ele entendia necessárias,
56

pediu que fosse encaminhada cópia integral do inquérito civil para apuração, lá naquela
época já, apuração de crime de formação de quadrilha ou bando, independentemente das
providências cíveis adotadas. Foi nesse sentido.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Vai necessitar utilizar


mais?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Não sei. Se tiver outra pergunta.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Tenho mais dois questionamentos.


V. Exa. poderia precisar, ao longo de toda a leitura, das lembranças do processo,
qual o número efetivo de cooperados lesados?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Objetivamente falando, nós temos dois


quadros necessários a serem observados. Na medida em que a Cooperativa manipulou
balanços, manipulou documentos, fez contratos de gaveta, todos eles documentados,
todos eles registrados, depoimentos prestados, enfim, constatados, na verdade todos os
cooperados, nessa acepção, mesmo aqueles que receberam seus imóveis, são vítimas,
porque de alguma forma eles pagaram um preço muito alto.
Só que na esfera criminal, o que nós estamos apurando, Excelência, são os
estelionatos, as tentativas de estelionatos, a falsificação de documentos ou a falsidade
ideológica, o crime de formação de quadrilha ou bando e a, obviamente, consequente
lavagem de capitais.
Nessas circunstâncias, nós podemos detectar, por números objetivos, e aí,
obviamente, para cada empreendimento foi feito por amostragem, de acordo com as
associações dos adquirentes de todos esses condomínios, nós destacamos apenas, nessa
nossa denúncia, pelo menos 14 que tiveram as obras inacabadas. Desses que tiveram as
obras inacabadas, nós podemos afirmar, com absoluta precisão, que são vítimas da
BANCOOP, de não terem recebido seus imóveis nessas obras inacabadas, 1132
cooperados.
Como foi feito esse cálculo? Nós partimos, obviamente, não das obras
descontinuadas, porque nós não tivemos condições, e essas certamente devem
representar mais outro tanto de vítimas, que pagaram e a obra, o terreno foi vendido, foi
negociado etc. Aqui não. 1132 pessoas que efetivamente não receberam seus imóveis, e
57

2362 pessoas, ou cooperados, que não cooptaram pela adesão a esse pagamento
indevido, que obviamente estava sendo cobrado para tentar acobertar, ou para jogar nas
costas dos próprios cooperados a responsabilidade pelo gasto ou pelos desvios sofridos.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Para finalizar, no momento do depoimento


de V. Exa., V. Exa. colocou que existiu aí indícios de doações políticas, feitas a
políticos ou feitas a instituições político-partidárias. V. Exa. poderia nos declinar quem
são? Como foi? Qual o montante?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Montantes reais...

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Cento e vinte mil, se não me falha a


memória.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Cento e vinte mil pela Mizu, obviamente
também um cheque, isso já é de conhecimento público, inclusive está registrado no
Tribunal Regional Eleitoral, que a Germany doou para o PT.
É bom que se diga também que àquela época o Sr. Luis Malheiro era candidato a
Vice-Prefeito da Cidade de Praia Grande. Então, a doação feita ao partido era uma
doação absolutamente legal. Nós não podemos responsabilizar o Partido dos
Trabalhadores pelo recebimento de um cheque nominal. O problema não está no cheque
nominal ao PT. Poderia ser para qualquer outro partido. O problema está na formulação
interna para destinar esse valor para aquela campanha eleitoral.
O que nós temos de concreto são esses lançamentos e, obviamente, os
depoimentos prestados por várias pessoas – Hélio Malheiro, Fábio Luis Silveira, enfim,
e tantos outros, os senhores terão acesso a todos esses depoimentos, em que eles narram,
peremptoriamente, que a BANCOOP foi usada para fins escusos, seja para enriquecer
os seus diretores, seja para fomentar campanhas políticas eleitorais. Não sou eu que
estou dizendo.
Obviamente que o dado concreto. O que eu fiz? Na medida em que eles diziam,
afirmavam alguma coisa referente à doação de campanha ou alguma irregularidade
eleitoral, foram encaminhados, naquela época, e agora nós vamos complementar,
porque chegaram os laudos que podem dar alguma justificativa melhor. Então, à medida
que a gente recebia essas informações ou depoimentos, eram encaminhados à
58

Procuradoria Regional Eleitoral ou à Procuradoria Geral da República, para as


apurações necessárias, porque não cabe ao Ministério Público do Estado de São Paulo
fazer esse tipo de investigação.
O que nós detectamos é que não foi só a doação para A, B ou C, ou para partido
A, B ou C. O problema principal que nós verificamos é o efetivo desvio de recursos
para finalidades absolutamente estranhas à Cooperativa, ao objeto da Cooperativa, e
isso nós tentamos demonstrar na investigação criminal.
Então, obviamente, dados concretos, efetivos são esses lançamentos apontados
pelo Sr. Fábio Luis Silveira, essa doação oficial da Germany e, obviamente, os
depoimentos prestados pelas pessoas. Mas isso foi utilizado na nossa investigação
criminal para apuração, não do desvio político, mas da apuração do prejuízo das
vítimas. Foi nesse sentido.
E os senhores vão ter acesso ao segundo laudo. O primeiro laudo revela o
seguinte. O primeiro inclusive já foi encaminhado a esta CPI. Ele foi concluído dia 3 de
setembro. O de ontem, inclusive seria interessante que os senhores verificassem, há um
lançamento estranhíssimo. Não tem nada a ver com partido, nem nada, é uma situação
que nos chamou muito a atenção. Foi aberta uma conta na Caixa Econômica Federal,
essa conta funcionou durante cinco dias. Eu não posso afirmar se foram movimentos
lícitos ou ilícitos, mas os senhores podem, obviamente, rapidamente, com essas
informações, obter junto à Caixa Econômica Federal ou no aguardo do nosso processo-
crime, em cinco dias entrou uma quantia que nós não sabemos de onde, mais de 350
milhões. Esses valores saíram cinco dias depois.
Não sei se foi um lançamento, pode ser – a gente sempre trabalha com muita
cautela, mas pode ser um lançamento absolutamente equivocado, em nome da
BANCOOP, na Caixa Econômica Federal, em 2005. Depois eu faço esses destaques na
medida em que a gente mandar os CDs aos senhores, com um relatório para que os
senhores possam se orientar, porque são muitas informações.
O primeiro laudo tem 40 páginas e mais os seus anexos. Nós fizemos inclusive
uma linha do tempo com relação aos cheques e às transferências realizadas por essas
empresas e por essas pessoas físicas.
O que nos chamou a atenção também, pelo montante movimentado e pelo desvio
ocorrido, queria destacar que também foram quebradas as contas, o sigilo bancário e
fiscal de alguns diretores, dentre eles o Sr. Luis Malheiro, que inclusive morreu em
59

2004 e tinha movimentação financeira até 2008 das suas contas. Não sei como. Está ali.
Não sou eu que estou dizendo, é o laudo que diz.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor. Com a


palavra o Doutor José Carlos Blat.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Estou colocando essa circunstância, mas a


gente tem de fazer, obviamente, a colocação com muita cautela. Pode ser que a conta
tenha um segundo titular, e obviamente esse segundo titular fez a movimentação, e não
foi atualizado o cadastro. Não estou dizendo que haja fraude.
O que nós detectamos, na verdade, é que, do montante do desvio e do prejuízo
praticado na Cooperativa Habitacional dos Bancários, é ínfimo o valor recebido por
esses dirigentes.
Por exemplo, se me dão licença... Aqui, rapidamente. Do Malheiro. O Malheiro
recebeu da BANCOOP quatro mil reais, e 140 mil, aproximadamente, da Germany. O
Tomás Edson, entre uma e outra, 150 mil. Enfim, valores que variavam de 60 a 70 mil
reais a 150 mil reais.
É óbvio que o que nós conversamos com o Laboratório de Tecnologia Contra a
Lavagem de Dinheiro é que nós estamos no nível dois do rastreamento. O que quer
dizer isso? Há necessidade, a partir desses dados, há possibilidade de a gente partir para
o nível três, quatro ou cinco, ou seja, aprofundar ainda mais essas questões.
Talvez não nos interesse, na investigação criminal, na Justiça Estadual. Esses
dados também foram compartilhados com V. Exas. e foram também compartilhados
com a Justiça Federal, que está investigando essa história, que não sei se procede ou
não, de fraude de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Porque foram liberados, em
2002, 2003, comecinho de 2003, isso não é objeto da nossa investigação, é apenas um
depoimento e alguns documentos apresentados, que esses valores teriam sido recebidos
mesmo com as obras não concluídas, ou seja, com alguma fraude para liberação do
Fundo.
Não faz parte da nossa investigação, assim como não faz parte a investigação
inerente a desvio para partido político. Nós, obviamente, fizemos a menção. Aqui, as
palavras que coloquei, sempre, obviamente, dentro do contexto, e se fui mal
60

interpretado ou não, aí essa é outra questão, mas sempre no contexto de trazer


informações, porque durante a investigação eu percebi o sofrimento das vítimas, que
não tinham como, não tinham alternativa de demonstrar, nas suas ações cíveis, que
estavam sendo vítimas de golpes extremamente violentos, fraudulentos.
Então, nós buscamos, na medida do possível, trazer as informações e espero que
agora, e que fique bem claro, as pessoas foram denunciadas; para serem consideradas
culpadas, ou condenadas, é necessário que o Juiz ou o Promotor e os advogados se
manifestem nos autos.
É uma forma também de traduzir uma tranquilidade necessária que nós
precisamos, nós operadores do direito, saiamos desse foco de pressão que é
absolutamente desnecessário, para que tecnicamente, assim como nós desenvolvemos as
nossas investigações desde o início, tecnicamente, possamos dar o desenrolar necessário
da investigação, Excelência.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu vou pedir a


suspensão dos nossos trabalhos por três minutos.
Está suspensa.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Era para encerrar, mas eu aguardo.

* * *

- A reunião é suspensa por três minutos.

* * *

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Reabertos os nossos


trabalhos.
Tem a palavra o Deputado Chico Sardelli.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Já para o encerramento, eu gostaria apenas,


resumida ou rapidamente, que V. Exa. nos dissesse de que forma V. Exa. está
acompanhando esses trabalhos desta CPI, se está acompanhando, se tem recebido
informações, como é a visão de V. Exa. sobre os trabalhos desta CPI.
61

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Antes de mais nada, eu gostaria de


parabenizar todos os seus integrantes. Eu tive acesso às Atas das sessões e com muito
respeito e acatamento e achei por bem acompanhar à distância, porque são dois focos de
investigação distintos. O meu é criminal. Assim como eu acompanhei à distância a
apuração cível, eu não fui a nenhum outro lugar, a nenhuma outra casa legislativa,
inclusive fui convidado em Brasília, duas ou três vezes. Não fui não por que não
quisesse ir, mas duas vezes por problema de saúde e outra porque não houve a
possibilidade hábil de me dirigir a Brasília. Mas a minha principal preocupação era de
dar subsídios a esta CPI. E eu acompanhei todos os depoimentos, de uma forma ou de
outra, inclusive pela TV Assembleia, algumas coisas foram passadas. E tenho apenas a
parabenizar o trabalho dos senhores, porque o compartilhamento de informações da
Assembleia Legislativa, desta CPI, para o Ministério Público e vice-versa, porque eu
acho que a união de esforços para apuração dos fatos de tamanha gravidade foi de
fundamental importância.
Quando o Deputado Samuel Moreira esteve com a Juíza Dra. Claudia Ribeiro e
fez a petição, ela me passou o inquérito para que eu me manifestasse, eu,
imediatamente, encaminhei inclusive em mídia digital, demora um pouco a carregar,
porque são muitos volumes, mas a gente acabou compartilhando essas informações. E,
da mesma forma, a via da CPI para o Ministério Público também foi de fundamental
importância. Os depoimentos colhidos, as informações captadas ao longo desta CPI que
já duram seis meses.
E quero dizer mais. Eu aguardo com bastante ansiedade o Relatório Final porque
nós vamos juntar isso à nossa Ação Penal, ao processo, se esse processo for
efetivamente aceito pela Justiça.

O SR. CHICO SARDELLI – PV – Agradeço a participação e os


esclarecimentos que o Dr. Blat nos fez aqui. Obrigado a vossa excelência.
Era só, senhor Presidente.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Ricardo Montoro e depois o Deputado Antonio Mentor.
62

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Dr. Blat, eu queria alguns


esclarecimentos a respeito de algumas anotações que eu fiz.
Nós recebemos algumas informações a respeito do famoso FIDC que,
efetivamente, já havia sido liquidado. E o senhor nos trouxe uma informação de que
ainda existe um saldo devedor de 45 milhões, ainda neste momento. Eu queria primeiro
saber se eu entendi corretamente e, se isso ocorreu e se está devidamente comprovado,
digamos, na denúncia ofertada.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Deputado Montoro, o que efetivamente


aconteceu e que a gente detectou foi o seguinte. O FIDC foi liquidado pela BANCOOP,
disso não há dúvida alguma. O que nós detectamos é que após a liquidação ou
concomitantemente à liquidação foram, na verdade, captados empréstimos com cláusula
de confidencialidade que se equiparam ao valor do FIDC. O FIDC era,
aproximadamente, não tenho aqui o número concreto, exatamente, está nos autos, 40 e
poucos milhões, eu não me lembro exatamente se eram 47 ou 43 milhões. E, hoje, a
BANCOOP continua endividada em 45 milhões, não pelo FIDC, segundo balanço de
2009 e segundo os dados obtidos com relação a esses empréstimos com cláusula de
confidencialidade. É algo que nos traz preocupação. A relevância jurídico-penal disso?
Obviamente, apenas para demonstrar o endividamento da BANCOOP por conta das
fraudes aqui noticiadas.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Ou seja, liquidou o FIDC, mas ficou


devendo empréstimos.
Depois eu queria também entender melhor, Dr. Blat. O senhor fala que o rombo
da BANCOOP, hoje, é algo em torno de 165 milhões e que o volume de problemas de
desvios e irregularidades soma, aproximadamente, o mesmo valor, talvez um pouco
mais de 170. É correto o meu entendimento?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Veja. Existe inclusive em nossa denúncia aqui
devidamente estabelecida prejuízo de 100 milhões; desvios de, aproximadamente, 70
milhões. Totalizando, obviamente, 100 milhões de prejuízo mais desvio de 70,
obviamente é um número sempre aproximado. Não há a menor possibilidade. Aliás, a
primeira denúncia de lavagem de dinheiro que foi oferecida no Brasil foi oferecida por
63

nós, à época. E, de lá para cá, pouca coisa mudou, no seguinte sentido: é impossível
rastrear absolutamente tudo. A partir do momento que há uma, duas, três, quatro, cinco
ou 10 operações, esses valores acabam sendo diluídos e impossibilitam o investigador
de fazê-lo. Normalmente, o que nós fazemos é o seguinte: a investigação, e nesse caso
da BANCOOP é perfeitamente plausível e está indicada nos autos, com relação à
primeira fase dos desvios e à última fase representada efetivamente nos prejuízos e nos
desvios detectados e na falta ou na ausência das moradias e na ausência dos prédios não
edificados e dos problemas todos que foram detectados.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Outra pergunta rápida. Houve a


denúncia que faz parte da denúncia ofertada a respeito do Grande Prêmio de Fórmula no
Grand Hyatt. Isso está documentado através de notas fiscais? Foi dinheiro efetivamente
da cooperativa que saiu para pagar a Fórmula 1?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Sim. Eu vou explicar. Inclusive isso já foi
passado, os senhores já têm acesso a esses volumes todos que na última vez que nós
encaminhamos documentos em compartilhamento de informações.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – São dados


confidenciais que se encontram à disposição dos deputados da CPI. Nós os informamos
já da disponibilidade desse material.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Mas como faz parte da denúncia e a denúncia
traduz um processo público, obviamente não vou traduzir valor e número de cheque
etc., mas a gente pode dizer o seguinte. Que dois cheques nominais à BANCOOP, de
titularidade da BANCOOP endossados pelo Luís Malheiro, quando presidente, e pelo
senhor João Vaccari, quando presidente, foram depositados numa conta do Grand Hyatt
Hotel. O Grand Hyatt Hotel nos informou que uma determinada empresa teria efetuado
os pagamentos. Aliás, esses cheques fazem parte, integram um pagamento com outros
cheques de outras pessoas que a gente não tem acesso, exatamente para pagamento,
segundo o Grand Hyatt em ofício ao Ministério Público dizendo que esses valores
correspondem a reservas e pagamentos de estadias para os Grandes Prêmios de Fórmula
1 de 2004 e 2005. Não quer dizer que, eventualmente, surja alguém como titular desse
crédito e perfeitamente legítimo.
64

Agora, por que isso foi destacado a exemplo de outras questões? Exatamente a
manipulação, a forma como as movimentações financeiras aconteciam impossibilitavam
qualquer tipo de controle por parte dos cooperados ou de quem quer que seja. Inclusive,
a própria auditoria contratada pela BANCOOP traduz essa impossibilidade de
verificação de contas, dados contábeis, financeiros e assim por diante. Está tudo na
denúncia.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Antonio


Mentor, ainda está com a palavra o Deputado Ricardo Montoro.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Vou pedir apenas ao Deputado Montoro


que me dê um minuto do seu tempo.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Pois não.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Apenas para reafirmar aqui a nossa


solicitação das cópias.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Vai ser...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Vai ser... Sr. Presidente, eu quero


formular perguntas ao nosso depoente e, para fazer isso, eu gostaria de ter, em mãos, a
cópia da denúncia que foi apresentada pelo Ministério Público, hoje, às 10h50min da
manhã. V. Exa. deferiu meu pedido de juntada dessa denúncia à documentação da CPI e
ela está, portanto, disponível para a CPI. Eu queria que V. Exa. determinasse que cópia
fosse distribuída, em avulso, para os deputados da CPI, especialmente para mim que
pedi.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Mentor,


qual é o processo para viabilizar seu pedido? Primeiro. Dr. José Carlos Blat nos oferece
essa cópia. Quero saber se a nossa Secretaria já recebeu essa cópia. Está com
dificuldade aqui porque precisa carregar. Aliás, as nossas CPIs... Se puder subsidiá-lo,
65

tudo bem. Senão, os documentos serão protocolados. O senhor terá oportunidade de


estudá-los. Agora, se não for possível tecnicamente lhe passar, por conta de não termos
recebido ainda, com as dificuldades para operacionalizar essa sua solicitação, ela não
será feita e nós continuaremos a sessão.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Mas eu acho que é a hipótese que V. Exa.


está prevendo que vai acontecer. É isso?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas isso é uma


acusação leviana sua. Não estou prevendo nada.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Leviano é vossa excelência.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Você que está


dizendo que eu estou prevendo isso. Você acabou de dizer! Como se diz isso então?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Para variar, essa sua afirmação é leviana,


leviana.
Sr. Presidente, o senhor se comporte como Presidente desta CPI.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas que mania de


ficar questionando o meu comportamento.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Se comporte como Presidente desta CPI.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Se comporte o senhor.


Tem a palavra o Deputado Ricardo Montoro.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Antonio Mentor.
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O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, há em mãos do nosso


depoente uma cópia da denúncia que foi oferecida pelo Ministério Público. Portanto, é
tão simples V. Exa. determinar que a Secretaria desta CPI encaminhe à reprografia da
Casa para que sejam tiradas cópias imediatamente, atendendo a sua própria decisão, que
eu pedi para que fosse anexada a cópia aos autos desta CPI e V. Exa. deferiu; agora eu
quero que a própria CPI defira também a tirada das cópias que V. Exa. já decidiu.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor já terminou?


Posso lhe esclarecer? Primeiro que essa cópia está com anotações pessoais do Dr. José
Carlos Blat e ele não passará essas cópias para nós. Ele está tentando no computador
transferir para nós. Se ele conseguir, o senhor receberá. Se ele não conseguir, o senhor
não receberá neste momento; receberá assim que ele conseguir. Então, nós vamos dar
sequência.
Tem a palavra o Deputado Ricardo Montoro.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Dr. Blat, eu queria até compartilhar


aí uma opinião com V. Exa. a respeito do que eu acho que foi talvez das coisas mais
graves que aconteceram na CPI, que foi justamente a transformação das contas
individuais dos empreendimentos na conta “pool”. Isso deve ter gerado a questão de
desvio, de irregularidades, de falta de controle...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Ricardo


Montoro, só para que haja silêncio e o senhor possa continuar com sua reflexão.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Eu estava perguntando ao Dr. Blat


que, no meu parecer, das coisas mais graves que existiram na CPI e que merecem uma
atenção muito especial do nosso Relator, nobre Deputado Bruno Covas, é justamente a
transformação das contas individuais dos empreendimentos e aí você saberia
exatamente o que cada um gastou naquilo que gastou – na janela, no telhado, na porta,
em transformação na conta “pool” que perdeu o controle absolutamente e permitiu –
não que tenha sido intencional, mas permitiu que surgissem diversas suspeitas a respeito
de desvios de dinheiro. Eu queria saber se V. Exa. concorda com essa minha colocação.
67

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Deputado, o que nós verificamos e,


obviamente, não se tratou de uma operação inocente ou sem uma finalidade específica,
isso porque os depoimentos constantes nos autos nos levam à conclusão que existiam as
contas na Caixa Econômica Federal para cada empreendimento. Até ali... Aliás, eu
gostaria de colocar que em 1996, 97, 98 até 99, a regularidade dessas contas me parecia
bastante tranquila, inclusive pela movimentação, fluxo de caixa, pagamento de despesas
para empreiteiros, material de construção. O que eu quero dizer é o seguinte. Isso ficou
muito claro no Relatório – até para que fique registrado aqui – 38/2010, do Laboratório
de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro. Nesse relatório, percebe-se o seguinte: da
movimentação da conta “pool”, estou falando aqui em dados aproximados, quase 90%
dessa movimentação da conta “pool” se destinaram ou cheques e transferências
BANCOOP/BANCOOP; ou cheques ou transferências BANCOOP/Germany; ou
cheques ou transferências BANCOOP/Bradesco. Ou seja, 25%, s.m.j.,
aproximadamente, seriam para as outras despesas a partir da movimentação da conta
“pool”, porque até 2002 essas contas que são das seccionais tinham uma movimentação
absolutamente individual e, ao que tudo indica, com certa regularidade. O que acontecia
era o seguinte: as contas individuais funcionavam aqui, mas já estava sendo criadas
empresas, a empresa fantasma, a Germany. Aliás, eu nunca vi nas investigações e no
nosso dia a dia uma construtora, e a Germany é uma construtora, que não tinha
engenheiro responsável. Os responsáveis pelas obras, quem pagava os engenheiros para
a Germany construir era a BANCOOP. Ou seja, existe uma série de dados que, no seu
contexto, não podem ser analisados isoladamente e não foram analisados pelo
Ministério Público isoladamente; foram analisados à luz dos documentos bancários e
fiscais, da análise do Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro e também
dos mais de 70, 80 depoimentos prestados no Ministério Público e na Delegacia de
Polícia.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Dr. Blat, eu teria várias perguntas a


fazer, mas eu quero deixar para os meus companheiros também. Minha última pergunta
seria: eu sou daqueles que me preocupo com as vítimas que, na sua avaliação, são mil
cento e trinta e duas vítimas ou até dois mil trezentos e sessenta e dois cooperados que
tiveram algum tipo de reclamação. E, na sua conclusão final, se eu entendi, eu peço
esclarecimento, eu entendi que a chance de sucesso com relação a algum tipo de
68

devolução de recurso é muito pequena. Eu queria saber o que a gente pode deixar para
os cooperados com algum sinal de esperança.

O SR. – Só um aparte, Deputado. O senhor me concede, Doutor Blat? Eu tinha


feito a inscrição e ia fazer exatamente essa pergunta, em cima do que o Deputado
Ricardo Montoro faz. Me preocupou muito, realmente, na sua fala, quando o senhor
disse que talvez não haja mais esperança. Isso, realmente, no seu modo de analisar, do
senhor que foi a pessoa que fez a denúncia, o senhor entende que essas pessoas não têm
a mínima chance de conseguir o seu tão sonhado local de morar, seu apartamento, sua
casa?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Se não pagarem para outras construtoras


construírem, elas não vão ter o sonho da casa própria.

O SR. – Nem rever o dinheiro?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Eu não posso afirmar peremptoriamente da


impossibilidade de acordos. Isso foge da minha alçada. O que a gente pode ver e com
muita preocupação é que os desvios foram tantos que eu acho que a situação financeira,
talvez, hoje, eu não sei, porque a nossa investigação se pauta pelas quebras de sigilo
bancário e fiscal até 2008, isso será complementado ao longo do processo; e, se
necessário for, aliás, eu gostaria de deixar bem claro de incluir mais alguma outra
pessoa no rol de denunciados isso poderá ocorrer a qualquer momento. Porém, as
informações que nós verificamos é que depois dessas contas “pool” que movimentaram
quase 700 milhões de reais, a liquidez obviamente da cooperativa ficou comprometida.
E a gente sabe disso não pelas informações bancárias e fiscais, mas uma reles análise do
último balanço, por exemplo, de 2009, onde há essa revelação de um nível que
determina o endividamento da BANCOOP não mais com o FIDC, mas, agora, com
entidades de classe.
E mais. Eu gostaria de saber, e isso, obviamente, não é da esfera criminal, mas é
uma curiosidade, até para que a gente possa ter maior conhecimento do funcionamento
desse tipo de negócio, como é que uma cooperativa, seja ela qual for, realiza ou contrai
empréstimos com cláusula de confidencialidade onde os cooperados não podem ter
69

acesso a quem é o credor? Primeiro por questões de juros, por questões obviamente da
captação, da transparência da captação e assim por diante.
Então, hoje, a única coisa que eu posso dizer aos senhores cooperados é que nós
vamos seguir na esfera penal, na individualização... Não é a BANCOOP que está no
banco dos réus, eventualmente, se for recebida a denúncia. São as pessoas que
participaram da direção ou de alguma forma interferiram na BANCOOP.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mais algum deputado


gostaria de fazer uso da palavra/

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Eu já tinha feito inscrição, senhor


Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Eu gostaria de indagar ao nosso


depoimento se nesse período em que ele vem conduzindo as investigações, são quatro
anos, em algum momento para formular a denúncia ou, antes de formular a denúncia, V.
Sa. ouviu algum dos dirigentes da BANCOOP.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Há dois inquéritos policiais, hoje. Um deles,


nós já temos o depoimento do João Vaccari Neto e do Tomás Edson Botelho Fraga. Nós
pedimos, notificamos algumas outras pessoas e o próprio Tomás Edson veio ao meu
gabinete junto com Henir, senhora Henir, que também foi denunciada. Nós notificamos
por quatro vezes, e eu considerava de fundamental importância o depoimento da Helena
Conceição Pereira Lage. Quem é essa senhora? Ela era secretária do Sr. Luís Malheiro,
e assumiu em determinado momento a direção da Germany e de outras empresas. Nós
tentamos ouvir. O que se faz no inquérito policial é buscar, obviamente, elementos e
subsídios. Como esses senhores já haviam sido ouvidos e esse inquérito policial nos
chegou às mãos, nós pegamos.
E mais. Os depoimentos colhidos aqui nesta CPI e em outros lugares também
onde nós compartilhamos informações, essas informações foram suficientes. Até porque
agora as pessoas denunciadas terão a tranquilidade suficiente, sobre o devido processo
70

legal, o contraditório e a ampla defesa, apresentar a defesa preliminar e, quiçá, talvez até
mesmo a denúncia não seja recebida pelo Juiz criminal.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Eu posso entender, pela sua resposta, que


nenhum dirigente da BANCOOP foi ouvido.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Foram sim. O Tomás foi ouvido.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Em que momento ele foi ouvido?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Ele foi ouvido. Eu não tenho, agora, o dado
precisamente. Mas foi depois de março, abril, maio. Nós fizemos o seguinte, deputado.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Tudo durante este ano?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Este ano, por conta do quê? Eu vou lhe
esclarecer mais um assunto que eu acho que precisa ficar claro para todos.
Quando nós pedimos a quebra do sigilo, Deputado Mentor, chegou às nossas
mãos contas, e os senhores vão ter acesso a esses laudos. A hora que chegaram os
extratos ou as contas correntes movimentadas, chegou em papel, eram milhares e
milhares de lançamentos. A partir dali, isso já em meados de 2009. O cronograma
depois eu posso até mandar aos senhores, dos pedidos, a gente foi pedindo. Primeiro nós
pedimos a quebra. Chegaram informações a respeito não só da BANCOOP, dessas
empresas e de alguns diretores. A partir dali nós pedimos os extratos e as informações
para quê? Para poder começar fazer a seleção dos documentos investigados. Porque não
é possível numa investigação dessa natureza pegar um extrato, por exemplo, deputado,
de um lançamento de mil reais a 200 milhões. O que a gente faz normalmente? Esse é
um procedimento padrão. Selecionam-se os valores maiores, inclusive aqueles que
parecem ter mais pertinência. E depois, em dezembro de 2009, para o senhor ideia, a
Juíza deferiu a complementação da nossa quebra de sigilo com a remessa dos bancos
dos chamados microfilmes, porque quando a gente enxerga o extrato bancário só se tem
números, não se sabe a origem e o destino. Então, selecionado isso, e foi feito um
trabalho de aproximadamente um mês e meio, selecionados esses trabalhos, esses
cheques e esses lançamentos, isso só chegou ao Dipo, ao Departamento de Inquéritos
71

Policiais em meados de fevereiro ou comecinho de fevereiro. A partir de março, nós


traçamos a estratégia que seria a estratégia de finalizar as investigações. Com alguns
desses cheques e lançamentos nós poderíamos fazer algumas perguntas e indagações às
pessoas que são investigadas.
Aliás, é uma coisa importante que o senhor traz aqui, porque quando se faz uma
investigação criminal, as pessoas objeto da investigação normalmente são ouvidas por
último. Por quê? Porque é necessária a coleta de informações. E, hoje, nos termos do
que dispõe o art. 155 e art. 156 do Código de Processo Penal, mesmo que nós tivemos
ouvido 500 pessoas nesse inquérito, à luz do Código de Processo Penal, essas provas só
serão validadas se essas pessoas forem novamente inquiridas sob o crivo do
contraditório. Então, a nosso ver é uma segurança jurídica para todos, tanto para
acusação, quanto para defesa e quanto para as vítimas.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Novamente eu insisto em dizer que elas


não serão novamente ouvidas já que as principais figuras mencionadas nesse episódio
da sua denúncia não foram ouvidas – Ana Maria, Vaccari, não foram ouvidas, portanto,
elas não serão novamente ouvidas; poderão ser ouvidas, mas não novamente ouvidas.
Já em 2008, V. Sa. manifestou opiniões a respeito desse episódio à mídia, com
declarações bastante contundentes, ou seja, mesmo lá em 2008 V. Sa. já tinha uma
convicção formada pelo menos a respeito dessa organização criminosa, formação de
quadrilha, bando, já lá dois anos atrás já havia esse convencimento bastante cristalizado
na sua opinião. Depois, esse inquérito ficou adormecido ou trabalhando sem divulgação,
vamos dizer assim, durante o ano de 2009. Aliás, é um ano ímpar. Em 2007 começou,
em 2008 teve essa repercussão, em 2009 todo mundo quieto, aí em 2010 volta agora,
num momento importante, V. Sa. havia prometido a denúncia no começo de março,
para dar mais 90 dias, e agora nós estamos aí num momento importante da vida política
do nosso país e novamente vem à tona essa mesma questão e isso não me incomoda,
absolutamente, a não ser porque eu acho que é uma mera coincidência, não há mais do
que isso, além de uma mera coincidência. Mas, de toda maneira, V. Sa. acabou de nos
relatar que as pessoas devem ser ouvidas depois da acusação, antes de formular,
portanto, a denúncia. Mas, neste caso, não foram.
E, por último, só para fazer uma breve consideração a respeito do trabalho desta
CPI, senhor Presidente... Posso continuar?
72

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Dá um tempo para o Presidente. O


senhor está orientando?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor fale.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pensei que o senhor estava me


interrompendo para falar qualquer coisa com o depoente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não. Fique à vontade.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Estou me dirigindo a V. Exa., senhor


Presidente, para dizer o seguinte.
Há muitas diferenças de compreensão entre nós membros desta CPI a respeito
desta ou daquela questão, mas há uma questão consensual entre todos nós. Nós
queremos uma solução para os cooperados. Além de querermos a solução para os
cooperados, nós queremos que as irregularidades apontadas por esta CPI e pela
investigação do Ministério Público surtam efeitos punitivos, que as pessoas
responsáveis por essas irregularidades sejam efetivamente punidas, independentemente
das nossas relações políticas, partidárias. Não há nenhuma intenção, de quem quer que
seja nesta CPI de passar a mão pela cabeça e acobertar quem quer que seja. Que fique
claro que para nós... Agora, também não vamos aceitar, pelo inverso, uma avaliação
tendenciosa, partidarizada, pessoal que possa induzir a opinião pública a uma conclusão
equivocada.
Eu penso que, e aí digo aqui com absoluta sinceridade, olhando olho no olho
como eu costumo fazer sempre, as tintas colocadas na sua denúncia, me parece que têm
colorações definidas. Independentemente de em algum momento o senhor ter sido
tachado como tucano, petista, peemedebista, pepista, não importa. Neste momento,
pelas observações colocadas na sua denúncia há uma questão absoluta de se referir ao
Partido dos Trabalhadores, ao Sr. João Vaccari e a dirigentes da BANCOOP como
vinculados politicamente. Eu até, senhor depoente, estou fazendo aqui belas
considerações, não estou absolutamente indagando nada de V. Sa., apenas fazendo
considerações porque acho importante que se registre nesta nossa reunião da CPI,
provavelmente a última, se não for a última será uma delas, nós vamos, em seguida,
discutir aqui o relatório do nobre Relator Bruno Covas, mas eu queria deixar isso
73

registrado. Toda impressão que deu em todo o seu relato, Dr. José Carlos Blat, nos dá a
impressão absolutamente sincera de que esse relatório tem objeto político definido.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu quero só


manifestar a minha opinião.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor fez alguma pergunta ao


Presidente, Deputado Mentor?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas eu posso usar da


palavra?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não. É que eu acho que ele fez a


pergunta ao Blat.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não tem ninguém


inscrito.
Eu não entendi que ele fez uma pergunta.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor é procurador do depoente?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Ele fez uma pergunta


ao Blat ou ele fez uma consideração da opinião dele? Uma consideração da opinião
dele?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Gostaria que o Mentor respondesse.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu quero fazer uma


consideração a esse respeito.
74

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu também quero, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Primeiro, agradecer a


presença dos senhores, que não se encerra aqui. E dizer que não é a nossa impressão. Eu
acredito que não seja...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Disso eu tinha certeza. Eu tinha certeza


absoluta que nesse ponto nós não vamos concordar jamais.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Exatamente. Até


porque as cores das tintas que assinaram o cheque não foram as cores das tintas de
nenhum partido. Foram de diretores da empresa que assinaram cheques.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Isso o senhor deve conhecer bem. Isso


o senhor deve conhecer muito bem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Foram diretores lá da


empresa, diretores da BANCOOP que assinaram.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Inclusive o Ministério Público em


relação a vossa excelência.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Então, nós vamos aos


fatos e vamos fazer a investigação dentro dos fatos reais que foram trazidos aqui. E aí
são os cheques, são os pagamentos, são os desvios de finalidade, se houver. É isso que
nós temos de investigar e não ficar interpretando a opinião das pessoas que vêm aqui.
Tem a palavra o Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Sr. Presidente, Srs. Deputados, e


Promotor José Carlos Blat.
Queria também registrar aqui algumas preocupações, na medida em que
qualquer arguição fica um pouco prejudicada, porque coincidentemente o Ministério
Público protocola a ação dois minutos antes de instalar aqui a CPI. Então, nós estamos
aqui em desvantagem porque nós estamos discutindo um documento que só o Promotor
75

tem domínio dele. E isso nos dá aqui bastante argumento, Sr. Presidente, para voltar a
uma tese anterior, lá no início da CPI, que a Bancada do PT propôs da necessidade de
ouvir primeiro, de um dos primeiros a ser ouvido aqui seria o Promotor. E,
conjuntamente, até fizemos o requerimento em conjunto para ouvir, naquela ocasião, o
João Vaccari Neto, porque é onde poderia desdobrar em várias perguntas e indagações e
até a linha de investigação aqui por parte da CPI. Então, trazer o Promotor aos 47
minutos do segundo tempo do jogo com um arsenal de argumentos e documentos que só
ele tem domínio, onde nós temos apenas mais uma sessão da CPI, nós nos sentimos
extremamente prejudicados em poder indagá-lo, em poder discutir e até talvez solicitar
dele mais contribuição para a própria CPI. Então, diante disso, talvez seja apenas uma
coincidência, mas protocolar a ação dois minutos antes da instalação da penúltima
sessão da CPI, pode ser uma mera coincidência, mas também pode ser algo bastante
planejado.
Dentro dessa linha, ainda, é verdade que o Promotor tem a liberdade para
estender o período para investigação, de quando ele acha que iniciou até onde ele acha
que termina, mas me parece que carrega aqui muito a tonalidade da investigação a um
presidente hoje licenciado da BANCOOP que em todos os depoimentos que vieram
aqui nesta Casa talvez não isentaram, mas não teve nenhuma acusação forte,
contundente com provas em cima da pessoa do João Vaccari Neto. Pelo contrário. Pelo
menos é a minha interpretação.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor. Tem a


palavra o Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pelo menos é a minha interpretação.


Aliás, estão escritos os depoimentos que podem ser conferidos. Ouvi alguns
depoimentos de que João Vaccari Neto foi à BANCOOP para colocar ordem, ele era
duro, ele era antidemocrático.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pessoal, por favor.


76

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Eu ouvi depoimentos dessa natureza.


Posso até estar equivocado, mas quero respeitar a opinião das pessoas que divergem,
não tem nenhum problema e pode divergir da minha. Eu estou relatando aqui a minha
interpretação sobre pelo menos alguns depoimentos que ouvi nesta CPI.
E também quero ainda registrar que espero que a ação protocolada pelo
Promotor esteja recheada de provas, porque não vi nenhuma grande novidade; apenas a
tonalidade da exposição do que nós já ouvimos e vimos pela imprensa. Mas saio com a
sensação de que ele ouviu um monte de outras pessoas ou algumas pessoas que vieram
aqui foram lá e fizeram depoimentos de outra ordem, porque não consegui registrar
tantas denúncias com tantas provas nos depoimentos que aqui nesta Casa vieram,
aconteceram. Então, aguardo. Vamos ver o conteúdo da denúncia para ver qual é o nível
de prova que tem. A partir daí, se tiver, nós vamos ter de parabenizar o Promotor. Se
não tiver, será em juízo que vai ter esse debate para ver o tamanho e quais são os
grandes criminosos desse processo.
Eu apenas quero registrar aqui. O Promotor fala muito do passivo da CPI, mas
não fala em nenhum momento do ativo, dos recebíveis.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Da cooperativa.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Aliás, da cooperativa. Por aí a gente


percebe que ainda tem muita matéria a ser debatida e a ser contraditada pelos
interessados e até por esta Casa para que a gente possa fazer um relatório o mais justo e
o mais honesto aqui dentro das informações que nós temos.
Lamento, Promotor José Carlos Blat, em ter o João Vaccari Neto como o
principal foco desta CPI, que não é aqui invenção nossa, isso está nas palavras do
próprio Juiz onde o senhor fez a primeira denúncia, dizendo que naquele momento, até
pelo afã da mídia, que via de regra é muito cruel contra o Partido dos Trabalhadores e
seus integrantes, muitas vezes.

(Manifestação na galeria)

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Está bom. A verdade ainda aparecerá e


está aparecendo. Tanto para vocês que são os prejudicados, como também para nós que,
via de regra, somos vítimas de algum órgão de imprensa. Coincidentemente, a denúncia
77

do Promotor aparece na Justiça depois de uma revista destacar em capa um dirigente do


Partido dos Trabalhadores. Por ser esse dirigente o principal foco politicamente de
investigação, não vi até agora nada tecnicamente que incriminasse esse dirigente, eu me
sinto extremamente prejudicado em poder dar continuidade agora a qualquer arguição
ao Promotor. Vamos ter acesso a essa denúncia, às provas, e vamos ver até o dia 27,
último dia da CPI, o que nós podemos fazer para que a gente possa fazer um debate em
que ganhem os prejudicados e que a gente aponte uma solução pelos trabalhos da CPI.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mais algum deputado


gostaria de fazer uso da palavra?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Quero fazer uma pergunta específica e


direta ao Promotor, que nós agradecemos inclusive a presença. É relativa... Porque eu
ouvi aqui quadrilha, bando, inclusive tem pessoas que foram eleitas agora e até
começaram um trabalho na cooperativa tentando buscar um acordo com os cooperados,
inclusive com os credores da cooperativa e com os devedores, inclusive trabalhando
com esta CPI, até porque um dos objetivos da CPI é encontrar uma solução; até porque
a investigação criminal, de fato, é feita pelo Ministério Público e o resultado de
qualquer irregularidade acaba e nós vamos remeter também ao próprio Ministério
Público se tiver fatos novos. Então, o único objetivo nosso é que de fato as pessoas
recebam seus apartamentos e suas casas, porque esse é o objetivo e é o interesse dos
cooperados e assim nós esperamos também.
Agora, a pergunta que se faz, senhor Promotor, é relativamente. Eu não sei se há
irregularidade ou se não há irregularidade, até agora, relativo à BANCOOP, relativo ao
Sr. João Vaccari Neto, especificamente. Quais são as provas que o V. Sa. colheu em
relação às acusações que o senhor faz ao João Vaccari Neto? Onde ele estaria
enquadrado no Código Penal? O que ele cometeu? O João Vaccari Neto. Não estou
falando de outras pessoas da BANCOOP. O que o João Vaccari Neto, qual foi o crime
78

que ele cometeu? E quais são as provas que o senhor tem para nos apresentar aqui nesta
CPI? As provas.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Com relação às provas, eu gostaria de


mencionar o seguinte. A CPI, ao que tudo indica, ouviu umas 24, 25, 28 pessoas. Ao
longo desses meses, nós ouvimos, pelo menos, de ex-funcionários da BANCOOP, que
não foram ouvidos aqui, talvez seja o caso, não sei, pessoas que traduziram exatamente
várias questões inerentes ao funcionamento da quadrilha, apontando para o Sr. João
Vaccari Neto e aos demais, inclusive o Malheiro etc. com dados concretos, documentos
apresentados ao Ministério Público estão juntados. Inclusive, esses depoimentos,
deputado, já estão em poder da CPI. São pelo menos...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não. Mas eu perguntei ao senhor


quais as provas que o senhor tem a me apresentar aqui.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – O senhor quer que eu leia a denúncia de novo?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não. Denúncia eu já li. Isso é uma


opinião do senhor.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Não. Não é opinião. Isso aqui não é opinião. É
uma acusação formal.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor está dando uma opinião. Eu


quero saber as provas. Eu quero que o senhor me apresente provas aqui.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Fale um de cada vez.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Isso é uma acusação formal.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Nós estamos numa CPI. Eu quero que


o senhor me apresente provas.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – As provas estão aí.


79

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – A opinião do senhor eu já sei,


inclusive pela imprensa. Eu quero saber que provas o senhor tem contra o João Vaccari
Neto.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – É na imprensa e em qualquer lugar.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor o chamou de criminoso.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Chamei, não! Chamei, não!

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor disse aqui.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Acusei.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor acusou.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Um de cada vez, para


a gente organizar.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Formação de quadrilha ou bando, estelionato.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor acusou e eu quero que o


senhor me apresente provas, porque aqui nós não trabalhamos com opinião. Opinião a
gente dá lá no plenário.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deixem o deputado


concluir.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu quero saber as provas que o senhor


tem. Para me apresentar a opinião do senhor, eu já sei.
80

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Deputado Siraque, o senhor me dá um


aparte?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu gostaria que o senhor me


apresentasse, inclusive à imprensa, as provas que o senhor tem e à CPI. Talvez por isso
que o senhor não quis prestar depoimento sob juramento, porque o senhor não tem
prova, o senhor não apresentou prova. E eu gostaria de fazer a leitura aqui, senhor
Presidente, se o senhor me permitir.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor está com a


palavra.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sim. Então, eu gostaria que ele


apresentasse a prova, mas parece que não tem prova.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas o senhor...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Palavras são palavras. Eu quero saber


das provas.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor, tem a


palavra ainda o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Para nós quem tem a informar não são
os cooperados. Gostaria que o Doutor Blat...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O Deputado Siraque


fez uma pergunta...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não é uma pergunta.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Me dá um aparte, Deputado Siraque?


81

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Siraque...


Por favor, pessoal. O Deputado Mentor está pedindo aparte. Por favor, pessoal. Vamos
dar sequência, já está prolongada a reunião. Por favor.
Tem a palavra o Deputado Vanderlei Siraque. O Deputado Antonio Mentor
pediu um aparte para o senhor. O senhor quer primeiro que ele responda.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – É que eu gostaria da resposta, mas eu


dou um aparte.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Um aparte até para contribuir. Porque é


necessário individualizar a conduta criminosa. Então, é disso que se trata.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Ah! Pois não.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O Deputado Siraque está pedindo para


que V. Sa. individualize a conduta do João Vaccari Neto e apresente as provas dos
ilícitos penais cometidos por ele. É isso. É simples.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Simples assim. Em 82 páginas e 100 volumes


analisados e em milhares e milhares de documentos que os senhores vão ter acesso.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu quero que o senhor apresente aqui,


doutor. O senhor é uma pessoa como eu que tem conhecimento jurídico.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – São “n”. Aqui, se o senhor quiser, a gente fica
até...

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Mas o senhor pode falar quais as


provas que incriminam individualmente o senhor João Vaccari Neto. Aqui não é lugar
de pirotecnia, não.

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Claro que não.


82

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Aqui tem de apresentar provas. Eu


quero provas. A fala do senhor não me interessa. Individuais que incriminam o senhor
João Vaccari Neto.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Está fazendo uma


pergunta e o senhor fica à vontade.
O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Vamos começar com a quadrilha ou bando, de
novo. Vou ter de ler.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não. Eu não quero que o senhor leia.
Eu não pedi.
O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Ah! O senhor quer depoimentos.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu fiz um requerimento ao senhor
para que o senhor me dê provas concretas.
O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Vou começar com um depoimento, então.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Que estão nos autos e que incriminam
o senhor João Vaccari Neto. Individualmente.
O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Ok. Depoimento prestado por Ronaldo
William de Oliveira ao Ministério Público.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Depoimento não. Estou falando de
provas.
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor precisa
deixar ele...
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu não estou aqui com brincadeira,
senhor Presidente.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado, o senhor já


fez a pergunta e ele está...
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu quero provas. Eu estou pedindo
para que ele coloque sobre a mesa. Eu não quero saber do computador do Promotor.

(Manifestação na galeria)
83

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Só um minuto. Por


favor, pessoal.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Que negócio é esse? Que a Polícia
tome as providências aqui! Que negócio é esse, Presidente?

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Calma! Vamos ter


tranquilidade.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Isso aqui não é uma brincadeira.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O Deputado


Vanderlei Siraque está com a palavra. Estou aguardando ele...
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não me interessa a leitura de
documento. Eu quero ver as provas apresentadas. Apresente assim: esta aqui é a prova.
Cadê? É isso que eu quero ver. Eu quero ver coisa concreta. Opinião cada um dá a sua.

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor, não se


manifestem. Por favor.
Encerrado o questionamento do Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Não tem prova.


O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o
Doutor José Carlos Blat.
O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Assim fica absolutamente impossível, por
conta do seguinte: foram analisados 100 volumes; os documentos estão mencionados na
denúncia; os senhores vão ter oportunidade, através dos hiperlinks que nós
denominamos, de ter acesso a esses documentos, esses depoimentos, aos cheques
lançados, aos dois laudos produzidos, em que, linhas gerais, nós fizemos na denúncia de
81 folhas, obviamente com todas as condutas individualizadas, apontando
justificadamente o que fez em cada um deles, os quatro itens que compõem essa
denúncia. Obviamente, que seria necessário então que aqui à CPI nós pudéssemos pegar
84

a cópia do inquérito policial como um todo e trazer todos os depoimentos, documentos,


laudos, quebra de sigilo bancário e fiscal para demonstrar. A denúncia traduz
exatamente isso. Estou absolutamente tranquilo. Não me sinto absolutamente atingido
eventualmente com relação a posturas inerentes a minha conduta funcional. Eu agi
como Promotor de Justiça e vou continuar agindo. E agora com a palavra o senhor Juiz
de Direito Criminal da 5ª Vara. E os senhores receberão aí todo material para os
senhores discutirem e questionarem.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, senhor Presidente. Eu


posso ler aqui um pedido que o senhor Blat fez ao Judiciário?
O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor está com a
palavra.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Então, eu vou ler, porque é mais fácil,


senão fica palavra contra palavra.
Inicialmente, não se pode desconsiderar a repercussão política que a presente
investigação passou a ter a partir do momento em que o teor do requerimento do
Ministério Público veio a ser divulgado pela imprensa, no último final de semana.
Divulgado pela imprensa antes mesmo que fosse apresentado em juízo, senhor Blat.
E isso por quê? Faltando cerca de apenas sete meses para as eleições
presidenciais – agora faltam 11 dias, aqui, na época eram sete meses, uma das pessoas
de quem foi requerida a quebrado sigilo, João Vaccari Neto estaria sendo indicado
como possível integrante de campanha da virtual candidata do Partido dos
Trabalhadores, ocupante da Presidência da República.
Tal contexto, porém, apenas reforça ainda mais a necessidade de cautela, senhor
Promotor, e rigor no exame dos requerimentos formulados, juntamente para que tal
atmosfera política não venha contaminar a presente investigação. Ou noutro sentido que
esta não venha a ser utilizada por terceiros para manipulação da opinião pública por
propósitos políticos. O Ministério Público e o Poder Judiciário são, antes de tudo,
instituições de Estado e não de governos ou de partidos políticos. Assim, é
imprescindível que sua atuação fique acima de circunstâncias ou convicções políticas.
E não basta que cada integrante dessas instituições exclua internamente suas
convicções políticas de influências em suas atuações. É imprescindível também que
fique absolutamente claro para toda sociedade que suas atuações são isentas de outros
85

interesses, que não os decorrentes de suas próprias atribuições institucionais. Em


analogia ao dito popular, não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. Ou, no caso
dos autos, não basta ser isento, é preciso parecer isento. E por aí vai.
Portanto, a partir do momento em que esse inquérito passou a ter tamanha
repercussão política é preciso que cada decisão ou providência tomada esteja ainda mais
firmemente embasada em elementos de prova e de direitos sólidos e claros. Não à
opinião de quem quer que seja. A manifestação apresentada pelo Ministério Público
descreve uma série de fatos e circunstâncias, narrando como seria o suposto esquema de
desvio de valores da BANCOOP, inclusive para fins de financiamento ilícito de
campanhas políticas. Porém, não há tal manifestação a indicação clara e precisa dos
elementos de prova dos autos que sustentam tal narrativa, bem como dos pedidos
formulados. E sendo esse um feito bastante complexo, já com 26 volumes, mais de
cinco mil e seiscentas páginas, além de 59 anexos, como citado pelo próprio Ministério
Público, é imprescindível que indique de forma discriminada – o que eu estava pedindo
aqui, de forma discriminada e detalhada os elementos que sustentam cada uma de suas
afirmações e não de forma genérica.
A manifestação cita, por exemplo, que aproximadamente 40% das
movimentações correntes de titularidade da BANCOOP tiveram recursos sacados em
dinheiro na própria agência bancária – como foi afirmado aqui, hoje. Mas como base
para tal alegação indica apenas um cheque no valor de 50 mil reais e não dos 70
milhões, como foi afirmado aqui, sem sequer citar em que volume ou apenso e folha
consta tal informação. Cita ainda que numa avaliação entre 2001 e 2008, seria
constatado que os valores assim circulados chegariam a 18 milhões; hoje passou para
70, lá na outra afirmação eram 18 milhões. Tem-se, portanto, como imprescindível que
os autos tornem ao Ministério Público para que indique com precisão quais os
fundamentos de cada uma de suas afirmações que invoca como razões para os pedidos
formulados. Isso para que, como dito, fique bem claro para toda sociedade e que os
pedidos e as decisões estão formulados apenas em elementos e razões contidos nos
autos e não efetivamente necessários e oportunos nesse momento.
E não é demais dizer que tal providência naturalmente incumbe ao órgão
requerente, ou seja, ao Ministério Público apresentar as provas, os fatos com respectivos
fundamentos devem ser apresentados pela parte. Ou seja, o próprio Juiz. Hoje, aqui não
foi dito que o Ministério Público é parte nesse processo. Ao magistrado que é a pessoa
isenta, para que então possa decidir. Se assim não for, atribuindo-se ao Juiz a obrigação
86

de investigar as provas, como estão jogando para nós aqui, hoje. Olhem nos autos! Nós
não vamos olhar. Quem afirmou aqui é que tem de apresentar para nós, seja quem for.
Seja o Ministério Público, ou seja, qualquer pessoa da sociedade, que nós respeitamos a
todos de forma igual, pelo princípio da igualdade.
Mas, continuando aqui a leitura...

(Manifestação na galeria)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Se assim não for, atribuindo-se ao Juiz


a obrigação de investigar as provas para buscar os elementos que sustentam a acusação.
Óbvio que perderá seu olhar imparcial. É verdade que em folhas tal e tal o Ministério
Público alegou que apresentaria planilha sobre movimentação bancária, oportunamente.
E assim vai. Eu só li aqui um trecho. Então mostra que quem está dizendo que
não foram apresentadas provas, em determinado momento, foi o Juiz, senhor Promotor.
Outra questão interessante. Depois de março para cá o que foi apresentado de
novo nesse inquérito? Por que o senhor João Vaccari Neto não ouvido novamente?

(Manifestação na galeria)

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Por que faltando 11 dias para o


segundo turno das eleições foi recusado, diversas vezes, a apresentação do Sr. Blat aqui
na CPI? Tentaram dizer inclusive que nós não poderíamos convocá-lo. E agora, faltando
11 dias, aí vem e vai correndo apresentar a denúncia que, aliás, o Juiz certamente não
julgará antes do segundo turno da eleição. Então, está certo, senhor Mentor, nosso
deputado, nosso líder, que tem tintas tucanas nessa denúncia do senhor Blat. Tem tintas
tucanas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Doutor José Carlos Blat.
87

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu não fiz pergunta. Agora eu não fiz


pergunta. Eu fiz antes e ele se recusou a apresentar as provas em relação ao senhor João
Vaccari Neto e nós não estamos em debate com o Promotor aqui.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Se o senhor quiser


fazer alguma consideração...

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Os laudos inclusive juntados apresentam as


movimentações financeiras indicadas pelos desvios. A resposta ao pedido do Juiz está
na denúncia e nos demais autos que estão encaminhados à 5ª Vara Criminal. E, a partir
daí, no devido processo legal nós nos manifestaremos, de maneira absolutamente isenta,
ontem, hoje e sempre. Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor, sem


manifestação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – É um desrespeito à CPI o que o senhor


Blat está cometendo. Ele vem aqui prestar depoimento e diz que vai apresentar as
provas ao Juiz. Só que ele fez acusações aqui e é aqui que as provas têm de ser
apresentadas. Nós não vamos olhar processo. Eu quero as provas aqui. É aqui que tem
de ser as provas. Não é lá. Lá é outra coisa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, eu penso que o trabalho


desta CPI foi bastante prejudicado, por conta de duas questões fundamentalmente.
A primeira, quando nós requisitamos a cópia da denúncia com seus anexos. E,
inexplicavelmente, essas cópias não puderam ser exibidas e distribuídas para os
membros desta CPI quando nós vivemos o momento mágico da informática em que
essas coisas são resolvidas em questão de segundos. Se esses documentos constam do
equipamento que o senhor José Carlos Blat trouxe a esta CPI, evidentemente, numa
88

operação muito simples eles poderiam prover uma transferência desses dados para um
CD que nos daria acesso facilmente a essas informações. Inexplicavelmente, isso não
foi feito, apesar de nós estarmos já com três horas e quarenta e cinco minutos de CPI.
Coisas que, instantaneamente, seriam feitas a partir do primeiro requerimento que foi
apresentado nesta sessão da nossa CPI.
Segundo. Ao requerimento apresentado há instantes pelo Deputado Vanderlei
Siraque solicitando que, evidentemente, o depoimento do senhor José Carlos Blat fosse
sustentado em provas, nós ouvimos aqui durante uma hora e meia, não sei, por quanto
tempo, depoimento minucioso do Promotor José Carlos Blat e, ao final, solicitamos que
as suas afirmações fossem sustentadas em provas, provas preferencialmente
documentais. Porém esse requerimento do Deputado Vanderlei Siraque também foi
negado. Pedimos, por fim, que fosse individualizada a conduta criminosa daqueles que
foram aqui citados na denúncia pelo senhor José Carlos Blat, o que também não foi
feito. Não sei por que razões essas questões não foram atendidas, questões simples de
alguém que está, há quatro anos, debruçado sobre essa questão, sobre essa investigação;
não pôde mostrar as provas do que disse, não pôde nos oferecer uma cópia do relatório,
não pôde individualizar a conduta criminosa das pessoas que foram aqui acusadas.
Eu penso que o competente Promotor de Justiça nos deve, nos deve e muito,
porque a CPI, apesar de ter momentos diferenciados, ela tem um objetivo claro definido
que é a defesa do interesse da sociedade. E, neste momento, a defesa do interesse dos
cooperados. É isso que nós queremos fazer aqui, nós queremos encontrar solução. E
queremos punir, realmente, aqueles que cometeram irregularidades. Então, fica
devendo.
Nós estamos há meses, Promotor, aguardando este depoimento de hoje. Foi o
primeiro requerimento aprovado nesta Comissão Parlamentar de Inquérito, portanto, há
quase seis meses, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Há quase seis meses,


juntamente com o do Vaccari.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Há quase seis meses, nós estamos


aguardando ansiosamente pelo seu depoimento para trazer luz às nossas investigações e
ao nosso trabalho. E três questões tão fundamentais como essas que foram aqui
registradas não puderam ser atendidas, para que a gente pudesse dar sustentação efetiva
89

ao trabalho da CPI e pudesse dar fé, acreditar no seu depoimento, independentemente de


ter ou não feito o juramento de testemunha. Nós queríamos muito acreditar que tudo
isso que o senhor nos revelou estivesse consubstanciado em provas. Queríamos
acreditar que as denúncias que o senhor se referiu a determinadas pessoas pudessem
estar também tipificadas individualmente. E queríamos muito ter acesso imediato à
denúncia que o senhor apresentou, hoje, às dez horas e cinquenta e quatro... Dez e
cinquenta e sete. O senhor já estava aqui, o senhor já estava aqui quando o senhor
recebeu a informação de que lá já havia sido protocolizado.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Pela ordem, senhor Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem, tem a


palavra o Deputado Ricardo Montoro.
Eu gostaria de passar a palavra...

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Rapidamente, só para perguntar...


Deixe só eu fazer uma questão ao Deputado Mentor.
Nós ouvimos, deputado, mais de 28 pessoas, depoimentos.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – 28 depoimentos.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Em nenhum deles nós tivemos


acesso ao que o depoente iria falar, com anterioridade. E nem no decorrer do
depoimento. Nós ouvimos o depoente e fizemos as perguntas baseadas no que nós
ouvimos. Eu não sei qual é a necessidade imperiosa, e vocês têm todo direito e terão a
denúncia que foi ofertada, mas por que as perguntas não podem ser feitas, como foram
feitas a todos os outros 28 depoentes que falaram e que nós perguntamos baseados no
depoimento. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Por favor, não se


manifestem.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Não há necessidade de ter o


documento em mãos. Só uma observação, deputado.
90

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Um aparte, deputado?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Um aparte?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Em aparte, tem a


palavra o Deputado Bruno Covas e depois o Deputado Antonio Mentor.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Só para contribuir com o Deputado


Montoro, inclusive a grande parte ficou de depois enviar documentação daquilo que
havia falado. Dr. Blat não vai enviar depois, ele trouxe já, deixou aqui cópia e grande
parte dessa documentação ele já havia enviado.

(Manifestação na galeria)

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem aqui foi atrás da documentação, foi
já estudando as provas a que ele se referiu hoje.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem a palavra o


Deputado Antonio Mentor.
E nós vamos passar, então, para as considerações do Doutor Blat para que ele
possa se houver mais algum questionamento a ele.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Quero dialogar com o Deputado Ricardo


Montoro e com o Deputado Bruno Covas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Há mais alguma


intervenção ao Doutor Blat para que ele possa...?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Absolutamente. Já estou satisfeito em


relação.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Podemos então...? O


Doutor Blat gostaria de fazer alguma consideração?
91

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Eu vou falar primeiro. Eu quero falar


primeiro.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É que o Doutor Blat


está aqui e ele precisa ir, tem seus compromissos. Se ele não for mais útil...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Eu vou ser muito breve.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Então seja breve, por


favor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Apenas para dialogar com o Deputado


Montoro e com o Deputado Bruno Covas, nós tínhamos sim informações a respeito do
inquérito anteriormente à oitiva em outros depoimentos, vários outros, que foram
veiculados através da imprensa, que foram veiculados através da própria investigação
do Ministério Público e nós formulamos as nossas indagações a partir dessas
informações. Não foi do nada que nós tiramos, nem ali naquele momento. O Deputado
Ricardo Montoro sabe muito bem disso. Nós tínhamos outras fontes de informação que
baseadas nelas nós formulamos as nossas questões para os demais depoentes.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Como aqui também tinha.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Claro! Mas aqui... E outra. Só para


completar, nós não tínhamos interrogado nenhum Promotor de Justiça encarregado de
fazer a denúncia contra os dirigentes da BANCOOP. Esse foi o primeiro.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu vou fazer alguns


comunicados, enquanto o Doutor Blat retorna.
Comunicamos o recebimento por intermédio de ofício proveniente da Junta
Comercial de cópias de documentação localizada nos arquivos do órgão em questão.
Recebemos também da Dipo mais cópias de documentos constantes do inquérito
policial solicitado por intermédio de requerimento que estão à disposição também dos
Membros desta CPI; são documentações sigilosas.
92

Esta CPI também recebeu correspondência de instituições financeiras com


referência ao compartilhamento de dados bancários, em cumprimento ao solicitado
também por requerimentos, que também trata de documentação sigilosa.
Recebemos também expediente proveniente de cartório de registro, em atenção a
requerimentos formulados por esta CPI.
E também recebemos expedientes em atenção ao solicitado por intermédio de
requerimento que são livros-diários, documentação sigilosa.
Nós vamos suspender, então, a nossa sessão, para eu dar a palavra ao Doutor
Blat e agradecer a presença dele. Ele foi...
Eu quero suspender a nossa sessão, então, por 30 segundos.
Já está conosco, então, o Doutor José Carlos Blat. O senhor gostaria de fazer
alguma consideração final?

O SR. JOSÉ CARLOS BLAT – Eu peço desculpas de ter ido duas vezes ao
banheiro, mas é que eu estou tomando alguns remédios controlados por conta de um
tratamento de saúde e não consigo segurar. Por isso peço desculpas aos senhores se me
ausentei, não foi em absoluta falta de respeito aos senhores Deputados. Por favor.
Eu só queria esclarecer que a denúncia oferecida em juízo será disponibilizada
aos senhores e a cada tópico a menção dos documentos pelas quais nós fizemos as
afirmações.
E gostaria de dizer também que eu preciso me ausentar por conta de
compromissos no Ministério Público em São Paulo.
E me comprometo a qualquer tempo, a qualquer hora, a solicitação de V. Exas.
para qualquer tipo de esclarecimento necessário.
Seria importante, antes de a gente fazer qualquer outra consideração, que V.
Exas. tenham conhecimento do teor dos documentos que acompanham a denúncia,
inclusive dos documentos que já estão em poder da CPI. A documentação é muito
extensa, os depoimentos colhidos são muito extensos, a exemplo do que acontece aqui,
por exemplo, quando os senhores ouvem determinada pessoa, são 40 ou 50 laudas a
respeito de “n” assuntos, então a gente precisa buscar esses documentos todos, eles
estão aqui, estão devidamente selecionados. Obviamente que nós vamos encaminhar
essa denúncia agora, enfim, a gente precisa ver como vai viabilizar essa questão.
93

E eu me coloco à disposição de todos os senhores e pediria, com todo respeito e


acatamento, se há possibilidade de eu me encaminhar para o Ministério Público do
Estado de São Paulo.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nós já estamos


encerrando a nossa sessão, a nossa reunião, agradecendo mais uma vez a presença do
senhor, a presença dos deputados. Dizer o quanto tem sido importante a contribuição do
Ministério Público para que a gente, mais do que opiniões, constate fatos e aprecie um
bom relatório com soluções para os cooperados. E é isso que esta CPI se propôs e vai
fazer. Muito obrigado pela presença de todos.
Está encerrada a nossa reunião. (Palmas.)

* * *

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