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Sem saber, Kelly executava uma atividade considerada uma das piores formas
de trabalho infantil, que o Brasil se comprometeu a erradicar em caráter de
urgência, ao ratificar, e posteriormente promulgar, o decreto em 12 de
setembro de 2000. Com isso, colocou em vigor a Convenção 182 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre a proibição das piores
formas de trabalho infantil e ação imediata para a sua eliminação. Países
signatários desta Convenção 182 devem elaborar uma lista com os tipos de
trabalho infantil a serem eliminados em caráter emergencial.
O que mais impacta na frase dita por "Certamente não vêem graça em
Kelly é que ela traz uma verdade tão histórias de fadas, princesas e
profunda e ao mesmo tempo crítica: heróis, porque a realidade lhes fala
crianças não deveriam "precisar
muito mais alto"
trabalhar". O fato de crianças ajudarem
no orçamento da casa traz uma lógica
perversa tão comum em nosso país: pais e mães deveriam ter condições de
sustentar seus filhos. Mas eles estão longe de ter um trabalho decente (com
salário digno, com liberdade, igualdade, segurança e direitos trabalhistas
respeitados), e por isso suas crianças são obrigadas a trabalhar, seja para
ajudar na casa, seja para simplesmente se sustentar. Responsabilidades e
obrigações que não deveriam ser delas.
E assim tem continuidade um ciclo de pobreza difícil de se escapar. Crianças
no trabalho precoce viram adultos com menos escolaridade, com menos
condições de competir por uma vaga no mercado de trabalho. Muitas vezes,
são levados à informalidade, ao trabalho precário, com rendimentos
insuficientes para o sustento da família. Isso contribui para que seus filhos
também comecem a trabalhar precocemente.
Boa parte da sociedade ainda não se deu conta de que, em face desse
problema, a responsabilidade é de todos. A Constituição Federal é clara, em
seu artigo 227: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão." Em resumo, é dever de todos garantir o direito de
crianças e adolescentes ao desenvolvimento pleno, livre de toda forma de
exploração, inclusive no trabalho.
Kelly dá o seu recado e nos faz pensar. Que ela e tantos outros e outras que
tiveram suas infâncias roubadas pelo trabalho tenham sua voz ouvida e que
não precisem esperar para ter seus direitos garantidos. Este Portal é um
exemplo vivo de que cada um tem um papel a cumprir desde já para mudar a
realidade de trabalho infantil no País.