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2. Larvicultura
algas filamentosas e plantas submersas. O excesso de troca de água nesta fase prejudica o
desenvolvimento do plâncton, facilitando desenvolvimento de algas filamentosas e plantas
aquáticas no fundo dos viveiros, devido à alta transparência da água, além de dificultar as
operações de despesca. Segundo Kubtiza (1999), uma outra sugestão que favorece o
desenvolvimento do plâncton é a utilização de 2 a 3 kg de uréia/1.000 m2/semana e 4 a 6 kg
de farelos vegetais/1.000 m2/dia. Farelos de arroz, trigo ou algodão, por exemplo, podem ser
usados e também servirão de alimento para os peixes estocados. Um parâmetro que pode ser
utilizado para se medir a necessidade de adubação é o disco de Secchi (ideal é manter a
transparência em 50 cm). Atingida está transparência, pode-se interromper o uso de uréias e
farelos. Da mesma forma, caso a transparência da água for se aproximando de 30 cm, deve-se
aumentar a renovação de água de forma a manter a transparência em 50 cm.
Como as pós-larvas apresentam rápido crescimento, são muito exigentes em
nutrientes. Além disso, as reservas corporais em nutrientes são poucas e deste modo,
qualquer deficiência na nutrição das mesmas, pode trazer sérios problemas para o
crescimento. O zooplâncton é o primeiro alimento externo para as pós-larvas da maioria dos
peixes. Enzimas digestivas presentes neste organismo são liberadas pela ação física das pós-
larvas durante a captura e ingestão do zooplâncton. Estas enzimas exógenas desencadeiam a
hidrólise das proteínas do próprio zooplâncton ingerido e estimulam a secreção de enzimas
pelo trato digestivo das pós-larvas (enzimas endógenas), facilitando o processo de digestão e
absorção dos nutrientes. Após alguns dias com alimentação às custas de organismos
planctônicos, as pós-larvas começam a aceitar e utilizar melhor as rações preparadas.
ração final, ou seja, não considera as diferenças de sabor e textura da dieta durante a transição
alimentar.
A transição gradual das rações consiste na substituição progressiva de uma certa
ração inicial ou alimento natural pela ração final seca, até o ponto onde apenas a ração final é
oferecida. Esta técnica pode favorecer a seletividade alimentar e acentuar o canibalismo em
função das diferenças de tamanho dos peixes dentro do mesmo lote, uma vez que os peixes
maiores se alimentariam primeiro, desenvolvendo-se mais rapidamente e ficando aptos a
praticar o canibalismo (Kubitza, 1995a, b; Ono, 1996; Kubitza & Lovshin, 1997; Moura,
1998).
Porém a estratégia mais eficiente é a substituição gradual dos ingredientes nas
rações, onde o alimento inicial é substituído por uma seqüência de rações formuladas de
forma a conter níveis decrescentes do alimento inicial em sua composição. Neste caso, a
textura e o sabor das rações são alterados progressivamente e os ingredientes misturados
impedem a seletividade.
1974; Kubitza, 1995a, b; Nelson et al., 1974; Sloane & Lovshin, 1995; Willis & Flickinger,
1981).
Estes alevinos podem ser facilmente treinados com peixes moídos ou dietas úmidas
(Lovshin & Rushing, 1989). Porém, o alto custo dos alimentos úmidos e a necessidade de
refrigeração limitam o uso a um pequeno período de condicionamento alimentar ou a uma
pequena escala de produção. Porque são mais baratas e fáceis de armazenar, dietas secas são
mais recomendadas para operações de grande escala. A identificação de rações iniciais e o
desenvolvimento de estratégias efetivas de produção que levem estes peixes das rações
iniciais até as rações comerciais são o grande entrave (Kubitza, 1995a, b).
Filé de peixe moído, ovos de carpa comum e krill seco congelado são alguns dos
alimentos iniciais utilizados para o treino alimentar. Segundo Kubitza (1995a), o melhor
alimento inicial para o condicionamento alimentar do largemouth bass é o krill seco
congelado, seguido de uma transição gradual dos ingredientes das rações contendo farinha de
krill. No entanto, o filé de peixe moído pode ser considerado um potente substituto, uma vez
que peixes treinados com filé de peixe crescem mais rápido e aceitam melhor a ração
comercial extrusada que os peixes treinados com krill seco congelado. (Sloane & Lovshin,
1995; Kubitza & Lovshin, 1997). O aumento da palatabilidade, textura e flutuabilidade do
krill parecem satisfazer as preferências alimentares do largemouth bass.
Willianson & Carmichael (1990), testaram o sucesso de treino de duas variedades
de largemouth bass (Northen e Flórida) e seus híbridos. Os resultados indicaram que os
alevinos da variedade Northen obtiveram maior sucesso no treino. Trabalhando com duas
gerações de largemouth bass (filhos de pais treinados na ração – meridian select e filhos de
pais alimentados com peixes forrageiros - meridian), Ono (1996) testou quatro dietas iniciais:
krill seco congelado (KSC), filé de peixe moído (FPM), 80% de filé de peixe mais 20% de
ração de truta moída (FP-80) e ração de truta moída (RT) e obteve os seguintes resultados:
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Ono (1996) sugere ainda que para o condicionamento alimentar do black bass, com
peso inicial de 1 g, a melhor estratégia foi usar o KSC durante 4 dias, em seguida uma
transição gradual dos ingredientes das rações durante 9 dias, com rações contendo 75, 50 e
25% de farinha de krill misturada com ração de truta moída, fornecida 4 vezes ao dia durante
2 dias cada ração. Moura (1998), trabalhando com o tucunaré Cichla sp, sugere que a melhor
dieta inicial é aquela contendo 100% de filé de peixe moído, seguida de uma transição
gradual dos ingredientes das rações, contendo 80, 60, 45, 30, 10 e 0 % de filé de peixe,
obtendo-se 37% de peixes aceitando uma ração seca comercial. Apesar de utilizarem a
mesma dieta inicial – filé de peixe moído, Kubitza & Cyrino (1997) obtiveram 76% dos
peixes se alimentando do alimento inicial, mas não obtiveram sucesso em relação ao restante
das rações de transição, pois nenhum peixe aceitou uma ração final seca. Snow (1968),
sugere que alevinos de black bass devem estar com aproximadamente 0,9 g, ou 38 a 51 mm
para começar o período de condicionamento alimentar, pois nesta fase os peixes têm reserva
de energia suficiente para sobreviverem até serem treinados, bem como tamanho uniforme
para reduzir canibalismo.
Brandt et al. (1987), trabalhando também com o largemouth bass, testou o sucesso
do treinamento de 32 dietas iniciais. O sucesso do treino para a maioria das dietas ficou
abaixo de 3,2%, exceto para as rações granuladas contendo 45% de proteína e duas dietas
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contendo pelo menos 97,8% de ovos de carpa comum. As rações granuladas possibilitaram
um sucesso de treino de 18%. As dietas contendo 97,8 e 100% de ovos de carpa comum
possibilitaram um sucesso de condicionamento alimentar de 59 e 57,5%, respectivamente.
Resultados de investigações sobre o uso de substâncias que estimulam o consumo
de alimento pelos peixes sugerem que embora o sabor de um alimento seja quimicamente
mediado por substâncias inerentes ao alimento, depende ainda da quimiossensitividade da
espécie (Adams et al., 1988); misturas são mais eficazes para estimular a resposta alimentar
dos peixes que componentes individuais (Kubitza, 1995b); L-aminoácidos são substâncias
mediadoras da resposta alimentar dos peixes, particularmente os aminoácidos neutros
(Hughes, 1991); e bases nitrogenadas orgânicas e nucleotídeos estão envolvidos com a
resposta alimentar dos peixes (Kubitza, 1995b).
Em estudos com o black bass, Kubitza (1995b) testou o efeito da substituição da
farinha de peixe pelo farelo de soja (60 %) para identificar a palatabilidade das dietas
experimentais. Em seguida, adicionou às rações uma mistura de aminoácidos (alanina
2.000mg/kg, glicina 3.836 mg/kg, prolina 305 mg/kg, serina 1.205 mg/kg, leucina 614
mg/kg, valina 800 mg/kg, histidina 273 mg/kg e triptofano 318 mg/kg), nucleotídeos (inosina
2.800 mg/kg e inosina-5-monofosfato 2.800 mg/kg) e betaina (6.100 mg/kg). Foram testadas
7 rações experimentais: apenas com aminoácidos; apenas com a betaína; apenas com os
nucleotídeos; com aminoácidos mais betaína; com aminoácidos mais nucleotídeos; com
betaína mais nucleotídeos; e com os aminoácidos mais betaína mais nucleotídeos; e uma
ração controle contendo 60% de farelo de soja. Baseando-se no consumo diário de ração, os
melhores resultados foram àqueles relativos às rações contendo somente nucleotídeos ou com
as outras possíveis combinações, como pode ser observado na Tabela 2.
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Tabela 2. Consumo diário de ração (CDR) em g/100 g de peso vivo do largemouth bass
alimentado com uma dieta controle e com dietas contendo aminoácidos (AA),
nucleotídeos (NUC), e betaína (Bet) isolados e com todas as possíveis
combinações.
Kubitza (1995b) realizou ainda outro experimento com a mesma espécie, testando
somente os nucleotídeos, inosina e inosina monofosfato, juntos ou isoladamente, em
diferentes níveis e observou os seguintes resultados (Tabela 3):
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Tabela 3. Consumo diário de ração (CDR) em g/100 g de peso vivo do largemouth bass
alimentado com uma dieta controle e com dietas contendo 10% de farinha de
peixe (FP-10), ou contendo somente inosina (Ino) ou somente inosina –5’-
monofosfato (IMP-5’) e Ino mais IMP-5’.
FM-10 1,90 a
Ino+IMP (2.800 cada) 1,63 b
IMP-5’ (5.600) 1,50 b
IMP-5’ (2.800) 1,48 b
IMP-5’ (1.400) 1,27 c
Ino (5.600) 1,29 c
Ino (2.800) 1,29 c
Ino (1.400) 1,22 c
Controle 1,20 c
CV(%) 14,80
Kubitza (1995b)
reservatórios com populações de peixes já estabelecidas. Esta prática já vem sendo feito em
larga escala com o black bass, em reservatórios públicos e particulares para pesca esportiva.
O alto custo inicial dos peixes, cerca de R$ 4,00/unidade é compensado pelo menor número
de peixes necessários, em função da ausência de canibalismo e consequentemente maior taxa
de sobrevivência.
A produção intensiva de juvenis avançados de black bass alimentados com ração
comercial seca em viveiros sem renovação de água e com aeração de emergência alcança até
7.200 kg/ha em 117 a 153 dias de cultivo, com conversão alimentar de 0,97 a 1,14 (Kubitza,
1995b). Surubins com peso inicial de 50g alcançam peso médio de 600g em 90 a 100 dias
após a estocagem, atingindo biomassa final de 5.000 kg/ha, obtendo-se conversão alimentar
entre 1,4 e 1,7. A terminação dos surubins (600g a 3kg) ocorre em 330 a 390 dias, atingindo
uma biomassa total de 4.700 kg/ha e conversão alimentar de 1,9 a 2,0 (Kubitza et al., 1998).
Pesquisas com o carnívoro tucunaré realizado pela ESALQ/USP, demostraram que peixes
com peso inicial de 10g, apresentaram um ganho de peso de 20g em 60 dias com índices de
conversão alimentar de 1,2 e que é possível reduzir o nível de proteína bruta (PB) nas rações
de peixes carnívoros de 40% para 36 a 37% de PB sem redução no ganho de peso e qualidade
da carne do produto final, o que resulta em grande redução no preço das rações (Sampaio,
1999).
Hoje, os preços de venda de peixes carnívoros variam de R$ 10,00 a R$ 15,00/kg
de peso vivo. Os preços praticados em peixarias da região sudeste variam de R$ 7,00 a
R$20,00 dependendo da apresentação do produto. Estes valores mostram que apesar do alto
custo inicial dos alevinos, a criação de espécies carnívoras é hoje uma boa opção para
produtores e donos de pesque – pagues aumentarem as margens de lucro da atividade.
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5. Curiosidades
6. Conclusão
7. Referências Bibliográficas
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