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apitulo Condigées de Satide da Populacao Brasileira Davi Rumel Cristiana M. Toscano Sotero Serrate Mengue Bruce B, Duncan __ OEE © conceita de satide estabelecido pela Organizagio Mundial de Saiide (OMS) como 0 estado de “pleno bem-estar fisico ¢ mental”, ¢ ndo apenas a auséncia de oenca, tem uma formulacéo estategicamente positva em relacio 4 sate. Entre- tanto, a operacionalizagdo desse conccito enfrenta dificuldades, especialmente na definigéo do que venha a ser bem-estat [As clissicas medidas de mortalidade c morbidade permitem quantificaras condi- ‘6es de sade de uma populacio ou grupo populacional por meio da utilizagdo Ue parimetros opostos, isto é, para saber como uma populagio vive, observe ‘como ¢la morte, para conhecer sua sade, observe suas doengas. O objetivo deste capfnulo é fornecer um conjunto de informag6es que possam dar uma ideia geral da sinuagdo da saide no Brasil, nZo tendo a pretenséo de exgotaro tema. Para tanco, apresentant-se indicadores de mortalidade, morbidade, custo e tilizagio de servigos de sade einfra-strurura de side no Pats. Eas informagbes sobre a populagto ‘oberta pelo servigo de medicina ambulatoria podem orientar planejamento do servigo «propria pritica clinica, especialmente nos seus aspectos preventivos. TRANSIGAO EPIDEMIOLOGICA Mudancas demogrificas e de aporte nutricional levam a alterag6es importantes no perfil de morbimortaidade da populagio brasileira, processo esse denominado tran- Sigdo epicemioldgica. Nessa transicao, observa-se o deslocamento do eixo principal cde morbimorralidade de doenas infeeciosas e problemas matcrne-infancis para doen- (28 crdnico-degenerativas ¢ causas externas, Transigdo Demogratica ‘No Brasil, os censos demogrificos nacionis sio realizados desde 1940, Dessa 6poca gud 1991, eram feitos a cada dez anos; a partir de 1991, comecaram a ser tealizados a cada cinco anos, tendo o ultimo sido realizado em 2000. Pode-se observar que a populacio brasileira envelheceu nas itimas duas déca- das, com um maior percentual de pessoas nas fainas etrias de 30-49, 50-69 ¢70 anos ‘ou mais em 2000, em comparacao com 1980 (Figura 4.1). A axa média de crescimento anual da populacio diminuiu, passando de 2,4% ao ano na década de 70 para'1,9% na de 80, aleansando 1,6% em 2000. Nesse mesmo ano, o grau de urbanizagdo (porcentagem da populagio vivendo 59 Mabon AveuisTORAL SS 30% ‘A desnuttigio, ou deficitncia nutricional, diz respeito a condigdes que decorrem do aporte alimentar insuficiente de cenergia e nutrientes, ou do inadequado aproveitamenco bio- ligico dos alimentos ingeridos, podendo ser mensurada de maneiza objetiva, em criangas, pelo retardo de crescimento. ‘A fome é mais dificil de se definir, podendo ser classi- ficada' em fome aguda (urgéncia de se alimentar) ¢ forne crOnica, esta dltima mais rclevante para a avaliaglo de per- fis de risco ¢ morbidade no Pats. A forme crdnica ocorte quando a alimentagio no propicia ao individuo energia Od 1529.” 9042” «80-69 "70+ ——_~Para manutengdo do organismo € excrcicio das atividades cotidianas. A mensuracio da fome crénica ¢ feita pela rela- ms9e0 M2000 io entre peso e altura FIGURA 4.1 Distibuigko percentual da populagao brasileira por faixa Enquanto a prevaléncia da desnutticao na infincia no Stara 900 9 2000 Fore Dalaes Portas Brasil foi de 10,49% ern 1996 (variando de 17,9% no Nordes- te 2 5,6% nas Regides Centro-Sul do Pats), 2 proporgio da populacio (criangas e adultos) com fore crénica no mesmo foi de 3.a 496.4 cm rea urbana) foi de 81%, O padrio de urbanizaséo nas “"° "hee. no mundo inteiro, ado apenas no Brasil, 2 po- | “timas décadas também foi alterado, com redugio signifi- jeeza€ ais regtenne que adeseutia. cesta, mas frequen. t tativa do processo de urbanizagdo aas grandes cidades: 25 {eque.afomectOnica trig, eeges ais eg ‘apitais dos estados civeram uma redugio significaiva no crescimento, passarido de 3,19% na década de 80 para 1.4% aa década de 90. O processo de eransigio demogeifica pode MORTALIDADE ser observado ainda pelo declinio da taxa de fecundidade total, que passou de 2,57 nascidos vivos por mulher €m A, informayées sobre mortalidade no Brasil sio obtidas pe informagées sobte mortalidade no Brasil sio obtidas pelo 1991 para 2,21 em 2000. ‘Sistema de Informagées de Mortalidade (SIM), que é alimen- A espetanga de vida 20 nascer aumentou significtiva- ta4o pelas deca 7 pelas declaragbes de Sbito(acestados de Sbito), de preen- ‘mente nas dikimas décadas, passando de 62 anos para homens Chimento compulsio em todo o Pals. 69 anos para mulheres, em 1990, para 65 anos para homens Toon infotmagbes de registro de mortal 73 anos para mulheres em 2000.2 Como conseqtiéncia, ob- tam fimitagGes, sendo a principal delas o sub-registro de dbi- servacse o envelhecimento da populagio no Brasil tos, em especial nas Regides Norte, Nordeste ¢ Centto-Ocste do Pais. Outra limicagSo importance &a mé qualidade das in- 7 : formagies contidas nas declaragSes de dbito, exemplificada Transigao Nutricional pela freqincia da rubrica “sintomas, sinas ¢ afeovbes malde- finidas” como causa de dbito. O cstado nutricional da populagso, importante determinante de sate, também se alterou de maneiraconsiderdvel no Pas, sobretudo nos ttimos dee anos. Uma série de inquétitos po- palacionais realizados no Brasil em 1975, 1989 1997, em ctiangas de 1 a4 anos ¢ adultos com mais de 20 anos, eviden- cia que a obesidade est substiruindo 0 baixo peso em todasas ty classes sociais, como destacado na Figura 4.2.* o ‘Ao estatficar por vardveis, como regito do pals e gru- pos de maior e menor ronda, mantém-searendénciadequeda * 9 dda prevaléncia de baixo peso caumento da prevalenciadeobe- sidade observada nos inquetitos sucessvos. 2 °. omens -Mutheree = Hompone = Mulhoree bavopeto — akapeso beso ——obesas Mise D080 Bor © combate & fome se destaca hoje como meta de uma socie- _;/rgrede mana cameras Sahat dade jusea. No encanto, mesmo reconhecendo sua relevincia, Font: Mont? as andlises de indicadores de pobreza, desnurcio fOMe MOS prguRA 42 Prevalacia de baxo peso’ o bocidads om adultos team que ees sio problemas de nacureza edimens6es distneas. Brest, 1974-1907 bad t Desnutri¢ao e Fome 60 "FUNDANENTOS E PRATICAS EM ATENGAO PawAnia A SAUDE —— eee Causas Principais No Brasil, a fase atual da transicao epidemiolégica (Figu- 124.3) se expressa pela manutencio de elevado coeficien- ce de mortalidade por doencas do aparelho circulatério € ‘outras doengas crOnico-degenerativas ¢ pela diminuigéo dz mortalidade por doencas infecciosas e parasitérias, rmortalidade esta que mesmo assim petmanece importan- rem cermos epidemiol6gicos. Além desse padréo, comum ‘em muitos pales em desenvolvimento, hi um contorno ‘especial: © aumento da jéelevada mortalidade por causas externas (acidentes de transit e violencia) Cocticente de mortalidade/t0.000 —o— Causas externas a Apareino circulatorio aw sm Infocclosas © parastarias FIGURA 4.3 Coofciente de moralidade no Brasi de acordo com cau- ‘585, 1980-1998, Pals. Se sd0 somados os dhitas por causa infecciosas que cons- tam de outros capitulos da CID-10, tis como dosngas respi- ratdrias agudas, meningices bacterianasefebre reumdtica, che- g2-se 29% do toral dos dbitos. Entre criangas com 1 a4 aos de idade, 33% dos dbitos se devem a essas doengas infecciosas reoém-citadas. Entre 5 ¢ 14 anos de idade, essa proporgio é de 14%, entre 15 € 49 anos, de 1196, eacima de 50 anos, de 7%. Nesse mesmo ano, as doengas do aparelho circulat6rio foram responsiveis por 28% do total dos ébitos no Brasil, tendo como componentes principais as doencas cerebrovas- culares (33%) e a daenea isquémica do coragi0 (30%). ‘As causas externas de mortalidade, que mais tém cresci- do nas thimas duas décadas (aproximadamente 20%), tocali- zam 1396 dos dbitos.Jé as neoplasias malignas no Brasil, em 1998, responderam por 12% do roral dos ébitos, sendo mais frequentes as de craquéia, bronquios e pulmo (12%), estd- ‘mago (10%) ¢ mama (7%). ‘As diferencas regionais de saide podem ser aferidas in- dirctamente por meio da andlise da montalidade proporcional por alguns grupos de causas por regido do pafs (Figura 4.4). (Os percentuais de Sbitos por sinais, sintomas e afecgdes mal- definidas alcancaram 30% na Regido Nordeste, contrastando com 8% na Regio Sul Isso se deve principalmente a diferen-

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