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A zoologia e a botânica do ensino médio sob uma perspectiva

evolutiva: uma alternativa de ensino para o estudo da


biodiversidade.
The zoology and botany of the Brazilian high school teaching under
evolutionary perspective: an alternative teaching for the biodiversity study

Felipe Silva Ferreira1,


Samuel Vieira Brito1,
Samuel Cardozo Ribeiro1,
Débora Lima Sales1
Waltécio de Oliveira Almeida1*
Resumo

O estudo da diversidade biológica sofreu várias modificações ao longo dos tempos. Desde
Darwin todos os métodos para classificar os seres vivos deveriam abordar as relações evolutivas
dos grupos estudados. Um desses métodos compreende a construção de cladogramas (gráficos
contendo hipóteses de relações filogenéticas). Com o emprego desse método e seu
desenvolvimento as classificações biológicas tradicionais sofreram modificações profundas.
Grupos como peixes, invertebrados e gimnospermas não são mais considerado grupos válidos e
tiveram profundas modificações em sua classificação. No ensino médio no Brasil, o estudo de
Zoologia e Botânica geralmente ainda não é realizado dentro de um enfoque evolutivo, mas sim a
partir dos modelos da classificação tradicional. Algumas experiências demonstraram que o ensino
de Zoologia e Botânica no ensino médio dentro de uma perspectiva evolucionária se torna mais
dinâmico e interessante, pois aborda o conhecimento sobre a diversidade biológica considerando
as hipóteses filogenéticas para propor modelos de classificação dos organismos.

Palavras-chave: Cladística, Zoologia, Botânica, Ensino Médio Brasileiro.

Abstract

The study of the biological diversity had several modifications along the times. From Darwin
all the methods to classify the animals and plants should approach the evolutionary relationships of
the studied groups. One of those methods understands the cladograms construction (diagrams
containing hypotheses of phylogenetic relationships). With the employment of that method and
your development the traditional biological classifications suffered deep modifications. Groups as
fish, invertebrates, gimnospermes are not more considered valid groups and they had
modifications in your classification. In the high school level in Brazil, the study of Zoology and
Botany it is not usually accomplished still inside of an evolutionary focus, but starting from the
models of the traditional classification. Some experiences demonstrated that the teaching of
Zoology and Botany in the Brazilian high school inside of evolutionary perspective becomes more
dynamic and interesting, because it approaches the knowledge about the biological diversity
considering the phylogenetic hypotheses to propose models of classification of the organisms.

Keywords: Cladistics, Zoology, Botany, Brazilian Teaching High School.

1-1Departamento de Ciências Físicas e Biológicas, Universidade Regional do Cariri, Crato, CE,


Brazil. 2Departamento de Química Biológica, Universidade Regional do Cariri, Crato, CE, Brazil.
E-mail: walmeida@urca.br

Cad. Cult. Ciênc. V.2 N. 1 - p. 58-6, 2008


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INTRODUÇÃO descrever a biodiversidade; encontrar que


tipo de ordem existe nessa diversidade;
compreender os processos subjacentes; e
O estudo da diversidade biológica apresentar um sistema geral de referência
teve início na Grécia Antiga com Aristóteles sobre a biodiversidade.
onde todos os organismos eram agrupados Uma filogenia pode ser reconstruída
em um sistema de classificação. somente com base em características
Nesse sistema, os organismos eram derivadas compartilhadas, isto é,
agrupados de acordo com características características diferentes da condição
gerais que não indicavam nenhuma relação ancestral (AMORIM, 2002).
evolutiva entre os organismos. Na terminologia filogenética,
Em 1735 Lineu propôs um novo caracteres derivados compartilhados são
sistema de classificação da diversidade denominados sinapomorfias. Alguns
biológica, mas essa proposta também não organismos também apresentam
indicava nenhuma relação de parentesco características que herdaram de seus
entre os organismos (MAYR, 1998; ancestrais.
RIDLEY, 2006). Estas características ancestrais
Com a publicação da Teoria da compartilhadas são denominadas
Evolução através da Seleção Natural de simplesiomorfias. As simplesiomorfias não
DARWIN (1859), modificações tiveram de indicam informação sobre o grau de
ser realizadas nos sistemas de parentesco dos grupos.
classificação dos seres vivos. As simplesiomorfias são utilizadas
A partir da compreensão dos apenas para ilustrar quais características
processos da evolução, a classificação dos são sinapomórficas, pois apenas caracteres
organismos passou a ter um enfoque derivados compartilhados (sinapomorfias)
evolutivo. determinam as relações filogenéticas dos
Alguns métodos surgiram para grupos (HENNIG, 1966: 88-101).
classificar os seres vivos dentro de uma Na Sistemática Filogenética, os
perspectiva evolutiva, dentre os quais se organismos são reunidos em grupos que
destaca a construção de cladogramas compartilham uma ou mais sinapomorfias e
proposta por HENNIG (1950, 1966), o qual que descendem do mesmo ancestral
estabeleceu princípios e métodos que comum.
constituem a Sistemática Filogenética. Estes grupos são denominados de
Nos dias de hoje, o estudo sobre a grupos monofiléticos. Outro conceito
classificação dos seres vivos é realizado importante da Sistemática Filogenética é o
através da Sistemática Filogenética conceito de grupos parafiléticos.
(RIDLEY, 2006). Um grupo é parafilético se incluir o
A Sistemática Filogenética, ou ancestral comum mais recente do grupo,
cladística, tem por objetivo organizar o mas não todos os descendentes desse
conhecimento sobre a diversidade biológica ancestral.
a partir das relações filogenéticas entre os A Sistemática Filogenética reconhece
grupos e do conhecimento da evolução das como um grupo válido apenas os grupos
características morfológicas, ecológicas e monofiléticos (HENNIG, 1966; WILEY,
moleculares dos grupos (por exemplo, 1981, AMORIM, 2002).
MATIOLI, 2001).
De acordo com AMORIM (2002), o
escopo da Sistemática Filogenética é:

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As relações dos grupos são A terminologia utilizada na


representadas em gráficos denominados Sistemática Filogenética tende a dificultar a
cladogramas (Figura 1). compreensão deste método.
Para uma melhor compreensão,
Utilizamos os cladogramas para fazer vamos observar a Figura 1.
perguntas sobre a evolução dos grupos, Esta mostra as relações filogenéticas
pois todos os organismos estão agrupados de quatro grupos hipotéticos (A, B, C, D).
compartilhando uma herança comum, .
sendo esta responsável por sua
similaridade (AMORIM, 2002).

Figura 1 – Cladograma exemplificando as principais terminologias da Sistemática Filogenética.

Podemos afirmar que A, B, C, D e passaram apresentar características


formam um grupo monofilético, pois a derivadas compartilhadas ou sinapomorfias.
característica 1 é uma sinapomorfia para
este grupo. Consequentemente as De acordo com cladograma da Figura
características 2 e 3 são sinapomórficas 1, o grupo A é o grupo mais primitivo ou
para o grupo monofilético B, C, D e a basal. Consequentemente, o grupo D é o
característica 4 é uma sinapomorfia para C mais modificado ou derivado. Podemos
eD. A característica 5 é uma autapomorfia afirmar também que A é o grupo irmão de
para D, pois esta característica é exclusiva B, C, D, pois A é o grupo mais intimamente
deste grupo. próximo do grupo B, C, D.

Os nós em cada cladograma Olhando para o cladograma, não


representam os pontos onde ocorreram os poderíamos afirmar que, somente A e B
eventos cladogenéticos, ou seja, os eventos formam um grupo monofilético.
onde populações ancestrais foram divididas

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Não podemos observar um O objetivo deste trabalho é analisar


sinapomorfia para A e B e estamos como seria o trabalho em sala de aula para
excluindo também seus descendentes (C e abordar a Sistemática Filogenética no
D). Logo se admitíssemos A e B como um ensino de Zoologia e Botânica nas aulas de
grupo ele seria parafilético. Biologia do Ensino Médio.

Como o objetivo da Sistemática Como pode ser abordada a Zoologia


filogenética é listar sinapomorfias e e a Botânica no Ensino Médio através da
delimitar grupos monofiléticos alguns Sistemática Filogenética?
grupos como peixes, invertebrados e
criptógamas não compartilham De acordo com LOPES (2002) os
sinapomorfias que os unam em grupos cladogramas começaram a aparecer nos
monofiléticos, consequentemente, do ponto vestibulares sem que os livros didáticos de
de vista da Sistemática Filogenética os Biologia do Ensino Médio explicassem o
grupos acima citados são considerados que é um cladograma e como analisar o
como grupos parafiléticos. mesmo para fazer perguntas sobre a
evolução dos grupos.
Alguns grupos da classificação
tradicional são considerados válidos, ou Os livros didáticos de Biologia do
monofiléticos, pois compartilham Ensino Médio apresentam os grupos
sinapomorfias. Alguns exemplos de grupos biológicos em capítulos separados com
monofiléticos: os vertebrados suas características específicas sem levar
(sinapomorfias: presença de vértebras), em consideração os aspectos evolutivos
moluscos (sinapomorfias: presença de dos grupos (AMORIM, 1999).
rádula [órgão raspador utilizado na Estes livros (por exemplo, PAULINO,
alimentação] e o manto), fungos 2000; CARVALHO, 2002) utilizam os
(sinapomorfias: hifas e parede celular de sistemas de classificação propostos por
quitina) angiospermas (sinapomorfias: Aristóteles e Lineu onde os organismos
presença de flores e frutos) etc.
eram vistos como unidades isoladas e
Os métodos para classificar os seres imutáveis. Este método não permite ao
vivos sofreram várias modificações ao aluno uma análise do processo evolutivo
longo dos tempos, mas o ensino da dos grupos biológicos.
diversidade biológica no ensino médio não Os principais conceitos básicos da
seguiu essas modificações (AMORIM, Sistemática Filogenética e a introdução de
1999). cladogramas como hipótese de parentesco
Mesmo com a consolidação da dos seres vivos já é abordada em livros do
Evolução como metateoria, os livros de Ensino Fundamental e Médio (MACHADO,
Biologia no Ensino Médio continuam 2003; LOPES, 2002).
abordando a diversidade biológica de O texto utilizado nestes livros
acordo com o ponto de vista de Aristóteles compreende uma abordagem adequada e
e Lineu, ou seja, um mundo estático, onde linguagem acessível para os alunos do
cada espécie possui uma essência imutável Ensino Médio.
(CHRISTOFFERSEN, M. L., comunicação
pessoal).

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Como seria o ensino de Zoologia e possuem uma linguagem bastante


Botânica através de um enfoque evolutivo? adequada para o nível dos alunos do
AMORIM (1999) descreve uma forma de Ensino Médio e devem servir como fontes
abordagem das classificações biológicas de referência para superação de qualquer
através da Sistemática Filogenética para dificuldade na apresentação dos novos
alunos do ensino médio. conceitos filogenéticos.

O modelo proposto por AMORIM Quando os alunos realizaram os


(1999) possui três momentos: (1) os alunos modelos intuitivos de classificação através
devem listar os organismos (animais e das semelhanças dos organismos, todos os
plantas) que conhecem; (2) os alunos modelos propostos refletiam as
realizarão modelos intuitivos de classificações tradicionais.
classificação através das semelhanças
entre os organismos; (3) serão Os principais critérios utilizados pelos
apresentados aos alunos os modelos de alunos, para a classificação dos seres
classificação através da Sistemática vivos, foram características morfológicas
Filogenética e indicando todas as externas levando sempre em consideração
características derivadas (sinapomorfias) a presença ou não de uma estrutura.
dos organismos. Após esta etapa foi mostrado e comparado
A análise de como seria o trabalho os modelos de classificação realizada por
em sala de aula para abordar a Sistemática eles e os modelos realizados através da
Filogenética no ensino de Zoologia e Sistemática Filogenética (Figura 2 e 3). É
Botânica nas aulas de Biologia do Ensino necessário que a cada sinapomorfia
Médio, segundo o modelo proposto por abordada seja comentado o valor
AMORIM (1999) foi realizado com os adaptativo para esta característica. Para
alunos do 2º Ano do Ensino Médio nas iniciar o estudo de Zoologia, foi abordado a
escolas: Colégio e Curso Delta e Colégio sinapomorfia (1 e 2) que une todos os filos
Externato 5 de julho. Ambos os colégios se dos Metazoa (Multicelularidade e
encontram na cidade de Crato-CE. Desenvolvimento embrionário: mórula e
blástula). As presenças destas duas
Antes de iniciar o estudo foram sinapomorfias indicam que o Reino
explanados aos alunos os princípios da Metazoa corresponde a um agrupamento
Sistemática Filogenética de acordo com os monofilético, desta forma um grupo válido.
modelos de livros didáticos de Biologia do O desenvolvimento embrionário na
Ensino Médio (por exemplo, MACHADO, seqüência zigoto→mórula→blástula é
2003; LOPES, 2002; AMABIS & MARTHO, comum a todos os animais.
2004). As principais dificuldades que os
alunos encontraram para a compreensão
do método foram quanto às terminologias
utilizadas no método.

Mas compreendemos que os livros


didáticos de Biologia do Ensino
Fundamental e Médio (MACHADO, 2003;
LOPES, 2002; AMABIS & MARTHO, 2004)

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Figura 2 – Cladograma mostrado uma das hipóteses sobre as relações filogenéticas dos
principais filos do Reino Metazoa (Retirado de LOPES, 2002). Legendas: 1-Multicelularidade; 2-
Desenvolvimento embrionário: mórula e blástula; 3-Corpo com sistema aqüífero; 4- Gastrulação e
tecidos verdadeiros; 5-Diblásticos; 6-Triblásticos e simetria bilateral; 7-Protostômios (blastóporo
originando primariamente a boca) 8-Deuterostômios (blastóporo originando primariamente o
ânus); 9- Enterocelomados; 10-Cavidades no corpo; 11-Acelomados; 12-Esquizocelomados; 13-
Pseudocelomados; 14-Metameria; 15-Exoesqueleto quitinoso; 16-Simetria secundária
pentarradial; 17-Notocorda.

Como foi visto anteriormente, o bilateral. O surgimento do terceiro folheto


estudo da Zoologia através da Sistemática germinativo possibilitou que os animais
Filogenética deve ser realizado indicando desenvolvessem um sistema de órgãos
todos os principais grupos monofiléticos. A mais elaborados. Os animais que
característica 4 indica a presença de compartilham esta sinapomorfia estão
gastrulação e tecidos verdadeiros. Todos os agrupados no grupo monofilético Bilateria.
tecidos verdadeiros surgem na gastrulação.
Todos os animais que possuem a O surgimento da simetria bilateral
característica quatro estão agrupados no favoreceu cefalização (concentração de
grupo monofilético denominado Eumetazoa células nervosas na região anterior). O
ou metazoários verdadeiros. A condição grupo Bilateria se divide em dois grandes
primitiva da gastrulação possui apenas dois grupos: Protostomia (blastóporo originando
folhetos germinativos (endoderma e primariamente a boca) (sinapomorfia 7) e
ectoderma). Deuterostomia (blastóporo originando
primariamente o ânus (sinapomorfia 8).As
A característica derivada 6 corresponde à características 12 (esquizocelomados) e 9
presença do terceiro folheto germinativo (enterocelomados) são também importantes
(mesoderma) e a presença da simetria sinapomorfias utilizadas para a

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classificação dos animais. Em animais O ensino de Botânica, através da


esquizocelomados (moluscos, anelídeos e Sistemática Filogenética, também
artrópodes) o celoma surge a partir de apresenta modificações. Observando a
fendas mesodérmicas enquanto nos Figura 3, podemos analisar uma das
animais enterocelomados o celoma surge a hipóteses sobre as relações filogenéticas
partir das invaginações das bolsas da do Reino Metaphyta ou Plantae. No estudo
parede do arquentero. de Botânica através da Sistemática
Filogenética foi também discutido a
Faz-se necessário indicar também evolução dos grupos utilizando os
os grupos não monofiléticos, ou cladogramas e identificando todos os
parafiléticos do Reino Metazoa. Os peixes grupos monofiléticos e abordando o valor
não são considerados como um grupo adaptativo para cada novidade evolutiva
válido. Os peixes são considerados que surgiu (sinapomorfias).
parafiléticos, pois eles não possuem um
ancestral comum e exclusivo. O ancestral
que deu origem aos peixes é o mesmo que
originou os tetrapodes (Anfíbios + Répteis +
Aves + Mamíferos).

Figura 3 – Cladograma Cladograma mostrado uma das hipóteses sobre as relações filogenéticas
dos principais filos do Reino Metaphyta (Retirado de LOPES, 2002). Legendas: 1-Gametângios
revestidos por células estéreis; 2-Embrião retido no gametângio feminino; 3-Vasos condutores de
seiva; 4- Presença de sementes; 5-Flores e frutos.

A partir deste cladograma podemos e embrião retido no gametângio feminino)


observar a evolução dos filos do Reino indica que o Reino Plantae corresponde a um
Metaphyta. A característica derivada 1 e 2 agrupamento monofilético (do ponto de vista
(gametângios revestidos por células estéreis filogenético um grupo válido). A presença de

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um embrião retido no gametângio feminino dos grandes problemas levantados pelos


conferiu uma maior proteção ao embrião. alunos foi o grande número de características
que deveriam ser levantadas para a
A característica 3 (vasos condutores classificação dos organismos. Utilizando este
de seiva) indicam que Pteridófitas + modelo proposto pelos alunos, que reflete os
Gimnospermas + Angiospermas formam um modelos tradicionais, os mesmos puderam
grupo monofilético denominado Traqueófitas. observar as grandes dificuldades em estudar
O surgimento dos vasos condutores os organismos através da classificação
possibilitou a expansão das plantas para o tradicional utilizando características que não
ambiente terrestre. As Pteridófitas são as informavam aspectos evolutivos dos
primeiras plantas vasculares. organismos.
Mesmo com a expansão das plantas Uma das principais vantagens, apontada
para o meio terrestre as pteridófitas tem uma pelos alunos, do estudo da Diversidade
dependência do meio aquático para a Biológica através da classificação
reprodução. Gimnospermas e Angiospermas filogenética, que através de poucas
não tem esta dependência, pois a características (mas cada uma delas muito
característica 4 (presença de sementes) informativa) pode-se estudar todo um Reino
conferiu a este dois grupos a independência em pouco tempo, mas com um nível de
da água para a reprodução. A característica aprendizado muito maior. Para os alunos, o
4 indicam que Gimnospermas + estudo dos organismos através de
Angiospermas correspondem a um grupo sinapomorfias se tornou muito mais atrativo,
monofilético denominado Espermatófitas. pois abordou apenas o conhecimento dentro
de um enfoque evolutivo e não obriga o aluno
A presença de flores e frutos
a memorizar termos científicos e as
(característica 5) proporcionou as
Angiospermas uma maior proteção as características de cada grupo.
sementes e uma melhor contribuição para a
sua dispersão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com este cladograma o
grupo conhecido como criptógamas
(briófitas+pteridófitas) é um grupo parafilético
A Biologia é uma ciência em
(não monofiléticos), pois as criptógamas não
constante modificação gerando muitos
possuem um ancestral exclusivo. O ancestral
debates e controvérsias. É importante
que deu origem as criptógamas é o mesmo
mostrar para os alunos as mudanças que
que originou as fanerógamas
ocorreram na Biologia e que eles devem
(Gimnospermas e Angiospermas).
obter o conhecimento básico para poder
Após as comparações da acompanhar estas mudanças.
classificação tradicional com os modelos de
A Sistemática Filogenética também
classificação propostos pela Sistemática
apresenta grandes controvérsias e,
Filogenética, os alunos fizeram
consequentemente, diferentes propostas
considerações e concluíram que o estudo da
evolutivas. Isto se deve ao fato que os
Diversidade Biológica através da Sistemática
diferentes organismos passam ser mais
Filogenética se torna mais dinâmico e
conhecidos e suas hipóteses filogenéticas
interessante.
passam a ser mais bem compreendidas. Vale
A classificação proposta pelos alunos salientar que classificar não é apenas dar
refletiu os modelos tradicionais propostos por nome aos organismos. O que é importante
Lineu e Aristóteles. Durante a listagem, um mostrar ao aluno do Ensino Médio é que as

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propostas de classificação biológicas ensino de Ciências. Ribeirão Preto, 1999, p.


correspondem às relações mostradas nas 59-60.
hipóteses filogenéticas e a partir dela pode-
se propor um modelo de classificação dos DARWIN, C. The origin of species by means
organismos. of natural selection or the preservation of
favoured races in the struggle for life. 11 ed.,
É necessário tornar a aprendizagem The Edinburgh Press, London, [1859] 1911.
da diversidade biológica mais interessante e
agradável para o aluno, sempre tentando HENNIG, W. Grundzüge einer Theorie der
mudar a visão fixista dos livros de Biologia Phylogenetischen Systematik. Deutscher
onde o estudo da diversidade biológica é Zentralverlag, Berlin, 1950.
realizado com um grande amontoado de
HENNIG, W. Phylogenetic systematics.
nomes estranhos (CIRILO, 1999). A
University Illinois Press, Urbana, 1966.
vantagem do ensino de Zoologia e Botânica
através da Sistemática Filogenética, é que à LOPES, S. Bio. Editora Saraiva, São Paulo,
medida que cada grupo monofilético for 2002 v. 2.
abordado uma margem grande de
características dos grupos está sendo MACHADO, S. Biologia: de olho no mundo
estudado, sem ser necessário o do trabalho. Editora Scipione, São Paulo,
conhecimento de todas as características 2003.
morfológicas (como características
MATIOLI, S. R. (Ed.). Biologia molecular e
estruturais, reprodutivas etc.)
evolução. Holos Editora, Ribeirão Preto,
consequentemente o estudo se torna
2001.
estimulante, dinâmico e mais ágil.
MAYR, E. O desenvolvimento do
pensamento biológico. Editora UnB, Brasília,
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS 1998.

PAULINO, W. R. Biologia. Editora Ática, São


Paulo, 2000.
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia dos
Organismos. Editora Moderna, São Paulo, RIDLEY, M. Evolução. Editora Artmed, Porto
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AMORIM, D. S. Diversidade biológica e


evolução: uma nova concepção para o
ensino. In: Barbieri, M. B. (Org). Aulas de
Ciências: Projeto LEC-PEC de ensino de
Ciências. Ribeirão Preto, 1999 p. 9-11.

AMORIM, D. S. Fundamentos de sistemática


filogenética. Holos Editora, Ribeirão Preto,
2002.

CARVALHO, W. Biologia em foco. Editora


FTD, São Paulo, 2002.

CIRILO, G. Biodiversidade e evolução:


aspectos didáticos. In: Barbieri, M. B. (Org).
Aulas de Ciências: Projeto LEC-PEC de

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