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ALICE TWEMLOW PARA QUE SERVE O DESIGN GRAFICO? 7, ee Oe ne aw O design grafico é para as pessoas Embora a maioria dos designers gréficos.con- cordem com que as pessoas que recebem & usam 0 seu trabalho sao importantes, hd um hdmera significative menor que sente a neces- sidade de pesquisare audiancia ou testar o tra- balho antes de 0 publicar. As abardagens para compreender os dosignios da audiéncia vio desde a andlise cientifica até a ligacdes misti- cas. “Quando trabalho” diz o designer emésico noruegués Kim Hiorthey “Eu néo penso na audiéncia. Néo esto de todo na minha cabeca. S¢ tento que tudo funcione para mim.” Hiorthay explica: “Eu tenho um recorte de uma entrevista com o actor noruegués John Fosse em que ele fala de um termo (chamado) Stimmnigkert que signitica, tal como o interpreto, in-tune-ness” ou “justrightness". Ele diz que quando algo ating este ponto de ter Stimmig- eit, contém uma voz propria e sera entendido por toda a gente. "Penso que isto @ uma forma de dizer que todos temos qualquer coisa que ¢ igual, em nds, 2 S@ essa same-ness existe na nosso trabalho, descantio, pelo menos indirectamante, que me encosto um pouco a essa ideia quando trabalho, Se me parece bem a mim, também parecerd bem as oulras pessoas.” Acolectinea de capas de CD's para a etique- ta Smalltown Supersound usa fragmentos deli- cados em composigées aitisticas, que 880 evo- cativas © ambiguas, O trabalho de Hiorthay encontrou uma audiéncia nas comunidades de mbsica e design por todo ‘o munda, E mesmo. assim a idela de comunidade é descontartavel parao designer. “A ideia de que os recapiores de tudo 0 que fazemos sa0 todos parte de uma comunidade faz com que as coisas. soem a limi tavas ¢ tendenciesas, de uma forma qua eu néo Sei $2 desejo que seja assim" diz le. “Qu, pelo menos, eu ndo fago as coisas com as pessoas presents no mau espirito, Pela contrario, tento conscientemente nfo o fazer. Eu acho realmen- 74 Odesianarificoé para ws pessoas: te qua prefiro ter algum nival de tsolamento.” Muito do trabalho de Hiorthey sdo projoctos cul- turais de pequena escala, claro, @ uma aborda- gem assim poética no funcionaré com dasig- 7 ners menos distantes das preacupaca prosaicas do mercado, Contudo, mesmo no sector comercial, hé ainda espace para uma wariante da Stimnngkait do Hiorthay. Vincw Frost, por exemplo, realca a importancia da intusco no processo de design. "Nao ha invest gagao de mercado que possa bater isso" diz ela “Vem de dentro, dos anos de prdtica, o que ‘gente como certo, as pistes que vam do projec- to, uma linhagem da sentimentos ¢ ideias. Uso a minha intuigdo am todos os trabalhas que fago, porque isso 6 o que me faz sentir que le esté bem. O cliente pode estar errado.” Nocaso dos centros comerciais Westfield, que Frost estave a ajudar a preparar anova marca, os clier tes queria atingir uma gama maior em termos de faixas etdrias, e Frost sentiu que esa melhor falar com uma gama mais reduzida de 22 a 82.anos. A pesquisa de mercada subsequente confirmou a intuigdo de Frost. “Uma parte importante de ser designer” diz Frost “é ser realmente aberto a estimulos externos, ser sen: sivel e ouvir.” "€ interessante quantos de nds véa escolhe entre satisfazer-nos ands prdprios e satisfazer 0 cliente“ diz Michael Bierut, socio da Pentagram, quanda tomou parte num debate Speak Up: “As pessoas |é for ano mundo real que de facto ficam agarradas a0 produto final nia parecem dar muita aten¢ao, pobres almas,” Seleccionar uma direceao de design resulta frequentemente numa luta entre o designer eo cliente sobre o que sora melhor pare um audiéncia que é mui- tas vezes pouco compreandida — podia ser comparado a dois pais que discutem sobre o que é melhor para.o seu filho adolescente. Em oltima anélise, as designers centram-se nos aspectos da projecta que podem convolare Image Maldoror Text Lautréamont 1846-1993 an international conference at the Instjtyte of Romance Studies inema . Maldoror at the Institute of Contemporary Arts faramente deixar muito espago para © envol mento da audiéncia ou para interpretagées alter- nativas. Aimprensa de design apoia esta abor- dagem. Tende a colocar-se énfase na produgao do design, mais do que no seu consumo —no designer como um criador de forma e significa- do, mais do que no leitor como alguém que pode extrair significado mas também pode jun- tar o seu, Alguns designers constroem no espaco para uma entrada do utilizador e expe- rigncias. Alguns designers valorizam a importan- cia da investigacao e levam tempo a descobrir as pessoas para quem estao a fazer o design ‘Acima de tudo, contudo, a informacao sobre a audiéncia do projecto chega-Ihes por via do cliente, quando chega. Uma forma de retorno que ver directamen- te da audiéncia so as vendas. Quando Frost voltou a fazer o design da Creative, uma revista australiana sobre eriatividade, as vendas subi- ram 50 por cento ea publicidade 20 por cento. "Eu estou sempre interessado em saber como um livro vende" diz John Morgan, um designer inglés. “Especialmente quando estive envolvido em mais decisoes editoriais, quando ajudei o produto final a tomar forma.” Morgan mostra mais interesse do que a maioria no que a auidiéncia possa ter para oferecer em forma de retorno. “Eu lembro-me de ouvir Jost Hochuli dizer que quando faz o design de um livro, ele sern- pre, ‘Imagina 0 leitor a olhar para ele por cima do ‘ombro’; uma sensacao que me é simpatica” diz ele. “Os designers nao trabalham no vacuo. Quando Morgan, a trabalhar com Derek Birdsall, fez o design da edicao preliminar do livro Daily Cartaz de texto image, Caixa branoas entre as palavias Maldoror ‘image’, ‘Maldoror" e “Tox! Devenhade por Paul Ellman fa permit 20s paricipantes, para uma confortnciasobrea _da.confertncia completarern, obra do eecritorranoke Lautréamont. nroduziramse alterarom ou negarom a ‘mensagem docartaz. Prayer (Oracao Diria), eles desenvolveram um questiondrio que foi apenso nas parte de tras do livro de 900 paginas e que agradecia os comen- tarios dos leitores sobre o contetido o desenho. Este nivel de compromise directo com 0 leitor ‘ou o.utilizador 6 rarone design grafico. Aaudiéncie mereceu mais atengao da acade- mia de design, mas de inicio como uma preacu- pagao intelectual. Estudantes e professores associados com Cranbrook no inicio dos anos 90 foram inspiracios pelos escritos dos semiolo- gistas, tais como Roland Barthes, que no seu ensaio de 1968 “The Death Of The Author” ("A Morte do Autor”) disse que “Uma unidade de texto ndo estd na sua origem mas sim no seu, destino.” Eles viam 0 significado como uma entidade inerentemente instavel e a objectivida- de como uma impossibilidade, e colocavam na audiéncia a responsabilidade de interpretar, des- codificar ¢ ler 0 significado do seu trabalho. De facto, segundo a opiniéo de Katherine McCoy, que dirigiu o programa Cranbrook 2D, @ comur cagao grafica nao existe realmente até o recep- tor descodificara mensagem. Num artigo sobre desconstrugao publicade na Design Quarterly, em 1990. McCoy descreve este tipo de trabalho como tendo; “Um rigor intelectual que requer esforgo da audiéncia, mas também arecompen- sa com contetido e participagao.” Para campos de pratica, tais como design de jogos, a participacao da audiéncia é um elemen- to fundamental em qualquer cendrio de design. No design grafico, é menos comum, mas aideia de design participativo que desafia ou convida a audiéncia a desempenhar um papel no proces- so criativo foi revisitada com alguma regularida- de. A ideia de criar um enquadramento que deixa elementos para serem completados pelo espectador & especialmente apelativo para aqueles designers que dao prioridade a siste- mas e deixam os processos predeterminados ganharem forma. Qdesign grafico ¢paraas pessoas 77 0 projecto de cartaz utilitario de Daniel jock tem um esquelete de enquadramante & td depandante da participagao da.audiéncia. ‘imptesso genérice em ecra de seda guia o ilizadoe metadicamente através dos degraus ctingdo do seu propria anuncio, © inclui pads em branco para insarir informagao rele- Alo, Lais. como titulos de eventos, imagens 6 ss0as acontactar. Um exempto mais recente do género 6.0 pro- cto Bubble de Ji Lee. Em resposta ao crescen- le numero de publicidade estiypida que ele viu a ger usada em aspacos piblicos, o dasignar e directo de arte Ji Lee iniciou projecto Bubble 2001. Ele comeou um assalto divertido de gincics baseados em imagens em toda 0 cen- dé Manhattan, colocande bolhas autocolan- com discursos em branco em cabines tele- eas, autocarres, sities para afixar cartazos & metro de Nowa lorque. Contando com o facto de a5 pessoas reconhaceram 0 espago em ranco das bolhas como um sitio para escrever pensamentos, Lee voltou para fotogratar as res- posta. Nas bolhas que néo tinham sida ratira- das pelas autoridades, Lee encontrou decla- faghes de todo o género, desde a opiniéo politica a0 humor para articular @ profanar o comentario cultural, Acima de tudo, ele encon- {rou © pubblico a interagir e comunicar par inter- médio do design grdifico, O que tinha comecado como uma conexdo experimental na esfere do publico cresceu nos anos recentes para um tino de movimento com o seu proprio manifesto. Lec escrave “Uma vez colocados nos antincios, estes autocolantes transformaram 0 dialogo corporative num didlogo aberto, Encorajaram qualquer pessoa a preenché-los com qualquer forma de expresséo pessoal, livre de censure.” ‘© projecto Bubble foi especialmente localizado: ‘em Nova lorque, mas as bolhas de discurso. ‘comecaram a manifestar-se noutras cidades." Grupos de actividades & pesquisa de merca- do, que so. comuns entre comerciantas e nego- ciantes, dado que parecem fornecer uma ava- liagao objectiva de um produto ou de uma pro- mogdo, née sdo usuais entre designers que tantam saber algo mais sobre uma audiéncia Tal como diz 6 professor de design, Gunnar Swanson “Tudo 0 que um grupo de interesse pade cumprir é fornecer um contrala do instinto dos designers ov dos comerciantes: reagiram de uma maneira que nao esperavamos? Deve- mas voltar a analisar os nossos pensamentos, mudando-os (e depois voltar.a testar} ou confir- mando-os de novo. Um grupo de interesse pode ajudar a juntar ideias. Um grupo de interesse pode deixar ralaxar os criadores de ideias € dizer que eles ndo tem questées importantes por res- ponder (ou pelo menos nenhuma que valha 3 pena tentar respondar). Um grupo de interasse pode levantar questées que podem ser exami- nadias por outros instrumentas de investigagao (espaciticos ou quantitativos), Alguém que Ihe diga que um grupo de interesse 6 quantitativo, cientifico, ou que ele ‘prova’ algo, deve ser des- padido de imediato.” E ainda, 0 problema de como aprender mais sobre as necessidades ¢ reaccdes das muitas. audiéncias do design grafico mantérm-se “Os clientes com quem trabalhei na minha Curta carreira, estdo mais preecupados com aquilo de que gastam, do que com o que sera ‘apropriado para as suas audiéncias” diz Ryan Nee, um designer jovem que trabalha em Den- ver no que ele descrave como “muitas campa- nhas de publicidade.” Ele continua “Se preten- demos ter alguma credibilidade, temos de fetirar muita subjectividade 0 nosso trabalho, fazentio invastigacao — investigagSo verdadeira @ profunda, ¢ néo sobre que cares estado na moda este ano, mas sobre as pessoas. Sends nos pademos do outro lado dos clientes e dizer 'Nés estudimos a fundo as pessoas com quem estdia tentar falar © pensemos realmente que Odesign guifico é para as pessoas 78 ‘esta Solucao funciona bam por causa destas dez raz6es’, iniciar-se-4 Uma conversa que resultard provavelmente numa boa solugdo de design." ‘O tempo em que os designers podiam con- figr que partithavam ume base cultural comum @ uma sensibilidade estética com a sua sudiéncia ficaram pare tras. A medida que as populates ‘se tornaram vada vez mais diversas e as neces- sidades. dos clientes cada vez mais especificos, ‘8 designers que querem que o seu trabalho informe, satisfaga e ligue teréo de saber mais sobre as pessoas para Quem estan a falar, a5 suas crancas @ origens. Os designers terto de desenvolver Novas estratégias pare navagar nO meio da Sua prdpria cultura ¢ a3 audiéncias hate- yogeneas que Servem. A importéncia da “in tigagao realmene profunda” que Nee advoga sera incrementada, Esta investigacdo tem de ser integrada no topo do design ¢ n8o como um gesto simbdlico na sob a forma de. um grupo de interesse. "A investigagao do design centrado no Homem abrange uma série de metadologias: cujo objective é ter uma visdo do que serviria ou agradaria 4s pessoas” diz Brenda Laurel, Prasi- dente do Programa de mestrado do Design de Media no Art Center College, Pasadena, Califor nia # uma camped da invastigagao do design integrado. “Ele investiga por tras das cenas, observando individuos, contaxtos situades, cul- turas, formas, histénae até modelos de negocio para pistas qué podem dar informagéa ao design.” Estas metadologias néc costumar sar ansi- nadas nas escolas de design, muita menas nos programas do design grafico, Uma vez que a investigagso esta a comecar a assumir um lugar mais central por entre as praccupacées do design grafico, eos designers aprandam mais sobre @ identificago, observacae e interpre- tagSo do comportamento humano, sera interes- sante ver como evolui o design grafico eo entendimento que o publica em geral tem sobre 80 Odesign graticoé para aspessaas. ele, Por fim, tal como Neo sugere “Uma conver 8a Sera iniciada @ pravaveimente resultard numa boa solucao de design.” Cantazestiam and (Desenhidon pot Fiebecea Roan Ardr Slut pan oLEGT Co-op da ‘Unveninch aEste Seog porn a cals pateos fn na, On sore pegara no cick" pay ten orga” parece ‘comunidad rersitiia ‘On ikeros preoncheram on ‘expagon em beanco ns mi cartazos om offaat perdumadan por toda a Sage unererctana dao _quo/naia sontida os baz ! «NIGHT J on ete 4 Rove Model a PRESENTS | IPE mt Ncwhaven. Theos ie right Bvethoot tal | cry room Amanda Hesser A right concantravon ri Ea = ee oe zi SBikn mA dir| a. dyke QUEER ay a eu PE fa 4 1 ike qivts eau HAPPY design gritica ¢ para as pessoas Bt PARA QUE SERVE O DESIGN GRAFICO? - §) SUGAR-FREE 7 <)) Cu a Ts IDM ron tna — WHICH Ys THE ECONOMY OF TH Yeshe’ ak ‘Stefan Sagmeister, ‘Sugwintering, Nowa bre, LUA, *O design grafico é para uma “0 design é uma linguagem ba com significado entre como tal poe usa-la para se h as, com o potencial de queixar, se entreter, educar, Hizeramilhoesalgoquevalhaa — agitar, ganhar dinheiro, fena @ que pode mudar o curso lamentar, denunciar, vender a Sociedade. Oh desculpem, ‘ou promover” e Sa dizer que eo mostram mensagens que nao tém conteiido, das quais nao ilieremos saber ou pelas quais mos importamos, cara a cara, fem qualquer oportunidade ssivel.” baixo da perna de uma mesa de madeira.” Paraqueserieo design grafico? 63. Z094VY9 N5ISIO 0 3N4as 3nd Vad Anatomia ‘Os designars precisam de sar fluentes em mur 103 campos de pratica especializada. Embore possam ser especialistas de um meio particular, cada vez mais os projectos exigem o desenval- vimento de conceitos unificadores, difundidas: através de multiplos canais. Um projecto de pre- paragao de nova marca, por exemplo, pode implicar 0 design de um novo tipo de letra e um ‘componente de um som interactive, como parte de um programa de identidade, a aplicagao. E de esperar que um designer domine areas tao diversas como tipogratia, animagao, desenho manual, marketing viral e design de jogos. Criar uma exposigao exige conhecimento de trabalho em 3D, as possibilidades de informagao de diversas tecnologias interactivas, alam de sinall- zago topogrdfica @ tipografia, Esta seccdo fepresenta uma panordmica da diversas destas dreas de pratica. Concentra-se naqueles que de momento sdo as mais vibrantes, devido 4 sua mutagao, expansao ou chaque umas com as ourras, Muitos dos termos usados para descrever as diversas facetas do design grafico foram cadifi- cados par volta de meados do século passado, numa época em que a disciplina estava a tornar- -s@ profissionalizada. Sessenta anos depois, muitos desses descritores — design impresso, identidade empresarial, design de logotipos, etc. — so insuficientes para descrever discipli« nas que estéo a ser modeladas @ remodeladas por novos imperatives econdémicos culturais. Isso significa que muitas das designagées das partes componentes do design se encontram num estado de constante fluxo e reavaliago. Desde a emargéncia do design interactiva. em meados da década de 1990, por exemplo, este érea de conhecimento tem sido conhecida diversamente como design Web, design digital, design experimental e, mais recentemente, apenas design, & medida que as suas fronteiras se foram madificando, as tecnatogias evoluindo 205 seus contextos expandinda. Pod até parecer anacrénice tentar dissecar 6 design grafico em partes como esta. Afinal, efa de pratica multidisciplinar, em que a jaz @ a flexibilidade do valores assentes, necessidade ha de examinar o design do forma ao rigida @ compartimentada? te.a década passada, o enfoque do design se concentrado em enfatizar a relagda cau- entre ideia @ forma, Os alunos aprandem ora Que UM programa informétice pode ser izado com relativa facilidade & que aquila am se devem concentrar so as estratégias ctuals, conceitos fortes, histérias interes- es @ abordagans cansistentes. Segundo: a perspectiva, a forma final que ume idela me — a meio palo qual se expressa — 9 intercambidvel ¢ por vezes até irtele- ante. Ao mesmo tempo, contuda, cada meio ul aS suas proprias textures, qualidades: ulieres e passibilidades que, quando cam- endidas e incorporadas, podem enriquecer ispirar 0 todo. Continua a ser fundamental @ 9 seu significado 2 forma camo algo & ‘eonstituida,

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