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Introdução

Apesar do tradicionalismo patente no ensino da filosofia, sendo ele aristotélico, este, o


ensino, poderia ser de outro modo partindo do principio que tudo (o mundo) sensível e
inteligível pode ser estudado pela filosofia concluo que o carácter universal desta
disciplina também permite a transversalidade.
Desde modo a proposta deste trabalho é pegar num tema conceito que ao olhar da doxa
em nada parece lógica de uma ligação ou de uma correlação com a filosofia.

“Não há nação que não conheça este fenómeno”


Charles Darwin

O conceito de pele, aos olhos da ciência

Anatomicamente a pele é o órgão integrante do sistema tegumentar, que tem por


principais funções a protecção dos tecidos subjacentes, regulação da temperatura
somática, reservas de nutrientes e ainda terminações nervosas sensitivas. A pele é o
revestimento externo do corpo, considerado o maior órgão do corpo humano e o mais
pesado. Compõe-se da pele propriamente dita e da tela subcutânea. O nome anatómico
internacional é cútis, constitui 15% do peso corporal cobrindo quase todo o corpo à
excepção dos orifícios genitais e alimentares, olhos e superfícies mucosas genitais.
A pele apresenta três camadas: a epiderme, a derme e o hipoderme subcutâneo. Esta é
praticamente idêntica em todos os grupos étnicos humanos, nos indivíduos de pele
escura os melanócitos produzem mais melanina que naqueles de pele clara, porém o seu
número é semelhante.
A pele é responsável pela termo regulação, pela defesa, pela percepção e pela protecção,
ela protege-nos das doenças, porém não é 100% eficaz, podendo deixar entrar larvas de
esquistossomos e do ancilóstomo.
Passo a enumerar algumas doenças de pele:
- dermatite seborreica, que é uma doença inflamatória da pele com etiologia auto
imune.
- melanoma maligno, que é um tumor dos malanócitos da pele.
- urticária, eczema e eritema multiforme, são reacções alérgicas da pele.

Poderia enumerar um sem número de doenças, mas vou continuar o discurso cientifico
em relação à pele salientando a sua função metabólica.
As funções metabólicas da pele são muito importantes pois é lá que é fabricado numa
reacção dependente da luz solar, a vitamina D, uma vitamina essencial para o
metabolismo do cálcio e portanto essencial na formação e manutenção saudável dos
ossos.
A pele também é entendida como o órgão dos sentidos, ou seja, é esta também um
órgão sensorial, constituindo o sentido do tacto. Ela apresenta numerosas terminações
nervosas, algumas livres, outras com comunicação com órgãos sensoriais
especializados, como células de Merckel, folículos pilosos. A pele tem a capacidade de
detectar sinais que criam as percepções da temperatura, movimento, pressão e dor, e é
um órgão importante na função sexual.
E porque é um órgão dos sentidos e também percepcionado pelos sentidos, não poderia
deixar de referir o ciclo celular da pele, esta produz cerca de 1250 células por dia por
cada cm² e essas células são provenientes de 27.000 células. A duração normal do ciclo
celular da pele é de 311 horas, o ciclo vai-se modificando ao longo dos anos devido a
um terrível facto, o envelhecimento. Esta grande falha estética humana é entendida
cientificamente como rugas de expressão e rugas de envelhecimento, que são
basicamente sulcos de expressão que surgem em consequência da repetição constante de
determinados movimentos faciais como o franzir da testa, ou simplesmente derivam da
idade avançada que origina um afrouxamento da musculatura e da própria pele com
influência da gravidade. Porém a medicina estética através de tratamentos como a
aplicação da toxina botulínica, hidratantes e até de cirurgias plásticas consegue enganar
o relógio biológico.

Pegando nesta pequena pesquisa de carácter científico, tento uma identificação


com o programa de 11ª ano de Filosofia, tema IV – O Conhecimento e a
Racionalidade Científica e Tecnológica, primeiramente aproveitando o conceito de
pele como órgão sensível e perceptivo para a descrição e interpretação da actividade
cognosciva.
Um dos conteúdos trabalhados neste tema é exactamente a estrutura do acto de conhecer
fenomenologicamente:
A fenomenologia diz-nos que para que haja conhecimento é necessário um sujeito e um
objecto que estão em correlação, antes do sujeito (activo) sair da sua esfera de conceitos
e de conhecimentos adquiridos para se deslocar ao objecto que pretende conhecer, fará
uso primeiramente da sensação, da percepção e do entendimento.
Usando o exemplo de uma pele morena como objecto a ser conhecido, a experiência da
sensação não era suficiente para determinar um conceito por sua vez a experiência da
percepção também não seria conclusiva, pois com a nossa percepção vêm inerentes
experiências anteriores e ideias pré-concebidas o que nos poderia fazer concluir que se
tratava de uma pessoa de cor, no entanto depois de tocado, observado e de ter reunido
todos os dados acerca das características do objecto, concluiríamos através da razão que
estávamos perante alguém bronzeado, e aqui o conceito a reter ou a representação
mental do objecto seria o de bronzeado.
Ainda no mesmo tema usaria o conceito de pele na questão do estatuto do conhecimento
científico, deixando o conceito de pele como tema nuclear para uma possível
diferenciação de características entre o conhecimento vulgar, sendo este acrítico,
espontâneo, assistemático, subjectivo e entre o conhecimento científico sendo este
crítico, metódico, sistemático, baseado na objectividade.
Digamos que as características do conhecimento científico acerca da pele seriam as que
já foram referidas acima e esperaria as características do conhecimento vulgar acerca da
pele por parte dos alunos para daí resultar o debate e a apuração dos dois conceitos aqui
referidos.

O conceito de pele na arte

O maior órgão do ser humano é também aquele que traduz maior ambiguidade, a
ligação da pele com a arte já dura há muito, com os desenhos das primeiras tatuagens e
uso de formas primitivas de maquilhagem. Não obstante, a arte do século XXI começa a
deixar de lado os cânones artísticos associados ao uso da pele e avança para novas
concepções. Perante a união da ciência com a criação artística, algumas das novas
aplicações da pele criam espanto, mas também choque. Afinal trata-se da última
fronteira do ser humano com o mundo exterior.
Marta Lwin é um dos exemplos desta nova era de ligações entre a arte e a pele. A artista
tem desenvolvido, nos últimos anos, um projecto de decoração corporal que assenta em
material biológico. A ideia passa por criar uma espécie de tatuagem biológica,
denominada oficialmente pela criadora como joalharia episkin, que pode ser usada e
retirada. Todo o material tem por base células epiteliais, que se encontram nos tecidos
que forma tanto a pele como o revestimento dos órgãos e cavidades corporais internas.
Contudo, ao contrário do processo de criação de jóia s tradicionais, a artista não
desenvolve as peças episkin num atelier, mas sim num laboratório. Em tubos de ensaio,
as células são cultivadas de maneira a formar pele artificial, com contornos planeados
previamente pela artista. O resultado é um híbrido entre a tecnologia e a biologia e, por
outro lado, entre pele, tatuagem e jóia. Para realçar os cruzamentos entre biologia e
técnica, as peças são usadas directamente sobre a pele.
Esta arte referida como bioarte usa também pele de animais como por exemplo dos
suínos e o seu uso torna-se acutilante no que toca aos direitos dos animais.
Pegando neste artigo tento uma ligação com o programa de Filosofia de 10º ano, tema II
– A acção humana e os valores, onde não deixaria de reflectir acerca do determinismo e
liberdade na acção humana, como diria Sartre estamos sós e sem desculpas, temos
responsabilidades perante as nossas escolhas e consequências. O homem existe,
encontra-se a si mesmo, surge no mundo e então se define. Não existe assim uma moral
geral, somos nós que a escolhemos perante o facto inabalável de que existimos, e neste
projecto que se realiza num conjunto de actos que é o homem, que as escolhas e valores
nascem. O cogito descobre-se em si e aos outros e à sua existência.
Somos responsáveis pelas nossas escolhas aos nossos olhos e perante os outros e a
nossa liberdade depende da liberdade dos outros.
E é justamente perante a nossa responsabilidade para com os outros que pergunto onde
está o limite da nossa liberdade? Onde está o limite da concepção artística e dos direitos
dos animais?
Algumas vozes já se fazem sentir a favor dos direitos dos animais, a fim de nos acordar
para as nossas responsabilidades e obrigações em relação a todos os seres viventes,
segundo Derrida se esta compaixão fosse levada a sério já há muito que tinha sido
alterada a problemática filosófica do animal. Não podendo pensar problemas filosóficos
semelhantes aos da existência do homem, poderíamos centralizar esta reflexão numa
pergunta colocada há dois séculos, que consistia em “can they suffer?”, pergunta
formulada por Bentham, pretendeu-se e pretende-se com esta pergunta levantar a
questão sobre os limites entre o homem e o animal e até levantar a questão sobre a
própria designação singular de “o animal”, possibilitando ao homem dispor de um
grande número de viventes sobre este único conceito. É a partir deste ponto que Derrida
desconstrói este nome genérico de “o animal” criando um novo vocábulo, “animot”.
Este animot seria uma espécie de gata de Alice no Pais das Maravilhas, ou o gato que
olhou Derrida nu e que o deixou constrangido. O limite entre o homem e o animal é a
linguagem, este mutismo da natureza imanente aos animais não poderá continuar a
ceder os horrores que contra eles se fazem.
Através de passagens de textos acerca do existencialismo e de situações onde se
colocam situações limite e de profunda reflexão como na minha opinião será a dos
direitos dos animais, tentaria levar a debate producente esta questão patente no artigo
Onde está o limite do homem na arte, passando pela definição de valor que passo a
citar, o valor é uma qualidade potencial resultante da apreciação que um individuo ou
sociedade faz acerca de um objecto, de uma acção, ou se um ser real ou ideal, em
função da +presença ou ausência de algo que é desejável ou digno de estima.
E neste programa, neste conteúdo e com este artigo, “afirmo”: a arte é sem dúvida das
coisas mais estimáveis.” mas pergunto: ”e os animais não o são?”,

PELE – HISTÓRIA DAS TATUAGENS

A origem da tatuagem foi sempre algo de muita controvérsia. De um lado estão aqueles
que acreditam que a prática tenha nascido de um único ponto do planeta e dali se
expandindo para outros continentes. Outros pesquisadores atestam que estamos diante
de um caso que se encaixa no conceito de “origem independente”, como a tatuagem
tendo sido criada por diferentes comunidades do homem pré-histórico nos mais diversos
cantos do planeta.
Utilizadas por motivos sociais ou espirituais, as tatuagens atravessaram os séculos
gerando diferentes interpretações, sendo consideradas símbolos de status dentro de
tribos, marcas de bruxaria na idade Média e coisas de marginal e vagabundo no século
XX.
Indícios arqueológicos revelam que no Egipto a pratica de introduzir pigmentos sob a
pele já era utilizada há 4000 anos A.C. na Ásia, as pesquisas indicam que a arte da
tatuagem começou a ser difundida em 2000 A.C., já nas Américas a origem é incógnita
para os pesquisadores, mas estudos demonstram que Índios norte-americanos, como a
tribo Sioux, atribuíam o costume a questões religiosas, assim como as civilizações
Maia, Inca e Azeteca, que difundiram a tatuagem do México ao Peru. Os índios Sioux,
dos Estados Unidos, encaravam a pintura da pele como um elemento transcendental.
Eles acreditavam que ao morrer, o todo integrante da tribo era recebido por um porteiro
celestial que exigia ver as tatuagens da alma para só depois deixá-lo entrar no Paraíso.
Na Oceânia, os povos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, estes
identificados como Maoris, sempre utilizaram tatuagens complexas, normalmente
relacionadas à religião. Os Maoris tornaram-se famosos pelos desenhos feitos no rosto,
chamados de “moko”. Religião era também o que inspirava as tatuagens das antigas
civilizações europeias, como Celtas, Vikings, Normandos e Saxões.
A ideia de que as tatuagens existem desde os primórdios da espécie humana baseou-se
na arte rupestre. Em diversas pinturas pré históricas encontram-se imagens de homens
com os corpos desenhados. Alem disso, algumas estatuetas atribuídas aos nossos
ancestrais apresentam desenhos sobre os corpos das figuras esculpidas. No entanto, a
comprovação da tatuagem na Antiguidade só aconteceu com a descoberta das múmias.
A múmia de uma princesa egípcia apresenta uma grande espiral tatuada na barriga, o
que segundo alguns antropólogos pode estar relacionado a rituais de fertilidade. Por
outro lado, o corpo mumificado de uma sacerdotisa de 2000 anos A.C. apresenta linhas
horizontais na altura do estômago, indicando a possibilidade de que com isso a mulher
estaria protegida contra a gravidez ou alguma doença.
Pesquisadores defendem que a prática de tatuagens e outras modificações, como
desenhos à base de fogo e navalhas, teriam sido introduzidas na cultura humana a partir
do orgulho e reconhecimento que os homens obtinham ao voltar de guerras e caçadas.
Quanto mais cicatrizes um guerreiro possuía, mais valente e importante o era. Com o
tempo, as pessoas passaram a marcar a própria pele em busca de status e o que eram
cortes e queimaduras aleatórias começou a ceder espaço para desenhos feitos com tinta
vegetal e espinhos.
O historiador Grego Herodoto, com vida estimada entre 484 e 425 A.C., citou em
alguns dos seus textos a existência de um povo no Norte da Europa que tinha como
forte característica o hábito de utilizar pintura definitiva sobre a pele. Chamados de
Pictus, essas pessoas acreditavam que os desenhos eram símbolo de força que ficavam
impressos na alma, possibilitando que os seus antepassados os identificassem após a
morte.
Na idade Média, as tatuagens foram banidas da Europa pela Igreja Católica, na época
qualquer cicatriz, deformidade, marca ou desenho na pele eram consideradas coisas
demoníacas, podendo causar prisão e morte na fogueira da inquisição. Esse foi um forte
elemento que contribui para que se desenvolvesse o preconceito contra as pessoas
tatuadas.
No Japão feudal, os criminosos eram tatuados como forma de identifica-los como maus
elementos. Tal prática fazia com que todos odiassem desenhos na pele. Tempos depois,
em meio a um forte clima de opressão por parte dos governantes, começaram a surgir
organizações que passaram a ostentar tatuagens como símbolo de identificação e
transgressão ao poder vigente. Assim surgiu o famoso dragão da Yakuza, a Máfia
japonesa.
Os habitantes das ilhas Samoa, na região da Polinésia, viam a tatuagem como um rito de
passagem da infância para a vida adulta. A cada fase da vida e a cada feito
desempenhado, o Samoano ia sendo tatuado. Quanto mais tatuagens ele possuísse, mais
alto seria o seu status na tribo. Indicativo de ascensão na hierarquia tribal, a falta de
tatuagens fazia com que um adulto tivesse as suas ideias e opiniões ignoradas pelo
grupo.
Na época dos Descobrimentos, o contacto dos navegadores europeus com as novas
civilizações gerou impacto não só pela forma da organização social e comportamentos
considerados bizarros pela sociedade feudal. Cristóvão Colombo, ao voltar para
Espanha, levou consigo alguns membros de tribos da América Central e do Norte que
tinham o costume de se tatuar. Mesmo os Incas sendo uma civilização muito mais
avançada que alguns reinos da Europa, ainda assim os desenhos na pele fizeram com
que os tatuados fossem considerados bárbaros.
O capitão inglês James Cook foi o responsável pela reintrodução das tatuagens na
cultura ocidental, em 1771. Viajando pelo Tahiti, ele e a sua tripulação entraram em
contacto com nativos que utilizavam ossos finos como agulhas, que eram enfiados na
pele com a ajuda de um martelinho de madeira. Deste encontro surgiu também um
nome com que esta arte passou a ser chamada até hoje. No seu diário de bordo, Cook
referiu-se ao costume dos Tahitianos como “tattoow” ou ainda “tatau”. Onomatopeias
do som feito pela batida do martelo na agulha de osso, esses termos acabaram por se
desenvolver até à palavra inglesa “tattoo”, que em português foi traduzido como
“tatuagem”. A tatuagem eléctrica chegou ao Brasil em Junho de 1959, através do
Dinamarquês Knud Harld Likke Gregersen, que ficou conhecido como “lucky tattoo”.
Knud dizia que as suas tatuagens davam sorte, e que em menos de 6 meses, lucky já era
notícia de TV.
Hoje, depois de muita discriminação e polémica durante todo o século XX, as tattoos
começam a ser mais aceites no quotidiano da sociedade Ocidental, mesmo que ainda
tenhamos que conviver com algumas pessoas preconceituosas. Uma grande inovação
dos últimos anos foia aplicação da tatuagem como forte instrumento para a
recomposição estética. Actualmente centros de beleza e clínicas de todo o mundo usam
as técnicas da coloração da pele para cobrirem manchas e cicatrizes, além de dar melhor
definição às sobrancelhas, olhos e lábios. Lentamente, a tatuagem passa também a ser
reconhecida como arte, graças às iniciativas dos sindicatos e associações de todo o
mundo que promovem exposições, competições entre os melhores trabalhos e realizam
convenções para a actualização e modernização dos métodos de aplicação e de assepsia.
Mesmo com toda esta evolução, o facto é que, até hoje, muitas pessoas são
discriminadas, como os povos antigos, por terem os corpos tatuados. Mas apesar de toda
a propaganda contaria, mais e mais pessoas se dispõe a sacrificar as suas peles para
gravar figuras que as cativam, excitam e embelezam os seus corpos.
Pegando nesta pesquisa e no programa de 10º ano de Filosofia, tema II – A acção
humana e os valores, no subcapítulo Valores e Cultura – A diversidade e o diálogo de
culturas, usaria a tatuagem de diferentes povos para problematizar a relação entre
cultura e valores e distinguir etnocentrismo de relativismo cultural assim como o
reconhecimento urgente de necessidades de valores universais para que o preconceito e
as diferenças culturais sejam cada vez mais dissipadas.
Ainda a propósito do tema da diferença também este tema é passível de ser trabalhado
no tema V – Desafios e Horizontes da Filosofia do programa de 11º ano na proposta de
trabalho Convicção, Tolerância e Diálogo – A Construção da Cidadania.

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