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:oi MELANIE KLEIN. AFANTASIA
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en INCONSCIENTE COMO CENÁRIO DA
os,
VIDA PSíQUICA
;ias
[\to APRESENTAÇÃO
en
~go
difí- 1. Introdução
ICOU,
utor. A obra de Melanie Klein se estende desde 1919, data em que publicou
'pro seu primeiro trabalho, "A novela familiar em statu nascendi", até sua mor
com te, em 1960.
lÇÕes
Ela é, sem dúvida, uma das grandes figuras da psicanálise contemporâ
nea. Seus escritos, coloridos, às vezes contraditórios, apresentam uma per
;tinc manente riqueza de idéias originais. Neles, o interesse principal não está cen
lear
d en trado em obter precisões teóricas que permitam construir um conjunto com
pletamente coerente de hipóteses. O que transmitem, em compensação, é
, que uma preocupação em descrever o mundo rico de fantasias e vivências que
itula
os pacientes em tratamento apresentam. As hipóteses de Klein procuram
letiva explicar os fatos que surgem, a partir de novos contextos terapêuticos e de
em
~,
novas observações. O ponto de partida"f se!Dpre o t!'ªté'!IIl~DJ:º;lJ1ªlítico~
!!!ª-Ís exatamenteL-()_ deji!;J:!.yolyimÇltto da sessão.
Assim como em Freud observamos um esforço por tormular teorias
da mente, com base em modelos científicos de sua época: físico-químicos,
neurofisiológicos etc., ou, em Lacan, os pontos de partida para suas formu
lações são os postulados filosóficos de Hegel, a lingüística de Saussure e a
antropologia estrutural, Klein quer explicar os eventos que acontecem no
consultório e no vínculo interpessoal entre paciente e analista. Observa que
o paciente se compromete emocionalmente no tratamento, que inclui o tera
peuta em suas fantasias, que desenrola um universo cheio de acontecimen
tos e associações, mas sobretudo com fortes sentimentos e angústias.
80
) ..ildW..que se enfrentam no vínculo com os objetos. A vida psíquica se orga
niza, tanto em sua evolução como em seu funcionamento, em volta de
s duas posições fundamentais: esquizo-paraJlQide e depressiYa.. A posição de
~
pressiva é, para Klein, o ponto cruciats!0~clesenY9Jyimento.~~~..2.~.?!.bel~
bases para o equilíbrio psíquico e o contrQle das angústias psicóticas.
a A inveja primária, outra hipótese fundamental, retoma sua idéia de
que a agressão se origina desde o começo da vida, tendo uma base constitu
Gcional. Este postulado final da obra de Klein (1957) reforça suas propostas
sobre a hierarquia dos fatores inatos; as pulsões, tanto agressivas como libi
dinais, não são descritas a partir de uma especulação biológica ou filosófi
ca (Freud, 1920), mas como expressões concretas das fo]S.as mentais em lu
r ta, que são manifestadas na psicopatologia e nas diferentes sit1!açÕes obser
a vãdas na clínica.
e O desenvolvimento psicanalítico iniciado por Melanie Klein deu lugar
,- à criação de um movimento chamado de escola kleiniana; teve seu epicen
:- tro em Londres e se estendeu a diversos países europeus e americanos. No
México, José Luis Gonzáles foi, sem dúvida, seu pioneiro; teve uma ativida
1- de apaixonada na difusão e ensino da obra de Klein. Formou muitos discípu
'- los e, há mais de vinte e cinco anos, realiza seminários de estudos sobre estes
:) enfoques.
a O movimento inspirado em Melanie Klein se originou nos anos 40, al
cançando seu apogeu nas décadas de 50 e 60. Unificou um corpo teórico e
~ técnico que o individualizou claramente de outros esquemas da psicanálise
1- contemporânea.
l Resumiremos agora um perfil biográfico de Melanie Klein, que amplia
n rá a compreensão de alguns aspectos de sua obra. Nasceu em 1880, filha
I. de uma família centro-européia de origem judaica. Quando jovem, quis estu
l dar medicina, mas não pôde realizar este propósito, devido a seu noivado
com Arthur Klein, aos dezessete anos, com quem casou aos vinte e um e te
.s
"
ve três filhos, em um curto espaço de tempo. Durante a época da Primeira
I. Guerra Mundial, dá-se sua aproximação com a psicanálise, através da leitu
§ ra da obra de Freud. Deste momento em diante, nunca abandonou sua de
voção a Freud (com quem jamais teve um contato direto) e a dedicação pe
! la psicanálise. Seu desenvolvimento foi protegido por três grandes figuras
l muito próximas de Freud: Ferenczi, com quem começa sua primeira análi
o se, em 1919, que a estimula a se introduzir na análise infantil; Abraham,
l que a convida, em 1921, a mudar-se para Berlim, apoiando seus novos con
I ceitos teóricos. Com ele, inicia sua segunda experiência analítica, nesse ano,
n que é interrompida pela morte prematura do mestre. Finalmente, Emest Jo
i- nes, que, em 1926, convence-a a ir morar em Londres, onde ela permanece
IS até sua morte, em 1960.
l Melanie Klein sempre foi uma figura polêmica na psicanálise. Provo
a cou a existência de apaixonados colaboradores e adeptos e, também, de in
.e flamados crítiGOS e opositores. Teve três grandes enfrentamentos, ao longo
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;e
Melanie Klein não fez revisões periódicas de sua obra. The Psycho
al Analysis of Children foi uma tentativa de sistematização, em 1932. Depois
1-
teorizou, de maneira desordenada, confusa, repetitiva. Isto toma mais ári
r da e laboriosa sua leitura. Mas quem tiver paciência e insistir, poderá desco
)s
brir em seus trabalhos um método rico e apaixonante de abordagem da vi
a da mental, cheio de criatividade.
:1-
Ao estudar o conjunto da produção k1einiana, há autores que enfati
m zam, como ela próprio o fez, a continuidade com as idéias freudianas. As
e sim, por exemplo, o conceito de introjeção de objeto, que Freud desenvol
n ve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da idéia
s de objeto interno k1einiano; ou a dualidade pulsional de Além do princípio
o do prazer (1920t como o ponto inicial que Klein considerou, para teorizar
le sobre as pulsões agressivas e libidinais.
IS
Outros autores, pelo contrário, acentuam que há uma ruptura entre
as Freud e Klein. Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamen
ia to mental e do desenvolvimento psíquico. AJ.Qéia_Q.o conflito freuqiano, co
e,
mo luta entr~_~_IDlJ.sã(Leac!efesa.(Jsu.pstituída pela de conflito entre dese
jos de amQr.e ódio,., Na mente, lutama JlssooáÇàü-éóma integração, a-ne
o- gação da dor psíquica, por um lado, e a tolerância a esta dor, junto com o
0-
cuidado dos objetos, por outro. A emocionalidade seria a base do funciona
n mento psíquico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento
:e dramático, que dá significação permanente ao suceder mental.
:$.
Para que cada leitor possa tomar sua própria decisão a respeito, procu
n raremos descrever, com certa ordem cronológica, as sucessivas descobertas
!S
de Melanie Klein e, ao mesmo tempo, avaliá-las no contexto total de sua teoria.
le
,a
IS,
lir 2. Panorama geral de sua obra (1)
'e
Sua produção teórica costuma ser dividida em três etapas.
le
a) Período de 1919 a 1932: neste período, produz uma grande quanti
.ta
dade de artigos, com seus achados teóricos e clínicos. Inicia a técnica do jo
ti
go, para a análise infantil, e a aplica, originalmente, em crianças pequenas.
ro
Suas descobertas destacam a importância da agressão no desenvolvimento
às
mental. As hipóteses principais versam sobre a neurose de transferência com
lr
ei pleta, na análise infantil, o complexo de Édipo precoce e a formação de
um superego precoce.
:al
b) Período de 1932 a 1946: em 1932, escreve The Psycho-Analysis of
ii
Children, onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psíquica
:al
infantil. Neste período, formula o essencial de sua teoria: a idéia de posição
is
depressiva, como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935, 1940) e
ia
de posição esquizo-paranóide (1946). Formalizam-se os aspectos essenciais
da metapsicologia k1einiana, com a descrição da mente como um espaço
povoado por objetos internos, que interagem com os externos, através dos
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)jeti rio interpretá-las, junto com as defesas que são estabelecidas contra elas.
~mas Descreve, em seus historiais clínicos, a sucessão de fantasias que se desdo
mtes bram na sessão, através de uma situação dramática, cujos personagens re
.957) presentam, simbolicamente, os objetos internos da mente infantil. Os pri
in ti meiros trabalhos de Klein são relatórios destes tratamentos, com algumas
par conclusões subseqüentes. Com o método do jogo, vai criando um campo
de observação que lhe permite descobrir fenômenos novos e estes, por seu
imá turno, dão-Ihe a possibilidade de conceber hipóteses originais. Klein enten
lalis de a patologia das crianças que analisa como resultado de alterações ou ini
~61), bições do desenvolvimento infantil. Considera as situações de angústia co
roda mo o fator principal das perturbações psicológicas, acreditando que as fanta
nda sias agressivas da criança são a causa principal de tal angústia.
.stias Em 1927, já residindo em Londres, Melanie Klein apresenta, ante a Bri
'avés tish Psycho-Analytícal Society, seu trabalho "Simposium of Child-Analy
~nte; sis", como uma contribuição à discussão do livro de Anna Freud, Introduc
o na tion to the Technique of the Analysis of Children, publicado em Viena na
quele ano. Neste artigo, Klein defende, com veemência, seus pontos de vis
ta sobre a natureza da análise da criança, em uma oposição frontal às idéias
de Anna Freud. Este é o começo de um grande enfrentamento teórico entre
o que logo se chamará de Escola Inglesa e a Escola de Viena. Podem-se tam
bém relacionar com estas divergências, as origens das discrepâncias que
mais adiante, nas décadas de 30 a 50, registrar-se-ão entre a escola kleinia
igem na e a psicologia do ego. Em termos pessoais, esta polêmica com Anna Freud
"téc é, em parte, responsável, como já o dissemos, por Freud nunca ter apoia
tgos, do, nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos.
, sig Klein crê que a análise de crianças é completamente análoga à do adul
~ntes
to. A neurose de transferência se desenvolve do mesmo modo, apenas varian
do a forma de comunicação, através do jogo, para ajustá-la às possibilida
lfan des de expressão da mente infantil. O analista tem a função exclusiva de in
por terpretar, em profundidade, todo o material associativo que o paciente traz.
aba Destaca a importância de analisar a transferência positiva e negativa, a an
:era gústia e a culpa, e os efeitos adversos de interpretar, parcialmente, o mate
uca rial, ou de introduzir técnicas não analíticas, como atitudes de orientação
~ em
e diretivas.
can Isto é completamente o contrário do que Anna Freud afirmava nessa
'etar época, na qual, com uma concepção diferente da mente infantil e de sua
), e, abordagem no tratamento, considerava que, na infância, as crianças não fa
;res zem uma neurose de transferência com o terapeuta, pois suas transferências
dei estão ligadas diretamente aos pais reais. Ela pensava que a relação com o
lista terapeuta apenas deve reforçar os aspectos positivos do vínculo, em um ní
la. vel reeducativo e de orientação.
cni Discreparam, também, quanto à estrutura psicológica que a criança
ssá possui. Melanie Klein acreditava, já nessa época, na existência de um supe
rego precoce, aos dois ou três anos de idade, que se caracteriza por seu sa-
As primeiras hipóteses. ,
As duas hipóteses mais importantes que Klein formulou nesse período são:
a) a existência de um superego precoce, que primeiro situa entre os
dois e três anos de idade e, depois" faz retroceder até o começo da vida psíquica;
b) a idéia do complexo de Edipo precoce, situado nos períodos pré-ge
nitais do desenvolvimento.
Trataremos de explicar, sumariamente, ambas as hipóteses. Para enten
der a origem destes conceitos, no período das primeiras descobertas, é im
portante que destaquemos quais foram as idéias teóricas sobre as quais tra
balhou, nesse momento de sua obra. Descrevê-las-emos, ordenando-as nos
pontos seguintes.
a) Destacou que a agressão possui um papel central, tanto no desen
volvimento psíquico precoce, como durante a vida do sujeito. As pulsões
agressivas têm grande importância nos primeiros anos da vida psicológica,
principalmente no vínculo com a mãe. Centrou seu interesse em investigar
os períodos pré-verbais do desenvolvimento, aos quais atribuiu uma gran
de riqueza de fantasias inconscientes. Klein toma, primeiramente, o concei
to de fase de sadismo máximo de seu mestre Abraham, supondo que essa
acontece aos seis meses d"Eddade, vinQl.Jada ª~n~ção e ao desmame. De
pois, transfere a agressão para períodos ainda máisprecõêes da viCIa, mas
a toma independente dos processos biológicos e a limita ao campo estrito
da fantasi<!lnconsdeIlte. Quer dizer que procura eXplicações em um nível
~~~~~~siç91ógico. ciúme
Muitos autores, principalmente da psicologia do ego, reconhecem em agressivas para
Melanie Klein a grande contribuição para a psicanálise, que significou o des mento kleiniano,1
taque que ela pôs na agressão humana, principalmente para a compreensão qüência de tais
das patologias graves, psicótica e borderline. Em compensação, não concor angústia perse<
dam, como veremos no capítulo de discussão da obra de Klein, quando ela xual. Também
considera que a existência das pulsões agressivas é devida à pulsão de morte. suas pulsões
b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluísse através de pas que se produz UI
sos progressivos, aos quais chamaram de fases de organização libidinal. O mulher como no
modelo tem uma indubitável origem darwiniana, tomando como ponto de de um complexo
partida que esta progressão libidinal é dirigida pela sucessão de etapas bioló ou menor angús
gicas de maturação. As zonas erógenas oral, anal e fálico-genital são o cen edípico posterior
tro respectivo de cada uma destas fases. As idéias q\
Melanie Klein, interessada em estudar os períodos pré-edípicos do de tras correntes do
senvolvimento mental, logo muda o conceito de fases libidinais, ao afirmar
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reduzir que, nas crianças pequenas, observa uma mescla de pulsões orais, anais e
e de re genitais que se sobrepõem a partir das primeiras relações de objeto. Afasta
se assim da idéia de fase libidinal, como unidade de desenvolvimento, em
um sentido cronológico, substituindo-a, tempos depois, pela idéia de posi
ção, como um conceito mais dinâmico e menos preso à biologia.
Dizer que as pulsões orais estão misturadas precocemente com as geni
tais também implica adiantar a triangulação edípica a estágios pré-genitais
do desenvolvimento. Disto surge a idéia de complexo de Édipo precoce,
quando a sexualidade contém agressão. Isto produz sentimentos de culpa.
ldosão: As reações de angústia, dor e culpa também se relacionam com a idéia do
~ntre os
superego precoce.
síquicai c) As pulsões agressivas - pré-genitais - expressam-se, desde o começo
pré-ge da vida, através de fantasias inconscientes, que estão dirigidas para o cor
po da mãe. Este é o primeiro espaço que pode ser diferenciado, de forma
l enten primitiva, pelo bebê e representa, para ele, o mundo externo. A criança tem
), é im desejos de penetrar neste corpo, atacando-o sadicamente. Na fantasia infan
lais tra til, são destruídos seus conteúdos, originando a angústia mais profunda, tan
I-as nos
to para a menina como para o varão. Klein designa pelo nome de fase femi
nina a esta etapa, pela qual todos os bebês passam, em seu desenvolvimen
desen to. Tanto a angústia de castração no homem, como a ameaça de perda de 4
pulsões amor na mulher, são derivados secundários da angústia persecutória prove
,lógica,
niente da fase feminina. Muda, portanto, a idéia de Freud de que o confli
restigar to edípico (tardio) e a angílstia de castração sejam o complexo nodular das
a gran neuroses. Klein, ao supor que, na fase feminina, a curiosidade sexual está
concei misturada ao sadismo, como conteúdo primário, modifica a concepção freu
ue essa diana de que a curiosidade é movida, principalmente, pelos desejos libidi
1e. De nais e prinápio do prazer. A criança quereria penetrar no corpo matemo,
[a, mas para ver seus conteúdos (imagina que há fezes, bebês e pênis) e, ao mesmo
estrito tempo, quer se apropriar deles, ,roubá-los e destruí-los. Estas pulsões são
~flívet
<
88
~n-
sia que seus pais estão unidos de uma forma permanente e interminável,
\te compartilhandósatísfàções orais, anais e genitais. O ciúme e a inveja produ
zem desejos de atacar o corpo da mãe, que contém o pênis do pai, sendo
~ve formadas, por projeção imagens persecutórias que causam grande angústia.
f
Ia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores no
ro turnos. A fantasia da mãe fálica (Imdher com pênis), para ela, é uma versão
te desta figurapaienfál combinada. A utilidade clínica destes conceitos pode
jo ser obser\fãrla::no trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981), para o estu
m do dos transtornos da identidade sexual. A autora os utiliza, incorporando
os a novos conhecimentos, provenientes das escolas psicanalíticas atuais.
)p Depois de ter resumido algumas idéias que pertencem aos primeiros
or períodos da teoria kleiniana, é útil que nos detenhamos nos conceitos de su
éo perego precoce e complexo de Édipo precoce. Estes temas foram mudando,
ús' à medida que se integraram, de 1935 em diante, à teoria das posições. En
em tão, daremos uma síntese de seu conteúdo principal e a evolução que sofre
li ti ram na teoria kleiniana.
de.
ças
de Do superego aterrorizante ao superego benevolente
[IÇa
nas A idéia de superego precoce se refere, em primeiro lugar, a um aspec
10S to cronológico, comparando-o com o superego da teoria freudiana. Freud
uas o descreveu como uma estrutura intrapsíquica, produzida na criança, ao
~nte culminar o complexo de Édipo, durante a etapa fálica infantil, entre três e
'an cinco anos de idade. Forma-se pela interiorização das exigências e proibi
mo ções parentais, especialmente sobre os desejos incestuosos para com o geni
len tor do sexo oposto; por isso, é considerado o herdeiro do complexo de Édipo.
,ai, Melanie Klein começou a analisar crianças muito pequenas (a partir
)ce. dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa
. ls e remorsos. Este fato clínico a levou a postular a existência de um supere
ICU go mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevê-lo como excessi
exo vamente sádico e cruel. Como exemplo desta situação, relata o caso de Ri
tem ta, uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neu
,és. rose obsessiva ('The psychological principIes of early analysis", 1926). O
ece superego precoce que Klein propõe está situado no segundo ano de vida, é
mu mais cruel do que o superego tardio de Freud, forma-se por identificações
nis, múltiplas e sua severidade provém de que nele se projetam as pulsões sádi
isão Cas da criança.
)bre Recordemos o que dissemos anteriormente. Klein, na primeira etapa
lexo de sua obra, acentua a importância das pulsões agressivas e postula a exis
tência de uma fase de sadismo máximo, ao redor dos seis meses de idade,
Isé coincidindo com o momento da dentição e desmame. Assim continua as
niti idéias de Abraham, seu mestre e analista. Com esta perspectiva, muda tan
nta to o momento como o mecanismo de formação do superego. Situa-o ainda
das primeiras identificações da criança com o objeto matemo, que, nesta Em outras p~
etapa, se introjeta canibalisticamente. Klein toma-se independente dos con motivo domi
ceitos frel!dianos, afirmando que o superego não se forma no final d~()çQI!l objeto. Se set
plexo de Edipo, m'as no começo dele. Inverte a relação entre ambos, ao di da de seu geJ
zer que ~o as características do superego precoce que definem o desenlac~ pertencem à l
edípico, assim como o desenvolvimento do ego e do caráter ("Eady stages principalmeI1l
of the Oedipus conflict", 1928). A fonte de maior angústia na criança peque objeto duranl
na seria a ação que este superego precoce exerce sobre o ego ("Personifica interessada
tion in the play of children", 1929). contribuirá
Em 1935, com a publicação de liA contribution to the psychogenesis
of manic-depressive states", produz-se um momento chave na teoria k1einia
na, que também influi na conceptualização do superego, ao separar definiti
vamente sua origem do conflito edípico. O superego existe desde o começo
da vida, formando-se pela introjeção de dois objetos contraditórios, um de
qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de
caracteIÍsticas punitivas (objeto parcial persecutório). Vale dizer que a ori
gem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo: a teoria
das posições. Este superego deve sofrer um processo de integração, duran
te o desenvolvimento, o que dependerá das vicissitudes da posição depressi
va. O aspecto severo e punitivo do superego provém do objeto parcial per
secutório, introjetado nas origens, enquanto o objeto parcial idealizado se
-t. ria o núcleo do ideal do ego, que se constitui durante a posição depressiva.
O caráter dual do superego sempre se mantém na teoria k1einiana. Ter
mina por ser uma estrutura integrada, um objeto interno, resultado da ela
boração das angústias depressivas e da união dos objetos internos em um
objeto total.
É enriquecedora, para a compreensão clínica, a idéia de um superego
com estrutura complexa, que inclui partes punitivas e também aspectos pro
tetores para o ego. No entanto, o leitor pode se perguntar porque certos ob
jetos introjetados desde o começo da vida formam o núcleo do superego e Esta é
outros se introjetam no ego. Nos trabalhos de Klein não é encontrada uma vertidas da
resposta clara. arly
Paula Heimann, em seu artigo "Algumas funções de introjeção e proje
Édipo
ção na primeira infância" (1952, p. 127), aborda diretamente este proble
ma, sugerindo uma resposta:
1)
"Então, a idéia de que a formação, tanto do ego como do superego,
começa na primeira infância e continua de forma interatuante, diverge das
idéias de Freud, apresentando alguns problemas novos. Se, como nós susten
tamos, os objetos introjetados durante a infância constroem, tanto o ego
da criança como seu superego, temos de encontrar o fator que determina o
resultado da introjeção e a projeção. Quando um ato de introjeção contri
bui para a formação do ego, e quando para a formação do superego? Eu
sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado
90
rigina nos quais a criança está predominantemente interessada, no momento ...
nesta Em outras palavras, o que decide o resultado de um ato de introjeção é o
;con motivo dominante por parte da criança, no momento em que introjeta seu
com objeto. Se seu interesse principal no ato de introjeção se centrar na inteligên
ia êÍi cia de seu genitor, em sua habilidade, manipulação de coisas - funções que
~nlace pertencem à esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado será,
;tages principalmente, incorporado ao ego da criança. Se a criança introjetar seu
eque objeto durante um conflito atual entre amor e ódio, estando especialmente
lifica interessada nos atributos éticos de seu objeto, então o objeto introjetado
contribuirá para a formação do superego. A criança que introjeta sua mãe,
enesis enquanto ela está realizando determinada ação, digamos lavando-a, apren
einia de, por sua vez, como se lavar (ou lavar um objeto), ou seja, uma habilida
finiti de. Este seria um exemplo de introjeção que fomenta o desenvolvimento
,meço do ego".
1m de O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e, também,
:ro de as dificuldades do tema em estudo. A diferença entre a introjeção do obje
a ori to no ego ou no superego aparece na citação muito ligada a interesses cons
teoria cientes da criança, para estabelecer uma diferenciação metapsicológica ade
luran quada.
)ressi Tampouco fica suficientemente esclarecido, na formulação kIeiniana,
J per qual é a relação entre os diferentes objetos internos e as estruturas da men
:lo se te, descritas por Freud como id, ego e superego. Seria o superego um obje
ssiva. to passível de transformação, durante toda a vida, segundo as característi
. Ter cas dos objetos introjetados? Poderíamos descrevê-lo como um objeto inter
a ela no ou um conjurtto de objetos internos, tirando-lhe, então, a característica
num de estrutura permanente e estável, descrita por Freud?
erego
spro
)s oh Complexo de Édipo precoce
'ego e Esta é uma das teorias mais originais e, ao mesmo tempo, mais contro
I uma vertidas da produção kIeiniana. Ao apresentá-la, pela primeira vez, em "E
arly stages of the Oedipus conflict" (1928), Klein modifica duas idéias do
proje
Édipo clássico de Freud.
roble 1) Situa-o precocemente, entre as fases pré-genitais do desenvolvimen
to, ao redor do primeiro ano de vida. Em outros artigos adianta a data, co
~rego,
-íno vimos que ocorre com o superego precoce. Em ''The Oedipus complex
;e das in the light of early anxieties" (1945), pensa que se estabelece aos três meses,
lsten
em rela~ão com a elaboração da posição depressiva.
o ego 2) E um processo complexo, que se estende durante um período prolon
lina o
gado. Klein amplia a gama de fenômenos que abrange e o transforma em
ontri
01 Eu
organizador das pulsões genitais durante todo o desenvolvimento infantil.
No Édipo, desde os primeiros meses de vida, as fantasias da criança
etado
sobre o coito dos pais são construídas com objetos parciais. Não são os
O leitor poderia nos dizer, com toda a razão, que Klein situa estes proces nal. Não é a
sos nos primeiros meses de vida; pensamos que este é o preço que ela paga de castração, ou
por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que sivos e de amor
descobre, com tanta sagacidade, dentro de uma teoria do desenvolvimento. seu amor e seu
Vale a pena fazer esta ressalva, para que possamos acompanhar a descrição radoras para com
do mundo fantasmático que Klein atribui ao Édipo precoce, sem ficarmos para o futuro
limitados pelo questionamento "realista" sobre a impossibilidade de reconhe O leitor
cer, em idades precoces, processos complexos, como seria a diferença dos
sexos ou a cena primária. Veremos, no capítulo de críticas à teoria kleinia
na que, de fato, muitas das que provêm da psicologia do ego são propostas
nestas bases.
Voltemos ao Édipo precoce. Klein descreve, na relação diádica mãe Período 1
bebê, fantasias agressivas de tipo oral, em que a criança deseja entrar no
seio e corpo matemos para morder, rasgar, roubar seus conteúdos; e outras,
de tipo anal, onde quer entrar no corpo da mãe para sujar e danificar o que
ela tem dentro. Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina
com que o desenvolvimento começa, tanto na menina como no menino. A
passagem para a relação triádica é, nesta etapa, uma fantasia oral de incor
porar o pênis do pai, para acalmar a frustração oralprovocada pela mãe e
para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutó
rias que sofre, por ter danificado o corpo matemo, na fase feminina. As fan
tasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercâmbio de ali
mentos entre eles, se as angústias forem predominantemente orais, ou co
mo um ato excretório ou genital, segundo o caráter das fantasias que a crian
ça introjete nelas. O resultado constitui uma situação complexa, produto
da oscilação de pulsões orais, anais, uretrais e genitais que, paulatinamen
te, devem levar a um predomínio de fantasias genitais, para que o Édipo se
ja resolvido adequadamente. Ao mesmo tempo, misturam-se desejos agres mecanismos
sivos e libidinais; entrementes se produzem mudanças e interações entre projetiva e a
um Édipo positivo e outro negativo, tanto na menina como no menino. O significado aos
resultado final destas tendências levará, no desenvolvimento normal, a uma seria definida
escolha heterossexual, baseada no predomínio de pulsões genitais. que os fatores
92
re Em 1945, Klein reformula suas idéias sobre o Édipo precoce, em seu
la artigo 'The Oedipus complex in the light of early anxieties". Integra suas
Ir- concepções do Édipo precoce com as novas idéias da posição depressiva,
como ponto nodal do desenvolvimento infantil. Desta perspectiva, não são
n as frustrações orais, nem as pulsões de ódio que desencadeiam os desejos
ca edípicos. Estes surgem, pelo contrário, com o começo da posição depressi
ão va, quando as pulsões de amor para com os pais agem como propulsores
o, do desenvolvimento, levando à busca de novos objetos.
os Quanto ao declíni() do Édipo, Kleinpensa que é o amor pelos pais e
lfl o desejo de preservá-los, juntos e indenes.que produz a renúncia edípica e
-~
:0. o controle dos sentimentos agressivos. Esta é uma conceptuallzaçãoorigi
~s- rial. Não é a cultura que impõe a renúncia pulsional, tampouco a ameaça
ga de castração, ou a lei, mas a luta dentro da mente, entre sentimentos agres
rue sivos e de amor para com os pais. Neste esforço da criança para integrar
to. seu amor e seu ódio, as pulsões edípicas permitem expressar fantasias repa
:ão radoras para com o casal de pais, o que marca um alvo muito importante
lOS para o futuro desenvolvimento sexual do indivíduo.
he O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho
ios de Terencio Gioia (1975), HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana. Estu
lia dio comparativo con las ideas de Freud".
,tas
Posição esquizo-paranóide
Desde os primeiros tratamentos de crianças, Klein tinha descrito fanta
sias persecutórias em idades precoces. Também observou, na clínica, no jo
go e nas fantasias infantis, que as crianças podiam partir em dois um obje
to, dissociá-lo, separando um aspecto totalmente bom, que projetavam em
uma pessoa, de um aspecto exclusivamente mau, que situavam em outra.
Denominou-o de mecanismo de splitting, ou dissociação.
Em 1946, em seu trabalho "Notes on some schizoid mechanisms", orga
niza, de uma maneira coerente, todos estes processos primitivos, ao descre
ver a posição esquizo-paranóide. Concebe-a como uma estrutura que orga
niza a vida mental nos três primeiros meses de vida. É constituída por:
94
I esquizo 1. angústia persecutória. A angústia principal que o ego sente é a de
:lo da dis ser afacado;
>sição de 2. relação de objeto parcial, com um seio idealizado e outro persecutó
~grados e rio, que são percebidos como objetos dissociados e excludentes;
3. o ego se protege da angústia persecutória com mecanismos de defe
ler o con ~ intensos e onipotentes. Eles são: a dissociação, a identificação projetiva,
a introjeção e a negação.
no pensa Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento, que sente
luta entre a angústia, relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de
to psíqui- defesa primitivos. O funcionamento mental dos períodos iniciais da vida
não seria totalmente desorganizado, caótico ou com uma indiferenciação
I constan ego-objeto. Para Klein, pelo contrário, possui uma organização. O primiti
lconscien vo é definido pela qualidade da angústia e as características dos mecanis
lo a idéia mos de defesa que, como já dissemos, são intensos e extremos. Ela os consi
6", mas, derou de natureza psicótica.
lendo for . A angústia persecutória é experimentada pelo ego como uma ameaça
lsivamen ~ forças hostis que o atacam. Esta angústia tem uma origem principalmen
ima emo ~Jnterna (a pulsão de morte age como uma força destrutiva dentro do indi
víduo) e também outra, externa: a experiência traumática do parto e todas
da mãe e as situações posteriores que provocam frustração.
eúdo bio A pulsão de morte é projetada no primeiro objeto externo, o seio da
mãe; assim começa a relação entre o ego e o objeto mau externo. Simultane
criança é amente, as pulsões libidinais são projetadas no objeto parcial seio bom, que,
as corpo a partir desse momento, aparece dissociado do seio mau ou persecutório.
~ genitais, Klein dá muita importância ao efeito que a agressão produz dentro
do psiquismo precoce. Expressa-se em fantasias inconscientes oral-sádicas
de devorar o seio e o corpo matemos, e anal-sádicas de atacá-los com excre
mentos. Isto gera no bebê temores persecutórios de ser devorado e envene
nado. Está se teorizando sobre um corpo matemo fantasmático, cuja ima
go aparece deformada pelas fantasias do sujeito, devido à projeção de suas
pulsões agressivas. Fala de objeto em um sentido anatômico (as pulsões
orais se dirigem ao seio e não à mãe, pois esta não é percebida como uma
figura completa) e também em um sentido dinâmico (objeto parcial idealiza
ito fanta do e objeto parcial persecutório); por um processo primitivo de dissociação,
ca, no jo o bebê percebe tanto o mundo externo, como a si próprio, divididos em
um obje duas partes absolutamente inconciliáveis, um objeto idealizado, ao qual atri
:avamem bui todas as experiências gratificantes, e um objeto persecutório, ao qual
~m outra. atribui todas as frustrações.
Os mecanismos de projeção e introjeção permitem a construção de
ns",orga um objeto bom interno e um objeto mau interno, ao introjetar os objetos
ao descre externos bom e mau, respectivamente. Deste modo, se estabelece uma dinâ
que orga mica constante de projeção e introjeção entre os objetos e as situações exter
il'or: nas e as pulsões e fantasias internas, que estarão indissoluvelmente mistura
das. ã medida que o desenvolvimento psíquico avança, produz-se uma evo-
96
ação dos com o bebê (holding), alimentando-o e cuidando-o adequadamente, ele cres
ce o ego, cerá bem e terá um bom desenvolvimento psíquico. Klein pensa, em com
diminui, pensação, que esta reação não é linear. Se o lactente projetar fantasias sádi
V'orece os cas e vorazes no seio, senti-Io-á em seu interior como um objeto interno de
;anização vorado por seu ataque e, por sua vez, devorador, o que reforça sua perse
guição, por mais adequado que seja o cuidado que a mãe lhe forneça.
1 fantasia Acreditamos que o peso que Klein dá ao interno é importante, pois
a fantasia não nos deixa cair em uma idéia simples da patologia, ao pôr todo o desta
processos que na inadequação dos pais e em fatores ambientais adversos, eliminando
I, p. 260). a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento.
:ão. Klein Outro ponto teórico importante é que ela não aceita a idéia de narcisis
. externas, mo primário, descrita por Freud. Ao estabelecer que existe um ego incipien
lestaque é te, desde o nascimento, capaz de experimentar angústia, de sentir um confli
,rosas que to entre pulsões de amor e de ódio, no vínculo com os objetos primários, e
lculo com de possuir mecanismos de defesa, atribui muitas capacidades a este ego pri
importan mitivo, e uma possibilidade de diferençar entre o selE e o objeto. Para Klein,
causas in a relação narcisista é uma relação com um objeto idealizado interno, em
naseguin que o ego se confunde com este objeto, enquanto o objeto persecutório é
.nallife of dissociado e projetado no exterior. Esta relação narcisista é provocada por
um conflito e inexoravelmente produz angústia, embora seja negada ou cli
ulospode vada. É importante acentuar as idéias kleinianas sobre o narcisismo primá
Desta for- rio, pois, como se verá mais adiante, há outras teorias do desenvolvimen
na mente to precoce que aceitam as idéias de Freud a respeito. Mahler, por exemplo,
es sobre o fundamenta no narcisismo primário sua idéia da etapa de simbiose durante
le todos os o desenvolvimento. Também Winnicott o aceita, quando pensa que o recém
os objetos nasddo atravessa uma etapa de não diferenciação ego-não ego.
êrnna sen
.me, o pra
beração de Mecanismos de defesa da posição esquizo-paranóide
seio bom.
:l seio mau Já descrevemos alguns destes mecanismos, para explicar a relação com
os objetos\parciais e sua constituição. lÇ1ei~os~a como processos
deocome extremos, intensos e de características onipotent~ S-ªoJndispensáveis, ao
bom exter mesmo tempo, para organizar as primeiras modalidades do funcionamento
;a os meca mental, opondo-se à angústia persecutória, que é insuporwelpara o~fraco
é indubitá ego. Denominou-os de mecanismos psicóticos, semelhantes aos que ocorrem
mportância em 'estados esquizóides graves e esquizofrênicos. Pensou que toda criança
las pulsões, passa, durante seu desenvolvimento, por uma psicose infantil, etapa nor
mal, determinada pela presença destes mecanismos e angústias extremos
de algumas das posições esquizo-paranóide e depressiva.
1:am em um Neste desenvolvimento precoce, encontram-se os pontos de fixação
lpel da mãe das perturbações psicóticas posteriores. Por um lado, Klein faz agora o que
. Winnicott acontece com muitas teorias psicanalíticas: um critério psicopatológico é
.donal para aplicado ao desenvolvimento normal, através do conceito de pontos de fixa-
98
) pen oporem a ela. A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em
)ontos uma estrutura específica e, ao mesmo tempo, mutável. Klein tem necessida
ais re de de relativizar a descrição, um tanto sistemática, que faz das posições,
, Klein quando diz, em ''Notes on some schizoid mechanisms":
Intro "Sempre ocorrem algumas flutuações entre a posição esquizóide e a
lça pe depressiva, que fazem parte do desenvolvimento normal. Portanto, não se
descri pode estabelecer uma divisão exata entre estes dois estados do desenvolvi
)sicóti mento, dado que a modificação é um processo gradual e os fenômenos das
:0 nor duas posições permanecem, durante algum tempo, áté certo ponto mistura
co, to dos e reáprocos. No desenvolvimento anormal, esta ação reáproca influi,
síquica acredito, no quadro clínico, tanto da esquizofrenia como das perturbações
maníaco-depressivas" (1946, p. 270).
A discriminação que fazemos toma-se importante para poder avaliar
;icoses, na clínica a riqueza que nos oferece a descrição dos mecanismos defensivos
~te pe da posição esquizo-paranóide (Hinojosa, 1.R., 1988). Podemos usá-los pa
psicóti ra compreender os processos mentais dos pacientes, sem que por isso fique
e todas mos, necessariamente, atados às propostas genéticas kleinianas. Descrevere
l-enten mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos.
ismos e
~ todos [)issociação, projeção e introjeção. Seriam as defesas mais arcaicas,
ego, do os processos fundamentais para a construção dos primeiros objetos exter
nos e internos.
) dema A projeção aparece, primeiramente, ligada à pulsão de morte, cuja
lizo-pa ameaça de destruição interna é neutralizada, ao ser expulsa para fora do su
)s, esta jeito. Esta projeção de agressão e de libido permite que se constituam os ob
uizofre jetos parciais seio bom e seio mau. Este conceito de projeção se enriquece
posição com a descrição da identificação projetiva, como mecanismo básico.
.ressiva. A dissociação é a resposta do ego diante da angústia persecutória. Per
explica mite que se efetue uma primeira divisão bom-mau dos objetos externos e in
I.o que ternos; são defesas úteis e necessárias para favorecer a organização das pri
~ que ela ~eiras estruturas da mente, que depois poderão se integrar paulatinamente.
~~"iyên ! Se este processo de dissociação fracassar, produzem-se fenômenos de desin
neuróti :J tegração e fragmentação e um desenvolvimento patológico da posição es
nsolidar quizo-paranóide, base para doenças psicóticas posteriores.
)rme em A dissociação dos objetos é acompanhada, inexoravelmente, de uma
) funcio dissociação dOeg6~í~urna defesa necessária para proteger o ego débil de
,do afir uma angústia persecutória excessiva. Aplica-se aos objetos e também a estru
ramcom fUras e fantasias. Serve para separar o bom do mau, mas também o inter
ns". Co no__do externo e a realidade da fantasia. A dissociação do objeto possibilita
do bebê? que Se constitua o primeiro objeto bom interno, como o núcleo do ego e
do superego. Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau, para que
jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma rela
em rela ção segura dentro do ego. Quando as angústias persecutórias decrescem, a
) para se dissociação diminui, produzindo-se uma impulsão para a integração dos ob-
100
:onflito do sujeito. Klein está descrevendo, com sua idéia de mundo interno, uma
~~ ...
,
)ilidade nova concepção da mente. Ao mesmo tempo que utiliza a segunda tópica
de Freud, pensa que os objetos introjetados vão para o ego e também para
rço por o superego. Como não se pronuncia completamente por um dos dois mode
ias e da los, ficaria por definir qual é a relação entre o ego, o superego e os objetos
fasta-se internos.
ias pul
descar- Identificação projetiva. Este mecanismo foi descrito por Klein em seu
ga. artigo de 1946, e desde então se transformou em um conceito fundamental
in, uma para a teoria e a clínica da escola kleiniana. :1\, mente tem a capacidade oni
:om que potente de se liberar de uma parte do selE, colocando-a em outro objeto.
progres Oresultado é uma confusão da identidade, uma perda da diferença real en
) do sel1 tre sujeito e objeto.
lseqüên - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmo,jº~Iltitican
do-secam o não projetado; _a_() objeto, por sua vez, são atribuidosos aspec:
fication, tõspr()Jetados, dos quais o_sujeitose desprendeu. E~ta seria, para Klein,
em seu Uiila das bé!ses principais dos processos de confusão. EPEoduzido por ulIla
primiti motivação pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo. O lei
ioridade tor perceberá, sem dúvida, a diferença com as teorias, inclusive as de rela
:anismos ções objetais, que propõem uma indiferenciação sujeito-objeto, por déficit
na maturação. Na teoria kleiniana, os processos do desenvolvimento nun
r, com a ca são meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural,
ociados. mas obedecem a uma intenção inconsciente do sujeito. O bebê pode preci
te pode, sar, para aliviar sua angústia, desprender-se de aspectos dolorosos de seu
r o idea próprio self, usando a identificação projetiva, colocando-os em sua mãe. Is
bem co to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento, a partir de
levarem um observador externo, mas, ao livrar-se de sentimentos dolorosos, colocan
imon;al, do-os em sua mãe, esta adquirirá inexoravelmente um significado persecutó
Também rio para o bebê, por exemplo, a ameaça de que volte a inocular-lhe tais emo
presente, ções. Um paciente pode precisar contar as experiências traumáticas que lhe
)a de to sucederam e nossa intenção será de escutá-lo com compreensão e benevolên
suficien cia. Mas se o processo de identificação projetiva for intenso, o paciente vol
a relação tará na próxima sessão com medo de que lhe digamos coisas muito doloro
)s aspec sas, sem nenhuma consideração para com ele. Além de nossas boas inten
o de sua ções, ele nos percebe a partir de suas próprias projeções e sua subjetivida
~nte, tan de. Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificação
material projetiva. Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se, tan
todos aspectos maus, como dos bons de alguém. Neste último caso, a motI~
Istituição vação pode ser, por exemplo, situar os aspectos bons fora do selE, para pre
_çonstro servá-los dos aspectos maus internos. Uma paciente depressiva tinha a capa
do supe cidade diabólica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa
~~jeto~ que se aproximava e, ao mesmo tempo, isto lhe servia como base de compa
~~~ ração para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade. Dissemos que sua
ltimento~ capacidade era diabólica porque, se saía de férias com uma amiga, esta era,
102
nte Idealização. É um mecanismo característico da posição esquizo-para
tbia nóide. Aumentam-se os traços bons e protetores do objeto bom ou acrescen
ial, tam-se-Ihe qualidades que não tem. Constitui uma defesa do ego para se
oas proteger de uma perseguição excessiva, mantendo, ao mesmo tempo, a dis
lvia sociação entre objetos idealizados e persecutórios. Portanto, sempre que ha
lda ja, em um paciente, a necessidade de idealizar, estará se protegendo de um
ros, sentimento de angústia.
que Baranger (1971) destaca que, no seu livro Envidía y gratitud (1957),
len Melanie Klein amplia a noção de idealização, entendendo-a não apenas co
Iam mo uma modalidade defensiva, diante da angUstia, mas também como uma
tendência inerente ao ser humano, uma necessidade intrínseca de procurar
le o a gratificação perfeita. Derivaria do sentimento inato de que há um seio ex
soas tremamemte bom, o que leva a sentir saudade dele e à capacidade de amá
elas, lõ. Baranger hierarquiza esta nova noção de idealização nas idéias kleinia
nea- nas, pois crê que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como
um elemento essencial para sua relação com o mundo social e cultural em
fica
que se encontra.
erno O conceito de idealização procura explicar certos fenômenos mentais
i uilí que também foram explicados em contextos teóricos diferentes. Assim, La
;5b), can (1949) se ocupa da ordem do imaginário como uma necessidade, ineren
lem te ao sujeito, de estabelecer vínculos narcisistas que lhe produzam uma sen
cida sação de completeza e de integridade. Na teoria de Kohut (1971,1977, 1983),
lê-lo. a idealização-dos objetos primários é indispensável para a integração do
pato selE. Este autor considera que é um fenômeno adequado e necessário, por
cesso isso o transfere à técnica, manifestando que há uma etapa do tratamento
em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealização do analista,
luitas como parte de um processo de reestruturação do selE, a fim de criar um vín
men culo melhor do que o teve com seus pais. Esta tese não pode ser comparti
olen lhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando, pois signifi
. difi ca estimular uma dissociação no paciente, que põe seus sentimentos de ide
men alização na pessoa do analista e seus sentimentos de frustração e persegui
refu ção no passado, na relação com os pais. Para os kleinianos, uma técnica
. pro destas características fomenta a dissociação do paciente e obstrui os proces
bases sos de integração, necessários para a saúde mental.
obje Em Klein, os problemas que resultam da idealização são resolvidos
>fóbi com a elaboração da posição depressiva. Os objetos finalmente não são,
o te nem tão bons, nem tão maus, como propõe o sistema de valores da posição
esquizo-paranóide. A criação de valores é explicada como um processo de
einia identificação com os bons pais internos e não requer, necessariamente, a ins
lanei tauração do processo de idealização. Também é verdade que esta teoria,
laram tão atenta aos processos internos do sujeito, detém-se pouco em estudar a
~ncia.
relação entre o indivíduo e a cultura, principalmente no plano dos valores
sociais ou culturais. Talvez algumas idéias lacanianas procurem explicar es-
Posição depressiva
Na teoria kleiniana, a posição depressiva é uma nova organização da
vida mental, constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a
normalidade. Klein a descreve, pela primeira vez, em 1935, em seu artigo
"Uma contribuição para a psicogênese dos estados maníaco-depressivos".
Pensa que ela se produz entre os três e os seis meses de idade, após a posi
ção esquizo-paranóide. É constituída por:
1. angústia depressiva: o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao
objeto amado, com suas pulsões agressivas;
2. relação com um objeto total: a mãe, com a qual o ego se vincula,
tanto em seus aspectos bons como maus. Aumentaram, portanto, os proces
sos de integração;
3. o mecanismo de defesa principal é a reparação: atender e se preocu
par com o estado do objeto (interno e externo).
Esta nova estrutura não é apenas um progresso maturativo. É uma con
figuração diferente, onde os interesses narcisistas da posição esquizo-para
nóide, que procuravam proteger o ego das ameaças persecutórias, mudam
para a preocupação central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus
objetos, tanto externos como internos. O conflito depressivo é uma luta cons
tante entre os sentimentos de amor e de agressão. Os mecanismos de defe
sa perdem sua onipotência. O mais importante é a reparação, que procura
reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE.
Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam, agora se re
quer que o ego lhes dê amor e cuidado, para devolver-lhes a vida e a integridade.
Os sentimentos que predominam nesta posição são a tolerância à dor
psíquica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados.
Reconhece-se um sentimento de amor e dependência para com os pais, jun
to ao desamparo do ego e o ciúme que causa não nos pertencerem completa
mente.
Durante a elaboração da posição depressiva, o vínculo com a realida
de externa se modifica. Enquanto na posição esquizo-paranóide os objetos
104
iakleinia externos são percebidos deformados pelas projeções agressivas e libidinais,
divadas em dois mundos diferentes, agora o vínculo com o mundo exter
no é, por assim dizer, mais realista, pois é reconhecido em seus aspectos
ega a exis bons e maus, com menos distorções. Há uma maior discriminação entre fan
\0 mesmo tasias e realidade, assim como entre realidade externa e interna.
m os quais Quando Klein descreve, em 1935, a posição depressiva, sobrepõe, co
mo já explicamos para o caso da esquizo-paranóide, uma teoria do desen
ento e pri volvimento precoce com outra que é psicopatológica; nesta última, a posi
lto quanto ção depressiva é o ponto de fixação da doença maníaco-depressiva. Klein
lexistentes. pensa que as crianças passam, neste período, por dores e angústias semelhan
tes às sofridas pelos adultos, quando adoeçem de depressão ou de psicose
maníaco-depressiva. Por issso, também chama estas angústias de psicóti
caso Aqui se estabelece novamente uma confusão entre o processo normal
e o patológico. A dificuldade é solucionada, em parte, quando nossa auto
nização da ra estabelece que são os problemas na elaboração da posição depressiva
imento e a que constituem um ponto de fixação para futuras perturbações depressivas
seu artigo do adulto.
pressivos" . Em 1940, amplia suas idéias sobre a posição depressiva, ao incluir o
pós a posi luto como um fenômeno importante deste processo. A hipótese central é
que a perda de um ente querido reativa a posição depressiva infantil. É a
que fez ao perda da mãe como objeto amado que é revi vida em cada perda do adulto.
A possibilidade que cada indivíduo tem de enfrentar o luto e se recuperar
se vincula, dele depende, para Klein, de como pôde resolver a posição depressiva infantil.
,osproces O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsões
agressivas. Isto é resultado não da ameaça externa (como ocorre com a an
~ se preocu- gústia de castração de Freud), mas do controle e renúncia que os sentimen
tos amorosos lhe exigem. Assim, por exemplo, a resolução do Édipo preco
Éumacon ce, na posição depressiva, não provém totalmente da censura superegóica
quizo-para dos pais, proibindo os desejos incestuosos. A própria criança, por necessida
as, mudam de de preservar a união entre os pais e o amor por eles, procura controlar
~servar seus seus desejos edípicos.
.a luta cons Estas características da teoria kleiniana dão um valor axiológico a suas
lOS de defe premissas mais importantes, principalmente as da posição depressiva. Não
lue procura significa, evidentemente, que o terapeuta imponha uma escala de valores
ltro do selE. às fantasias e conflitos do paciente. Quanto mais se desenvolver o amor
19ora se re aos objetos, acima dos desejos narcisistas e egoistas, o resultado será uma
integridade. "moral' de maior benevolência e generosidade.
'ância à dor A saída do estado narcisista, e também a resolução do conflito edípi
os amados. co, dependem do desenlace que a posição depressiva tiver. A neurose infan
)s pais, jun til compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaborá-la,
ncompleta começando a se resolver quando as defesas maníacas e obsessivas diminuem.
A simbolização se relaciona com o processo de luto, que permite re
ma realida criar o objeto perdido dentro do selE. Assim, substitui-se a ausência do obje
e os objetos to por um símbolo do mesmo: implica criar um conceito, uma recordação,
106
~pete substituir a ausência de sessões com atividades mais atraentes, ou ao afir
mo mar que a interrupção vem bem, porque assim pode empregar o tempo
ação em algo mais urgente. Em qualquer destas situações, estará procurando ne
~das, gar que a ausência de seu analista pode lhe ser dolorosa. Quando se desvalo
'a al riza o objeto, a perda dói menos, ao mesmo tempo em que se evita sofrer
ico. pela ferida narcisista que significa ser abandonado.
lção.
rem
, por 4. A teoria da inveja
~ que Foi desenvolvida por Klein, em 1957, em seu livro Envy and Gratítu
cada de, onde descreve a inveja primária corno urna pulsão agressiva que o be
mre bê sente, desde o começo da vida, dirigida ao seio da mãe, com o desejo
om a de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece.
peso A inveja e a gratidão constituem dois fatores dinâmicos que interagem nor
malmente no psiquismo, a partir do nascimento, determinando, em parte,
•sição as características das relações de objeto precoces .
lálise, Neste trabalho tão discutido, Klein separa inveja de frustração. Não
dolo são os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situação ambiental
;mo e que provocam a pulsão invejosa. Pelo contrário, esta provém do sujeito, é
,ta ou endógena, e sua finalidade é a de atacar o que o objeto tem de bom e valio
ilZ en so. Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente
:0 ex nos processos de gratidão normal. Propor que a inveja seja constitucional
19ora, significa sublinhar o fator interno, inato, pessoal; não é originada na situa
n.e faz ção externa que decepciona ou frustra. Pelo contrário, põe-se em evidência
ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidão. Este seria o aspec
to irracional, paradoxal, da inveja. Aqui, a teoria kleiniana volta a romper
trecisa com a descrição naturalista de corno se sucedem os fenômenos que relacio
antes, nam a realidade externa com a interna. Se, com nosso senso comum, tende
mos a pensar que, ante urna situação gratificante, reagimos com bons senti
!Seiam mentos, Klein complica, com esta idéia que aponta o processo contrário; a
tríade inveja ataca o que outro nos oferece, porque não podemos tolerar que estas
dstem capacidades sejam alheias, mesmo que, no caso, sejamos os beneficiários delas.
sofrer No artigo "Las teorías psicoanalíticas de la envidia" (1981), Etchegoyen
e Rabih fazem urna clara revisão dos antecedentes deste conceito, em psica
corno nálise. Em primeiro lugar, situam a teoria freudiana da inveja do pênis, na
'a ela mulher, corno urna força primária, que dirige a evolução de sua sexualida
. repa de e do complexo de Édipo. Em condições patológicas, leva a urna grande
stabe deformação do caráter e a traços masculinos ou à homossexualidade, laten
te ou consumada. Freud não se refere a urna pulsão invejosa equivalente
1S ma no homem. Tampouco atribui à inveja do pênis a qualidade destrutiva qua
inter a inveja kleiniana possui. Depois, mencionam Abraham e Eisler, que fala
mpor ram da inveja corno um importante fator da personalidade, vinculado a
~ pode pulsões destrutivas, na etapa oral do desenvolvimento psicossexual. O ante-
108
re~ sobre a tensão agressiva do narcisismo, produzidos pela dialética intersubje
;m tiva de comparação, lugares que cada um ocupa e rivalidade mortífera.
re K1ein destaca a importância de diferençar entre inveja, ciúme e voraci
~ dade, como pulsões que interferem na introjeção do objeto bom. A inveja,
le, como já manifestamos, é um sentimento de ódio contra outra pessoa que
~n possui uma qualidade desejada. O ciúme, em compensação, existe em uma
:x- relação triangular, quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o
es- rival. Hanna Segal (1964) considera que o ciúme é uma relação de objeto
total, enquanto a inveja ocorre, especialmente, com objetos parciais. Quan
m~ do existe para com um objeto total, perturba a elaboração da posição depres~
de. siva. A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui. E um
ba pulsão insaciável, que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar.
an Seu objetivo principal não é destruir, como é o caso da inveja. Por isso, a
ida inveja primária teria um resultado tão prejudicial para o desenvolvimento
bê. mental que, ao arruinar as capacidades e bondades do objeto, destrói a pró~
les~ pria origem da bondade e da criatividade. Na clínica, às vezes observamos
eo misturas de ambas as emoções. Assim, os sintomas de voracidade podem
-Jos estar ligados a um componente invejoso. Uma paciente sofria de ataques
,ém compulsivos de bulimia, cada vez que a deixavam a sós. Eram acompanha~
rio, das de fantasias de roubo, que devia ser feito às escondidas e, quando ter
ica~ minava de comer exageradamente, provocava o vômito, porque tinha a sen~
sação de que a comida incorporada danificaria seu organismo. Isto é, o ali~
ann mento incorporado também era objeto de intensos ataques, que o transfor
au~ mavam em um elemento persecutório.
>en- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posições. Se as pulsões
invejosas forem intensas, atacam o objeto ideal, que é o que provoca o sen
we timento invejoso, alterando o processo de dissociação normal da posição
luo. esquizo-paranóide. Isto produz uma confusão entre o bom e o mau, não
esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutório, ficando perturba~
iria, dos gravemente os processos de introjeção do objeto bom, que são a base
pro para o êxito da estabilidade mental. Assim, fica dificultada a capacidade
ente de gozo e criatividade. Estabelec~se um círculo vicioso, no qual a inveja im~
tua pede uma introjeção adequada e isto, por sua vez, acentua a inveja. Os klei~
l ne nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeção, e os processos
com de fragmentação dos objetos, como a base de futuros transtornos psicóticos.
pro O excesso de inveja também pode acentuar a dissociação entre o objeto ide
veis. alizado e o persecutório, o que impede sua posterior integração e a elabora
i pe- ção da posição depressiva.
que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja, K1ein menciona:
cura a) os mecanismos precoces de dissociação, onipotência e negação são
cun- reforçados pela inveja;
b) a confusão é muitas vezes usada de maneira defensiva, para se opor
men à perseguição e também à culpa por ter danificado o objeto bom;
lcan,
110
mstitui 5. Algumas considerações sobre a técnica de Melanie Klein
primá
üentes; Se quisennos definir as características da técnica psicanalítica de Klein,
; teremos de afinnar, em primeiro lugar, que existe uma completa congruên
inveja; cia entre seus achados teóricos e as conclusões técnicas que implementa. E,
. a pró ao inverso, como já manifestamos, o campo de descobertas kleinianas se
mor de abre, a partir de uma técnica inovadora: incluir o jogo infantil como manei
ra de facilitar, em seus pequenos pacientes, a expressão de fantasias e confli
I que se tos inconscientes.
afastar Desde os primeiros trabalhos, foram estabelecidas algumas característi
cas que marcarão o rumo posterior da técnica kleiniana. O objetivo é anali
ão, evi sar os conflitos e fantasias inconscientes, o método é explorar sistematica
mente a transferência.
Lópeze Como Klein sustentou a importância que as fantasias, tanto agressivas
imentos como libidinais, têm no desenvolvimento mental, sua conseqüência lógica
ovérsias é supor que, no vínculo com o analista, produzir-se-ão tanto sentimentos
autores amorosos como hostis, pelo que seria necessário interpretar, sistematicamen
~rtos as- te, a transferência positiva e a negativa, para que o paciente possa chegar
perto da compreeensão de sua realidade psíquica. Klein repele qualquer me
a inveja dida de apoio ou conforto, que apenas serviria para mascarar o suceder es
) depen pontâneo de ocorrências que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos
~ o outro inconscientes do paciente. Ao interpretar a transferência positiva e negati
nsidade, va, tal como-aparece na mente do enfenno, o analista, com sua interpreta
:las tam ção, ajuda-Io-á a integrar os sentimentos ambivalentes em seus vínculos do
anto im presente e do passado, na realidade externa e em seu mundo interno. Qual
.tre inve quer medida técnica que favoreça a dissociação dos sentimentos, ajuda-nos
a inveja na integração, que é um dos principais objetivos terapêuticos. É necessário,
quando se quer obter estes êxitos, que o terapeuta tolere a transferência ne
ltrojeção gativa do paciente, quando este a expressa, consciente ou inconscientemen
lano dos te. ãs vezes, pode ser tentador, por exemplo, aceitar o deslocamento da hos
vida, em tilidade para o passado, aos vínculos do paciente com suas figuras primá
lrada no rias, às quais ele atribui, muitas vezes, todos os seus males. Desta fonna,
possibili "libera"-se o vínculo transferencial de sentimentos hostis e até se propicia a
.e as pul idealização do terapeuta. Isto, segundo as idéias de Klein, não ajudaria que
I posição o analisando avançasse em direção de sua saúde mental ou adquirisse uma
., surgem compreensão adequada de seu presente e de seu passado. Sem dúvida, no
wria for- tar-se-á a diferença existente entre esta concepção técnica da análise e a pro
destruti pugnada por outras correntes. Segundo Klein, a maneira de assegurar o vín
ssivo oti culo'terapêutico, desde os primeiros momentos do tratamento, é que o pa
sua obra. ciente se sinta aliviado em suas angústias e compreendido pelo terapeuta.
Só o que pode dar ao paciente esta segurança e confiança no processo tera
pêutico, dirá Klein, é que o analista interprete, em profundidade, as angús
tias e defesas em suas relações de objeto.
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~las envolve intensamente ambos os protagonistas, provocando, no paciente,
am uma confusão entre realidade externa e interna. O analista deve contar com
au um estado mental adequado, de modo a se envolver emocionalmente e, ao
~en mesmo tempo, poder sair deste compromisso afetivo, transformando-o em
~rio uma interpretação que devolva ao paciente os aspectos projetados. Eis a
ido idéia de contra-transferência. O analista deve conhecer e manejar seus pró
ms prios conflitos inconscientes, como parte dos instrumentos técnicos necessá
lein rios para poder analisar bem estas situações que se sucedem na sessão. Tu
. re do o que ali acontece deve se transformar em compreensão .
co Aqui se apresenta um problema interessante, do ponto de vista técni
co. Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na des
:or carga pulsional; portanto, era necessário interpretar as resistências, por se
lo o rem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que,
lsfe ao impedir esta descarga, provocavam o sintoma ou a perturbação do cará
ulos ter. O conhecimento e elaboração estão ligados à idéia de levantar os recal
ans camentos, permitindo uma melhor solução do conflito. Para Klein, o que
está importa é compreender as angústias que se desenvolvem na relação de obje
Isto to e, também, os mecanismos de defesa destinados a dissociar, negar, proje
ão é tar etc. aspectos da personalidade. O insight deve permitir o conhecimento
lten e a reintegração destes aspectos dissociados e projetados do selE. Isso permi
ma tirá uma compreensão vivencial do conflito e, principalmente, uma maior
:ien integração da personalidade. As mesmas idéias podem ser explicadas em
náli outros termos: os processos de introjeção e projeção regem o processo analí
·mas tico; graças a isso, o paciente mobiliza, na sessão, suas relações de objeto
uan internas, projetando-as no analista; este, mediante a interpretação, possibili
é se tará que tais relações de objeto se modifiquem, que o paciente possa então
ções reintrojetá-Ias, modificadas em sua estrutura.
lani Quando Klein formula a teoria das posições (1946, 1952), define-se
~der, um objetivo terapêutico central: elaborar a posição depressiva para obter a
~fesa integração do objeto e do ego. O insight consistirá em juntar emoções cari
onto nhosas e hostis em relação a um mesmo objeto, com os conseqüentes senti
eud, mentos de culpa e responsabilidade. O ponto crucial não é somente compre
; das ender, mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem.
ights Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de técnica é "On
the cri teria for the termination of a psycho-analysis" (1950). Nele, expressa
recer que se chega à etapa final de uma análise, quando foram diminuídas suficien
I seu temente as angústias paranóides e depressivas mediante a elaboração repeti
:om da de ambas as posições.
lcker Em "The origins of tranference" (1952b), reafirma que as interpreta
.enti ções devem explicar, tanto as relações de objeto precoces, que se reatualizam
)ciar e evoluem na transferência, como as fantasias inconscientes que o paciente
ana tem em sua vida atual. Aqui, sua perspectiva genética da transferência, pro
~z, o blema que já discutimos antes, é completada pela feliz idéia de situação to-
:esso
Bibliografia básica
Klein, M. (1928) "Estadios tempranos dei complejo de Edipo". Obras completas ... vol. 2, pag, 179.
Grinberg L. Ed. Buenos Aires: Paidós, 1974.
(1930) "La importancia de la formación de símbolos en el desarrollo dei yo". Obras completas .
.. vol. 2, p. 209, Grinberg, L. Ed. Buenos Aires: Paidós, 1974.
(1935) "Una contribuición a la psicogénesis de los estados maníaco-depresivos". Obras com
pletas ... vol. 2, p. 253. Grinberg, L. Ed. Buenos Aires: Paidós, 1974,
(1946) "Notas sobre algunos mecanismos esquizoides", Obras completas ... vol. 3, capo 9.
Grinberg, L. Ed. Buenos Aires: Paidós, 1974.
(1952) "AIgunas conc\usiones teóricas sobre la vida emocional dellactante". Obras comple
tas ... vaI. 3, capo 6. Grinberg, L. Ed. Buenos Aires: Paidós, 1974.
(1952a) "Los orígenes de la transferencía". Obras completas ... vol. 6, p. 261. Grinberg, L.
Ed. Buenos Aires: Paidós, 1974.
(1957) Envidia ygratitud. Obras completas ... vol. 6. Grinberg, L. Ed. Buenos Aires: Paidós, ]974.
Segal, H. (1964) Introducción a la obra de Melanie Klein. Buenos Aires: Paidós, 1965.
NOTAS
(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados, está o de Eisa dei
Valle (1979), La obra de Melanie Klein.
(2) Há anos escrevemos, com outros colegas, dois trabalhos: "Cuerpo, conocimiento y realidad" (Et
chegoyen, R. H. et a1., 1980) e "EI concepto de realidad en Melanie Klein" (Etchegoyen, R. H, et ai.
, 1984), em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver.
(3) Embora diversos autores concordem que o vocabulário freudiano foi deformado pelas diversas
traduções, continua-se a utilizar termos como "ansiedade", "instintos", "impulsos instintivos" e "cate
xias", entre outros, ao invés de "angústia", "pulsões", "moções pulsionais" e "investimentos", como
se demonstrou ser correto, após muita discussão. Propomo-nos, nesta e nas demais traduções, a pa
dronizar o vocabulário psicanalítico, valendo-nos do "Vocabulário de psicanálise", de Laplanche e
Pontalis, a quem o leitor pode se remeter, sempre que necessário. (Nota do tradutor).
(4) Liberman (1956) estudou a incidência da identificação projetiva no conflito matrimonial.
(5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificação projetiva, durante sua visita à Associa
ção Psicanalítica de Buenos Aires, há alguns anos. Suas idéias foram comentadas por Benito López
e Jorge Ahumada.
(6) Joan Riviere, uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano, na introdução ao livro Deve
lopments in psycho-analysis (1957.), também enfatiza que o aspecto essencial da defesa maníaca é a
intenção de enfrentar as angústias depressivas. Considera-as, em certos aspectos, como um passo
normal do desenvolvimento.
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