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MALVÁCEAS QUIABO, UMA CONTRIBUIÇÃO

AFRICANA

As malváceas – família à qual também pertence o algodoeiro – incluem apenas


uma cultura olerácea relevante para o Brasil: a do quiabeiro. Trata-se de hortaliça-fruto
apreciada por todas as camadas sociais, tendo sido introduzido por escravos africanos.
A espécie Abelmoschus esculentus é planta anual, arbustiva, de porte ereto e
caule semilenhoso que pode atingir 3 m de altura. É originária do continente africano,
possivelmente da Etiópia. Quando plantada em espaçamentos largos, ocorrem
ramificações laterais, o que é menos freqüente quando se aumenta a densidade de
plantio. As folhas são grandes, lobadas e com pecíolos longos.
O sistema radicular é profundo, com raiz pivotante, que atinge 1,9 m de
profundidade. Entretanto, pesquisas conduzidas no interior paulista com seis cultivares
constataram que a maior parte das raízes localiza-se até 20 cm de profundidade, o que
não invalida o fato de ser esta uma olerácea com boa resistência à seca.
As flores são grandes e amareladas. Os frutos, pilosos, são do tipo cápsula,
roliços, apresentando seção transversal circular ou pentagonal (fruto quinado). A
produção de frutos ocorre tanto na haste principal como nas laterais, iniciando-se com a
planta ainda com baixa altura.

Clima e Época de Plantio

Originário de regiões quentes da África, o quiabeiro exige temperaturas cálidas,


porém, é tolerante ao clima ameno. Entretanto, é intolerante ao frio, que retarda ou
mesmo impede a germinação e a emergência, prejudicando o crescimento, a floração e a
frutificação. As temperaturas invernais constituem fator limitante da produção contínua
de quiabo no centro-sul. Na verdade, trata-se de uma das espécies oleráceas mais bem
adaptada às condições tropicais.
Em regiões baixas e quentes, com inverno ameno, como a Baixada Fluminense e
a Baixada Cuiabana, pode-se semear ao longo do ano, inclusive durante o inverno,
propiciando ao produtor preços mais elevados na colheita. Todavia, na maioria das
regiões produtoras brasileiras, semeia-se durante a primavera-verão.
Experimentalmente, em Viçosa-MG, com fotoperíodo controlados de 8, 10, 12 e
14 horas de luz, a maioria das cultivares e linhagens pesquisadas demonstrou
sensibilidade. Assim, com o aumento do fotoperíodo, tornaram-se mais tardias em
produção, e o desenvolvimento vegetativo aumentou, ao se analisar a altura da planta e
o número de entrenós. No centro-sul, constata-se que o comprimento do dia não é fator
limitante à cultura, todavia as cultivares tornam-se mais precoces e alcançam menor
altura se semeadas durante o outono-inverno, sob dias mais curtos.
O quiabeiro pode adaptar-se bem á cultura em casa de vegetação, durante o
inverno, produzindo na entressafra. Também se podem produzir mudas em túneis. A
planta jovem necessita mais de calor que a planta adulta e a pequena elevação de
temperatura obtida (efeito estufa) acelera a germinação, a emergência e o
desenvolvimento inicial. Assim, quando plantada no local definitivo, o quiabeiro
suporta melhor a temperatura externa, no fim do inverno, mesmo sendo essa ainda
desfavoravelmente baixa.

Cultivares

São poucas as cultivares plantadas, sendo a maioria de origem nacional. A mais


destacada e disseminada é a cultivar Santa Cruz 47, que se caracteriza pela planta
vigorosa e de internódios curtos; o porte baixo, medindo em média 2 m, facilita a
colheita. Foi obtida por fitomelhoristas fluminenses. O limbo foliar dessa cultivar é
mais profundamente recortado; os frutos são de coloração verde-clara, cilíndricos, tendo
a ponta ligeiramente recurvada; o teor de fibra é menor em relação às cultivares mais
antigas. A produção é precoce e obtém-se produtividade elevada. Resistente à murcha-
verticilar e à podridão-úmida dos frutos, essa cultivar tornou-se padrão, adaptando-se às
mais diversas condições.
A cultivar Amarelinho apresenta porte mais alto. Produz quiabos cilíndricos, de
coloração típica, verde amarelada, com melhor conservação pós-colheita, em
comparação com outras cultivares.
Nos últimos anos vem crescendo o plantio de cultivares verdes, de fruto
quinados, do tipo produzido nos Estados Unidos. É o preferido nos mercados europeus e
norte-americano, sendo de aceitação restrita no Brasil

Solo e Adubação

A cultura do quiabeiro é uma das mais intolerantes à acidez elevada do solo,


sendo mais favorável o pH de 6,0 a 6,8. Ao efetuar calagem, deve-se elevar a saturação
por bases para 70% e procurar atingir o pH 6,5. Quanto ao tipo de solo, apresenta ampla
adaptabilidade, desde que a drenagem seja favorável.
Experimentalmente, tem sido demonstrado que essa cultura responde a
aplicações de P e N. Para prevenir injúria à semente, muito sensível, a maior parcela da
adubação nitrogenada deve ser aplicada em cobertura. A adubação orgânica é benéfica
em solos pobres, se aplicada ao sulco de plantio, porém com antecedência da
semeadura. A aplicação de termofosfato magnesiano ao sulco, juntamente com os
materiais orgânicos, também é favorável.
Em solos de fertilidade mediana ou baixa, na ausência de dados de pesquisa
regionais, sugerem-se as seguintes doses de macronutrientes (kg/ha), aplicadas por
ocasião do plantio:

N: 20
P2O5: 150 – 350
K2O: 60 – 80

Em cobertura, aplicam-se 100-160 kg/ha de N, e pode-se aplicar 80-100 kg/ha


de K2O (em solos deficientes), doses essas divididas em 4-5 aplicações. Iniciam-se as
adubações em cobertura por ocasião do desbaste das plantinhas, com intervalos de 30
dias. Fontes contendo N na forma nítrica, acompanhada por Ca ou K, são mais
favoráveis.
Tem sido constatada, experimentalmente, a elevada sensibilidade da semente ao
contato direto com fertilizantes minerais, especialmente aqueles contendo N e K.
Previnem-se danos, localizando-se os adubos no fundo do sulco de semeadura e
cobrindo-os com uma camada de solo retirada da superfície. Semeia-se, então, sobre
essa camada, manualmente. Note-se que a aplicação exclusiva de superfosfato simples,
incorporado ao sulco, não ocasiona quaisquer danos à semente.
É prudente utilizar um mínimo de N-mineral junto à semente, completando-se
com coberturas nitrogenadas. O ideal é que a adubação de plantio, pobre em N, seja
distribuída em um filete contínuo, situado abaixo e ao lado da semente, à cerca de 5 cm.
Isso é obtido ao se usar semeadeira-adubadeira.

Implantação da Cultura

A semeadura direta é usualmente empregada. Freqüentemente ocorre a


dormência das sementes, provocada pela impermeabilidade do tegumento à água,
resultando em germinação demorada e emergência irregular, que se estende por 15-20
dias. Obtém-se a quebra da dormência imergindo as sementes em álcool etílico ou
acetona durante 30-60 minutos, previamente à semeadura. Outra alternativa é colocá-las
em um saquinho de pano e imergi-las em água durante 24 horas, na véspera do plantio.
Em geral semeiam-se, manualmente, 3-5 sementes por vez, à profundidade de 20
a 30 mm. Melhor desempenho obtém utilizando semeadeira-adubadeira, que localizam
sementes e adubos em dois filetes, a uma conveniente distância.
Podem ser formadas mudas em túneis ou casas de vegetação. A intolerância da
planta ao transplante pode ser contornada, não se danificando a raiz pivotante, que deve
ser protegida por torrão. Tais mudas são formadas em copinhos de papel de jornal ou
em saquinhos plásticos, ambos medindo 15 cm de altura e 6 cm de diâmetro.
Transplantam-se as mudas antes que a raiz alcance o fundo do recipiente, conservando o
papel, porém retirando o plástico, se for o caso.
O espaçamento entre fileiras varia de 100 a 120 cm. Dentro das fileiras, a
melhor opção é deixar plantas isoladas, espaçadas de 20-30 cm, conseguindo-se assim a
produção na haste principal. Também pode-se optar por grupos de duas plantas juntas,
com a distância de 50 cm entre os pares.

Tratos Culturais

Trata-se de uma cultura rústica, sem muitas exigências de tratos culturais.


Entretanto, o desbaste das plantas daninhas é obrigatório, na semeadura direta, ao
atingirem 15-20 cm de altura, deixando-se uma a duas por vez. Assegura-se uma cultura
sem falhas nas fileiras semeando-se em excesso, com posterior desbaste.
O quiabeiro é planta pouco exigente de água, motivo pelo qual a cultura de
primavera-verão não requer irrigação, mesmo com irregularidades pluviométricas. No
outono-inverno, efetua-se a irrigação no sulco, comumente. A rega por aspersão
também é utilizada, neste caso elevando-se os aspersores por meio de tripés – uma
desvantagem a ser considerada. O gotejamento é uma possibilidade que deve ser
efetuada.
Alguns olericultores utilizam a poda de renovação, constituindo no corte da
haste, a 15-20 cm do solo, feito aos 5-6 meses da semeadura, ou aos três meses do inicio
da colheita, quando essa se torna deficiente. Essa poda tem sido aplicada em Itaguaí-RJ,
revigorando a produção. Dias antes, aplica-se adubação nitrogenada, em cobertura,
seguindo-se as irrigações necessárias. Em outras regiões produtoras brasileiras, bem
como no exterior, a poda não é praticada.
O controle das plantas invasoras é feito por meios mecânicos ou manualmente.
Evitem-se capinas profundas, que podem danificar as raízes. Não há tradição no uso de
herbicidas.

Anomalias Fisiológicas

A queda de flores e de frutinhos pode ser provocada pelo frio intenso, quando
não o for fitopatogênicos. Se injuriados, durante a colheita, os frutos tornam
enegrecidos. Outras anomalias fisiológicas não ocorrem comumente nessa cultura.
Colheita e Comercialização

As cultivares nacionais iniciam o período produtivo já aos 60-75 dias da


semeadura, na cultura de primavera-verão e, aos 85-100 dias, no outono-inverno. A
colheita prolonga-se por 5-8 meses em temperaturas favoravelmente cálidas ou, por
apenas 3-4 meses, em temperaturas amenas ou baixas. A produtividade é muito
variável, normalmente em torno de 15-20 t/ha.
Em ponto de colheita, os frutos imaturos apresentam-se tenros, com 10-16 cm –
o comprimento ditado pela preferência do consumidor. Nesse estádio, a ponta pode ser
quebrada facilmente com os dedos – um teste praticado pela dona-de-casa, para
desespero dos varejistas. Cortam-se os pedúnculos com canivete afiado, rente ao fruto,
mas sem causar ferimentos. Obtém-se melhor qualidade e produtividade mais elevada
quando se colhe diariamente ou em dias alternados. Devem-se evitar os frutos
“passados”, já que a permanência destes na planta prejudica o desenvolvimento dos
frutinhos, diminuindo a produtividade.
É comum manifestarem-se sintomas de alergia entre os operários, provocado
pelo contato da pele com folhas e frutos. Assim, roupas que protegem o corpo devem
ser usadas, como macacões de brim, com mangas compridas, e luvas de tecido grosso.
Para minimizar a irritação, há quem colha nas primeiras horas da manhã, com plantas e
frutos orvalhados. Entretanto, colhidos ainda úmidos, os quiabos desenvolvem manchas
escuras. Então, é preferível colhê-los à tardinha, assegurando-se aos operários proteção
adequada.
Os mercados brasileiros geralmente preferem frutos cilíndricos, com cerca de
10-14 cm de comprimento, não aceitando frutos tortos. A preferência é por frutos com
seção circular, sendo aqueles “quinados” desvalorizados em tais mercados. Embala-se o
produto em caixa tipo “K”, que comporta 16-18 kg. Caixas de papelão ondulado, de
medidas similares, propiciam melhor conservação, com menor perda de peso dos frutos,
sendo melhor alternativa. Caso o quiabo se torne produto de exportação, com as
cultivares de frutos quinados, é possível que tais caixas venham ser adotadas.
Por ser um produto altamente perecível o quiabo deve ser mantido em
temperatura ambiente, por mais de 24 horas. A comercialização deve ser feita
imediatamente após a colheita. Se o manuseio for descuidado há escurecimento das
áreas afetadas. Experimentalmente, em Campina-SP, foi demonstrado que o
resfriamento após a colheita e a estocagem a 8 ºC e 90% de umidade relativa do ar
possibilitaram boa conservação durante cinco dias. Ao final, os frutos apresentavam
bom aspecto, sem injúria pelo frio, com coloração normal e ausência de deterioração.
O preço mais elevado no meio do ano, de junho a agosto, devido à sensibilidade
dessa cultura ao frio invernal, resultando em menor oferta. Então, podem justificar-se os
artifícios utilizados para se obter colheita nessa época, como a produção de mudas sob
túnel ou até conduzir a cultura sob a casa de vegetação. Logicamente que o custo de
produção se eleva, o que pode ser compensado pelas cotações mais elevadas obtidas na
entressafra

BIBLIOGRAFIA

FILGUEIRA, Fernando Antônio Reis, 1937 – Novo manual de olericultura:


agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças – 3ª Ed. rev. e
ampl. – Viçosa, MG : Ed. UFV, 2007.

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