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Seção I

E ntendimento do Fenômeno Convencional

7. Conceito. Tratado é acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito


internacional público e destinado a produzir efeitos jurídicos. É um simples instrumento,
identificado pelo processo de produção e pela forma final, não pelo conteúdo.

Conteúdo: variável ao extremo; cobertura legal da sua própria substância. Conteúdos


abrangentes (constituição de organizações internacionais, serviço diplomático, solução
pacífica de litígios, etc.) interessam mais ao direito das gentes.

8. T erminologia. O uso da terminologia é livre, indiscriminado e ilógico. experiência


convencional brasileira demonstra as variantes terminológicas de tratado concebíveis em
português: acordo, ajuste, arranjo, ata, ato, carta, código, compromisso, constituição,
contrato, convenção, convênio, declaração, estatuto, memorando, pacto, protocolo e
regulamento.

Nomes compostos carregam mais informações, trazem significados mais específicos, como
acordo de sede (tratado bilateral; uma das partes é organização internacional e outra Estado;
tema é regime jurídico da instalação física da organização no território do Estado) ou
compromisso arbitral (tratado pelo qual dois Estados submetem à arbitragem certo litígio).

O uso é aleatório, mas na maioria das vezes são usados com preferência os seguintes termos:
(i) carta e constituição: tratados constitutivos de organizações internacionais; e (ii) ajuste,
arranjo, memorando: tratados internacionais de importância reduzida.

Concordata tem significação singular: nome estritamente reservado ao tratado bilateral em


que uma das partes é a Santa Sé e que tem por objeto a organização do culto, da disciplina
eclesiástica, missões apostólicas, etc.

9. Formalidade. O tratado é acordo formal : exprime-se com precisão em determinado


momento histórico e seu teor tem contornos bem definidos. É o principal elemento distintivo
entre tratado e costume (acordo entre pessoas jurídicas internacionais, não menos propenso a
produzir efeitos jurídicos). Precisa ser escrito, documental. É o acordo expresso. Não é
cabível a oralidade.
Acordo concluído é aquele que, não só está efetivamente acabado, com o término das
negociações, mas também compreende a confirmação do compromisso e a sua entrada e m
vigor. Antes disso, somente se trata de projeto concluído.

10. A tores. As partes, em todos os tratados, são necessariamente pessoas jurídicas de


direito internacional público, ou seja, Estados Soberanos (e equiparados, como a Santa Sé) e
organizações internacionais. Empresas privadas carecem de capacidade para celebrar
tratados.

11. E feitos Jurídicos. O tratado internacional deve ser visto na dupla qualidade: é ato
jurídico que produz a norma, desencadeando efeitos de direito, gerando obrigações e
prerrogativas.

Diferencia-se o JHQWOHPHQ¶V DJUHHPHQW do tratado pela qualidade dos atores: não é um


compromisso entre Estados, mas sim um pacto pessoal entre os estadistas, fundamentado
sobre a honra e condicionado à permanência de seus atores no poder. Não é, portanto, tratado,
pois carece de atores capazes (pessoas jurídicas de direito internacional). Tende a não
produzir efeitos jurídicos, apenas a firmar compromissos morais. Exemplo: Carta do
Atlântico, firmada pelo presidente americano Roosevelt e pelo primeiro-ministro britânico
Churchill. Variantes: expedição de declarações ou comunicados comuns quando dois chefes
de Estado ou de governo se encontram.

12. Regência do direito internacional. Segundo os redatores da Convenção de Viena, o


tratado é um compromisso celebrado por escrito entre Estados e regido pelo direito
internacional. Se um compromisso entre Estados não for regido pelo direito internacional,
carece da qualidade de tratado. Na realidade, porém, nenhum acordo entre Estados escapa à
regência do direito internacional.

13. Base instrumental. O tratado pode instrumentalizar-se em duas ou mais peças


documentais distintas. Isso é óbvio quando o tratado se faz acompanhar de anexos. Mas pode
se desdobrar em textos ± via de regra, dois textos ± produzidos em momentos diversos, cada
um deles firmado em nome de uma das partes apenas.

a) Troca de notas: um meio de comunicação. A conversação diplomática faz-se


rotineiramente por notas escritas, assinadas ou com o selo ou carimbo do país. Estas não
são, necessariamente, as trocas de notas no direito convencional. As trocas de notas
somente ocorrem quando é possível determinar a presença do ani mus contrahendi (partes
entraram em acordo destinado a produzir efeitos jurídicos, criando o vínculo
convencional ).

b) Troca de notas: um método negocial. A troca de notas é a que possui ânimo


convencional, intenção de celebrar acordo autêntico. Não é variante terminológica de
tratado internacional. É método negocial, via de conclusão de tratados bilaterais.

Seção I I
C lassificação dos T ratados

14. Proposição da matéria. Os tratados serão classificados por dois critérios de índole
formal e três de índole material.

15. Número de partes. Diz-se bilateral o tratado se somente duas as partes, e multilateral ou
coletivo em todos os outros casos.

16. Procedimento. Análise do procedimento adotado para a conclusão do tratado.

Deve haver duas fases de consentimento das partes: (i) a da assinatura, como consentimento
prenunciativo; e (ii) a da ratificação, como consentimento definitivo. Se o quadro
procedimental for unifásico, o consentimento definitivo se exprime já na assinatura. Cria-se,
assim, as condições para a vigência do contrato.

Os tratados de procedimento breve, que prescindem de ratificação, têm servido à conclusão de


tratados bilaterais e de importância limitada. Este procedimento convive melhor com o
sistema de troca de notas, mas ao mesmo tempo não costuma oferecer lugar na participação
ao chefe de Estado, pois o ministro das relações exteriores é quem fala e assina pelo
Executivo.

Cuidando dos tratados de procedimento breve, os quais são vigentes desde a assinatura, sem
necessidade de ratificação, chega-se também no acordo executivo. O acordo executivo é
expressão criada nos EUA para designar o tratado que se conclui pelo chefe do poder
Executivo, independente de parecer ou consentimento do Senado.

17. Natureza das normas. Distinção: tratados contratuais são aqueles pelos quais as
partes realizam uma operação jurídica (comércio, aliança, cessão territorial); tratados
normativos, por sua vez, são aqueles por cujo meio as partes editam uma regra de direito
objetivamente válida. Nota: um mesmo tratado pode abrigar elementos normativos e
elementos contratuais.

18. E xecução no tempo. Tratado que cria situação estática, objetiva, definitiva é
instantâneo, declaratório, dispositivo. Instituem quadro jurídico que se pretende eterno. Opera
para fundamentar, a todo tempo, a legitimidade da situação que nele encontra origem. Ex:
tratado de fronteiras; tratados de transferência de bens.

Tratados que criam situação dinâmica podem vincular as partes por prazo certo ou indefinido.
São contínuos, extensos no tempo. Ex: tratados de aliança, de comércio, de extradição, de
cooperação científica, etc.

19. E xecução no espaço. Questão do alcance espacial do tratado. Em regra, aplica-se


somente ao território sujeito à soberania pactuante. Mas quando há, p. ex., tratado de
comércio entre a Inglaterra e o Uruguai, por mais que se presuma que tenha validade em todo
o território do Estado pactuante, a natureza do compromisso não o deixa viger somente no
dito território (somente na Inglaterra, p. ex.). Segundo a Convenção de Viena, o tratado obriga
cada uma das partes em relação a todo o seu território.

Seção I I I
Produção do T exto Convencional

20. Competência negocial. Cuida-se de determinar quem age em nome das pessoas
jurídicas capazes de celebrar contratos.

a) Chefes de Estado e de governo. No regime presidencialista se confundem. No


parlamentarista, chefe de Estado é pessoa diversa do chefe de governo, o qual é o
primeiro-ministro, regente do gabinete. Qualquer um deles, chefe de Estado e chefe de
governo, têm estatuto de representatividade originária , simplesmente por serem quem
são. Prescindem da apresentação da carta de plenos poderes (obviamente).

b) Plenipotenciários. Possuem qualidade representativa o ministro de Estado responsável


pelas relações exteriores (capacidade de representação ampla) e o chefe de missão
diplomática (capacidade de representação limitada: apenas para negociações de tratados
bilaterais). Sua representatividade é derivada. Prescindem, também, da apresentação da
carta de plenos poderes.
Demais plenipotenciários (diplomatas, outros ministros de Estado ou servidores públicos)
apresentam também qualidade representativa, desde que apresentem a carta de plenos
poderes, que deve ser expedida pelo chefe de Estado, independentemente de se tratar de
regime presidencialista ou parlamentarista.

c) Delegações nacionais. Pluralizar a representação do Estado é oneroso, portanto é


preferível fazê-lo na fase negocial. O chefe hierárquico da delegação detém a carta de
plenos poderes, e os demais integrantes têm por incumbência dar-lhe o suporte que
requeira.

21. Negociação bilateral: roteiro e circunstâncias. Em regra, desenvolve-se no território


de uma das partes contratantes. A falta de relacionamento diplomático permanente entre dois
Estados não impede que o preparo de um tratado bilateral se faca no território de um deles.
Alguns fatores, porém, apontam como preferível que se negocie em território de terceiro: (a)
clima de animosidade ou desconfiança entre as partes; e (b) vantagem operacional e
econômica representada pelo cenário neutro, onde se encontrem representações diplomáticas
permanentes dos dois pactuantes.

Se as partes falam o mesmo idioma, nele se desenvolve a negociação e se lavra o texto do


tratado. Se as partes não falam o mesmo idioma, a negociação deve acontecer no idioma que
ofereça maior comodidade. Deve resultar em um texto convencional: (a) lavrado numa única
versão autêntica; (b) lavrado em duas versões autênticas e de igual valor (preferido); (c)
lavrado em mais que duas versões autênticas de igual valor; ou (d) lavrado em duas ou mais
versões autênticas, mas com privilégio assegurado a uma única versão para efeito de
interpretação. Nota: entende-se como versões os instrumentos lavrados em línguas diferentes.

O texto deve resultar do consenso entre as partes, co-responsáveis por sua formulação. A
assinatura do texto convencional é ato idôneo para sua autenticação, assim como o é a
assinatura ad referendum ou a rubrica ± decorrências usuais do fato de não se encontrar o
negociador munido de poderes para assinatura normal. Este consentimento, representado pela
assinatura do texto, alcança somente a redação do texto, sendo prenunciativo da expressão de
vontade de assumir compromisso.

22. Negociação coletiva: roteiro e circunstâncias. Reclama a convocação de uma


convenção diplomática internacional, votada à feitura de um ou mais tratados,
exclusivamente, ou de discussão mais ampla, mas que abranja uma produção convencional.
Se a iniciativa for de uma organização internacional, a convenção pode ser feita em seu
interior. Caso contrario, impõe-se o entendimento oportuno com o Estado que ofereça seu
território.

Se houver presença da pluralidade idiomática, deve-se eleger os idiomas de trabalho negocial


e os idiomas em que pretendem lavrar as versões autênticas do texto acabado.

O ideal do assentimento unânime é de mais árdua conquista; há de se aceitar o fenômeno da


sucumbência, quando os minoritários forem opostos por uma grande maioria (dois terços é a
maioria consagrada pela Convenção de Viena). Contudo, busca-se, preferencialmente, o
consenso, atingido por mútua transigência.

Os tratados multilaterais necessitam, normalmente, da ratificação de cada Estado pactuante


para obrigá-lo. A não assinatura por parte de um Estado que integrou os trabalhos negociais é
um gesto sem significado jurídico, mas no plano político mostra a insatisfação com o texto
acabado e a provável não ratificação.

23. Estrutura do tratado. Sempre tem um preâmbulo, seguido da parte dispositiva.


Eventualmente, o texto é complementado por anexos.
O preâmbulo enuncia o rol das partes pactuantes, e diz dos motivos, circunstâncias e
pressupostos do ato convencional. As considerações não integram a parte compromissiva do
contrato. Apresentam, porém, valioso apoio à interpretação do tratado.
O dispositivo lavra-se em linguagem jurídica, com construções que têm feitio de normas,
ordenadas e numeradas como artigos ou, algumas vezes, cláusulas.
Os anexos também fazem parte do teor compromissivo do tratado. Normalmente inserido para
não contaminar a linguagem jurídica do dispositivo com outro tipo de linguagem (numérica,
p. ex.). Podem ser uma lista de produtos químicos, de cereais, de entorpecentes, de espécies
de fauna ou flora, etc.

Seção I V
E xpressão do Consentimento

24. Assinatura. Tratando-se aqui da firma que põe termo a uma negociação. Fixa e autentica o
texto compromissivo e exterioriza o consentimento das partes. Neste caso, não se fala em
perspectiva de ratificação; o tratado tem condição de vigência imediata, a não ser que
diversamente disposto em cláusula (vacatio legis). A dilação de entrada em vigor não pode
obscurecer a certeza do compromisso internacional já firmado.
25. Intercâmbio instrumental. Na troca de notas, o consentimento depende de manifestação
ulterior das partes. O ato expressivo do consentimento não é a assinatura de uma ou outra
nota, mas sim a troca de notas, a sua transmissão à parte co-pactuante.

26. Ratificação: entendimento. O termR ³UDWLILFDomR´ VLJQLILFD SHOR PHQRV TXDWUR


coisas distintas:

a) o ato do órgão estatal próprio (soberano, presidente) que exprime a vontade do Estado de se
obrigar por um tratado;

b) o procedimento internacional pelo qual o tratado entra em vigor, ou seja, a troca ou depósito
formal dos instrumentos de ratificação;

c) o próprio documento, selado ou de outro modo autenticado, em que o Estado exprime sua
vontade de se obrigar pelo tratado;

d) a aprovação do tratado pela legislação ou por outro órgão estatal cujo consentimento possa ser
necessário (ratificação no sentido popular ± deve ser evitado).

É, portanto, ato internacional e ato de governo.

O poder Executivo é quem ratifica os tratados; os Parlamentos nacionais não ratificam


tratados pois não têm voz no exterior e também, conseqüência da falta de contato com os
Estados estrangeiros, pois nada lhes terão prenunciado, antes, por assinatura ou ato
equivalente, que possam mais tarde confirmar pela ratificação.

&RQFOXVmR³UDWLILFDomRpRDWRXQLODWHUDOFRPTXHDSHVVRDMXUtGLFDGHGLUHLWRLQWHUQDFLRQDO
signatária de um tratado, exprime definitivamente, no plano internacional, sua vontade de
obrigar-VH´

D I R E I T O I N T E R N A C I O N A L PÚ B L I C O
R ESU M O ± 2ª. PA R T E

27. Ratificação ± características:


- no passado, a ratificação se justificava pelo fato de ser uma garantia do soberano o controle
da ação de seus plenipontenciários (confirmação pelo soberano de um ato de seu funcionário)
- o intervalo de tempo entre a assinatura do tratado e sua ratificação era necessário para se
poder refletir sobre a qualidade do trabalho realizado no exterior.
- hoje, há 3 motivos importantes para a prática da ratificação: importância da matéria
necessita do pronunciamento pessoal do chefe de Estado; previne abuso de poder do
plenipotenciário; permite a participação do P. L egislativo na formação da vontade do
Estado.
a) Competência:
- cabe à ordem constitucional interna de cada Estado determinar a competência de seus
compromissos internacionais; ela tem sido atribuída, nas diversas ordens jurídicas, ao P.
Executivo.
- a Convenção de Viena ± fiel aos costumes ± estabeleceu que chefes de governo e ministros
do exterior também são competentes para conclusão de tratados.
b) Discricionariedade:
- A assinatura por si só não tem a pretensão de vincular o Estado (nem mesmo o governo do
Estado), pois senão a ratificação não faria sentido.
- Prevalece, assim, o princípio da discricionariedade da ratificação: não comete qualquer
ilícito internacional o Estado que se abstém de ratificar. Além disso, não existe um prazo
máximo para que se faça a ratificação.
c) Irretratabilidade:
- A ratificação é ato unilateral e discricionário e ir retratável; isso vale antes mesmo que a
regra pacta sunt servanda comece a operar plenamente. Essa mesma regra responde pela
irretratabilidade das ratificações.
- Duas espécies de lapso temporal: (1) período em que uma parte que já ratificou aguarda a
ratificação de outra parte; (2) período em que, consumado o pacto, há a espera para
acomodação, previsto no próprio texto.

28. Ratificação ± for mas:


- Por ser a ratificação o meio de expressão definitiva do consentimento, ela deve ser
expressa $ ³UDWLILFDomR WiFLWD´ VHULD R FRPSRUWDPHQWR FRHUHQWH GR (stado em relação ao
teor do pacto) não é hábil para caracterizar tamanho ato jurídico.
- 1RGLUHLWR³WXGRTXDQWRpQHFHVVDULDPHQWHIRUPDOKiGHVHUQRPtQLPRH[SUHVVR´
- A ratificação se dá por completo com a comunicação formal à outra parte, ou ao depositário,
da vontade definitiva de entrar no domínio jurídico do tratado.
- Essa comunicação prescinde de documento escrito, podendo ser oralmente, ou via
telegráfica.
29. Ratificação ± o depositário:
- Tratados coletivo dispensam ratificação perante cada um dos pactuantes; há, aqui, o depósito
- Depositário, encargo de índole secretarial, no pós guerra recaiu sobre a figura da ONU.
- Modernamente, recai não sobre uma organização, mas sobre seu funcionário mais graduado,
como o secretário-geral da ONU, por exemplo.

30. Pressupostos constitucionais do consentimento ± generalidades:


- No direito das gentes, os governantes habilitados devem proceder na conformidade da
respectiva ordem interna. O consentimento convencional se materializa num ato de governo.
Pressuposto: a consulta ao P. Legislativo.

31. Pressupostos constitucionais do consentimento ± o sistema brasileiro:


- &DEHDR&RQJUHVVR³UHVROYHUGHILQLWLYDPHQWHVREUHRVWUDWDGRVHFRQYHQo}HVFRPDVQDo}HV
HVWUDQJHLUDV´ FRPSHWLQGR DR SUHVLGHQWH GD 5HS~EOLFD ³ FHOHEUDU DMXVWHV FRQYHQo}HV H
tratados, sempre ad referendum GR&RQJUHVVR´

2SUREOHPDGRV³DFRUGRVH[HFXWLYRV´
-Os que defendem a prática de acordos executivos invocam a necessidade de decisões simples
diante da velocidade com que passam as coisas na política internacional e repudiam a lentidão
das decisões parlamentares.
- Esse discurso é falso, pois o governo pode demorar mais dos que os parlamentares quando
de uma decisão. A demora eventual do Legislativo é companheira da indiferença do
Executivo em relação ao andamento do processo

33. Acordos executivos possíveis no B rasil:


- Apesar de tudo, o acordo executivo ± carente de aprovação individualizada do Congresso ±
é uma prática aceitável desde que busque encontrar na Constituição sua sustentação.
- 3 categorias: (1) acordos que consignam a interpretação de cláusulas de um tratado já
vigente; (2) acordos que decorrem de outro, caracterizando-se como complementação; (3)
acordos que estabelecem bases para negociações futuras.
- O acordo executivo como expressão de diplomacia ordinária; é da competência privativa do
presidente da República manter relações com Estados estrangeiros (tradição brasileira)
- Incumbe ao governo estabelecer e romper, a seu critério, relações diplomáticas.

34. Procedimento parlamentar :


- Não pode o presidente da República manifestar consentimento definitivo, em relação ao
tratado, sem o abono do Congresso Nacional. A assunção de um compromisso externo é
assentada sobre a vontade conjugada de dois poderes políticos.
- O presidente remete ao Congresso, por mensagem, o inteiro teor do projeto, bem como a
exposição de motivos feita pelo ministro das Relações Exteriores.
- A matéria é discutida e votada, primeiro na Câmara, depois no Senado. É necessária a
aprovação em ambas as casas. A votação em plenário requer o quorum comum de presença ±
maioria absoluta.
- Decisão de aprovação: decreto legislativo, publicado pelo presidente do Senado no DOU.

35. Reservas:
- A reserva é um qualificativo do consentimento. Segundo a Convenção de Viena, é a
declaração unilateral do Estado que consente, visando a excluir ou modificar o efeito jurídico
de certas disposições do tratado em relação a esse Estado.
- A reserva é a maneira de tornar possível que o Estado possa entrar no domínio jurídico do
tratado, não obstante não aceite parte de seu teor.
- 1mRVHDGPLWHQRHQWDQWRUHVHUYDVHPWUDWDGRVELODWHUDLV³8PDSUHWHQVDUHVHUYDDWUDWDGR
ELODWHUDOQmRpUHVHUYDPDVUHFXVDGHFRQILUPDURWH[WRDYHQoDGRHFRQYLWHjUHQHJRFLDomR´
- Alguns tratados multilaterais, por sua natureza, também não admitem reservas, como as
convenções internacionais do trabalho.
- Convenção de Viena; a reserva é possível, desde que compatível com o objeto e a finalidade
do tratado.

36. V ícios de consentimento:


a) Consentimento expresso com agravo ao direito público interno:
- Ilícito praticado pelo P. Executivo, no plano do direito internacional, quando realiza um
consentimento a que não está constitucionalmente habilitado.
- Nem mesmo a regra do pacta sunt servanda pode convalidar na ordem interna um
incompetente ato internacional consumado.
b) Erro, dolo, corrupção e coação sobre o negociador:
- O erro, aqui, é o erro de fato, geralmente incidem sobre questões cartográficas em tratados
de limite.
- Quanto à coação sobre o negociador, o passado oferece exemplos, quando a vítima se
encontrava em posição hierárquica inferior. (Papa Pascoal II e Henrique V do Sacro Império,
este ficou preso até que assinasse um tratado)
c) Coação sobre o Estado:
- Convenção de VLHQD³&RDomRGHXP(VWDGRSHODDPHDoDRXHPSUHJRGDIRUoDeQXORXP
tratado cuja conclusão foi obtida pela ameaça ou o emprego da força em violação dos
SULQFtSLRVGRGLUHLWRLQWHUQDFLRQDOLQFRUSRUDGRVQD&DUWDGDV1Do}HV8QLGDV´
- Exemplo: 1939, Alemanha submeteu a Tchecoslováquia à sua soberania, mediante ameaça
de bombardeio de Praga.
- Tratados de paz, considerados desiguais, uma vez que são conseqüência inevitável da guerra
e não há como prevenir os efeitos negativos sobre o ideal do livre consentimento.

SE Ç Ã O V ± E N T R A D A E M V I G O R

37. Sistemas:
a) Vigência contemporânea do consentimento:
- Tratados bilaterais, independentemente da questão de se saber se haverá consulta ao
parlamento; assinatura para efeito autenticatório do texto; expresso o consentimento das
partes, a vigência será imediata.
- Não há previsão de vacatio. Consentimento: será equiparada à ratificação ± mútua
notificação ou aviso.
b) Vigência diferida:
- Vacatio real utilidade: permite que o tratado seja conhecido internamente e passa a viger no
mesmo momento que internacionalmente.

38. Registro e publicidade:


- História diplomática brasileira é permeada por cláusulas secretas. Em 1919 houve uma
proibição a esse tipo de diplomacia
- Pacto da Sociedade das Nações: todo pacto deverá ser registrado; nenhum tratado ou
compromisso internacional será obrigatório antes de ter sido registrado.
b) O Sistema das Nações Unidas:
- a obrigação de registrar desaparece para as demais partes quando a tenha feito uma delas.
c) Registros regionais e especializados:
- Organizações regionais que registram todos os seus compromissos, e especializadas, em que
há o registro de certos acordos, em função de ratione materiae.

39. Incorporação ao direito interno


- Deve o tratado compor, desde quando vigente, a ordem jurídica nacional de cada Estado-
parte. Poderão cumpri-lo os particulares, os governantes (sob ciência e vigilância daqueles), e
poderão garantir-lhe vigência os juízes e tribunais.
- O direito internacional é indiferente ao método escolhido pela Estado para promover a
receptação da norma convencional.

40. Promulgação e publicação de tratados no B rasil


- Presume-se sempre publicidade oficial, dependendo dela para integrar o acervo normativo
nacional, habilitando-se ao cumprimento por particulares e governantes.
- São promulgados por decreto do presidente da República todos os tratados que tenham sido
aprovados no Congresso antes da ratificação.
- 6mR SXEOLFDGRV QR '28 RV ³WUDWDGRV H[HFXWLYRV´ D VLPSOHV SXEOLFDomR GHVVHV WUDWDGRV
garante a introdução no ordenamento jurídico nacional.
Seção V I ± O T R A T A D O E M V I G O R

41. E feito entre as partes

O tratado terá a estrutura hierárquica de uma lei nacional, ou mais que isto, conforme
o Estado de que se cuide. Importa que se retenha desde logo a noção de que o tratado, embora
produzido em foro diverso das fontes legislativas domésticas, não se distingue, enquanto
norma jurídica, dos diplomas legais de produção interna.

42. E feitos sobre terceiros

a) E feito difuso: as situações jurídicas objetivas


Acordos realizados entre Estados, modificando suas situações jurídicas, se impõe,
indiscriminadamente aos terceiros em geral, ainda que somente para se inteirarem da nova
situação.

b) E feito aparente: a cláusula de nação mais favorecida


Este é o caso em que determinado terceiro sofre consequências direitas de um tratado
(geralmente bilateral), por força do disposto em tratado anterior, que o vincule a uma das
partes.

c) Previsão convencional de direitos para terceiros


A Convenção de Viena estipula, no art. 36, que mesmo a criação de direitos para um terceiro
reclama o consentimento deste, mas lembra que o silêncio faz presumir sua anuência.

d) Previsão convencional de obrigações para terceiros. O sistema de garantias


'D &RQYHQomR GH 9LHQD ³$UW  7UDWDGRV TXH FULDP REULJDo}HV SDUD WHUFHLURV (VWDGRV
Uma obrigação surge para um terceiro Estado, de uma disposição de um tratado, se as partes
no tratado têm a intenção de criar a obrigação por meio dessa disposição, e o terceiro Estado
DFHLWDH[SUHVVDPHQWHSRUHVFULWRHVVDREULJDomR´
43. Duração
Tratados de vigência estática, qual o de compra e venda de território ou fixação de
limites, celebram-se para viger em perpetuidade. Os restantes, de vigência dinâmica,
perfazem a grande maioria numérica, e em geral dispõem sobre sua própria duração. Quando
não o fazem, isso indica que o tratado vigerá por tempo indeterminado.

44. Ingresso mediante adesão


A adesão é uma forma de expressão definitiva do consentimento do Estado em
relação ao tratado internacional. Sua natureza jurídica não difere daquela da ratificação.
O aderente é, em princípio, um Estado que não negociou nem assinou o pacto (e por
isso não pode ratificá-lo), mas que, tomado de interesse por ele, decide tornar-se parte.
Todo Estado que tenha interesse em ingressar mediante adesão num tratado coletivo
deve certificar-se de que esse tratado é aberto, e de que os eventuais limites dessa abertura
não excluem sua pretensão adesiva.

45. E mendas
Na União Européia, nenhum tratado se emenda sem o assentimento unânime das
partes, aberta a cada uma delas a iniciativa de propor a emenda.
A OEA prevê sua própria emenda pelo voto mínimo de dois terços das partes.
A iniciativa de emenda pode vir de qualquer Estado parte no tratado: esta regra
aparentemente não conhece exceções.
Revisão ou reforma é o nome que se tem dado, em direito dos tratados, ao
empreendimento modificativo de proporções mais amplas que aquelas da emenda singular, ou
do conjunto limitado de emendas tópicas.

46. V iolação
A violação substancial de um tratado dá direito à outra parte de entendê-lo extinto, ou
de suspender também ela seu fiel cumprimento, no todo ou parcialmente.
A Convenção de Viena esclarece, em seu art.60, que por violação substancial deve
entender-se tanto o repúdio puro e simples do compromisso quanto à afronta a um dispositivo
essencial para a consecução de seu objeto e finalidade.
Além disso, a prática do direito das gentes autoriza ainda o protesto diplomático e
outros remédios, alguns institucionalizados em plano regional.
47. Interpretação

Interpretar o tratado internacional significa determinar o exato sentido da norma


expressa no texto obscuro, impreciso, contraditório. Não por acaso, o primeiro princípio a
nortear esta análise, é o de que não há por que interpretar o que já está claro e inequívoco.

a) Sistemas ± A interpretação pode dar-se no plano internacional, tanto quanto no


âmbito interior de cada uma das partes pactuantes. Num e noutro caso, os intérpretes são
governos ou jurisdições.
Quando proporcionada pelas próprias partes pactuantes, a interpretação se diz autêntica. A
voz das partes, no caso, é a dos respectivos governos.
A interpretação no plano internacional diz-se jurisdicional quando provida por organismo
dotado, ainda que ad hoc, do poder de jurisdição, no exame do litígio concreto entre
personalidades de direito das gentes.

b) Métodos - A Convenção de Viena consagra alguns artigos à metodologia


hermenêutica, arrolando princípios e critérios para a interpretação dos tratados. Destaca-se a
preocupação com o objeto da análise hermenêutica: a interpretação visa a um contexto que
compreende não apenas a parte dispositiva do tratado, mas ainda qualquer avença marginal,
contemporânea da conclusão do tratado, a que se apure haverem chegado as partes. A boa fé,
segundo a Convenção, é o sentimento que deve revestir o próprio intérprete.

48. Conflito entre tratados

a) Identidade da fonte de produção normativa ± Se um mesmo tema é objeto de tratamentos


distintos e inconciliáveis em dois ou mais acordos entre as mesmas partes, não há conflito.
Prevalece o posterior sobre o anterior ( Lex posterior derogat priori ).

b) Diversidade da fonte de produção normativa ± A ausência de escalonamento hierárquico


caracteriza todo o direito internacional convencional. Nunca se terá no domínio o conforto,
reinante nos sistemas de direito interno, de poder resolver conflitos à base de hierarquia,
preterindo a lei ordinária que colide com a lei constitucional. Escorados, todos, na regra pacta
sunt servanda.
49. Conflito entre tratado e norma de direito interno

Não há no direito internacional positivo, norma assecuritária de tal primado.


Descentralizada, a sociedade internacional contemporânea vê cada um de seus integrantes
ditar, no que lhe concerne, as regras de composição entre o direito internacional e o de
produção doméstica. Resulta que para o Estado, a Constituição nacional, vértice do
ordenamento jurídico, é a sede de determinação da estatura da norma expressa em tratado.

a) Prevalência dos tratados sobre o direito infraconstitucional


Não se coloca em dúvida, em parte alguma, a prevalência dos tratados sobre leis
internas anteriores à sua promulgação.

b) Paridade entre o tratado e a lei nacional


O tratado prevalece sobre a legislação dos Estados federados, tal como a lei federal
ordinária. Não, porém, que seja superior a esta.

50. Situações particulares em direito brasileiro atual

a) Domínio T ributário: o art. 98 do Código Tributário Nacional


Esse dispositivo diz que os tratados (que vinculam o Brasil, naturalmente)
³UHYRJDPRXPRGLILFDPDOHJLVODomRWULEXWiULDLQWHUQDHVHUmRREVHUYDGRVSHODTXH
OKHVVREUHYHQKD´

b) Direitos e garantias fundamentais: o art. 5º, §§2º e 3º, da Constituição


A Constituição estabelece, desde 1988, que aquela lista de direitos e garantias
fundamentais não exclui outros decorrentes do regime e dos princípios consagrados
na carta, ou dos tratados internacionais em que o Brasil seja parte.

Seção V I I ± E X T I N Ç Ã O D O T R A T A D O

51. A vontade comum

Extingue-se um tratado por ab-rogação sempre que a vontade de terminá-lo é


comum às partes por ele obrigadas.
a) Predeter minação ab-rogatória ± Todo tratado com termo cronológico de vigência,
previsto no texto, encerra uma forma de predeterminação ab-rogatória pelas partes
pactuantes. O término desse prazo previamente estabelecido, significa a condição
resolutiva, de feitio estritamente temporal.

b) Decisão ab-rogatória superveniente ± Não existe compromisso internacional imune à


perspectiva de extinção pela vontade de todas as partes.

52. A vontade unilateral

A exemplo da ratificação e da adesão, a denúncia é um ato unilateral, de efeito


jurídico inverso ao que produzem aquelas duas figuras: pela denúncia, manifesta o Estado sua
vontade de deixar de ser parte no acordo internacional. Isto extingue o tratado vigente entre
duas partes apenas, e é inofensivo à continuidade da vigência dos tratados multilaterais.

Quando um tratado admite e disciplina sua própria denúncia, o problema da


possibilidade jurídica da retirada unilateral simplesmente não existe. Já o silêncio do texto
convencional obriga a investigar sua denunciabilidade à luz de sua natureza.

53. Denúncia e direito interno

O Estado é originalmente livre de compromissos tópicos: tal o princípio da tabula


rasa, segundo o qual toda soberania nascente encontrará diante de si um espaço vazio de
obrigações convencionais, preenchendo-o à medida que livremente se ponha desse momento
em diante, a celebrar tratados. Parece bastante lógico que, onde a comunhão de vontades entre
o governo e parlamento seja necessária para obrigar o Estado, lançando-o numa relação
contratual internacional, seja suficiente a vontade de um daqueles dois poderes para
desobrigá-lo por meio da denúncia.

54. M udanças circunstanciais


Refere-se este tópico à superveniência de impossibilidade do cumprimento do tratado,
e ainda à alteração fundamental das circunstâncias, fenômeno visado pela teoria da cláusula
rebus sic stantibus.

a) A execução tornada impossível ± A Convenção de Viena dá ao pactuante o direito


de liberar-se do compromisso quando sua excecução tenha resultado impossível, por
força da extinção definitiva do respectivo objeto. Se o fator frustrante for temporário,
só dará ensejo à suspensão do cumprimento do pacto.

b) ³5HEXVVLFVWDQWLEXV´ ± De modo sugestivo, a Convenção de Viena prescreve que a


mudança fundamental das circuntâncias não pode ser invocada para que o pactuante
se dispense de cumprir um tratado.

1) As circunstâncias aí versadas devem ter sido contemporâneas da expressão do


consentimento das partes, e constituído condição essencial desse consentimento.
2) A mudança nessas circunstâncias deve ter sido fundamental, levadas em conta sua
dimensão e seu valor qualitativo.
3) Essa mudança circunstancial deve, ademais entender-se imprevisível.

O tratamento dado pela Convenção de Viena ao princípio supra leva à idéia de sua
invocação pela parte interessada em ver extinto ou suspenso o tratado, à conta da
mudança nas circunstâncias.

55. Jus cogens

Seria ele, o conjunto de normas que, no plano do direito das gentes, impõem-se
objetivamente aos Estados, a exemplo das normas de ordem pública que em todo sistema de
direito interno limitam a liberdade contratual das pessoas.
A teoria jus cogens, tal como aplicada pela Convenção de Viena sobre o direito dos
tratados, é francamente hostil à idéia do consentimento como base necessária do direito
internacional. Ali se pretende que, qual no domínio centralizado e hierárquico de uma ordem
jurídica interna, regras imperativas frustrem a liberdade convencional dos países não
aquiescentes.
PA R T E I I - PE RSO N A L I D A D E I N T E R N A C I O N A L (p.153-190)

83. Estados e organizações internacionais.


Atualmente as pessoas jurídicas de direito internacional público são os Estados e as
organizações internacionais. Isso quer dizer que apenas elas estão habilitadas à titularidade
de direitos e deveres internacionais. Fala-se em personalidade jurídica originária para os
Estados e derivada paras as organizaçãos, dado que esta última é produto de uma elaboração
jurídica resultante da vontade conjugada de certo número de Estados.
O Estado é contigente humano que convive, sob alguma forma de regramento, dentro
de determinada área territorial. Assim, a constituição não passa do cânon jurídico dessa ordem
e não de sua razão de ser. Por outro lado, a organização internacional sendo apenas uma
realidade jurídica, sua existência depende do tratado constitutivo que lhe dá vida.

84. Indivíduos e empresas.

Os indivíduos e as empresas privadas ou públicas não têm personalidade jurídica de


direito internacional. Há quem alegue, contudo, que o indivíduo deveria tê-la, já que no fim
das contas toda a ciência do direito resulta dele e se dirige a ele. Quanto a isso o autor
argumenta que, ainda que haja certas normas internacionais criadas diretamente para as
pessoas, isso não as faz, automaticamente, pessoas de direito internacional, já que há também
normas dirigidas para a fauna e a flora, os quais, nem por isso, poderiam ter personalidade
jurídica. Ele explica ainda que o (limitado) acesso que o indivíduo tem a alguns foros
internacionais depende de um compromisso tópico de seu Estado; ou seja, se um país se
retirar, por exemplo, da União Européia, os seus nacionais não terão mais acesso à Corte de
Luxemburgo e os demais cidadãos da UE não poderiam cogitar a demanda contra o
mencionado país. (Tribunal internacional de Nuremberg: realizado em circunstâncias
excepcionalíssimas).

85. Réus em foro internacional

O autor justifica nesse tópico os tribunais penais internacionais criados pelo Conselho
de Segurança das Nações Unidas, especificamente aqueles criados para julgar os crimes
humanitários ocorridos na ex-Iugoslávia e em Ruanda. Em primeiro argumenta que foram
criados pelo Conselho de Segurança, o qual gozava, diante da ameaça à paz, de tal
autoridade com base no capítulo VII da Carta da ONU. Em seguida, alega que as práticas em
questão foram definidas como crime em textos internacionais incorporados aos direitos
internos dos países em questão. Assim, não há dúvida quanto à anterioridade das normas e a
tipicidade penal dos atos.
O Tribunal Penal Internacional (Convenção de Roma) instalou-se em Haia em 2003,
vinculando inicialmente 60 Estados ratificantes ou aderentes. São vários os pontos que
diferenciam essa corte das experiências penais precedentes:
a) Instituição judiciária permanente;
b) dotada de personalidade jurídica própria (normalmente as cortes são temporárias ou
permanentes, mas de organizações internacionais);
c) julga indivíduos por crimes de extrema gravidade (definidos no Tratado de Roma);
d) a jurisdição só se exerce sobre crimes posteriores à entrada em vigor do Tratado;
e) não há limites geográficos ou circuntanciais;
f) juízes eleitos pela assembléia dos Estados partes no tratado;
g) jurisdição complementar à jurisdição nacional, depende da inércia ou condescendência
desta;
h) o processo pode ser suspenso quando for determinado que a sua continuidade imediata
representaria uma ameaça à paz; e
k) o exercío efetivo da jurisdição desse tribunal pressupõe o consentimento do Estado
territorial do crime e/ou do patrial do réu.

86. L itígios transnacionais entre o particular e o Estado.

É bastante comum certos particulares (grandes investidores, multinacionais...)


tentarem a "evitar" o direito interno e à jurisdição dos países com os quai se relacionam na
exploração da atividade econômica. As partes cuidam então de que o próprio contrato abrigue
toda a minúcia necessária à cobertura da transação, sem remissões ao direito interno, e
deferem à argitragem a solução de eventuais conflitos.
De início, essa espécie de arbitragem era feita no molde clássico do direito das gentes
(cada uma das partes escolhia um árbitro, os quais escolhiam o terceiro). Em 1965 o Banco
Mundial patrocinou a negociação do tratado que instituiu o Centro internacional para
solução de litígios relativos a investi mentos - ICSID. Inovação: o particular, nacional de um
país signatário dessa convenção, tem acesso direto para formular sua demanda contra outro
Estado que o tenha lesado, excluído assim o recurso à proteção diplomática de seu Estado
patrial (ainda que este tenha que consentir).

C apítulo I
O EST A D O

88. T rês elementos


O Estado, personalidade originária de DIP, ostenta, de modo geral, 3 elementos: i)
uma base territorial; ii) uma comunidade humana nesta estabelecida; e iii) uma forma de
governo não subordinado a qualquer autoridade exterior. O elemento humano é, em verdade,
o único que se supõe imune a qualquer eclipse e sua existência ininterrupta responde, mais do
que os outros, pelo princípio da continuidade do Estado.

Seção I - T er ritório do Estado

89. Jurisdição ou competência.

Sobre seu território [área terrestre mais espeços hídricos de topografia interna] o
Estado exerce jurisdição/competência para atuar com autoridade. Características da jurisdição
do Estado soberano:
a) generalidade - exercício no seu domínio de todas as competências de orgem legislativa,
administrativa e jurisdicional; e
b) exclusividade - não há concorrência de qualquer outra soberania.

90. A quisição e perda de ter ritório.

a) Por descoberta - comum no passado, potências navais descobriam e em seguida ocupavam


as terra nullius (terra de ninguém). O princípio da contiguidade (a pretensão ocupacionista do
descobridor avança pelo território adentro até quando possível, em geral, até encontrar
resistência de uma pretensão alheia congênere) operou aí com frequência.
Exemplo: Brasil
b) Pela ocupação da terra derelicta, terras abandonadas pelo seu descobridor primitivo.
Exemplo: ilha de Palmas, Maldivas Carolinas, abandonadas pela Espanha e ocupadas
ulteriormente pela Holanda, Grã-Bretanha, Alemanha.
c) Por conquista - mediante emprego da força unilateral ou resultado do triunfo em campo de
batalha.
Exemplo: muito comum na Europa.
d) Por cessão onerosa - compra e venda ou permuta.
Exemplo: EUA comprou da França a Louisiana; Brasil comprou da Bolívia o Acre.
e) Por "cessão gratuita" - ornamento típico dos tratados de paz.
Exemplo: França "cedeu" à Alemanha a Alsácia-Lorena em 1871.
f) Por decisão política de uma organização internacional - ocorreu em 1947 a propósito da
partilha da Palestina e em 1950 quanto às ex-colonias italianas.
91. Delimitação ter ritorial.

O estabelecimento das linhas limítrofes que separam 2 ou mais Estados se dá: por
decisão abitral, ou judiciária, ou resultando de tratado bilateral (mais comum).
Princípio uti possidetis: conservação das fronteiras coloniais.
Princípio uti possidetis de facto: consideração do efetivo exercício de soberania sobre
determinada área territorial.
Os parâmetros para a delimitação podem ser: i) linhas limítrofes artificiais; ou ii)
naturais. As primeiras seriam as linhas geodésicas (paralelos e meridianos), como ocorre na
divsisão do Canadá e dos EUA. Os limites naturais mais utilizados são as cordilheiras (como
nas divisas montanhosas do Brasil com a Venezuela) e os rios. Quanto a esses há dois
sistemas: o da linha de equidistância das margens, e o da linha de maior profundidade
(tavelgue).

Seção I I - Imunidade à jurisdição estatal

92. Um velho tema.

No direito diplomático, a questão dos privilégios e garantias do representante de um


Estado junto ao governo de outro constituiu o objeto do 1º tratado multilateral de que se tem
notícia (Règlement de Viena, 1815). Atualmente vigem 2 convenções celebradas em Viena:
uma sobre relações diplomáticas e a outra sobre relações consulares.

93. Diplomacia propriamente dita e serviço consular.

O diplomata é aquele que representa o Estado de origem junto à soberania local e


para o trato bilateral dos assuntos de Estado.
O consul representa o Estado de origem para o fim de cuidar, no território onde atue,
de interesses privados (os de seus compatriotas que ali estejam a qualquer título).
O Brasil unificou as duas carreiras, ou seja, cada profissional da diplomacia transita
constantemente entre funções consulares e funçõe diplomáticas.

94. Privilégios diplomáticos.

a) Os membros do quadro diplomático de carreira (do embaixador ao terceiro-


secretário) e suas famílias (desde que dependentes e incluidos na lista diplomática) gozam de
ampla imunidade de jurisdição penal e civil.
b) Os membro do quadro técnico e administrativo (tradutores, contabilistas, etc) e
suas famílias (desde que dependentes e incluidos na lista diplomática) oriundos do Estado
acreditante gozam de imunidade penal e civil limitada aos atos praticados no exercício de
suas funções.
c) Todos são fisicamente invioláveis, não podem ser obrigados a depor e gozam de
imunidade tributária.
Exceções: i) não há imunidade civil nos casos de feito sucessório e nos relacionados a imóvel
particular em que o agente esteja envolvido a título estritamente privado; ii) não há imunidade
tributária em relação aos impostos indiretos e tarifas correspondentes a serviços que tenha
utilizado.
d) O pessoal subalterno custeado pelo Estado acreditante só goza de imunidade no
que concerne a seus atos de ofício.

São fisicamente invioláveis os locais, e os bens que ali se encontrem, da missão


diplomática e de residência do quadro diplomático e administrativo e técnico. Não podem ser
objeto de busca, requisição, penhora.
Os arquivos e documentos da missão diplomática são invioláveis onde quer que
estejam.

95. Privilégios consulares.

Esses privilégios se assemelham àqueles que cobrem o pessoal de serviço da missão


diplomática: cônsules e funcionários consulares gozam de inviolabilidade física e imunidade
ao processo civil e penal somente no tocante aos atos de ofício. A prisão preventiva é
permitida e é obrigatória a prestação de depoimento testemunhal.
Os locais consulares são invioláveis na medida estrita de sua utilização funcional, e
gozam de imunidade tributária. Os arquivos e documentos seguem o tratamento dos da
missão diplomática.
A convenção estabelece também que o cônsul deve ser avisado pela Justiça loal
sempre que tenha contra compatriota seu um processo penal suscetível de levar a uma
condenação de certo peso.

96. Aspectos da imunidade penal.

A imunidade penal ilimitada dos diplomatas, pessoal administrativo e técnico, bem


como de seus familiares faz com que, por exemplo, um homicídio passional esteja isento do
processo local. O que se espera é que estes respondam pelo delito em seu país de origem.
Por outro lado, oc crimes comuns cometidos por consules podem ser julgados in loco.
Exemplo de crimes que não o seriam, por serem relacionados com a função consular: outorga
fraudulenta de passaporte, falsidade na lavratura de guias de exportação, etc.

97. Renúncia à imunidade

Somente o Estado acreditante pode renunciar às imunidades de índole penal e civil de


que gozam seus representantes diplomáticos e consulares.

98. Primado do direito local.

Os detentores desses privilégios estão obrigados a respeitar a legislação do Estado


territorial. Isso quer dizer por exemplo que o embaixador britânico deve conduzir seu veículo
pela direita e não pela esquerda como faria em seu país.
a) Nas relações internas não se impõe a representantes estrangeiros o direito do
Estado acreditado (ex: um embaixador de país poligâmico poderia compartilhar seu leito com
4 mulheres); mas
b) Nas relações que envolvam o meio local, os agentes diplomáticos e consulares
devem se conformar com as prescrições do direito local (ex: os contratos individuais de
trabalho).

99. Estado estrangeiro e jurisdição local.

Nas convenções de Viena não se encontra norma alguma que disponha sobre a
imunidade do Estado, como pessoa jurídica de direito público externo, à jurisdição local - de
índole civil. A idéia de imunidade absoluta do Estado estrangeiro(par in parem non habet
judicium) começou a se desgastar na segunda metada do século XX.

100. I munidade do Estado: fatos novos e perspectivas.

Uma Convenção européia sobre imunidade do Estado (Basiléia 1972) exclui do


âmbito da imunidade as ações decorrentes de contratos celebrado e exequendos in loco. É
possível ter como provável que a imunidade do Estado não subsistirá no que se refer a toda
espécie de processo derivado de relação jurídica entre o Estado estrangeiro e o meio local (ex:
reclamação trabalhista deduzida por aquele que a embaixada recrutou in loco).

Seção I I I - Dimensão pessoal do Estado


101. População e comunidade nacional.

População = conjunto de pessoas instaladas em caráter permanente sobre seu


território (nacionais+estrangeiros residentes). Sobre a população o Estado exerce inúmeras
competências inerentes à sua jurisdição territorial.
Dimensão pessoal do Estado (um dos elementos constitutivos, ao lado do território e
do governo) = comunidade nacional (nacionais residentes+nacionais no exterior). Sobre esta o
Estado exercer jurisdição pessoal, fundada no vínculo de nacionalidade, independente do
território onde seu nacional esteja.

102. Conceito de nacionalidade.

Nacionalidade = vínculo político entre o Estado soberano e o indivíduo, que faz deste
um membro da comunidade constitutiva da dimensão pessoal do Estado. A cada Estado cabe
legislar sobre sua própria nacionalidade.

Subseção 1 - A NACIONALIDADE EM DIREITO INTERNACIONAL

103. Princípios gerais e normas costumeiras.

A dimensão humana/pessoal é inerente ao Estado. Este não pode arbitrariamente


privar o indivíduo de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. O vínculo
patrial não deve se fundar na pura formalidade/artifício, mas na existência de laços sociais
consistentes entre o indivíduo e o Estado.
A nacionalidade originária resulta, de modo geral, da consideração do lugar de
nascimento (jus solis) e/ou da nacionalidade dos pais (jus sanguinis).
A nacionalidade derivada, obtida mediante naturalização, implica na maioria das
vezes ruptura do vínculo anterior e depende de resquisitos como certos anos de residência no
país, domínio da língua, entre outros.
A título costumeiro vigem pelo menos 2 normas incontestadas:
i) é prática generalizada excluírem-se da atribuição de nacionalidade jure soli os filhos de
agentes de Estados estrangeiros;
ii) proibição do banimento - nenhum Estado pode explusar nacional seu, pelo contrário, tem a
obrigação de acolher seus nacionais em qualquer circunstância.

104. T ratados multilaterais


O direito intermacional tem procurado reduzir os problemas da apataria e da
polipatria, ainda que a Convenção de Haia de 1930 tenha proclamado a liberdade do Estado
em determinar em direito interno quais são seus nacionais. Em 1948 a Assembleia Geral da
ONU trouxe a nacionalidade à área dos direitos fundamentais da pessoa humana. A regra
segundo a qual "ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito
de mudar de nacionalidade" é retomada pela Convenção americanda de direitos humanos,
celebrada em São José da Costa Rica, em 1969. Nesta convenção apareceu ainda mais uma
regra: "Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido,
se não tiver direito a outra."
Seção I I I ± Dimensão Pessoal do Estado
Subseção 2 ± A Nacionalidade B rasileira

105. M atéria constitucional.


O Brasil fixa as condições de atribuição, aquisição e perda de nacionalidade brasileira em
nossa Constituição Federal (arts. 12, 13 e 22, XIII), porém, há contribuição significativa da
jurisprudência e da doutrina.

106. B rasileiros natos.


É aquele que ao nascer (em geral no Brasil, por vezes no exterior), teve nacionalidade
brasileira a ele atribuída ou teve a opção de consolidá-la, mediante efeitos retroativos.
Critério territorial ± ³MXVVROL´$&)DSRQWDFRPREUDVLOHLURVQDWRVDTXHOHV que nasceram em
território brasileiro (Consideram-se: espaços hídricos, aéreos e terrestres; navios ou aeronaves
de bandeira brasileira, quando em espaços neutros.), ainda que tenham pais estrangeiros,
contanto que estes não estejam a serviço de seu país. O serviço, desde que público, não
precisa implicar permanência em nosso território, nem cobertura das imunidades
diplomáticas. Ambos os componentes do casal são considerados a serviço da nação
estrangeira. A apatria de um natural do Brasil deve ser a todo custo evitada.
Brasileiros natos também são aqueles que nascem no estrangeiro, porém têm pai brasileiro ou
mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil, mesmo que o co-genitor
seja estrangeiro.
Por fim, brasileiros natos também são aqueles que nascem fora do território do Brasil, mas
têm pai brasileiro ou mãe brasileira, e optam por morar no Brasil e requerer nacionalidade
brasileira.

107. B rasileiros naturalizados.


Imigrantes que se fixaram há mais de 15 anos no Brasil, de forma ininterrupta e sem
condenação penal. Já imigrantes originários de países de língua portuguesa, só precisam
morar no Brasil por 1 ano ininterrupto e ter idoneidade moral (trabalhar, ter nome limpo). Dos
demais estrangeiros a lei exige no mínimo 4 anos de residência no Brasil, idoneidade, boa
saúde e domínio do idioma. A naturalização não é obrigatória, mesmo com os requisitos
preenchidos.
O brasileiro naturalizado tem todos os direitos do nato, salvo acesso a certas funções públicas.

108. Perda da nacionalidade brasileira.


Pode haver extinção do vínculo patrial tanto do brasileiro nato quanto do naturalizado, se a
pessoa adquire outra nacionalidade, por naturalização voluntária. O Presidente da República é
quem dá publicidade ao fato consumado: a perda da nacionalidade. Para acarretar em perda de
nacionalidade, a naturalização voluntária no exterior deve ser fruto de uma conduta ativa e
específica.
O brasileiro naturalizado pode perder sua nacionalidade se exercer atividade contrária ao
interesse nacional.

Subseção 3 ± O Estatuto de Igualdade

109. G ênese.
É entre brasileiros e portugueses, em decorrência de tratado bilateral de 2000. Ele altera a
noção de nacionalidade como pressuposto necessário de cidadania. Conservando o vínculo de
nacionalidade com um dos dois países, o indivíduo passa a exercer no outro direitos inerentes
à qualidade de cidadão.

110. Dois padrões de igualdade.


Primeiro procedimento refere-se à simples igualdade de direitos e obrigações civis, e o
segundo também inclui a obtenção dos direitos políticos. É a pessoa natural que deve
demonstrar interesse em postular o benefício. No primeiro caso, o português tem de provar
sua nacionalidade, sua capacidade civil e sua admissão no Brasil em caráter permanente. No
segundo caso, o português ainda terá que provar o gozo dos direitos políticos em Portugal e
que mora no Brasil por pelo menos 3 anos.

111. E xtinção do benefício estatuário.


A igualdade, tanto restrita à órbita civil quanto abrangente dos direito políticos, será extinta
no caso de haver expulsão do território nacional ou pela perda da nacionalidade originária.
Além disso, se o português tiver seus direitos políticos suspensos em Portugal, terá aqui a
extinção dos mesmos direitos.

Seção I V ± Condição Jurídica do Estrangeiro

112. A dmissão discricionária.


Nenhum Estado tem obrigação de admitir estrangeiros em seu território, seja em definitivo,
seja a título temporário. Mas, a partir do momento em que o estrangeiro é admitido no seu
território, tem o Estado, deveres resultantes do direito internacional costumeiro e escrito.

Subseção 1 ± Títulos de I ngresso e Direitos do Estrangeiro

113. V ariedade dos vistos.


É importante diferenciar o imigrante do forasteiro temporário. O primeiro é o que se instala
no país com ânimo de permanência definitiva, enquanto o segundo é aquele que é turista,
estudante, missionário, pessoa de negócios, desportista etc. Visto permanente é dado ao
imigrante. Já o visto diplomático é concedido a representantes de soberanias estrangeiras.

114. Diversidade dos direitos.


O Estado deve proporcionar a garantia de direitos elementares da pessoa humana (a vida, a
integridade física, a prerrogativa eventual de peticionar administrativamente ou requerer
juízo, o tratamento isonômico em relação a pessoas de idêntico estatuto) para qualquer
estrangeiro encontrável em seu território. É normal que um Estado reconheça o gozo dos
direitos civis aos estrangeiros (exceção: trabalho remunerado, acessível ao estrangeiro
residente). No Brasil, a propriedade de imóveis é em gral facultada e há requisitos severos
quanto à aquisição de terras na faixa de fronteiras.
O estrangeiro não tem direitos políticos (exceção: estatuto de igualdade), ou seja, ele não
pode votar ou ser votado, exercer certos cargos públicos e propor ação popular.

Subseção 2 ± E xclusão do Estrangeiro por I niciativa Local

115. Deportação.
A deportação, diferente do impedimento à entrada do estrangeiro em nosso território (por
falta de passaporte ou visto, por exemplo), é uma forma de exclusão do estrangeiro do
território, após sua entrada irregular, geralmente clandestina, ou cuja estada tenha-se tornado
irregular (excesso do prazo, por exemplo). A exclusão é feita por iniciativa das autoridades
locais.
O deportado pode retornar ao Brasil quando regularizar seus documentos para ingresso.

116. E xpulsão.
A expulsão é o modo de entregar estrangeiros a outro Estado em razão de haver condenação
criminal ou em virtude de as ações do estrangeiro terem se tornado nocivas à conveniência e
aos interesses nacionais. A exclusão é feita por iniciativa das autoridades locais.
Só o Estado de origem do expulso tem o dever de recebê-lo quando indesejado em outros
lugares. O expulso fica impossibilitado de retornar ao Brasil.
OBS: é possível deixar de fazer a deportação e a expulsão, mesmo havendo os requisitos.

Subseção 3 ± A E xtradição

117. Conceito e fundamento jurídico.


É o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo, acusado de um crime ou já condenado, à
Justiça de outro, que o reclama (a seu pedido). O governo requerente da extradição só toma
essa iniciativa em razão da existência do processo penal ante sua Justiça. Todo pedido de
extradição tem como fundamento jurídico um tratado entre os dois países envolvidos. Na falta
de um tratado, o pedido de extradição só fará sentido se o Estado de refúgio do indivíduo for
receptivo a uma promessa de reciprocidade.

118. A extradição no B rasil: reciprocidade e poderes constitucionais do Congresso.


A promessa de reciprocidade em matéria extradicional tanto pode ser acolhida quanto
rejeitada, sem fundamentação, pelo governo brasileiro. O governo pode declinar de promessa
feita, em caso concreto, por país cujas solicitações anteriores tenham tido melhor êxito.

119. Discrição governamental e obrigação convencional.


Com fundamento em promessa de reciprocidade, o governo brasileiro tem a opção de recusar
sumariamente o pedido de extradição. No entanto, se houver tratado que disponha sobre o
assunto, o pedido não permite que haja tal recusa, já que o governo tem de honrar seu
compromisso. Vale citar que o STF só tem obrigação de cumprir o combinado, no caso de o
Estado requerente se prontificar a atender os requisitos da entrega do extraditando.

120. Submissão ao exame judiciário.


Aceitando o pedido de extradição, o governo deve passar este para o exame judiciário. É o
STF que deve examinar a legalidade da demanda extradicional, com fundamento em lei
interna e no tratado pertinente. Julgando-a legal e procedente, o STF defere a extradição.
Porém, pode ele declará-la viável e, sendo assim, posteriormente o regime jurídico do
instituto autoriza ao governo uma decisão discricionária.

121. Controle jurisdicional.


Apesar de o Estado requerente da extradição não ser parte no processo de decisão do STF,
este concedeu a representação daquele por advogado. O Ministério Público atua no processo
estritamente como fiscalizador da lei. A defesa do extraditando não pode explorar o mérito da
acusação: deve dizer respeito à sua identidade, à instrução do pedido ou à ilegalidade da
extradição à luz da lei específica.

122. L egalidade da extradição.


O exame judiciário da extradição apura a presença de seus pressupostos, de acordo com a lei
interna e no tratado pertinente.
Um desses pressupostos diz respeito à condição pessoal do extraditando, ou seja, tem a ver
com sua nacionalidade. O Brasil somente extradita estrangeiros e brasileiros naturalizados,
que tenham cometido crime anterior a naturalização ou por tráfico de drogas (neste segundo
caso, independe da cronologia).
Os pressupostos podem dizer respeito ao fato que se atribui a extradição, o qual será
necessariamente um crime, de direito comum, de certa gravidade, sujeito à jurisdição do
Estado requerente, estranho à jurisdição brasileira, e de punibilidade não extinta pelo decurso
do tempo.
Outros pressupostos se relacionam ao processo penal que, contra o extraditando, tem ou teve
curso no Estado requerente. Neste segundo caso, uma sentença final de privação de liberdade
é reclamada pela lei.

123. E fetivação da entrega do extraditando.


Negada a extradição pela corte, o extraditando é liberado e a decisão é comunicada para o
Estado requerente. No caso de a extradição ser deferida, o Executivo deve efetivá-la, não
antes de exigir que certos compromissos sejam assumidos. Há um prazo de 60 dias para
retirada do extraditando pelo Estado requerente, ao fim do qual, se não ocorrer tal retirada, ele
estará solto e o processo não poderá ser renovado.

Subseção 4 ± V ariantes Ilegais da E xtradição

124. Dilemas da Justiça.


Há muitos casos em que uma detenção sem apoio legal acabou por ganhar legitimidade desde
quando endossada pelo magistrado competente. Nesses casos, ainda que os executores da
captura devam responder criminalmente pelo gesto arbitrário, o próprio réu não teria como
tirar proveito das circunstâncias nas quais foi detido.

125. Indiferença do direito internacional.


O direito das gentes está limitado à soberania do Estado. Na verdade, não existe regra de
direito internacional que proteja o indivíduo naqueles casos em que se acabe por revelar a
violação de território. O direito internacional só tem capacidade de sancionar a abdução
recusada pelo Estado ofendido. É natural que o direito das gentes ignore o fenômeno da
extradição dissimulada.

126. Vocação protetiva do direito interno.


Apenas o direito interno do Estado de refúgio poderá conter alguma proteção do indivíduo
contra a extradição arbitrária. Embora na teoria os tratados de extradição possam abrigar
regras desta natureza, eles jamais se mostraram sensíveis ao problema dos direitos humanos.
Na medida em que governada tão-só por tratados internacionais, a extradição sempre poderá
ser executada à margem de toda e qualquer regra de direito.
Por sua vez, as leis internas de extradição tendem a conciliar o interesse da justiça penal com
certas garantias que não se podem negar à pessoa do fugitivo. A lei extradicional interna
opera, em favor do indivíduo, como uma garantia de que a extradição só será concedida se
reunidos os pressupostos do texto, eventualmente abrandados. Dessa forma, exclui-se uma
extradição arbitrária.

127. O sistema protetivo no direito brasileiro.


Os artigos 63 e 75, I, da L6.815/80 proíbem a deportação e a expulsão, sempre que
semelhantes medidas impliquem extradição inadmitida pela lei brasileira, evitando, assim, a
extradição dissimulada.

128. A doutrina do caso Biggs.


O caso do britânico Ronald Arthur Biggs teve solução pelo Tribunal Federal de Recursos
KRMH 67-  )LFRX FODUR TXH QR FRQFHLWR ³H[WUDGLomR LQDGPLWLGD SHOD OHL EUDVLOHLUD´ cabem a
prescrição, a natureza jurídica do crime, o indeferimento por falha documental não sanada em
tempo hábil o Estado interessado não poder formalizar o próprio pedido, em face dos limites
TXH OKH LPS}H VXD OHL LQWHUQD 2 MXt]R GR ³KDEHDV FRUSXV´ HQFontrando-se remetido, em
circunstância inusual, à lei de extradição, tem plena autoridade para interpretá-la quando
sobre o caso não tenha decidido o Supremo. Há que se impedir não apenas a deportação ou
expulsão que conduza o paciente diretamente ao Estado interessado na extradição inadmitida,
mas também aquela suscetível de lhe dar tal destino por via oblíqua.
Subseção 5 ± Asilo Político

129. Conceito e espécies.


Asilo político é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido em outro Estado, por
causa de dissidência política, de delitos de opinião ou por crimes que se relacionam com a
segurança do Estado. Cabe asilo no caso da criminalidade política, na qual o objeto da afronta
não é um bem jurídico universalmente reconhecido. Assim, caracteriza-se como territorial,
isto é, é concedido pelo Estado para aquele estrangeiro que, havendo cruzado a fronteira,
colocou-o no âmbito espacial de sua soberania e aí pediu o benefício.
Asilo diplomático é uma forma provisória do asilo político, e só ocorre na América Latina.

130. Natureza do asilo diplomático.


Constitui uma exceção à plenitude da competência que o Estado exerce sobre seu território.
Nos países onde não é reconhecido, as pessoas procuradas pela autoridade local que entrarem
no recinto de missão diplomática estrangeira devem ser de imediato restituídas, não
interessando no momento ser criminoso político ou comum. Após o asilo diplomático, ele
pode se tornar em territorial.

131. Disciplina do asilo diplomático.


A Convenção de Havana de 1928, a de Montevidéu de 1933 e a de Caracas de 1954
consolidaram os costumes relativos ao asilo diplomático. Assim como no asilo territorial, o
asilo diplomático tem como pressupostos a natureza política dos delitos do fugitivo e a
atualidade da perseguição (estado de urgência). Estes asilos podem se dar em missões
diplomáticas, outros imóveis residenciais cobertos pela inviolabilidade e navios de guerra que
estejam no litoral do país. O asilo é uma instituição humanitária e não exige reciprocidade. O
Estado territorial deve apenas aceitá-la como princípio.
Direito Internacional Público - II

Seção V I ± Soberania

138. Noção de Soberania:


Æ Como identificar um Estado:
- Quando este não reconhece nenhum poder maior de que dependa a definição e o
exercício de suas competências;
- Não se subordina a qualquer autoridade que lhe seja superior;
- Só faz acordos com outros Estados partindo-se do pressuposto que há um esforço
horizontal e igualitário de cooperação no interesse coletivo.
Æ Soberania: Faz do Estado titular de suas competências. Essas, não são limitadas e não
possuem superiores na ordem jurídica internacional (parte-se da idéia de poder horizontal na
RUGHPMXUtGLFDLQWHUQDFLRQDORQGHWRGRVSRVVXHP³IRUoD´LJXDO 
- A carta da OEA estatui que a ordem internacional é constituída essencialmente pelo
respeito à personalidade, soberania e independência de cada Estado.

Subseção 1 ± Reconhecimento de Estado e de Governo

140. Natureza declaratória do reconhecimento de Estado:


O reconheci mento tratado aqui será o dos atos unilaterais com que um Estado
mostra para ordem internacional que reconhece outros Estados com personalidade jurídica
de direito internacional idêntico à sua própria.
ÆElementos constitutivos de Estado: Território, população e governo soberano.
- O Reconhecimento por parte dos demais Estados (não necessariamente de todos os
outros) não é elemento constitutivo, mas meramente declaratório.
$UW  &DUWD GD 2($ ³$ H[LVWrQFLD SROtWLFD GR (VWDGR p LQGHSHQGHQWH GR VHX
reconheci mento pelos outros Estados. Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem direito
de defender a sua integridade e independência, de promover a sua conservação e
prosperidade, e, por conseguinte, de se organizar como melhor entender, de legislar sobre os
seus interesses, de administrar os seus serviços e de determinar a jurisdição e a competência
de seus tribunais. O exercício desses direitos não tem outros li mites senão o exercício dos
GLUHLWRVGHRXWURV(VWDGRVFRQIRUPHRGLUHLWRLQWHUQDFLRQDO´
$UW  &DUWD GD 2($ ³2 UHFRQKHFLPHQWR VLJQLILFD TXH R (VWDGR TXH R RXWR rga
aceita a personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro,
GHWHUPLQDRGLUHLWRLQWHUQDFLRQDO´

141. Forma de reconhecimento de Estado:


Æ Unilateral:
- Expresso: Mediante ato que fala sobre o reconhecimento do Estado.
- Tácito: Mediante ações que demonstram o reconhecimento do Estado.
Æ Bilateral:
- Mútuo: Mediante tratado ou comunicado comum.
- Tratado bilateral: É aquele em que dois Estados pactuantes reconhecem a existência
de um terceiro. Forma mais rara de reconhecimento.
142. Reconhecimento de governo: C ircunstâncias.
Æ Reconhecimento do Estado: Independência de um território, ou ainda, espécie de
manifestação do fenômeno sucessório (fusão ou desmembramento).
Æ Reconhecimento de governo: Pode ser feito de forma tácita ou expressa.
- Expressa: Importa deliberação de juízo do valor sobre a legitimidade do novo
regime ou da efetividade de seu mando.
- Tácita: Mera manutenção do relacionamento diplomático com o Estado onde haja
ocorrido a reviravolta política, sem comentários sobre a qualidade ou a legitimidade dos
novos detentores do podre.

143. Doutrina Tobar: A expectativa da legitimidade.


O ministro das relações exteriores do Equador de 1907, Carlos Tobar, acreditava que
a melhor maneira de acabar com as mudanças violentas de governo, inspiradas nas ambições,
era que os demais governos se recusassem a reconhecer esses regimes acidentais, resultantes
de revoluções, até o momento em que ficasse comprovado que havia aprovação popular.
Æ Seguiram essa política: Woodrow Wilsons, governo norte-americano (1913-1921),
Rômulo Betancourt e Raul de Leoni (Venezuela).
Æ Sofreu desgaste acentuado na contemporaneidade. No lugar da legitimidade tem se
preferido apenas a efetividade do regime instaurado.

144. Doutrina Estrada: Uma questão de for ma.


O ministro das relações exteriores do México de 1930, Genaro Estrada, divulgou nota
dizendo que a partir daquele momento, o México não se pronunciaria mais sobre o
reconhecimento ou não dos novos governos. Contudo, ele se colocava diante da possibilidade
de retirar ou colocar seus representantes em determinados territórios e de acolher ou não os
representantes dos Estados dependendo da sua vontade. Surge o princípio da não intervenção.
Æ No que diz respeito à forma, tal doutrina é considerada triunfante.

145. H armonização das doutrinas. Prática contemporânea.


Prestigia simultaneamente as duas doutrinas o Estado que valoriza a legitimidade, não
se relaciona com governos golpistas até quando a chamada do povo às urnas restaure o
princípio democrático, mas tampouco pratica o reconhecimento formal, representado pela
produção ostensiva de um juízo de valor.

Subseção 2 ± Estados Federados e Territórios Sob Administração


146. O fenômeno federativo e a unidade da soberania.
Æ Províncias, estados e cantões: São as unidades autônomas agregadas a todo território
federal. Variam, sobretudo, no grau de dependência da União a que pertencem.
Æ Autonomia não se confunde com soberania.
- Autonomia: capacidade inerente a cada unidade da federação de se autodeterminar,
política e ou administrativamente, em função da descentralização de poderes.
- 6REHUDQLD6HJXQGR+DQV.HOVHQ³pDH[SUHVVmRGDXQLGDGHGHXPDRUGHP´(VWi
ligada à idéia de Poder. O poder que cria a Constituição Federal que ira regular a autonomia
dos estados.
Æ Os Estados-membros podem fazer tudo àquilo que a Constituição Federal permite.

147. A tuação aparente de províncias federadas no plano internacional.


Não há qualquer impedimento no Direito Internacional no que diz respeito aos
Estados federados darem competências as suas províncias para que essas possam atuar no
campo internacional. De fato, a única necessidade é que as outras soberanias interessadas
tolerem esse procedimento, conscientes de que, na realidade, quem responde pela província é
a União Federal.

148. T er ritórios sob administração: A O N U e o sistema de tutela.


Æ Colônias, províncias de ultramar, protetorados ou estados vassalos: Eram carentes de
personalidade internacional e de competência para a livre negociação no plano exterior, desta
não participavam, ou o faziam pela voz da potência colonial.
Æ A partir das grandes organizações internacionais de caráter político (ONU e SDN), o
direito veio a conhecer a figura dos territórios sujeitos à administração de certa soberania, nos
termos de uma disciplina rigorosa e votada ao objetivo da descolonização. Contudo, enquanto
não lhes foi dada a sua independência, a soberania lhes foi estranha.

Subseção 3 ± Soberania e Hipossuficiência

149. O problema dos micros-Estados.


Æ Não se nega em princípio que eles sejam soberanos. Estados soberanos, em regra, detêm
sobre seu suporte físico (territorial e humano) a exclusividade e a plenitude das competências.
Contudo, micros-Estados confiam parte expressiva de suas competências a Estados vizinhos.
- A maioria não possui moeda própria;
- Possui apenas algumas dezenas de guarda civil;
Æ Em virtude dessa relação expressiva com seus vizinhos, alguns Estados tendem a ver com
alguma reticência a personalidade internacional desses micros-Estados.
150. Nações em luta pela soberania.
Æ A soberania de cada Estado lhes dá a possibilidade de determinar, por si mesmos, se lhes
parecem ou não soberanos os demais entes que estão ao seu redor e arrogam a qualidade de
Estados. Isso é possível independentemente do que pensam os demais Estados daquela ordem.

151. A Santa Sé: Um caso excepcional.


Æ A Santa Sé é a cúpula governativa da Igreja Católica. Nela se configuram todos os
elementos de um Estado: Possui um território, uma população e um governo.
Æ O que se discute é sua natureza jurídica. Críticas:
- Há exigüidade territorial ou democrática?
- Não possuem dimensão pessoal (pessoas que são consideradas nacionais de lá).
Cada cidadão continua com sua nacionalidade preservada em seu país de origem.
- Os fins para o qual se orienta não são típicos de um Estado.
Æ Por legado histórico, a Santa Sé possui personalidade jurídica de direito internacional.

C A PÍ T U L O I I
O R G A N I Z A Ç Õ ES I N T E R N A C I O N A IS

154. Introdução
Cronologicamente falando, o espaço temporal que separa o surgimento dos Estados
do fenômeno das organizações internacionais é de alguns milênios. Pode-se dizer que o
surgimento dos Estados remonta à antiguidade clássica, enquanto que o surgimento das
organizações internacionais é algo que veio se observando a partir deste último século.
Contudo, o critério temporal não é o fator diferenciador destas duas formas de
personalidade em direito internacional público. Paul Reuter observa que as desigualdades
quantitativas existente entre os Estados não formam obstáculo à sua igualdade qualitativa,
isto porque os objetivos dos Estados são sempre os mesmos: a paz, a segurança e o
desenvolvimento integral de determinada comunidade de seres humanos.
No contexto das organizações internacionais as coisas já mudam de figura, pois as
desigualdades são observadas em ambos os terrenos: são quantitativas por força da
diversidade do alcança geográfico, do quadro pessoal ou do orçamento; e qualitativas, vez que
não visam a uma finalidade comum.
O referido autor relembra que organizações internacionais são aquelas criadas e
integradas por Estados, sendo por eles dotadas de personalidade própria em direito das gentes.
O autor ressalta que há casos em que empresas podem ser instituídas por compromisso entre
Estados, como foi o caso da Itaipu Binacional, instituída em 1973 por tratado entre Brasil e
Paraguai. A empresa fora provida de capitais públicos, sendo-lhe conferida a personalidade
jurídica de direito privado. Contudo, o que faz de Itaipu um caso singular é o fato de seu
embasamento não ter se dado em apenas uma ordem jurídica, mas sim em duas ou mais delas.
Itaipu é uma pessoa jurídica de direito privado binacional, sendo regida por orientações de
ambos ordenamentos jurídicos (brasileiro e paraguaio).

Seção I ± T eoria G eral

155. Personalidade jurídica

Reuter assevera que personalidade jurídica de direito das gentes não é fonte da
competência da organização internacional, mas seu resultado.
Há de se dizer que a competência para celebrar tratados em seu próprio nome é a mais
expressiva de todas no que tange aos elementos indicativos de personalidade jurídica.
Conforme o entendimento do projeto Dupuy, de 1973, podem ser consideradas organizações
LQWHUQDFLRQDLVDSHQDV³DTXHODVTXHHPYLUWXGHGHVHXHVWDWXWRMXUtGLFRWrPFDSDFLGDGHGH
concluir acordos internacionais no exercício de suas funções e para a realização de seu
REMHWR´

156. Ó rgãos
Despontam como órgãos indispensáveis à estrutura de uma organização, uma
assembléia geral e uma secretaria.
Na primeira, têm assento os representantes dos Estados-membros, Estados estes que
devem ter, igualmente, voz e poder de voto, de sorte que esta assembléia se assemelhe a uma
SRVVtYHOFRPSHWrQFLD³OHJLVODWLYD´GDHQWLGDGH7UDWD-se de um órgão não permanente, cujas
reuniões ocorrem uma vez por ano, via de regra. Contudo, ela pode ser convocada
excepcionalmente quando o caso assim demandar.
Na segunda, predomina o caráter administrativo de funcionamento permanente. Seus
servidores são todos neutros às políticas dos Estados-membros, principalmente à de seus
próprios Estados.
Vale mencionar outro órgão que também se destaca, mas nas organizações de cunho
político: o conselho permanente. Este é ininterrupto e inclina-se ao exercício da competência
executiva. Sua composição pode se dar com a presença de representantes de todos Estados-
membros (como na assembléia geral), ou com apenas a presença de alguns destes Estados, os
quais ou são eleitos por prazo certo ou possuem mandato permanente.
Dependendo do alcance dos propósitos das organizações, estas podem ter mais, ou
menos órgãos técnicos, judiciários, ou até mesmos outros conselhos.
157. Aspectos do processo decisório
Perante o contexto das organizações internacionais, não é válido, como regra, o
princípio majoritário; isto significa que, ao contrário do que ocorre nas assembléias de direito
interno, onde a maioria dos votos obriga a todos os participantes, o Estado só costuma se
sentir obrigado quando a decisão tiver contado com seu voto favorável para o feito.

158. A organização frente a Estados não-membros

Algumas organizações costumam abrir espaço à participação de Estados não-


membros em seu contexto. A título de exemplo, cite-se a Carta da ONU, a qual prevê, entre
outras formas de abertura, a possibilidade de participação, sem voto, de Estados não-membros
nos debates do Conselho de Segurança. O problema surge quando se questiona se o tratado
institucional pode obrigara os Estados não contratantes. De acordo com o art.2, § 6 da Carta
GD218³$RUJDQL]DomRIDUiFRPTXHRV(VWDGRVTXHQmRVmRPHPEURVGDV1Do}HV8QLGDV
procedam de conformidade com estes princípios na medida necessária à manutenção da paz e
GDVHJXUDQoDLQWHUQDFLRQDLV´
Entretanto, o fDWRGHD218SRVVXLU³SHUVRQDOLGDGHLQWHUQDFLRQDOREMHWLYD´QmREDVWD
para que esta possa entender-se oponível àqueles Estados, ainda mais porque o princípio da
prevalência da vontade majoritária carece de consistência no âmbito interestatal.

159. Sede da organização

As organizações necessitam de alguma base territorial para instalarem-se, mas para


isto é preciso que algum Estado ofereça-lhe algum ponto de seu território para dar-se a
instalação física. Esta cessão implica a celebração de tratado bilateral entre a organização e o
Estado, trata-se do acordo de sede.
Ocorrem casos em que a organização dispõe de mais de uma sede, ou então faz variar
a instalação de alguns de seus órgãos. Há de se ressaltar que nada impede que a organização
situe-se em território de Estado não-membro.

160. Representação, garantias, imunidade.

A organização faz-se representar não somente no lugar de sua sede, mas também no
território de seus Estados-membros, e, casualmente, no daqueles não-membros, mas que com
ela pretendam assim se relacionar. Os representantes exteriores serão os membros da
secretaria e gozarão de privilégios semelhantes aos do corpo diplomático.
Um problema que se impõe é o referente à imunidade da própria organização
internacional frente À jurisdição brasileira, em feito de natureza trabalhista ou outro. Alguns
(VWDGRVHVWUDQJHLURVSOHLWHDYDPHVWDLPXQLGDGHQDVPHVPDVVLWXDo}HVEDVHDGRVQD³YHOKDH
VyOLGDUHJUDFRVWXPHLUD´&RQWXGRDMXULVSUXGrQFLDEUDVLOHLUDDIDVWRXDLQFLGrQFLDGHVWD
O fato é que a imunidade das organizações internacionais não se firma com base nos
costumes, mas sim em tratados que a determinam de modo expresso. Destarte, a imunidade
não pode ser ignorada neste caso. É possível que esta situação mude e que um dia estas
organizações venham a se encontrar em situação idêntica à dos Estados estrangeiros antes a
Justiça local.

161. Finanças da organização.

A receita das organizações é formada, basicamente, pela cotização dos Estados-


membros. O montante arrecadado, normalmente destina-se ao pagamento das folhas de
pagamento do pessoal da secretaria, ao custeio da manutenção de instalações imobiliárias e de
equipamentos, e muitas vezes ao custeio de programas exteriores de assistência e
financiamento.
Regra geral, as cotizações se dão com base na capacidade contributiva de cada
Estado, desta forma, não costuma ser paritárias. Na ONU as cotas variam de 0,01% a 22%.

162. A dmissão de novos membros.

A admissão de novos membros deve ser analisada sobre três aspectos capitais: os
limites de abertura do tratado institucional aos Estados não-membros; a adesão à carta
(pressuposto fundamental); e aceitação dessa adesão pelos Estados-membros, ou seja, pelo
beneplácito do órgão competente para tanto, nos termos do tratado.
Os limites de abertura da Carta podem ser meramente geográficos (somente países
europeus, por exemplo). Na Carta da ONU, contudo, esta matéria vem disposta no seu art.4º:
o interessado deve ser um Estado pacífico, que aceite as obrigações impostas pela carta, que
se entenda capaz de cumpri-las e disposto a fazê-lo.
Quanto ao aspecto de adesão à carta, deve o interessado exprimir sua adesão ao
tratado institucional, adesão esta que se presume ser, sempre, integral. Por sua própria
natureza, o tratado institucional é refratário à ratificação ou à adesão com reservas. São raras
as exceções, neste caso.
Quanto ao beneplácito à adesão, é mister ressaltar que este conclui o processo de
admissão de um novo Estado. Na União Européia é o Conselho que, sob parecer da
Comissão, deve assentir por unanimidade. A Carta da ONU fala numa decisão da Assembléia
*HUDO³PHGLDQWHUHFRPHQGDomRGR&RQVHOKRGH6HJXUDQoD´

163. Sanções

A falta aos deveres inerentes aos Estados-membros pode acarretar conseqüências


peculiares, as quais, usualmente, são de duas formas: suspensão dos direitos e exclusão do
quadro. Há de se dizer que esta última sanção jamais é aplicada, dentro do contexto da ONU,
a qualquer um dos cinco membros permanentes, que possuem poder de veto.

164. Retirada de Estados-membros

São dois os elementos que costumam condicionar a retirada voluntária do Estado-


membro: o pré-aviso e a atualização das contas com a organização. Portanto, é preciso,
primeiramente, um lapso de tempo entre a manifestação de vontade de se retirar por parte do
Estado e o rompimento efetivo do vínculo jurídico. Num segundo momento, é necessário
verificar-se se o Estado retirante colocou em dia suas obrigações financeiras para com a
entidade. Feito isto, o Estado tem permissão para se retirar.

Seção I I ± Espécies

165. A lcance e domínio temático

As organizações podem ser de domínio regional ou universal, sendo esta última


caracterizada por acolher o maior número possível de Estados, sem restrição de índole
geográfica, cultural, econômica ou outra. No que toca ao domínio, este pode ser ou político,
voltado à preservação da paz e da segurança, ou específico: fim econômico, financeiro,
estritamente técnico ou cultural.

166. A lcance universal, domínio político: a SD N e a O N U


Na antiga SDN e depois na ONU, somaram-se o alcance universal e a finalidade
política. A cooperação econômica, cultural e científica, aqui, são objetivos periféricos; o
objetivo precípuo é a preservação da paz entre as nações.

167. A lcance universal, domínio específico.

Aqui, inscrevem-VH DV ³DJrQFLDV HVSHFLDOL]DGDV´ GD 218 TXH VmR QD YHUGDGH
organizações internacionais distintas, dotadas de personalidade jurídica própria em direito das
gentes. Ex: OIT, UNESCO, FAO, FMI, OACI, OMS, BIRD.

168. A lcance regional, domínio político.

Inserem-se, aqui, as organizações que, em escala regional, retomam os objetivos da


ONU. Ex: OEA - Org. dos Estados Americanos, LEA ± Liga dos Estados Árabes. O objetivo
principal é a manutenção da paz entre seus próprios membros.

169. A lcance regional, domínio específico.

São as organizações regionais de cooperação e integração econômica, como a União


Européia, a CECA, a CEEA, OPEP, e o MERCOSUL.

C A PÍ T U L O I V
O F E N Ô M E N O SU C ESSÓ R I O

187. O princípio da continuidade do Estado.

O Estado, antes de tudo, é uma realidade física. Daí falar-se em princípio da


continuidade do Estado, pois, por existir, ele tende a continuar existindo.
Não se considera, aqui, apenas o Estado quanto instituição, mas também quanto toda
área territorial habitada por uma comunidade de pessoas.
Há de se observar que este princípio não existe no contexto das organizações
internacionais, pois como estas não possuem substrato material comparável ao dos Estados,
então podem desaparecer sem deixar vestígios, a qualquer momento. Contudo, nada obsta à
ocorrência do fenômeno sucessório com relação a estas organizações.

Seção I ± SU C ESSÃ O D E EST A D OS: M O D A L I D A D ES


188. Fusão ou agregação de Estados

O fenômeno em tela é observado quando um ou mais Estados se unem para


constituírem um único. Há três subespécies de fusão: aquela em que o novo Estado resulta da
soma horizontal e igualitária de soberanias preexistentes (unidade italiana = Lombardia +
Toscana + Vêneto + Roma); aquela em que as bases da agregação não são igualitárias
(unidade alemã, na qual a Prússia preponderava), de sorte que um dos Estados anteriores se
sobrepõe aos demais; e aquela em que um Estado simplesmente se integra a outro (anexação
da Áustria pela Alemanha).

189. Secessão ou desmembramento de Estados

Fenômeno em que dois ou mais Estados resultam da divisão daquilo que antes era um
único Estado. Foi observado com intensidade no período dito de descolonização africana.
Quando o fenômeno não se refere ao contexto colonial, é mais comum a utilização do termo
secessão.

190. T ransferência ter ritorial

Nenhuma soberania surge ou desaparece, os Estados preexistes continuam a ter suas


próprias identidades. O que ocorre é a mera transferência de uma área territorial de um deles
para o outro.

Seção I I ± SU C ESSÃ O D E EST A D OS: E F E I T O JUR Í D I C O

191. Normas aplicáveis

Dada a sucessão de Estados, é comum surgirem problemas quanto à nacionalidade


dos cidadãos, bem como à administração de dívidas públicas, bens públicos e de tratados com
outros Estados. Estas conseqüências da sucessão costumam ser resolvidas com a
determinação de lei por parte do Estado fruto da agregação, ou por meio de tratado entre os
Estados frutos de desmembramento.

192. Nacionalidade das pessoas


Para o caso de agregação, revestem-se os nacionais das soberanias reunidas com uma
nova qualidade. A título de exemplo, cita-se a agregação de lombardos, vênetos, romanos e
piemontenses, os quais se tornaram, todos, italianos.
Nos casos de desmembramento, é comum que os habitantes do novo Estado
adquiram, automaticamente, aquela nacionalidade, perdendo a antiga, mas, eventualmente,
tendo direito de opção entre ambas. Cita-se o caso do desmembramento da Tchecoslováquia:
seus nacionais puderam escolher entre a nacionalidade tcheca e eslovaca, correspondentes a
novas soberanias.

193. Bens públicos

O Estado sucessor tem, sobre o território sucedido, domínio eminente e propriedade


sobre os bens públicos (os de uso comum, de uso especial e os dominiais).
Em caso de desmembramento, a resolução sobre a partilha de tais bens cabe às
missões diplomáticas e consulares.

194. T ratados e dívida externa

O Estado fruto de agregação é responsável pelo conjunto das obrigações


convencionais e dos débitos de seus integrantes. Para casos de desmembramento e de
transferências territorial, utiliza-se o princípio da repartição ponderada da dívida, observando-
se, primeiramente, a destinação dada ao produto dos empréstimos externos. Dessa sorte, não
se exclui a possibilidade de o novo Estado ter de arcar, sozinho, com a integralidade de uma
dívida contraída pelo Estado primitivo em proveito único daquela área que veio a tornar-se
independente.
Há a hipótese, também, de o Estado recém formado usufruir do princípio da tabula
rasa: não possui quaisquer obrigações, quando começar a contraí-las, dará início ao
preenchimento da tabula. No que diz respeito aos pactos firmados pelo Estado originário, o
novo Estado está desobrigado à observância dos mesmos, quando bilaterais.

Seção I I I ± SU C ESSÃ O D E O R G A N I Z A Ç Õ ES I N T E R N A C I O N A IS

195. Um quadro recente

Primeiras organizações internacionais, no termo da palavra, datam de 1919. Mister


frisar que não se aplicam a elas nenhum princípio análogo ao da continuidade do Estado,
contudo, a sucessão lhes é algo possível de ocorrer. É raro que uma organização seja colocada
em liquidação completa; o mais comum é confiar suas funções e patrimônio a uma outra
organização, preexistente ou nova.

196. Dois exemplos

A ONU sucedeu a Sociedade das Nações (extinta de fato em 1939, mas de direito em
1946, por deliberação da ONU ± a qual data de 1945).
Sucessão mais próxima de nós é a da Associação Latino-Americana de Livre
Comércio pela Associação Latino-Americana de Integração.

PA R T E I I I: D O M Í N I O PÚ B L I C O I N T E R N A C I O N A L

197. Proposição da matéria: domínio público internacional designa aqueles espaços cuja
utilização suscita o interesse de mais de um Estado soberano ± às vezes de todas a
comunidade internacional ± ainda quando sujeitos às incidência de determinada soberania.
Cuida-se do mar, dos rios internacionais, do espaço aéreo, do espaço extra-atmosférico e,
ainda, do continente antártico.

198. O Pólo Norte:


- Cuida-se apenas de água do mar, perenemente congelada (escasso interesse econômico)
- Corredor aéreo alternativo: por ali passam diversas rotas aéreas, que cruzam um espaço de
livre trânsito ± independentemente de qualquer tratado ± justamente pelo motivo de que a
superfície hídrica subjacente é o alto mar.
- Aplicação da Teoria do Setores: setores triangulares que configuram o resultado da projeção
sobre o pólo do litoral do Canadá, Dinamarca (Groenlândia), Noruega (arq. Spitzberg) e da
5~VVLDSDtVHVHVWHVTXHID]HP³IURQWHLUD´FRPRSyOR QmRKiRXWURVSDtVHVHQWUHHOHRSyOR
mas apenas mar e/ou gelo)

199. A A ntártida:
- Ilha gigantesca: interesse econômico e estratégico.
- Quatro Teorias: (1) Teoria dos Setores, que dividiria o continente em inúmeras faixas
triangulares; (2) a Teoria da Descoberta, proposta por países europeus; (3) a Teoria do
Controle, proposta pelos EUA; (4) e a Teoria da Continuidade da Massa Geológica, proposta
pela Argentina.
- Qual teoria deve ser aplicada?
- Tratado da Antártida, Washington, 1959: 45 países pactuantes (Brasil ingressou em 1975),
que não necessariamente renunciam às eventuais pretensões de domínio sobre parte do
continente, nem tampouco reconhecem pretensões alheias. O regime jurídico estabelecido
pelo texto é o da não militarização da Antártida, que só deve ser usada para fins pacíficos.
- Protocolo de Madri 1991: preservação da Antártida contra toda espécie de exploração
mineral durante prazo fechado de 50 anos.

C A PÍ T U L O I: O M A R

200. Codificação do direito costumeiro


- Durante muito tempo, o direito do mar foi composto unicamente por normas costumeiras.
- Com o patrocínio da ONU, concluiu-se em Genebra, em 1958, (a) uma Convenção sobre o
mar territorial e a zona contígua, (b) uma Convenção sobre alto mar, (c) uma Convenção
sobre pesca e conservação dos recursos vivos do alto mar, e (d) uma Convenção sobre a
plataforma continental.
- O fator econômico é bastante relevante no enfoque do direito do mar.
- A Convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar foi concluída em 1982. Compõe-se
de 320 artigos e vários anexos. Entrou em vigor em 16/11/1994.

201. Navios: noções e espécies


- O navio tem sempre um nome, um porto de matrícula, uma determinada tonelagem, e tem
sobretudo uma nacionalidade, que lhe confere o direito de arvorar uma bandeira nacional.
- Diferenciam-se navios mercantes (privados ou públicos) de navios de guerra (pertencentes
às forças armadas de um Estado).
- Os navios de guerra encontram-se a todo momento sob a jurisdição do Estado de origem,
gozando de imunidade.

Seção I ± Á G U AS I N T E R I O R ES, M A R T E R R I T O R I A L E Z O N A C O N T Í G U A

202. V ariedade de águas interiores


- Águas interiores estranhas ao direito do mar e por isso não são versadas na Convenção de
1982: rios e lagos de água doce
- Águas interiores referidas na Convenção de 1982: águas de mar aberto, situadas aquém da
linha de base do mar territorial, em razão de baías, portos e ancoradouros, ou em razão da
SUySULDJHRJUDILD³UHFRUWDGD´GROLWRUDO LOXVWUDomRQDSiJ 
203. Regime Jurídico
- Sobre as águas interiores o Estado costeiro exerce soberania ilimitada. Não há, nelas, direito
de passagem inocente.
- Acesso aos portos e passagem pelas águas interiores: é necessária a autorização dada pela
capitania, que na prática é dada com antecedência e tem caráter duradouro. Essa autorização
também pode vir expressa em tratado.

204. M ar ter ritorial: natureza e regime jurídico


- Zona de mar adjacente à costa, na qual o Estado exerce soberania sobre o leito do mar, o
respectivo subsolo e o espaço aéreo subjacente.
- Esta soberania não é absoluta: ela é restringida pelo direito de passagem inocente,
reconhecido em favor dos navios mercantes ou de guerra de qualquer Estado.
- A passagem inocente deve ser contínua e rápida , e nada pode degenerá-la, sob risco de ato
ilícito.
- Aos submarinos manda-se que naveguem na superfície e arvorem seu pavilhão.
- Não pode o Estado costeiro impor obrigações que frustrem ou dificultem a passagem
inocente, nem discriminar navios em função da sua nacionalidade ou do Estado que estejam
servindo. Não pode, ainda, cobrar taxas só pelo fato da passagem.
- Navios de guerra: imunes à jurisdição local.
- Navios mercantes: Estado costeiro abstém-se de exercer jurisdição civil, podendo, no
entanto, exercer jurisdição penal em alguns casos (quando a infração produz conseqüências
sobre a ordem territorial, quando tem a ver com tráfico de tóxicos, ou no caso de pedido feito
pelo capitão ou cônsul)

205. M ar ter ritorial: extensão


- A partir de 1952 vários países da América do Sul estenderam a sua faixa de mar territorial a
200 milhas, com a invocação de imperativos de ordem econômica.
- A Convenção de 1982 manda que seja de 12 milhas marítimas (cerca de 22km) a largura
máxima da faixa de mar territorial de todo Estado costeiro, mas consagra as duzentas milhas a
título de zona econômica exclusiva.

206. M ar ter ritorial: delimitação


- Mede-se a largura da faixa a partir da linha de base, isto é, da linha litorânea de maré baixa,
alternada com a linha de reserva das águas interiores quando ocorrem baías ou portos.
- A ilhas dispõem de faixa própria, em igual extensão.
- Critério da Eqüidistância para a delimitação dos mar territorial no caso de países costeiros
adjacentes ou confrontantes (um de frente para o outro, mar entre eles). Essa questão fica
mais clara com a ilustração da pg. 324.

207. Zona contígua


- Cuida-se de uma segunda faixa, adjacente ao mar territorial, e, em princípio, de igual
largura, onde o Estado costeiro pode tomar medidas de fiscalização em defesa de seu
território e de suas águas.
- A adoção da zona contígua só faz sentido quando a extensão do mar territorial respeita os
padrões internacionais, alcançando no máximo 12 milhas.

Seção I I ± Z O N A E C O N Ô M I C A E X C L USI V A

208. E ntendimento
- Trata-se de uma faixa adjacente ao mar territorial ± que se sobrepõe, assim, à zona contígua
-, e cuja largura máxima é de 188 milhas marítimas contadas do limite exterior daquele, com
o que se perfazem 200 milhas a partir da linha base.
209. Direitos do Estado costeiro
- 6REUHD]RQDH[FOXVLYDDVREHUDQLDGR(VWDGRpOLPLWDGDHHVSHFtILFDHOHDOLH[HUFH³ direitos
de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão de recursos
QDWXUDLV´
- O Estado também exerce jurisdição sobre zona em matéria de preservação do meio marinho
e investigação científica e instalação de ilhas artificiais.

210. Direitos da comunidade


- Todos os Estados gozam, na zona exclusiva de qualquer deles, de liberdades que distinguem
essa área do mar territorial. São as liberdades de navegação (mais ampla que a passagem
inocente), de sobrevôo e de colocação de cabos ou dutos marítimos.

Seção I I I ± PL A T A F O R M A C O N T I N E N T A L E F U N D OS M A R I N H OS

211. Regime jurídico da plataforma continental


- Cuida-se, geograficamente, daquela parte do leito do mar adjacente à costa, cuja
profundidade em geral não excede 200m, e que, a uma boa distância do litoral, cede lugar às
inclinações abruptas que conduzem aos fundos marinhos.
- Sobre essa plataforma e seu subsolo o Estado costeiro exerce direitos soberanos de
exploração dos recursos naturais.
- Nos termos da Convenção de 1982, o limite exterior da plataforma continental coincide com
R GD]RQD H[FOXVLYD  PLOKDVDSDUWLUGDOLQKDEDVH DQmRVHUTXH R³ERUGR H[WHULRUGD
PDUJHPFRQWLQHQWDO´HVWHMDDLQGDPDLVGLVWDQWH1HVVHFDVRROLPLWHpRERUGRGHVGHTXHQmR
ultrapasse 350 milhas marítimas.
- O direitos econômicos do Estado costeiro sobre sua plataforma continental são exclusivos:
nenhum outro Estado pode pretender compartilhá-los.

212. Regime jurídico dos fundos marinhos


- Ao leito do mar na região dos fundos marinhos, e ao respectivo subsolo, a Convenção de
1982 deu o nome de área. A área fica além dos limites de jurisdição nacional, ou seja, das
plataformas continentais.
- A área e seus recursos constituem, segundo a Convenção, patrimônio comum da
humanidade.

Seção I V ± A L T O M A R

213. Princípio da liberdade


- A liberdade do alto mar é ampla: diz respeito à navegação e a todas as formas possíveis de
aproveitamento, e nenhuma pretensão restricionista podendo emanar da autoridade soberana
de qualquer Estado.
- Segunda a Convenção de 1982, a liberdade concerne à navegação, ao sobrevôo, à colocação
de cabos e dutos submarinos, à construção de ilhas artificiais e instalações congêneres, à
pesca e à investigação científica.

214. Restrições à liberdade


- O alto mar deve ser utilizado para fins pacíficos e no exercício de suas liberdade cada
Estado se obriga a levar em conta os interesses dos demais.

215. Disciplina da navegação


- Deve haver sempre um vínculo de substancial entre o Estado e o navio que arvora a sua
bandeira.
- Presume-se que em alto mar todo navio se encontra sob a jurisdição do seu Estado patrial, e
os navios de guerra podem exercer autoridade sobre navios mercantes de igual bandeira
(direito de visita - para o exercício desse direito, deve haver fundamentada suspeita sobre o
navio).

Seção V ± T R Â NSI T O M A R Í T I M O : EST R E I T OS D E C A N A IS


216. Estreitos: algumas normas gerais
- O estreito típico é o corredor cujas águas integram o mar territorial de um ou mais Estados,
e que assegura a comunicação entre espaços de alto mar ou zona econômica exclusiva,
interessando à navegação internacional.
- A Convenção de 1982 garante nos estreitos o direito de passagem em trânsito a navios e
aeronaves, civis e militares, de qualquer bandeira.
- Os mais notórios estreitos internacionais são: Gibraltar; Magalhães; Sund, Belt e Grand
Belt; Bósforo e Dardanelos.

217. C anais: regimes singulares


- Os canais também são corredores que facilitam o trânsito entre dois espaços marítimos,
porém não constituem obra da natureza.
- Os dois canais internacionais de maior importância forma construídos no território de países
impossibilitados de arcar com o custo do empreendimento, daí a influência de Estados e
capitais estrangeiros.
- O Canal de Suez, obra da companhia de Ferdinand de Lesseps, foi construído em 1869 no
território egípcio, então subordinado à soberania do império Otomano. Ele foi expropriado e
nacionalizado em 1956 pelo governo republicano do Egito em 1956. Seu regime jurídico
contemporâneo resulta de um ato unilateral, a declaração do governo egípcio de 21/04/1957.
- O Canal do Panamá teve sua construção levada a termo em 1914. Seu regime jurídico, no
entanto, já estava estabelecido pelo tratado de 18/11/1903, entre o governo local e o dos EUA,
país empreendedor da construção por haver sucedido à companhia de Lesseps, que falira, e
por haver favorecido a independência do Panamá, até então integrante da Colômbia. No canal
do Panamá existe a ampla liberdade de trânsito, sem discriminação de qualquer espécie, e as
taxas só são mais elevadas em razão dos custos, grandemente acrescidos pelo sistema de
comportas.Com o tratado de 1977 determinou-se que a administração do canal seria
gradualmente transferida aos panamenhos e no ano de 2000 os EUA deixaram de responder
militarmente pela defesa do Canal.

C A PÍ T U L O I I : R I OS I N T E R N A C I O N A IS

218. Conceito
- 5LR LQWHUQDFLRQDO p WRGR FXUVR G¶iJXD TXH EDQKD PDLV GH XP (VWDGR VREHUDQR 8PD
distinção preliminar costuma fazer-se entre os rios li mítrofes (ou contíguos, ou de fronteira) e
os rios de curso sucessivo. Contudo, os mais importantes rios internacionais, em sua maioria,
ostentam as duas características.
Seção I ± A L G U NS PR I N C ÍPI OS

219. Um direito casuístico


- São poucos os princípios relativos a rios internacionais que se podem afirmar dotados de
alguma generalidade. O aparato normativo, nesse terreno, é dominado pela casuística.
- A Convenção de Barcelona de 1921 proclamou dois grandes princípio: o da liberdade de
navegação e o da igualdade no tratamento de terceiros. Esse texto é, no entanto, de concepção
européia, condizente com a realidade daquele continente.
- No continente americano o princípio da liberdade de navegação para terceiros ± Estados não
banhados pelo rio ± nunca foi acolhido.

Seção I I ± R E G I M ES F L U V I A IS SI N G U L A R ES

220. Rios da A mérica do Sul


- Os mais importantes rios internacionais da América do Sul são o Amazonas, o Paraná, o
Paraguai e o Uruguai. Todos eles encontram-se abertos à navegação comercial, em bases não
discriminatórias, por força de tratados bilaterais remotos e no caso do Amazonas pelo ato
unilateral de 1866.

221. O utros Regimes


- Regime jurídico do Danúbio: os Estados ribeirinhos, e somente eles, respondem pela
administração do rio, cuja navegação, no entanto, é livre.

C A PÍ T U L O I I I: O ESPA Ç O

222. Distinção preliminar


- Dois regimes jurídicos distintos: o do espaço aéreo, que se determina em função de qual seja
a superfície terrestre ou hídrica subjacente, e o do espaço extra-atmosférico, que é uniforme e
ostenta alguma semelhança com o do alto mar. O limite entre esses dois espaços está onde
termina a camada atmosférica.

Seção I ± O ESPA Ç O A É R E O

223. Princípios elementares


- O Estado exerce soberania plena sobre os ares acima de seu território e de seu mar
territorial. Projeta-se, desse modo, no espaço aéreo o mesmo regime jurídico da superfície
adjacente.
- Não há no espaço aéreo um direito de passagem inocente. Senhor absoluto desse espaço, o
Estado subjacente só o libera à aviação de outros países mediante a celebração de tratados ou
permissões avulsas.
- Por outro lado, é livre a navegação aérea, civil ou militar, sobre os espaços onde não incide
qualquer soberania estatal: o alto mar ± incluindo o pólo norte ± e o continente antártico.

224. Normas convencionais


- Em matéria de aviação civil, três tratados multilaterais dignos de nota precederam as
negociações de Chicago ao final da segunda grande guerra: a Convenção de Paris 1919, a
Convenço de Havana 1928 e a Convenção de Varsóvia 1929.
- As Convenções de Chicago 1944 (três convenções principais e doze textos ancilares) regem
± em todos os aspectos que não a responsabilidade, versada na Convenção de Varsóvia ± o
tema da aviação civil internacional.
- As Convenções de Chicago instituíram a Organização da Aviação Civil Internacional
(OACI), que tem sede em Montreal e cujo principal propósito é uniformizar as regras sobre o
tráfego aéreo.

225. Nacionalidade das aeronaves


- Segunda as regras de Chicago, todo avião utilizado em tráfego internacional deve possuir
uma nacionalidade ± e única -, determinada por seu registro ou matrícula. Esse vínculo
implica a responsabilidade de um Estado sobre o engenho, e autoriza a respectiva proteção,
se necessária.
- Companhias aéreas de propriedade plurinacional: cada avião deve possuir uma
nacionalidade singular, que se comprovará à vista de sua matrícula.

226. O sistema das cinco liberdades


- Os países partes das Convenções de Chicago - e por isso membros da OACI mantêm em
RSHUDomRRVLVWHPDFKDPDGR³GDVFLQFROLEHUGDGHV´
- Liberdades técnicas: (1) a de sobrevôo do território, tendo o Estado subjacente o direito de
proibir certas áreas em nome da segurança, mas em bases não discriminatórias; e (2) a da
escala técnica.
- Liberdades comerciais: (3) a de desembarcar passageiros e mercadorias provenientes do
Estado patrial da aeronave; (4) a de embarcar passageiros e mercadorias com destino ao
Estado patrial da aeronave; (5) a última liberdade depende de ajuste especial e consiste em
permitir que aeronaves do outro Estado embarquem e desembarquem, em seu território,
passageiros e mercadorias com destino a ± ou provenientes de ± outros países membros da
OACI.

227. Segurança do tráfego aéreo


- Convenção de Tóquio de 1963, sobre infrações praticadas a bordo de aeronaves; Convenção
de Haia de 1970, para repressão do apoderamento ilícito de aeronaves; Convenção de
Montreal de 1971, para repressão dos atos ilícitos contra a aviação civil. Ao contrário das
Convenções de Chicago de 1944, esses textos contam com a participação de virtualmente
toda a sociedade internacional.
- Protocolo de 1984: contra os abusos do próprio Estado na preservação de sua segurança
territorial (todo Estado pode interceptar avião estrangeiro que viole seus ares, e forçar o
respectivo pouso, mas que seu direito de reagir não é ilimitado, impondo-se-lhe respeito pela
vida humana ± destacadamente a de civis, passageiros de um vôo comercial regular).

Seção I I ± O ESPA Ç O E X T R A-A T M OSF É R I C O

228. G ênese das normas


- O direito relativo ao espaço extra-atmosférico é estritamente convencional, e começou a
forjar-se entre dois acontecimentos memoráveis: a colocação em órbita do primeiro satélite
artificial, o Sputnik, em 1957, e o primeiro pouso na Lua de uma nave tripulada, em 1969.

229. Cooperação e pacifismo relativo


- Convenção sobre registro internacional ± junto à secretaria da ONU ± de objetos lançados
no espaço exterior (1975) e Convenção sobre as atividades dos Estados na Lua e em outros
corpos celestes ± o chamado Tratado da Lua : nesses textos fica claro que a Lua só deve ser
utilizada para fins pacíficos. Contudo, tanto na órbita da Terra quando na de seu satélite os
tratados só proíbem a colocação de engenhos dotados de armamento nuclear e de destruição
em massa. Não ficam proibidas outras formas de utilização militar das órbitas, que podem ser
simples engenhos de reconhecimento até armas não alcançadas pela proibição expressa.

PA R T E I V ± C O N F L I T OS I N T E R N A C I O N A IS pag. 349 - 382

230. Noção de conflito internacional: ³GHVDFRUGRVREUHFHUWRSRQWRGH GLUHLWRRX GHIDWR´


WRGD ³FRQWUDGLomR RX RSRVLomR GH WHVHV MXUtGLFDV RX GH LQWHUHVVHV HQWUH GRLV (VWDGRV´
(definição estabelecida pela Corte da Haia). Ou seja, conflitos internacionais não são
necessariamente guerras. O conflito pode ser entre dois Estados, entre grupos de Estados ou
até entre Estados e organizações internacionais.
231. Proposição da matéria: Não há escalonamento hierárquico entre os meios pacíficos
para a solução de conflitos, exceto o inquérito ³TXH YLVDDSHQDVDSXUDUDPDWHULDOLGDGHGRV
fatos e propende, assim, a anteceder uma RXWUD YLD GH VROXomR´ 2V PHLRV GLSORPiWLFRV
jurídicos e políticos são alternativos entre si, cabendo a preferência das partes a escolha de
acordo com a natureza do conflito. Caso o meio escolhido mostre-se ineficaz, podem os
países tomar outra via sem que haja maiores problemas.

CAPÍTULO I ± SOLUÇÃO PACÍFICA


232. E volução dos meios: Nos primeiros anos do sec. XX, só se falava em meios
diplomáticos e arbitragem. A arbitragem hoje concorre com as corte permanentes (nas vias
judiciais). Tanto o juiz quanto o árbitro tem a tarefa de aplicar a norma jurídica ao caso
concreto; e, quando for incompleta, insatisfatória ou inexistência, deverão suprir a falha
mediante métodos integrativos de raciocínio jurídico (analogia e equidade).
Hoje, além dos meios diplomáticos, foram desenvolvidos os meios políticos, através dos quais
as organizações internacionais compõem as partes e resolvem os conflitos. Estes são similares
aos meios diplomáticos no que tange à plasticidade de sua operação e de seus resultados.
Ambos se diferem do judicial uma vez que não se comprometerem ao direito. O mediador, a
junta de conciliação e o Conselho de Segurança da ONU podem resolver o conflito sem a
aplicação da norma jurídica.

SEÇÃO I ± MEIOS DIPLOMÁTICOS


233. E ntendimento direto em sua for ma simples: os contendores resolvem-se através de
negociações, sem intervenções de terceiros (a qlq título). Esse entendimento faz-se em caráter
avulso ou no quadro de comunicação diplomática entre os dois Estados, e pode ser oral ou
com troca de notas entre a chancelaria e a embaixada. Para que o entendimento seja eficaz,
deve haver equilíbrio entre os Estados.
234. Bons ofícios: é o apoio instrumental dado por terceiro que é pessoa de direito
internacional (um Estado ou organização) para facilitar o entendimento direto entre os
contendores. É instrumental uma vez que o terceiro não oferece solução para o conflito,
apenas oferece um campo neutro para negociação, sem ao menos conhecer as razões de cada
parte. É geralmente um serviço oferecido pelo terceiro e poderá ser recusado.
235. Sistema de consultas: é o entendimento direto programado; há a previsão (normalmente
em tratados) de encontros periódicos nos quais os Estados farão uma exposição de suas
reclamações mútuas, acumuladas durante o período, e buscarão solucionar suas pendências,
com base no diálogo direto e programado. Não há qlq intervenção de terceiros.
236. Mediação: terceiro toma conhecimento do desacordo e das razões de cada um dos
contendores para propor-lhes uma solução. O parecer/a proposta do mediador não obriga às
partes (o que o difere de um árbitro ou juiz). Dessa forma, só terá eficácia se os contendores
acharem a proposta satisfatória e decidirem agir em sua conformidade. A mediação pode ser
exercida por um Estado, uma organização internacional, um estadista (pessoa no exercício de
elevada função pública) que representa pessoa jurídica internacional, ou até por vários
Estados simultaneamente. O mediador deve ter confiança das partes, não havendo, portanto,
revelia. Ela pode ser oferecida ou solicitada, e em ambos os casos pode ser recusada (pelas
partes ou pelo mediador).
237. Conciliação: é uma variante da mediação, com maior aparato formal. Ela está prevista
em diversos tratados, como a Convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar (1982).
Há uma comissão de conciliação, para a qual cada parte deve indicar dois conciliadores de
sua confiança, sendo um da nacionalidade do Estado; e estes quatro conciliadores (dois de
cada Estado) escolheram um quinto que terá a presidência da comissão. As decisões são
formadas pela maioria e estabelecidas no relatório em que a comissão propõe uma solução
para o conflito. Como na mediação, a solução não tem força obrigatória para as partes.
238. Inquérito: é um procedimento preliminar de instância diplomática, política ou
jurisdicional. É um meio diplomático para estabelecer a materialidade dos fatos. É conduzido
por comissões semelhante às de conciliação (com representantes das partes e investigadores
neutros). O inquérito não tem objetivo de propor solução, apenas apurar os fatos ainda
ilíquidos, para que se ingresse adequadamente em uma via de solução de conflito. É
necessária em situações onde é necessário o esclarecimento de fato, não em casos nos quais
há dúvida sobre interpretação de determinada norma convencional.

SEÇÃO II ± MEIOS POLÍTICOS


239. Ó rgãos políticos das Nações Unidas: devem ser usados para conflitos de certa
gravidade, que são ameaça ao clima de paz. Pode haver revelia de uma parte, se a iniciativa
de ir à Assembléia ou ao Conselho for apenas de uma parte, ou pode haver revelia de ambas
as partes se o secretário-geral ou um terceiro Estado levar o conflito à mesa de debates. Os
dois órgãos mencionados são de acesso dos litigantes ou de terceiro para dar soluções em
geral provisórias e eventualmente definitivas. O Conselho de Segurança tem preferência uma
vez que está permanentemente acessível, enquanto a Assembléia se reúne em certos períodos
do ano. Ambos os órgãos tem competência para investigar, e discutir conflitos, assim como
expedir recomendações. Em casos de ameaça à paz só o Conselho tem poder de agir
preventiva e corretivamente, podendo usar de força militar que está à disposição dos membros
das Nações Unidas, devendo haver o consenso de seus cinco membros para tanto. No entanto,
D LQWHUYHQomR GD 218 SRGHUi VHU IUXVWUDGD ³HP DVVXQWRV TXH GHSHQGDP HVVencialmente da
MXULVGLomRLQWHUQDGHTXDOTXHU(VWDGR´HPUD]mRGRDUW†GHVXDFDUWD&XPSUHOHPEUDU
TXHFDVRR(VWDGR³GHVREHGHoD´UHFRPHQGDomRGD218QmRVHUiXPDWRLOtFLWRXPDYH]TXH
é um meio político que, como os diplomáticos, não têm obrigatoriedade para as partes
conflitantes.
240. Esquemas regionais e especializados: as organizações de alcance regional e vocação
política, como a Liga dos Estados Árabes de 1945 e a Organização dos Estados Americanos
de 1951, têm mecanismos análogos aos da ONU para solução de litígios entre seus
integrantes. Ambas as organizações citadas tem conselhos permanentes, formados por
representantes de todos os seus membros, nos quais busca-se a solução de conflitos antes do
buscar socorro na ONU. Na OEA as recomendações e propostas não são obrigatórias; e na
LEA só serão obrigatórias se o conflito for apresentado por ambos os Estados, sendo que a
matéria não deve afetar sua independência, soberania ou integridade nacional. Nesse caso, os
contendores não terão direito a voto.
Certas organizações especializadas dispõem mecanismos chamados de ratione materiae. Por
exemplo, a OACI (Organização de Aviação Civil Internacional) pode examinar e propor
soluções para conflitos no domínio de interpretação e aplicação da sua própria carta e de
compromissos bilaterais concernentes à aviação civil internacional.

SEÇÃO III ± MEIOS JURISDICIONAIS


241. Conceito: ³-XULVGLomRpRIRURHVSHFLDOL]DGRHLQGHSHQGHQWHTXHH[DPLQDOLWtJLRVjOX]
do direito e profere decisoes obrigatórias.´ 'L]-se que a arbitragem é um mecanismo
jurisdicional não judiciário, uma vez que o foro arbitral nao tem permanência e não tem
profissionalidade (o juiz arbitral é escolhido ad hocI pelas partes com o fim de decidir a
material sobre a qual versa o litigio). Na via judiciária, o juiz é um profissional/especialista,
³p LQGHSHQGHQWH GHFLGH j EDVH GR GLUHLWR DSOLFiYHO H VXDV GHFLVRHV WHP IRUoD FRPSXOVyULD
Cumpre lembrar que tanto o juiz quanto o árbitro emitem decisoes obrigatórias para as partes.

Subseção 1 ± A arbitragem
242. Jurisdição ad hoc: Como já dito, a arbitragem é um mecanismo jurisdicional não
judiciário para resolver conflitos internacionais. Nesse mecanismo, caberá às partes a escolha
do árbitro, a delimitação do direito aplicável e a descrição da matéria conflituosa. O foro
arbitral não é permanente: uma vez proferida a sentença, termina o trabalho do árbitro em
relação ao conflito. Ademais, o descumprimento de uma sentença arbitral constitui um ilícito
internacional.
243. Á rbitros e tribunais arbitrais: Muitas vezes, os árbitro escolhidos são monarcas ou
chefes de Estado. No entanto, quando esse é o caso, sabe-se a redação da sentença e o estudo
do caso ficaram a cargo de anônimos conselheiros jurídicos (que nem sempre são os mais
qualificados). Ainda, nesses casos há um risco de que motivação da sentença seja sumária ou
nebulosa, podendo o estadista ter receio de proferir decisão que no futuro possa voltar contra
seu interesse próprio. Cumpre lembra que a confiança para a decisão arbitral pode ser
conferida a mais de uma pessoa, ou seja, um colégio de pessoas, podendo ser, por exemplo, 3
neutras e 2 cada uma representando um Estado. Ademais, os árbitros podem ser
representantes dos Estados sem que sejam estadistas. Ainda, o árbitro pode ser escolhido no
quadro da Corte Permanente de Arbitragem, sendo alguém merecedor da confiança dos
Estados, desvinculado da administração e independente da indicação ad hoc de qualquer
Estado.
244. A Corte Permanente de A rbitragem: É uma lista permanente de pessoas (hoje pouco
mais de 200) qualificadas para funcionar como árbitros, que devem ser escolhidas pelos
Esatdos litigantes. Os nomes são indicados pelos governos que patrocinam a entidade,
podendo cada um indicar no máximo quatro pessoas. É comum, embora equívico/impróprio,
FKDPDUGH³VHQWHQoDGD&RUWH3HUPDQHQWH GH $UELWUDJHP´VHQWHQoDVSURIHULGDVSRUSHVVRDV
escolhidas dentro do rol da Corte.
245. Base jurídica da arbitragem: Ao optar pela arbitragem, os Esatdos devem celebrar um
compromisso arbitral, tratado bilateral no qual os contendores descrevem o litígio,
mencionam as regras do direito aplicável, designam o árbitro ou tribunal arbitral, definem
prazos e regras de procedimento (eventualmente), e comprometem-se a cumprir fielmente a
sentença arbitral. Para que seja válido, o árbitro deverá ser préviamente consultado:para que o
tartado bilateral crie encargo para terceiro (o árbitro) deve haver seu consentimento. O
compromisso pode ser feito previamente com tratado geral de arbitragem ou com cláusula
arbitral em tratados de outra natureza. O tratado geral é uma tratado no qual dois ou mais
Estados escolhem essa via para a solução de conflitos futuros, podendo haver em seu
conteúdo restrições quanto à matéria dos litígios ou o limite de tempo no qual o tratado
deverá ser renovado ou revisto. Uma cláusula arbitral em determinado tratado celebrado pelos
Estados estabelece que os conflitos resultantes da aplicação daquele pacto ou sobre a matéria
que o tratado contem deverão ser resolvidos por via da arbitragem. Mesmo com esse
instrumento, não fica dispensado o compromisso arbitral , uma vez que apenas diante do caso
concreto pode-se escolher o árbitro. Ademais, inpendente de tratado ou cláusula de
arbitragem, os Esatdos devem afirmar que cumpriram de boa-fé a sentença proferida por um
árbitro.
246. Natureza ir recor rível da sentença arbitral: A sentença arbitral é irrecorrível, ou seja,
dela não cabe recurso. Ademais, uma vez proferida a sentença, ternima a relação do árbitro
com a lide e cabe às partes a fiel excução da sentença. Nâo obstante, poderão as parte fazer
³SHGLGRGHLQWHUSUHWDomR´RXVHMDSRGHUmRVHGLULJLUQRYDPHQWHDRiUELWURSHGLQGRTXHHVWH
esclarece osburidade, omissão, ambiguidade ou contradição da sentença (correnponde aos
embargos declaratórios do direito brasileiro). Poderá uma parte, ainda acusar de nulidade a
sentença, imputando ao árbitro falta grave ou corrupção, ou abuso ou desvio de poder, assim
se eximindo do cumprimento da sentença. Nesse casos, tem se notado que as alegações são de
que o árbitro se desviou do encargo que lhe fora conferido no compromisso arbitral,
decidindo sobre mais ou sobre algo diverso, ou aplicando normas jurídicas que evidente
impertinência.
247. O brigatoriedade da sentença arbitral: Como já mencionado, a sentença arbitral não é
simples recomendação; é uma decisão de indole jurisdicional, obrigatória. Seu não
cumprimento é um ato ilícito. O fundamento dessa obrigatoriedade esta no fato de que os
Estados assumiram o compromisso, ou seja, prometeram executar a sentença. Sendo assim, o
tratado que serviu de base jurídica para a arbitragem é o que confere a obrigatoriedade da
sentença, respeitando assim o princípio pacta sunt servanda .
248. C arência de executoriedade: Embora definitiva e obrigátoria, a sentença arbitral nao é
executória, ou seja, seu fiel cumpriemento depedne da boa-fe das partes, principalemente do
que sucumbe por força da decisão. Cumpre lembrar que a única prerrogativa jurisdicional do
Estado é eventual pedido de interpretação. Porém, o árbitro não tem nenhuma milícia que
garante o cumprimento pela força, caso o Esatdo decida ilicitamente desobedecer.

Subseção 2 ± Solução judiciária


249. Uma opção soberana: Diferente da arbitragem, nas soluções judiciárias existem
jurisdições permanentes, profissionalizadas, tradicionais e sólidas ao extremo. No entanto,
elas nao exercem a mesma autoridade inata dos juízes e tribunais no âmbito interno de cada
país, sobre pessoas e territórios. Internamente, os Estados exercem sua soberania com a
imposiçao de ações aos indivíduos, empresas e entidade públicas. Contudo, a jurisdição
internacional só é exercida, equacionando conflitos entre soberanias, quando estas
previamente deliberam submeter-se à autoridade das cortes.
250. Uma história recente: A jurisdição judiciária é recente em nossa história, diferente da
arbitral que tem dois milênios de existência. A primeir Corte internacional foi a Corte de
Justiça Centro-Americana, firmada por tratado, em 1907, entre Costa Rica, El Salvador,
Honduras, Guatemale e Nicarágua, que durou 10 anos. Hoje, p mais importante e o mais
antigo tribunal internacional é a Corte de Haia, criada em 1920. De resto, as cortes regionais
ou especializadas só surgiram após a segunda guerra mundial.
251. A corte da H aia: duas fases: A corte instalada na cidade de Haia, em sua primeira fase,
se chamou Corte Permanente de Justiça Internacional, e foi a primeira corte com vocação
universal, aceitando demandas de quaisquer Estados. Ela possui 15 juízes, sendo 11 efetivos e
4 suplentes. Ela foi programada pelo Pacto da Sociedade das Nações (SDN) e seus juízes são
eleitos pelo Conselho a pela Assembléia Geral dessa Sociedade, mas não era um órgão da
estrutura da SDN, deixando dúvidas sobre sua natureza jurídica. Contudo, com a segunda
guerra mundial, a CPJI (e a SDN) foi extinta em 1939.
252. 1945: a ressur reição da Corte: Com o fim da guerra, a Corte ressurgiu com diferente
nome: Corte Internacional de Justiça (CIJ). Como consta na carta da ONU, é um dos órgãos
da organização. O Estatuto da Corte manteve-se o mesmo de 1920, inclusive no número de
artigos, com mudanças de adaptação às novas circunstâncias.
253. Juízes da Corte da H aia: São 15 juízes efetivos, sem suplentes, elegidos em voto
separado pela Assembléia Geral e o Conselho de Segurança da ONU e com mandato de 9
anos, permidita a reelaição, com renovação de um terço a cada 3 anos. Podem ser eleitos
juristas o habilitados a ocupar nos respectivos países as mais altas funções judiciárias ou
consultivas, não podendo investir na Corte dois juízes de mesma nacionalidade. O conjunto
dos juízes deve representar os diversos sistemas contemporâneos do pensamento jurídico, ou
seja, devem haver representantes tanto da common law quanto da escola romano-germânica.
Para que seja excluído uma juiz da Corte antes do final do mandato é necessária decisão
unânime dos demais juízes, o que nunca ocorreu. O presidente e o vice são eleitos para
mandatos de 3 anos, podendo ser reeleitos. E por fim, os salários equivalem-se àqueles (em
média) dados aos juízes do mais alto nível nos países industrializados, e as despezas são à
conta do orçamento das Nações Unidas.
254. Competência contenciosa: A Corte exerce sua competência contenciosa julgando
litígios entre Estados soberanos e neles aplicando o direito internacional. Ela não é acessível
às organizações internacionais nem aos particulares. Vale lembrar que os Estados litigantes
devem aceitar a jurisdição da corte para que esta possa cumprir sua função. Dessa forma:
a) O Estado autor de uma demanda demonstra sua submissão à Corte ao ajuizar o pedido
inicial; e o Esatdo demando, uma vez citado, demonstrará sua aceitação ao contestar o mérito,
se abstendo de rejetirar o foro.
b) Assim como na arbitragem, os estados podem estabelecer em tratado bilateral a submissão
de certo litígio à Corte. Dessarte, poderá não haver distinção entre autor e demandado, uma
vez que os Estados se dirigem a Corte em conjunto. De outro modo, poderão estabelecer que
o primeiro a deduzir suas razões deverá ajuizar demanda contra o outro, que poderá contestar
e reconvir.
c) O Esatdo réu não poderá recusar a jurisdição da Corte quando for obrigado a aceitá-la por
tratado, ou por cláusula facultativa de jurisdição obrigatória (similar à cláusula de
arbitragem).
255. C láusula facultativa de jurisdição obrigatória: A clásula é de aceite facultativo,
podendo o Esatdo ser membro da ONU e parte no Estatuto e não firmá-la. Essa cláusula
possui reciprocidade, ficando comprometidos os Estados demandados e os autores de ações.
Hoje, 66 Estados são comprometidos pela cláusula, sendo excluídos a Rússia, os EUA, a
China, a França e o Brasil. Todos os mencionado (menos a Rússia) já foram vinculados a
cláusulas e preferiram não permanecer. Essa é uma faculdade do Estatuto da Corte: o ingresso
da cláusula pode ter prazo determinado, devendo ser renovado com seu término. Outros
países foram além, estabelecendo limites ratione materiae.
256. L inhas gerais do procedimento: As línguas de trabalho na Corte são francês e inglês, e
o processo não difere substancialmente do curso de processos cíveis num foro interno do
gênero do nosso, sendo admitidas as provas usuais, razões escritas e sustentações orais. As
decisões são tomadas por voto majoritário, e qualquer voto (vencido ou não) pode se juntado
ao acórdão. As comunicações (p. ex. citação) ficam a cargo do cartório da sede da Corte, em
Haia.
257. Natureza do acórdão : O acórdão da Corte e definitivo e obrigatório, não excluindo a
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arbitral. Vale lembrar o princípio pacta sunt servanda , tendo a Corte jurisdição apenas sobre
os Estado que a ela se submeterem. Diferente da sentença arbitral, o acórdão pode ser
executório em circunstâncias excepcionais. Desse modo, sabe-se que o descumpriemento da
sentença por parte do Estado é um ato ilícito, mas a outra parte denunciar o descumprimento
ao Conselho de Segurança e este poderá julgar necessário (de forma a preservar a paz e as
seguranças coletivas) tomar medidas próprias para fazer cumprir o acórdão.
A obrigatoriedade é foco de dúvidas no caso de medidas cautelares, em razao de
ambigüidade na linguagem do Esattuto anexo à Carta das Nações Unidas. No entanto, nos
anos recentes, a ONU tem afirmado a obrigatoriedade destes, uma vez só assim cumprem sua
função. Não é próprio de uma instituição judiciária fazer sugestões cujo acolhimento depende
da vontade do demandado. Sem ser obriJDWyULDDPHGLGDSHUGHVHX REHMWLYREiVLFR³HYLWDU
TXHDGHFLVmRGHPpULWRTXDQGRIDYRUiYHODRLPSHWUDQWHVHMDDILQDOSHUIHLWDPHQWHLQ~WLO´
258. Competência consultiva: Além de emitir acórdãos no exercício de sua competência
contenciosa, a Corte emite pareceres consultivos a pedido da Assembléia Geral ou do
Conselho de Segurança da ONU, ou ainde de outros ógãos ou entidades especializadas que a
Assembléia tenha autorizado a requerer tais pareceres (FMI, Banco Mundial, OMS, OACI,
OIT, entre outros).
259. Cortes regionais e especializadas: Não há no plano internacional uma hierarquia
judiciária entre as diferentes cortes, sendo todas avulsas e independentes. Existem os tribunais
administrativas, como o da ONU, nos quais normalmente de um lado se encontra a própria
organização e do outro alguém que lhe tenha prestado serviço; discutindo-se, dessa forma, a
função pública internacional. Vale mencionar a Corte Européia e a Corte Interamericana,
especializadas em direitos humanos; além da Corte de Justiça da União Européia
especializada no direito comunitário (correta interpretaçao e aplicação do acervo normativo
que rege a comunidade européia), que é aberta aos Estados membros da comunidade e aos
particulares, individuos ou empresas nacionais daqueles Estados. Existem ainda muitas outras
cortes, como o Tribunal Internacional de Direito do Mar, aberto aos Estados-partes , a
autoridade e empresa internacionais que a Convençao que criou o tribunal instituiui, e as
empresas privadas que tenham vínculo contratual com uma ou outra.
 

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