Professional Documents
Culture Documents
A tese central do autor é que a americanização do Brasil deu-se por meio de uma
atuação ideológica, em que a cultura teria relevância fundamental para o êxito do
projeto, mas que este plano não se deu de forma avassaladora e inconteste. Não houve
uma assimilação passiva do paradigma norte-americano; ao contrário, ocorreu uma
releitura das peças e projetos culturais norte-americanos, adequando-se e reconstruindo-
1
se as propostas, naquilo que o autor considera, parafraseando o modernismo, um
“antropofagismo cultural”.
2
processo posto em curso a partir da conflagração da Segunda Guerra. Mas é importante
ressaltar que a obra em questão lembra-nos que a discussão sobre qual modelo é mais
adequado ao país não nasce nesse momento. Muito antes, ainda no período imperial, e,
principalmente no período da Primeira Guerra Mundial, já se discutia a questão sob o
ponto de vista americanófilo ou germanófilo.
Antonio Tota cita Para Ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand
Mattelart, como exemplo da corrente acima, obra em que os personagens de Disney são
apontados como inoculadores “da avareza, do individualismo e do materialismo
consumista norte-americano” (p. 11). Na mesma linha, embora em outro suporte
midiático, José Ramos Tinhorão - apontado em O Imperialismo Sedutor como “um dos
mais ferrenhos críticos da americanização da música popular brasileira” – nota, citando
o exemplo de Dick Farney, que está em curso um processo de alienação da mentalidade
brasileira. Alheamento que visava o completo domínio, uma nova “colonização” do
país.
Por outro lado, Antonio Tota apresenta os intelectuais que adotam o raciocínio
segundo o qual a americanização do Brasil nos traria benefícios, uma vez que o
exemplo norte-americano agiria como uma força exemplar, “capaz de tirar-nos de uma
possível letargia cultural e econômica, trazendo um ar modernizante para a sociedade
brasileira” (p. 11). Como exemplo desta postura, o autor cita Monteiro Lobato, o
escritor que acreditava que o modelo paradigmático dos Estados Unidos da América
poderia elevar o Brasil ao mesmo estágio de desenvolvimento e progresso do poderoso
vizinho do norte. “Estas duas formas de entender a presença americana podem ser
consideradas como os ‘apocalípticos e integrados”, expressões criadas por Umberto
Eco.
3
Adotando uma postura mais flexível, o historiador de São Paulo descreve a
sensação percebida por Carlos Drumond de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda, que,
atentos aos clamores acerca do imperialismo destruindo a cultura nacional, ao travar
contato com representantes estado-unidenses, não encontram justificativa para uma
atitude extremamente alarmista frente ao contato com a cultura norte-americana.
Antonio Pedro Tota dirige uma crítica muito bem sustentada aos intelectuais
marxistas, que vêem no processo de americanização brasileiro uma aceitação passiva da
assimilação cultural, salientando que este evento reveste-se de aspectos muito mais
complexos. Além disso, alerta para o perigo da fetichização dos meios de comunicação,
na medida em que não devemos esquecer o campo da dominação econômica, que ocorre
concomitantemente aos esforços de propaganda e divulgação da cultura norte-
americana. Outra observação que considero importante é acerca da contradição entre a
americanização, que em princípio pressupõe um estado liberal e a tendência ideológica
do governo Vargas.