Cerâmicas Odontológicas: aspectos atuais, propriedades e indicações

Artigo de Revisão / Review

Henriques, A.C.G.,Article
et al

Cerâmicas Odontológicas: aspectos atuais, propriedades e

indicações
Dental Ceramics: current aspects, properties and indications

Águida Cristina Gomes Henriques*, Daene Patrícia Tenório Salvador da Costa*, Keylla Marinho de Albuquerque Barros*, Lúcia Carneiro de
Souza Beatrice**, Paulo Fonseca Menezes Filho***

* CD, Aluna do Curso de Mestrado em Odontologia com área de concentração em Clínica Integrada - UFPE
** CD, Professor Associado da Faculdade de Odontologia - UFPE
*** CD, Professor Adjunto da Faculdade de Odontologia - UFPE

Descritores Resumo

Cerâmica; Estética dentária; Porcelana A utilização das cerâmicas odontológicas em procedimentos restauradores tem se destacado devido
dentária. à influência atual da estética sobre o bem-estar físico, psíquico e social da população. As cerâmicas
puras, particularmente, apresentam uma excelente alternativa à infra-estrutura metálica por causa
das suas propriedades estéticas e mecânicas. Nesta revisão, as marcas comerciais existentes no
mercado foram descritas de acordo com sua composição e fabricação. Sendo assim, o objetivo
deste estudo é apresentar os diversos sistemas cerâmicos livres de metal disponíveis atualmente,
enfatizando suas indicações, vantagens e limitações.

Key-words Abstract

Ceramics; Dental Esthetics; Dental Porcelain.
The use of the dental ceramics in restorative procedures has been enhanced due to the current
influence of esthetics above the physical, psychic and social well-being. The all-ceramics systems,
in particular, show an excellent alternative to the metallic infrastructure because of theirs aesthetic
and mechanical properties. In this revision, the available trademarks in the market were described
according to their composition and fabrication. Therefore, the aim of this study is to present the
various ceramics systems metal free available currently, enhancing their indications, advantages
289

Correspondência para / Correspondence to:

Águida Cristina Gomes Henriques
Av. 17 de agosto, 1536, Casa Forte - Recife – PE – CEP: 52061-540 E-mail: aguidacgh@gmail.com

Em virtude da grande diversidade de cerâmicas é impor-

INTRODUÇÃO
Nos dias atuais pode-se observar, na odontologia, uma
procura cada vez mais acentuada por procedimentos estéticos
devido à inserção da população em uma sociedade na qual a
aparência tem uma importância significativa na aceitação e
auto-estima.
As cerâmicas dentárias, com uma série de caracterís-
ticas intrínsecas desejáveis, como biocompatibilidade, alta
resistência à compressão e abrasão, estabilidade de cor,
radiopacidade, estabilidade química, coeficiente de expansão
térmica próximo ao da estrutura dentária e excelente potencial
para simular a aparência dos dentes naturais, apresentam-se
como um dos principais materiais na ciência e arte da recons-
trução dentária19,10,20,17.
Entretanto, esses materiais foram inicialmente repre-
sentados pelas porcelanas feldspáticas, as quais são friáveis
e frágeis sob tração, não sendo capazes de resistir às tensões
mecânicas presentes no ambiente bucal, além de gerar maior
desgaste no dente antagonista5,11,20. A confecção de restaura-
ções em cerâmica livre de metal tornou-se possível graças ao
surgimento da odontologia adesiva de cerâmicas reforçadas.
Esses sistemas baseiam-se no desenvolvimento de materiais
de infra-estrutura, em
substituição ao metal, que, associados às porcelanas de
cobertura, podem proporcionar excelente resultado estético
sem comprometer o desempenho mecânico indispensável à
longevidade clínica da restauração 20,6.
tante o conhecimento de suas propriedades, indicações, vanta-
gens e limitações, a fim de indicar corretamente os materiais.
Desta forma, esse trabalho objetiva atualizar os profissionais da
área protética com relação aos sistemas cerâmicos existentes,
comparando as propriedades dos materiais mais antigos com
os mais novos disponíveis no mercado, apresentando assim, a
evolução das cerâmicas odontológicas.
REVISÃO DE LITERATURA
HISTÓRICO
As cerâmicas odontológicas surgiram no século XVIII, para
confecção de próteses totais e dentes individuais, visando obter
resultados estéticos semelhantes aos dentes naturais 9.
Em 1887, Land introduziu as coroas ocas de porcelana,
confeccionadas sobre lâmina de platina. Desde então inúmeros
sistemas de porcelana pura foram desenvolvidos. No entanto,
as primeiras cerâmicas odontológicas
(porcelanas feldspáticas), possuíam baixa resistência à tração
e à fratura 22, não resistindo às forças mecânicas exigidas pelo
sistema estomatognático 15.
Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 7 (4): 289-294, out/dez., 2008
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 Cerâmicas Odontológicas: aspectos atuais, propriedades e indicações
Henriques, A.C.G., et al
Nos últimos anos, novos materiais e técnicas para confec-
ção de restaurações puras foram introduzidos para substituir
a infra-estrutura de metal, os quais ampliaram o leque de
indicações para os materiais de cerâmica pura e, em certos
casos, facilitaram o seu processamento11. Surgiram, assim,
as cerâmicas reforçadas, que se caracterizam basicamente
por acrescentar uma maior quantidade da fase cristalina em
relação à cerâmica feldspática convencional. Diversos cristais
têm sido empregados, como a alumina, a leucita, o dissilicato
de lítio e a zircônia, os quais atuam como bloqueadores da pro-
pagação de fendas quando a cerâmica é submetida a tensões
de tração, aumentando a resistência do material 9.
McLean e Hughes, em 1965, desenvolveram a primeira
cerâmica odontológica aluminizada reforçada pelo aumento
da fase cristalina, com a incorporação de 40% em peso de
alumina à fase vítrea, o que resultou no dobro da resistência
à flexão quando comparadas às cerâmicas feldspáticas con-
vencionais.
Em 1983 foi desenvolvido o sistema IPS Empress, tam-
bém conhecido como cerâmica prensada, a qual emprega a
técnica da cera perdida9. Outro tipo de cerâmica modificada
é a infiltrada de vidro, que é utilizada como material de infra-
estrutura à base de Al2O3 que surgiu em 1987, pelo francês
Sadoun16,20.
Em 1993 foi descrito o sistema cerâmico Procera All-
ceramâ (Nobel Biocare), o qual consiste na obtenção de uma
infra-estrutura com 99,5% de alumina 9.
Os materiais cerâmicos encontram-se em pleno desen-
volvimento tecnológico, visto que, nas últimas décadas, foram
introduzidos no mercado novos sistemas cujas dureza e estética
foram melhoradas através da incorporação de vidros cerâmicos
e adição de cristais para reforço como o quartzo e a alumina.
290 TIPOS DE CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS
As porcelanas odontológicas podem ser classificadas
quanto ao tipo, ao ponto de fusão e à composição. Contudo, a
classificação mais utilizada atualmente baseia-se na composi-
ção e fabricação das porcelanas, dividindo-as em: feldspáticas,
aluminizadas (99,5%), aluminizadas reforçadas com vidro, e
vidros ceramizados 7.
Porcelana Feldspática
A porcelana feldspática foi a primeira a ser empregada
na odontologia e, até hoje, tem grande aceitação clínica. Sua
estrutura vítrea é composta basicamente por dois minerais:
o feldspato, formando a fase vítrea e o quartzo, compondo a
fase cristalina, as quais conferem algumas vantagens, como
excelente estética, alta estabilidade química, baixa conduti-
vidade e difusividade, assim como resistência ao desgaste.
Contudo, apresentam como desvantagens a maior dureza em
relação ao esmalte dental e a degradação hidrolítica ao longo
do tempo. Além disso, são friáveis, tendo baixa resistência à
tração, o que lhe confere a característica de friabilidade, ou
seja, fratura frágil sem deformação plástica. Modificadores
vítreos, pigmentos e opacificadores são adicionados para
controlar as temperaturas de fusão e sinterização, coeficiente
de expansão térmica e solubilidade4.
Porcelanas Aluminizadas a 99,5%
A alumina possui alto módulo de elasticidade e alta
resistência à fratura, sendo sua dispersão em uma matriz vítrea
de coeficiente de expansão térmica similar, o que resulta no
fortalecimento significativo do núcleo. Tem sido proposto que
a união excelente
Odontologia. entre aRecife,
Clín.-Científ., alumina e a289-294,
7 (4): fase vítrea é responsável
out/dez., 2008
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por esse aumento na resistência comparado com a cerâmica
reforçada por leucita11. Nessa classe de cerâmicas são encon-
O Procera All-Ceram é um sistema que utiliza o processo
industrial computadorizado (CAD/CAM – Computer-Aided-
Design/Computer-Assisted Machining) para realização de
restaurações dentais. Essas coroas são compostas por uma
estrutura de óxido de alumínio (99,5%) altamente purificada
e densamente sinterizada e combinada com o uso de uma
porcelana de baixa fusão AllCeram, específica para recobrimen-
to. O seu uso está indicado para coroas unitárias anteriores e
posteriores para dentes naturais e sobre implantes, próteses
fixas de três elementos para a região anterior e posterior e
laminados5,10,9.
No sistema Hi Ceram as partículas dispersas de alumina
numa matriz de vidro representam a principal fase de reforço
cristalino. Sobre a infra-estrutura opaca é aplicada a cerâmica
de cobertura livre de leucita10.
Porcelanas aluminizadas reforçadas com vidro
Esta classe de cerâmicas, durante sua fabricação, pas-
sa pela etapa de infiltração de vidro derretido nos poros da
infra-estrutura de alumina sinterizada. Nesta estrutura inter-
penetrante há duas fases que são entrelaçadas e contínuas,
que impedem a formação de trincas, reduzem a porosidade,
quantidade de fendas e irregularidades de superfície, e mos-
tram maior tenacidade do que as porcelanas feldspáticas
convencionais10,14,11,20.
Dentre os sistemas que utilizam este tipo de cerâmica
pode-se destacar o In-Ceram, que consiste em um material
cerâmico à base de Al2O3, sendo considerado como o sistema
totalmente cerâmico de maior resistência à fratura, que atual-
mente é disponível em três formas, Alumina, Spinell e Zircônia,
através do método de confecção pó-líquido, e em uma forma,
Celay, através do sistema CAD/CAM20.
A infra-estrutura do In-Ceram Alumina possui um grande
conteúdo de alumina, com partículas variando entre 0,5 a 3,5
µm, e contração de sinterização de 0,3%. Este sistema fornece
boa resistência à flexão (400 a 600 Mpa), sendo indicado para
a confecção de coroas totais anteriores e posteriores e próteses
fixas de três elementos para a região anterior até pré-molar.
Porém, a alta percentagem de alumina (85% em volume) torna
a infra-estrutura opaca10,18,20,6.
A substituição de parte do Al2O3, da estrutura original
do In-Ceram, por óxido de magnésio, formando a estrutura do
In-Ceram Spinell (MgAl2O4), permitiu aumentar a translucidez
devido ao baixo índice de refração do aluminato de magnésio e
da matriz de vidro. Contudo, essa alteração estrutural provoca
uma redução na resistência média à flexão em torno de 25%.
Desta forma, este sistema é indicado com segurança para
situações clínicas em que o fator estético seja imprescindível
e a restauração não fique exposta a grandes tensões masti-
gatórias, como coroas unitárias anteriores, inlays e facetas
laminadas20,6.
Por outro lado, a obtenção da estrutura do In-Ceram
Zircônia (Al2O3ZrO2) a partir da adição de 33% de zircônio
parcialmente estabilizado ao In Ceram Alumina, proporcionou
significativa melhora nas características mecânicas do siste-
ma original, sendo aproximadamente
20% mais resistente. O óxido de alumínio representa, aproxi-
madamente, 67% da estrutura cristalina, o restante consiste
em óxido de zircônio tetragonal, o qual possui um dos maiores
valores de tenacidade entre os materiais cerâmicos, aumentan-
do a resistência do material à propagação de trincas. Devido
à resistência à flexão de 750 Mpa e opacidade, esta nova
estrutura é apresentada como um material promissor para
confecção de coroas totais e próteses fixas de três elementos
 Cerâmicas Odontológicas: aspectos atuais, propriedades e indicações
Suaréz et al. (2004)23 avaliaram o desempenho clínico do
In-Ceram Zircônia em dezoito próteses parciais fixas na região
posterior após três anos de utilização, analisando superfície,
cor, anatomia, integridade marginal e sangramento gengival.
Uma das dezoito próteses foi perdida devido à fratura radicular
após 28 meses. Todas as próteses remanescentes foram consi-
deradas excelentes ou aceitáveis após o período de observação.
Os autores concluíram que, apesar dos resultados favoráveis
em curto prazo, análises clínicas a longo prazo devem ser
realizadas para que o sistema possa ser recomendado como
alternativa às próteses parciais fixas metalocerâmicas.
O sistema In Ceram Celay é uma alumina obtida pela
fresagem de um bloco cerâmico contendo 70 a 85% de
partículas de alumínio e indicados para confecção de coroas
unitárias anteriores e posteriores, prótese parcial fixa anterior,
inlays e onlays. Sua confecção baseia-se numa réplica da
restauração em resina fotopolimerizável sobre um modelo de
gesso. Em seguida, a estrutura é infiltrada por vidro à base de
aluminossilicato de lantâno, e é concretizada a aplicação da
cerâmica de estratificação Vitadur Alpha (VITA), dando forma
final a restauração10.
Vidros Ceramizados
Outra forma de se obter uma prótese metal-free é através
dos vidros ceramizados, que podem ser fundidos, usinados e
prensados ou injetados.
Os vidros ceramizados fundidos são bem representados
pelo sistema Dicor, o qual contém 45% de cristais de mica
tetrasílica com flúor fundido à temperatura de 1350 a 1400ºC.
O processo de fundição é realizado pela combinação da técnica
da cera perdida e injeção do vidro fundido por meio da centri-
fugação. Esse material era indicado para confecção de coroas
anteriores e posteriores, inlays, onlays e facetas laminadas, no
qual são aplicados pigmentos na superfície externa para obter
a cor desejada. O material também podia ser utilizado como
infra-estrutura, sobre o qual é aplicado à cerâmica feldspática,
resultando num material de cobertura mais estável e com
resistência flexural em torno de 90 a 120MPa10.
O processo de usinagem possui como principal vantagem
a capacidade de confeccionar as restaurações em apenas uma
única consulta. Contudo, o alto custo dos equipamentos, a adap-
tação marginal insatisfatória (comparada com restaurações de
ouro) e a alta opacidade dos materiais cerâmicos disponíveis
constituem as principais desvantagens desse processo, sendo
ainda a resistência uma questão a ser considerada. Dentre os
sistemas que utilizam os vidros ceramizados fundidos, pode-se
destacar o Cerec. O sistema Cerec utiliza a tecnologia CAD/
CAM que, após o preparo do dente, realiza o escaneamento
e a imagem é processada pelo computador. A restauração é
usinada a partir de blocos de cerâmica, através da usinagem
controlada por uma máquina em poucos minutos, sendo o
procedimento de fresagem desse
sistema através de uma ponta diamantada e um disco de
desgaste (Cerec 2) ou duas pontas diamantadas em uma
unidade modular (Cerec 3). É indicado para inlays, onlays e
facetas10,9.
Na confecção dos vidros ceramizados prensados ou
injetados a prensagem pelo calor depende da aplicação de
pressão externa para sinterizar e conformar a cerâmica em
alta temperatura, o que auxilia na prevenção de poros gran-
des, promovendo uma boa dispersão da fase cristalina dentro
da matriz vítrea9. Esta classe de cerâmica subdivide-se em:
porcelana feldspática reforçada por leucita e porcelana à base
de dissilicato de lítio.
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A leucita funciona como uma fase de reforço; o maior
conteúdo de leucita (comparado com a porcelana feldspática
convencional) resulta em maior resistência flexural e contribui
para um alto coeficiente de contração térmica9. A porcelana
feldspática reforçada por leucita está disponível nas seguintes
formas comerciais: Optec HSP, Optimal Pressable Ceramic
(OPC), Finesse All-Ceramic e IPS Empress.
A Optec HSP (120 a 130MPa) contém aproximadamente
55% de cristais de leucita, o que a torna com maior módulo
de ruptura e resistência a compressão do que as porcelanas
feldspáticas tradicionais. Suas principais vantagens são: au-
sência de infra-estrutura metálica ou opaca, boa translucidez,
moderada resistência à flexão e capacidade de ser utilizada
sem equipamento especial de laboratório. Como desvantagem
apresenta falta de precisão marginal. Está indicada para uso
em facetas laminadas, inlays, onlays e coroas submetidas a
baixas tensões10.
A OPC é uma porcelana prensável, indicada para res-
taurações totalmente cerâmicas, tais como: coroas totais em
dentes anteriores, pré-molares e molares, incrustações com ou
sem recobrimento de cúspides e facetas laminadas. As próte-
ses realizadas com esse sistema apresentam boa adaptação
marginal e translucidez, apresentando resistência à flexão de
140 a 156MPa5.
No Finesse All-Ceramic (120MPa), as restaurações são
fabricadas com materiais totalmente cerâmicos prensáveis
e porcelanas de baixa fusão. O alto grau de translucidez e
uniformidade é devido ao tamanho e à distribuição de cristais
de leucita através da matriz vítrea. A principal vantagem do
sistema é permitir, em dentes posteriores, o contato entre a
restauração com recobrimento oclusal e os dentes antagonistas
naturais ou com superfícies restauradas, pois a porcelana de
baixa temperatura apresenta um desgaste superficial mais
compatível com os dentes naturais, quando comparado a 291
outros sistemas cerâmicos existentes. O sistema permite a
realização de inlays, onlays, facetas laminadas e coroas total-
mente cerâmicas5.
O sistema IPS Empress (97 a 180MPa) é baseado na
tradicional técnica da cera perdida, sendo sua fase cristalina ob-
tida a partir de um vidro por meio do processo de cristalização
controlada, também conhecido como ceramização. Consiste,
basicamente, em uma cerâmica feldspática reforçada por
cristais de leucita, prevenindo a propagação de microfraturas
que poderiam se expandir pela matriz vítrea. O sistema permite
a realização de restaurações através da técnica de pintura,
sendo indicada para inlays, onlays, facetas e coroas unitárias
anteriores e posteriores, sendo contra-indicada para confecção
de próteses parciais fixas2,5,9.
Os sistemas que contêm o dissilicato de lítio como a fase
cristalina principal apresentam como vantagens superiores
resistências flexural e à fratura, a qual estende o seu leque
de aplicações 11. Esse sistema cerâmico
apresenta-se nas formas do IPS Empress 2 e do OPC 3G All
Ceramic System.
O IPS Empress 2 (300 a 400MPa) foi desenvolvido obje-
tivando o uso de um sistema cerâmico aquecido e prensado
para confecção de próteses parciais fixas. Além das diferenças
de composição química, existem diferenças consideráveis
entre as microestruturas e as propriedades do IPS Empress. O
IPS Empress 2 possui 60% em volume de cristais de disilicato
de lítio, o que proporciona
Odontologia. Clín.-Científ., um material
Recife, com maior
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flexural após o procedimento de prensagem ewww.cro-pe.org.br
aumenta a
tenacidade do material. Está indicado para coroas em geral
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O OPC 3G All Ceramic System é composto por cristais
de dissilicato de lítio dispostos e unidos à matriz vítrea e é
indicado para confecção de prótese parcial fixa anterior até
1º pré-molar, coroas anteriores e posteriores, inlays, onlays e
facetas laminadas.
Baseando-se na literatura consultada nesse trabalho,
disponibilizamos a seguir (Tabela 1) as cerâmicas descritas
nessa revisão da literatura e suas respectivas indicações, a
fim de facilitar o entendimento.
DISCUSSÃO
Ao longo dos anos, foram desenvolvidas cerâmicas odon-
tológicas para suprir propriedades consideradas deficientes
nas cerâmicas utilizadas em restaurações metalo-cerâmicas,
disponibilizando no mercado sistemas com maior resistência
à tração e flexão; maior tenacidade; maior translucidez; me-
nor condutibilidade térmica e elétrica, minimizando reações
pulpares adversas; menor potencial de danos periodontais
pelo menor acúmulo de placa na superfície vitrificada da
cerâmica; menor risco de sobrecontorno na margem cervical;
menor tempo de processamento e melhor biocompatibilidade.
Entretanto, ainda não existe um sistema que apresente todas
as propriedades ideais, havendo variações destas característi-
cas nos próprios sistemas metal-free, sendo a seleção destas
dependente da necessidade clínica.
As porcelanas aluminizadas reforçadas com vidro apre-
sentam maior tenacidade que as feldspáticas convencionais, o
que lhes conferem maior resistência à fratura. E ainda dentre
essas cerâmicas reforçadas, os autores são unânimes em
relatar uma maior resistência mecânica do sistema In Ceram
Zircônia 8,10,18,23.,6.
292 O sistema cerâmico In-Ceram Spinell devido as suas
propriedades ópticas está mais indicado para dentes anteriores
por apresentar maior translucidez, enquanto que o In-Ceram
Zircônia, por apresentar a maior média de módulo de ruptura
quando comparado com In-Ceram Spinell e Alumina, está me-
lhor indicado em regiões posteriores sobre dentes naturais ou
implantes18. Sendo assim, o In-Ceram Zircônia parece ter exce-
lentes características mecânicas; entretanto, por ser bastante
recente, são necessários estudos clínicos longitudinais a longo
prazo para que seu desempenho mecânico possa ser confir-
mado clinicamente nas coroas e próteses fixas posteriores 20.
O surgimento dos sistemas Spinell e Zircônia, por meio
de modificações na estrutura do sistema In-Ceram Alumina,
sugere uma importante versatilidade do sistema, aumentan-
do sua aplicação clínica como material para infra-estrutura
cerâmica 20.
Comparando-se as porcelanas feldspáticas convencionais
com as feldspáticas reforçadas por leucita (Optec HPS, Optimal
Pressable Ceramic (OPC), Finesse All-Ceramic e IPS Empress)
observa-se um maior coeficiente de expansão térmica para as
com adição de leucita, o que garante uma maior estabilidade,
maior módulo de ruptura e resistência à compressão 10,5,9.
Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 7 (4): 289-294, out/dez., 2008
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As porcelanas feldspáticas reforçadas com leucita, jun-
tamente àquelas a base de dissilicato de lítio, são igualmente
classificadas em vidros ceramizados prensados. É relatada na
literatura11 uma superior resistência flexural e resistência à
fratura para as reforçadas por dissilicato de lítio, o que corro-
bora com Drummond et al. (2000)12, os quais realizaram uma
pesquisa in vitro comparando quatro porcelanas feldspáticas
reforçadas por leucita com uma porcelana feldspática de baixa
fusão e uma cerâmica contendo dissilicato de lítio, avaliando a
resistência flexural sobre cargas estática e cíclica; assim como
resistência à fratura sobre carga estática. A cerâmica contendo
dissilicato de lítio obteve uma resistência flexural e à fratura
significantemente maior, sendo a primeira de 205Mpa. Suas
melhores propriedades mecânicas foram atribuídas ao tama-
nho da partícula e à sua distribuição, e não necessariamente
às mudanças na composição.
A cerâmica feldspática reforçada por dissilicato de lítio,
IPS Empress 2, foi desenvolvida com o intuito de aumentar a
tenacidade do IPS Empress, possibilitando, assim, a indicação
do sistema para confecção de próteses fixas de até três ele-
mentos2, contudo, em estudo realizado por Pagani, Miranda e
Bottino (2003)19 o In-Ceram Alumina ainda apresentou maior
valor de tenacidade que o IPS Empress 2. Valendo salientar,
ainda, que estes sistemas são alternativas que preenchem os
requisitos para restaurações indiretas, alcançando trabalhos
duradouros, estéticos e com alta precisão marginal 2.
Apesar da casuística e do sucesso das restaurações
metalocerâmicas, a odontologia sempre buscou substituir ma-
teriais metálicos devido às suas desvantagens como estética
precária e biocompatibilidade insuficiente 3,10 o que estimulou
o uso das porcelanas como material para infra-estrutura, as
quais são referidas por Alves et al. (2005)1 como o material
restaurador estético com as melhores propriedades ópticas
para reproduzir as cores, a forma, o contorno e a textura de
superfície da dentição natural.
Entretanto, na tentativa de substituir o metal por cerâ-
micas, algumas dificuldades são observadas no uso clínico
destes sistemas. Como exemplo, pode-se citar a necessidade
da realização de moldes e modelos na fase clínica e labo-
ratorial acarretando um maior risco de distorção devido às
alterações dimensionais relacionadas às propriedades dos
materiais empregados nas diferentes fases de confecção.
Diferentemente das estruturas metálicas que, rotineiramente,
são seccionadas e unidas através de processos de soldagem a
laser ou brasagem, as estruturas cerâmicas não possibilitam
de forma confiável a realização deste procedimento. Devido a
isto, existe uma tendência de se admitir um maior desajuste
marginal das estruturas cerâmicas ou a realização de maiores
alívios na superfície interna dos copings, durante as fases de
provas clínicas e laboratoriais. Este fato pode comprometer
a longevidade no uso de próteses parciais fixas totalmente
cerâmicas, tal como limita o seu uso na confecção de próteses
parciais fixas de 3 elementos, diminuindo desta forma o risco
de distorção 18.
Qualquer um dos sistemas de cerâmica pura para infra-
estrutura atualmente disponível pode proporcionar bom ajuste
e aspecto de naturalidade, desde que cuidados sejam tomados
durante os procedimentos de confecção. O sucesso no uso dos
materiais totalmente cerâmicos está na apropriada seleção do
sistema, lembrando, ainda, que todos os sistemas apresentam
limitações e, quando, se tenta extrapola-las, a taxa de sucesso
tende a cair drasticamente 13.
CONSIDERACÕES FINAIS
 Cerâmicas Odontológicas: aspectos atuais, propriedades e indicações
Henriques, A.C.G., et al

Tabela 1 – Indicações das cerâmicas para próteses livres de metal segundo a composição e a fabricação.

Classe Cerâmica / Indicações

Fabricante

Porcelanas Aluminizadas Procera All-Ceram · Coroas unitárias anteriores e posteriores

a 99,5% (Nobel Biocare) sobre dentes naturais e implantes;
· Próteses fixas de três elementos para a
região anterior e posterior;
· Laminados.

In-Ceram Alumina · Coroas totais anteriores e posteriores;
(Vita Zahnfabric) · Próteses fixas de três elementos para a
região anterior até pré-molar.

In-Ceram Spinell · Coroas unitárias anteriores;
Porcelanas aluminizadas (Vita Zahnfabric) · Inlays;
reforçadas com vidro Facetas laminadas.
·
In-Ceram Zircônia · Coroas totais e próteses fixas de
(Vita Zahnfabric) três elementos em regiões posteriores,
sobre dentes naturais ou implantes.

In-Ceram Celay · Coroas unitárias anteriores e posteriores;
(Vita Zahnfabric) · Prótese parcial fixa anterior;
· Inlays e onlays.

Fundidos Dicor · Inlays e onlays;

(Dentsply) · Facetas laminadas;
· Coroas s em dentes anteriores e posteriores.

Usinados Cerec 1, 2 e 3 · Facetas;

(Sirona) · Inlays e onlays.
293
Optec HSP · Facetas laminadas;
(Jeneric/Pentron) · Inlays e onlays;
· Coroas submetidas a baixas tensões.

OPC · Inlays e onlays;
(Jeneric/Pentron) · Facetas laminadas;
· Coroas totais em dentes anteriores e
Vidros posteriores.
ceramizados
Finesse All-ceramic · Inlays e onlays;
(Dentsply) · Facetas laminadas;
Prensados ou · Coroas totais em dentes anteriores e
injetados posteriores.

IPS Empress · Inlays e onlays;
(Ivoclar) · Facetas;
· Coroas unitárias anteriores e posteriores

IPS Empress 2 · Coroas anteriores e posteriores;
(Ivoclar) · Próteses fixas de 3 elementos anteriores e
posteriores.

OPC 3G All · Inlays e onlays;

Ceramic System · Facetas laminadas;
(Jeneric/Pentron) · Coroas anteriores e posteriores;
· Prótese parcial fixa anterior até 1º pré-molar

Diversos sistemas cerâmicos estão disponíveis no
mercado, fazendo com que os profissionais da área protética
necessitem de uma constante reciclagem acerca das suas
propriedades e indicações, visto que bons resultados não são
devidos exclusivamente ao tipo de material utilizado, mas sim, à
seleção do melhor material para determinado caso em conjunto
à habilidade do profissional no manuseio do produto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 7 (4): 289-294, out/dez., 2008

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