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Universidade do Porto
Serviço de Fisiologia
Aula Prática
HEMOGRAMA
Texto de Apoio
INTRODUÇÃO
ANÁLISE DA AMOSTRA
Pode ser realizada através de métodos manuais ou automáticos. Os métodos manuais recorrem
à observação microscópica da amostra, enquanto os métodos automáticos baseiam-se no uso de
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técnicas que avaliam as variações de impedância do fluxo eléctrico ou da dispersão de luz produzida
pelas diferentes células. De forma genérica, podemos afirmar que os segundos fornecem medições
mais precisas e completas do que os primeiros, ao mesmo tempo que aumentam a rapidez da análise.
Os métodos automáticos podem fornecer alguns dados qualitativos como o volume celular, mas como
se baseiam em características médias, poderão conduzir a resultados erróneos. Desta forma, uma
análise por métodos manuais, reveste-se de grande importância nos casos em que é necessária uma
avaliação qualitativa.
GLÓBULOS RUBROS
Hematócrito (Ht) –proporção do volume da amostra de sangue que é ocupado pelos GR. A forma
mais apropriada para o determinar é por centrifugação, tal como descrito originalmente por Wintrobe.
Expressa-se em % ou em litros por litro (L/L).
Concentração da Hemoglobina (Hb) – a hemoglobina é uma proteína dotada de uma coloração forte,
o que permite a sua quantificação por métodos colorimétricos e espectofotométricos. As várias formas
de hemoglobina patentes no sangue incluem a oxihemoglobina, a carboxihemoglobina e a
metemoglobina, entre outras. Podem ser convertidas num único componente estável comum, a
cianometemoglobina. O doseamento desta permite a determinação da concentração de hemoglobina.
Expressa-se em gramas por decilitro (g/dL) do sangue total.
Contagem de Glóbulos Rubros – os métodos manuais de contagem estão em desuso pela imprecisão
dos resultados. De facto, os métodos automáticos fornecem contagens mais precisas e são realizados
em sangue total diluído em meio isotónico.
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Anemia - descida para valores inferiores aos normais do número de GR do sangue circulante
e/ou do seu conteúdo de hemoglobina. Define-se por uma concentração de hemoblogina inferior a 13
g/dl no homem e a 12 g/dl na mulher e/ou um Ht inferior a 42% no homem e a 37% na mulher. Pode
manifestar-se através de diversos sintomas como palidez mucocutânea, síncope, vertigens, taquicardia,
perturbações digestivas, entre outros.
Policitemia (ou poliglobulia) - aumento da percentagem de GR. Pode ser relativa (devido a
perda de volume) ou absoluta (aumento da massa total de GR). Pode ser induzida por hipoxémia
crónica (altitude elevada) ou ser consequência de uma doença (como nas hemoglobinopatias).
Volume Globular Médio (VGM) – o volume médio dos GR é um índice útil na classificação das
anemias. A anemia classifica-se como normocítica quando os valores do VGM se encontram dentro
da normalidade, macrocítica quando o VGM está elevado ou microcítica quando o VGM se encontra
reduzido. É geralmente determinado por métodos automáticos, mas pode ser calculado pelo quociente
entre o hematócrito e o número de glóbulos rubros. Expressa-se em fentolitros (fl ou x10-15).
Ht(L/L)
VGM =
Nº GR (x1012/L) x 1000
Hemoglobina Globular Média (HGM) - medida do conteúdo de hemoglobina por GR. Pode ser
calculada pela fórmula que se segue. Expressa-se em picogramas (pg ou x10-12).
Hb (g/dl)
HGM =
Nº GR (n/L) x 10
Hb (g/dl)
CMHG =
Ht(L/L)
LEUCÓCITOS
O estudo dos leucócitos baseia-se nos seguintes parâmetros: contagem, características
morfológicas, proporções relativas, maturação e modificações na inflamação. A contagem normal de
leucócitos varia entre 4,3 e 10,8 x 109/L. Deste valor, 45 a 75% são neutrófilos, 16 a 45% linfócitos, 4
a 10% monócitos, 0 a 7% eosinófilos e 0 a 2% basófilos.
O aumento do número de leucócitos (>10,8 x 109/L) designa-se por leucocitose e resulta, na
maioria dos casos, do aumento do número de neutrófilos (neutrofilia). As principais causas de
leucocitose são: infecção/inflamação, traumatismo e leucemia/linfoma. Há algumas situações que são
acompanhadas pelo aumento de um tipo específico de leucócito, pelo que a realização de um
hemograma pode ter particular interesse no seu diagnóstico. Por exemplo, as infecções bacterianas
acompanham-se frequentemente de neutrofilia, as infecções víricas de linfocitose e as infecções
parasitárias e doenças alérgicas de eosinofilia.
A diminuição do número de leucócitos para níveis inferiores a 4,3 x 109/L designa-se por
leucopenia e resulta geralmente de uma diminuição do número de neutrófilos (neutropenia). As
principais causas de leucopenia são o uso de fármacos que afectam a produção de leucócitos, as
terapêuticas imunossupressoras e as síndromes de imunodeficiência.
Sobretudo em situações neoplásicas (linfomas e leucemias), para além da contagem dos
leucócitos, é fundamental o estudo morfológico e imunológico das células.
PLAQUETAS
A variação normal da contagem das plaquetas é de 130-400 x 109/L. O aumento do número de
plaquetas (>400 x 109/L ) designa-se por trombocitose e pode ocorrer, por exemplo, em associação
com doenças mieloproliferativas (linfomas e leucemias). A diminuição do número de plaquetas (< 130
x 109/L) designa-se por trombocitopenia. Em grande parte dos casos de trombocitopenia ocorre auto-
imunidade para as plaquetas do indivíduo, embora não se conheça a causa de tal fenómeno
(trombocitopenia idiopática).
ESFREGAÇO SANGUÍNEO
A avaliação de um esfregaço sanguíneo é uma parte importante na avaliação da doença
hematológica. Embora um diagnóstico específico possa ser sugerido com base em resultados obtidos
por métodos automáticos, muitas doenças têm uma contagem celular normal com morfologia celular
anormal. Situações como anisocitose (variações do tamanho), poiquilocitose (variações da forma) ou
anisocromia (variações da cor) só poderão ser avaliadas através da realização de um esfregaço
sanguíneo. Se o anterior é verdade, também o é que a análise morfológica pode ser prejudicada por
esfregaços mal preparados ou corados ou pela inexperiência do observador. Um bom esfregaço
sanguíneo e, por consequência, o sucesso da análise morfológica exigem particular atenção na
preparação e coloração do esfregaço e familiaridade com a aparência morfológica de tipos celulares
normais ou patológicos.
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ANEMIAS
As indicações para a realização de um hemograma podem envolver qualquer um dos tipos
celulares do sangue. Uma das principais indicações é, sem dúvida, o diagnóstico de anemia. Por isso, é
importante conhecer a sua forma de apresentação clínica bem como a sua fisiopatologia.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
Depende da natureza da doença subjacente à anemia. De um modo geral, a sintomatologia
agrava-se com a rapidez de aparecimento e gravidade da anemia e com a idade do doente. Uma
anemia ligeira pode ser compensada por um desvio da curva de dissociação hemoglobina de modo a
manter o aporte de oxigénio para os tecidos. Consequentemente, o desvio da curva reduzirá
progressivamente a capacidade de resposta dos GR a situações de aumento do consumo de oxigénio.
As principais queixas dos doentes incluem: astenia, taquicardia e dispneia de esforço. Quando os
níveis de Hb se tornam inferiores a 7-8 g/dl, a capacidade física sofre uma redução acentuada:
qualquer esforço estará associado a dispneia, palpitações, cefaleia e rápida exaustão.
A perda aguda de sangue envolve redução súbita do volume sanguíneo e da massa
eritrocitária. Em casos de hemorragia grave, o desvio da curva de dissociação da hemoglobina não é
suficiente para manter o aporte de oxigénio para os tecidos e os doentes apresentarão sinais e sintomas
de hipóxia tecidual e de colapso vascular, nomeadamente, confusão, dispneia, diaforese, hipotensão e
taquicardia, necessitando de reposição imediata de volume. Nos doentes que desenvolvem uma anemia
crónica, o volume de sangue total permanece normal (ou ligeiramente aumentado) e as alterações no
débito cardíaco (por aumento da frequência cardíaca) e no fluxo sanguíneo regional (vasodilatação)
ajudam a compensar a perda na capacidade de transporte de oxigénio. Ao exame físico essa
compensação irá traduzir-se em pulsos periféricos amplos e sopros cardíacos.
A palidez da pele e das mucosas é também um sinal importante de anemia embora em
indivíduos com edema subcutâneo, redução acentuada do fluxo sanguíneo cutâneo ou pele muito
pigmentada seja de valorização mais complexa.
Assim, face a um indivíduo com astenia, taquicardia, taquipneia, cefaleias e palidez
mucocutânea é sempre de considerar a hipótese de anemia. O diagnóstico completo dependerá, como
habitualmente, de uma história clínica e exame físico detalhados e do recurso a exames
complementares, nomeadamente, ao hemograma.
Deficiência na produção dos eritrócitos (Anemias hipoproliferativas) – são o tipo de anemias mais
frequente. Podem resultar de lesão da medula óssea, carência inicial de ferro ou falência da resposta
normal da eritropoietina à anemia. Caracterizam-se por baixo índice de produção de reticulócitos e por
ausência de alterações na morfologia das hemácias. Classificam-se, geralmente, em anemias
normocrómicas normocíticas.
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VALORES DE REFERÊNCIA
Índice Homem Mulher
Contagem de Eritrócitos 4,15-4,90x1012/L
Concentração de Hemoglobina 13-18 g/dL 12-16 g/dL
Hematócrito 42-52% 37-48%
Volume Globular Médio (VGM) 86-98 fl
Hemoglobina Globular Média (HGM) 28-33 pg
Concentração Média de Hemoglobina Globular (CMHG) 32-36 g/dL
Reticulócitos 0,5-2%
Leucócitos (total) 4,3-10,8x109/L
Neutrófilos 45-74%
Linfócitos 16-45%
Monócitos 4-10%
Eosinófilos 0-7%
Basófilos 0-2%
Plaquetas 130-400x109/L
BIBLIOGRAFIA
1. Fauci AS, Braunwald E, Isselbacher KJ, Martin JB, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, editors.
Harrison’s Principles of Internal Medicine. New York: McGraw-Hill, 1998:356-361
2. Lee GR, et al. Wintrobe’s Clinical Hematology. Baltimore: Williams & Wilkins, 1994:9-30;897-935