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1. INTRODUÇÃO
Tendo como tema central os Direitos da Personalidade, tema e objetivo dos
nossos estudos, o presente seminário tem por objetivo discutir o dano moral e a
sua liquidação, oriundo das ofensas a esse ramo do Direito, destacado dos
demais por mera questão didática.
2. CONCEITOS DE DANO MORAL
Os ensinamentos de BITTAR[1] são claros, ao estabelecer a correlação entre
direito e dano. Vejamos:
“O Direito regula, na defesa dos valores maiores da
sociedade e da pessoa, os efeitos decorrentes de fatos
humanos produtores de lesões a certos interesses alheios
protegidos e, com isso, garante a fluência natural e
pacífica das interações sociais. O agente de fatos lesivos
que lhe possam ser imputáveis, subjetiva ou
objetivamente, arca com o ônus correspondente, tanto em
seu patrimônio como em sua pessoa, ou em ambos, e
assume a obrigação de indenizar danos provocados,
contra ius, a pessoas, ou a bens e a direitos alheios.
Dano é, nesse contexto, qualquer lesão injusta a
componentes do complexo de valores protegidos pelo
Direito, incluído, pois, o de caráter moral.”
MAGALHÃES[2] expõe, para definir dano:
“Etimologicamente dano vem de “demere” que significa
tirar, apoucar, diminuir. Portanto, a idéia de dano surge
das modificações do estado de bem-estar da pessoa, que
vem em seguida à diminuição ou perda de qualquer dos
seus bens originários ou derivados extrapatrimoniais ou
patrimoniais. O conceito clássico de dano, aquele que se
encontra na maioria dos autores que trataram do
assunto, sendo por isso o mais divulgado, é o que entende
o dano como uma diminuição do patrimônio, patrimônio
tanto material quanto moral.”
Continua os seus ensinamentos a brilhante autora:
“O dano, como conseqüência do ilícito civil ou do
inadimplemento contratual, é elemento impres-cindível
na configuração da respon-sabilidade civil, sem o qual
não existe. No campo civil, a responsabilidade é medida
pela extensão do dano e não pelo grau de culpa, podendo
mesmo a culpa levíssima gerar a obrigação de indenizar
(“In lege Aquilia et levissima culpa venit”). Sabemos que a
situação diferente dessa se apresenta no Direito Penal,
pois pode haver pena sem ter havido dano (Ex: tentativa
de determinado crime). Portanto, para o Direito Civil, não
havendo dano não há indenização. Aliás, nem se pode
falar em ilícito civil sem a existência de um prejuízo; é
este elemento que dá conteúdo ao ato ilícito. Por outro
lado, admi-te-se a indenização no caso de danos
provocados por atos ilícitos, como os praticados em
legítima defesa, em estado de necessidade e no exercício
regular de um direito.”
CAHALI[3] afirma que é possível distinguir-se, no âmbito dos danos, a categoria
dos danos patrimoniais, de um lado, dos chamados danos morais, de outro;
respectivamente, o verdadeiro e o próprio prejuízo econômico, e o sofrimento
psíquico ou moral, as dores, etc. A caracterização do dano extrapatrimonial tem
sido deduzida na doutrina sob a forma negativa, na sua contraposição ao dano
patrimonial, ou seja, “dano patrimonial é o dano que atinge o patrimônio do
ofendido; dano não patrimonial é o que, só atingindo o devedor (sic) como ser
humano, não lhe atinge o patrimônio”, segundo o conceito de Pontes de Miranda,
citado pelo autor.
MAGALHÃES[4] escreve sobre o assunto:
“Os danos morais podem ser das mais variadas espécies.
Os principais citados pela doutrina, são os que trazem
prejuízo: à reputação, à integridade física, como o dano
estético, ao direito moral do autor, ao direito de uma
pessoa ao nome, às convicções de alguém, às pessoas que
a vítima do dano tem afeto, como por exemplo a morte de
um filho, à integridade da inteligência, à segurança e
tranqüilidade, à honra, ao cônjuge por aquele que
ocasionou o divórcio, à liberdade, aos sentimentos
afetivos de qualquer espécie, ao crédito, etc.”
SILVA[5] define o que seja dano moral em sua obra:
“Danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou
pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal,
entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição ao
patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não
seja suscetível de valor econômico. Jamais afetam o
patrimônio material, como o salienta Demogue. E para
que facilmente os reconheçamos, basta que se atente,
não para o bem sobre que incidiram, mas, sobretudo,
para a natureza do prejuízo final. Seu elemento
característico é a dor, tomado o termo em seu sentido
amplo, abrangendo tanto os sofrimentos meramente
físicos, quanto os morais propriamente ditos. Danos
morais, pois, seriam, exemplificada-mente, os
decorrentes das ofensas à honra, ao decoro, à paz
interior de cada qual, às crenças íntimas, aos
sentimentos afetivos de qualquer espécie, à liberdade, à
vida, à integridade corporal.”
BITTAR[6] observa que os danos materiais e danos morais são aspectos
particulares da categoria jurídica dos danos reparáveis, ou seja, dos
desequilíbrios ou das distorções injustas verificadas na esfera jurídica geral de
qualquer titular de direitos.
O mestre citado no parágrafo anterior (op. cit., pág. 47) divide os danos morais
em puros e reflexos. São puros os danos morais que se exaurem nas lesões a
certos aspectos da personalidade, enquanto os reflexos constituem efeitos ou
interpolações de atentados ao patrimônio ou aos demais elementos materiais do
acervo jurídico lesado. Confinam-se os primeiros no âmago da personalidade, ao
passo que os outros extrapolam à parte inicialmente atingida (assim, o uso
indevido de imagem alheia pode produzir somente descontentamento ou
insatisfação para o lesado; mas, dependendo de fatores outros, até a perda da
consideração social, ou de amigos, ou de certa clientela, ou de negócios em geral,
em função do vulto assumido pela divulgação e em razão das peculiaridades da
utilização).
Observa-se, na análise da categoria dos danos morais, que, no respectivo âmago,
se encontra a antinomia a atributos personalíssimos reconhecidos aos titulares
de direitos. Reveste-se, pois, de caráter atentatório à personalidade, de vez que se
configura através de lesões a elementos essenciais da individualidade.
Ora, por essa razão é que recebe a repulsa do Direito, que, como já anotado,
procura realizar a defesa dos valores básicos da pessoa e do relacionamento
social. Nesse sentido, tem-se que fatos lesivos a certos componentes da
personalidade produzem danos morais, os quais, na prática, devem ser
ressarcidos, a fim de que se faça a devida justiça, especialmente em razão da
orientação de que todo dano há de justificar ação tendente à obtenção da
necessária reparação.
[1] BITTAR, C. A.Reparação civil por danos morais. São Paulo, RT, 1993, p. 12.
[2] MAGALHÃES, T. A. L. deO dano estético (responsabilidade civil). São Paulo, RT, 1980, p.5.
[3]CAHALI, Y. S.Dano e indenização. São Paulo, RT, 1980, p. 7.
[4] MAGALHÃES, T. A. L. deop. cit., pág. 6
[5]SILVA, W. M. daO dano moral e sua reparação. 3a. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1983, p. 1.
[6] BITTAR, C. A.op. cit., pág 32.
[7]DINIZ, M. H.Revista Jurídica Consulex – no. 02 – jan/dez 1997. CD Rom.
[8] BITTAR, C. A.op. cit., pág. 53.
[9]ALVES, V. R.Responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários. Vol. 1. 2ª ed.
Campinas, Bookseller, 1999. págs. 172-3.
[10]DINIZ, M. H.Tratado teórico e prático dos contratos. IV, pág. 469.
[11]ALVES, V. R.op. cit., pág.174.
[12] BITTAR, C. A.Reparação Civil por danos morais, n. 35, p. 218, apud CAHALI, Y. S.Dano
Moral. 2ª ed. 4ª Tiragem. São Paulo, RT, 2000. pág. 703.
[13] CAHALI, Y. S.Dano Moral. 2ª ed. 4ª Tiragem. São Paulo, RT, 2000. pág. 704.
[14] REMÉDIO, JOSÉ ANTONIO et al.Dano moral: doutrina, jurisprudência e legislação. São
Paulo, Saraiva, 2000. pág. 27.
[15] GOMES, LUIZ ROLDÃO DE FREITASElementos de responsabilidade civil. Rio de
Janeiro, Renovar, 2000. pág. 100.
[16] CAHALI, Y. S.op. cit., pág. 705.
[17] NASCIMENTO, TUPINAMBÁ MIGUEL CASTRO DO Responsabilidade civil no Código
do Consumidor, Rio de Janeiro, Aide, 1991, nº 15, pág. 102.
[18] CASTRO, AMÍLCAR DE, Rev. Forense 93/529.
[19] GONÇALVES, CARLOS ROBERTOResponsabilidade Civil. 6ª ed. São Paulo, Saraiva,
1995. pág. 414.
[20] AMARANTE, APARECIDAResponsabilidade civil por dano à honra. 4ª ed. Belo
Horizonte, Del Rey, 1998. pág. 262.
[21] AGUIAR DIAS Da Responsabilidade Civil, 9ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 1994, vol. II, pág.
740, nota 63.
[22] SILVA PEREIRA, CAIO MÁRIO DA Instituições de Direito Civil, 8ª ed., Rio, Forense,
1986, vol. II, nº 176, pág. 235.
[23] MAZEAUD et MAZEAUD Responsabilité civile. Vol. I, nº 313, apud SILVA PEREIRA,
CAIO MÁRIO, Responsabilidade civil, 2ª ed., Rio, Forense, 1990, nº 45, págs. 63-64.
[24] SILVA PEREIRA, CAIO MÁRIO DA, op. cit, pág. 67.
[25] LIMONGI FRANÇA, R. Reparação do Dano Moral, RT 631/36.
[26] SILVA, WILSON MELO DAEnciclopédia Saraiva de Direito. Vol. 22, pág. 275.
[27] DEDA, ARTUR OSCAR OLIVEIRA Enciclopédia Saraiva de Direito. Vol. 22, pág. 290.
[28] DEDA, ARTUR OSCAR OLIVEIRA Enciclopédia Saraiva de Direito. op. cit., loc. cit.
[29] A. VON TUHR Tratado de las Obligaciones, Madrid, Reus, 1934.
[30] ALVIM, AGOSTINHODa Inexecução das Obrigações e suas Conseqüências. 5ª edição. São
Paulo, Saraiva, 1980. pág. 224.
[31] WILSON MELLO DA SILVA
[32] CLAYTON REISDano moral. 3a. ed. Forense, Rio de Janeiro, 1994. pág. 103.
[33] AFRANIO LYRA pág. 116, e, à página 107
[34] AGUIAR DIAS, op. cit., loc. cit.
[35] REIS, CLAYTON, op. cit., loc. cit.