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Enfermagem-tarde
Disciplina: Fisiologia
Professor(a): Aline
A idéia de uma alteração biológica como agente causador da esquizofrenia é tão antiga
quanto a definição desta doença como entidade nosológica. Kraepelin (1996), ao
sistematizar os diagnósticos psiquiátricos, agrupou a então chamada Dementia Praecox
dentro do grupo das demências endógenas. O conceito de endogenicidade era
fundamental para o sistema krapeliniano e, embora expressasse o desconhecimento das
causas reais das afecções mentais, foi de grande importância ao centrar na própria
constituição do indivíduo a origem da doença. A concepção de um transtorno demencial
direcionou inicialmente as pesquisas para um processo neurodegenerativo. Alzheimer
foi o primeiro a conduzir estudos neuropatológicos e não observou gliose reativa,
diferenciando os processos neuropatológicos envolvidos na esquizofrenia das demências
senis (Bogerts, 1999).
Nesse período, também houve um avanço das técnicas de neuroimagem que permitem a
avaliação in vivo de alterações neuroestruturais, neuroquímicas e funcionais, as quais
foram amplamente utilizadas para investigação da esquizofrenia. Na década de 1990, os
principais grupos de pesquisa focaram seus esforços em estudos de pacientes de
primeiro episódio psicótico e, mais recentemente, na identificação de pacientes de alto
risco para o desenvolvimento da esquizofrenia.
A esquizofrenia tem sido considerada a mais incapacitante das psicoses.Os
pacientes esquizofrênicos, bem como seus familiares, acabam sendo, de forma geral,
estigmatizados em todas as sociedades. Esse estigma causado pela má compreensão da
condição agrava ainda mais o quadro, uma vez que aumenta o isolamento social do
indivíduo, dificulta o relacionamento familiar, diminui suas chances de educação e
empregabilidade, além de aumentar a probabilidade do uso de drogas.
Estima-se que, somente no Brasil, cerca de 1.170.000 pessoas sofram de
esquizofrenia e cerca de 80.000 novos casos surgem anualmente. Para muitas dessas
pessoas, o preconceito e a discriminação são experiências comuns, além do convívio
cotidiano com dificuldades e obstáculos impostos pela falta de acesso a informações, a
tratamentos adequados, a um suporte social e legal, entre outras dificuldades.
O termo “esquizofrenia” (esquizo = divisão; phrenia = mente), cunhado pela
primeira vez por Eugen Bleuler (1857-1930) faz alusão, como a própria etimologia da
palavra indica, a uma quebra entre as funções do pensamento, da afetividade e do
comportamento e, mais de oitenta anos após a criação desta denominação, a doença
ainda não representa uma entidade única definida, em função da heterogeneidade de
suas formas de apresentação. Portanto, é compreensível que até hoje não se tenha
chegado a um consenso quanto à sua etiologia, apesar de alguns de seus aspectos já se
encontrarem bem estabelecidos como, por exemplo, a eficácia do uso de psicofármacos
em seu tratamento.
SINTOMATOLOGIA
Distúrbios Afetivos
- isolamento social
- introversão
- indiferença emocional (embotamento afetivo)
- preferência por ocupações solitárias
- passividade
- incongruência afetiva (demonstrar uma emoção contrária ao que normalmente se
esperaria em determinada situação)
- descuido com cuidados pessoais (aparência e higiene)
- ansiedade
- comportamento violento
- negativismo passivo (ausência de resposta a solicitações do entrevistador) ou ativo (o
indivíduo faz o contrário do que lhe é pedido)
- obediência automática (o indivíduo faz rápida e automaticamente aquilo que lhe é
solicitado)
- ambitendência (oscilação entre fazer ou não o que lhe é pedido)
Distúrbios da Motricidade
- estupor
- rigidez
- acinesia (ausência de movimentação espontânea)
- posturas físicas bizarras
- flexibilidade cérea (o sujeito permanece na posição em que for colocado por longos
períodos de tempo)
- estereotipias (repetições regulares e uniformes de movimentos simples ou
complexos,sem sentido aparente)
- maneirismos (posturas e movimentos bizarros, muitas vezes desconfortáveis, com
sentido ou objetivo especial para o indivíduo)
- ecolalia (repetição de palavras do entrevistador)
- ecopraxia (repetição de gestos do entrevistador)
EPIDEMIOLOGIA
ETIOLOGIA DA DOENÇA
ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS
Em contraste com outros distúrbios que acometem o sistema nervoso central, tal
como a doença de Alzheimer ou outras patologias neurológicas, nas quais se visualizam
lesões localizadas ou alterações histológicas marcantes, a esquizofrenia não se
caracteriza por alterações típicas definidas e, sim, por complexas alterações
neurofuncionais. Portanto, mais do que identificar lesões ou alterações específicas,
procura-se identificar anormalidades funcionais em determinadas vias neurais,
enfatizando neurotransmissões específicas ou disfunções nas múltiplas interações
cerebrais existentes. As teorias atuais
sobre a neurobiologia da esquizofrenia advêm da análise dos efeitos das substâncias
antipsicóticas e pró-psicóticas. É, portanto, uma área de investigação proveniente da
Farmacologia e não da Neuroquímica ou da Fisiologia.
FÁRMACOS ANTIPSICÓTICOS
A base para o tratamento da esquizofrenia continua a ser de ordem farmacológica, desde
o aparecimento dos antipsicóticos (também chamados de neurolépticos ou
tranqüilizantes maiores) na década de 50. É importante ressaltar que tais medicamentos
tratam os sintomas e não possuem capacidade de cura. Existem,
atualmente, mais de 20 substâncias antipsicóticas diferentes disponíveis para uso
clínico. De forma geral, aquelas que foram originalmente desenvolvidas são chamadas
de antipsicóticos clássicos ou típicos, em contraste com as mais recentes, chamadas de
antipsicóticos atípicos.
O tratamento com antipsicóticos, sem considerar os efeitos colaterais que
produzem, possui duas principais limitações: a primeira diz respeito à sua eficácia, a
qual atinge apenas 70% dos pacientes esquizofrênicos; os 30% restantes são
classificados como “resistentes ao tratamento” e apresentam um importante problema
terapêutico. A segunda limitação vem do fato dessas drogas, apesar de controlarem de
forma eficaz os sintomas positivos, serem ineficazes com relação aos sintomas
negativos. Um outro ponto frágil da terapêutica com os antipsicóticos, mas que não
representam uma limitação propriamente dita, diz respeito ao tempo necessário para o
estabelecimento do efeito. Assim como outros fármacos neuroativos, levam semanas
para produzirem os efeitos esperados, mesmo bloqueando os receptores dopaminérgicos
de forma imediata.
Ao impedir a hiperativação dopaminérgica, as substâncias antipsicóticas
acabam por produzir uma gama de efeitos colaterais, muitos deles de grande gravidade.
Tais efeitos pode, de forma geral, ser classificados como efeitos motores ou efeitos
endócrinos. Os efeitos motores, por sua vez, podem ser representados pelos chamados
distúrbios extrapiramidais e pela discinesia tardia, e representam o principal problema
do tratamento com antipsicóticos. Os principais distúrbios extrapiramidais causados
pelos antipsicóticos são: distonias agudas; movimentos involuntários tais como
espasmos musculares, língua protusa, torcicolo, etc; síndrome parkinsoniana.
Esses sintomas aparecem nas primeiras semanas do tratamento, tendem a declinar com
o passar do tempo e são reversíveis com a interrupção do tratamento. Devem-se ao
bloqueio de receptores dopaminérgicos principalmente na via nigro-estriatal. Já a
discinesia tardia é uma gama de efeitos a qual se desenvolve após considerável tempo
de tratamento (meses ou anos) em cerca de 20 a 40% dos pacientes tratados com
antipsicóticos típicos e representa o principal problema da terapia antipsicótica.
É uma condição incapacitante, irreversível, que freqüentemente piora quando da
interrupção do tratamento. É caracterizada por movimentos involuntários freqüentes da
face, da língua, do tronco e dos membros, os quais podem compromete seriamente a
saúde do indivíduo.
Já com relação aos efeitos colaterais de ordem endócrina, os mais
freqüentemente observados são: turgescência, dor e lactação das mamas (causada por
aumento da concentração plasmática de prolactina, em função do bloqueio da
neurotransmissão dopaminérgica), a qual pode ocorrer em homens e mulheres;
diminuição do hormônio do crescimento; influência sobre os hormônios sexuais,
diminuindo ou comprometendo a libido do indivíduo.
Portanto, como pôde ser observado, os medicamentos antipsicóticos atualmente
disponíveis oferecem, infelizmente, uma grande variedade de efeitos colaterais ao
indivíduo portador da esquizofrenia. É um panorama triste uma vez que, a despeito de
controlar os sintomas muitas vezes incapacitantes da doença, acaba por produzir outros
que podem impedir, da mesma forma, a reintegração do paciente à
sociedade. Portanto, no campo da investigação da esquizofrenia, muitos esforços
devem ser realizados no sentido de se buscar substâncias eficazes contra o distúrbio e
que sejam o mais seletivas possíveis, a fim de minimizar os efeitos adversos produzidos
pelos antipsicóticos em uso. E, mais importante, deve-se sempre ter em mente a questão
ética por trás da questão farmacológica: a busca por substâncias neurobiologicamente
ativas que favoreçam a reintegração dos indivíduos à comunidade, de forma que os
portadores de esquizofrenia possam desenvolver suas potencialidades individuais, a
despeito de todo o estigma que vem marcando a patologia ao longo dos séculos.