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Estado liberal: Uma reflexão bibliográfica

Jaqueline Maria Cruz Barbosa

RESUMO

A presente pesquisa trata do fenômeno do liberalismo no Brasil. A ambigüidade que o


liberalismo acabou assumindo no Brasil, na verdade, era a expressão de outra ambigüidade
mais fundamental, herdada da era colonial e que se perpetua até hoje. Os ideais liberais que
perpassavam pelo mundo no início do século XIX, não podia, num país em pleno sistema de
escravidão, num paradoxo total, ser vivenciado em todo o seu postulado. No liberalismo o
papel do Estado era deixar ao sabor do mercado sem interferência nenhuma. Os objetivos
deste trabalho constituem-se, portanto em uma análise sobre a passagem das idéias liberais no
Brasil, ate a transição do Estado Liberal até os dias atuais. Intentamos, outrossim, esboçar um
exame acerca dos conceitos, dos fundamentos e da finalidade dos preceitos liberais.

Palavras-chave: Liberalismo; liberais, Estado, ideais liberais.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é apresentar os conceitos de liberalismo, liberal e estado liberal e


ainda suas características, focalizando sua passagem pelo Brasil do início do século XIX.
A palavra “liberal” deriva do latim líber (livre) e está associada com a palavra “liberdade”. O
termo refere-se a uma filosofia política que tenta limitar o poder político, defendendo-se e
apoiando os direitos individuais.
Liberalismo é um termo utilizado para definir um conjunto de princípios, teorias, idéias
políticas e econômicas aplicadas em uma fase distinta da vida social, política e econômica da
humanidade. Pode ainda ser definido como um conjunto de princípios que apresenta como
ponto de partida a defesa da liberdade política e econômica. Basicamente é uma filosofia
política. Embora tenha se tornado famoso no final do século XVII e, principalmente, no
século XVIII, o liberalismo tem uma nobre linhagem que remonta à antigüidade – aos gregos
e mesmo os hebreus.
A filosofia liberal se sustenta no princípio fundamental de que, no contexto da relação do
indivíduo com o estado, a liberdade do indivíduo é o bem supremo, que, enquanto tal, tem
preponderância sobre qualquer outro que possa ser imaginado. Defender o liberalismo,
portanto, é defender a liberdade que lhe empresta o nome.
Por fim conceituamos Estado Liberal como “aquele no qual a ingerência do poder público é o
mais restrita possível" (BOBBIO, 2000, p. 101).

O Estado liberal espera que as coisas se modifiquem sem uma intervenção individual, ou de
grupo, e ao mesmo tempo se ajustem de tal forma que as coisas se relacionem de forma
natural, sem que o Estado tenha a sua intromissão direta no processo de produção, como
também no consumo, visto que as liberdades individuais devem ser respeitadas para que tudo
se acomode de forma comum e simples.

No Brasil no momento histórico (1889-1930), o Estado, de "cunho liberal", é chamado a


intervir, sobretudo nas relações comerciais com o exterior. A natureza agroexportadora da
economia brasileira coloca como problema central da intervenção econômica do Estado, o
câmbio. Afora isso, este se coloca relativamente ausente. (FAUSTO, 1970).

Para que possamos entender melhor o que é liberalismo e suas características teremos que
voltar no tempo e viver um pouquinho da história

2 O LIBERALISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE SUA ORIGEM

O pensamento liberal teve sua origem no século XVII, através dos trabalhos sobre política
publicados pelo filósofo inglês John Locke (1632-1704). Já no século XVIII, o liberalismo
econômico ganhou força com as idéias defendidas pelo filósofo e economista escocês Adam
Smith (1723-1790).
As funções do Estado seriam garantir a lei, a segurança e a propriedade, além de proteger a
saúde e incentivar a educação.
Características do Liberalismo:
 Defesa da propriedade privada;
 Liberdade econômica (livre mercado);
 Mínima participação do Estado nos assuntos econômicos da nação;
 Igualdade perante a lei (estado de direito).
Liberalismo pode ser resumido como o postulado do livre uso, por cada indivíduo ou membro
de uma sociedade, de sua propriedade. O fato de uns terem apenas uma propriedade: sua força
de trabalho, enquanto outros detêm os meios de produção não é desmentido, apenas omitido
no ideário liberal. Nesse sentido, todos os homens são iguais, fato consagrado no princípio
fundamental da constituição burguesa: todos são iguais perante a lei, base concreta da
igualdade formal entre os membros de uma sociedade.

O liberalismo se baseia em quatro simples premissas básicas:

 Os liberais acreditam que o Estado foi criado para servir ao indivíduo, e não o
contrário. Os liberais consideram o exercício da liberdade individual como algo
intrinsecamente bom, como uma condição insubstituível para alcançar níveis ótimos de
progresso. Dentre outras, a liberdade de possuir bens (o direito à propriedade privada) parece-
lhes fundamental, já que sem ela o indivíduo se encontra permanentemente à mercê do
Estado.

 Portanto, os liberais também acreditam na responsabilidade individual. Não pode


haver liberdade sem responsabilidade. Os indivíduos são (ou deveriam ser) responsáveis por
seus atos, tendo o dever de considerar as conseqüências de suas decisões e os direitos dos
demais indivíduos.

 Justamente para regular os direitos e deveres do indivíduo em relação a terceiros, os


liberais acreditam no Estado de direito. Isto é, crêem em uma sociedade governada por leis
neutras, que não favoreçam pessoas, partido ou grupo algum, e que evite energicamente os
privilégios.

 Os liberais também acreditam que a sociedade deve controlar rigorosamente as


atividades dos governos e o funcionamento das instituições do Estado.

3 O LIBERALISMO NO BRASIL

A ideologia liberal é despertada no Brasil pela chegada da Corte em 1808. A realidade


econômica fundada no sistema escravista de produção e os atrasos culturais marcaram o
liberalismo que se desenvolveu no Brasil, criando um modelo ideológico com características
próprias. A realidade local pôs na pauta liberal a sobreposição entre liberdade e propriedade,
bem como entre autoritarismo e liberdade política. Assim se dá o surgimento do paradoxal
liberalismo brasileiro.
O liberalismo brasileiro conviveu, durante muitos anos, com o escravismo, situação
claramente incompatível. Mesmo depois de os movimentos abolicionistas surgirem em todos
os cantos, não só no Brasil, como no mundo, ainda se observava uma resistência de alguns
grupos liberais quanto ao abandono do trabalho escravo e a implantação do trabalho
assalariado.

A presença da Corte portuguesa e de sua estrutura burocrática determina grandes


transformações na realidade brasileira. A colônia transforma-se em sede da administração do
Reino-Unido. Os portos se abrem e o comércio provoca interação cultural.
Posteriormente, a onda liberal do vintismo e das cortes de Lisboa põe-se em choque com o
liberalismo brasileiro, não pelos seus institutos doutrinários, mas pela prática re-colonizadora
que intentava usurpar todas as conquistas produzidas pela presença da Corte. Restaram duas
alternativas: ceder às cortes de Lisboa ou romper os laços com Portugal.
Inicia-se o processo de independência que fortalece os interesses ingleses sobre os negócios
brasileiros, como também permite que o Imperador D. Pedro I tenha grande respaldo político
em razão de ter sido a forma monárquica fator determinante do reconhecimento do Estado
brasileiro. D. Pedro fortaleceu-se na nova onda absolutista da Santa Aliança, intolerante aos
sobressaltos liberais.
O Brasil República caracteriza-se como um fracasso no que tange à presença do liberalismo
nos rumos da nação. O liberalismo nesta fase será preterido em favor do autoritarismo.
Instaurada pelos militares com apoio dos intelectuais liberais. O liberalismo da época de
Getúlio Vargas mostrou-se tímido, sendo incapaz de fazer frente à figura autoritária de seu
governante.
Segue-se até o ano de 1964 um período democrático, que não se traduz numa economia de
orientação liberal. Somente a partir da abertura política em 1985 é que o liberalismo retoma as
suas discussões.
Surge novamente com o nome de neoliberalismo, adaptação dos princípios do liberalismo
clássico, na primeira metade do século XX.
A partir da segunda metade do século XX ainda com o nome de neoliberalismo, passou a
significar a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e restrição à
intervenção do estado na economia. Intervenção permitida somente o mínimo e em alguns
setores.
Entre os novos teóricos liberais, destaca-se John Rawls. As idéias liberais, malgrado os
ataques que continuam a ser alvo, continuam a ser largamente seguidas pelos povos mais
diversos no mundo, nomeadamente devido à valorização que fazem do papel dos indivíduos
na sociedade e à defesa da liberdade que proclamam.

No neoliberalismo, aplicam-se os princípios liberais, numa realidade econômica orientada


pela globalização e por novos modelos do capitalismo.

CONCLUSÃO

Este trabalho procurou interpretar o que significou o liberalismo no Brasil do século XIX. O
Estado liberal, nas suas origens, condicionava a participação ativa nas instituições do Estado,
por meio do voto e da elaboração das leis, à condição de propriedade ou de renda. Isto é, o
Estado liberal nasceu excludente, como uma democracia de proprietários. Combate o
intervencionismo do Estado em todos os domínios. Na economia defende a propriedade e a
iniciativa privada, assim como a auto-regulação econômica através do mercado. Na política
preconiza um Estado mínimo confinado a simples funções judiciais e de defesa.  
Essa forma de pensar a organização do Estado coincidia com a visão das elites políticas
aristocráticas brasileiras, as quais consideravam que as principais instituições do Estado
deveriam estar sob controle dos grandes proprietários de terras e de escravos.
Se, no plano político, o pensamento liberal e os interesses da aristocracia brasileira
convergiam, no plano social havia uma flagrante contradição. O reconhecimento e a adoção
desses princípios no Brasil implicariam a extinção da escravidão.
Na verdade, trata-se de uma ambigüidade da nossa própria elite, sempre dividida entre as
ideologias gestadas nas nações hegemônicas do Ocidente e a dura e complexa realidade
nativa, carente de respostas diferenciadas, originais e ousadas para que possa se desenvolver e
prosperar.

REFERÊNCIAS

COELHO, Ricardo Corrêa; Estado, governo e mercado; Florianópolis: Departamento de


Ciências da Administração/UFSC; Brasília: CAPES: UAB, 2009.

 BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos clássicos.
(organizado por Michelangelo Bovero). Rio de Janeiro: Campus, 2000.
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil; São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo. Imprensa Oficial do Estado, 2001.

LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Ed. Martins Fontes, 2005.

www.histfacil.blogspot.com/2010/05/liberalismo-no-brasil-provoca.html > Acesso em


23/02/11.
www.estudosibericos.com/arquivos/iberica4/panoramaaleph.pdf > Acesso em 05/03/11.

www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_liberalismo.htm > Acesso em


05/03/11

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