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Como diz o título “Do Sábado Para o Domingo”, o livro não passa de um
sublime estratagema de teologia e história eclesiástica, palha e um grande
amontoado de opiniões de homens, numa tentativa de demonstrar que de facto
passou-se de um para o outro, no devido tempo e com boas razões. Isto é, que
afinal de contas os católicos e protestantes estão justificados em guardar o
domingo, que se deve respeitar essa posição, que tal não é pecado, e que não
é por se guardar o sábado que seremos salvos!
“Na base deste principio, podemos perguntar, poderia Paulo ter advogado o
abandono da observância do sábado? É difícil acreditar que ele teria
considerado tal prática empecilho para se honrar ao Senhor, quando ele
mesmo “costumeiramente” (Atos 17:2) se reunia com “judeus e gregos” no
sábado na sinagoga (Atos 18:4). W. Rordorf argumenta que Paulo assume uma
posição dupla. Com respeito aos cristãos judeus “fracos” ele lhes concede
liberdade para observar a lei, inclusive o sábado. Por outro lado, aos cristãos
gentios “fortes” ele concede absoluta “liberdade de qualquer observância da
lei”, particularmente do sábado. 76 Pode esta conclusão ser legitimamente
tirada de Romanos 14? Observe-se que o conflito entre o “fraco” e o “forte”
sobre dieta e dias está relacionado somente remotamente (se estiver) à lei
mosaica. O “homem fraco” que “come somente legume” (14:2) não bebe vinho,
(14:21) e “considera um dia melhor (aparentemente para jejuar) que outro”
(14:5) não pode reivindicar apoio para tais convicções provenientes do Velho
Testamento. Em lugar algum prescreve a lei mosaica estrito vegetarianismo,
total abstinência de vinho e uma preferência por dias de jejum. 77
Semelhantemente, o “homem forte” que “crê que pode comer qualquer coisa”
(14:2) e que “considera iguais todos os dias” não está assegurando sua
liberdade da lei mosaica mas, das crenças ascéticas aparentemente derivadas
o judaísmo sectário.78 A discussão toda então, não é sobre a liberdade de se
observar a lei versus a liberdade de não observá-la, mas concerne a escrúpulos
“não essenciais da consciência, ditados, não por preceitos divinos, mas por
convenções e superstições humanas. Uma vez que estas convicções e
costumes divergentes não minavam o fundamento do evangelho , Paulo
aconselha tolerância e respeito mútuos neste assunto.” Págs. 216, 217.
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salvação dependente da realização humana. Para Paulo isto era traição ao
evangelho: “Separados estais de Cristo, vós que vos justificais pela lei; da
graça tendes caído” (Gal. 5:4) É dentro deste contexto que a denúncia que faz
Paulo da observância de dias e tempos deve ser compreendida. Se a
motivação para estas observâncias não houvesse minado o princípio vital da
justificação pela fé em Jesus Cristo, Paulo somente teria recomendado
tolerância e respeito (como o faz em Romanos 14), mesmo se alguns idéias
fossem estranhas ao ensino do Velho Testamento.” Págs. 217, 218.
“Em última análise, então, a atitude de Paulo para com os sábados deve ser
determinada não na base de suas denúncias das observâncias heréticas e
supersticiosas que possivelmente incluíam a guarda do sábado, mas sim na
base de sua atitude para com a lei como um todo. A falha em não distinguir
entre o conceito de Paulo para com a lei como um corpo de instrução que ele
considera “santo justo e bom” (Rom. 7:12; cf. 3:31; 7:14, 22) e da lei como um
sistema de salvação separado de Jesus Cristo, que ele energicamente rejeita,
é, aparentemente, a causa de muito mal-entendido quanto à atitude de Paulo
para com o sábado. Não há dúvida que o Apóstolo respeitava aquelas
instituições do Velho Testamento que ainda tinham valor aos cristãos.”
Pág. 218.
“Por outro lado, sempre que estes costumes ou semelhantes eram promovidos
como base de salvação, ele denunciava em termos inequívocos sua função
desvirtuada. Poderíamos dizer, portanto, que Paulo rejeitava o sábado
como meio de salvação, mas aceitava-o como sombra apontando para a
substância que pertence a Cristo.” Págs. 218, 219.
Não sou nenhum especialista nestes assuntos, mas a linguagem utilizada faz-
me lembrar a dos meus professores enquanto estudei teologia. Como se diz
em português, “dão uma no cravo e outra na ferradura”! Ou seja, ora se diz
uma coisa, ora se diz outra, diz-se e contradiz-se. Tese, antítese, síntese.
Bacchiocchi começa por meter o sábado no mesmo saco dos outros dias da
semana. Aplica a linguagem que Paulo utilizou ao falar de dias e sábados em
Romanos, Gálatas e Colossenses, como se referindo tanto ao sábado como
aos restantes dias da semana. Posteriormente vai afirmar o contrário, segundo
as conveniências!
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dos “dias”, e ao falar-se de “agir segundo as convicções próprias e de respeitar
um ponto de vista diferente (Rom. 14:3, 10, 13-16, 19-21) na questão de dietas
e dias”, dá-se lugar à apostasia. Ou seja, poderá pressupor-se que se cada um
faz conforme lhe apetece, achando que está a servir a Deus, então tem que ser
respeitado, nem que esteja a guardar o domingo. Ainda para mais, afirma-se
que o essencial do que Paulo nos quer transmitir é acerca daquilo que é para a
nossa salvação.
Mas ele não ficou por aqui. Sugere que Paulo, embora seja “difícil de acreditar”,
tenha “advogado o abandono da observância do sábado”, sendo liberal, e que
só não mudou o sábado para o domingo para não criar problemas e conflitos,
nem impor nada a ninguém. É satânica esta linguagem. É dizer que ele
respeitava o sábado, mas não que fosse seu defensor, ao ponto de ser capaz
de abdicar dele para guardar o domingo!
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Quanto à segunda parte da frase, ao apresentar o sábado como uma sombra,
apresenta-o como algo indefenido, incerto, místico. Daí deduz-se que o mais
importante não é o sábado em si, mas o facto de que ele aponte para Cristo.
Infelizmente o autor não explicou porque razão é que o sábado apontava para
Cristo, apenas se limitou a “provar” que Col. 2:16 se refere ao sábado semanal
e não aos sábados cerimoniais (mentira!). Sim, estes últimos eram na verdade
uma sombra de Cristo, no sentido em que apontavam para o Seu sacrifício no
futuro.
Mas o sábado semanal, o sétimo dia, (aquele que vem depois da sexta-feira e
antes do domingo, para que não restem dúvidas!) não é uma sombra, mas algo
imutável! (Is. 66: 22, 23; Mat. 5:17,18).
Por outro lado, o dizer que o sábado é uma “sombra apontando para a
substância que pertence a Cristo” é uma clara menção à eucaristia dominical.
Esta é uma forma muito estranha de terminar um livro que supostamente
defende o sábado!
Finalmente, este livro, cujos intentos estão bem manifestos nesta conclusão, é
uma verdadeira tentativa de justificar a alteração papal “Do Sábado Para o
Domingo”.
Não é por acaso que a capa original do livro apresenta uma luz sendo
projectada sobre as letras do sábado, produzindo as letras do domingo em
sombra:
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Muito em breve sairá um livro sobre o sábado, e que será distribuído pela igreja
adventista do sétimo dia, pelo menos em Portugal, cujo padrão é o mesmo, ou
seja, é de molde a preparar o professo povo de Deus, que pretende guardar o
sábado de Jeová, para a aceitação da lei dominical.