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O TRABALHO INFORMAL NO BRASIL

AS DEFINIÇÕES DE TRABALHO INFORMAL

Há uma grande confusão em torno do significado do trabalho informal. Isso não se deve
a pelejas metodológicas entre pesquisadores. Na verdade, a própria natureza do
trabalho informal é complexa, englobando diferentes categorias de trabalhadores com
inserções ocupacionais bastante particulares.

Entretanto, há duas formas básicas de se definir o trabalho informal. De um lado, há


aqueles que definem o trabalho informal como aquele cujas atividades produtivas são
executadas à margem da lei, especialmente da legislação trabalhista vigente em um
determinado país. Aqui estariam os trabalhadores conta-própria, grande parte dos quais
não contribui à previdência, os trabalhadores sem carteira assinada e os não-
remunerados. Este ponto de vista compreende o trabalho informal a partir da
precariedade da ocupação.

De outro lado, pode-se definir o trabalho informal como aquele vinculado a


estabelecimentos de natureza não tipicamente capitalista. Estes estabelecimentos se
distinguiriam pelos baixos níveis de produtividade e pela pouca diferenciação entre
capital e trabalho. O núcleo básico seria formado pelos trabalhadores por conta própria,
mas também pelos empregadores e empregados de pequenas firmas com baixos níveis
de produtividade.

De acordo com este enfoque, o trabalho informal não é definido pelo respeito ou não ao
marco legal mas de acordo com a dinâmica econômica das unidades produtivas. Daí o
fato de se caracterizar este setor como desorganizado, não-estruturado etc. O trabalho
informal pode tanto indicar uma estratégia de sobrevivência face à perda de uma
ocupação formal, como uma opção de vida de alguns segmentos de trabalhadores que
preferem desenvolver o seu "próprio negócio".

Ou seja, os trabalhadores informais seriam aqueles vinculados ao chamado sistema


simples de produção de mercadorias e serviços, onde o assalariamento não é a regra,
sendo antes a exceção. Aqui, o empregador também trabalha como empregado,
podendo fazer uso de ajudantes não-remunerados (geralmente familiares), no caso dos
autônomos, como também contratar empregados com ou sem carteira assinada no caso
das microempresas, geralmente com até 5 empregados.

Segundo esta segunda perspectiva, a capacidade de geração de renda do trabalho


informal é definida pela expansão do setor capitalista da economia, o qual gera demanda
por bens e serviços. O trabalho informal pode estar vinculado tanto às cadeias produtivas
das empresas capitalistas – por exemplo, uma costureira que produz para uma grande
empresa de confecção – ou ao poder de consumo dos trabalhadores formais – por
exemplo, uma doceira que faz bolos e doces por encomenda.

Daí o fato de se ressaltar o caráter subordinado do setor informal no sistema econômico


capitalista. No âmbito deste sistema, não se pode pensar no setor informal como uma
solução para o emprego, se não forem elevados os níveis de investimento e de salários
do setor dinâmico da economia.

A aceitação desta segunda perspectiva faz sentido porque contribui para "limpar o
terreno", explicitando os trabalhadores realmente vinculados ao segmento informal, não
tipicamente capitalista, e aqueles com ocupações precárias em atividades capitalistas.
Este segundo grupo inclui parte significativa dos trabalhadores sem carteira assinada, os
quais não seriam informais, mas trabalhadores do setor capitalista cujos empregadores
desrespeitam a legislação trabalhista vigente.

O TRABALHO INFORMAL E SUA HETEROGENEIDADE


Mesmo ao se retirar do trabalho informal os trabalhadores sem carteira de médias e
grandes empresas, a hetorogeneidade continua sendo a sua marca. Vejamos então os
vários tipos de trabalhadores informais, segundo esta definição aliás sugerida pela
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo IBGE.

Em primeiro lugar, temos dois tipos de autônomos: aqueles subordinados às empresas –


tanto na produção (costureiras) como na distribuição (vendedores por comissão) – como
aqueles produtores de bens e vendedores de serviços ao público, onde se enquadram
os ambulantes, encanadores, pedreiros, pintores etc.

Além disso, há as pequenas empresas familiares – padarias, confecções,


videolocadoras, mercerarias, oficinas de reparação – que muitas vezes sobrevivem pelas
relações pessoais e pela clientela do "bairro", mas tendo a sua inserção definida pela
lógica da grande empresa. Se esta decidir ocupar estes mercados, as empresas
familiares perdem a sua vantagem e são eliminadas pela concorrência.

Junto com as empresas familiares, temos as "quase-empresas capitalistas", as quais


apesar de fazerem uso de mão-de-obra assalariada, possuem algumas peculiaridades
que justificam a sua inclusão na categoria dos informais. O assalariamento aqui convive
com jornadas de trabalho não reguladas pela lei, sendo os salários abaixo do verificado
nas grandes empresas. Também não se presencia uma separação clara entre o
rendimento do empregador e a taxa de lucro do seu empreendimento.

As novas iniciativas intituladas como componentes da economia solidária - cooperativas


de trabalho para produção de mercadorias e prestação de serviços - também se incluem
no universo do trabalho informal. Mas deve-se reiterar a necessidade de que os frutos do
trabalho sejam repartidos entre os trabalhadores. No caso das falsas cooperativas,
continua existindo a figura do capitalista que impõe a formação de uma cooperativa para
fraudar a legislação trabalhista. Neste caso, estaríamos falando do setor capitalista
eliminando direitos e precarizando a ocupação.

Dois tipos de trabalhadores – nas duas pontas da pirâmide de distribuição de renda - não
se encontram incluídos na definição de informais. Os trabalhadores domésticos, pelo fato
de não estarem inseridos em uma unidade econômica, e os profissionais liberais, pelo
fato de funcionarem como empresas capitalistas com suas estratégias de marketing,
geralmente inseridos em mercados de alta renda.

QUANTOS SÃO OS TRABALHADORES INFORMAIS NO BRASIL?

Lidamos aqui com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada
anualmente pelo IBGE (PNAD/IBGE). No entanto, procedemos a uma reorganização das
informações, entendendo que o parâmetro básico para a definição do trabalho informal
não deve ser a ilegalidade/precariedade, mas sim a natureza do estabelecimento em que
está inserido. Assim, reagrupamos os indivíduos de acordo com sua posição na
ocupação e seu local de trabalho.

Os trabalhadores autônomos ou por conta própria formam o grupo mais expressivo dos
trabalhadores informais, correspondendo a mais de 4/5 do total. Todavia, aos
autônomos, adicionamos os empregados e os empregadores que trabalham ou têm seu
negócio no próprio domicílio, no domicílio do empregador, patrão, sócio ou freguês, em
local designado pelo cliente, empregador ou freguês, em veículo automotor e ainda em
via ou área pública. A razão disso é que estes empregados e empregadores estão em
estabelecimentos que não podem ser caracterizados como estritamente capitalistas, pois
a divisão entre trabalho e capital não é clara, os empreendimentos são pouco
estruturados e possuem baixos níveis de produtividade e de dinamismo econômico.

A tabela 1, referente ao total de trabalhadores no país, traz o resultado deste


reagrupamento. Antes de mais nada, vemos que a participação dos empregados
diminuiu na década de 90 (passando de 52,61% em 1992 a 51,91% em 1997). Isso
ocorreu devido à queda da participação do emprego dos assalariados com carteira
assinada, que passou de 37,61% a 36,84%, já que a participação dos empregados sem
carteira assinada subiu de 14,99% a 15,06%. Ao mesmo tempo, notamos que o peso
dos trabalhadores informais aumentou, indo de 25,73% a 26,91%. Deve-se observar
que, em termos absolutos, os empregados não diminuíram em número - passaram de
32.630.436 em 1992 a 34.343.755 em 1997. Na verdade, os trabalhadores informais é
que aumentaram de forma muito mais acelerada, subindo de 15.957.955 a 17.801.135
pessoas.

A tabela 2, referente apenas aos trabalhadores não-agrícolas, não mostra um quadro


muito distinto. A participação dos empregados também caiu nos anos 90, reduzindo-se
de 58,54% em 1992 para 56,76% em 1997, ainda que isso não signifique que eles
caíram em termos absolutos, pois se elevaram de 27.685.050 para 30.000.118. E, por
outro lado, o peso dos trabalhadores informais subiu de 24,87% em 1992 para 25,89%
em 1997), assim como o seu número absoluto, que passou de 11.761.365 para
13.681.574 trabalhadores.

Na comparação entre as tabelas 1 e 2, notamos que a presença dos trabalhadores


informais é maior no mercado de trabalho não-agrícola que no agrícola, seja no início ou
no final da década de 90. Em parte, isso ocorre porque não incluimos os trabalhadores
sem remuneração entre os informais. Os não-remunerados (basicamente, ajudantes
familiares de pequenas unidades produtivas agrícolas) são muito numerosos no campo
e, menos freqüentes na cidade, sendo que alguns deles poderiam até ser considerados
informais dependendo do tipo de estabelecimento em que trabalham.

De qualquer modo, tanto nas atividades agrícolas como nas não-agrícolas, os


trabalhadores informais já respondem por mais de 1/4 do emprego no Brasil. Este
percentual apresenta-se semelhante ao que se depreende da Pesquisa do IBGE
"Economia Informal Urbana", quando são apurados quase 13 milhões de trabalhadores
informais nas áreas urbanas para o ano de 1997. Entretanto, há outras metodologias que
apresentam uma participação dos trabalhadores informais de cerca de 36% do total de
ocupados – quando se soma os trabalhadores por conta própria e não-remunerados de
baixa instrução com as pessoas de baixos níveis de renda em empresas com até 5
empregados (CEPAL).

Mas, independente da sua real dimensão, percebe-se claramente a expansão do


trabalho informal segundo quaisquer critérios que se tenha em vista. Isso não é
necessariamente negativo. O aumento do trabalho informal num contexto de elevação do
emprego e da renda no setor dinâmico pode significar novas oportunidades de emprego.
Entretanto, no Brasil, o aumento do trabalho informal tem se dado num contexto de forte
desestruturação do mercado formal, reduzindo a sua potencialidade de expansão e
significando uma compressão da renda geral.

TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS E NÃO-


AGRÍCOLAS

SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO – 1992 E 1997 - BRASIL

1992 1997
Nº % Nº %
Empregado (Total) 32.630.436 52,61 34.343.755 51,91
Empregado C/Carteira 23.332.075 37,61 24.377.445 36,84
Empregado S/Carteira 9.298.361 14,99 9.966.310 15,10
Trabalhador Doméstico 4.356.000 7,02 5.242.846 7,92
Trabalhador informal 15.957.955 25,73 17.801.135 26,91
Empregador 2.235.139 3,60 2.538.841 3,84
Não remunerado 6.848.893 11,04 6.230.992 9,42
Sem declaração 434 0,00 4.983 0,01
Total 62.028.857 100,00 66.162.552 100,00

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES NÃO-AGRÍCOLAS

SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO – 1992 E 1997 - BRASIL

1992 1997
Nº % Nº %
Empregado 27.685.050 58,54 30.000.118 56,76
Trabalhador 4.356.000 9,21 5.242.846 9,92
doméstico
Trabalhador informal 11.761.365 24,87 13.681.574 25,89
Empregador 1.662.744 3,52 2.069.973 3,92
Não remunerado 1.829.793 3,87 1.852.678 3,51
Sem declaração - - 4.983 0,01
Total 47.294.952 100,00 52.852.172 100,00

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

QUEM SÃO OS TRABALHADORES INFORMAIS NO BRASIL?

Devido a alguns problemas metodológicos, nossa análise do trabalho informal se


concentra agora no grupo dos trabalhadores por conta própria. Isso nem de longe
compromete o estudo aqui realizado, pois, conforme já mencionado, os conta-própria
correspondem a mais de 4/5 dos trabalhadores informais em todo o Brasil.
Paralelamente, como um contraponto à situação dos conta-própria e do trabalho
informal, nossa análise também se concentra no grupo dos empregados, que abarca a
maior parte do trabalho formal no país.

A tabela 3 traz informações sobre a distribuição dos trabalhadores pelas diversas


atividades econômicas. Em sua maioria, os conta-própria estão em quatro pontos da
economia brasileira: a atividade agrícola (28,18%), a prestação de serviços diversos
(22,06%), o comércio de mercadorias (19,42%) e a indústria de construção (11,65%). É
preciso dizer que os "serviços diversos" prestados pelos conta-própria são basicamente
os serviços pessoais, que, assim como o comércio e a construção civil, caracterizam-se
por oferecer postos de trabalho de baixa qualidade e produtividade, seja no que se refere
à remuneração, qualificação exigida, estabilidade do vínculo etc.

Já os empregados estão concentrados na indústria de transformação (19,46%), nos


serviços sociais (15,86%), no comércio de mercadorias (12,83%), na atividade agrícola
(12,26%), na prestação de serviços diversos (10,50%) e na administração pública
(8,65%). Vale acrescentar que a indústria de transformação, os serviços sociais e a
administração pública são conhecidos por apresentar postos de trabalho de qualidade e
produtividade acima da média. O impacto desta diferença de inserção entre os conta-
própria e os empregados na economia brasileira pode ser visto nas tabelas a seguir.
TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS

E NÃO-AGRÍCOLAS SEGUNDO A ATIVIDADE ECONÔMICA – 1997 - BRASIL

Empregado Conta-própria
Agrícola 12,26 28,18
Indústria de transformação 19,46 4,99
Indústria da construção 6,43 11,65
Outras atividades industriais 1,99 0,26
Comércio de mercadorias 12,83 19,42
Prestação de serviços 10,50 22,06
Serviços auxiliares da atividade econômica 4,12 4,65
Serviços de transporte e comunicação 5,22 4,82
Serviços sociais 15,86 2,31
Administração pública 8,65 0,04
Outras atividades mal-definidas ou não-declaradas 2,68 1,63
Total (%) 100,00 100,00
Total (Nº) 36.148.320 15.740.607

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

A tabela 4 traz dados sobre o local físico em que os trabalhadores desempenham suas
atividades. Os conta-própria trabalham principalmente em fazendas, sítios, chácaras e
assemelhados (26,17%), em lojas, oficinas, fábricas, escritórios etc. (25,35%), em local
designado pelo cliente, empregador ou freguês (16,28%) e no próprio domicílio em que
moram (15,55%). Acrescente-se apenas que não é desprezível o número de
trabalhadores por conta própria que exercem suas atividades em via pública e em
veículos automotores (ambos os locais somam 12,11%).

Por sua vez, em sua grande maioria, os empregados se concentram em lojas, oficinas,
fábricas, escritórios, repartições públicas etc. (82,90%), sendo que alguns outros
trabalham em fazendas, sítios, chácaras e assemelhados (12,02%).

Estas diferenças entre o local de trabalho dos conta-própria e dos empregados


complementam o que foi exposto acima. Além de estarem inseridos nas atividades
econômicas mais precárias do país – com baixos níveis de remuneração, qualificação,
estabilidade e contribuição à previdência - os conta-própria trabalham em locais muitas
vezes sem qualquer infra-estrutura adequada (como os próprios domicílios, as vias
públicas etc). Já os empregados, além de estarem ocupados nas atividades mais
"nobres" da economia brasileira, exercem suas profissões em locais dotados de infra-
estrutura mais adequada (instalações prediais próprias para a produção, para o comércio
etc).

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS

E NÃO-AGRÍCOLAS SEGUNDO O LOCAL DE TRABALHO – 1997 - BRASIL

Empregado Conta-
própria
Loja, oficina, fábrica, escola, escritório, repartição 82,90 25,35
pública etc.
Fazenda, sítio, chácara, granja etc. 12,02 26,17
No domicílio em que moravam 0,31 15,55
Em domicílio de empregador, patrão, sócio ou freguês 0,37 3,16
Em local designado pelo cliente, empregador ou freguês 3,07 16,28
Em veículo automotor 0,72 4,26
Em via ou área pública 0,53 7,85
Outro 0,09 1,39
Sem declaração - -
Total (%) 100,00 100,00
Total (Nº) 36.148.320 15.740.607

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

A tabela 5 traz informações sobre a jornada de trabalho semanal, que, juntamente com o
local físico acima analisado, é um bom indicador das condições trabalhistas dos
autônomos e empregados.

A jornada semanal dos conta-própria é indiscutivelmente muito extensa. Se


consideramos apenas os que trabalham mais que as 44 horas estabelecidas na
Constituição Federal, vemos que eles somam nada menos que 46,53% do total. Além
disso, 31,64% dos trabalhadores autônomos possuem uma jornada superior a 49 horas
semanais!

Os empregados também apresentam uma jornada extensa, mas não tanto quanto a dos
conta-própria. Os empregados que trabalham mais de 44 horas por semana
correspondem a 38,35%. Mas é de se notar que apenas 17,23% trabalham 49 horas ou
mais.

Esta diferença entre a jornada de ambos os grupos é um reflexo claro da inserção de


cada um na economia brasileira. Os conta-própria estão ocupados, em geral, nas
atividades menos dinâmicas do país, atividades que necessitam de extensas jornadas de
trabalho para gerarem algum excedente. Já os empregados possuem ocupação nas
atividades mais dinâmicas do Brasil, atividades que podem limitar a jornada de trabalho e
mesmo assim gerar grande excedente econômico.

TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS

E NÃO-AGRÍCOLAS SEGUNDO A JORNADA DE TRABALHO SEMANAL – 1997 -


BRASIL

Até 14 15 a 39 40 a 44 45 a 48 49 ou + Sem Total Total (Nº)


HS HS HS HS HS declaração (%)
Empregado 1,28 15,91 44,44 21,12 17,23 0,02 100,00 36.148.320
Conta- 5,71 24,18 23,50 14,89 31,64 0,08 100,00 15.740.607
própria

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

Finalmente, a tabela 6 fornece dados sobre os rendimentos dos trabalhadores. De um


modo geral, os conta-própria apresentam rendimentos mais baixos que os empregados.
Analisando somente a parte inferior da distribuição apresentada pela tabela 6, vemos
que 32,4% dos conta-própria recebem menos de um salário-mínimo, enquanto este
percentual não chega a 20% no caso dos empregados. Entretanto, o percentual
daqueles que recebem mais de 10 salários mínimos é de em torno de 7% nas duas
categorias, indicando que existe um segmento relativamente dinâmico também no seio
dos conta-própria.

Essa inserção ocupacional mais precária dos trabalhadores autônomos deve ser
relativizada, já que isto se deve à pressão exercida pela queda do emprego e da renda
dos grupos mais dinâmicos. Quando um trabalhador perde o emprego no setor dinâmico
ele deixa de ganhar salários – que são demanda para o trabalho informal – e passa a
disputar o "bolo" de um setor que não cria renda, por causa da sua baixa produtividade,
reduzindo os rendimentos dos informais. Em sendo assim, a redução dos empregos e
dos salários das grandes e médias empresas tem lançado uma grande massa de
trabalhadores na produção de bens e serviços autônomos, fazendo com que parte
destes trabalhadores receba menos de um salário mínimo.

TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS E NÃO-


AGRÍCOLAS

SEGUNDO A FAIXA DE RENDIMENTO EM SALÁRIOS-MÍNIMOS –SETEMBRO DE


1997 - BRASIL

Empregado Conta-própria
Nº % Nº %
Até ½ 1.384.466 3,9 2.335.440 15,2
+ de ½ a 1 5.604.134 15,7 2.630.019 17,2
+ de 1 a 2 8.433.691 23,6 2.987.638 19,5
+ de 2 a 3 6.770.868 18,9 2.217.187 14,5
+ de 3 a 5 6.683.423 18,7 2.516.874 16,4
+ de 5 a 10 4.489.223 12,5 1.581.816 10,3
+ de 10 a 1.652.184 4,6 706.104 4,6
20
+ de 20 790.768 2,2 358.213 2,3
Total 35.808.757 100,0 15.333.291 100,0

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

ESPECIFICIDADES REGIONAIS DOS TRABALHADORES INFORMAIS

A partir das tabelas 7, 8 e 9, podemos avaliar a inserção do trabalho informal no mercado


de trabalho das regiões Sudeste, Sul e Nordeste. Em cada uma das regiões, a dinâmica
do trabalho formal e, por conseguinte, do informal, apresenta características particulares.
Isso se deve ao fato já mencionado de que o trabalho informal não possui dinâmica
própria, sendo o seu espaço definido pela expansão do setor capitalista.

Por exemplo, enquanto no mercado de trabalho não-agrícola da Região Sudeste, 64%


dos ocupados são empregados assalariados ou empregadores, na Região Sul este
mesmo percentual chega a 62,4%, ao passo que no Nordeste o emprego formal
representa apenas 55,3% dos ocupados. Ou seja, o pequeno dinamismo do emprego
formal no Nordeste abre espaço para um setor informal "inchado" que responde por
32,3% das ocupações não-agrícolas, contra 23% no caso das outras duas grandes
regiões (tabela 7).
Já se considerarmos o emprego total, a participação do trabalho informal mantém-se
mais ou menos no mesmo patamar nas Regiões Sudeste e Nordeste se comparada a
sua participação no emprego não-agrícola, e se eleva para a Região Sul - chegando a
25,1% - o que provavelmente se justifica pelo peso da agricultura familiar no Sul. Isso
pode ser comprovado pelo alto peso dos trabalhadores não-remunerados na Região Sul,
de 12,6%, que trabalham em atividades lideradas pelos chefes de família. Já no
Nordeste, o peso dos trabalhadores sem rendimentos pode estar associado à exploração
da mão-de-obra realizada no âmbito das grandes propriedades de terra.

Na Região Sudeste, o percentual do trabalho informal, somando atividades agrícolas e


não-agrícolas não se altera de forma significativa, o que se deve provavelmente ao perfil
mais empresarial da agricultura na região, especialmente no segmento sucro-alcooleiro
paulista.

TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES NÃO-AGRÍCOLAS

SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO – 1997 – REGIÕES GEOGRÁFICAS


SELECIONADAS

Região Sudeste Região Sul Região Nordeste

Nº % Nº % Nº %

Empregado 15.556.294 59,8 5.057.447 58,9 5.873.147 49,6

Trabalhador 2.557.630 9,8 809.243 9,4 1.160.666 9,8


doméstico

Trabalhador 6.166.970 23,7 1.992.465 23,2 3.815.569 32,2


informal

Empregador 1.089.843 4,2 430.060 5,0 320.319 2,7

Não-Remunerado 621.071 2,4 302.192 3,5 677.729 5,7

Total 25.995.998 100,00 8.592.200 100,0 11.847.430 100,0

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

Ou seja, se consideramos o conjunto das ocupações, quanto maior o dinamismo na


geração de empregos formais (com carteira assinada), menor a participação do emprego
informal. Em sendo assim, na Região Sudeste, a participação dos trabalhadores com
carteira assinada era, em 1997, de 45,7%, contra 23,4% do trabalho informal; enquanto
no Sul os mesmos percentuais eram de 39,3% e 25,1%; e no Nordeste de 22,6% e
33,6%, respectivamente. Já no âmbito do emprego formal precário – fraude trabalhista –
este segmento englobava 17,9% do total de ocupados no Nordeste, contra 13,5% no
Sudeste e 11,1% no Sul (tabela 8).

TABELA 8 – DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES AGRÍCOLAS E NÃO-


AGRÍCOLAS

SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO – 1997 – REGIÕES GEOGRÁFICAS


SELECIONADAS

Região Sudeste Região Sul Região Nordeste

Nº % Nº % Nº %

Empregado (Total) 17.201.373 59,3 5.633.610 50,4 7.411.454 40,5


Empregado 13.271.021 45,7 4.395.561 39,3 4.136.311 22,6
C/Carteira

Empregado 3.930.352 13,5 1.238.049 11,1 3.275.143 17,9


S/Carteira

Trabalhador 2.557.630 8,8 809.243 7,2 1.160.666 6,4


doméstico

Trabalhador 6.797.484 23,4 2.803.121 25,1 6.145.813 33,6


informal

Empregador 1.261.561 4,4 529.691 4,7 451.970 2,5

Não-Remunerado 1.208.710 4,2 1.408.657 12,6 3.116.648 17,0

Total 29.030.948 100,0 11.185.115 100,0 18.286.551 100,0

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

A análise do nível de rendimento médio mensal em 1997 por categoria ocupacional nos
permite tirar algumas conclusões adicionais. Quanto maior a geração de emprego e
renda no setor formal, comandado pela lógica capitalista, maior é o rendimento médio do
trabalho informal. Isso se deve pelo fato de que o primeiro funciona como demanda para
o segundo, tanto sob a forma de gastos das empresas como de consumo dos
trabalhadores. Em sendo assim, nas regiões Sudeste e Sul, o rendimento médio dos
trabalhadores por conta própria – os quais representam cerca de 4/5 dos trabalhadores
informais - chega a exceder o rendimentos dos empregados (com e sem carteira), ao
passo que no Nordeste, a renda média dos autônomos fica em 70% da renda média dos
assalariados (tabela 9).

TABELA 9 – RENDIMENTO MÉDIO DOS TRABALHADORES

AGRÍCOLAS E NÃO-AGRÍCOLAS – SETEMBRO DE 1997 – REGIÕES


GEOGRÁFICAS SELECIONADAS

R$ Região Região Sul Região Brasil


Sudeste Nordeste

Empregado 566,00 480,00 301,00 481,00

Trabalhador 188,00 156,00 101,00 156,00


doméstico

Conta-própria 637,00 501,00 214,00 444,00

Empregador 1.925,00 1.697,00 1.223,00 1.743,00

Total 613,00 527,00 284,00 501,00

FONTE: ELABORAÇÃO DESEP/CUT A PARTIR DE PNAD/IBGE

Obviamente, há vários tipos de trabalho informal, conforme vimos acima. Entretanto, nas
regiões Sul e Sudeste, o trabalho informal apresenta-se ligado prioritariamente às
atividades produtivas dinâmicas e a um mercado de consumo de maior envergadura,
enquanto no Nordeste, face ao pouco dinamismo do setor capitalista, o setor informal
tende a se concentrar em serviços pessoais que atendem a um mercado de consumo
mais limitado, havendo pois menos renda para ser distribuída a um contingente maior de
trabalhadores que não conseguem emprego no setor dinâmico.
Por outro lado, este maior inchaço do trabalho informal no Nordeste permite que o setor
dinâmico precarize parcela significativa dos empregos formais, oferecendo salários e
condições de trabalho abaixo da média, já que a renda do trabalho informal mantém-se
achatada pelo excesso de trabalhadores que podem volta e meia preferir uma ocupação
precária do setor dinâmico. Exemplo disso é o fato de que a renda média dos
trabalhadores por conta própria no Nordeste era apenas o dobro da renda média dos
trabalhadores domésticos, ao passo que no Sul e no Sudeste chegava a ser três vezes
maior (tabela 9).

CONCLUSÕES PRELIMINARES

A proposta desta análise sobre o trabalho informal era destrinchar o perfil de um conjunto
de trabalhadores, na sua maioria autônomos, que dependem, para a sua expansão, das
atividades dinâmicas de uma economia capitalista. Assim, quando há encolhimento do
emprego e da renda no setor dinâmico, verifica-se um inchaço e uma queda de
rendimentos no âmbito do setor informal, ao passo que, quando aquele se expande com
ampliação dos salários na renda, abre-se espaço para uma melhor inserção ocupacional
dos trabalhadores por conta própria e vinculados a pequenos empreendimentos.

Esta delimitação do universo de trabalhadores informais tem duas conseqüências


básicas.

Em primeiro lugar, parte dos trabalhadores normalmente considerados informais (os


assalariados sem carteira de médias e grandes empresas) pertencem ao setor dinâmico,
o que significa que este tem sido incapaz de expandir emprego de qualidade. Isso por
conta do modelo de abertura indiscriminada com juros altos e crédito concentrado, mas
também pela tentativa por parte dos empregadores e do governo de reduzir direitos
trabalhistas e de restringir o alcance da organização sindical. A redução da precarização
nestas atividades depende, portanto, de uma alteração nas coordenadas do modelo
econômico.

Em segundo lugar, essa metodologia alternativa pode contribuir para a expansão das
experiências no âmbito da economia solidária, desde que os autônomos, as verdadeiras
cooperativas, as microempresas e os pequenos produtores rurais no âmbito da
agricultura familiar possam ter acesso ao microcrédito para expandir as suas atividades.
A viabilidade destas experiências tanto do ponto de vista econômico como também
social e cultural depende de um estudo rigoroso do público-alvo, de uma capacitação
técnica maciça dos beneficiários, da liberação de crédito a juros baixos a partir de novos
desenhos institucionais como os bancos do povo, as incubadoras de empresas etc.,
além da organização da sociedade civil e do poder público de forma a permitir que estas
iniciativas cheguem de forma efetiva aos excluídos do mercado de trabalho, do sistema
financeiro e das políticas sociais em geral.

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