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A característica do Barroco na região das Minas ocorreu em grande parte por dois
fatores: o seu relativo isolamento do resto do país e o súbito enriquecimento da
região com a descoberta de grandes jazidas de ouro e diamantes. O estilo teve seu
centro principal na antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, fundada em 1711, mas também
floresceu com vigor em Diamantina, Mariana, Tiradentes, Sabará, Cachoeira do
Campo, São João del Rey, Congonhas do Campo e uma série de outras cidades e
vilas mineiras. Quando o ouro começa a escassear, por volta de 1760, o ciclo
cultural mineiro também entra em declínio, mas é quando o seu estilo típico chega à
culminação com as obras de Aleijadinho e Mestre Ataide. Nos primeiros anos do
século XIX a fase de esplendor de Minas já havia passado, embora o ciclo artístico
do Barroco mineiro só possa ser considerado findo com a morte desses dois
mestres, ocorrida respectivamente em 1814 e 1830.
Por influência francesa, o estilo se suavizou no Rococó, que trás como como
principais características: as cores claras, tons pastéis e douramento, representação
da vida profana da aristocracia, estilo decorativo, unificação do espaço interno, com
maior graça e intimidade e texturas suaves.
A música sacra encontrou nesses locais de culto espaços para seu cultivo
sistemático, e o teatro da mesma forma teve um impulso significativo, tanto no
gênero recitado como no musical, com frequente apresentação de óperas.
ARQUITETURA
ESCULTURA
Minas, em seu relativo isolamento, com maior dificuldade para importação de peças
portuguesas como se fazia de hábito no litoral, não era menos religiosa e enfrentava
uma demanda por estatuária sacra em nada menor do que a dos outros grandes
centros urbanos do Brasil, e foi por isso obrigada a produzir a grande maioria de
seus próprios artífices. Forçados pelas circunstâncias a apresentarem soluções
formais sem uma grande disponibilidade de modelos eruditos, e em sua maioria
autodidatas, os escultores da escola mineira não se aglutinaram em torno de um
único princípio estético, e sua produção se caracteriza pela diversidade e pelo
ecletismo, ao contrário de outras escolas importantes como a da Bahia ou de
Pernambuco, que eram bem mais informadas sobre a arte européia e produziam em
série para um vasto mercado nacional.
Mesmo assim alguns traços têm sido apontados como típicos de Minas Gerais: a
ausência de padrões repetitivos ou acadêmicos, uma policromia menos carregada,
mais uniforme e mais econômica que similares litorâneos, feições mais ingênuas e
joviais e um tratamento dos trajes que nem sempre prima pela lógica, embora o
dinamismo seja uma constante .
Um dos mais requintados ambientes de decoração religiosa do barroco da arte
colonial brasileira é a Capela da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de
Ouro Preto. É um raro exemplar de unidade ornamental, em que todos os
elementos - sejam esculturas, pinturas ou talha, se completam, transmitindo uma
sensação de harmoniosa integração.
Há muitas incertezas sobre sua vida. A primeira biografia do artista foi escrita em
1858, 44 anos após sua morte, por Rodrigo José Ferreira Bretas, baseada em
documentos de arquivo e depoimentos.
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em Vila Rica, hoje Ouro Preto, em
Mina Gerais, por volta de 1730. Era filho natural de um mestre-de-obras português,
Manuel Francisco Lisboa, um dos primeiros a atuar como arquiteto em Minas Gerais,
e de uma escrava que se chamava Isabel.
O apelido que o celebrizou veio de enfermidade que contraiu por volta de 1777, que
o foi aos poucos deformando e cuja exata natureza é objeto de controvérsias. Uns a
apontam como sífilis, outros como lepra, outros ainda ulceração gangrenosa das
mãos e dos pés. De concreto se sabe que ao perder os dedos dos pés ele passou a
andar de joelhos, protegendo-os com dispositivos de couro, ou a se fazer carregar.
Ao perder os dedos das mãos, passou a esculpir com o cinzel e o martelo
amarrados aos punhos pelos ajudantes.
PRODUÇÃO ARTÍSTICA
O Santuário do Bom Jesus do Matosinhos é constituído por uma igreja em cujo adro
estão as esculturas em pedra sabão de 12 profetas: Isaias, Jeremias, Baruque,
Ezequiel, Daniel, Oséias, Jonas, Joel, Abdias, Adacuque, Amós e Naum. Cada um
desses personagens está numa posição diferente e executa gestos que se
coordenam. Com isso, Aleijadinho conseguiu um resultado muito interessante, pois
torna muito forte para o observador a sugestão de que as figuras de pedra estão se
movimentando.
Toda sua extensa obra foi realizada em Minas Gerais e, além desses dois grandes
conjuntos, cumpre citar outros trabalhos.
Em Ouro Preto:
Igreja de São Francisco de Assis (risco geral, risco e esculturas da portada, risco da
tribuna do altar-mor e dos altares laterais, esculturas dos púlpitos, do barrete, do
retábulo e da capela-mor);
Igreja de Nossa Senhora do Carmo (modificações no frontispício e projeto original,
esculturas da sobreporta e do lavatório da sacristia, da tarja do arco-cruzeiro, altares
laterais de São João Batista e de Nossa Senhora da Piedade);
Igreja das Mercês e Perdões ou Mercês de Baixo (risco da capela-mor, imagens de
roca de São Pedro Nolasco e São Raimundo Nonato);
Igreja São Francisco de Paula (imagem do padroeiro);
Igreja de São José (risco da capela-mor, da torre e do retábulo);
Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos ou de São Miguel e Almas
(estátua de São Miguel Arcanjo e demais esculturas no frontispício);
Igreja de Nossa Senhora do Rosário (imagem de santa Helena); e as imagens de
São Jorge, de Nossa Senhora, de Cristo na coluna e quatro figuras de presépio hoje
no Museu da Inconfidência.
Em Congonhas:
Igreja matriz (risco e escultura da sobreporta, risco do coro, imagem de são
Joaquim).
Em Mariana:
Cristo com a Samaritana, chafariz de Mariana .
Em Sabará:
Igreja de Nossa Senhora do Carmo (risco do frontispício, ornatos da porta e da
empena, dois púlpitos, dois atlantes do coro, imagens de São Simão Stock e de São
João da Cruz).
Em Tiradentes:
Matriz de Santo Antônio (risco do frontispício).
PINTURA
Não se sabe quando o mestre começou a se dedicar à pintura e nem quem teria
sido seu mestre. O primeiro documento que tem o registro do nome do pintor foi uma
obra não identificada para a capela de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana. A
fama de bom pintor deve ter se espalhado com rapidez pela capitania, já que se
avolumaram as obras em diversas vilas. Usava como referência ilustrações de
Bíblias e catálogos importados da Europa. Fazia a transposição das imagens,
simplificava os originais, adequava ao espaço e aos recursos disponíveis.
Suas composições e seu colorido inconfundível deram ao seu trabalho uma
qualidade excepcional e o transformaram no grande expoente da pintura colonial
brasileira.
Em 1818, Ataíde escreveu a D. João VI pedindo permissão para estabelecer uma
escola para o ensino das artes em Mariana, pedido que não foi aprovado.
Aqui no Brasil, foi em Minas Gerais que a música sacra barroca alcançou , sem
exagero, uma culminância. Irmandades de músicos, cantores e compositores,
mestiços em sua quase totalidade, produziram obras que hoje surpreendem tanto os
estudiosos quanto o público. Eram Missas, Novenas e Ofícios, concebidos com
originalidade, dentro dos padrões clássicos, em consonância com o que se produzia
ao norte da Itália, na Baviera e na Áustria. O seminário de Mariana foi o núcleo
formador de músicos, seminaristas e leigos, instruídos por padres da região.
Pouco a pouco, felizmente, estas obras vêm sendo cada vez mais colocadas ao
alcance do público.