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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE ADOBE: CONSTRUÇÃO DE

ALVENARIA

OLIVEIRA, Leila Bueno de.


Professora Adjunta da Universidade Paulista – UNIP; pesquisadora do Cantoar/FAUUnB,
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo – EESC USP, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela PPG
FAUUnB. End.: Projeto Cantoar / FAU - Prefeitura do Campus, Fundação Universidade de
Brasília, Campus Universitário, Asa Norte 70.910-900 Brasília, DF Telefone: (61) 307 2044.
E-mail: leilabueno@msn.com
RESUMO
O adobe é um material de construção usado milenarmente em diversas partes
do mundo, sendo, portanto, um material tradicional. Além disso, os insumos
necessários para a sua produção (terra, fibra natural e água) podem ser
encontrados localmente; a energia utilizada em sua manufatura é quase nula; e
a mão de obra empregada pode ter pouca especialização, tornando o adobe
um material apropriado do ponto de vista da sustentabilidade. Sendo assim, a
pesquisa e o desenvolvimento desta técnica de construção poderão contribuir
para que sua aplicação possa ser sistematizada e o seu uso resgatado. Este
artigo, portanto, visa ao estudo do adobe utilizado na alvenaria, tendo-o como
uma das soluções possíveis para as construções em zonas rurais e, também,
urbanas.
Palavras-chave: arquitetura, comunidade tradicional, sistema construtivo,
sustentabilidade
ABSTRACT
The adobe is a material used for thousand years, in various places around the
world. In Brazil, particularly, it is a traditional material used in rural communities
or historical cities. Its manufacture needs earth, natural fibers and water. They
can be found near the construction; the cost with energy for its production is
nothing; and labor has very little specialization, making the adobe an
appropriate material from the point of view of sustainability. So, the research
and the development of this construction thecnique may contribute for the
systematization and for its regular use. This work is an introduction to the adobe
study, this material can be one of the solutions for construction in rural and, too,
urban area.
Keywords: adobe, architecture, traditional communities, building construction,
manufacture
1. INTRODUÇÃO
Pode-se dizer que um dos problemas de nossa atualidade consiste na
dificuldade de acesso à moradia por grande parte da população, tanto em
zonas rurais como em zonas urbanas ou suburbanas.
O nosso país, assim como tantos outros, passa por problemas como falta de
acesso à tecnologia, ao conhecimento e aos bens materiais, especialmente aos
materiais de construção, e, para que a população em geral possa adquirir
moradia adequada, com conforto e espaço, faz-se necessária uma solução que
se sustente na própria comunidade, uma solução sustentada.
Adotando-se os princípios da sustentabilidade, como, por exemplo, pensar
globalmente e agir localmente, integrando-se os saberes – tradicionais e
acadêmicos, ou científicos, essa solução pode buscas as condições locais, tais
como: material, mão-de-obra e saber local (Oliveira, 2003).
O conceito de sustentabilidade abarca não só a economia, os bens matérias e
naturais, como também a cultura e a tradição da comunidade, que podem vir a
ser resgatadas ou reafirmadas, em sua integridade ou essência, no caso de
uma ação junto à mesma.
Dessa forma, com respeito à construção, temos que uma solução possa ser a
utilização de materiais da região, não sobrecarregados por manufaturas
complicadas, além do emprego de mão-de-obra não especializada.
Por conseguinte, uma matéria-prima presente em todo o país é a terra, que,
juntamente com as fibras naturais (que também podem ser encontradas
localmente) e a água, podem compor um material que responde a essas
condições de sustentabilidade citadas anteriormente: o adobe.
Sendo assim, este trabalho visa ao estudo do tijolo de adobe para a aplicação
em paredes, dada a importância em se pesquisar esse material que é comum
em cidades coloniais do interior do Brasil, especialmente dos Estados de Goiás
e Minas Gerais, em construções do meio rural, e em comunidades étnicas,
como os quilombolas. O adobe configura-se como uma tecnologia da cultura e
da tradição de grande parte do povo brasileiro, podendo ser resgatada e
reafirmada, através da pesquisa e aplicação sistematizadas.
Esse estudo se dá, principalmente, no âmbito de revisão de literatura, sobre
arquitetura de terra, destacando-se os aspectos técnicos relativos ao adobe
empregado na construção de alvenaria de moradia.
Esse trabalho está dividido em cinco partes, quais sejam: 1. O que é o adobe,
esta seção traz o conceito de adobe como uma técnica de construção de terra
crua, suas principais características e cuidados que se deve ter com seu uso,
além da caracterização do solo e de seus componentes, a forma de sua análise
e estabilização do mesmo; 2. Manufaturamento, onde se descreve o processo
de produção do tijolo de adobe, desde o amassamento do barro, passando
pela moldagem e desmoldagem do adobe, a secagem, até o armazenamento
dos tijolos prontos; 3. Traço, esta parte do trabalho traz a mistura para o adobe
e as equações do traço para o mesmo; 4. Assentamento, consiste na aplicação
do tijolo de adobe, em como os diversos elementos construtivos se relacionam
quando se utiliza esta técnica de terra crua na construção; e 5. Conclusão.
2. O QUE É O ADOBE
2.1 Características gerais
Num dos mais antigos textos consultados, a Bíblia (na versão Bíblia, 1999), são
encontradas referências a tijolos em oito capítulos de seus seis livros, tanto de
tijolos de barro cozidos, como de tijolos de terra crua, com utilização de palha
(fibra vegetal) e amassados com os pés. A data de tais relatos é de difícil
precisão, mas, por se tratar de livros do Antigo Testamento, concluí-se que se
situam antes da era cristã.
A construção mostrada na figura 01, situada em Taos Pluebo, Novo México, é
freqüentemente citada, segundo Faria (2002), como a mais velha casa de

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apartamentos do mundo e um belo exemplo desta arquitetura de adobe ainda
em uso.

Figura 01: Conjunto habitacional em Taos Pueblo, Novo México


Fonte: Faria (2002), p.51
Na época do descobrimento de nosso país, Milanez (1958) afirma que os
índios desconheciam as técnicas de construção com terra crua, construindo
suas habitações essencialmente com madeira roliça (para as paredes) e fibras
vegetais (para a cobertura), nas mais diversas tipologias arquitetônicas:
habitações isoladas ou agrupadas de formas variadas, mas, basicamente,
orgânicas (formas curvas livres).
Foram os portugueses que, com a colonização, introduziram as formas
cartesianas e a própria terra crua (na forma de adobe, taipa-de-pilão e pau-a-
pique).
A arquitetura de terra surgiu no Velho Mundo e, com os descobrimentos e
colonizações, se espalhou pelo mundo ocidental.
Terra crua é a designação genérica que se dá aos materiais de construção
produzidos com solo, porém, sem passar pelo processo de cozimento
(queima). Por extensão, é empregada a denominação de arquitetura de terra a
toda produção arquitetônica cujo principal material empregado seja a terra
crua.
Cada povo, com suas peculiaridades culturais, condições ambientais e
características do solo disponível, em função das necessidades de abrigo,
desenvolveu suas técnicas construtivas. Estas técnicas guardam muitas
semelhanças de uma região par outra, mas, em cada local tem sua
nomenclatura própria. Segundo CRATerre, a diversidade das técnicas de
construção em terra cura pode ser agrupada em doze principais itens, como
mostra a figura 02.
De acordo com Les Techiniques (1999), por seu custo, sua abundância e o
dato de que se endurece por secagem, a terra crua admite ser trabalhada por
pessoas não qualificadas, permitindo assim uma economia importante (de
energia e equipamentos) sem sacrificar a qualidade.
Dentre as técnicas de terra crua destacam-se a terra-palha (material produzido
com a mistura de palha e lama argilosa) e o adobe (tijolo de terra crua, secado
ao sol).

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Figura 02: Doze tipos de construção com terra crua
Fonte: CRATerre in Faria (2002), p.50
O adobe é, portanto, uma técnica tradicional executada em terra cura. O
processo de fabricação do tijolo de adobe consiste em amassar o barro, deixá-
lo descansar por alguns dias e, ainda úmido, colocá-lo em fôrmas (geralmente
de madeira de formato retangular), deixando-o secar ao sol (Vivas, s.d.).
Segundo Gutierrez (1972), o adobe como sistema de construção, se pode
descrever como a superposição de blocos de barro misturado com palha,
secados ao sol, que se unem entre si com uma argamassa similar a sua
constituição interna.
As dimensões de tijolo variam muito de região para região. Milanez (1958), por
exemplo, cita tijolos variando, na altura, largura e comprimento,
respectivamente, desde 8 x 12 x 25 cm, até 10 x 30 x 46 cm. Na Região de
Tiradentes, MG, por exemplo, é comum produzir-se tijolos nas dimensões de
10 x 12 x 25 cm.
Martins (2004) diz que as construções encontradas em Goiás, em geral,
apresentam estrutura em madeira formada por esteios, baldrames e frechais,
porém, o adobe possibilita o levantamento de paredes estruturais à feição do
tijolo cozido. A resistência desse material, ainda segundo Martins, pode ser
verificada não só pela sua permanência no tempo, mas também pela
dificuldade de desmonte e pela grande possibilidade de reaproveitamento.
Ressalvamos, porém, que devem ser tomados cuidados, principalmente em

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relação à umidade nos tijolos em uma construção de adobe, para que não haja
problemas com a mesma.
Segundo Faria (2002), a terra crua, em qualquer de suas modalidades, se
insere como excelente material no que diz respeito ao isolamento
térmico/acústico e ao baixo, ou praticamente nulo, consumo de energia para a
sua produção, em contraste com os materiais de construção convencionais,
como, por exemplo, o tijolo cerâmico.
O consumo de energia para a produção de materiais convencionais utilizado na
construção civil é muito alto (Faria, 2002). Para a produção de tijolos
cerâmicos, por exemplo, o consumo de energia, além de ser muito alto, o
processo de produção possui várias etapas até a moldagem, e, depois dessa
etapa, ainda há mais outras três: a primeira constitui na secagem; a segunda,
na primeira queima; e, a terceira, na requeima, depois, há ainda o resfriamento,
sendo que em todas essas etapas se consome energia. Além do fator energia,
há, também, a extração de matéria-prima (argila) para a sua produção, o que
provoca grandes impactos ambientais e degradação da paisagem. Somando-
se a isso, há a perda de mais de 10% dos tijolos produzidos por má queima e
quebra durante o processo como um todo.
Já o “entulho” resultante da produção do adobe, por exemplo, e do seu
emprego na construção, é completamente incorporado de volta ao meio
ambiente: a terra crua volta para o solo e as fibras vegetais se decompõem
naturalmente. Entretanto, a fabricação do adobe produz um impacto ambiental
que deve ser considerado: o buraco produzido pela retirada de terra para a sua
produção.
Dentre as características principais do adobe, quando produzido em baixa
escala, podemos destacar:
a) baixo consumo energético – pouco ou nenhuma energia para transporte
(material local), pouquíssima energia para a transformação e nenhuma energia
para a reciclagem;
b) recurso renovável, abundante e local – a argila, por exemplo, enquanto o
produto da degradação última das rochas, onde a terra é transportada pelos
cursos d´água das montanhas para os vales, e a natureza do material se
mantém intacta após a utilização;
c) longevidade, por sua natureza, o material não entra em ciclo de
degeneração;
d) ausência de toxidade;
e) regulador térmico;
f) regulador higroscópico;
g) permeabilidade ao vapor d´água das paredes externas – climatização no
verão, perspiração das paredes e boa difusão do vapor d´água;
h) isolamento e correção acústica;
i) absorção de odores e dissolução de gorduras – propriedade absorvente das
argilas (que é um produto de desengorduramento);
j) ausência de eletricidade estática – evita a aderência de poeira às paredes;

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e, k) oferece uma grande riqueza policromática do cinza escuro ao amarelo
brilhante, passando por diversas nuances de rosa e de vermelho.
Quanto ao conforto ambiental, temos o enfoque bioclimático como parâmetro
para uma arquitetura agradável, ou, confortável para seus ocupantes. Segundo
Oliveira (2003), bioclimatismo é um conjunto de princípios sobre o tratamento
do espaço construído, desenvolvido em três bases fundamentais, a saber: a
otimização do desenho arquitetônico dentro das relações energéticas com o
entorno e o meio ambiente; a recuperação da influência do lugar caracterizada
pela incorporação não só dos aspectos climáticos, mas também dos históricos
e culturais do lugar; e a resposta local que resulta necessariamente na
regional, em que a arquitetura deve responder a todas as exigências do
entorno, através da observância de aspectos tecnológicos e culturais, dentre
outros que compõe o ecossistema.
Dentro dessa concepção, podemos incorporar como elementos que ordenam o
espaço como estímulos dimensionais a serem considerados numa arquitetura
bioclimática, o som, a temperatura, o clima, a luz e a cor, atribuindo
interdependência entre forma, elementos materiais e físicos, ambiente e o ser
humano que o percebe.
Nesse sentido, as características do adobe - tanto do ponto de vista físico, por
exemplo, sua capacidade de regulação térmica e acústica, permeabilidade,
absorção odores e dissolução de gorduras, material renovável, sua variedade
cromática, e, ainda, boa inserção no meio ambiente; quanto do ponto de vista
cultural e tecnológico, por estar presente na nossa tradição vernacular -
contribuem para que essa tecnologia possa resultar em uma arquitetura
bioclimática bem adaptada e inserida, enfim, com potencialidades para um bom
conforto ambiental.
Quanto aos cuidados na construção com adobe, enfatizamos os seguintes:
a) o principal é com a prevenção à infiltração da água – é preciso garantir boas
fundações, do ponto de vista do isolamento da umidade do solo, que pode
subir por capilaridade pelas paredes e deteriorá-las por fissuras, devido ao
aumento de volume dos sais ao se solidificarem, principalmente, em regiões de
águas mais salinas (Di Marco, 1984). Um recurso é também o de ser generoso
nos beirais, para se lançar as águas pluviais o mais longe possível das
paredes, ou, alternativamente, se pensar em detalhes construtivos que facilitem
o escoamento imediato destas águas;
b) para não se alojarem insetos, principalmente os barbeiros (Triatoma
infestans), que é o vetor do parasita Tripanossoma crusi, que transmite a
doença de Chagas. Deve-se ter cuidado com a manutenção das construções,
fazendo-se a eliminação dos vazios (frestas) e a caiação periódica das paredes
(Rocha, 2002). Outro recurso é o uso do enxofre como aglutinante do barro,
que funciona como um repelente natural dos insetos (Martins, 2004);
e, c) quanto aos sismos, o adobe se mostra bastante frágil, principalmente
quando desempenha função estrutural. Esse problema pode ser sanado com
sua associação com outros materiais (por exemplo, com a madeira) ou,
adotando-se dispositivos construtivos, como, por exemplo, o uso de baldrame
de concreto armado, funcionando como uma cinta de amarração do conjunto
edificado.

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De acordo com McHenry (1984), o adobe tem mais vantagens que
desvantagens: o maior benefício compreende a baixa transmissão sonora
pelas paredes, e também o fato de que uma construção com esse material
transmite aos ocupantes um sentimento de solidez e segurança, além de a
energia investida na fabricação do material ser baixa e do adobe ser à prova de
fogo. A maior desvantagem é quando se adiciona a largura das paredes com a
pequena redução das taxas de temperatura ambiente, a melhor solução para
baixar a temperatura seria, então, o uso de paredes duplas.
Em resumo, o adobe é um tijolo cru, que não passa por processos mecânicos
ou industriais de manufaturamento, e que apresenta diversas vantagens do
ponto de vista da sustentabilidade e do conforto ambiental, tais como: ser um
material renovável; produzido com insumos locais; e necessitar de uma mão-
de-obra pouco especializada, podendo também ser local.
2.2 O solo
A camada superficial (de 30 ou 40 cm) do terreno é chamada de terra vegetal e
contém matéria orgânica em abundância, não sendo, desta forma, indicada
para a construção, visto que, além de se deteriorar rapidamente, pode conter
micro-organismos nocivos que comprometem a higiene da habitação. Abaixo
desta camada, encontra-se o solo apropriado à construção, chamado de,
simplesmente, terra.
Quanto ao aspecto físico, o solo é formado por três tipos de partículas,
classificadas de acordo com a dimensão dos grãos: areia, silte e argila; cada
uma com características particulares que, em função da quantidade
predominante em cada solo, irão definir, de acordo com Faria (2002), qual a
melhor técnica de construção a ser empregada.
A argila (partícula mais fina) tem a propriedade de contrair-se, ou seja, sofre
considerável variação volumétrica com a redução do seu teor de umidade.
Apresenta também o fenômeno de tixotropia (Caputo, 1978). Esse fenômeno é
caracterizado pela capacidade que um solo argiloso, com muitas partículas
coloidais (fração mais fina da argila) tem de adquirir maior resistência coesiva
quando é amassado (misturado com água para obter plasticidade), e deixado
em repouso até secar. Em seguida, se o solo é umedecido e amassado, perde
novamente a resistência, mas a recupera se deixado de novo em descanso.
Esta é uma característica típica das bentonitas (argilas extremamente finas) e
um fator que pesa muito a favor da construção com terra crua, pois, como o
barro (terra amassada com água) não é queimado, não sofre alterações
químicas e pode ser reutilizado tantas vezes quanto se queira.
A areia é o componente inerte do solo, constituindo suas partículas de maiores
dimensões. Segundo Tango (2000), seu inchamento crítico (em torno de 30%
do volume) se dá para teores de umidade próximos a 8%, bem baixos dos
usuais para a produção de adobe (unidades acima de 30%). A areia apresenta
maior resistência à compressão que a argila, no entanto, a argila pode
funcionar como elemento aglutinante das partículas de areia, semelhante ao
que ocorre entre a nata de cimento e os agregados (brita e areia) no concreto.
O silte é a partícula intermediária entre a argila e a areia, com características
mais próximas de uma ou de outra, dependendo das dimensões predominantes
dos grãos.

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Os limites entre os quais se distribuem as dimensões dessas partículas,
determinados pelas normas brasileiras, são os seguintes: argila, diâmetro das
partículas abaixo de 0,005 mm; silte, diâmetro entre 0,005 e 0,05 mm; e areia,
diâmetro entre 0,05 e 2,0 mm. A determinação da dimensão e a quantidade de
partículas de cada elemento no solo (análise granulométrica) são feitas por
ensaios normalizados, específicos de mecânica dos solos, constituídos
basicamente de peneiramento, para a fração areia, e sedimentação, para os
grãos finos, silte e argila.
Segundo McHenry (1984), o ideal para o uso da terra na construção das
paredes é o solo conter quatro elementos: areia grossa, areia fina, silte e argila.
2.3 Análise do solo
Mchenry (1984) diz que a melhor prática para o teste de determinação do solo
para os tijolos de adobe é fazer alguns exemplos de tijolo desse solo.
Entretanto, há uma série de estudos do solo que se vai utilizar para a melhor
precisão na produção do adobe, principalmente para a determinação do tipo de
estabilização do solo que se vai fazer para se chegar em um tijolo com
qualidade maior.
Os principais ensaios, descritos por Farias (2002), são os seguintes: a) ensaios
de determinação do teor de umidade natural do solo e da massa específica
aparente do solo em estado solto; b) determinação da concentração de
nutrientes e metais no solo; c) determinação da distribuição granulométrica; d)
determinação do limite de liquidez e limite de plasticidade ou, ensaios de
consistência; e) determinação do limite de contração; e, f) ensaio de absorção
do azul de metileno.
2.4 Estabilização do solo
Para se contornar os efeitos das propriedades da argila no uso da terra crua
(por exemplo, variação volumétrica que pode ocasionar fissuras), podem ser
acrescentadas substâncias estabilizadoras ao solo.
Faria (2002) classificou em quatro categorias os tipos de estabilização do solo:
a) estabilização por cimentação, onde se adiciona, por exemplo, cimento
portland (formando o solo-cimento); a cal, virgem ou hidratada; uma mistura de
cal e cimento; ou, ainda, uma mistura de cal com cinzas;
b) estabilização por armação, consiste em agregar ao barro um material de
coesão (fibra ou grãos), que permite assegurar, pelo atrito com as partículas de
argila, uma maior firmeza ao material. Esse material funciona como a armadura
de aço no concreto armado. Segundo Bardou & Arzouma (1979), a resistência
do material é reduzida, entretanto, se ganha em estabilidade e durabilidade.
Não há limitações para os materiais que podem ser utilizados, dependendo da
disponibilidade e das adaptações locais;
c) estabilização por impermeabilização, consiste em se envolver as partículas
de argila por uma camada impermeável, tornando os compostos estáveis e
livres da ação da água. O material mais conhecido utilizado para este fim é o
asfalto (betume), além de outros materiais como, por exemplo, óleo de coco,
algumas seivas oleaginosas, látex e azeite de oliva;

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e, d) estabilização por tratamento químico, consiste em se agregar à terra
diversas substâncias capazes de formar compostos estáveis com os elementos
de argila. Os compostos químicos variam de acordo com a própria composição
da argila. Portanto, nesse caso, é preciso uma análise química da mesma. A
própria cal pode funcionar como estabilizador químico, agindo com os silicatos
e aluminatos da terra. Outros elementos de baixo custo podem ser, por
exemplo, a soda cáustica e a urina de gado.
Em suma, cada solo possui uma composição que o caracteriza como, por
exemplo, arenoso ou argiloso, e, muitas vezes, para o uso da terra na
construção, é preciso que se faça a correção desse solo, tendo em vista a sua
composição granulométrica, seu teor de umidade, sua consistência e a relação
de seus componentes.
3. MANUFATURAMENTO
Segundo McHenry (1984), a princípio, qualquer área que tenha um clima que
ofereça períodos de uma ou mais semanas sem chuva será adequada para o
manufaturamento e o uso do tijolo de adobe.
A terra, de preferência pouco argilosa e muito arenosa, é peneirada e
misturada com água até a obtenção de uma mistura plástica, o barro, ao qual
pode ser adicionada palha picada ou outras fibras. O amassamento é feito
tradicionalmente com os pés, ou por animais; depois o barro é moldado, à mão,
em fôrmas de madeira (ou metálicas), desenformados logo em seguida para
serem os tijolos secados ao sol, ou meia-sombra.
Para a mistura da massa para se produzir o adobe, o simples método é pela
definição de um local, como uma caixa, para a mistura do material. Os
misturadores mecânicos não são de custos elevados quando utilizados para
produzir grande quantidade de material, mas, o processo de mistura manual de
massa de assentamento com maior consumo de tempo, pode se a melhor
escolha (McHenry, 1984).
3.1 Olaria
O layout físico da operação de manufatura de tijolo de adobe deve ser
cuidadosamente planejado para se evitar adicionais de movimento do material
e dos tijolos produzidos (McHenry, 1984).
Segundo Faria (2002), é aconselhável que se planeje a olaria da forma o mais
racional possível: a terra a ser utilizada, por exemplo, deve estar próxima à
área de trabalho; a produção de tijolos pode ser feita numa área coberta e com
piso cimentado, porém, aberta, para melhor conforto dos trabalhadores; é bom
que se tenha um ponto de água próximo; os tijolos podem ser montados em
uma bancada, com altura adequada às operações de moldagem e
desmoldagem; a existência de uma área externa para secagem, a pleno sol ou
com meia sombra e possibilidade de proteção às intempéries, tanto como uma
cobertura, quanto como um piso ou suporte para os tijolos para a proteção à
umidade; e uma área fechada para o armazenamento dos tijolos prontos,
principalmente quando em época de chuva.
McHenry (1984) diz que como o solo é muito pesado, é melhor locar o canteiro
de fabricação de adobe junto à obra, assim o transporte fica mais facilitado.

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3.2 As fôrmas
McHenry (1984) apresenta uma série de fôrmas das mais variadas formas e
tamanhos: desde as menores, com a possibilidade de produção de apenas um
tijolo, até as maiores, que possibilitam a produção de até 16 unidades de tijolo
(figura 03). A vantagem de uma fôrma grande é, sem dúvida, a produção de
uma grande quantidade de tijolos de uma só vez, entretanto, há também a
desvantagem, que consiste na possibilidade de diminuir a qualidade do
mesmo, visto que a fôrma deve ser colocada em terreno o mais nivelado e
homogêneo possível para que o tijolo não tenha imperfeições. Entretanto, um
grande número de tijolos por fôrma requer uma preparação mais cuidadosa do
solo que uma fôrma menor (McHenry, 1984).

Figura 03: Moldes de adobe típicos. Vários tamanhos e configurações são usados em
diferentes partes do mundo. Formatos especiais podem ser facilmente produzidos por moldes
especiais.
Fonte: CRATerre in McHenry (1984), p.62
Faria (2002) propôs e executou em seu trabalho para a tese de doutoramento,
uma fôrma que possibilita a produção de um tijolo ou, alternativamente, dois
meios tijolos, com uma ranhura, próprios para serem utilizados na ligação entre
paredes e colunas de madeira (figura 4a). Ele propõe também uma segunda
fôrma para quatro tijolos (figura 4b), o que vem a reduzir o esforço físico do
operário, melhorando seu rendimento e trabalho, bem como a qualidade no
acabamento superficial do tijolo. Além disso, Faria faz o uso de material menos
aderente (como, por exemplo, chapa de compensado de madeira plastificado),
e sem fundo, além disso, Faria também passa óleo no interior da fôrma para o
melhor desmolde do tijolo.

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a b

Figura 04: Fôrmas utilizadas por Faria: a) fotografia da fôrma para um tijolo ou dois meios; b)
fotografia da fôrma para quatro tijolos.
Fonte: Faria (2002), p.102-3
3.3 Homogeneização do solo e preparo da biomassa triturada
A biomassa utilizada para a mistura do adobe consiste em fibras vegetais
secas e trituradas. Essas fibras vegetais podem ser obtidas de várias espécies
vegetais, como, por exemplo, a baqueara ou, de acordo com a proposta de
Faria (2002), macrófitas aquáticas. Isso quer dizer que, a fibra vegetal que
compõe a palha na mistura para a massa do adobe é um material que pode ser
encontrado localmente, reforçando ainda mais o caráter sustentado do adobe.
Segundo Faria (2002), após a coleta e acondicionamento das plantas (em
sacos plásticos), devem-se lavar as mesmas (para remoção dos materiais
aderidos) e espalhadas ao sol par perda do excesso de umidade e redução de
volume, até que se torne viável o prosseguimento do processo de secagem em
estufa, chegando-se à constância de peso. A temperatura da estufa (com
ventilação interna) pode estar em torno de 60 graus Celsius. Após a secagem
completa das plantas e o cálculo da biomassa, o material resultante deve ser
fragmentado no triturador forrageiro (com peneira de Φ12 mm), para se
conseguir fragmentos da ordem de 15 mm, evitando a orientação dos mesmos
no processo de amassamento do barro e moldagem dos tijolos.

Figura 05: Peneiramento da terra; descanso do barro


Fonte: Gallaway (1963), p.77 e 79

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Quanto à homogeneização do solo, segundo a bibliografia, o ideal é que se
passe a terra por uma peneira grossa (# 4 mm), para o seu destorroamento e
homogeneização. Este procedimento, no entanto, requer que o solo esteja
seco. No caso de o solo ser muito argiloso, Faria (2002) aconselha fazer a
quebra dos torrões com os pés, protegidos com botas.
3.4 Amassamento e descanso do barro
Segundo a tradição dos construtores de terra, ratificada tecnicamente por
Minke (2000) e Barrios (1986), é necessário que se amasse o barro (mistura de
solo, biomassa e água), o deixe em repouso por 48 horas (para melhor
homogeneização da umidade e absorção pela biomassa – maceração). Após
este repouso, antes da moldagem dos tijolos, o mesmo deve ser amassado
vigorosamente, para se evitar que as lâminas de argila se ordenem segundo
atrações elétricas, o que acarretaria redução na resistência mecânica dos
tijolos.
O amassamento do barro pode ser feito artesanalmente, com os pés ou em
pipas rústicas (com tração animal), ou mecanicamente (em máquinas
chamadas marombas ou betoneiras). A figura seguinte ilustra esses três tipos
de amassamento.

a b c

Figura 06: Formas de amassamento do barro: a) pipa à tração animal; b) maromba ou


betoneira; e, c) pés.
Fonte: Faria (2002), p.108
Segundo Milanez (1958), o barro deve ser amassado primeiro, para depois se
acrescentar as fibras, embora não haja uma justificativa para tal procedimento.
De acordo com Faria (2002), não existe teor de umidade pré-determinado para
o amassamento do barro. O único parâmetro para se determinar o teor ótimo
de umidade é a trababilidade e plasticidade do barro, ou seja, o mesmo deve
ter uma consistência tal que seja possível moldar o tijolo (preenchendo
totalmente a fôrma) e tirá-lo da fôrma sem deformação excessiva
(popularmente, o tijolo não pode esborrachar).
Após o molde ser cheio ele deve ser limpo com uma espátula (McHenry, 1984;
Gallaway, 1963).
Segundo Faria (2002), depois de tirar o tijolo do molde, deve-se colocá-lo para
secar por um período de, aproximadamente, 30 dias, quando atingem um
equilíbrio higroscópico.
As figuras seguintes ilustram o processo de manufatura do adobe.

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a b

c d

e f

Figura 07: Processo de manufatura do adobe: a) mistura do barro; b) colocação do barro nas
fôrmas; c) assentamento do barro nas fôrmas; d) desmoldagem do adobe; e) lavagem das
fôrmas para serem utilizadas em um novo ciclo; e, f) alisamento do adobe com espátula.
Fonte: Gallaway (1963), pp.81-85
O processo de manufatura do adobe pode ser feito manualmente ou,
principalmente quando se quer uma produção maior, com ajuda de máquinas,
como mostra a figura 8.
Atualmente, em algumas regiões, como, por exemplo, na França, a
produtividade dos tijolos é aumentada com a utilização de alguns
equipamentos mecânicos. Dessa forma, cinco homens podem aumentar a
produção, que no processo artesanal varia entre 300 e 500 tijolos, para cerca
de 20.000 tijolos por dia (Faria, 2002).
Sobre isso, McHenry (1984) diz que quando são feitos tijolos artesanalmente,
com instrumentos simples como uma pá e uma fôrma, com duas pessoas
manualmente, pode-se chegar a uma produção de 300 a 400 tijolos por dia. Se
for colocada uma betoneira, com duas pessoas, pode-se chegar a 500 ou mais
tijolos, e, se for com três pessoas e equipamento de processo mecanizado,
pode-se chegar a 2.000 ou mais tijolos por dia.

13
Figura 08: Manufatura com mecanização
Fonte: Gallaway (1963), p.84
Secagem do tijolo
Deve ser levado em consideração o período (seco ou chuvoso) em que se
está. Se no período chuvoso, deve-se ter certos cuidados, como proteção dos
tijolos às águas da chuva. O ideal, entretanto, é que os tijolos sequem a pleno
sol.
A primeira etapa de secagem dos tijolos, que devem estar próximos à
produção, pode se dar em uma área descoberta e com sol. Esse período deve
ser suficiente para que os tijolos percam o excesso de umidade, ganhem
resistência, ocorram as retrações iniciais (que são as mais expressivas) e
possam ser levados à etapa de secagem final, que deve ocorrer em uma área
com proteção dos tijolos contra intempéries (chuva, principalmente), para que
não haja absorção de umidade. Sendo assim, uma solução é a de secar os
tijolos sobre suportes de madeira. Esta fase pode durar em torno de, pelo
menos, 30 dias, período em que os tijolos atingem o equilíbrio higroscópico.
Segundo McHenry (1984) a secagem inicial do adobe, em temperatura quente
de verão, leva de dois a três dias e, no inverno, várias semanas. Acreditamos
que as condições climáticas é que determinam esse tempo de secagem, se
estiver em um período quente e seco, as condições para a secagem serão
melhores que num período chuvoso, mesmo que com temperaturas altas. Esse
tempo, portanto, pode variar dependendo da intensidade do sol (temperatura),
largura dos tijolos e umidade do ar.
É aconselhável que, durante o processo de secagem, os tijolos sejam virados
com determinada freqüência para que a mesma seja homogênea, evitando,
assim, retrações diferenciais e, conseqüentemente, deformação dos tijolos.

a b

Figura 09: Armazenamento dos tijolos


Fonte: a) Gallaway (1963), p.86; b) Faria (2002), p.113

14
McHenry (1984) sugere que, após os tijolos estarem aparentemente secos,
eles podem ser testados quanto a sua secagem pela inserção de um canivete,
pois a superfície pode estar seca, mas o interior molhado e diz que a cura do
tijolo, que deve ser cuidadosamente transportado e manipulado, pode ser
completada sobre um estrado.
O armazenamento do tijolo pode ser feito em um local com proteção à umidade
e às intempéries em geral, até poderem ser utilizados (Faria, 2002). Os tijolos
que são guardados com cuidado necessitam somente proteção no topo
(McHenry, 1984).
4. TRAÇOS OU MISTURA
A mistura entre os componentes do adobe, solo e biomassa, expressa o traço
desse material, pela porcentagem de biomassa com relação ao solo, podendo
essa relação ser em massa ou em volume.
Entretanto, é mais prático trabalhar com o traço em volume. Por exemplo, traço
de 20% significa que o volume de biomassa é de 20% do volume do solo e é
calculado pela seguinte equação:
Tv= (Vm/Vs)x100%
Onde: Tv: traço em volume;
Vm: volume da biomassa picada, à umidade Uhm (unidade de volume);
Vs: volume do solo, à umidade natural (unidade em volume).
Como a massa contida na unidade de volume pode variar de acordo com a
umidade, Faria (2002) utiliza também o traço para massa, sob a seguinte
equação:
Tm= (P ap fib seca / P ap solo seco) x Tv
Onde: Tm: traço em massa (%);
P ap fib seca: massa específica aparente da fibra vegetal seca (g/cm³)
P ap solo seco: massa específica aparente do solo seco (g/cm³);
Tv: traço em volume (%).
Bardou & Arzouma (1979), recomendam para a produção do adobe, solos com,
no máximo, 20% de argila em, pelo menos, 45% de areia e 25% de água.
Ambos os trabalhos citam como reforço, no caso de solos argilosos, as fibras
vegetais obtidas com o emprego de estrume fresco de animal. Outros autores
refutam esse expediente, levando-se em consideração a presença de
microorganismos neste material.
A utilização das fibras contribui com a melhoria das características físicas dos
tijolos como, por exemplo, a redução de massa específica, com conseqüente
diminuição das cargas na estrutura da construção.
5. ASSENTAMENTO
5.1 Alicerces e cuidado com a umidade
A construção em adobe inicia-se com a escavação em valetas. Nas quais se
assentam os alicerces. Em São Paulo, de acordo com Martins (2004), Schmidt
(1946) relata que estes eram feitos de terra socada e, alternativamente, em

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pedra. Na verdade, segundo Martins (2004), trata-se de adaptações
propiciadas pela disponibilidade deste material.

Figura 10: Assentamento do adobe


Fonte: Gallaway (1963), p.102
As paredes de terra crua requerem como exigências básicas para a sua
conservação, a adoção de meios de proteção contra as infiltrações de águas,
sejam descendentes ou ascendentes. Contra as chuvas, além da proteção dos
beirais dos telhados, as paredes podem ser recobertas por uma camada de
reboco, composto de terra, areia e cal, e por uma camada de pintura seca à
base de cal (Martins, 2004; Uemoto, 1993).
Para se evitar a umidade proveniente do solo, uma solução adotada consiste
na execução de embasamentos de pedra, tal como Martins (2004) verificou nos
exemplares de muro encontrados em Goiás, e que, do mesmo modo,
demandam a instalação de sistemas de drenagem para se evitar o
“empoçamento” de água.
Outra fonte de água que se há de considerar, são as águas usadas para a
lavagem do interior das edificações. Para que esta água utilizada na lavagem
do piso não consista em problemas futuros para a construção, é necessário
que se faça uma proteção das paredes de adobe com o piso. Somente a
execução de rodapés não resolve esse problema, visto que, mesmo com esse
recurso ocorre a infiltração de água. Outro recurso que pode ser associado ao
rodapé é que se inicie esta parede um pouquinho acima do piso, elevando-se o
baldrame este tanto necessário. Pode-se, ainda, para solucionar o problema
das soleiras das portas, fazer a primeira fiada de tijolos com o tijolo cozido,
ressalvando o intervalo das portas, para não atrapalhar tais aberturas.
Quanto ao assentamento dos tijolos de adobe, não deve ser deixado vazios ou
frestas nas juntas e, quando houver, eles devem ser cheios de argamassa com
auxílio de uma colher, deixando a sua superfície lisa e no mesmo nível da face
do tijolo. Se houver buraco que exceda 0,03 m, ele deve ser encascado com
fragmentos de tijolo ou pequenas lascas de pedra.
5.2 Os tijolos
Segundo McHenry (1984), o tijolo ideal deve ter duas vezes o comprimento
pela largura, e devem-se evitar quebras ou aparas para a fabricação de

16
tamanhos especiais, com o mínimo de cortes. Isso indicaria então, a fabricação
de tijolos especiais.
McHenry (1984) diz que o peso dos tijolos é um importante fator para a
eficiência de seu assentamento, há limites de tamanho e de peso. Um ótimo
peso seria em torno de 30 a 40 libras. Quanto mais fino e menor o adobe, mais
rápido ele cura, pois a cura de tijolos é mais um processo físico do que químico
e a velocidade de perda de água é determinada pela temperatura, umidade,
ventilação e espessura. Muitos dos adobes dos Estados Unidos têm uma altura
de 10 cm e um peso entre 30 e 35 libras (13,6 e 15,9 kg). Estes tijolos
requerem um mínimo tempo de secagem, que pode chegar a ser, entre a
manufatura e o depósito, no mínimo de sete dias. Esse processo leva de 4 a 6
semanas no inverno. No Oriente Médio, a dimensão comum dos tijolos é de 25
x 25 x 5 cm. Esse tijolo pesará em torno de 12 libras (5,5 kg) e terá em torno de
24 horas para cura. O que facilita também jogá-los de baixo do andaime. Além
disso, este tijolo oferece flexibilidade para o desenho de cúpulas, facilitando
também os desenhos dos cantos em “T” e em “cruz”.
Para o cálculo da quantidade de tijolos a serem usados numa parede,
considera-se o tamanho do tijolo (por exemplo, 25 x 10 x 35 cm), a espessura
da parede (por exemplo, 25 cm), a média das juntas (2 cm).
5.3 Massa de assentamento
Segundo McHenry (1984), o adobe absorverá umidade da massa de
assentamento e secará mais lentamente porque a superfície em contato com a
massa está menos exposta ao ar. Tijolos molhados não têm força de
compressão e podem ruir estruturalmente, devido ao peso da parede acima. As
paredes simples e estreitas secarão mais rápido, resolvendo, dessa forma esse
problema. O uso de cal e cimento na massa de assentamento pode também
resolver isso, pois essa mistura também absorve umidade, transmitindo menos
umidade aos tijolos. Entretanto, este processo depende também de fatores
climáticos, do grau de umidade da massa de assentamento, entre outros.
Se for utilizar a massa de cal e cimento para assentamento, ela terá as
mesmas características que a massa de adobe: aproximadamente, 8 partes de
areia, 1 de cal e 2 de cimento por volume de massa. A massa utilizando-se
somente o cimento e a areia será mais fácil para o assentamento que a massa
feita de barro, permitindo assim, maior assentamento de tijolos em um dia.
Porém, massa de assentamento feita com cimento custa mais e não é tão
eficiente quanto à massa de barro. Já a massa de assentamento feita somente
com cal e areia não é aconselhável, pois lhe falta o cimento. A cal é menos
custosa que o cimento e dá maior plasticidade à massa. O que se recomenda é
uma massa de assentamento composta da seguinte maneira: 10 partes de
areia lavada, 2 partes de pasta de cal e 1 parte de barro por volume. Enquanto
na Europa se utiliza muito a massa de assentamento com base na cal, nas
áreas áridas do Oriente Médio usa-se o gesso (McHenry, 1984).
5.4 Estrutura
Geralmente, as fundações ou alicerces da casa são diretos, do tipo sapata
corrida de alvenaria de pedra em toda a extensão das paredes, ou de concreto
ciclópico, executada com pedras de mão, juntadas e regularizada na sua face
superior com argamassa de cimento e areia no traço de 1:2, em vala apiloada

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no braço. Alternativamente, a fundação pode ser coroada com uma cinta ou
baldrame em concreto armado e estribado no sentido longitudinal, moldada em
fôrma de madeira, no traço de 1:2:3 (cimento, areia e brita). O uso de
fundações comuns garante apenas a resistência à compressão, com a opção
de mais esse recurso de estrutura (a cinta), a resistência à tração também é
garantida. A viga de amarração superior possui três objetivos: um, de função
de distribuição uniforme das cargas do telhado sobre a parede; outro, de
amarração do topo da parede contra as forças horizontais do telhado; e, o
terceiro, e talvez menos significativo que os demais, de segurança para
prevenir o colapso das paredes numa eventualidade perda de uma parte de
baixo de uma das paredes (McHenry, 1984).
5.5 Aberturas
Quanto às aberturas, essas devem ser feitas concomitantemente ao
levantamento das paredes. Geralmente, os marcos e as esquadrias das
aberturas são feitos de madeira. Os marcos das portas, por exemplo, também
podem funcionar como estrutura das paredes e devem ser colocados antes das
mesmas serem iniciadas. As esquadrias das janelas também podem exercer
função estrutural, ajudando a suportar, por exemplo, as últimas fiadas da
parede e a cobertura. Além disso, os marcos podem ajudar na amarração geral
da estrutura, servindo como esteios de um sistema de amarração que pode ser
feito com, por exemplo, arame farpado, funcionando como uma espécie de
cinta interna das paredes.

a b c

Figura 11: a) marcos das aberturas feitos em madeira; b) e c) marcos das aberturas feitos em
concretos e funcionando como viga
Fonte: Gallaway (1963), p.108, 110 e 111
São muitas as soluções para o assentamento dos marcos e esquadrias, e das
interfaces entre marco e parede. Essas interfaces têm que garantir a fixação
das paredes e das portas, as caixilharias podem ser fixadas por meio de
travessas horizontais pregadas por dentro e sobre as folhas, ou ainda
encaixadas pelo sistema macho-fêmea, entre outros. Outro elemento indicado
por McHenry (1984) é o lintel, que fica entre o marco e a parede, garantindo a
estabilização das portas.
Para evitar que a vibração da porta na parede ocasione rachaduras no
acabamento, recomenda-se colocar na junta feltro asfáltico e folha metálica.
Pode ser usada também como base do revestimento a tela metálica utilizada
em estuque.

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5.6 Acabamento das paredes (rebôco)
De acordo com McHenry (1984) a finalidade dos acabamentos externos é
evitar que a chuva danifique a superfície do adobe. A argila concorre para essa
resistência da superfície (o conteúdo de argila no adobe varia de 10 a 20%, se
esse conteúdo for abaixo disto, a superfície pode se desgastar facilmente,
principalmente nas paredes voltadas para os ventos dominantes e as
tempestades). Calcula-se que uma parede sem revestimento e sujeita às
chuvas pode, em vinte anos, perder 2,5 cm de sua superfície,
conseqüentemente, pode-se provocar problemas estruturais. Utiliza-se
comumente para o revestimento das paredes de adobe o mesmo material dos
tijolos. O revestimento inicial da parede não requer a colocação de tela
metálica utilizada no estuque e é comparado com o chapisco. Aconselha-se
que esse acabamento inicial seja reforçado com uma pequena quantidade de
material fibroso, especialmente capins, as razões são duas: primeiro, no
revestimento pode-se usar um alto percentual de argila (de 20 a 25%); e,
segundo, tal acabamento torna possível a aplicação de uma camada mais
grossa para o alisamento da superfície. Esse material produz uma superfície
dourada, refletindo a luz do sol e criando um agradável efeito visual. Além
disso, esse material reforça a superfície final da parede, dando-lhe uma maior
proteção à chuva.
O acabamento das paredes pode ser composto por uma argamassa de
cimento e cal. Nessa primeira demão utiliza-se a tela de estuque, sendo o traço
de 6 partes de areia, 1 parte de cimento e ½ de cal. Essa camada inicial
normalmente é arranhada, para receber a camada final, cujo traço é de 10
partes de areia, 1 parte de cimento, e ½ de cal. Opcionalmente, pode ser
utilizada uma camada colorida aplicada com broxa.
A pintura também é utilizada para tais acabamentos e, principalmente, como
repelente de água. As superfícies internas do adobe podem ser seladas e
pintadas com maior sucesso que as externas. Observa-se, no entanto, que as
superfícies naturais não pintadas continuarão desintegrando e jogando poeira
nas roupas e nos móveis. Isso poderá ser prevenido com seladores, silicones,
e outros agentes que solidificam a superfície do adobe. Materiais como óleos,
vernizes e resinas líquidas podem ser utilizados efetivamente. Se forem
pintados os tijolos, com tinta látex, a parede poderá ficar melhor selada.
6. CONCLUSÃO
Temos que o adobe é uma técnica tradicional, adaptada, e com alto potencial
de sustentabilidade, portanto, apropriada, visto que pode ser executada com
materiais locais e mão-de-obra pouco especializada. Além disso, esta técnica
está culturalmente inserida, por fazer parte dos costumes e da tradição de
várias comunidades do nosso país dentre as suas práticas construtivas.
De acordo com o que foi pesquisado, observamos que:
do ponto de vista do consumo energético, o adobe oferece grande vantagem,
pois utiliza pouquíssima energia em todo o seu processo de produção, se
fizermos a comparação com o processo de manufaturamento e na construção
das alvenarias de outros materiais;
quanto ao conforto ambiental, possibilita, por exemplo, temperaturas amenas
no verão e quentes no inverno, se trabalhado um sistema de parede dupla ou

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de parede grossa, ou se associado à ventilação (através de aberturas), além de
oferecer excelente desempenho acústico, variação cromática, permeabilidade,
absorção de odores, dissolução de gorduras;
o insumo para a produção do adobe é de fácil aquisição, pois é local (a terra, a
palha e a água) e não passa por nenhum processamento industrial, apenas
alguns ajustes de composição para a estabilização do solo;
seu manufaturamento, se executado com um mínimo de rigor e planejamento,
possibilita um material de qualidade e durabilidade, ou seja, quanto à secagem
do tijolo, deve ser verificado se houve a cura completa do material para que
este possa ser utilizado com segurança, para isso, deve-se verificar o período
de fabricação dos tijolos para que a olaria seja adequada aos espaços
necessários para a produção do adobe, que se diferencia nos períodos de seca
e chuva; e, quanto ao armazenamento, os cuidados com proteção à umidade,
principalmente, devem ser considerados;
uma boa composição do solo para o adobe é de 20% de argila, 45% de areia e
35% de água, o traço verificado para a mistura do barro para a produção do
adobe deve obedecer à razão do volume da biomassa picada e seca sobre o
volume do solo;
sobre o tamanho do adobe notamos que a dimensão tradicionalmente usada
no Brasil (aproximadamente de 10 x 12 x 25 cm) pode não ser a mais
aconselhada (pela dificuldade em secar, em se manusear, e pela estabilidade
estrutural), sendo mais indicada uma dimensão em torno de 5 x 35 x 25 cm
(altura, comprimento e profundidade, respectivamente);
quanto ao ataque de insetos, principalmente o barbeiro (Triatoma infestans), se
houver acuidade na construção, por exemplo, não deixando frestas e nem
buracos nas paredes, e, além disso, adicionar à mistura do adobe uma
quantidade necessária de enxofre, que serve como repelente desses insetos,
além de realizar manutenção constante na edificação, esse não se torna um
problema para os seus usuários;
quanto à manutenção, observamos que esta não é uma necessidade exclusiva
das construções em terra, qualquer material utilizado em uma construção
necessita de cuidados com sua manutenção, tanto preventivos quanto
corretivos, e, com uma construção de adobe, isto não é diferente, visto que a
má execução ou falta de manutenção podem vir a condenar uma edificação;
notamos, finalmente, que o adobe, principalmente por ser um material
tradicional, do saber local, pode ser utilizado principalmente adaptando-se sua
técnica, aperfeiçoando e se associando a outros materiais para potencializar
seu uso, qualificando ainda mais a edificação construída com alvenaria de
adobe.
Para isso, faz-se necessário, antes de se começar uma construção com adobe,
o estudo da área em que se vai construir, compreendendo:
a análise do solo, para a correção do mesmo para o uso na construção e a
escolha da forma de estabilização do mesmo, se por cimentação, armação,
impermeabilização, ou tratamento químico;
o estudo das espécies vegetais nativas, para se escolher, por exemplo, qual a
fibra vegetal local que se vai adicionar a terra para a composição do adobe;

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os períodos climáticos, para adequar o tempo de construção com as estações
climáticas da região em que se vai trabalhar;
a área de trabalho, para a escolha do melhor local para a olaria e para a
implantação das edificações.
A arquitetura de adobe propicia o sistema de autoconstrução de base familiar,
podendo ser facilmente reproduzida pela comunidade, além disso, a utilização
do adobe na construção mostra-se como um fator de afirmação cultural,
portanto de inclusão da comunidade que o está utilizando dentro de uma
prática, prática esta que se estende à identidade deste povo na sua região e,
ainda, de integração da edificação com a paisagem natural.
O estudo do adobe não pode se limitar a um trabalho essencialmente teórico,
de revisão de literatura e de suposições e conclusões teóricas, ele deve se
estender à prática, à aplicação, em que se reside o verdadeiro sentido deste
trabalho: trazer ao campo científico a necessidade de pesquisas no campo
prático, de ensaios e experimentações que possam contribuir com as
comunidades que necessitam de um conhecimento técnico para suas
edificações e, principalmente, estender a dimensão de cultura, de
conhecimento e de sabedoria que estão guardados nas comunidades
tradicionais à comunidade acadêmica e de pesquisa.
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