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Artigo de Pesquisa Hinrichsen SL, Vilella TAS, Lira MCC, Moura LCRV

Original Research
Artículo de Investigación

MONITORAMENTO DO USO DE MEDICAMENTOS


PRESCRITOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
SURVEILLANCE OF PRESCRIBED DRUG USAGE IN AN INTENSIVE
CARE UNIT
VIGILANCIA DEL USO DE MEDICAMENTOS RECETADOS EN UNA
UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA

Sylvia Lemos HinrichsenI


Tatiana de Aguiar Santos VilellaII
Maria da Conceição Cavalcanti LiraIII
Líbia Cristina Rocha Vilela MouraIV

RESUMO: O objetivo deste estudo foi analisar o uso de medicamentos prescritos para pacientes hospitalizados em uma
unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital universitário em Recife, PE. Estudo prospectivo, observacional, durante
12 meses — agosto de 2004 a julho de 2005 —, foi realizado através de visitas diárias à unidade, aplicando-se um
questionário para determinar os principais fármacos utilizados. Estiveram expostos a medicamentos, durante a
hospitalização, 82 pacientes (47,6% homens e 52,4% mulheres); o diagnóstico mais frequente foram as doenças respi-
ratórias (45,1%); a classe terapêutica mais prescrita foram os antimicrobianos (25,5%), anti-hipertensivos/antiarrítmicos
(10,0%) e ansiolíticos/sedativos/hipnóticos (8,6%). Nenhum evento adverso foi observado. Cuidadoso monitoramento
de pacientes usando vários medicamentos é necessário para reduzir a incidência de eventos adversos e erros de medi-
cações, especialmente em relação às prescrições de antibióticos em UTIs.
Palavras-Chave: Monitoramento; medicamento prescrito; cuidados intensivos; efeitos adversos.

ABSTRACT
ABSTRACT:: The aim of the study was to investigate the use of drugs prescribed for patients hospitalized in an intensive
care unit (ICU) of a university hospital in Recife, Pernambuco State. A prospective, observational study was carried out for
12 months – August 2004 to July 2005 – through daily visits to the unit to apply a questionnaire to determine the main
drugs used. Eighty-two patients (47.6% male and 52.4% female) were exposed to drugs during hospitalization; the most
frequent diagnosis was respiratory diseases (45.1%); the therapeutic classes most prescribed were antimicrobials (25.5%),
followed by antihypertensives/antiarrhythmics (10.0%) and anxiolytics/sedatives/hypnotics (8.6%). No adverse event was
observed. Careful monitoring of patients using several drugs is necessary to reduce the incidence of adverse drug events
and medication errors, particularly as regards prescription of antibiotics in ICUs.
Keywords: Monitoring; prescribed drug; intensive care; adverse effects.

RESUMEN: Este estudio examinó el uso de medicamentos recetados para pacientes hospitalizados en una unidad de
cuidados intensivos (UCI) de un hospital universitario en Recife, PE-Brasil. Estudio prospectivo, observacional, durante
12 meses – de agosto de 2004 a Julio de 2005, fue cumplido por medio de visitas diarias a la unidad, aplicándose un
cuestionario para determinar los principales fármacos utilizados. Fueron expuestos a medicamentos, durante la
hospitalización, 82 pacientes (47,6% hombres y 52,4% mujeres); el diagnóstico más frecuente fueron las enfermedades
respiratorias (45,1%); la clase terapéutica más prescrita fue los antimicrobianos (25,5%), antihipertensivos/antiarrítmicos
(10,0%) y ansiolíticos/sedantes/hipnóticos (8,6%). No se observaron acontecimientos adversos. Vigilancia cuidadosa de
pacientes con múltiples medicamentos es necesaria para reducir la incidencia de efectos adversos y errores de medicación,
especialmente en relación a las prescripciones de antibióticos en UCIs.
Palabras Clave: Monitoreo; medicamentos receptados; cuidados intensivos; efectos adversos.

I
Médica. Professora Adjunta da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Consultora de Qualidade – Acreditação – Gerenciamento de Riscos. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail:
sylviahinrichsen@hotmail.com.
II
Farmacêutica. Biomédica. Mestre em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisadora Associada do Núcleo de Ensino, Pesquisa e
Assistência em Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Brasil. E-mail: tatifarmaufpe@gmail.com.
III
Enfermeira. Pesquisadora Associada do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco. Consultora de Biossegurança e Controle de Infecções - Gerenciamento de Riscos. Brasil. E-mail: noronhaelira@hotmail.com.
IV
Médica. Professora Assistente da Universidade Federal de Pernambuco. Assistente de pesquisa do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia
(NEPAI) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Brasil. E-mail: mouralibia@oi.com.br.
V
Órgão financiador da pesquisa: Projeto Hospitais Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e PIBIC/CNPq da Universidade Federal de
Pernambuco. Brasil.
VI
As autoras agradecem à Drª. Clarice Petramale, coordenadora do Projeto Hospitais Sentinela/Anvisa, ao Dr. Roberto Campello e às enfermeiras
Maria da Penha Carlo e Mirella Coutinho da UTI do HC/UFPE, pelo apoio e estímulo ao presente trabalho.

Recebido em: 08.01.2009 - Aprovado em: 26.02.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):159-64. • p.159
Monitoramento de medicamentos prescritos em UTI Artigo de Pesquisa
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INTRODUÇÃO crição das doses adequadas e a eficácia comprovada.


A prevenção dos problemas relacionados a medica-
De acordo com a Organização Mundial de Saúde mentos é que leva à tomada de decisões terapêuticas,
(OMS), a farmacovigilância é uma ciência relativa à de forma sistemática, racional e detalhada, especial-
detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos mente para os pacientes em estados graves.
efeitos adversos ou quaisquer problemas relacionados Na prática clínica, é comum a ocorrência de
a medicamentos1. Possui enfoque específico dentro da interações entre os fármacos, cuja incidência é propor-
vigilância epidemiológica voltada para o acompanha- cional à quantidade dos medicamentos administrados
mento da ocorrência e o controle das reações adver- simultaneamente. Conforme se estima, a frequência de
sas aos medicamentos, estando dessa forma situada no interações medicamentosas significativas varia entre 3
campo da farmacoepidemiologia2,3. e 5% dos pacientes em uso de um número menor de
A farmacovigilância poderá ser feita a partir das medicações, porém aumenta para 10% a 20% naqueles
notificações voluntárias de reações adversas a medi- pacientes em uso de 10 a 20 drogas10.
camentos (RAM), através da rede de hospitais e ge- O uso desnecessário, assim como a utilização de
rências de risco dos hospitais sentinela da Agência fármacos em situações contra-indicadas, expõem os pa-
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com cientes a riscos de RAM e intoxicações medicamentosas,
equipe multidisciplinar, como também pela elabora- constituindo-se, portanto, em causa de morbidade e
ção de protocolos para o uso racional de medicamen- inclusive de mortalidade, muito significante11,12.
tos; investigação de sinais de alertas; monitoramento
Os pacientes internados em unidade de terapia
de recolhimento de fármacos (nacionalmente e/ ou
intensiva (UTI) quase sempre se encontram em esta-
internacionalmente); revisão do mercado (medicamen-
do grave e requerem, com mais frequência, um maior
tos proibidos); monitoramento da legislação (bula, re-
número de medicamentos, os quais têm indicações que
gistro, reavaliação) e descentralização das ações3-5.
variam desde a manutenção das funções vitais como
Considerando-se a importância do uso racional tratamento de infecções adquiridas dentro ou fora da
de medicamentos no contexto do risco sanitário hos- unidade13,14. Com o uso frequente de um grande nú-
pitalar, hoje uma prioridade da ANVISA6,7, torna-se mero de medicações simultâneas, sobretudo os
necessária a notificação de toda suspeita de reação antimicrobianos, em um mesmo paciente, é possível
adversa a medicamentos, queixas técnicas ou da pos- que haja interações entre os fármacos, ocasionando o
sibilidade de desvio de qualidade. aparecimento de reações adversas, assim como a
Dessa forma, objetivou-se, com o presente indução de resistência bacteriana, especialmente
trabalhoVI, identificar os principais fármacos prescri- quando usados inadequadamente13.
tos em uma UTI geral de um hospital universitário.
METODOLOGIA
MARCO REFERENCIAL
Realizou-se um estudo descritivo, prospectivo,
A OMS define evento adverso como qualquer ocor- observacional, que investigou as prescrições médicas de
rência médica desfavorável, que pode ocorrer durante o fármacos de 82 pacientes, sendo 43 mulheres e 39 ho-
tratamento com um medicamento, mas que não possui, mens, com idades variando entre 15 e 86 anos, interna-
necessariamente, relação casual com esse tratamento1. dos em uma unidade de terapia intensiva (UTI) geral
Por outro lado, os erros de medicação são defini- de um hospital universitário, de alta complexidade, com
dos como incidentes evitáveis, com possibilidades de oito leitos, da rede Sentinela/ANVISA, localizado em
gerar danos ao paciente ou aqueles causados por utili- Recife – PE, no período consecutivo de 12 meses, com-
zação inadequada de medicamentos sob responsabili- preendido entre agosto de 2004 e julho de 2005.
dade de profissionais de saúde ou do paciente consu- Foram incluídos na amostra todos os indivíduos
midor. Esses incidentes podem estar relacionados com que se apresentaram para a internação na unidade
o exercício profissional, com os procedimentos ou com durante o período do estudo. Para a análise, utiliza-
os sistemas, abrangendo falhas na prescrição, comuni- ram-se informações obtidas através dos registros das
cação, etiquetação, envasamento, denominação, pre- visitas diárias à unidade, monitorando-os durante o
paração, dispensação, distribuição, administração, período de hospitalização, ou seja, da admissão até a
educação, seguimento e utilização8. sua saída ou óbito. Esse monitoramento foi realizado
Assim, sob a perspectiva da ocorrência, as rea- por meio de um protocolo com dados preestabelecidos,
ções adversas e os erros de medicação podem ser con- contendo informações acerca das características
siderados eventos adversos a medicamentos9. sociodemográficas, diagnóstico principal da internação
A prescrição médica adequada deve compreen- segundo os capítulos da Classificação Internacional
der a escolha certa da droga, a disponibilidade da de Doenças (CID 10)15, medicações prescritas e quei-
mesma nos serviços de saúde, o tempo de uso, a pres- xas técnicas, descritas a seguir:

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- Características sociodemográficas – sexo (masculino A distribuição dos diagnósticos principais que jus-
ou feminino) e idade. tificaram a admissão dos pacientes na UTI é apresenta-
- Diagnóstico principal da internação (CID-10 – 3 dígi- da na Tabela 1. Destacam-se as doenças do aparelho
tos) - consolidado em nove grupos: Grupo 1- doenças respiratório (45,1%) como diagnóstico clínico predomi-
neurológicas; Grupo 2- doenças do aparelho respirató- nante. Não foram identificados pacientes com diagnós-
rio; Grupo 3- demência; Grupo 4- sequela de acidente tico clínico dos grupos 3 (demência), 6 (vasculopatias)
vascular cerebral e hemiplegia; Grupo 5- outras doen- e 7 (doenças do sistema osteomuscular).
ças do aparelho circulatório; Grupo 6- vasculopatias;
Grupo 7- doenças do sistema osteomuscular; Grupo 8-
causas externas e traumatismos; e Grupo 9- pós-opera- TABELA 1: Distribuição do diagnóstico principal que justificou
tório imediato. a admissão dos pacientes na unidade de terapia intensiva. Recife,
2004-2005.
- Medicações prescritas - consolidadas em 23 grupos:
Grupo 1– antimicrobianos; Grupo 2– anti- Diagnóstico principal f %
hipertensivos/antiarrítmicos; Grupo 3– antiácidos; Doenças do aparelho respiratório 37 45,1
Pós-operatório imediato 25 30,5
Grupo 4– ansiolíticos/sedativos/hipnóticos; Grupo 5–
Outras doenças do aparelho circulatório 10 12,2
analgésicos/antitérmicos; Grupo 6 – antieméticos; Doenças neurológicas 4 4,9
Grupo 7– anticoagulantes/antiagregantes plaquetários; Sequelas de acidente vascular cerebral 4 4,9
Grupo 8– corticosteróides; Grupo 9– drogas vasoativas; e hemiplegia
Grupo 10– diuréticos; Grupo 11– vitaminas; Grupo 12– Causas externas e traumatismos 2 2,4
broncodilatadores; Grupo 13– anticonvulsivantes; Gru- TO T AL
TAL 82 100,0
po 14– antianêmicos; Grupo 15– antidepressivos; Gru-
po 16– cardiotônicos; Grupo 17– imunossupressores;
Grupo 18– antiespasmódicos; Grupo 19– estatinas; Os fármacos mais utilizados pelos pacientes es-
Grupo 20– antiparkinsonianos; Grupo 21– colírios; tudados foram os antimicrobianos (25,2%), seguidos
Grupo 22– tireoidianos/antitireoidianos e Grupo 23– pelos anti-hipertensivos/antiarrítmicos (10%), antiáci-
outros. dos (9,9%) e pelos ansiolíticos/sedativos/hipnóticos
- Queixas técnicas, falha terapêutica, interações (8,6%), conforme os resultados da Tabela 2.
medicamentosas e reações adversas - consolidadas em 4
grupos: Grupo 1 – queixas técnicas (alterações físico-
químicas, adulteração, falsificações, problemas com ró- TABELA 2: Distribuição das medicações prescritas para
tulos); Grupo 2 – falha terapêutica (efeito não espera- pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Recife,
2004-2005.
do ou resistência); Grupo 3 – interações medicamen-
tosas (toxicidade); e Grupo 4 – reações adversas (qual- Categorias dos fármacos f %
quer reação nociva e não desejada que se apresente Antimicrobianos (Antibióticos/ 203 25,2
Antifúngicos/Antivirais)
após a administração de um fármaco, nas doses nor-
Anti-hipertensivos/Antiarrítmicos 80 10,0
malmente utilizadas na espécie humana para profilaxia, Antiácidos 79 9,9
diagnóstico e tratamento de doenças ou para modifi- Ansiolíticos/Sedativos/Hipnóticos 69 8,6
cação de uma função fisiológica). Analgésicos/Antitérmicos 66 8,2
O presente estudo teve a aprovação do Comitê Antieméticos 66 8,2
de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde Anticoagulantes/Antiagregantes 60 7,4
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (Nº plaquetários
Corticosteróides 34 4,2
processo: 105/2004).
Drogas vasoativas 24 3,0
Os dados obtidos foram processados no software Diuréticos 22 2,7
Epi-Info®, versão 3.3.2, 2005, e analisados, posterior- Vitaminas 17 2,1
mente, mediante estatística descritiva. Broncodilatadores 13 1,6
Anticonvulsivantes 9 1,1
Antianêmicos 6 0,7
RESULTADOS Antidepressivos 5 0,6
Cardiotônicos 5 0,6
Analisaram-se os prontuários de 82 pacientes in- Imunossupressores 4 0,5
ternados no período do estudo, dos quais 27 (32,9%) Anti-espasmódicos 3 0,4
evoluíram para óbito. Estatinas 3 0,4
Antiparkinsonianos 3 0,3
Do total de pacientes estudados, 52,4% eram Colírios 2 0,2
mulheres e 47,6% homens, com idades variando entre Tireoidianos/Antitireoidianos 2 0,2
15 e 86 anos (média=47,6 anos) e tempo de Outros 31 3,9
internamento entre um a 80 dias (média=12 dias). TO T AL
TAL 806 100,0

Recebido em: 08.01.2009 - Aprovado em: 26.02.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):159-64. • p.161
Monitoramento de medicamentos prescritos em UTI Artigo de Pesquisa
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Dos pacientes analisados, 84,1% utilizaram pelo significativa proporção de infecções nos pacientes in-
menos um antibiótico enquanto estiveram na UTI. Ver ternados, principalmente pelas doenças do aparelho
Tabela 3. respiratório (45,1%). O fato de os antibióticos de am-
Não houve, durante o estudo, nenhuma notifica- plo espectro serem utilizados com mais frequência nas
ção de queixas técnicas, falha terapêutica, interações UTIs está relacionado à maior gravidade das infec-
medicamentosas ou reações adversas aos fármacos pres- ções, considerando o estado crítico dos pacientes in-
critos na unidade, nos pacientes estudados. ternados e a maior realização de procedimentos
invasivos (cateteres, sondas, respiradores, entre ou-
tros) e uma maior incidência de bactérias resistentes.
TABELA 3: Distribuição dos antibióticos utilizados pelos Em um estudo multicêntrico realizado com 561 paci-
pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva. entes internados em UTIs da cidade de Bueno Aires,
Recife, 2004-2005. constatou-se que 25,5% deles utilizaram antibióticos
Antibióticos f % de amplo espectro para o tratamento de 143 episódios
Vancomicina 27 14,1 de infecção, em que 45% das prescrições se basearam
Imipenem/Cilastatina 24 12,5 em diagnósticos bacteriológicos17.
Ciprofloxacina 22 11,4 Medicamentos como os anti-hipertensivos, anti-
Ceftriaxona 17 8,9
ácidos, analgésicos e antitérmicos também foram bas-
Meropenem 15 7,8
Amicacina 13 6,8
tante prescritos na unidade, já que são necessários para
Metronidazol 12 6,3 a manutenção das funções vitais dos pacientes. Os
Oxacilina 9 4,7 ansiolíticos, sedativos e hipnóticos são usados em gran-
Aztreonam 8 4,1 de número em UTI para proporcionar uma adequada
Cefepime 7 3,7 analgesia para os doentes, que se submetem, com
Outros(*) 38 19,7 frequência, a certos procedimentos invasivos, como res-
T OT AL
OTAL 192 100,00 piração mecânica, drenagens e tratamentos dialíticos13.
(*)
Clindamicina = 8; Polimixina = 6; Gentamicina = 4; Sulfametoxazol-
trimetoprim = 3; Ceftazidima = 2; Rifampicina = 2; Cefalotina = 2;
Segundo uma análise de prescrições dispensa-
Levofloxacina = 2; Linezolida = 2; Piperacilina-Tazobactam = 2; das em farmácias numa cidade do nordeste do Brasil,
Claritromicina = 1; Cefazolina = 1; Neomicina = 1; Azitromicina = 1; verificou-se que os grupos farmacológicos mais pres-
Ampicilina-Sulbactam = 1.
critos foram os antibióticos de uso sistêmico (36,7%),
seguidos pelos analgésicos (18,1%), antiinflamatórios/
anti-reumáticos (11,7%), antieméticos (10%) e vita-
DISCUSSÃO minas (7,7%)18.
Vários são os estudos que relatam eventos ad-
É importante observar que os dados obtidos na versos preveníveis relacionados a medicamentos, es-
presente casuística reforçam que a prescrição médica é pecialmente em unidades de terapia intensiva, assim
um documento de grande importância na prática diá- como em outros setores assistenciais, especialmente
ria. Ela é a instrução dos prescritores para os quando há o uso de várias drogas simultâneas19-22. As-
dispensadores e pacientes. Sumariza a atitude médica sim, no sentido de minimizar os possíveis eventos rela-
e a expectativa da terapêutica medicamentosa. A aná- cionados ao uso de medicamentos, a ANVISA, a par-
lise de uma prescrição promove a base para sua revisão tir de 2001/2002, implantou, em todo o Brasil, o proje-
e desenvolve medidas para o uso racional dos fármacos, to hospitais-sentinelas com objetivo de alimentar a
prevenindo problemas relacionados aos mesmos. busca ativa de eventos adversos e de queixas técnicas
Com o início do uso clínico dos antibióticos no relacionadas a produtos de saúde, priorizando quatro
final da década de 40, estes passaram a ter uma parti- áreas dentro de uma gerência de risco sanitário hospi-
cipação cada vez maior na prescrição médica. Aproxi- talar: tecnovigilância, farmacovigilância,
madamente 25% a 35% dos pacientes hospitalizados hemovigilância e controle de infecções hospitalares /
recebem antibióticos, o que corresponde a 1/3 dos gas- saneantes6,7.
tos com medicamentos, e respondem pelo consumo de A partir de 2002, o Hospital Universitário do pre-
20% a 50% da receita hospitalar16. Como consequência sente estudo passou a ser um hospital da Rede Sentine-
dessa prática, identificam-se o aumento de custos, la/ANVISA e, dentro do seu plano de melhorias, foi es-
aumento da indução da pressão seletiva de patógenos colhida a UTI para a introdução do conceito do risco
resistentes e efeitos adversos. No Brasil, a incidência sanitário hospitalar e as suas áreas de atuação. Vários
de infecção nosocomial em unidades de terapia in- treinamentos de conscientização foram realizados no sen-
tensiva varia entre 5% e 10% 13,14,16. tido de se estar mais atento para a qualidade dos produ-
Entre as categorias dos fármacos mais utilizados tos utilizados no setor, em especial na aquisição de medi-
nos pacientes estudados, destacaram-se os antibióti- camentos e artigos médico-hospitalares e para as boas
cos (25,2%) que foram prescritos na unidade devido à práticas de fabricação, armazenamento e de transporte7.

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É possível, portanto, que as medidas previamen- REFERÊNCIAS


te implantadas no setor tenham contribuído para a
ausência de queixas técnicas, falhas terapêuticas, 1.World Health Organization.WHO Collaborating Center
interações medicamentosas e reações adversas duran- for International Drug Monitoring. The importance of
te o período de estudo, uma vez que já havia uma pharmacovigilance: safety monitoring of medicinal
products. Uppsala, Genebra(Swd): WHO; 2002.
conscientização dos profissionais da unidade para os
2.Coelho HL, Arrais PSD, Gomes AP. Sistema de
problemas relacionados às prescrições de fármacos e farmacovigilância do Ceará: um ano de experiência. Cad
queixas técnicas. Saúde Pública. 1999; 15(3): 631-40.
Um outro aspecto a ser discutido, observado na 3.Magalhães SM, Carvalho WS. Farmacovigilância: bases
presente casuística, foi a ausência de sinais ou sinto- históricas, conceituais e operacionais. In: Gomes MJ, Reis
mas que pudessem estar relacionados à possibilidade AM. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia
de reações adversas, interações medicamentosas e hospitalar. São Paulo: Atheneu; 2001. p.109-24.
queixas técnicas, o que pode ser atribuído talvez à 4.Rozenfeld S. Farmacovigilância: elementos para a discus-
falta de um protocolo mais específico para cada medi- são e perspectivas. Cad Saúde Pública. 1998; 14(2): 237-63.
5.Pfaffenbach G. Reações adversas a medicamentos como
camento prescrito (uma lista detalhada dos eventos
determinantes da admissão hospitalar. Rev Assoc Med Bras.
adversos esperados para cada fármaco usado). 2002; 48(3): 237-41.
Sabe-se que em pacientes graves submetidos às 6.Hinrichsen SL, Lira C, Anjos AB, Pereira MGB, Borges
várias drogas simultâneas, muitas vezes com doenças MGA. Risco sanitário hospitalar: qualidade e segurança
de base associadas e complexas é dificílimo determinar In: Hinrichsen SL. Biossegurança e controle de infecções -
possíveis eventos adversos relacionados aos fármacos risco sanitário hospitalar. Rio de Janeiro: Medsi; 2004. p.
utilizados, assim como as interações medicamentosas. 289-305.
Por isso, sugere–se estudos em que sejam especificadas 7.Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Br). Serviços
de Saúde. Projeto Hospitais Sentinela. [citado em 4 dez
as possíveis interações medicamentosas e/ou reações
2006]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br
adversas de cada medicamento prescrito, para que se 8.National Coordinating Council for Medication Error
possa monitorar melhor essas alterações. Reporting and Prevention. NCCMERP Taxonomy of
Esse é um ponto de extrema importância que de- medication errors. [citado 10 dez 2005] Disponível em:
verá ser acompanhado com maior detalhe, face às difi- http://www.nccmerp.org/pdf/taxo2001-07-31.pdf.
culdades da sistematização de uma farmacovigilância 9.Louro E, Romano-Lieber NS, Ribeiro E. Eventos adver-
quando se assiste pacientes submetidos a diversos pro- sos a antibióticos em pacientes internados em um hospital
cedimentos e em uso de múltiplas drogas, por conta das universitário. Rev Saúde Pública. 2007; 41(6): 1042-48.
10.Fontenele RE, Araujo TL. Análise do planejamento dos
suas gravidades clínicas. É importante determinar na
horários de administração de medicamentos em unidade
prática diária quais as estratégias a serem adotadas para de terapia intensiva cardiológica. Rev enferm UERJ. 2006;
se monitorar o que está sendo administrado; como de- 14: 342-9.
terminar uma reação que possa ou não vir a ser atribu- 11.Classen DC, Pestonik SL, Evans RS, Lloyd JF, Burke JP.
ída a um medicamento e, como escolher melhor os Adverse drug events in hospitalized patients: excess length
fármacos para cada indivíduo e cada doença, priorizando- of stay, extra costs, and attributable mortality. JAMA.
se a sua boa qualidade quando comprados pelos esta- 1997; 227: 301-6.
belecimentos de saúde. Acontecendo um evento ad- 12.Lazarou J, Pomeranz BH, Corey PN. Incidence of adverse
verso e/ou queixa técnica/desvio de qualidade, essas drug reactions in hospitalized patients: a meta-analysis of
instituições deverão ser notificadas, lembrando que só prospective studies. JAMA. 1998; 279: 1200-5.
se deverá prescrever o que realmente for necessário. 13.Hinrichsen SL. Unidade de terapia intensiva: preven-
ção/controle de processos infecciosos nosocomiais. In:
Hinrichsen SL. Biossegurança e controle de infecções: risco
CONCLUSÕES sanitário hospitalar. Rio de Janeiro: Medsi; 2004. p.162-4.
14.Hinrichsen SL, Santos C, Diniz T, Gallindo M, Damásio
Os resultados obtidos são, portanto, úteis no pla- S, Brito CA et al. Infecções em UTI. In: Hinrichsen SL.
nejamento das políticas de assistência farmacêutica Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Medsi;
de unidades, especialmente em UTI; na regulação 2005. p. 988-1031.
15.Organização Mundial da Saúde. Classificação estatísti-
sanitária (registro e fiscalização); no monitoramento
ca internacional de doenças e problemas relacionados à
dos efeitos indesejáveis dos fármacos que deverão ser saúde. 10ª revisão. São Paulo: Centro Colaborador da OMS
testados em estudos de coorte e de casos-controle, para a Classificação de Doenças em Português; 1995.
necessários para uma melhor determinação entre causa 16.Costa I, Hinrichsen SL, Alves JL, Jucá MB, Silva BA,
e efeito e para ajudar também na diminuição da resis- Albuquerque SMC. Prevalência e custos de processos in-
tência aos antimicrobianos, hoje um grande problema fecciosos em unidade de terapia intensiva. RAS. 2003; 5
para a saúde dos pacientes assistidos, especialmente (20): 7-16.
em UTI, consequente ao uso não racional desses 17.Hara GL, Vasen W, Pryluka D, Chuluyan JC, Furst MJL,
fármacos. Vidal G et al. Estudio de prescripción-indicación de

Recebido em: 08.01.2009 - Aprovado em: 26.02.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):159-64. • p.163
Monitoramento de medicamentos prescritos em UTI Artigo de Pesquisa
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antibioticos de mayor espectro em las unidades de terapia ral care unit. Crit Care Med. 1997; 2598: 1289-97.
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