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Original Research
Artículo de Investigación
RESUMO: O objetivo deste estudo foi analisar o uso de medicamentos prescritos para pacientes hospitalizados em uma
unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital universitário em Recife, PE. Estudo prospectivo, observacional, durante
12 meses — agosto de 2004 a julho de 2005 —, foi realizado através de visitas diárias à unidade, aplicando-se um
questionário para determinar os principais fármacos utilizados. Estiveram expostos a medicamentos, durante a
hospitalização, 82 pacientes (47,6% homens e 52,4% mulheres); o diagnóstico mais frequente foram as doenças respi-
ratórias (45,1%); a classe terapêutica mais prescrita foram os antimicrobianos (25,5%), anti-hipertensivos/antiarrítmicos
(10,0%) e ansiolíticos/sedativos/hipnóticos (8,6%). Nenhum evento adverso foi observado. Cuidadoso monitoramento
de pacientes usando vários medicamentos é necessário para reduzir a incidência de eventos adversos e erros de medi-
cações, especialmente em relação às prescrições de antibióticos em UTIs.
Palavras-Chave: Monitoramento; medicamento prescrito; cuidados intensivos; efeitos adversos.
ABSTRACT
ABSTRACT:: The aim of the study was to investigate the use of drugs prescribed for patients hospitalized in an intensive
care unit (ICU) of a university hospital in Recife, Pernambuco State. A prospective, observational study was carried out for
12 months – August 2004 to July 2005 – through daily visits to the unit to apply a questionnaire to determine the main
drugs used. Eighty-two patients (47.6% male and 52.4% female) were exposed to drugs during hospitalization; the most
frequent diagnosis was respiratory diseases (45.1%); the therapeutic classes most prescribed were antimicrobials (25.5%),
followed by antihypertensives/antiarrhythmics (10.0%) and anxiolytics/sedatives/hypnotics (8.6%). No adverse event was
observed. Careful monitoring of patients using several drugs is necessary to reduce the incidence of adverse drug events
and medication errors, particularly as regards prescription of antibiotics in ICUs.
Keywords: Monitoring; prescribed drug; intensive care; adverse effects.
RESUMEN: Este estudio examinó el uso de medicamentos recetados para pacientes hospitalizados en una unidad de
cuidados intensivos (UCI) de un hospital universitario en Recife, PE-Brasil. Estudio prospectivo, observacional, durante
12 meses – de agosto de 2004 a Julio de 2005, fue cumplido por medio de visitas diarias a la unidad, aplicándose un
cuestionario para determinar los principales fármacos utilizados. Fueron expuestos a medicamentos, durante la
hospitalización, 82 pacientes (47,6% hombres y 52,4% mujeres); el diagnóstico más frecuente fueron las enfermedades
respiratorias (45,1%); la clase terapéutica más prescrita fue los antimicrobianos (25,5%), antihipertensivos/antiarrítmicos
(10,0%) y ansiolíticos/sedantes/hipnóticos (8,6%). No se observaron acontecimientos adversos. Vigilancia cuidadosa de
pacientes con múltiples medicamentos es necesaria para reducir la incidencia de efectos adversos y errores de medicación,
especialmente en relación a las prescripciones de antibióticos en UCIs.
Palabras Clave: Monitoreo; medicamentos receptados; cuidados intensivos; efectos adversos.
I
Médica. Professora Adjunta da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Consultora de Qualidade – Acreditação – Gerenciamento de Riscos. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail:
sylviahinrichsen@hotmail.com.
II
Farmacêutica. Biomédica. Mestre em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisadora Associada do Núcleo de Ensino, Pesquisa e
Assistência em Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Brasil. E-mail: tatifarmaufpe@gmail.com.
III
Enfermeira. Pesquisadora Associada do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco. Consultora de Biossegurança e Controle de Infecções - Gerenciamento de Riscos. Brasil. E-mail: noronhaelira@hotmail.com.
IV
Médica. Professora Assistente da Universidade Federal de Pernambuco. Assistente de pesquisa do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia
(NEPAI) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Brasil. E-mail: mouralibia@oi.com.br.
V
Órgão financiador da pesquisa: Projeto Hospitais Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e PIBIC/CNPq da Universidade Federal de
Pernambuco. Brasil.
VI
As autoras agradecem à Drª. Clarice Petramale, coordenadora do Projeto Hospitais Sentinela/Anvisa, ao Dr. Roberto Campello e às enfermeiras
Maria da Penha Carlo e Mirella Coutinho da UTI do HC/UFPE, pelo apoio e estímulo ao presente trabalho.
Recebido em: 08.01.2009 - Aprovado em: 26.02.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):159-64. • p.159
Monitoramento de medicamentos prescritos em UTI Artigo de Pesquisa
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- Características sociodemográficas – sexo (masculino A distribuição dos diagnósticos principais que jus-
ou feminino) e idade. tificaram a admissão dos pacientes na UTI é apresenta-
- Diagnóstico principal da internação (CID-10 – 3 dígi- da na Tabela 1. Destacam-se as doenças do aparelho
tos) - consolidado em nove grupos: Grupo 1- doenças respiratório (45,1%) como diagnóstico clínico predomi-
neurológicas; Grupo 2- doenças do aparelho respirató- nante. Não foram identificados pacientes com diagnós-
rio; Grupo 3- demência; Grupo 4- sequela de acidente tico clínico dos grupos 3 (demência), 6 (vasculopatias)
vascular cerebral e hemiplegia; Grupo 5- outras doen- e 7 (doenças do sistema osteomuscular).
ças do aparelho circulatório; Grupo 6- vasculopatias;
Grupo 7- doenças do sistema osteomuscular; Grupo 8-
causas externas e traumatismos; e Grupo 9- pós-opera- TABELA 1: Distribuição do diagnóstico principal que justificou
tório imediato. a admissão dos pacientes na unidade de terapia intensiva. Recife,
2004-2005.
- Medicações prescritas - consolidadas em 23 grupos:
Grupo 1– antimicrobianos; Grupo 2– anti- Diagnóstico principal f %
hipertensivos/antiarrítmicos; Grupo 3– antiácidos; Doenças do aparelho respiratório 37 45,1
Pós-operatório imediato 25 30,5
Grupo 4– ansiolíticos/sedativos/hipnóticos; Grupo 5–
Outras doenças do aparelho circulatório 10 12,2
analgésicos/antitérmicos; Grupo 6 – antieméticos; Doenças neurológicas 4 4,9
Grupo 7– anticoagulantes/antiagregantes plaquetários; Sequelas de acidente vascular cerebral 4 4,9
Grupo 8– corticosteróides; Grupo 9– drogas vasoativas; e hemiplegia
Grupo 10– diuréticos; Grupo 11– vitaminas; Grupo 12– Causas externas e traumatismos 2 2,4
broncodilatadores; Grupo 13– anticonvulsivantes; Gru- TO T AL
TAL 82 100,0
po 14– antianêmicos; Grupo 15– antidepressivos; Gru-
po 16– cardiotônicos; Grupo 17– imunossupressores;
Grupo 18– antiespasmódicos; Grupo 19– estatinas; Os fármacos mais utilizados pelos pacientes es-
Grupo 20– antiparkinsonianos; Grupo 21– colírios; tudados foram os antimicrobianos (25,2%), seguidos
Grupo 22– tireoidianos/antitireoidianos e Grupo 23– pelos anti-hipertensivos/antiarrítmicos (10%), antiáci-
outros. dos (9,9%) e pelos ansiolíticos/sedativos/hipnóticos
- Queixas técnicas, falha terapêutica, interações (8,6%), conforme os resultados da Tabela 2.
medicamentosas e reações adversas - consolidadas em 4
grupos: Grupo 1 – queixas técnicas (alterações físico-
químicas, adulteração, falsificações, problemas com ró- TABELA 2: Distribuição das medicações prescritas para
tulos); Grupo 2 – falha terapêutica (efeito não espera- pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Recife,
2004-2005.
do ou resistência); Grupo 3 – interações medicamen-
tosas (toxicidade); e Grupo 4 – reações adversas (qual- Categorias dos fármacos f %
quer reação nociva e não desejada que se apresente Antimicrobianos (Antibióticos/ 203 25,2
Antifúngicos/Antivirais)
após a administração de um fármaco, nas doses nor-
Anti-hipertensivos/Antiarrítmicos 80 10,0
malmente utilizadas na espécie humana para profilaxia, Antiácidos 79 9,9
diagnóstico e tratamento de doenças ou para modifi- Ansiolíticos/Sedativos/Hipnóticos 69 8,6
cação de uma função fisiológica). Analgésicos/Antitérmicos 66 8,2
O presente estudo teve a aprovação do Comitê Antieméticos 66 8,2
de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde Anticoagulantes/Antiagregantes 60 7,4
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (Nº plaquetários
Corticosteróides 34 4,2
processo: 105/2004).
Drogas vasoativas 24 3,0
Os dados obtidos foram processados no software Diuréticos 22 2,7
Epi-Info®, versão 3.3.2, 2005, e analisados, posterior- Vitaminas 17 2,1
mente, mediante estatística descritiva. Broncodilatadores 13 1,6
Anticonvulsivantes 9 1,1
Antianêmicos 6 0,7
RESULTADOS Antidepressivos 5 0,6
Cardiotônicos 5 0,6
Analisaram-se os prontuários de 82 pacientes in- Imunossupressores 4 0,5
ternados no período do estudo, dos quais 27 (32,9%) Anti-espasmódicos 3 0,4
evoluíram para óbito. Estatinas 3 0,4
Antiparkinsonianos 3 0,3
Do total de pacientes estudados, 52,4% eram Colírios 2 0,2
mulheres e 47,6% homens, com idades variando entre Tireoidianos/Antitireoidianos 2 0,2
15 e 86 anos (média=47,6 anos) e tempo de Outros 31 3,9
internamento entre um a 80 dias (média=12 dias). TO T AL
TAL 806 100,0
Recebido em: 08.01.2009 - Aprovado em: 26.02.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):159-64. • p.161
Monitoramento de medicamentos prescritos em UTI Artigo de Pesquisa
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Dos pacientes analisados, 84,1% utilizaram pelo significativa proporção de infecções nos pacientes in-
menos um antibiótico enquanto estiveram na UTI. Ver ternados, principalmente pelas doenças do aparelho
Tabela 3. respiratório (45,1%). O fato de os antibióticos de am-
Não houve, durante o estudo, nenhuma notifica- plo espectro serem utilizados com mais frequência nas
ção de queixas técnicas, falha terapêutica, interações UTIs está relacionado à maior gravidade das infec-
medicamentosas ou reações adversas aos fármacos pres- ções, considerando o estado crítico dos pacientes in-
critos na unidade, nos pacientes estudados. ternados e a maior realização de procedimentos
invasivos (cateteres, sondas, respiradores, entre ou-
tros) e uma maior incidência de bactérias resistentes.
TABELA 3: Distribuição dos antibióticos utilizados pelos Em um estudo multicêntrico realizado com 561 paci-
pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva. entes internados em UTIs da cidade de Bueno Aires,
Recife, 2004-2005. constatou-se que 25,5% deles utilizaram antibióticos
Antibióticos f % de amplo espectro para o tratamento de 143 episódios
Vancomicina 27 14,1 de infecção, em que 45% das prescrições se basearam
Imipenem/Cilastatina 24 12,5 em diagnósticos bacteriológicos17.
Ciprofloxacina 22 11,4 Medicamentos como os anti-hipertensivos, anti-
Ceftriaxona 17 8,9
ácidos, analgésicos e antitérmicos também foram bas-
Meropenem 15 7,8
Amicacina 13 6,8
tante prescritos na unidade, já que são necessários para
Metronidazol 12 6,3 a manutenção das funções vitais dos pacientes. Os
Oxacilina 9 4,7 ansiolíticos, sedativos e hipnóticos são usados em gran-
Aztreonam 8 4,1 de número em UTI para proporcionar uma adequada
Cefepime 7 3,7 analgesia para os doentes, que se submetem, com
Outros(*) 38 19,7 frequência, a certos procedimentos invasivos, como res-
T OT AL
OTAL 192 100,00 piração mecânica, drenagens e tratamentos dialíticos13.
(*)
Clindamicina = 8; Polimixina = 6; Gentamicina = 4; Sulfametoxazol-
trimetoprim = 3; Ceftazidima = 2; Rifampicina = 2; Cefalotina = 2;
Segundo uma análise de prescrições dispensa-
Levofloxacina = 2; Linezolida = 2; Piperacilina-Tazobactam = 2; das em farmácias numa cidade do nordeste do Brasil,
Claritromicina = 1; Cefazolina = 1; Neomicina = 1; Azitromicina = 1; verificou-se que os grupos farmacológicos mais pres-
Ampicilina-Sulbactam = 1.
critos foram os antibióticos de uso sistêmico (36,7%),
seguidos pelos analgésicos (18,1%), antiinflamatórios/
anti-reumáticos (11,7%), antieméticos (10%) e vita-
DISCUSSÃO minas (7,7%)18.
Vários são os estudos que relatam eventos ad-
É importante observar que os dados obtidos na versos preveníveis relacionados a medicamentos, es-
presente casuística reforçam que a prescrição médica é pecialmente em unidades de terapia intensiva, assim
um documento de grande importância na prática diá- como em outros setores assistenciais, especialmente
ria. Ela é a instrução dos prescritores para os quando há o uso de várias drogas simultâneas19-22. As-
dispensadores e pacientes. Sumariza a atitude médica sim, no sentido de minimizar os possíveis eventos rela-
e a expectativa da terapêutica medicamentosa. A aná- cionados ao uso de medicamentos, a ANVISA, a par-
lise de uma prescrição promove a base para sua revisão tir de 2001/2002, implantou, em todo o Brasil, o proje-
e desenvolve medidas para o uso racional dos fármacos, to hospitais-sentinelas com objetivo de alimentar a
prevenindo problemas relacionados aos mesmos. busca ativa de eventos adversos e de queixas técnicas
Com o início do uso clínico dos antibióticos no relacionadas a produtos de saúde, priorizando quatro
final da década de 40, estes passaram a ter uma parti- áreas dentro de uma gerência de risco sanitário hospi-
cipação cada vez maior na prescrição médica. Aproxi- talar: tecnovigilância, farmacovigilância,
madamente 25% a 35% dos pacientes hospitalizados hemovigilância e controle de infecções hospitalares /
recebem antibióticos, o que corresponde a 1/3 dos gas- saneantes6,7.
tos com medicamentos, e respondem pelo consumo de A partir de 2002, o Hospital Universitário do pre-
20% a 50% da receita hospitalar16. Como consequência sente estudo passou a ser um hospital da Rede Sentine-
dessa prática, identificam-se o aumento de custos, la/ANVISA e, dentro do seu plano de melhorias, foi es-
aumento da indução da pressão seletiva de patógenos colhida a UTI para a introdução do conceito do risco
resistentes e efeitos adversos. No Brasil, a incidência sanitário hospitalar e as suas áreas de atuação. Vários
de infecção nosocomial em unidades de terapia in- treinamentos de conscientização foram realizados no sen-
tensiva varia entre 5% e 10% 13,14,16. tido de se estar mais atento para a qualidade dos produ-
Entre as categorias dos fármacos mais utilizados tos utilizados no setor, em especial na aquisição de medi-
nos pacientes estudados, destacaram-se os antibióti- camentos e artigos médico-hospitalares e para as boas
cos (25,2%) que foram prescritos na unidade devido à práticas de fabricação, armazenamento e de transporte7.
Recebido em: 08.01.2009 - Aprovado em: 26.02.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):159-64. • p.163
Monitoramento de medicamentos prescritos em UTI Artigo de Pesquisa
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