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Toxicologia

Introdução

A intoxicação humana abrange uma ampla variedade de processos fisiopatológicos relacionados


com a interação entre um agente de natureza química ou biológica e o organismo. A condição primária para
que a intoxicação aconteça consiste na exposição ao agente tóxico o qual, deverá alcançar o sítio-alvo,
após vencer as barreiras impostas pelo organismo. Portanto, a expressão da toxicidade de uma substância
sobre um sistema biológico dependerá de inúmeros fatores que incluem as propriedades físico-químicas do
agente tóxico, as condições de exposição e, fundamentalmente, de uma série de eventos que ocorrem
dentro do organismo, ou seja, de seu comportamento toxicocinético e toxicodinâmico.

Áreas e conceitos básicos

A Toxicologia é a ciência que tem como objeto de estudo o efeito nocivo decorrente da interação entre
um agente tóxico e um sistema biológico, com a finalidade principal de prevenir o aparecimento desse
efeito, ou seja, estabelecer condições seguras de exposição a essas substâncias e assim, permitir que o
homem se beneficie das conquistas tecnológicas da era atual.

A toxicologia apóia-se, então, em três elementos básicos:

1. a existência de uma substância (agente tóxico) capaz de interagir com um sistema biológico e
produzir uma resposta;
2. o sistema biológico com o qual o agente tóxico interage para produzir o efeito;
3. a resposta (efeito) que deverá ser considerada nociva ao sistema biológico com o qual interage.

Áreas da Toxicologia

A toxicologia é uma ciência multidisciplinar que compreende um vasto campo de conhecimentos


básicos e aplicados, relacionando-se estritamente com diversas outras ciências. É desenvolvida por
especialistas com diferentes formações profissionais que oferecem contribuições específicas em uma ou
mais áreas de atividade permitindo assim, o aperfeiçoamento dos conhecimentos e o desenvolvimento de
cinco áreas de atuação, de acordo com a natureza do agente tóxico ou a maneira pela qual este alcança o
sistema biológico.

Toxicologia de Alimentos: área relacionada ao estudo da toxicidade das substâncias veiculadas pelos
alimentos, ou seja, é a área da toxicologia que estabelece índices de segurança para que os alimentos, de
origem natural ou industrial, possam ser ingeridos sem causar danos à saúde, tanto no que se refere à sua
obtenção quanto ao seu armazenamento.

Toxicologia Ambiental e Ecotoxicologia: essa área do conhecimento toxicológico preocupa-se com o


estudo das ações e dos efeitos nocivos de substâncias químicas, quase sempre de origem antropogênica,
sobre os organismos vivos. Em geral, empregam-se os termos Toxicologia Ambiental para os estudos dos
efeitos diretos causados pela interação desses agentes contaminantes do ambiente (ar, água, solo) com o
organismo humano e, Ecotoxicologia, para os estudos dos efeitos tóxicos desses compostos sobre os
ecossistemas e seus componentes não humanos. Como o homem se encontra no topo de muitas cadeias
alimentares e existem poucos ecossistemas nos quais os seres humanos não participam, essa distinção é,
portanto, bastante frágil.

Toxicologia de Medicamentos e Cosméticos: nessa área estudam-se os efeitos nocivos produzidos pela
interação dos medicamentos e cosméticos com o organismo, decorrentes do uso inadequado ou da
suscetibilidade individual.

Toxicologia Ocupacional: é a área que se ocupa do estudo das ações e efeitos nocivos de substâncias
usadas no ambiente de trabalho sobre o organismo do indivíduo exposto. Nessa área, busca-se,
principalmente, a obtenção de conhecimentos que permitam estabelecer critérios seguros de exposição
ocupacional.

Toxicologia Social: embora no mundo contemporâneo a Toxicologia seja uma ciência de caráter social em
sua natureza, o termo Toxicologia Social é designado para a área que estuda os efeitos nocivos
decorrentes do uso não médico de drogas ou fármacos, com prejuízos ao próprio usuário e à sociedade.
Trata-se do estudo das chamadas “drogas de abuso”, lícitas ou não, cujo uso, sempre voluntário, visa
modificar o estado de consciência ou evitar o desconforto ocasionado pela interrupção do uso da
substância, mesmo que por um curto período de tempo.

Toxicologia Clínica ou Médica: trata do atendimento do paciente exposto ao agente tóxico ou intoxicado,
com a finalidade de prevenir, diagnosticar a intoxicação ou aplicar, se necessário, uma medida terapêutica
específica.

Toxicologia Analítica: ocupa-se da detecção do agente tóxico ou de algum parâmetro bioquímico


relacionado com a exposição a ele em fluidos biológicos, alimentos, ar, água e solo, com o propósito de
diagnosticar ou prevenir as intoxicações. No exercício dessa modalidade, é de fundamental importância o
domínio de química analítica e de instrumentação, pois ela busca métodos com precisão, exatidão e
sensibilidade adequadas para a identificação e/ou quantificação inequívocas do toxicante ou para a
avaliação de alterações bioquímicas funcionais do organismo. As análises toxicológicas são empregadas
com as mais variadas finalidades: no aspecto forense ou médico-legal, na monitorização terapêutica ou
acompanhamento do paciente submetido a tratamento prolongado com medicamentos, na monitorização
biológica da exposição ocupacional às substâncias químicas, no controle antidopagem em competições
esportivas, no diagnóstico da intoxicação aguda ou crônica em emergências médicas, entre outras.

Toxicologia Experimental: que desenvolve estudos para elucidar os mecanismos de ação dos toxicantes
sobre os sistemas biológicos e avaliar os efeitos decorrentes dessa ação. A avaliação de toxicidade das
substâncias é feita através de estudos conduzidos em diferentes espécies animais, seguindo rigorosas
normas preconizadas pelos órgãos reguladores nacionais e internacionais.

Conceitos Básicos

Considerando-se o caráter multidisciplinar e o fato de que muitas pessoas com diferentes formações
acadêmicas se interessam em estudar e trabalhar com Toxicologia, torna-se necessária a observação do
uso apropriado de termos empregados em toxicologia e apresentados a seguir.

Agente tóxico, toxicante ou xenobiótico

É uma substância química ou agente físico capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando
seriamente uma função ou levando-o à morte, sob certas condições de exposição. A maioria das
substâncias consideradas como agente tóxico são exógenas, sem papel fisiológico conhecido e
denominadas xenobióticos. Outros termos que merecem ser mencionados são apresentados abaixo.

Toxina

Refere–se à substância tóxica produzida por um organismo vivo (microrganismo, animal ou planta).
Existe um campo de estudo específico, denominado Toxinologia, que estuda os efeitos nocivos dessas
substâncias.

Veneno

Termo de uso popular que, embora em princípio, possa ser utilizado como sinônimo de agente tóxico é
reservado especificamente para designar substâncias de origem animal ou vegetal, utilizadas para
autodefesa ou predação, como o caso dos venenos ofídicos, de abelhas, entre outros.

Fármaco

É toda substância de estrutura química definida, capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico
ou estado patológico, em benefício do organismo receptor.

Droga

Toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, utilizada
com ou sem intenção de benefício do organismo receptor. A palavra droga, tem aceitação popular para
designar fármacos, medicamentos, matéria prima de medicamentos, alucinógenos e agentes tóxicos.

Toxicidade
É a capacidade inerente a uma substância de produzir danos aos organismos vivos, ou seja, é a
medida relativa do potencial tóxico da substância sob certas condições controladas de exposição. Uma
substância muito tóxica causará dano a um organismo se for administrada em quantidades muito pequenas,
enquanto uma substância de baixa toxicidade somente produzirá efeito quando a quantidade administrada
for muito grande. O conhecimento da toxicidade das substâncias químicas se obtém através de
experimentos em laboratório utilizando animais. Os métodos são empregados com todo rigor científico com
a finalidade de fornecer informações relativas aos efeitos tóxicos e, principalmente, para avaliar riscos que
possam ser extrapolados para o homem.

Risco e segurança

O termo risco traduz a probabilidade estatística de que se produzam efeitos adversos ou danos por
exposição a um agente tóxico, em virtude das propriedades inerentes ao mesmo, bem como das condições
de exposição. Nem sempre a substância de maior toxicidade é a que oferece maior risco para o homem.
Dependendo das condições de uso ou exposição, uma substância classificada como muito tóxica (elevada
toxicidade intrínseca) pode ser menos apresentar menor risco do que uma pouco tóxica. Por exemplo,
embora o tolueno seja um solvente carcinogênico, não oferece risco se estiver adequadamente
armazenado.

A existência de risco associado ao uso de uma substância química, torna necessário o


estabelecimento de condições de segurança. Portanto, define-se como segurança, a certeza de que não
haverá efeitos adversos para um indivíduo exposto a uma determinada substância, em quantidade e forma
recomendada de uso. Ou seja, quando se fala em risco e segurança, significa a possibilidade ou não da
ocorrência de uma situação adversa.

No entanto, não é fácil estabelecer o que é um risco aceitável no uso de substância química. Esta
decisão é bastante complexa e envolve o binômio risco-benefício. Na utilização das substâncias químicas
para diversos fins, alguns fatores devem ser considerados na determinação de um risco aceitável: a
necessidade do uso da substância; a disponibilidade e a adequação de outras substâncias alternativas para
o uso correspondente; os efeitos sobre a qualidade do ambiente e conservação dos recursos naturais; as
considerações sobre o trabalho (no caso de ser usada em ambiente de trabalho); a avaliação antecipada de
seu uso público (ou seja, o que ela poderá causar sobre a população em geral) e considerações
econômicas.

Efeito tóxico, adverso ou deletério.

É uma alteração anormal, indesejável ou nociva decorrente da exposição a substâncias


potencialmente tóxicas. Todo efeito tóxico é indesejável e nocivo, mas, nem todos os efeitos indesejáveis
são tóxicos. A morte é o efeito adverso mais drástico que pode ocorrer. No caso de medicamentos, em
particular, devem-se distinguir os efeitos colaterais e a toxicidade propriamente dita. Portanto, os efeitos
colaterais de agentes terapêuticos são aqueles indesejáveis, mas, muitas vezes toleráveis, que aparecem
durante a farmacoterapia, enquanto a toxicidade representa a manifestação de efeitos lesivos de maior
gravidade, podendo levar até à morte.

Alvo

É o termo usado com freqüência para designar o sítio ou local do organismo que interage com o
agente tóxico e apresenta a resposta biológica correspondente. Pode ser referido como uma molécula
(DNA, proteína, etc.), um receptor ou um órgão (fígado, rim, cérebro, etc.).

Destoxificação

É o processo de transformação química que converte uma substância em formas mais facilmente
excretáveis (menos tóxica), geralmente através de reações de biotransformação.

Antídoto e antagonista

São substâncias capazes de neutralizar ou reduzir os efeitos de uma substância potencialmente


tóxica. O antídoto é a substância que se opõe ao efeito tóxico atuando sobre o toxicante, enquanto o
antagonista impede o toxicante de se ligar a seu alvo ou exerce ação oposta à do agente tóxico (agonista).

Intoxicação
É o conjunto de efeitos nocivos representados por manifestações clínicas (sinais e sintomas) ou
laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação entre o agente tóxico com o
sistema biológico. Por envenenamento, entende-se o transtorno produzido por toxinas.

Fases da Intoxicação

A intoxicação humana compreende uma ampla variedade de processos fisiopatológicos resultantes


da interação de um agente tóxico com o organismo. Porém, para que o efeito tóxico ou adverso sobre o
sistema biológico seja produzido, é necessário que o toxicante ou seus produtos de biotransformação
(metabólitos) alcancem sítios específicos (alvo) no organismo e permaneçam em contato com os mesmos
por um período de tempo suficiente para produzir a ação tóxica.

Dessa forma, a intoxicação inicia-se com a exposição do organismo ao agente tóxico que, após
vencer as defesas do organismo, chega ao local de ação na forma ativa. Essas defesas consistem,
fundamentalmente, em mecanismos que restringem a sua mobilidade e diminuem o período de exposição
do tecido alvo, ou seja, o organismo atua impondo barreiras à distribuição do toxicante para determinados
tecidos, diminuindo sua difusibilidade através das membranas celulares e/ou facilitando sua excreção.

Os processos de transporte e as transformações que o agente tóxico sofre, desde a superfície


epitelial de contato, até alcançar os órgãos nos quais se armazena ou causa lesões, são muito complexos.
Por conveniência, para facilitar o estudo dos complexos eventos envolvidos desde a exposição do
organismo ao agente tóxico até o aparecimento de manifestações clínicas e/ou laboratoriais, a intoxicação
pode ser desdobrada em quatro fases:

Fase I – Exposição: corresponde ao contato do agente tóxico com o organismo. Representa a


disponibilidade química das substâncias e passíveis de serem introduzidas no organismo.

Fase II – Toxicocinética: consiste no movimento do agente tóxico dentro do organismo. É composta pelos
processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Todos esses processos envolvem
reações mútuas entre o agente tóxico e o organismo, conduzindo à disponibilidade biológica
(biodisponibilidade).

Fase III – Toxicodinâmica: corresponde à ação do agente tóxico no organismo. Atingindo o alvo, o toxicante
ou o seu produto de biotransformação interage biologicamente causando alterações morfológicas e/ou
funcionais, produzindo danos.

Fase IV – Clínica: é caracterizada pelas manifestações clínicas e/ou laboratoriais resultantes da ação tóxica.

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