A14 Internacional

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TERÇA-FEIRA, 7 DE JUNHO DE 2011 O ESTADO DE S. PAULO

VISÃO
GLOBAL
doseusucessoenquantoagentedajusti- reconhecerem o papel que desempe-

A vergonha da Sérvia ça internacional. E garantiu à Sérvia a

tão cobiçada perspectiva de se tornar
um país-membro da União Europeia. O
nharam no genocídio. Mas os líderes
servo-bósnios ainda negam que tais
crimes tenham ocorrido e exigem

e a prisão de Mladic
governo sérvio conseguiu convencer o
mundo de que dá mais valor a um futuro
europeu do que aos criminosos heróis
do passado. Mas não estou tão certa de
que a Sérvia tenha desistido de Mladic e
de seus colegas generais, comandantes
Só haverá justiça para as vítimas do genocídio e da limpeza étnica se os líderes de uma guerra genocida na Bósnia. A
sérvios e servo-bósnios reconhecerem o papel que desempenharam no genocídio compaixãoqueosrepresentantesdogo-
verno e a mídia jornalística demonstra-
●
✽ ram por Mladic na semana passada é
mais uma marca vergonhosa que recai
NATASHA sobre todos nós.
KANDIC Odesejode Mladicdeser visitadopelo
THE NEW YORK TIMES ministro da Saúde e pelo presidente do
Parlamento foi atendido, assim como o
detençãodeRatkoMla- seis bósnios da cidade de Srebrenica. pedidodevisitarotúmulodafilha.Elefoi
que mais líderes bósnios muçulma-
nos sejam julgados por crimes de
guerra.
Demaneirasemelhante,poucomu-
dou em Kosovo, onde o público se
opõe ao julgamento dos comandan-
tes do antigo Exército de Libertação
de Kosovo por crimes de guerra. E,
em Montenegro, um tribunal decidiu
que os policiais responsáveis por en-
tregar refugiados muçulmanos a for-
ças servo-bósnias, em maio de 1992,
nãoeram culpadosde crimesdeguer-
ra – um tapa no rosto das famílias das
vítimas.
A região precisa desesperadamen-

A
dic, em 26 de maio, pe-
gou-me de surpresa.
Cerrei os punhos, ten-
tandoapertá-locomto-
da a força nas minhas
mãos. Finalmente, suspirei aliviada.
Masentão ouviodiscursodopresi-
dente sérvio, Boris Tadic. Para ele, a
detenção de Mladic representa o en-
cerramento de um capítulo sombrio
de nossa história e o fim da marca da
vergonha que manchou o povo sér-
vio por duas décadas. Mas não foi fei-
tamençãoaos muitosoutros quepar-
ticiparam do genocídio durante a dé-
cada de 90, nem à responsabilidade
que o Estado sérvio carrega por estes
crimes.Pareceque,maisumavez, po-
demos desperdiçar a chance de abrir
um debate doloroso e necessário so-
bre o passado.
Não faz tanto tempo que, por um
breve instante, pareceu que toda a
Sérvia tomaria o partido das vítimas
“estrangeiras” contra seus “pró-
prios” criminosos. Isso foi em 2005,
depois que eu e meus colegas desco-
brimos e divulgamos um vídeo feito
em 1995 mostrando a execução de
Pelaprimeiravez,opúblicosérvio teste- tratadocomoumastro.Estetipodebaju-
munhou provas incontestáveis do en- lação dos assassinos é perigoso numa re-
volvimento do Estado no massacre de gião em que as feridas da guerra ainda
mais de 8 mil bósnios muçulmanos na- não cicatrizaram. O nacionalismo ainda
quela cidade. é forte na Bósnia, na Croácia, em Kosovo
O governo respondeu dissociando o eemMontenegro,àsvezesatémaisforte
Estado do massacre. A polícia deteve doquenaépocadasguerrasquedilacera-
cinco homens e os declarou membros ram a Iugoslávia nos anos 90.
de um grupo criminoso, negando todos Recentemente, na Croácia, políticos,
os vínculos que a unidade pudesse ter imprensa, Igreja e grupos da sociedade
com instituições do Estado. civil protestaram contra o veredicto de
Nojulgamento,otribunalsérviorejei- Haia condenando dois generais croatas
tou o depoimento das mães e dos filhos por crimes de guerra – decisão que con-
dosseismuçulmanosexecutados.Acor- testava a interpretação oficial da guerra
te concluiu que não havia provas deter- naquele país. Todos reconhecem que
minando que as vítimas fossem prisio- houve mortes em 1995, mas negam que
neiros de Srebrenica. Tal decisão repre- oEstado eex-líderes comoFranjoTudj-
sentou uma marca vergonhosa para to- man, então presidente croata, tenham
dos nós. E não podemos apagá-la sim- sido responsáveis por planejar a limpe-
plesmenteenviandoMladicparaotribu- za étnica de sérvios.
nal em Haia encarregado de investigar
os crimes cometidos na ex-Iugoslávia. Justiça. Aos olhos do establishment
político bósnio e das famílias dos mor-
Alívio. A detenção de Mladic trouxe alí- tos, só haverá justiça para as vítimas
vio às famílias das víti- do genocídio e da limpeza
mas. Proporcio- étnica se os líde-
nou ao tribunal res sérvios
de Haia o reco- e servo-
nhecimento CARLINHOS MÜLLER/AE
bósnios
tedeumdebatesincerosobre opassa-
do.Estaéaúnica maneiradereconhe-
cer todas as vítimas e pôr fim às men-
tiras que contamos a respeito de nós
mesmos e dos outros. As famílias das
vítimas, 1.600 organizações não go-
vernamentais, veteranos e religiosos
estão apoiando os esforços para fi-
nanciar uma comissão regional que
teria o objetivo de compilar um regis-
tro completo das vítimas, incluindo
soldados, policiais, voluntários e
aqueles que se tornaram os alvos da
limpeza étnica.
Um pedido solicitando o estabele-
cimento desta comissão será entre-
gue este mês a líderes de todos os Es-
tados que ocupam atualmente a re-
gião da antiga Iugoslávia. Se criada, a
comissão encerrará a antiga prática
balcânica de manter as vítimas sem
nome. E só podemos torcer para que
acomissão possafinalmentelavarpa-
ra sempre as manchas do passado. /
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
✽
É ATIVISTA SÉRVIA DE DEFESA DOS DIREI-
TOS HUMANOS

Websfera O melhor da internet Felipe Corazza Veja a íntegra das notas. blogs.estadão.com.br/radar-global estadão.com.br

WASHINGTON POST JERUSALEM POST FOX CHINA DAILY

Cão sumido em tornado
reaparece 4 dias depois
Depois de quatro dias desapare-
cido, o cão Shadow foi encontra-
do e devolvido para a família de
seus donos no Estado america-
no de Massachusetts. Não foi
um sumiço comum. O filhote da
raça Sharpei desapareceu após
um tornado atingir a região der-
rubar a casa onde morava. O ca-
chorro foi encontrado sem feri-
mentos sob os escombros.
Camisa com estampa de
Hitler é retirada de loja
A loja online de camisetas Red
Bubble teve de retirar do catálo-
go uma peça que trazia estampa
de Adolph Hitler. A empresa,
comsede emMelbourne,naAus-
trália, recebeu inúmeras recla-
mações da comunidade judaica
local e de vários outros países.
Homens sauditas não
poderão vender lingerie
ORei Abdullah daArábiaSaudita
decretou que homens não pode-
rãomais venderlingerienaslojas
dopaís. A medida foi bem recebi-
da por membros de uma organi-
zação de 6 mil mulheres que
criou o grupo “Chega de Cons-
trangimento” no Facebook.
ESPANHOLA
61%
dos doentes terminais na Espa-
nha não querem receber trata-
mentos que prolonguem suas
vidas caso não haja perspectiva
de cura. O estudo tem por base
3 mil entrevistas em hospitais
Aluguel leva chineses a
esperar para ter filhos
Cerca de 70% dos jovens chine-
ses que moram em capitais só
pretendem ter filhos quando se
livraremdo aluguel.Pesquisafei-
ta pelo governo mostra que os
preços de moradia no país tam-
bém levam casais de namorados
a adiarem os casamentos.

Obama avalia retirada mais rápida do Afeganistão

das anteriormente. Autorida-
Custos da guerra e des afirmam que a mudança nas
morte de Bin Laden novas “considerações estratégi-
cas” seria justificada pelo custo
podem fazem com que crescente da guerra e pela mor-
EUA acelerem a saída te de Osama bin Laden.
de soldados do país As novas considerações, jun-
to com um desejo de encontrar
WASHINGTON novas maneiras de pressionar o
presidente afegão, Hamid Kar-
A equipe de segurança nacional zai, e obrigar suas tropas a assu-
do presidente dos EUA, Barack mirem o controle do país são o
Obama, analisa reduções de tro- contrapeso à abordagem defen-
pas no Afeganistão que seriam dida pelo secretário de Defesa
mais aceleradas que as discuti- Robert Gates, que deixará o car-
go em breve. Comandantes mili-
tares de alto escalão querem
cortes graduais que mante-
nham as forças americanas com
uma capacidade de combate
muito maior durante boa parte
do próximo ano, segundo disse-
ram funcionários do governo.
O custo da guerra e o progres-
so irregular de Karzai no prepa-
ro de suas forças têm sido ques-
tões latentes desde que Obama
assumiu o governo. Nas últimas
semanas, porém, elas ganha-
ram maior peso político no mo-
mento em que a recém-reforma-
da equipe de segurança nacio-
nal do presidente assume a deci-
são crucial sobre o tamanho e o
ritmo das reduções de tropas
americanas.
Fontes da Casa Branca disse-
ram que Obama deve anunciar
essas decisões em um discurso
até o fim do mês. Uma forte re-
dução das tropas é uma de mui-
tas opções que o presidente
americano tem analisado. An-
tes da nova proposta, autorida-
des previam uma retirada ini-
DEB RIECHMANN/AP–20/5/2011
Expectativa. Coronel dos
EUA na Província de Logar
cial de 3 mil a 5 mil soldados. Os
que defendem reduções mais
aceleradas não propõem um
cronograma de retirada.
Gates, em sua última visita
ao Afeganistão como secretário
da Defesa, argumentou que
uma retirada excessivamente
rápida colocaria em risco os ga-
nhos obtidos nos 18 meses des-
de que Obama ordenou um “re-
forço” de 30 mil homens.
Um cronograma separado de-
ve definir a saída de todas as tro-
pas estrangeiras do Afeganistão
até 2014, incluindo os cerca de
70 mil soldados que estavam no
país antes do reforço dos EUA. /
NYT

Saída das tropas depende

de avanços do Taleban
WASHINGTON
O general David Petraeus, co-
mandante-chefedas forças ame-
ricanasno Afeganistão,manifes-
tou ontem cautela sobre o esta-
do da guerra. Embora tenha dito
que americanos e afegãos ha-
viam feito progressos militares
nas províncias cruciais de Hel-
mand e Kandahar, ele disse tam-
bém que o Taleban tentava se re-
constituir após as derrotas dos
últimos meses.
O general não quis discutir a
retirada de forças americanas
em julho ou quantos soldados
voltariam para casa. As decisões
sobre a retirada do Afeganistão
poderiam ser parecidas com as
tomadas por Obama com rela-
ção ao fim dos combates no Ira-
que. Funcionários do Pentágo-
no observaram que depois que o
presidente estabeleceu um pra-
zo firme para a volta de 50 mil
soldados dofront iraquiano, dei-
xou que seus comandantes em
Bagdá tratassem dos demais.
No passado, quando se per-
guntavaafuncionários dogover-
no sobre o ritmo da retirada, eles
diziam que tudo dependeria das
“condições no local” – avalia-
ções sobre a força do Taleban, o
ritmo com que soldados e poli-
ciais afegãos são preparados e o
progresso da reconstrução do
país. “A maioria desses fatores
pesaemfavordeumapermanên-
cia maior”, disse uma autorida-
de. / NYT