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CePA Os diretores ea direcGo do teatro a AIMAR LABAK! 6 rotor © ertico de teato. 24 mavistTaAuse O teatro brasileiro esté prestes a dar outro salto qualitativo. O teatro brasileiro esta estagnado, senio morto. O teatro brasilei- roesté momo, cada diretor segue sua traje- 16ria individual, sem nenhuma identidade visivel com a realidade do pais. Osdiretores de teatrorealmente nao se entendem. As trés afirmagies do pariigra- foacima foram feitas por alguns dos mais impor- lantes encenadores em Sao Paulo hoje. Sio con- sideragdes sinceras e ponderadas, mas necessari- amente excludentes. Remetem a uma imagem iio muito lisonjeira de nossa produgi Antunes Filho, Cibele Forjaz, José Celso Martinez Corréa, Eduardo Tolentino, alguns dos diretores mais importantes de Sio Paulo, deram um depoimento sobre o trabalho dos diretoresem ‘Sio Paulo hoje. Uma sintese é impossivel. Mas é interessante se deter sobre o pensamento de cada um. Assistente dos italianos do TBC (os pioneiros trazidos por Franco Zamparique, juntocom Ziembinski, foram os responséveis pela virada de mesa dos anos 40, que trouxe a figura do diretor para o centro do fazerteatral), Antunes Filho é hojeo diretor mais importante do Brasil. Mestre do oficio, incansivel pensadordacena ‘edo homem brasileiros, Antunes vive uma espé- cie de batalha surda com o resto da produgio. ‘Aponta no trabalho alheio problemas que procu- ra equacionar em seu proprio processo, “Nés vivemios a falta do autor. O dramaturgo nacional ou nao esté escrevendo ou nio esti sen- ‘do montado. Pior, quando montado ele esté sen- do sufocado pela diregio.”Antunes é duro com 6s atores. “A nova geracao sé esté preocupada com o sucesso facil da televisio, Com odinheiro € com a popularidade.” Retruco que a velha geragio também est cenfurnada na TV. “Mas eles aprenderam a técni- canoinicio das suas carreiras. Quando voltam a0 palco podem pelo menos se defender. Os nov nfioaprendemnem obisico, Nuncavaosernad: Ele é ainda mais duro com os diretores jo- vens.““Euos vejomaiscomodesignersquecomo diretores. Quem mexe com luz € imagens deve permanecer cendgrafo ou iluminador. Ou entio que vi para o cinema, onde é normal ter um dire- tordeelenco, No teatro voc s6 é diretor se dirige ator, se tem a coragem de ir ao fundo do trabalho doator. $60 que eu vejo hoje em cena sivefeitos muita dispersio.” Pressionado, Antunes s6 citou dois nomes, ‘como diretoresa quem acompanha com atencio: a gaticha Maria Helena Lopez (“séria, profun- da”) ojovemecarioca Henrique Diaz, encenador deA BaoA Qu(“Ele fezum primeito trabalho que € muito interessante. Agora é que vamos ver, na_ segunda. Uma peca nio uma carreira”). ‘Antunes jé esti com sua versio do Macbeth. Depois viaja mundo afora com Nova Velha Esté- riae Paraiso Zona Norte. O mundo que se prepa re: | Eduardo Tolentino, lider do grep ‘Tapa, também vé com apreensio a | crise na dramaturgia, mas amplia a questio. “O problema é mundial, ‘Vivemosummomentode dificil cap- taco, O Gnico autor que ainda pro- duz em profundidade sobre nossos dias 6 Harold Pinter.” E ébvio que no Brasil hé fatores sociais que complicam a questio. “Dada a complexidade de nossos problemas, nds nio conseguimos ainda teruma visio mais profunda do pais. Além disso aplatéia brasileira nao evoluiu. Eum pablicoque no tem o hdbito de ler ou ouvir um texto. Isso limita muito sua capacidade de apreensio.” ‘Quanto’ sua trajet6riapessoal, Tolentinonio ‘Vé relag3o com os outros encenadores, nem cré estaremummomentoespecial.“Sigominhapes- quisa na diregao de atores € na leitura de textos. Meu principal objetivo é evitar um estilo. E en- contrar em cada texto suas proprias exigéncias. A opgio pelos clissicos - presente nas tilt ‘mas temporadas - 6, segundo ele, motivada pela crise na dramaturgia. Jé William Pereira vé outro motivo para essa preferéncia: “Estamos em um momentodetransi¢ao. Sempre que issoacontece a volta aas cléssicos é inevitével.” Transigao € a melhor definigéo do momento por que passa William Pereira. Obcecado por 6pera, ele se prepara para um estigio de um ano no English National Opera. Sua curta trajetéria como encenador inclui Buchner (Leonce ¢ Lena), Strindberg (Senhorita Jiilia), Molitre (Burgués Fidalgo B) © uma releitura de Hamlet em Elsinore, com a Cia. Co- ral. Tal fidelidade aos cléssicos s6 tem igual no repertério de Eduardo Tolentino, que agora mes- ‘mo mantém em cartaz um Skakespeare, um Moligreeum Maquiavel, jétendomontadolbsen, Tardieu ¢ Priestley, entre outros. Oscléssicos, segundo William, faciitam uma evolugio que caracteriza as encenag6es da maior parte dos diretores no Brasil hoje: “Estamos ti- rando 0 foco do estético para o ético. Nao € mais s6.0 como falar que importa, mas também o que falar”.

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