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MANUEL DE ARAUJO PORTO-ALEGRE Sua mvpLuénera na AcAppMia Imperran pas Beas ARTES EB NO MEIO ARvistico Do Rio pp JANEIRO Nao é o presente trabalho mais uma biografia de Manuel de Aratijo Pérto-alegre, sendo apenas um resumo por éle mesmo contado, nos discursos que proferiu, nas notas particulares que esereveu, nas cartas que enyiou a Vitor Meireles, nos projetos que formou e viu aprovados e nos oficios enviados ao govérno, de sua ago nos cargos de professor e de Diretor da Academia Imperial das Belas Artes; 0 primeiro, exercido de 1837 a 1848, na cadeira de Pintura Histérica, sucessor que foi do grande Jean Baptiste Debret; 0 segundo, exercido de 1854 a 1857 @ para o qual fora chamado por D. Pedro II. Teve Aratijo Pérto-alegre espirito muito ativo, grande inte- ligéncia, patriotismo, cultura e erudicio. Sua visio aleangava muito mais além que a de seus contempordneos na Academia e no ambienté da Cérte. Foi éle um dos primeiros a condenar o ensino pratico das artes sem o auxilio indispensdvel das cién- cias, como a Geometria, a Anatomia, etc.; foi o tinico na época a desejar que o artista se tornasse ‘itil 4 sociedade, mesmo quando nfo atingisse 4 culminancia, pela universalidade dos conhecimentos. Manifestou-se com veeméncia contra o ensino da Pintura pela cépia de estampas e de quadros, Desejava a consulta direta A natureza e levava os discipulos para colabo- 20 REVISTA DO PATRIMONIO HISTORICO E ART{STICO NACIONAL rarem em seus trabalhos de decoracio e cenografia. Por tudo isso foi tho guerreado e magoado pelos colegas que, em 1848, trocou sua cadeira na Academia por uma substituigio na Escola Militar, — “o seio de Abraiio”, — como disse em nota intima. OueAmolo: “Quando entrei, em 1837, para a Academia das Belas Artes, era eu o tinico filho do Brasil que 14 se achava (1), e ali ouvia de vez em quando, os mais injustos apodos contra minha patria e contra os meus compatriotas. Ressentime e repeli com energia tanta ingratidio para com um pais que havia acolhido ésses estrangeiros, que os nutria e Ihes dava uma posigio muito além do seu mérito, e de suas qualidades pessoais. Foram éstes meus colegas os que mais se distin- guiram na perseguicio, levando-a ao ponto de se vingarem nos meus inocentes discipulos, e de tolherem alguns meios de os poder mais adiantar; os fatos sio tho patentes que ndo merecem justificagio. Neste estado, pensei em fazer alguma coisa para mim, com © fito de estudar, e comecei um quadro, representando Héreules na fogueira. O proprio Diretor da Academia (2), prevendo o resultado desta obra, e querendo justificar o que havia dito, foi © primeiro que espalhou, por alto e por baixo, que aquela obra em coméco n&o era minha, mas sim de um dos meus colegas com quem vivia em harmonia. Obriguei-o a desmentir-se em piblico, pela imprensa, mas n&o pude privé-lo dos manejos subterraneos em que tio habil se tem mostrado. Para vingar esta derrota, espalharam algumas caricaturas em que te ridicularizavam com o titulo de Grdo Mestre dos eaiadores! Pediu-me o Mordomo, para uma das salas do Pago, e com favor do Govérno, um quadro da Sagracio de Sua Magestade; quatro vézes fui distraido daquela obra para outros trabalhos, e quatro vézes a ela voltei, ja sem gosto e mui doente, e com ‘uma veia dilatada no bracgo esquerdo, por causa dos esforgos que fiz, sem ter quem me ajudasse, e obrigado, en mesmo, a moer as

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