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O ESCRITOR (PARTE I)

Postado por Alex às 20:32 0 comentários Links para esta postagem


Seu nome fora dado pelas freiras pelo qual fora criado. Foi mais um órfão dentre
inúmeros outros. Ele era realmente sortudo desde o dia do seu nascimento, pois fora
mandado para o menor orfanato da cidade. Um lugar pequeno, numa casa tombada
como histórica pela cidade, com a pintura velha e descascada, pois a verba das freiras
mau dava pra o sustento dos doze órfãos que cuidavam. Não foram anos muito fáceis
todos os dezoito que passara naquele simples lugar, foram anos de dificuldade e
privações. Passava grande parte do tempo cuidando da pequena horta de temperos que a
madre cultivava.
As freiras lhe tinham muito carinho, talvez pelo fato de crerem que era doente, pelo
simples fato de ler todo o tempo em que não estava na horta ou nos horários de reza
obrigatórios pelas irmãs. Ao sair do orfanato fora mandado direto procurar um dos
poucos beneficiários que ainda cuidava do velho lugar. Este lhe dera um emprego,
“nada muito grande”, em suas próprias palavras. Um simples cargo de “office boy”.
Seguiu caminho na empresa. Graças a um curso que fizera durante as férias de verão e
pelo ótimo desempenho que tinha nas simples tarefas, fora promovido. Atuava agora
sendo o auxiliar do contabilista. “Dentre os cargos inferiores o melhor”, era o
pensamento que lhe trazia felicidade, por notar que conseguira crescer mesmo que fosse
o mínimo!
Saído de mais um dia cansativo no novo cargo, caminhava assobiando um triste tango
pelas ruas, e num momento puramente espontâneo coloca a mão no bolso, da calça
jeans surrada de tanto uso, e encontra um papel até então esquecido. Coisas básicas e
simples do dia a dia na sua singela lista de compras, arroz, feijão, e a única coisa que lhe
trazia a urgência na compra, o sabonete! Enquanto caminhava em direção ao mercado,
retira de sua mochila a carteira de couro velha e surrada que ganhara de seu chefe há
três natais atrás. Dentro encontra sempre a foto de seu único relacionamento amoroso,
uma secretaria loira da firma, os documentos e o mais importante para ele, a nota de dez
reais.
Já se fazia tarde quando chegou ao mercado, o crepúsculo estava se fazendo
vagarosamente presente. Pegou uma das cestinhas amarelas, que sempre lhe davam
vontade de rir, ao imaginar que quem as criou, criou pensando nele. Andou pelos
corredores do mercado, comprou o arroz, o feijão, algumas balas e claro o sabonete.
As ruas estavam agora escuras e a lua já se fazia presente, a fila no mercado hoje estava
maior que a de costume. Seguiu seu caminho de sempre até a casa da velha senhora do
qual alugava um quarto e fazia companhia. Sempre que olhava a fachada da casa
sempre se lembrava do orfanato e isso lhe trazia uma gostosa nostalgia. A casa cheirava
a mofo e umidade, sempre que entrava a velha senhora de cabelos cor de neve vinha em
sua direção rindo, lhe oferecia a janta e perguntava como fora seu dia. Neste dia não foi
diferente além do fato de que pegou as compras para guardar.
Ele notou algo estranho no ar, hoje embora tendo feito as mesmas coisas rotineiras, a
senhora não aparentava a feição que sempre carregava, hoje estava triste, e os velhos
olhos lacrimejavam. Tentou saber o motivo de tal tristeza sem o muito sucesso. Então
deixou a pequena sala, seus dois sofás e sua mesa, foi tomar o banho com o sabonete
que comprara. Serviu-se de arroz, feijão e batatas e foi para o quarto, deitar seu corpo
cansado e terminar de ler o livro que ganhara da "velha".
O dia começou mais quieto que os outros, na manha posterior, não sentiu o aroma do
café fresco e nem das torradas que ela preparava para lhe esperar. Naquela noite ela
dormiu e não mais acordou. Ele bateu algumas vezes na porta do quarto dela, sem
reposta, quando finalmente decidiu entrar. Viu seu corpo branco e enrugado deitado na
cama, sem o sinal do ar entrando em seus pulmões.
Tomara conta de todos os encargos fúnebres com prazer e dedicação, pois a “velha”
tinha sido a avó que ele não teve. Tentou avisar os parentes do falecimento, mas o
máximo que recebeu de retorno foi um “já foi tarde” como resposta! Surpresa grande
teve quando descobriu que ela havia deixado em testamento tudo o que tinha à ele. Era
realmente pouca coisa, a casa velha, os moveis, e alguns livros velhos e encardidos.
As semanas se arrastavam, agora ele estava como nunca estivera, sozinho. Já fazia um
mês da morte dela quando resolveu olhar os livros que ela lhe deixara. “Diários” - lia
boquiaberto. Os livros que ela lhe deixara eram de sua própria autoria e mais, eram os
seus diários, inúmeros de quase todos os anos que ela vivera. Levou alguns meses até
conseguir ler todos, eram incríveis as memórias de uma velha que morrera solitária. Sua
vida continuava em sua mesmice mórbida. Nada mudara desde a morte de sua avó,
assim considerada.
Passou um ano, selecionando as memórias da velha senhora. Tivera a grande idéia de
tentar laça-los como livro. Buscara dentro todos os livros as memórias que julgou mais
“incríveis”. Seu chefe era um homem influente, e agora era a vez dele de ajudar o rapaz
a crescer. Apresentou-lhe o editor chefe de uma revista e logo lhe conseguira a editora.
Nos dois meses após o lançamento sua virada virara de cabeça para baixo, estava vendo
uma quantidade de dinheiro que jamais vira e ainda, conhecera celebridades que via
pela televisão e que jamais pensou em conhecer. Em quatro meses estava riquíssimo
como jamais imaginara e estava com um contrato assinado para mais dois livros com a
editora que lhe dera a grande chance.
Agora não era mais um “Zé ninguém”, era um homem famoso e conhecido por todos,
pois seu livro era o maior best seller dos últimos dez anos. Ele tinha seu nome
estampado em todas as revistas que conhecia e mesmo que nunca ouvira falar, era
finalmente alguém. O mais famoso autor do momento, Diego Rosa Munhos o grande
autor da magnífica obra “As memórias de Rosane Valentine – Uma prostituta na década
de quarenta”.
Alex Barcellos Pinto

Nota:

Professora desculpa a audácia!!! Mas estava bem curioso para saber o que acharia e
principalmente ansioso pelas criticas!!!

Obrigado!!

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