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A SOCIEDADE LEONINA (*) (Art. 994,° do Cédigo Ci Por Luis Vasconcelos Abreu (**) SUMARIO. LISTA DE ABREVIATURAS — I, INTRODUGAO — 2. BREVE NOTA HISTORICA E DE DIREITO COMPARADO - 2.1. Direito Romano ~ 2.2. Espanha ~ 2.3. Franga ~ 2.4. tdlia ~ 2.4.1. Caracteri- zacdo do contrato de sociedade - 2.4.2. A proibigio da sociedade leo- nina - A) Fundamento; i) A doutrina anterior a0 Cédigo Civil de 1942: ii) A posigio de Graziani; ii) A posicio de Ferri: iv) A posigao de Franco Di Sabato; v) A posigdo de Francesco Ferrara jr. / Fran- cesco Corsi: vi) A posigio de Nicola Piazza; vii) A posigao de Mine vini - B) Ambito ~ C) Efeitos ~ 2.5. Alemanha ~ 2.5.1. Caracteriza- ¢40 do contrato de sociedade ~ 2.5.2. A proibigdo da sociedade leonina — 3. A SOCIEDADE LEONINA NO DIREITO CIVIL () Relat6rio apresentado no Seminério de Mestrado em Direito Civil, regido, na Faculdade de Dircito de Lisboa ¢ no ano lectivo de 1994/95, pelos Professores Doutores Ant6nio de Menezes Cordeiro e Pedro Romano Martinez, para os quais aqui fica uma palavra de agradecimento. Tomo agora a iniciativa de acrescentar uma indicagio biblio- grafica, relativa a um trabalho que 86 recentemente pude consultar. Trata-se do parecer de Karsten Schmidt, Geselischaft birgerlichen Rechts. Welche Anderungen und Ergiinzun- gen sind im Recht der BGB-Gesellschaft geboten?, publicado no terceiro tomo da obra Gutachten und Vorschlige zur Uberarbeitung des Schuldrechts, editado em 1983 pelo Ministério Federal da Justiga. Apesar de nada de novo acrescentar relativamente ao que se diz no texto sobre a matéria da sociedade leonina, que 0 BGB no proibe, sendo que 0 ‘Autor em aprego no propde qualquer alteraco legislativa nesta sede, o referido estudo oferece uma andlise desenvolvida ¢ aprofundada do contrato de sociedade, com importan- tes elementos de direito alemao e comparado. (##) Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa e Advogado. 620 Diplomas Legais BGB Publicagoes BFDUC BMJ cl LUIS VASCONCELOS ABREU PORTUGUES — 3.1 Cédigo Civil de 1867 - 3.1.1. Caracterizagio do contrato de sociedade - 3.1.2. A proibigdo da sociedade leo- nina - A) Fundamento - B) Ambito ~ C) Efeitos - 3.2 Cédigo Civil de 1966 — 3.2.1, Caracterizagio do contrato de sociedade - 3.2.2. A proibigdo da sociedade leonina— A) Fundamento; i) A posigio de Ferrer Correia: ii) A posicio de Pires de Lima/ Antunes Varela: iii) A posicdo de Pinto Furtado; iv) Posigdo adoptada ~ B) Ambito; i) A posigao de Ferrer Correia; if) A posi¢ao de Pires de Lima /Antunes Varela; iii) A posigao de Pinto Furtado; iv) P adoptada — C) Efeitos: i) A posigao de Ferrer Correia; ii) A posigao de Pires de Lima / Antunes Varela; iif) A posigiio de Pinto Furtado: iv) Posigao adoptada — 4. CONCLUSOES — BIBLIOGRAFIA LISTA DE ABREVIATURAS Burgerliches Gesetzbuch Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra Boletim do Ministério da Justiga Colectinea de Jurisprudéncia CJ (Acs. do STI) Colectdnea de Jurisprudéncia (Acérdaos do Supremo Tribu- ED nal de Justica) Enciclopedia del Diritto Riv. dir. comm. _Rivista del Diritto Commerciale 1, INTRODUCAO Apesar de se ter vulgarizado através de uma expresso latina, a societas leonina remonta & fabula do ledo da autoria de Esopo, que, por isso, se comega por recordar, numa das suas varias verses que chegaram até & actualidade. «Uma vaca, uma cabra e uma ovelha acompanhavam um leo num passeio pela serra, tendo aprisionado um veado. Par- tindo-o em quatro partes, e porque cada um queria a sua, 0 leo disse: “a primeira parte € minha, pois sou 0 ledo; a segunda pertence-me, porque sou mais forte do que vocés; fico com a terceira, uma vez que trabalhei mais que todos; € A SOCIEDADE LEONINA 621 quem tocar na quarta, ter-me-d por seu inimigo”. Deste modo, 0 ledo ficou com o veado todo para si.» (') No plano da Moral, é sabido como esta fabula adverte para 0 facto de se nao dever procurar a companhia dos poderosos, pois entao o trabalho sera para os mais fracos e 0 proveito para quem tem a forca ou 0 poder (*). Ja no dominio do Direito, vem-se entendendo que 0 contrato entre 0 ledo e os seus parceiros era um comum contrato de socie- dade, tendo intervenientes combinado previamente que 0 pro- duto da caga seria dividido entre todos, 0 que, alids, a fébula ndo diz. Posteriormente, 0 ledo quebrou 0 contrato firmado, ficando os, seus s6cios com as expectativas de ganho frustrad: sidade de o Direito intervir, interessando mais a vac: ovelha 0 cumprimento do contrato do que a sua nulidade (° ). Saliente-se 0 aspecto de se partir sempre do pressuposto de que os sdcios do ledo quiseram partilhar dos lucros, nunca se equa- cionando a hipotese de os trés herbivoros nao estarem interessados. na caga (*). E uma primeira pista que se avanga para a andlise a efectuar de seguida, dentro das fronteiras do Direito civil e segundo o plano que se passa a expor. Numa primeira parte, ird focar-se a problematica da sociedade leonina a luz da Hist6ria e do Direito comparado. Comegando por uma breve referéncia ao Direito romano e aos ordenamentos espa- nhol e francés, analisar-se-4 depois com maior detalhe os direitos italiano e alemao. Como no pacto leonino se reflecte em muito a caracterizagao do proprio conceito de sociedade, procurar-se-4 tra- zer A colagio os valiosos contributos dados a esse respeito pelas doutrinas italiana e alema, na medida em que deles resulte um con- tributo para uma melhor compreensao da proibigéo da sociedade leonina. (') Cir, Esopo, Fabulas Completas, Madrid, 1994, 34. @) Cfr. ob. ¢ loc. cits. na nota anterior, (©) Cfr, Christian Miiller-Gugenberger, Bemerkungen zur ‘societas leonina’. Fabel- hhaftes im Gesellschaftsrecht, in Gesetzgebungstheorie, Juristische Logik, Zivil-und Pro- zessrecht | Gedichtnisschrift fir Jurgen Rodig (Hrsg. U. Klug, Th. Ramm, F. Rittner, B. Schmiedel), Berlin / Heidelberg / Nova lorque, 1978, 274 ¢ ss., 278. (*) Cfr. Miller-Gugenberger, ob. ¢ loc. cits., 279.

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