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ic DEPOSITOS E ROCHAS Salat) ae aia oe Paulo César F. Giannini [pds termos conhecido as etapas de erosio, transporte € sedimentacio por varios agen- tes geoldgicos (Caps. 9 13), estudaremos os processos subseqtientes que conduzem a formagao da rocha sedimentar. Da biografia dd grio de quartzo da areia de praia, narrada no Cap. 9, passa a interessar 0 seu destino final: a deposigio. A escolha do quartzo ba- seou-se no fato de se tratar do mineral mais comum, na maioria das praias. Agora que nosso enfoque se volta para depésito sedimentar, torna-se importan- te ressalvar que muitas costas (em torno de 20% delas) slo formadas de sedimentos pobres em quartzo e em outros materiais sedimentares terrigenos (feldspatos, micas ¢ argilominerais) ¢ ricos em minerais de origem alobioguimica € autéctone, de composico quimica principalmente carbonatica (em que podem estar presentes sulfatos, fosfatos, nitratos € sais haldides). Exemplos destas costas ocorrem no Norte da Aus- trilia eno lado atlintico da América Central (Fig, 14.1). No Brasil, ha exemplos de sedimentagio predomi- nantemente carbonstica nas costas da regiio Nordeste. Nas porgdes mais profundas dos oceanos (abaixo do Homer hous mes seme TE seis rte sont TERE Aver de coc Fig. 14.1 Distribuicdo atval de sedimentos marinhos e sua composig6o. O termo vasa desig na de modo genérico um sedimento fino, lamoso. somos 08 Us RORNOS TE ae te ons te) TE erin Entre) TE ppt tnt Hi ow einer HIE ee seat fet +e) pt ee nivel de base de aio das ondas), existe contraste si- milar entre Areas de deposigio predominantemente terrigena ¢ ‘reas carboniticas. As primeiras concen- tram-se na maior parte da margem continental, até a profundidade aproximada de 2.000 m. Abaixo dessa profundidade, até a cota de 4.000 m, a sedimentagio marinha é dominantemente carbonitica, & base de ca- rapacas de foraminiferos plancténicos (globigerinas), exceto nas aguas frias da regio antartica. A cexisténcia de dominios terrigenos e carboniticos de sedimentagio nfo é uma exclusividade dos depé- sitos sedimentares que esto se formando hoje, pois ha bacias sedimentares inativas essencialmente terrigenas ¢ outras essencialmente carbonaticas. Estes dominios alternam-se ainda na dimensio temporal: bacias ou espessas seqiiéncias e tipos especificos de rochas carboniticas desenvolveram-se preferencial- mente em certos intervalos de tempo da historia da ‘Terra (Fig, 14.2). Por essa raz, o registro sedimentar de muitas regides compée-se de uma intercalacio en- tre rochas terrigenas e rochas caleétias. Ser terrigeno ou ser carbonitico: a questiio existencial dos depésitos sedimentares Que fatores determinam o cariter terrigeno ou carbonitico de um depésito sedimentar? O primeiro pas- so para responder a esta pergunta é observar o que as areas de sedimentagio carbonitica moderna possuem em comum. Analisando a dis- tribuigio geogrifica na Fig, 14.1, nota-se que os sitios de deposigio carbonatica costei- ra se concentram em regides de baixa latitude e clima quen- te, A maioria dessas regides possui ainda duas outras ca- racteristicas marcantes: 0 relevo pouco acidentado na firea-fonte e 0 clima relativa- == Relevo tabular sustentado pelos arenitos da Formacéo Tombador, Grupo Chapada Diamantina, Mesoproterozéico. Visto do ‘Morro Pai Indcio, Lengéis, BA. Fotografia: |. Karmann, Carituto 14 + Depositos Rocuas Sepimentares 287 mente seco, Nas fguas mais profundas, a distribuicio dos carbonatos é essencialmente controlada pela tem- pperatura, dai a escassez de vasas de foraminiferos nos ‘oceanos polares. O segundo passo é analisar os pontos em comum das fases pretéritas de intensa deposigio carbonitica Fig, 142). Notaremos que os periodos de maxima se- dimentacio caleéria coincidem com momentos de separagio das placas litosféricas (Cap. 6) € expansio dos oceanos. Desse modo, um dos auges de deposicio mundial de calcarios é o Mesozdico, e em particular, 0 Creticeo, época em que a temperatura dos oceanos teria sido mais elevada, Uma conclusao parcial é que a formagio de caleérios é favorecida pela existéncia de ‘aguas marinhas quentes, sob clima seco. O terceiro passo para responder 4 questo existen- cial acima é analisar a competi¢io entre a chegada de fons ¢ de materiais terrigenos na bacia. A biografia do gro que foi narrada no Cap. 9 ilustrou a variedade intensidade de Processos a que 0 grio terrigeno é obrigado a subme- ter-se, em seu trajeto entre a firea-fonte e a ba- cia sedimentar. Particulas de mine- sais menos estaveis sho parcial ou to- talmente dissolvidas, dando origem, assim, a fons em solugio na ‘agua. Desse modo, ‘0s gros, em sua trajetdria sedimen- tar, no caminham sozinhos, mas acompanhados de fons, que sio a matéria-prima 2mm Reciosisolades, em monseule AR Complesos recto Fonte: James, 1979. para a formacio de depésitos carboniticos, através da precipitagio quimica ou da agio biogénica (Cap. 9), Em qualquer um desses casos, a formagio de cal- cirios depende de uma relacio fons/terrigenos elevada. O porte terrigeno configura obsticulo para a forma- sio de calearios: primeiro, por diluir a importincia da sedimentagio quimica ¢ biogénica; segundo, por tur- ‘vara gua, tornando-a menos propicia para a passagem da luz, €, portanto, para a realizacio da fotossintese por parte de algas e bactérias. Assim, 20 limitar a exis- téncia de vida fotossintetizante ¢ animais bentdnicos associados, a turvacio da agua inibe a atividade bio- construtora ¢ bioindutora. A conclusio é que a formacio de calcirios é favorecida pela escassez de aporte terrigeno, Fatores que controlam o aporte terrigeno (Os fatores que controlam o aporte terrigeno deter- minam a proporcio com que griios e soluto participam no transporte sedimentar ¢, em seguida, no preenchi- mento sedimentar da bacia (Cap. 9). Esses fatores correspondem As condigdes climiticas, tectdnicas, e de proveniéncia sedimentar (rochas fontes). A influéncia do clima resume-se & disponibilidade de gua no estado liquido. A gua em circulagio atra- vvés das rochas-fontes ¢ das acumulagdes sedimentares €0 veiculo fundamental de dissolugio quimica de mi- nerais instveis. Sua aco é catalisada pelo aumento da temperatura, Desse modo, climas quentes ¢ timidos favorecem o intemperismo quimico (Cap. 8) ¢ a libe- ragio de material iénico facilita, na mesma proporcio, © aporte de matéria sdlida fina sob a forma de argilominerais, especialmente se no existir cobertura vegetal que contenha seu deslocamento declive abai- xo. Desse modo, o clima quente timido nio chega a ser particularmente favoraivel A formacio de calcarios 1na bacia sedimentar. Climas secos ou glaciais favore- cem a desintegracio mecinica da rocha-mie, em detrimento de sua dissolucio. Em aguas muito frias, sob climas glaciais, a pouca disponibilidade de ions € a elevada solubilidade do carbonato Fig. 14.2 Distribuigéo dos depésitos carbondticos de recifes de corais e algas oo longo do Fanerozdico, Pe: pré-Cambriano; C: Devoniano; C: Carbonifero; P: Permiano; TR: Triéssico; Paleoceno; Eoc: Eoceno; Oli: Oligoceno; Mio: Mioceno; Pli-Ple: Plioceno e Pleistoceno. ‘ambriano; O: Ordoviciano; $: Siluriano; D: Jordssico; K: Cretéceo; Pal:

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