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ucação e Pssicologia

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Lurdes Cardo
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O
Mayor  (2002),  antigo  director‐geeral  da  UNESCO,  no  prefácio 
M p do
o  livro  de  Edgar 
E
Moriin Os Sete  Saberes paara a Educaação do Futturo, escrev ve que se qqueremos q que a 
Terrra possa satisfazer as  necessidaddes dos serres humanos que a habitam, en ntão a 
socieedade  hum
mana  deverrá  transformmar‐se  e,  nesta 
n evolu
ução  para  aas  modificaações 
fund
damentais d dos nossos estilos de vvida e dos nossos com mportamen ntos, a Educcação 
– no seu sentido mais amp plo – desemmpenha um m papel preponderantte. 

No  seu  livrro,  anteriormente  cittado,  Moriin  (2002)  refere  que  existem  sete 
sabeeres  fundam mentais  que  a  Educcação  do  futuro 
f devveria  tratar  em  quallquer 
socieedade e em
m qualquer cultura, sem m excepçãoo nem rejeiição, segunndo os costu
umes 
e as regras próp prias de caada sociedaade e de cad
da cultura, a saber: 

I. O CON
NHECIMEN
NTO DOS CO
ONHECIME
ENTOS PAR
RA AFRONT
TAR RISCOS 

PERM
MANENTESS DE ERRO E DE ILUSÃ
ÃO PELA LU
UCIDEZ. 

II. OS MÉTODOS QQUE PERMIT
TEM APREEENDER ASS RELAÇÕES MÚTUAS E AS 
UÊNCIAS  RECÍPROCA
INFLU AS  ENTRE
E  PARTES  E  TODO  NUM  MU
UNDO 
COMPPLEXO. 

1 Instituto Politécnic
co de Castelo B
Branco. Escola Superior de Ed
ducação. lurde
es.cardoso@e
ese.ipcb.pt 
CARDOSO, L. (2007) Educação e organização do conhecimento.  In, V. Trindade, N. Trindade 
& A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

III. A  CONDIÇÃO  HUMANA  CUJA  COMPLEXIDADE  E  UNIDADE  DEVEM  SER 


ENCONTRADAS  NA  DIVERSIDADE  DOS  CONHECIMENTOS  E  DOS 
HUMANOS. 
IV. A  IDENTIDADE  TERRENA  FUNDADA  SOBRE  A  HISTÓRIA  DAS 
COMUNICAÇÕES E DA COMUNIDADE DE DESTINO PLANETÁRIO DO SER 
HUMANO: A MORTE. 
V. A  ARTE  DE  ENFRENTAR  AS  INCERTEZAS,  DE  SABER  ESPERAR  NO 
INESPERADO E DE TRABALHAR PARA O IMPROVÁVEL. 
VI. A  COMPREENSÃO  QUE  É  SIMULTANEAMENTE  MEIO  E  FIM  DA 
COMUNICAÇÃO  HUMANA  E  UMA  DAS  BASES  MAIS  SEGURAS  DA 
EDUCAÇÃO PARA A PAZ À QUAL ESTAMOS ASSOCIADOS POR ESSÊNCIA 
E POR VOCAÇÃO. 
VII. A ÉTICA QUE DEVE COMPLETAR A HUMANIDADE COMO COMUNIDADE 
PLANETÁRIA ENRAIZADA NUMA PÁTRIA ‐ A TERRA, E NUMA VONTADE 
DE  REALIZAR  A  CIDADANIA  TERRESTRE,  RECONCILIAÇÃO  SOCIAL  DO 
INDIVÍDUO E DA ESPÉCIE. 

Contudo, o saber científico, no qual se apoia este texto, não é um tratado sobre o 
conjunto  de  matérias  a  ensinar:  ‐  pretende‐se  única  e  essencialmente  expor 
problemas  centrais  que  permanecem  completamente  ignorados  ou  esquecidos  e 
que  são  necessários  para  a  Educação  no  século  XXI,  centrando‐se  a  nossa  breve 
análise apenas no segundo item sobre o conhecimento pertinente, onde as partes 
são solidárias do todo. 

Para Roldão (2005), na conferência Saber Educativo e Culturas Profissionais, a 
discussão  epistemológica  que  atravessa  o  campo  da  Educação,  enquanto  saber, 
merece ser retomada, organizando‐se essencialmente em torno de duas questões 
centrais que certamente irão continuar como eixos do debate futuro: 

1) A  subsidiariedade  ou  a  autonomia  da  Educação  enquanto  campo 


epistemológico, relativamente a outros campos científicos? 
2) A  unidade  (pluri  e/ou  transdisciplinar)  do  campo  epistemológico  da 
Educação  ou  das  Ciências  da  Educação  ou  a  segmentação  em 
especialidades crescentemente divorciadas entre si? 

A ênfase na especificidade de saberes levanta um problema epistemológico, cuja 
complexidade está desintegrada nos nossos sistemas de ensino, pelo que considero 
que  a  ênfase  na  unidade  (pluri  e/ou  transdisciplinar)  deveria  ser  encontrada  na 
diversidade dos conhecimentos e dos seres humanos. 

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CARDOSO, L. (2007) Educação e organização do conhecimento.  In, V. Trindade, N. Trindade 
& A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

DAR A CONHECER O QUE É CONHECER…


CONHECIMENTO  PERTINENTE  versus  CONHECIMENTO  DISCIPLINAR 
FRAGMENTADO  

Não  se  trata  de  responder  a  uma  pergunta  mas  sim  de  analisar  esta 
problematização, começando por subscrever a seguinte afirmação de Edgar Morin: 

«Cada indivíduo contém de forma hologramática o todo do qual faz parte e que 
ao mesmo tempo faz parte de si». 

Enuncia  Morin  (2002)  os  objectivos  de  um  conhecimento  pertinente,  onde  as 
partes são solidárias do todo. Assim, nos nossos sistemas de ensino é necessário: 

1) promover um conhecimento capaz de apreender os problemas globais e 
fundamentais para aí inscrever os conhecimentos parciais e locais; 
2) dar  lugar  a  um  modo  de  conhecimento  capaz  de  apreender  os  objectos 
nos seus contextos, nas suas complexidades e nos seus conjuntos; 
3) desenvolver  a  aptidão natural  da inteligência humana  para  situar  todas 
as suas informações num contexto e num conjunto. 

Assim a Educação deve promover um conhecimento pertinente através de uma 
inteligência geral, de modo a referir‐se ao complexo, ao contexto, de forma multi‐
dimensional e numa concepção global. 

Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os 
problemas  do  mundo  é  necessário  uma  reforma  de  pensamento  capaz  de 
apreender que: 

o conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. Torna‐se 
necessário  situar  as  informações  e  os  dados  no  seu  contexto  para  que  façam 
sentido. 

‐ Por exemplo, a palavra amor muda de sentido num contexto religioso e num 
contexto profano, bem como uma declaração de amor não tem o mesmo sentido de 
verdade se for enunciada por um sedutor e por um seduzido; 

o  global  é  o  conjunto  que  contém  partes  diversas  ligadas  de  forma  inter‐
retroactiva ou organizacional. 

- Por exemplo, a sociedade é um todo organizador do qual fazemos parte; 
a sociedade enquanto todo está presente no interior de cada indivíduo na 
sua linguagem, no seu saber, nas suas obrigações e nas suas normas; 

as  unidades  complexas  como  o  ser  humano  ou  a  sociedade  são 


multidimensionais. 

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CARDOSO, L. (2007) Educação e organização do conhecimento.  In, V. Trindade, N. Trindade 
& A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

- Por exemplo, o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, 
afectivo,  racional,  e  a  sociedade  contém  as  dimensões  histórica, 
económica, sociológica, religiosa, … 

o conhecimento pertinente deve afrontar a complexidade que é a ligação entre a 
unidade e a multiplicidade. 

- Por  exemplo,  existe  complexidade  desde  que  sejam  inseparáveis  os 


elementos  diferentes  constituindo  um  todo,  como  o  económico,  o 
político, o sociológico, o psicológico, o afectivo, o mitológico, … 

Portanto,  a  Educação  deve  promover  um  conhecimento  pertinente  através  da 


inteligência  geral  para  que  os  indivíduos  apreendam  as  inadequações  entre,  por 
um lado, os saberes disciplinares compartimentados e, por outro, as realidades ou 
os  problemas‐chave  do  mundo  que  são  cada  vez  mais  problemas  globais, 
transversais, planetários. 

Ao  contrário  da  inteligência  parcelada,  compartimentada,  disjuntiva, 


reducionista que destrói as possibilidades de compreensão e de reflexão do género 
humano, a inteligência geral conduz a laços de solidariedade planetária e de inter‐
comunicação responsável entre o indivíduo singular e a espécie humana enquanto 
todo,  apelando  a  uma  cidadania  terrestre,  já  que  o  contexto  de  hoje,  político, 
económico, antropológico ou ecológico, é o próprio mundo. 

REFLEXÕES FINAIS
O  excesso  de  especialização  do  saber  científico,  ao  longo  do  século  XX,  acabou 
por  criar  obstáculos  que  impossibilitam  o  exercício  de  um  conhecimento 
pertinente  nos  nossos  sistemas  de  ensino,  pois  a  separação  em  disciplinas 
concentradas em si mesmas impedem ver tanto o global como o essencial. 

Do  ponto  de  vista  epistemológico,  a  cada  período  histórico  corresponde  um 
determinado  ideal  com  as  suas  próprias  limitações  metodológicas,  formais  e 
processuais. No entanto, neste período pós‐positivista e, como racionalista que me 
considero,  sendo  a  Ciência  e  a  Filosofia  as  mais  brilhantes  representantes  da 
racionalidade,  vemos  que  a  Biologia  (que  começou  por  ser  a  minha  formação  de 
base) e o seu campo de investigação molecular uniu saberes da Química, da Física, 
da  Matemática,  …,  levando‐nos  a  ser  optimistas  e  a  pensar  que  a  construção  de 
uma  síntese  teorética  unificadora  dos  saberes,  tida  como  condição  necessária  de 
progresso e de desenvolvimento global, poderá ser viável. 

Em conclusão, dos bifaces/machados dos caçadores‐recolectores do Paleolítico 
aos utensílios técnicos da actualidade, com possibilidade de recorrer à Inteligência 
Artificial,  a  promoção  de  um  conhecimento  pertinente  torna‐se  necessário  à 
apreensão  do  que  significa  ser  humano,  um  ser  simultaneamente  físico,  psíquico, 
histórico  e  antropo‐ético,  capaz  de  reconhecer  o  vínculo  indissolúvel  entre  a 

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CARDOSO, L. (2007) Educação e organização do conhecimento.  In, V. Trindade, N. Trindade 
& A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

unidade  e  a  diversidade  do  género  humano.  Diz  Edgar  Morin  que  devemos 
inscrever em nós: 

- a  consciência  antropológica  que  reconhece  a  nossa  unidade  dentro  da 


nossa diversidade; 
- a  consciência  ecológica,  isto  é,  a  consciência  de  habitar,  com  todos  os 
seres  mortais,  uma  mesma  esfera  viva  (biosfera);  reconhecer  a  nossa 
ligação  consubstancial  com  a  biosfera  conduz‐nos  a  abandonar  o  sonho 
prometeico  do  domínio  do  Universo  para  alimentar  a  aspiração  à 
convivialidade na Terra; 
- a  consciência  cívica  terrestre,  isto  é,  a  da  responsabilidade  e  a  da 
solidariedade para com as crianças da Terra; 
- a  consciência  espiritual  da  condição  humana  que  vem  do  exercício 
complexo  do  pensamento  e  que  nos  permite,  ao  mesmo  tempo, 
entrecriticar, autocriticar e entrecompreender. 

Nesta breve apresentação pretendeu‐se contribuir para a discussão do tema da 
conferência  sobre  A  Unicidade  do  Conhecimento,  partilhando  a  perspectiva  da 
unidade  e  da  diversidade  dos  conhecimentos  na  complexidade  de  tudo  o  que  é 
humano. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Morin,  E.  (2002).  Os  Sete  Saberes  para  a  Educação  do  Futuro.  Lisboa:  Instituto 
Piaget, col. Horizontes Pedagógicos, 87. 

Roldão,  M.  C.  (2005).  Saber  Educativo  e  Culturas  Profissionais.  VIII  Congresso  da 
Sociedade  Portuguesa  de  Ciências  da  Educação  (SPCE):  Cenários  da 
Educação/Formação  –  Novos  Espaços,  Culturas  e  Saberes.  Castelo  Branco: 
Escola Superior de Educação, 7‐9 Abril 2005. 

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