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AI buquerque
entronizado
Confrade
de Honra
e de doçaria. São vários os testamentos : conservas era indústria importante para homem". São vários os testemunhos
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Um dos factores de promoção desta dução local ou com as importações dele existência ou não de açúcar, da sua qual-
indústria ao nível das conservas foi a do Brasil. No Último caso sabe-se que idade dependia a disponibilidade para o
importincia assumida pelo Funchal em 1680 foram importadas 2.575 fabrico destes derivados, que activavam
como porto de escala de abastecimento arrobas para o fabrico de casca. Ali&, de o comércio com as praças do Norte da
para a navegação atlântica. Muitas acordo com uma informação dada ao Europa, donde nos províamos de cereais
embarcações aportavam ai com o intuito governador da ilha, D. António Jorge de e manufacturas. Era uma indústria muito
de se fornecerem de conservas de citri- Melo referia-se que "é a casquinha instAvel, dependendo das possibilidades
nos para a dieta de bordo. Mas, sem neglrcio muito grande porque hh ano de oferta de açúcar brasileiro e da
dúvida, o consumidor preferencial das que se carregam com aquela terra mais procura do produto acabado pelos mer-
conservas e doçaria madeirense era a de 20 embarcações de um $6 doce para cadores europeus. A correspondtncia
Casa Real portuguesa. D. Manuel foi o o qual necessário comprar açlicar da particular de alguns mercadores, como 6
consumidor preferencial e aquele que terra ou manda-lo vir do Brasil". A corre- o caso de Diogo Fernandes Branco e W.
divulgou as qualidades na Europa. Assim spondência & William Bolton refere-nos Bolton, testemunha de forma evidente
ficaram como o principal presente, den- que a conserva de citrinos estava em esta realidade. Diz o último em 7 de
tro e fora do reino, sendo o exemplo grande prosperidade na década de Agosto de 1697: "Pensou-se fazer uma
seguido por Vasco da Gama,que tam- noventa do sCcuto XVII, sendo usada grande quantidade de conserva de citri-
bem ofertou o xeque de Moçambique para o abastecimento das embarcações nos mas muitos fabricantes desistiram
com consetvas da ilha. No período de que demandavam a ilha, ou exportadas por não saberem se os barcos os viriam
1501 a 1561 a Casa Real consumiu para Lisboa, Holanda e França. buscar".
1129 arrobas e 58 barris de açúcar em O fabrico do açúcar começava em São vhrios os testemunhos denunci-
conservas e frutas secas. A par disso o Março mas $6 em Agosto havia dele adores da mestria dos madeirenses no
rei havia estabelecido a partir de 1520 o disponivel para distribuir is conserveiras fabrico destes produtos. Segundo Hans
envio anual de 10 arrobas de conserva que fabricavam a casca e conserva. A Sloane em 1687 o madeirense produzia
para o feitor de Flandres. A indústria
manteve-se por todo o skculo XVII,
suportada com o pouco açiicar da pro-
partir daqui eram mais trinta dias de
árdua tarefa &C que o produto estivesse
diponível para a exportaqão. Da
"açbcar indispensávelaos gastos caseiros
e ao fabrico de doces, indo ainda com-
pra-lo ao Brasil". Dois anos depois John
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Ovington refere a industria da conserva
de citrinos ou cidra que se expottavam
tuiçzo gastou 634.400 reis na compra de
227 arrobas de açúcar e 14 canadas de
partir de 1867 o fabrico de gelo por John
Peyne & Son com Agua das Fontes de
para a França e Holanda. A cidra existia mel. João Dinin tornava mais fácil o fabrico de
em abundância na Ponta de Sol, Ribeira Maior e mais assíduo foi o consumo de sorvetes. Na dkcada de vinte persistem
Brava, Machico e Câmara de Lobos açucar no Convento da Encarnaçáo. Aí, ainda duas Mbricas de gelo que contin-
(Ribeira dos Socorridos}. Um dos princi- de acordo com o registo mensal dos gas- uarão por muito tempo a deliciar a
pais factores de promoção da indústria tos com as compras de produtos para a gulodice dos amantes dos refrescos de
das conservas foi a importância assumi- dispensa do convento pode-se ficar com Verão.
da pelo Funchal como porto de escala de uma ideia da sazonalidade do consumo A sobremesa não se resumia apenas i
abastecimento para a navegação atlanti- da doçaria. No caso deste convento rica doçaria, pois que a ilha desde o
ca. Muitas embarcaçóes apartavam aí destacam-se a Quinta-Feira de começo do povoamento sempre se
com o intuito de se fornecerem de con- Endoenças e o Natal. Nesta Última fes- mostrou terra fértil onde medrava todo o
servas de citrinos para a sua dieta de tividade distribuía-se a cada freira, para a tipo de arvores de fruta. Primeiro foi o
bordo. Mas, sem dúvida, o consumidor Consoada, 8 libras de açúcar. Alem disso domínio daquelas conhecidas na Europa
preferencial das conservas e doçaria parte significativa do açúcar de várias e depois a partir do século XW, as exóti-
madeirense foi, no início, a Casa Real qualidades, era usado para o "tempero cas de África e América. Enquanto as
portuguesa e, depois, as cidades do do comer" e fazer conserva. No total primeiras se anicham nas breas acima
Norte da Europa. despenderam-se 190 arrobas de açúcar dos 300 m de altitude as segundas pref-
No fabrico das conservas e doces vari- por estes vinte e dois anos para um total erem as zonas ribeirinhas e soalheira. A
ados merecem a nossa atenção as freiras aproximado de seis dezena de recolhi- mais antiga referência que temos é da
do Convento de Santa Clara, da das. banana, referida em 1552 por Thomas
Encarnaçáo e Merces. Alias em 1687 Extintos os conventos quase que tam- Michols, mas a lista 6 variedade, incluin-
Hans Sloane referia-se de forma elogiosa bem desapareceu a tradiçso da doçaria. do-se o abacate, ameixas, amoras,
aos doces e compotas que comeu no No skculo XIX a doçaria teve divulgação anonas, goiabas, mangos, ananás, araçb,
Convento de Santa Clara, e ao referir através das pastelarias. Um das mais maracuj6. Esta variedade de frutas sem-
que "nunca vi coisas a o boa". Num famosas foi a Pastelaria Felisberta criada pre servida i mesa na sua época não era
breve relance pelos livros de receita e em 1837 na Rua da Carreira. Também de agrado de todos os forasteiros. Maria
despesa do Convento da Encarnaçáo, ficou dlebre a doçaria da panificação Carlota da Bélgica em 1860 não era
Misericórdia do Funchal e Recolhimento Blandy na rua do Hospital Velho. Uns adepta de bananas, goiabas e maracujás,
do Bom Jesus, constata-se as assíduas anos mais tarde, Isabella de França con- reclamando de um "odor infecto" e um
despesas com a compra de açúcar da ilha tinuava deslumbrada com a cozinha "sabor horrhe!".
ou do Brasil para o consumo interno. A doce da ilha. Nos anos vinte a cidade
Misericórdia do Funchal para além das estava servida de onze confeitarias.
esmolas que recebia em açúcar ou Hoje, o único testemunho que resta Dljr/qa/
marmelada consumia açúcar que com- dessa importante industria do doce
prava. Do primeiro tanto se poderia dar madeirense é o bolo de mel. O alfenim & t ~ v u n /
aos doentes ou vender para fora. Em manteve-o a tradiçáo dos ex-votos das
1636 gastaram-se 6.180 réis na compra festas do espírito Santo na ilha Terceira,
de 3 arrobas de açúcar para os doces da Único local onde ainda persiste esta DA COPA A TABERNA. Os líquidos
procissão das Endoenças. Ademais são tradição. também corriam nas fartas mesas. O
conhecidas outras despesas na compra No século XIX eram também muito vinho era permanente na raçio di6ria
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sobriedade dos madeirenses no con-
sumo de bebidas alcoólicas. No ~rinciriio
lo nosso skculo a do fab-
ico de aguardente e a abundincia con-
duziram ao despoletar do consumo
desta bebida. O consumo foi de tal
forma elevado que a Madeira recebeu o
epíteto de ilha da aguardente. A situ-
ação reportou inegáveis prejuizos para a
saúde pública pelo que se tomaram
medidas limitativas do consumo. De
cord do com Rodolfo Schultze em 1864
is madeirenses tinham preferencia pelo
consumo de vinho misturado com água
ou ceweja.
Consumia-se ainda cerveja, ginger-
beer (limonada de gengibre) e Agua
mineral. No século XIX os ingleses viriam
a alterar o hábito ao introduzirem a
cerveja. A primeira fhbrica foi implanta-
da na ilha por João Park em 1840, a que
se sucederam outras na década de
cinquenta, como foi o caso da de
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:Pode-se afirmar que a Madeira viveu
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situação levou Rui Nepomuceno (1994)
a afirmar que as crises de subsistência
foram a constante mais destacada da
História da Madeira.
No século XX as dificuldades nio
desaparecem. A crise econbmica das
décadas de vinte e trinta reflectiu-se na
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dieta alimentar dos funchalenses e
provocou a tão celebrada revolta da far- 0&cwea&pw&mhqíe60Zrmfcwmhpáb
inha em Fevereiro de 1931. Mesmo O W d . i $ % # da
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assim as maiores dificuldades estavam
para acontecer no período da segunda
, guerra mundial. As dificuldades foram parece uma situação irresolúvel. Os de trigo e 41,6 de milho. Isto resulta do
redobradas na década de cinquenta. A limitados recursos da ilha em contraste facto de o homem do campo poder dis-
i ilha apenas produzia 11% do trigo e com o surto demogrdfico são os por de outros suplementos alimentares
6,4% do milho consumido na ilha, o que responsáveis da situação Na década de fruto da sua actividade agrícola.
agravava a dependgncia ao mercado cinquenta a ilha tinha necessidade de A actual cutinAria madeirense é
estrangeiro e nacional. Ramon Honorato importar mais de quarenta mil tone- herdeira da tradição cultural dos colonos
Correa Rodrigues (1953-1955) db conta ladas de cereais. De acordo com os val- europeus, das apartações dos forasteiros
do quadro pouco animador da alirnen- ores disponíveis a ilha necessitava de e rotas marítimas. Os cereais perduram
' tação madeirense, nomeadamente do importar mais de 90% do milho e far- sob a forma de pão ou diferentes formas
meio rural, sendo not6rio o deficit de inhas consumidos. A drstribuição do de cozinhado. O milho conhece-se hoje
I proteínas, gorduras e calorias. No perío- consumo variava entre a cidade e o mais como frito do que como papas. A
do a incidhcia dos produtos da dieta campo, assim de acordo com a capi- batata persiste na mesa. E a sobremesa
alimentar estava na batata, batata-doce tacão anual o funchalense consumia é hoje a mais requintado e rica, quer em
i e no milho. 110 kg de trigo por ano e 80,5 de aromas e sabores. Tudo isto e obra da
'
A dependência alimentar da ilha milho, já no meio rural rondava os 43 Natureza e do Homem.