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O EVANGELHO DE LUCAS

EM RIMAS TOANTES

Versificação
de
Cacildo Marques

São Paulo - 1994


O EVANGELHO DE LUCAS EM RIMAS TOANTES

Versificação de Cacildo Marques

I) PRÓLOGO E O NASCIMENTO DE JESUS

1. NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA


Prólogo (1); Anúncio do nascimento do precursor (5);
Anúncio do nascimento de Jesus (26); Maria visita Isabel
(39); Magnificat (46); Nascimento de João Batista (57)

1Visto que antes de mim


Muitos já empreenderam
Ordenar em narração
As coisas que sucederam,
2Conforme a nós referiram

Os que as viram ocorrer

E ministros da palavra
Tornaram-se desde então,
3Depois de investigar tudo,

Entendi que era importante


Também te escrever em ordem
A presente narração,

Meu caríssimo Teófilo,


4Para que conheças bem
A solidez da verdade
Daqueles ensinamentos
Que te foram transmitidos,
Conforme todos sabemos.

5Nostempos do rei Herodes,


Na Judeia, havia ali
Um sacerdote chamado
Zacarias, da ala Abias,
Casado com Isabel
Que de Arão descendia.

6Justos diante de Deus,


Seguiam aqueles dois,
Irrepreensivelmente,
Os preceitos do Senhor.
7Não tinham filhos, porquanto

Isabel estéril fosse,

2
Além de que ambos tinham
Idade já avançada.
8Eis que estando Zacarias

Nas funções sacerdotais


9Coube-lhe pelo sorteio

A sua vez de incensar.

10Toda a multidão do povo


Estava fora do templo
A orar quando ele entrou
Para cuidar do incenso.
11À direita do altar

Ele, naquele momento,

Viu um anjo do Senhor


De pé, posto ali ao lado.
12Zacarias, temeroso,

Deixou-se então perturbar.


13Mas o anjo o acalmou,

Dizendo-lhe estas palavras:

"Não temas, ó Zacarias,


Porque a tua oração
De todo foi atendida:
Isabel agora é sã;
Ela te dará um filho
A quem tu chamarás João;

14"Será para ti motivo


De gozo e de alegria,
E muitos se alegrarão
Neste que terá nascido;
15Pois será ante o Senhor

Muito grande este teu filho;"

"Ele não beberá vinho


Nem bebida inebriante
De qualquer outra espécie;
Será do Espírito Santo
Repleto já desde o início
No seio de sua mãe,"

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16Edos filhos de Israel
Reconduzirá milhares
De volta para o Senhor,
Seu Deus. 17E o precederá
Com o poder e o espírito
De Elias, para levar"

"Os corações desses pais


Aos seus filhos, e os rebeldes
Aos sentimentos dos justos,
Para preparar na fé
Um povo assaz bem disposto
Dedicado ao Deus dos céus."

18Zacarias disse ao anjo:


"Como conhecerei isso?
Pois minha esposa é idosa
E outro tanto eu já vivi."
19Mas o anjo, respondendo,

Naquele momento disse:

"Eu sou o anjo Gabriel,


Que assiste diante de Deus;
Fui enviado a falar-te
E a boa-nova trazer-te.
20Eis que tu ficarás mudo

Até que essas coisas vejas,"

"Visto que tu duvidaste


Das palavras que eu te disse,
As quais no seu tempo certo
Em verdade hão de cumprir-se."
21No entanto, o povo lá fora

Esperava Zacarias;

E se admirava muito
De ele se demorar tanto.
22E ao sair estava mudo,

Vinha apenas acenando,


Dando a entender que lá dentro
Tinha tido uma visão.

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23Assim que viu terminados
Seus dias de ministério,
Retirou-se para casa.
24Dias depois, Isabel

Concebeu e ocultou-se
Por cinco meses. Disse ela:

25"Assim tratou-me o Senhor


Quando quis eliminar
Nestes tempos entre os homens
De minha vergonha a causa."
26Ora, eis que no mês sexto

O anjo por Deus foi mandado.

Gabriel foi à cidade


De Nazaré, Galileia,
27Para falar a uma virgem

Noiva do moço José


Da casa do rei Davi;
Maria era o nome dela.

28Vindo a ela, disse o anjo


Em saudação de louvor:
"Salve, ó cheia da Graça,
Contigo está o Senhor."
29Ela, ouvindo essas palavras,

Perturbada se mostrou.

30O anjo disse-lhe então:


"Não tenhas medo, Maria,
Pois apareceste em graça
Ante Deus, que te assistiu;
31Eis que tu conceberás

E darás à luz um filho."

"Tu o chamarás Jesus.


32Eleserá muito grande,
Chamado Filho do Altíssimo,
E Deus lhe dará em mãos
O trono do rei Davi,
Seu pai, e a partir de então"

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33"Sobre a casa de Jacó
Reinará eternamente,
Seu reino não terá fim,
Será para todo o sempre."
34Maria então dirigiu-se

Ao anjo e foi-lhe dizendo:

"Como ocorrerá tal coisa


Se ainda hoje sou virgem?"
35Disse-lhe o anjo em resposta:

"Repousará sobre ti
De Deus o Espírito Santo,
A virtude do Altíssimo"

"Cobrir-te-á com sua sombra


E o que de ti nascerá
Por santo e Filho de Deus
É como será chamado.
36Vê: tua prima Isabel

Na velhice ficou grávida."

"Ela, que era dita estéril,


Está já no sexto mês,
37'Pois a Deus nada é impossível'."
38Disse então Maria: "Eis

A serva do Senhor. Cumpra-se,


Pois, a palavra de Deus."

O anjo então retirou-se.


39Maria, alguns dias mais
Foi com pressa às montanhas,
A uma cidade em Judá.
40Na casa de Zacarias

Foi com Isabel falar.

41Assim que Isabel ouviu


A saudação de Maria
Tomou do Espírito Santo,
No seio exultou-lhe o filho,
42E ela exclamou em voz alta

Nesse momento em que disse:

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"Bendita és entre as mulheres
E bendito é do teu ventre
O fruto. 43E donde esta dita,
Que a mãe do Senhor me venha
Visitar em minha casa,
Tanta alegria trazendo?"

44"Pois,assim que a saudação


De tua boca me veio
De alegria o meu menino
Logo exultou no meu seio.
45Ditosa quem no Senhor

E em suas promessas creu."

46E Maria disse então:


"'Minha alma a Deus glorifica'
47E o meu espírito exulta

No Senhor, pela alegria,


48Pois 'meu Salvador olhou

Para sua serva humilde'."

"As gerações que virão


Hão de me chamar ditosa,
49Pois o Todo-Poderoso

Fez em mim coisas grandiosas.


'Santo é o nome de Deus
50E grande a misericórdia'."

51"'Pôsa força de seu braço


Contra os soberbos e vis.
52Derrubou os poderosos

E exaltou o povo humilde;


53Encheu as mãos dos famintos'

E esvaziou as dos ricos."

54"'Socorreu a Israel,
Seu servo, não se esquecendo
De sua misericórdia,
55Conforme aquilo que sempre

Predissera a nossos pais',


A Abraão e descendência."

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56Por cerca de mais três meses
Esteve Maria lá
Morando com Isabel,
Depois voltou para casa.
57E para Isabel então

De um menino deu-se o parto.

58Seus vizinhos e parentes,


Sabendo do benefício
Foram com ela alegrar-se
Pelo menino nascido.
59Vieram circuncidá-lo

Na altura do oitavo dia.

O nome de Zacarias,
O mesmo nome do pai,
É o que queriam lhe dar,
60Mas a mãe disse, ao contrário:

"João deve ser o seu nome,


É como há de chamar-se."

61Então os outros disseram:


"Mas não há dos teus parentes
Alguém que tenha esse nome!"
62Perguntando por acenos

Consultaram Zacarias,
Que respondeu escrevendo.

63Pedindo uma tabuinha


Escreveu: "João é o nome."
E todos ficaram pasmos.
64Zacarias, nesse ponto,

Falou, bendizendo a Deus,


65E causando grande assombro.

66E a montanha da Judeia


Toda contava esses fatos.
E os que escutavam tais coisas
Pensavam, no coração:
"Quem será esse menino?"
A mão de Deus ali estava.

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67E Zacarias, seu pai,
No Espírito Santo imerso,
Profetizou nestes termos:
68"Bendito o Deus de Israel,

Bendito seja o Senhor,


Que ao seu povo fez liberto."

69"E deu-nos um Salvador


Poderoso, da linhagem
De Davi, seu servidor,
70Conforme já anunciara

Pela boca dos profetas


Que viveram no passado;"

71"Para nos livrar, por fim,


Do alcance dos inimigos,
Das mãos dos que nos odeiam.
72Na misericórdia tida

Ante nossos pais, lembrou-se


Da aliança instituída."

73"Lembrou-se do juramento
Feito a Abraão, nosso pai,
De concedermos que, estando
74De inimigos libertados,

Possamos servi-lo sempre,


Sem temor e em santidade,"

75"Em justiça e sob o olhar


Do Senhor, todos os dias.
76E tu, filho, meu menino,

Um profeta do Altíssimo
É como serás chamado
Por aqueles que te virem;"

"'Precederás o Senhor
Preparando os seus caminhos',
77Ensinando ao povo a senda

Da salvação e do fim
De todos os seus pecados;
E tudo será assim"

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78"Graças à misericórdia
Eterna de nosso Deus,
Que trará o Astro nascente
79Para iluminar os seres

Das trevas e umbrais da morte,


E dar-nos a paz perfeita."

80Alicrescia o menino,
Robustecido no espírito;
Depois morou no deserto
Até ver chegar o dia
De vir a manifestar-se
A Israel, como devia.

2. NASCIMENTO DE JESUS
Nascimento de Jesus (1); Pastores no presépio (8);
Circuncisão e apresentação no templo (21); 'Nunc dimittis'
(29); A profetisa (36); Jesus entre os doutores (41)

1Ordem de César Augusto


Fez divulgar um edito
Pelo recenseamento
Do Império, naqueles dias;
2O primeiro, com Quirino

Tendo o governo da Síria.

3Foram registrar-se todos


Cada qual em sua cidade.
4José foi de Nazaré,

Galileia, à que é chamada


Belém, por ser de Davi
E ele pertencer à casa.

5Foi fazer o seu registro


Com sua esposa, Maria,
Que se achava então grávida
De seu filho prometido.
6Eis que o tempo completou-se

E ela deu à luz ali.

7Teve o filho primogênito,


Em faixas o enrolou
E o colocou em seguida
Dentro de uma manjedoura,
Por não haver mais lugares
Nas salas interiores.

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8Havia na região
Uns pastores que de noite
Montavam guarda aos rebanhos.
9Eis que um anjo do Senhor

Apareceu-lhes e a glória
De Deus os iluminou.

Tiveram grande temor,


10Porém o anjo lhes disse:
"Não temais, que a boa-nova
É o que eu vos anuncio.
Será para todo o povo
Causa de imensa alegria."

11"Na cidade de Davi


Nasceu hoje um Salvador
Vosso, que é o Senhor, o Cristo.
12Este sinal eu vou dou:

Um menino envolto em panos


Vereis numa manjedoura."

13De súbito, uniu-se ao anjo


Uma multidão descida
Dos exércitos celestes,
Que, louvando a Deus, dizia:
14"Glória a Deus no alto dos céus

E paz aos homens benignos."

15Depoisque os anjos se foram,


Subindo de volta ao céu,
Os pastores entre si
Diziam:"Vamos até
Belém, para que vejamos
Como ocorreu e o que é"

"Que o Senhor trouxe do alto


Para nos manifestar."
16Foram então com toda a pressa,

E lá chegando encontraram
José, Maria e o menino
Na manjedoura deitado.

11
17Depois que viram, contaram
Sobre o que ouviram antes,
18Deixando maravilhados

Aos que os iam escutando.


19Maria a tudo guardava

Dentro do seu coração.

20Ospastores retornaram
Glorificando e louvando
A Deus pelo que foi visto
E ouvido, conforme o anjo
Tinha-lhes anunciado
Durante a aparição.

21Acircuncisão foi feita


Ao chegar o oitavo dia
E ao menino deu-se o nome
De Jesus, conforme havia
Já anunciado o anjo
Quando visitou Maria.

22Ecompletados os dias
Para a purificação
Levou-se a Jerusalém
O menino, como manda
A Lei de Moisés, e deu-se
A sua apresentação

Ao Senhor, 23como se encontra


Escrito na Lei de Deus:
"Todo varão primogênito
Consagrado deve ser
Ao Senhor." E neste ato
24Deviam oferecer

Como sacrifício a Deus


Um par de rolinhas ou,
Em seu lugar, dois pombinhos,
Tudo isso de acordo
Com o que ficou escrito
E está na Lei do Senhor.

12
25Havia em Jerusalém
Por nome de Simeão
Um homem justo e piedoso
Que, junto ao Espírito Santo,
Para Israel esperava
A plena consolação.

26Revelou-lhe o próprio Espírito


Que ele antes de morrer
Teria de estar um dia
Perante o Cristo de Deus.
27Pelo Espírito impelido

Foi ao Templo nesta vez;

Quando o menino Jesus


Com os pais chegou ao templo
Cumprindo as normas da Lei,
28Simeão, rapidamente,

Agradecido o embalou
Nos braços, e foi dizendo:

29"Agorapodes deixar,
Senhor, o teu servo ir-se
Em paz, segundo a promessa
Que antes veio de ti;
30Porque 'a tua salvação'

Os meus olhos enfim viram,"

31"Esta que tu preparaste


'Visando todos os povos:
32Uma luz para as nações'

E que iluminou a nós,


O teu povo de Israel,
Trazendo-nos grande glória."

33Pai e mãe admiravam-se


Com as coisas que diziam.
34Simeão abençoou-os

E disse então a Maria:


"O menino é destinado
A fazer muitos ruírem"

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"E a outros reaparecerem
Em Israel, e será
Alvo de contradições.
35E a ti mesma uma espada,

A desvelar corações,
Virá transpassar a alma."

36Havia também ali


Ana, uma profetisa,
A filha de Fanuel,
Da tribo de Aser; vivia
Já com idade avançada;
Teve antes um marido

Com quem viveu sete anos,


37Viúva permanecendo
Até os oitenta e quatro.
Não se afastando do Templo
Servia a Deus com jejuns
E orações, diariamente.

38Chegando nesse momento,


Pôs-se também a louvar
A Deus e sobre o menino
Falar aos que esperavam
Ver um dia em suas vidas
Jerusalém libertada.

39Cumprido assim o disposto


Na lei do Senhor, partiram
De regresso a Nazaré.
40Lá o menino crescia

Tendo os favores dos céus


Em graça e sabedoria.

41Seus pais tinham por costume


Anualmente, na Páscoa,
A Jerusalém subir
E da festa tomar parte.
42Tendo o menino doze anos

levaram-no até lá

14
43Mas o Menino Jesus
Não voltou na comitiva
44E os pais, julgando-o presente,

Buscaram-no após um dia


Pensando poder achá-lo
Entre parentes e amigos.

45Não o encontrando então,


A Jerusalém voltaram.
46E após três dias de busca

Foram no templo encontrá-lo


A interrogar e ouvir
Entre os doutores sentado.

47Todos aqueles que ouviam


Estavam maravilhados
Devido à sabedoria
E pelas respostas dadas.
48Os pais assim que o viram

Mostraram-se estupefatos.

Sua mãe disse: "Meu filho,


Por que assim procedeste?
Procurávamos por ti,
Aflitos, teu pai e eu."
49Ele, respondendo, disse:

"Procuráveis-me por quê?"

"Não sabíeis vós que eu devo


Estar na casa do Pai?"
50Eles porém não souberam

Compreender as palavras
Que o menino lhes dissera,
E os três dali se afastaram.

51ANazaré com os pais


Desceu e era-lhes submisso.
Sua mãe guardava tudo
No coração. 52E crescia
Jesus 'ante Deus e os homens
Em graça' e sabedoria.

15
II) PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO

3. BATISMO DE JESUS
Pregação de João Batista (1); Batismo
de Jesus (21); Genealogia de Jesus (23)

1Nodécimo quinto ano


Do reinado de Tibério
César, com Pôncio Pilatos
A governar a Judeia,
Herodes como tetrarca
Da terra da Galileia,

Sendo seu irmão Felipe


Tetrarca da Traconítide
E da Itureia, e Lisâneas
Detentor da tetrarquia
De Abilene, 2sendo Anás
E Caifás os pontífices,

O filho de Zacarias,
João, recebeu no deserto
A palavra do Senhor,
3E então foi por toda a terra

Do Jordão, pregando a todos


O batismo que converte,

4Pois assim está escrito


No livro de Isaías:
'Voz do que clama em desertos,
Preparai de Deus a trilha,
Endireitai suas sendas,
5Vales sejam preenchidos,'

'Montes sejam abaixados,


Tortas vias se endireitem
E escabrosas fiquem planas,
6E sendo tudo assim feito

Todo homem poderá


Ver a salvação de Deus!'

7Eà crescente multidão


Que até ali acorria
Para ganhar o batismo
Dizia: "Raça de víboras,
Quem da cólera iminente
Ensinou-vos a fugir?"

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8"Produzi, pois, frutos dignos
De uma real conversão
Em vez de apenas dizer:
Temos por pai Abraão!
Filhos de Abraão Deus pode
Fazer das pedras do chão."

9"Pois o machado se encontra


Já posto à raiz das árvores
E as que não derem bom fruto
Ao fogo serão lançadas."
10Perguntava a multidão:

"Em que havemos de mudar?"

11Ele então lhes respondia:


"Quem duas túnicas tem
Dê uma ao que não tem nada,
E reparta os mantimentos."
12E vieram publicanos

A batizar-se também.

Perguntaram-lhe: "Ó mestre,


O que devemos fazer?"
13Disse ele: "Não exijais

Nada além do escrito em lei."


14E uns soldados perguntaram:

"Como vamos proceder?"

A esses respondeu ele:


"Não pratiqueis violência
Com ninguém, nem denuncieis
A qualquer um falsamente;
Contentai-vos com o soldo
Que vos serve de sustento."

15Estando na expectativa
O povo, em seu coração,
Perguntava-se a si próprio
Se não seria João
O próprio Cristo de Deus,
16Mas João respondeu então:

17
"Eu batizo-vos com água,
Mas em breve vos virá
Um mais forte do que eu,
E desse de quem vos falo
Não sou digno de afrouxar
As correias das sandálias."

"Ele vos batizará


No Espírito Santo e em fogo.
17Tomará nas mãos a pá

Com que limpará de todo


Sua eira, para o trigo
No seu celeiro dispor."

"Mas num fogo inextinguível


Ele queimará a palha."
18Com exortações assim,

Ao seu povo ele ensinava.


19Porém o tetrarca Herodes,

Que foi ali reprovado

Por viver com Herodíades,


Mulher de seu próprio irmão,
20Entre os crimes praticados

Acrescentou outro tanto:


Providenciou decreto
Para encarcerar João.

21Eis que batizados todos,


Jesus também batizou-se
E estando ali a orar
22Desceu na forma de um corpo

De pomba o Espírito Santo


Sobre ele, e ouviram todos

Chegar do céu esta voz:


"Tu és o meu filho amado;
És motivo de alegria,
Pois em ti eu me comprazo."
23Tinha Jesus trinta anos

Quando lançou-se a pregar.

18
E ele, segundo julgavam,
De José era um dos filhos,
E tinha por ascendentes
Heli, Matat, 24de Levi
E Melqui, filho de Jane,
De José, 25de Matatias,

Filho de Amós, de Naum,


Hesli, de Nagé, 26de Maat
Matatias e Semei,
José, filho de Judá,
27De Joanan, de Resa, filho

De Zorobabel e mais

De Salatiel, Neri,
28De Melqui, filho de Adi,
De Cosan, Elmadan, Her,
29De Jesus, Eliezer, filho

De jorim, Matat, e este,


Por sua vez, de Levi,

30DeSimeão, De Judá,
De José, de Joanan
De Eliaquim, 31de Meléa,
Mena, Matata, Natan,
Davi, 32filho de Jessé,
Obed, Booz, da geração

De Salmon, de Naasson,
33De Aminadab, de Arão,
De Esron, de Farés, Judá,
34Jacó, Isaac, Abraão,

De Taré, Nacor, 35Sarug,


Razan, Faleg, e então

De Heber, Sale, 36Cainan,


Arfaxad, de Sem, Noé,
Lamec, 37de Matusalém,
Henoc, Jared, Malaleel,
De Cainan, 38de Henós, de Set,
De Adão, filho de Javé.

19
4. JESUS É TENTADO NO DESERTO
Jesus é tentado no deserto (1); Jesus na
Galileia (14); Curas em Cafarnaum (31)

1Pleno do Espírito Santo,


Jesus partiu do Jordão,
E o Espírito conduziu-o
Ao deserto, onde 2durante
Quarenta dias esteve
Frente ao diabo e à tentação.

Nada comeu nesses dias,


Tendo fome depois disso.
3O demônio disse então:

"Se és tu filho de Deus, dize


Agora mesmo a esta pedra
Que em pão seja convertida."

4Jesus disse: "Está escrito:


'Não só de pão vive o homem'."
5O diabo então levou-o

Dali para um alto monte,


Mostrou-lhe todos os reinos
Da Terra, em todo o horizonte,

6E disse-lhe: "Vou te dar


O poder de tudo isto,
Toda a glória destes reinos;
Tudo me foi dado um dia
E eu o dou a quem eu queira
Conforme eu mesmo decida."

7"Tudo isto será teu,


Se aceitares adorar-me."
8Jesus disse: "Está escrito:

'Ao Senhor Deus renderás


Adoração e a ele,
Só a ele, servirás'".

9Levou-o então o diabo


A Jerusalém e no alto
Do Templo disse-lhe: "Lança-te
Deste ponto para baixo,
Se tu és filho de Deus,
10Pois sabes que escrito está:

20
"'Ele ordenará aos anjos
Para virem te guardar'."
11E ainda: "'Com as próprias mãos

Eles virão te amparar


Para que em nenhuma pedra
Tu venhas a tropeçar'".

12Mais uma vez Jesus disse:


"Está dito: 'Ao Senhor,
Teu Deus, tu não tentarás'."
13O diabo vendo esgotadas

As formas de tentação,
De perto dele afastou-se.

III) MINISTÉRIO DE JESUS NA GALILEIA

14Pela potência do Espírito


À Galileia voltou
Jesus e por todo lado
Sua fama propagou-se.
15Nas sinagogas falava

E era aplaudido por todos.

16Eisque vindo a Nazaré,


Onde se tinha criado,
E indo como de costume
À sinagoga, num sábado,
Levantou-se para ler
O volume apresentado.

17Era o livro de Isaías


E ao abri-lo deparou
Com a passagem que diz:
"'O Espírito do Senhor
Está posto sobre mim,
Com óleo me consagrou'"

18"'E me pôs a anunciar


A boa-nova aos humildes,
A liberdade aos escravos,
Aos cegos o dom da vista,
Aos oprimidos a graça,
19E o ano santo instituir'."

21
20Tendo enrolado o volume,
Deu-o ao ministro e sentou-se,
E na sinagoga os olhos
Fixos nele estavam todos.
21Ele a todos contemplando,

Nesse momento falou:

"Cumpriu-se hoje esta Escritura


Que vós acabais de ouvir."
22Todos se maravilhavam

com tudo o que ele dizia


E entre si se perguntavam:
"De José não é este o filho?"

23Eleentão lhes respondeu:


"Por certo direis o adágio:
- Médico, a ti mesmo cura-te;
Quanto ouvimos que tu andaste
Fazendo em Cafarnaum,
Faze aqui na tua pátria.-"

24Ele,
porém, prosseguiu:
"Eu em verdade vos digo:
Nenhum profeta é aceito
Em sua terra. 25E afirmo
Que havia muitas viúvas
Em Israel, junto a Elias,"

"Quando o céu ficou fechado


Por três anos e seis meses
E houve fome em toda a Terra.
26Porém, Elias não teve

A missão de dar socorro


Àquelas das redondezas,"

"Mas a uma só viúva


Lá em Sarepta de Sídon.
27E também de Eliseu, muitos

Leprosos de Israel criam


Que teriam cura e só
Naaman, sírio, conseguiu-o."

22
28Ao ouvir estas palavras,
Todos se encheram de ira;
29Expulsaram-no, levando-o

Da cidade ao precipício.
30Mas, passando em meio a eles,

Jesus seu rumo seguiu.

31Saindo dali, Jesus


Desceu a Cafarnaum,
Galileia, e lá ensinava
Nos sábados de costume.
32Criam nele, porque tinha

Autoridade incomum.

33Estava na sinagoga
Um homem que, possuído
Do demônio, exclamava:
34"Que temos a ver contigo,

Ó Jesus de Nazaré?
Vieste nos destruir?"

"Ora, eu sei quem tu és,


És tu o Santo de Deus."
35Jesus, repreendendo-o, disse:

"Cala-te já e sai dele!"


O homem foi ao chão, sem mal;
Foi-se o imundo de uma vez.

36Todos se encheram de pasmo


E uns aos outros perguntavam:
"Que significa isto?
Ordena com autoridade
Aos espíritos imundos,
E eles, sem demora, saem?"

37E sua fama estendia-se


Por aquela região.
38Ao sair da sinagoga,

Foi à casa de Simão,


Cuja sogra estava enferma,
Com febre alta, e então

23
Pediram-lhe em favor dela.
39Elesobre ela inclinou-se
E mandou, com autoridade,
Que aquela febre se fosse.
Logo a mulher os servia:
A febre se dissipou.

40Ao pôr-do-sol, vinham muitos


Trazendo-lhe seus enfermos.
Jesus, com as mãos, curava-os.
41"Tu és o filho de Deus!",

Gritavam alguns demônios


Que eram expulsos por ele.

Mas Jesus repreendia-os


Severamente, e proibia-os
De continuar falando
Aquilo que conheciam,
Para que não revelassem
Que ele era mesmo o Cristo.

42Quando amanheceu o dia,


Foi para um lugar deserto.
O povo logo buscou-o
Querendo tê-lo por perto.
43No entanto, disse-lhes ele:

"É necessário que eu leve"

"A boa-nova do reino


De Deus a outras cidades,
Pois para isso é que eu vim;
Para tal fui enviado."
44E andando pela Judeia,

Nas sinagogas pregava.

5. OS PRIMEIROS DISCÍPULOS
Pesca milagrosa (1); Os primeiros discípulos (8);
Cura dos leprosos (12); O paralítico (18);
Vocação de Levi (27); O jejum (33)

1Certo dia, para ouvi-lo


A multidão comprimia-se,
Estando ele junto ao lago
De Genesaré, e ali
2Viu duas barcas paradas,

Sem seus donos, que saíram.

24
Eles tinham-se afastado
Para lavar suas redes.
3Entrando numa das barcas,

A de Simão, pediu ele


Que a afastasse da terra,
No que Simão o atendeu.

Sentando-se ele na barca


Ensinava a multidão.
4Quando cessou de falar,

Dirigindo-se a Simão,
Disse-lhe: "Faze-te ao largo
E lança as redes então."

5Simão respondeu-lhe: "Mestre,


Toda a noite trabalhamos
Sem conseguir pegar nada,
Mas, como agora tu mandas,
Lançarei de novo as redes."
6E assim fizeram, portanto.

E foi tal a quantidade


De peixes vindo nas redes,
Que elas quase se rompiam.
7Chamaram os companheiros

Para os virem ajudar


A apanhar aqueles peixes.

Estes vieram, e encheram


De tal modo ambos os barcos
Que quase se iam afundando.
8Simão Pedro, ao ver tais fatos,

Caiu aos pés de Jesus,


De joelhos, a falar:

"Senhor, deves afastar-te,


Pois sou homem pecador."
9De fato, ele se espantava,

Tanto ele como os outros,


Pela grande quantidade
De peixes que apanhou.

25
10Pois o mesmo sucedera
Também a Tiago e João,
Os filhos de Zebedeu,
Que eram sócios de Simão.
Mas a Simão Jesus disse:
"Não temas, de hoje em diante"

"Ficarás a pescar homens."


11E depois de conduzirem
Seus barcos para guardá-los
Num lugar em terra firme,
Decidiram deixar tudo
E a Jesus então seguiram.

12Esucedeu que Jesus,


Estando numa cidade,
Coberto de lepra um homem
Viu chegar e suplicar:
"Ó Senhor, se tu quiseres,
Eu sei que podes curar-me."

13Jesus, estendendo a mão,


Tocou-o, dizendo: "Quero,
Sê limpo." E de imediato
Desapareceu a lepra.
14Depois Jesus ordenou-lhe

Que a ninguém nada dissesse.

E disse: "Mas vai agora


Ao sacerdote, e oferece
Por tua cura o que foi
Ordenado por Moisés,
Para que de testemunho
Sirva-lhes a tua oferta."

15Entretanto a sua fama


Crescia entre as multidões,
Que acorriam para ouvi-lo
E curar as aflições.
16Mas ele se isolava

Para fazer orações.

26
17Aconteceu certo dia
Que, enquanto Jesus falava,
Mestres da lei e fariseus
Achavam-se ali sentados,
Vindos das povoações
De todos aqueles lados,

Da Galileia, Judeia,
Jerusalém e outros mais.
E o poder divino estava
Em Jesus para curar.
18Então, carregando um leito,

Eis que alguns homens chegaram.

Sobre o leito que traziam


Achava-se um paralítico
E na casa muito cheia
Tentavam introduzi-lo
Para levá-lo a Jesus,
Mas não conseguiam isso.

19Dali, subindo ao telhado,


Tiraram algumas telhas
E, diante de Jesus,
Desceram com aquele leito.
20Vendo a fé que os animava,

Jesus falou ao enfermo:

"Homem, são-te perdoados


Desde já os teus pecados."
21Mas os fariseus e escribas

Discutindo, perguntavam-se:
"Quem é este que blasfema?
Só Deus perdoa pecados!"

22Jesus, porém, conhecendo,


O pensamento dos homens,
Disse-lhes: "Que pensais vós
Nesses vossos corações?
23O que é mais fácil dizer:

- Eu concedo-te perdões -"

27
"Ou - levanta-te e caminha -?
24Poisbem, para que saibais
Que o Filho do homem tem
Na terra o poder de fato
Para perdoar pecados,
Digo (disse ao acamado):

"Levanta-te, pega o leito


E vai para tua casa."
25Levantando-se ante todos

Saiu a glorificar
Ao Senhor, 26e então os outros
Ficaram estupefatos.

Glorificaram a Deus
E disseram temerosos
Sem esconder seu assombro:
"O que aqui vimos nós
Acontecer nesta casa
Foram coisas prodigiosas."

27Depois disso saiu ele


E viu na coletoria
O publicano Levi.
"Segue-me." Jesus lhe disse.
28Levi então deixou tudo,

Levantou-se e o seguiu.

29Em seguida ofereceu-lhe


Um grande banquete em casa
E diversos publicanos
Com eles lá se encontraram.
30Os fariseus e os escribas

Passaram a murmurar.

E diziam aos discípulos


De Jesus:"Por que comeis
E bebeis com publicanos
E outros de vida suspeita?"
31Jesus disse: "Cuida o médico

Não dos sãos, mas dos enfermos."

28
32Não vim por causa dos justos,
Mas, bem diferentemente,
Vim chamar os pecadores
Para que enfim se arrependam
Dos erros que praticaram,
Aceitando a penitência."

33Elesdisseram, porém:
"Os discípulos de João
Jejuam freqüentemente
E entregam-se à oração,
Como os fariseus; os teus
Comem e bebem, no entanto."

34Jesus respondeu então:


"Podeis, acaso, obrigar
Ao jejum os companheiros
Do noivo, enquanto este está
Com eles? 35Pois sabei vós
Que em breve um tempo virá"

"Em que tirarão o noivo


De perto dos companheiros,
E desse dia em diante
Jejuarão todos eles."
36Uma outra comparação

Jesus ainda lhes fez:

"Ninguém rasga roupa nova


Para cortar um remendo
E pôr numa roupa velha;
Dessa forma o novo aumenta
O desgaste dessa roupa;
Um no outro não assenta."

37"E ninguém se arrisca a pôr


Vinho novo em odres velhos,
Pois o vinho rompe os odres,
E, derramando-se, perde-se;
38Porém, põe-se o vinho novo

No recipiente certo."

29
"Vinho novo em odres novos,
E assim ambas essas coisas
Poderão ser conservadas;
E quem bebe vinho novo
Diz logo: - O velho é melhor! -
Preferindo o velho, pois."

6. O SERMÃO DA MONTANHA
Jesus é senhor do sábado (1); O homem da mão seca
(6); A escolha dos doze (12); Sermão da montanha: as
bem-aventuranças (20)

1Num certo dia de sábado


Jesus ia pelos campos
De trigo e os seus discípulos
Iam após ele apanhando
Espigas, e as comiam,
Debulhando-as nas mãos.

2Alguns fariseus disseram:


"Por que fazeis vós no sábado
O que não é permitido?"
3Jesus respondeu-lhes: "Já

Não lestes o que Davi


(Ele e os que com ele estavam)

"Fez quando estavam com fome?


4Como na casa de Deus
Entrando, apanhou os pães
Da proposição, comeu-os,
Ele e os outros, e sabendo
Ser proibido fazê-lo,"

"Já que só os sacerdotes


Podiam comê-los lá?"
5Depois de falar tais coisas,

Jesus acrescentou mais,


Dizendo: "O Filho do homem
É senhor também do sábado."

6Noutro sábado, Jesus


Na sinagoga ensinava.
Veio um homem cuja mão
Direita era ressecada.
7E escribas e fariseus

A Jesus observavam.

30
Queriam saber se ele
Faria curas aos sábados
Para assim terem motivo
Com que depois acusá-lo.
8Mas ele sabendo disso,

Disse só estas palavras:

"Põe-te de pé aí no meio."
Logo o homem levantou-se.
9Então perguntou Jesus,

Dirigindo-se aos outros:


"É permitido nos sábados
Realizar estas coisas?"

"Fazer o bem ou o mal?


Salvar a vida ou tirá-la?"
10Disse ao homem: "Mostra a mão."

Este mostrou-a curada.


11Como a Jesus condenar?

É o que os outros murmuravam.

12Naqueles dias, Jesus


Foi à montanha, e lá esteve
Toda uma noite a rezar,
Fazendo oração a Deus.
13Ao amanhecer, chamou

Os discípulos e fez

A escolha de doze deles,


E apóstolos os chamou:
14Simão, que chamou de Pedro;

André, irmão deste, e dez outros:


Tiago, João, Felipe,
Bartolomeu, 15e entre os doze

Estavam também Mateus,


Tomé, o outro Tiago,
Que era filho de Alfeu;
Simão, o "zelozo", e mais
16Judas, sendo este primeiro

O que era irmão de Tiago,

31
E Judas Iscariotes,
Que veio a ser traidor.
17Desceu com eles e logo

Num lugar plano parou.


Lá estavam muitos discípulos
E grande massa de povo.

Era gente da Judeia,


De Jerusalém, de Tiro
E Sídon, 18e tinham vindo
Até ali para ouvi-lo
E para buscar a cura
Dos males que os afligiam.

Também ficavam curados


Aqueles que eram vexados
Por espíritos imundos.
19Todos tentavam tocá-lo,

Pois dele vinha uma força


Que a todos ali curava.

20Então ele, erguendo os olhos


Para os discípulos, disse:
"Bem-aventurados vós,
Os pobres, pois eu vos digo
Que é vosso o reino de Deus
E dele vós sereis dignos."

21"Bem-aventurados vós,
Os que tendes fome agora,
Porque sereis saciados.
Bem-aventurados vós,
Os que agora chorais
Porque rireis, sem remorsos."

22"Bem-aventurados vós
Quando outros vos odiarem
E quando vos repelirem,
Proscreverem, insultarem,
Por causa do Filho do homem.
23Nesse dia, alegrai-vos."

32
"E exultai, porque é grande
No céu vossa recompensa.
Assim os pais aos profetas
Tratavam antigamente.
24Mas, ó ricos, ai de vós:

Vosso consolo já tendes!"

25"Ai de vós que já estais fartos,


Porque com fome estareis.
Ai de vós que agora rides,
Porque de dor gemereis.
26Ai de vós quando vierem

Os homens a bendizer-vos,"

"Pois já aos falsos profetas


Os seus pais faziam isso.
27Mas digo-vos aos que ouvis:

Amai vossos inimigos,


E àqueles que vos odeiam
Fazei o bem, eu vos digo."

28"Aos que vos amaldiçoam


Bendizei-os, e rezai
Pelos que vos caluniam.
29Ao que ferir-vos a face

A outra face também


Deveis vós apresentar."

"Ao que vos levar o manto


Sequer recuseis a túnica,
30E aos que vos pedirem algo

Dai, sem reclamar de algum


Bem que vos seja tirado,
Sem querer rever nenhum."

31"O que quereis que vos façam


Os outros, fazei-o a eles.
32Se amardes os que vos amam,

Que méritos vós tereis


Pois os pecadores todos
Sabeis que fazem o mesmo."

33
33"Sevós fizerdes o bem
Só aos que vos fazem bem,
Que mérito tereis vós?
Os pecadores também
Sempre agiram desse modo;
É o que eles fizeram sempre."

34"Seemprestardes só àqueles
De quem ireis receber,
Que merecimentos tendes?
Os pecadores o mesmo
Fazem, para mais à frente
O equivalente reverem."

35"Mas vós, ao contrário disso,


Amai vossos inimigos,
Fazei-lhes bem e emprestai
Sem nada em troca exigir.
Tereis grande recompensa
E sereis filhos do Altíssimo,"

"O qual é bom, ele sim,


Para os ingratos e os maus.
36Sede misericordiosos,

Como o é o vosso Pai.


37Além disso, não julgueis

E vós não sereis julgados."

"Não condeneis a ninguém


E não sereis condenados;
Perdoai, e igualmente
Também sereis perdoados;
38E aos que estão necessitados,

Dai-lhes, e dar-se-vos-á."

"Então, deitar-se-vos-á
No seio boa medida,
Bem cheia, bem transbordante,
Recalcada e sacudida.
Com a medida que usardes
Medir-se-vos-á em seguida."

34
39Disse-lhesJesus ainda
Esta pequena parábola:
"Pode porventura um cego
A outro cego guiar?
Eles assim procedendo
Não cairão no buraco?"

40"Odiscípulo não é
Mais que seu mestre; porém,
Se ele se aperfeiçoar
Logo poderá também
Ficar tal como seu mestre,
Com igual conhecimento."

41"E tu, por que vês o argueiro


No olho do teu irmão
E a trave não vês no teu?
42E ao teu irmão por que então

Dizes: - Eu te tire o cisco


Do olho, - se do teu, não?"

"Hipócrita! Extrai primeiro


A trave que há no teu olho,
E então tu começarás
A enxergar, para depois
Tirar deste irmão o cisco
Que vês no olho dele exposto."

43"Árvore boa não dá


Mau fruto, e árvore má
Tampouco produz bom fruto.
44Com efeito, cada árvore

É conhecida por nós


Pelo fruto que ela dá."

"Não sai figo do espinheiro,


Nem uvas vêm das urtigas.
45O homem bom do bom tesouro

Do coração o bem tira;


O homem mau do mau tesouro
Costuma o mal extrair."

35
"Pois do que há no coração,
É disso que fala a boca.
46Pergunto-vos: por que vós

Chamais-me Senhor, Senhor,


mas não procurais seguir
As instruções que vos dou?"

47"Mas eu mostrarei a vós


A quem deve assemelhar-se
O que ouve as minhas palavras
E põe-nas de pronto em prática.
48É semelhante ao que esteve

A construir uma casa:"

"Escavou profundamente
E assentou os alicerces
Encravados sobre a rocha.
Veio a enchente sobre ela,
Mas não a abalou, porque
Foi feita do modo certo."

49"Mas quem ouve e não pratica


Assemelha-se ao que ergueu
A casa sem alicerces
À flor da terra, pois veio
O vendaval, e sobre ela
A ruína se abateu."

7. A PECADORA PERDOADA
A fé do centurião (1); Ressuscitado o filho
da viúva de Naim (11); Os enviados de João
Batista (18); A pecadora perdoada (24)

1Foi para Cafarnaum,


Depois desta fala ao povo.
2Ali estava doente,

E estava já quase morto,


Um servo muito querido
De um centurião famoso.

3Ouvindo sobre Jesus,


O centurião mandou-lhe
Alguns anciãos judeus
A solicitar socorro
Para o servo adoentado.
4E eles até Jesus foram.

36
Pediram-lhe com instância:
"Ele merece o favor,
5Pois ama o nosso país

E até nos edificou


A sinagoga que temos."
6Jesus os acompanhou.

Mas, perto da casa estando,


O centurião mandou
Uns amigos a dizer-lhe:
"Não te incomodes, Senhor,
Pois não sou digno de que entres
Sob o telhado em que estou,"

7"Por isso nem me achei digno


De ir agora te encontrar,
Mas, se uma palavra dizes,
Meu servo estará curado.
8É que eu também, sob as ordens

De uma outra autoridade,"

"Debaixo do meu comando


Mantenho muitos soldados;
Digo a um: - vem,- e ele vem;
A outro: - vai, - e ele vai;
E ao meu criado: - faz isto, -
E ele prontamente faz."

9"Jesus, depois de ouvir isso,


Muito admirou-se dele,
E voltou-se à multidão,
Dizendo: "Eu nunca encontrei
Tanta fé em Israel,
É o que vos posso dizer."

10Nesse ponto, os enviados


Dali foram para casa,
Onde ficaram sabendo,
No momento da chegada,
Que o servo deixado enfermo
Estava agora curado.

37
11À cidade de Naim
Jesus dirigiu-se então,
Seguido de seus discípulos
E de grande multidão,
12Já à porta da cidade

Um defunto iam levando

Para enterrar, e era ele


De sua mãe filho único.
Ela era viúva e ali
Junto a ela um grande número
De pessoas da cidade
Seguia com o defunto.

13Assim que o Senhor a viu


Encheu-se de compaixão
E então disse-lhe: "Não chores."
14Depois, no esquife tocando,

Fez parar os que o levavam.


Disse ali ao moço então:

"Jovem, digo-te, levanta-te."


15O que tinha estado morto
Sentou-se e pôs-se a falar
E então Jesus entregou-o
À mãe, 16e todos ali
Encheram-se de temor

E glorificando a Deus,
Diziam: "Há entre nós
Um grande profeta, e Deus
Visitou seu povo." Logo,
17Essa opinião corria

A Judeia e arredores.

18Os discípulos de João


Contaram-lhe essas coisas.
João então chamou dois deles
19E a Jesus os enviou

Para perguntarem isto


Diretamente ao Senhor:

38
"És tu mesmo o que há de vir,
Ou temos de esperar outro?"
20Vindo, portanto, a Jesus,

Disseram-lhe aqueles dois:


"João Batista a ter contigo
E te perguntar mandou-nos:"

"És tu mesmo o que há de vir,


Ou temos de esperar outro?"
21Nesse momento, Jesus

A muitos ali curou


De males e enfermidades,
A demônios expulsou

E deu vista a muitos cegos.


22E então, respondendo, disse-lhes:
"Ide vós contar a João
O que aqui vistes e ouvistes:
Coxos voltam a andar,
'Cegos recobram a vista',"

"Os leprosos ficam limpos,


'Aos pobres é anunciada
A boa-nova' do reino
De Deus. 23Bem-aventurados
Os que ocasião de queda
Em mim não vêm encontrar."

24Depois de terem partido


Os mensageiros de João,
Jesus, a respeito dele,
Disse ali à multidão:
"Que fostes ver no deserto,
Um caniço balançando?"

25"Senão,que fostes vós ver?


Um homem de roupas finas?
Mas os que vivem prazeres
E que se vestem assim,
Vós os podeis encontrar
Lá nos palácios dos príncipes."

39
26"Então, que fostes vós ver?
Um profeta? Sim, eu digo-vos;
Antes, bem mais que um profeta.
27É aquele de quem foi dito:

'Eis que envio meu mensageiro


A preparar tua trilha'."

28"Porquedigo-vos: dos homens


Que nasceram das mulheres
Um não há maior que João,
Mas aquele que parece
Menor no reino de Deus
Maior do que ele é."

29E todos que o ouviram,


Incluindo os publicanos,
Fizeram justiça a Deus,
Indo receber então
O necessário batismo
Oferecido por João.

30Mas tal não aconteceu


Com os doutores da lei
E os fariseus, que em não indo
O batismo receber
Frustraram de Deus os planos
A respeito deles mesmos.

31"A quem comparar os homens


Desta geração, então?
A quem se assemelham eles?
32Ora, eles são semelhantes

Aos meninos que se sentam


Nas praças e vão gritando:"

"- Para vós tocamos flauta


E vós, porém, não dançastes!
Entoamos-vos endechas
E vós, porém, não chorastes! -
33Sem viver de pão ou vinho

Ora veio João, de fato,

40
"E vós, no entanto, dizeis:
- É possesso do demônio. -
34Mas veio o Filho do homem

Que, como outros, bebe e come


E vós dizeis:- Aqui está,
Como tantos, mais um homem"

"Glutão, bebedor de vinho,


Amigo dos pecadores
E também dos publicanos. -
35A sabedoria foi,

Porém, vista como justa


Por seus seguidores todos."

36Tendo um fariseu pedido


Para consigo ir comer,
Jesus foi à casa deste
E lá estando pôs-se à mesa.
37Uma mulher, pecadora

Da cidade, soube dele.

E vendo que estava à mesa


Em casa do fariseu,
Trouxe um frasco de alabastro
De bálsamo todo cheio;
38Colocou-se por detrás,

Chorando muito aos pés dele,

E com lágrimas banhou-lhe


Os pés, depois enxugou-os
Com os seus próprios cabelos;
Os pés de Jesus beijou,
Depois tornou a beijá-los
E em bálsamo perfumou-os.

39Vendo isso, o fariseu


Que o havia convidado
Comentou: "Se este homem
Fosse profeta de fato,
Sobre a mulher que o toca
Veria de quem se trata."

41
"Saberia, com certeza,
Que ela é uma pecadora."
40Jesus, em resposta a isso,

Então disse: "Simão, ouve,


Tenho uma coisa a dizer-te."
"Dize, Mestre", este incitou.

41"Havia certo credor


Que tinha dois devedores:
Um de quinhentos denários
E de cinqüenta o outro.
42Não podendo eles pagar-lhe,

O credor os perdoou."

"Qual desses dois devedores


Achas que mais o amará?"
43Simão respondendo disse:

"Aquele a quem perdoou mais."


Então Jesus respondeu:
"Bem retamente julgaste!"

44E,voltando-se à mulher,
Continuou a falar:
"Vês esta mulher aqui?
Eu entrei em tua casa
E não me deste, Simão,
Água para os pés lavar;"

"Mas ela banhou-me os pés


Com lágrimas e enxugou-mos
Com os seus próprios cabelos.
45E o ósculo da paz não houve

Da tua parte, mas ela,


Sem parar, os pés beijou-me."

46"Não me ungiste a cabeça


Com óleo, mas ela ungiu-me
Os pés com caro perfume.
47É por isso que te digo:

Perdoam-se os seus pecados


Pelo amor que nela existe."

42
"Ao que pouco se perdoa
Esse vai bem pouco amar.
48Disse em seguida à mulher:

Digo-te que os teus pecados


São, aqui neste momento,
Todos eles perdoados."

49E os convidados então


Murmuravam, eles todos:
"Quem é este que entre nós
Até pecados perdoa?"
50E ele a ela: "Vai em paz;

A tua fé te salvou."

8. PARÁBOLA DO SEMEADOR
As piedosas mulheres (1); Parábola do semeador (4);
A tempestade acalmada (22); O possesso geraseno (26);
A hemorroíssa e ressurreição da filha de Jairo (40)

1Aconteceu em seguida
Que de cidade em cidade
Ia Jesus caminhando,
A pregar e anunciar
A boa-nova do reino
De Deus, e com ele andavam

Os doze 2e algumas mulheres


Que tinham sido curadas
Dos espíritos malignos
E de outras enfermidades;
Maria, ou Madalena,
Como era também chamada,

Da qual haviam saído


Sete demônios teimosos;
3Joana, a mulher de Cusa,

Procurador de Herodes,
E outras mulheres, que a ele
Serviam com suas posses.

4Como grande multidão


Estivesse reunida,
Desses de cada cidade
Que para ele acorriam,
Dirigindo-se a todos,
Esta parábola disse:

43
5"Saiu o semeador
A espalhar sua semente;
Ao semeá-la, uma parte
Caiu ao longo das sendas,
Foi calcada e então as aves
Comeram-na avidamente;"

6"Uma outra parte caiu


Sobre terreno rochoso
E, por falta de umidade,
Assim que nasceu secou.
7Outra parte da semente

Entre os espinhos ficou,"

"E logo eles, crescendo


Junto a ela, sufocaram-na.
8Outra parte enfim caiu

Sobre a terra boa, e lá


Crescendo produziu frutos
De modo centuplicado."

Dizendo isto, exclamava:


"Quem para ouvir tem ouvidos
Ouça o que eu estou dizendo."
9Perguntaram-lhe os discípulos

Qual era o significado


Da parábola que disse.

10Eleentão lhes respondeu:


"É dado a vós conhecer
De modo claro os mistérios
Que há sobre o reino de Deus,
Mas aos outros, por parábolas
É como se há de dizê-lo;"

"Para que, no fim das contas,


'Mesmo vendo não enxerguem,
E ouvindo não compreendam'.
11Este é o sentido dela:

Tal como aquela semente


A palavra de Deus é."

44
12"Osque ao longo do caminho
Estão são os que a ouviram,
Mas o demônio a palavra
Do coração vem e tira-lhes
Para que, crendo, não venham
A se salvar em seguida."

13"Os do terreno rochoso


São aqueles que ao ouvirem
Recebem bem a palavra,
Mostrando grande alegria,
Mas creem por pouco tempo,
Pois não possuem raízes;"

"Na primeira provação


Eles já voltam atrás.
14A que caiu nos espinhos

São aqueles que a palavra


Ouviram, mas que, mais tarde,
Sufocam-se por cuidados,"

"Prendem-se pelas riquezas


E outros deleites da vida,
Não vindo a amadurecer.
15E a semente que caiu

Em boa terra são todos


Esses que a palavra ouviram"

"E num coração bondoso,


Nobre e cheio de virtude,
Conservam-na e então
Agindo apenas às custas
De sua perseverança
Produzem o justo fruto."

16"Ninguém que acende uma lâmpada


Cobre-a depois com um vaso
Ou põe-na sob uma cama,
Mas a põe no candelabro,
Para que aqueles que entrem
Vejam-na iluminar."

45
17"Porque não há coisa oculta
Que não se deva tornar
Para todos manifesta,
Nem coisa secreta há
Que não deva conhecer-se
Para enfim ser posta em claro."

18"Tomai cuidado, portanto,


No modo como escutais,
Pois àquele que tiver
Ser-lhe-á dado e, ao contrário,
O que não tem, mesmo aquilo
Que julga ter, perderá."

19Vieram ter com Jesus


Sua mãe e seus irmãos,
Porém, não se aproximaram
Por causa da multidão.
20Disseram-lhe: "Estão aí

Teus irmãos e tua mãe,"

E estão querendo te ver."


21Eleentão lhes respondeu:
"Minha mãe e meus irmãos
São, enfim, todos aqueles
Que ao ouvir põem em prática
Toda a palavra de Deus."

22Aconteceu que um dia,


Tendo subido a uma barca
Com seus discípulos, disse-lhes:
"Passemos à outra margem
Do lago." E então, de pronto,
Eles fizeram-se ao largo.

23Mas Jesus adormeceu


Enquanto eles navegavam.
Abateu-se então o vento
Num turbilhão sobre o lago,
E já corriam perigo,
Pois a água enchia a barca.

46
24Despertaram-no, dizendo:
"Ó Mestre, estamos perdidos!"
Acordando, ele increpou
O vento e as ondas, e nisso
A tempestade acalmou-se,
Vindo a bonança em seguida.

25Disse ele então aos discípulos:


"Onde está a vossa fé?"
Com temor e admirados
Eles diziam: "Quem é
Este a que o vento e as águas,
Ao seu comando, obedecem?"

26Atracaram enfim do lado


Oposto ao da Galileia,
Na terra dos gerasenos.
27Quando saiu para a terra

Veio-lhe ao encontro um homem


Que estava há tempos possesso.

Era um homem da cidade


Que tinha demônios vários,
De há muito não se vestia,
Nem mais habitava em casa,
Mas morava só em túmulos.
28Vendo a Jesus, rogou pragas,

E caindo-lhe aos pés,


Em voz muito alta disse:
"Que é que eu tenho contigo,
Ó Jesus, Filho do Altíssimo?
Peço-te não me atormentes!"
29Jesus de fato inquiria

O espírito imundo e dava


Ordens para que deixasse
O corpo daquele homem,
Do qual se apoderara.
Prendiam-no com cadeias
E grilhões, para o guardarem,

47
Mas, quebrando essas cadeias,
Ele era depois levado
Pelo demônio ao deserto.
30Jesus pôs-se a indagar:

"Qual é teu nome?" E ele disse:


"Legião"; e isso era fato,

Pois eram muitos demônios


Esses que tinham ali
Entrado, 31e a Jesus pediam
Que não lhes desse o abismo.
32Ora, numerosos porcos

Pastando no monte havia.

Suplicaram-lhe os demônios
Que lhes fosse permitido
A entrada naqueles porcos.
Ele acedeu e, em seguida,
33Os espíritos imundos

Daquele homem saíram.

E assim que entraram nos porcos


Estes, vindo morro abaixo,
Em corrida impetuosa,
Foram lançando-se ao lago,
Onde, em muito pouco tempo,
Pereceram afogados.

34Quando os guardas viram isto


Fugiram, indo contá-lo
À cidade e às aldeias.
35Foram muitos ao local

Para ver o acontecido


E lá chegando encontraram

Sentado aos pés de Jesus,


Vestido e em pleno juízo,
O homem de quem os vários
Demônios tinham saído;
E tiveram muito medo.
36Falaram com os que viram.

48
E estes então lhes contaram
Como se tinha livrado
Dos demônios o possesso.
37Todo o povo do lugar

Logo pediu a Jesus


Que dali se retirasse,

Pois estavam assombrados.


Ele subiu para o barco
E tratou de regressar.
38Porém o homem do qual

Ele expulsara os demônios


Pediu para acompanhá-lo.

Mas Jesus o despediu,


Dizendo: 39"Vai para casa
E narra o que Deus te fez."
E ele foi pela cidade
Proclamando a todo o povo
Como Jesus o ajudara.

40Ao seu regresso, Jesus


Teve grande multidão
A recebê-lo, pois todos
Estavam-no esperando.
41O chefe da sinagoga

Aproximou-se então.

Ele chamava-se Jairo,


E aos pés de Jesus caindo
Implorava-lhe que fosse
À sua casa, 42pois tinha
A morrer a filha única
Com doze anos ainda.

Enquanto ia caminhando
A multidão comprimia-o.
43Ora, vindo uma mulher,

Que há doze anos sofria


De uma hemorragia grave
E que tinha desprendido

49
Todos os seus bens com médicos,
Sem conseguir se curar,
44Acercou-se de Jesus

E tocou-lhe por detrás


A beirada do seu manto,
Tendo cura imediata.

Estancou-se-lhe o fluxo
De sangue no mesmo instante.
45Disse Ele: "Quem me tocou?"

Todos negavam, e então


Pedro, com seus companheiros,
Disse: "Mestre, é a multidão"

"Que te rodeia e comprime."


46Ora, replicou Jesus:
"Alguém me tocou, pois vi
Que de mim saiu virtude."
47Ali viu-se descoberta

A mulher que teve a cura.

Ela então veio tremendo


E aos pés de Jesus prostrou-se,
Manifestando em seguida
Diante de todo o povo
Porque tocara Jesus
E como logo curou-se.

48Disse Jesus á mulher:


"Minha filha, vai em paz;
A tua fé te salvou."
49Enquanto ainda falava,

Ao chefe da sinagoga
Veio um da casa contar:

"Morreu já a tua filha,


Não importunes o Mestre."
50Mas Jesus disse: "Não temas;

Basta que tu tenhas fé


E a menina será salva."
51E foram à casa do chefe

50
Da sinagoga, e lá estando
Jesus não deixou entrar
Mais ninguém com ele, além
De Pedro, João e Tiago
E o pai e a mãe da menina.
52Lá dentro todos choravam.

Jesus disse: "Não choreis;


Não está morta, mas dorme."
53E todos zombavam dele

Sabendo que estava morta.


54Mas Jesus pegou-lhe a mão

E bradou em alta voz:

"Levanta-te, ó menina!"
55Voltou-lhe o espírito e ela
Levantou-se. E ele pediu
Que algo que comer lhe dessem.
56E ordenou aos pais surpresos

Que a ninguém nada dissessem.

9. A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES


A missão dos doze (1); A multiplicação dos pães (10)
Primeiro anúncio da paixão (18); A transfiguração (28);
Segundo anúncio da paixão (43); Samaritanos repelem
Jesus (51); Condições para ser discípulo (57)

1Após convocar os doze


Jesus deu autoridade
E poder a todos eles
Sobre os demônios, e para
Curar doenças diversas.
2E enviou-os a pregar

O reino de Deus e ainda


Levar a cura aos enfermos.
3Disse-lhes: "Para a viagem,

Digo-vos, nada leveis;


Nem bastão e nem alforje,
Tampouco pão ou dinheiro;"

51
"Nem tenhais vós duas túnicas.
4E em qualquer casa em que entrardes
Lá ficai até a partida.
5E, em deixando uma cidade

Em que alguém não vos receba,


De imediato tratai"

"De sacudir a poeira


Dos pés, em protesto claro
Contra esse tipo de gente."
6Foram, pois, a anunciar

De vila em vila a boa-nova


E a operar curas várias.

7Herodes tetrarca ouviu


Falar do que se passava
E andava muito perplexo:
Uns diziam ser o caso
De João ter ressuscitado
Dentre os mortos; 8e outros mais

Diziam que fora Elias


Que agora tinha voltado;
E outros, que um profeta antigo
Havia ressuscitado.
9Mas disse Herodes: "A João

Eu mandei decapitar,"

"Então quem poderá ser


Esse de quem dizem tanto,
De quem eu ouço falar
Coisas que causam espanto?"
E diante desses fatos
Desejava vê-lo, então.

10Ao voltarem, os apóstolos


A Jesus logo contaram
Tudo quanto haviam feito.
Ele retirou-se à parte,
Levando-os a um lugar próximo
Da cidade de Betsaida.

52
11Mas a multidão, sabendo,
Logo correu atrás dele.
Ele os acolheu a todos,
Falou do reino de Deus
E ainda curou àqueles
Que se encontravam enfermos.

12Ora,o dia declinava.


E, aproximando-se os doze,
A Jesus disseram: "Mestre,
Convém despedir o povo
Para que vá às aldeias
E povoados em torno"

"Procurar alojamento
E comprar o que comer,
Pois estamos no deserto."
13Jesus então respondeu-lhes:

"O que comer dai-lhes vós."


Então retorquiram eles:

"Nós não possuímos mais


Que cinco pães e dois peixes.
A não ser que caminhemos
Para ir comprar, nós mesmos,
Na povoação mais próxima,
Mantimentos para eles."

14Cerca de cinco mil homens


Estavam ali, de fato.
Disse Jesus aos discípulos:
"Fazei-os já assentar-se
Em cem grupos de cinqüenta."
15E a ordem executaram.

16Então,tomando nas mãos


Os cinco pães e os dois peixes
E erguendo os olhos aos céus,
Pronunciou sobre eles
As palavras de sua bênção
E aos seus discípulos deu-os

53
Para que os fossem servindo
À multidão que esperava.
17E todos ali comeram

Até ficar saciados,


Levando ainda de sobra
Doze cestos de pedaços.

18Um dia estando Jesus


Rezando em particular,
E estando ali os discípulos,
Começou a perguntar-lhes:
"Quem o povo diz que eu sou?"
19Os discípulos contaram:

"Uns dizem que João Batista,


Outros, que Elias, e outros
Que és um antigo profeta
Que agora ressuscitou."
20Jesus perguntou então:

"E vós, quem dizeis que eu sou?"

Respondendo, disse Pedro:


"Tu és o Cristo de Deus."
21Jesus então proibiu-os

De a outros isto dizerem.


22Continuou depois disso,

Passando a dizer a eles:

"Sabei que o filho do homem


Muito terá de sofrer,
Rejeitado por escribas,
Grão-sacerdotes e pelos
Anciãos, e há de ser morto,
Tornando ao dia terceiro."

23Epôs-se a dizer a todos:


"Se alguém quiser me seguir
A si mesmo renuncie,
A cruz de todos os dias
Tome-a e só então
Poderá após mim vir."

54
24"Porquequem quiser salvar
A vida perdê-la-á,
Mas quem vier a perder
A vida por minha causa
Não a estará perdendo,
Estará, sim, a salvá-la."

25"Que proveito tem o homem


Em ganhar o mundo inteiro,
Se causa a própria ruína
Ou se se perde a si mesmo?
26E se alguém se envergonhar

De mim e disso que eu"

"Tenho pregado, pois saiba:


Dele se envergonhará
Também o Filho do homem
No dia em que este voltar
Na glória dos santos anjos
De si e também do Pai."

27"Emverdade, eu digo a vós:


Entre os presentes aqui
Há uns que não morrerão
Sem que antes presenciem
E vejam na plenitude
O reino de Deus por si."

28Oitodias transcorridos
Depois daquelas palavras,
Subiu para orar no monte
Com Pedro, João e Tiago.
29E aconteceu algo estranho

Enquanto ele ali rezava.

Seu rosto mudou de aspecto


E suas vestes ficaram
Brancas e resplandescentes.
30E dois homens lá estavam:

Moisés e Elias, 31que vinham,


Em sua glória, falar-lhe

55
Do seu trânsito, que ia dar-se
Em Jerusalém, em breve.
32Ora, Pedro e os companheiros

Ao sono estavam entregues,


Mas viram dos dois a glória,
Pois logo foram despertos.

33Eno momento em que os dois


Já estavam para sair,
Dirigindo-se a Jesus
O apóstolo Pedro disse.
"Mestre, para nós é bom
Podermos estar aqui."

"Faremos então três tendas:


Uma será para ti,
Uma outra para Moisés
E a terceira para Elias."
O que estava dizendo
Pedro porém não sabia.

34E enquanto ainda falava


Uma nuvem os cobriu
E então tomados de medo
Ficaram os três discípulos.
35Foi quando veio da nuvem

Uma voz que lhes dizia:

"Este é o meu filho amado,


O meu eleito, ouvi-o."
36Jesus então ficou só,

E, durante aqueles dias,


Todos guardaram silêncio
Sobre o que ali tinham visto.

37Quando, no dia seguinte,


Eles desceram do monte,
Uma grande multidão
De Jesus veio ao encontro.
38E eis que do meio do povo

Surgiu gritando um homem:

56
"Mestre, peço-te que olhes
Para o meu filho, que é único.
39Um espírito o domina.

Faz gritar, soltar espumas,


Sacode-o com convulsões
E, enfim, como de costume,"

"Larga-o apenas depois


De tê-lo dilacerado.
40Já pedi aos teus discípulos

Para que o expulsassem,


Mas eles não o conseguiram."
41Jesus tomou a palavra:

"Ó geração de descrentes,


De gente dura e perversa!
Até quando deverei
Estar convosco e por esta
Razão ter de suportar-vos?
Traze o teu filho e tem fé."

42Quando este se aproximava,


O demônio nele entrou,
Lançou-o por terra ali mesmo
E em convulsões o agitou,
Mas Jesus, com ameaças,
Ao demônio expulsou.

O menino então curou-se


E foi devolvido ao pai.
43A multidão vendo aquilo

Ficava pasma, assustada,


Com a grandeza de Deus
E a divina majestade.

E enquanto todos estavam


Com seus feitos encantados,
Disse Jesus aos discípulos:
44"Gravai bem estas palavras:

Em breve o Filho do homem


Entregue aos homens será."

57
45Elesporém não podiam
Entender essa palavra,
Cujo sentido lhes era
Dado de forma velada;
E sobre isso tinham medo
De a Jesus interrogar.

46Depois disso, um pensamento


Entre eles suscitou-se:
Qual dentre aqueles discípulos
Seria o maior de todos?
47Jesus, conhecendo isso,

Um menino a si tomou,

E, colocando-o nos braços,


48Começou a lhes dizer:
"Todo o que a este menino
Em meu nome receber,
O que está, em verdade,
É recebendo a mim mesmo."

"E aquele que a mim acolhe,


Recebe a quem me enviou;
Pois aquele que se julgue
O menor entre vós todos,
Esse é verdadeiramente grande,
Esse é que é o maior, pois."

49João pôs-se então a falar:


"Mestre, nós vimos alguém
Que aos demônios expulsava
Em teu nome e então quisemos
Proibir-lho, pois não anda
Conosco; não o conhecemos."

50Jesus respondendo a ele


E a todos os outros disse
Esta seguinte sentença:
"Não lho deveis proibir,
Pois quem não é contra vós
É por vós, podeis crer nisso."

58
51Como já estivesse próximo
O tempo de sua ida
Deste mundo, quis Jesus
Para Jerusalém ir.
52Mandou antes mensageiros

Irem adiante de si.

Estes, pondo-se a caminho,


Chegaram a uma aldeia
Samaritana e buscaram
Hospedagem para ele,
53Porém os samaritanos

Negaram-se a recebê-lo.

O motivo é que o destino


Seria Jerusalém.
54Tiago e João propuseram:

"Mestre, queres que invoquemos


Que desça fogo do céu
E destrua-os totalmente?"

55Jesus disse: "De que espírito


Vós sois, isto não sabeis.
56Não tem o Filho do homem

De tirar vidas alheias,


Mas salvá-las." E, isto dito,
Foram para outra aldeia.

57Enquanto eles caminhavam


Um homem aproximou-se
E disse: "Eu te seguirei
Para onde quer que fores."
58Mas Jesus lhe respondeu:

"Tem seus covis as raposas,"

"E as aves do céu têm ninhos,


O Filho do homem, porém,
Nem mesmo onde reclinar
Sua cabeça ele tem."
59Disse ele a um outro: "Segue-me!"

E este logo foi dizendo:

59
"Senhor, permite-me antes
Que eu vá sepultar meu pai."
60Mas Jesus lhe respondeu:

"Deixa os mortos sepultarem


Os seus mortos, e o reino
De Deus vai anunciar."

61Disse outro: "eu te seguirei,


Senhor, mas antes permite-me
Que eu vá até minha casa
Para dos meus despedir-me."
62Mas Jesus, como resposta,

Afirmou-lhe em seguida:

"Aquele que no momento


De pôr a mão no arado
Tem dúvida e, além disso,
Fica olhando para trás,
Não está, de forma alguma,
Para o reino de Deus apto."

IV) VIAGEM PARA JERUSALÉM

10. PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO


Missão dos setenta e dois (1); Volta dos setenta e
dois (17); Parábola do bom samaritano (25);
Marta e Maria (38)

1Depois disso, o Senhor


Escolheu novos discípulos,
Ao todo setenta e dois,
E logo mandou-os ir
De dois em dois aos lugares
Por onde Ele passaria.

2Dizia-lhes:"Ébem grande
A colheita, mas são poucos
Os trabalhadores dela.
Rogai a seu dono, pois,
Que envie logo para a messe
Os novos trabalhadores."

60
3Ide!Eu vos envio como
Cordeiros em meio aos lobos.
4Não deveis levar alforje,

Sandálias, ou ainda bolsa.


E não saudeis no caminho
Quem se aviste convosco."

5"Em qualquer casa em que entrardes,


Dizei: - Paz a esta casa! -
6E, se nesta casa houver

Um discípulo da paz,
Esta paz que vai convosco
Sobre ele repousará."

"Senão, voltará a vós.


7Ficainesta mesma casa
A comer e a beber
Do que vos servirem lá,
Porque o trabalhador
É digno do seu salário."

"Não andeis de casa em casa.


8Depois de vos acolherem
Numa cidade em que entrardes,
Comei o que oferecerem;
9Curai os enfermos dela

E aos moradores dizei:"

"- Eis que está para chegar


A vós o reino de Deus! -
10Mas, chegando a uma cidade

Que recuse receber-vos,


Ide, então, de imediato,
Em meio às praças, dizer:"

11"-Até o pó que aqui


Se pegou aos nossos pés
Sacudimos sobre vós;
Mas deveis saber que perto
Já está o reino de Deus. -
12E eu vos digo sobre ela"

61
"Que sorte mais tolerável
Terá por aqueles dias
Sodoma que essa cidade.
13Ó Corazim, ai de ti!

Ai de ti, também, Betsaida!


Os milagres aí havidos"

"Se lá em Sídon e Tiro


Houvessem-se realizado,
De há muito teriam feito
Penitência estas cidades
Sobre o cilício jazendo
E sobre as cinzas prostradas."

14"Digo-vos que, no juízo,


Tiro e Sídon terão um
Destino melhor que o vosso.
15E tu, ó Cafarnaum,

Imaginas porventura
Que, entre as cidades do mundo,"

"'Serás elevada ao céu?


Ao inferno descerás!'
16Quem vos ouve é a mim que ouve;

Quem rejeita a vós está


A mim rejeitando, e quem
Rejeita a mim fá-lo ao Pai."

17Os setenta e dois voltaram


Depois, cheios de alegria,
Dizendo: "Até os demônios,
Senhor, caem-nos submissos
Em virtude de teu nome."
18Respondendo, Jesus disse:

"Eu aqui vi satanás


Cair do céu como um raio.
19Eis que vos dei o poder

De, andando, pisotear


Serpentes e escorpiões,
Bem como o de dominar"

62
"Toda a força do inimigo
E nada vos trará dano.
20Porém, não vos alegreis

Por vosso poder de ação,


Mas, sim, porque vossos nomes
Escritos no céu estão."

21Naquela hora, Jesus


De alegria exultou
No Espírito Santo e disse:
"Graças te dou, Pai, Senhor
Do céu e da terra, pois
Escondestes estas coisas"

"Aos sábios e aos prudentes,


E as revelaste aos pequenos.
Sim, porque do teu agrado
Isto foi, Pai, hoje e sempre.
22Todas as coisas meu Pai

Entregou-mas; e ninguém"

"Conhece quem é o Filho


Senão o Pai, nem quem é
O Pai a não ser o Filho
E aquele a quem o quiser
O Filho vir revelar."
23E aos discípulos, por perto,

Disse, em particular:
"Ditosos olhos aqueles
Que veem o que vós vedes,
24Pois, digo-vos, muitos reis

E profetas desejaram
O que vedes poder ver"

"E, contudo, jamais viram;


Também quiseram ouvir
O que vós ouvis, mas nunca
Puderam ouvir, afirmo-vos."
25Então, para o pôr à prova,

Um doutor da lei surgiu,

63
Levantou-se e perguntou:
"Mestre, que hei de fazer
Para obter a vida eterna?"
26Jesus disse: "O que na lei

Dizes tu que está escrito?


Além disso, como lês?"

27Respondeu ele: "'Amarás


O Senhor, teu Deus, com todo
O coração, tua alma,
E todas as tuas forças'
E com toda a inteligência,
E amarás também ao outro"

"'Próximo como a ti mesmo'."


28Jesus, nesse instante, disse:
"Respondeste muito bem!
Viverás, se fazes isto."
29Mas ele, justificando-se,

Fez a pergunta incisiva:

"E quem é esse meu próximo?"


30Respondendo, Jesus disse:
"Indo de Jerusalém
Para Jericó, caiu
Certo homem em poder
De salteadores vis,"

"Que, depois de o despojarem


E o cobrirem de feridas,
Retiraram-se, deixando-o
Ali já quase sem vida.
31Ora, por esse caminho

Um sacerdote descia"

"E, ao vê-lo, passou de largo.


32Do mesmo modo, um levita,
Vendo-o, passou adiante.
Mas eis que em viagem ia
33Passando um samaritano,

O qual parou quando o viu."

64
"Encheu-se de compaixão
34E,aproximando-se dele,
Logo pensou-lhe as feridas,
Deitando vinho e azeite;
Na própria cavalgadura,
A um albergue o recolheu."

"Ali prestou-lhe assistência.


35No dia seguinte, cedo,
Retirando dois denários,
Deu ao estalajadeiro
E disse: - Dê-lhe cuidados
E ao voltar te pagarei"

"O que gastares a mais. -


36Para ti, qual dos três homens
Parece próximo desse
Que esteve em mãos dos ladrões?"
37Disse: "O misericordioso."

E Jesus: "Sê tu tão bom."

38Seguindo Jesus viagem,


Chegou a um povoado
Onde uma mulher de nome
Marta recebeu-o em casa.
39Tinha esta uma irmã

Chamada Maria, a qual

Sentada aos pés do Senhor


Ouvia a sua palavra.
40Marta, com muito serviço,

Ao contrário, atarefava-se.
Deteve-se então e disse:
"Senhor, não te importarás"

"Que minha irmã me tenha


Deixado só no trabalho?
Manda que ela me ajude?"
41Jesus disse: "Marta, Marta,

Tu te afliges e inquietas-te
Com muitas coisas que fazes;"

65
42"Entretanto, uma só coisa
É, de fato, necessária.
Maria, pois, escolheu
Realmente a melhor parte,
E esta, mesmo que se queira,
Não mais lhe será tirada."

11. COMO SE DEVE ORAR


Como se deve orar (1); O poder de expulsar demônios
(14); A mãe de Jesus é louvada (27); O sinal de
Jonas (29); A lâmpada do corpo (33)

1Um dia estava Jesus


Rezando em certo lugar
E, ao final, um dos discípulos
Disse: "Ensina-nos a orar,
Como João aos seus discípulos."
2Disse ele: "Dizei, no orar:"

"- Pai, santificado seja


Teu nome; venha o teu reino;
3Nosso pão de cada dia

Dá-nos em todas as vezes;


4Perdoa nossos pecados,

Como fazemos àqueles"

"Que são nossos devedores;


E não nos deixeis cair
Em nenhuma tentação. -"
5Depois disso ainda disse:

"Se algum de vós for à noite


À procura de um amigo"

"E disser: - Amigo empresta-me


Três pães, 6porque me chegou
Um amigo de viagem
E sem o que dar-lhe estou; -
7E ele responder, de dentro:

- Vai importunar a outro;"

"A porta já está fechada,


Meus filhos já estão deitados
E eu levantar-me não vou
Para poder te ajudar; -
8Eu vos digo: ainda que ele

Não venha para ajudá-lo"

66
"Em nome da amizade,
Ao menos levantar-se-á
E dar-lhe-á quanto precisa
Por ter sido importunado.
9Por isso é que eu digo a vós:

Pedi e dar-se-vos-á;"

"Procurai e achareis,
Batei e abrir-se-vos-á;
10Na verdade, todo aquele

Que pedir receberá;


Quem procura sempre encontra;
E abrir-se-á ao que bate."

11"E qual é o pai entre vós


Que, se o filho pede um pão,
Dá, no lugar, uma pedra?
Ou dá uma serpente quando
O filho lhe pede um peixe?
12Ou dá um escorpião"

"Quando o filho pede um ovo?


13Se,ainda que sendo maus,
Sabeis dar aos vossos filhos
Coisas boas, quanto mais
O Pai, a quem lho pedir,
O Espírito bom dará."

14Jesusestava a expulsar
Um demônio que era mudo.
E o mudo pôde falar
Quando o demônio foi expulso,
E o povo se admirava
Presenciando isso tudo.

15Mas alguns deles disseram:


"É em nome do Belzebu,
O príncipe dos demônios,
Que aos demônios ele expulsa."
16Outros, descrentes, pediam
Sinais do céu a Jesus.

67
17Mas Jesus, vendo essas coisas,
Disse a eles: "Todo o reino
Logo estará arruinado
Se dividir-se em si mesmo,
Caindo casa por casa.
18Ora, pois, se vós sabeis"

"Que satanás dividiu-se


A si mesmo, como então
Quereis que o seu reino esteja
Livre de destruição?
Dizeis que por Belzebu
Os demônios fora eu lanço."

19"Ora,
se expulso os demônios
Em nome de Belzebu,
Então em nome de quem
Vossos filhos os expulsam?
Assim, serão eles mesmos
Vossos juízes mais justos."

20"Mas se eu expulso os demônios


Só pelo dedo de Deus,
O reino de Deus, portanto,
Já se encontra em vosso meio.
21Quando um homem bem armado

Guarda o seu palácio e os seus"

"Demais bens, em segurança


Estará o que possui.
22Mas, se um mais forte o assalta

E o vence, tira-lhe tudo,


Toma-lhe todas as armas,
E os despojos distribui."

23"Quem comigo não está,


É porque é contra mim;
E quem comigo não colhe,
Desperdiça no caminho.
24Quando o espírito imundo

Sai de um homem, sem destino"

68
"Vaga por lugares áridos
À procura de um repouso
E, não o encontrando, diz:
- Volto a habitar de novo
A casa donde expulsaram-me; -
25Mas, voltando, vê que é outra"

"A situação da casa,


Que está varrida e arrumada.
26Então vai e traz consigo

Sete espíritos sem casa,


Muito piores que ele,
Para essa casa habitar."

"E a condição desse homem


É pior do que a de antes."
27Enquanto ele assim falava,

Do meio da multidão
Ergueu-se de uma mulher
A voz, e ela disse então:

"Bem-aventurado seja
O ventre que a nós te trouxe
E ditoso seja o seio
Em que amamentado foste!"
28Disse ele: "Quem a palavra

De Deus segue, esse é ditoso!"

29Aumentando a multidão,
Disse ele: "Esta geração
É uma geração perversa.
Pede-me um sinal, mas não
Mandarei sinal algum,
Senão o de Jonas; 30porquanto"

"Ele serviu de sinal


Aos ninivitas, assim
Será o Filho do homem
Um sinal do que está vindo
Para esta geração.
31Ressurgirá a rainha"

69
"Do Sul no dia do juízo
Com os desta geração
E então condená-los-á,
Pois veio de um outro canto
Da Terra para inteirar-se
Do saber de Salomão,"

"E encontra-se aqui alguém


Que é mais do que Salomão.
32E no dia do juízo

Os ninivitas irão
Ressuscitar, juntamente
Com a vossa geração,"

"E a condenarão também;


Pois eles às pregações
De Jonas se converteram;
Vós, porém, cuidai num ponto:
Encontra-se aqui alguém
Que é mais ainda que Jonas."

33"Ninguém acende uma lâmpada


E a coloca num lugar
Oculto ou sob o alqueire,
Mas põe-na no candelabro,
Para que aqueles que entram
Possam ver a luz brilhar."

34"Alucerna do teu corpo


É teu olho; se ele é puro
Todo o teu corpo estará
Envolto sempre na luz;
Se é mau, teu corpo estará
Nas trevas; 35portanto, cuida"

"Para que a luz que há em ti


Não seja trevas jamais.
36Se luminoso é teu corpo,

Sem trevas em qualquer parte,


Qual lâmpada refulgente,
Lúcido sempre será."

70
37Enquanto ainda falava,
Convidou-o um fariseu
Para consigo almoçar.
Ele entrou e pôs-se à mesa.
38Ora, ele não se lavou

Primeiro, antes de comer,

E o fariseu estranhou.
39Mas disse-lhe o Senhor:
"Agora vós fariseus
Limpais o exterior
Do copo e também do prato,
Mas o vosso interior"

"Está cheio de rapina


E de iniqüidade.40Loucos!
Quem o exterior vos fez
Não vos fez o interior?
41Antes dai tudo isso, e puras

Vos serão todas as coisas."

42"Mas ai de vós, fariseus,


Porque vós pagais o dízimo
Da hortelã e da arruda,
E das outras hortaliças,
Mas fugis do amor de Deus
E da divina justiça."

"Deveis fazer estas coisas,


Mas sem esquecer aquelas.
43Ai de vós, ó fariseus,

Que amais as primeiras sédias


Nas sinagogas e ainda
Quereis nas praças o afeto."

44"Aide vós, pois eu vos digo,


Sois todos vós como aqueles
Sepulcros que estão ao largo,
Mas que as pessoas não veem
E sobre eles caminham
Sem deles se aperceber."

71
45Então um doutor da lei
Tomou a palavra e disse:
"Mestre, a nós também ofendes
Quando estás a dizer isso."
46Disse ele: "Ai de vós também,

Mestres da lei, que insistis"

"Em impor aos outros homens


Fardos quase insuportáveis
E vós nem com um dedo vosso
Aceitais tocar a carga!
47Ai de vós que aos profetas

Sepulcros edificais,"

"Quando foram vossos pais


Que em outro tempo os mataram!
48Testemunhais desse modo

As obras de vossos pais,


Pois eles é que os mataram
E os sepulcros levantais."

49"Porisso a sabedoria
De Deus disse sobre o mundo:
- Enviar-lhes-ei profetas
E apóstolos; a alguns
Matarão e aos demais
Perseguirão; 50e um por um"

"Entre os desta geração


Terá de enfim prestar conta
Do sangue que derramaram
Dos profetas até ontem,
Desde o princípio do mundo,
Desde que existem os homens,"

51"Vindodo sangue de Abel


Ao sangue de Zacarias,
Morto entre o altar e o templo. -
Sim, em verdade eu vos digo
Que à presente geração
A conta será pedida."

72
52"Ai
de vós, mestres da lei,
Que da ciência usurpastes
A chave, sempre impedindo
Os outros de nela entrar,
Sem que vós mesmos tivestes
Entrado nela jamais."

53Quando ele saiu dali,


Escribas e fariseus
Passaram a provocá-lo.
54Buscavam surpreendê-lo

Em palavras, para usá-las


Em acusação a ele.

12. JESUS VEIO TRAZER DISSENSÃO


Temer a Deus e não aos homens (1); Parábola do homem
rico (13); Confiança na providência (22); Parábola do
servo fiel e do infiel (35); Jesus veio trazer dissensão (49)

1Mas a multidão, seguindo-o,


Comprimia-se aos milhares.
Ele então pôs-se a dizer:
"Antes de tudo guardai-vos
De viver na hipocrisia,
Que é o fermento farisaico."

2"Não há nada de encoberto


Que não venha a descobrir-se,
Nem oculto que não venha
A conhecer-se algum dia.
3Por isso o quanto tiverdes

Às escuras proferido"

"Ouvir-se-á à luz depois,


E o que, no quarto, tiverdes
Ao ouvido sussurrado
Vereis que num tempo breve
A todos estará sendo
Proclamado sobre os tetos."

4"E digo-vos, meus amigos:


Não deveis temer aqueles
Que matam o corpo e nada
Conseguem depois fazer.
5Pois mostrar-vos-ei a quem

Vós havereis de temer:"

73
"Temei, sim, aquele a quem
Depois de matar, compete
O poder de enviar
A alma para o inferno.
Deste, sim, deveis ter medo,
É o que vos digo em alerta."

6"Vede: cinco passarinhos


São vendidos por dois asses,
Entretanto nenhum deles
Por Deus esquecido está.
7E até os vossos cabelos

Da cabeça estão contados."

"Não temais; pois vós valeis


Muito mais que passarinhos.
8Digo-vos ainda mais:

Ao que confessar a mim


Diante dos demais homens,
Confessá-lo-á assim"

"Também o Filho do homem


Perante os anjos de Deus.
9Mas quem me tiver negado

Perante os homens, ai deste!


Os anjos vão renegá-lo
Quando chegar sua vez."

10"Quem contra o Filho do homem


Falar será perdoado,
Mas contra o Espírito Santo
Aquele que blasfemar
Saiba que de nenhum modo
O perdão receberá."

11"Equando vos arrastarem


Às sinagogas, perante
Magistrados e demais
Autoridades, então
Não vos deveis preocupar
Com o que falar, 12porquanto"

74
"Virá o Espírito Santo,
Que ali ensinar-vos-á,
Da maneira mais correta
E na hora apropriada,
Como haveis de proceder
E o que haveis de falar."

13Na multidão, alguém disse:


"Mestre, dize a meu irmão
Que me entregue logo a parte
Que me cabe na herança."
14Jesus então respondeu-lhe:

"Homem, a partir de quando"

"Alguém me constituiu
Árbitro de vossas causas?"
15E à multidão ele disse:

"Guardai-vos e acautelai-vos
Da avareza, pois a vida
Da pessoa não se faz"

"Na dependência dos bens,


Mesmo que haja riquezas."
16E contou uma parábola

Sobre esse assunto, ao dizer:


"Os campos de um homem rico
Renderam farta colheita;"

17"E ele pensava consigo:


- Que haverei de fazer,
Se não tenho onde guardar
Tão abundante colheita? -
18Então pensou em seguida:

- Demolirei meus celeiros,"

"Erguerei outros maiores


E neles recolherei
Todo o meu trigo e os meus bens,
19E a mim mesmo eu direi:

Tens, minha alma, muitos bens


Guardados, e estarão eles"

75
"Seguros por longos anos;
Descansa, pois; come, bebe
E aproveita tua vida. -
20Mas Deus então disse: - Néscio!

Esta noite tua alma


Deste mundo se despede;"

"E as coisas que tu juntaste,


A quem irão pertencer? -
21Isto é o que acontece

Ao que acumula riquezas,


Mas que nunca torna rica
Sua relação com Deus."

22Disse depois aos discípulos:


"Por isso é que eu vos declaro:
Não vos preocupeis na vida
Sobre com que alimentá-la,
Nem, em relação ao corpo,
Sobre que vestes usar;"

23"Poismais do que o alimento


Certamente a vida vale
E muito mais vale o corpo
Do que um simples vestuário.
24Olhai como são os corvos:

Não semeiam, nem preparam"

"Colheitas, nem têm despensa,


Nem celeiros, porém Deus
Provê todo o seu sustento.
E quanto mais não valeis
Vós do que as aves do céu?
Por mais que vos preocupeis,"

25"Quem de vós pode aumentar


De um palmo o tempo de vida?
26Se vós não podeis fazer

Nem o mínimo exigido,


Por que vos inquietais
Com o que esteja além disso?"

76
27"Agora,olhai os lírios,
Como não tecem, nem fiam;
E eu vos digo, no entanto:
Nem Salomão, que vivia
Em pujante glória, pôde
Como um deles se vestir."

28"Ora,se Deus assim veste


A erva de hoje, que em breve
Será lançada no forno,
Mas ainda o Pai eterno
Poderá fazer por vós,
Ó homens de pouca fé."

29"Não andeis a procurar


O que comer ou beber,
Nem preocupeis vosso espírito,
Nem mais vos atormenteis;
30Pois essas coisas preocupam

Aos pagãos do mundo inteiro,"

"Porém o vosso Pai sabe


Que delas necessitais.
31Buscai o reino de Deus,

Logo em primeiro lugar,


E essas coisas, em acréscimo,
Passarão a ser-vos dadas."

32"Ó pequenino rebanho,


Abandonai este medo,
Pois foi do agrado do Pai
Oferecer-vos o reino.
33Vendei o que possuís

E dai de esmola, e fazei"

"Para vosso próprio uso


Bolsas que não envelhecem,
Um tesouro inesgotável
Feito de coisas do céu,
Onde não chega o ladrão
E onde a traça não penetra."

77
34"Onde está vosso tesouro,
Lá está vosso coração.
35Cingi, pois, os vossos rins

E acendei as vossas lâmpadas


Para estardes preparados
A todo e qualquer instante,"

36"Como esses homens que esperam


O seu senhor ao voltar
Das núpcias, para que logo
Que ele bata a porta, abram-na.
37Felizes daqueles servos

Cujo senhor, ao chegar,"

"Encontre-os vigilantes.
Eu em verdade vos digo
Que ele irá cingir-se e pô-los
À mesa para os servir.
38E se vier na segunda

Ou na terceira vigília,"

"E os encontrar acordados,


Digo-vos: felizes deles!
39Sabei: se o dono da casa

Tivesse como prever


A que hora o ladrão vem,
Vigiaria ele mesmo"

"E ao ladrão não deixaria


Que lhe assaltasse a casa.
40Não descuideis vós, portanto,

De estar sempre preparados,


Pois, quando não esperardes,
O Filho do homem virá."

41Disse-lhe Pedro: "Senhor,


Tu dizes esta parábola
Referindo-se a nós
Ou a todos os demais?"
42Mas o Senhor respondeu:

"Quem é o dispenseiro sábio"

78
"E fiel que será posto
Pelo seu senhor à frente
De todos os servidores
Para dar-lhes, a seu tempo,
A sua ração de trigo?
43Feliz desse servo a quem"

"Seu senhor, quando chegar,


Achar assim procedendo!
44Eu em verdade vos digo

Que a gerenciar seus bens


O seu senhor o porá
Como reconhecimento."

45"No entanto, se aquele servo


Disser, em seu coração:
- Tarda em vir o meu senhor; -
Com isso passando então
A maltratar os criados
E criadas, entregando-se"

"À comida e à bebida,


Deixando-se embriagar,
46Chegará o seu senhor,

Em momento inesperado
E em hora desconhecida,
E então castigá-lo-á,"

"Destinando-lhe um lugar
No meio dos infiéis.
47O servo que do senhor

Toda a vontade conhece,


Mas que nada preparou
Nem agiu conforme ela,"

"Este servo, eu vos garanto,


Levará muitos açoites.
48Porém, o que não conhece,

Ao errar, levará poucos.


Será exigido mais
Desse a quem mais se entregou."

79
49"Eu vim lançar fogo à terra,
E que mais desejo eu,
Se já está ateado?
50Num banho imerso serei,

E que ânsia sinto eu


Até que isso aconteça!"

51"Julgais vós que vim à terra


Estabelecer a paz?
Não, eu trouxe a divisão.
52Pois, desde agora, uma casa

Que tenha cinco pessoas


Em desunião verá"

"Três pessoas contra duas,


Duas contra três; 53e mais:
Pai estará contra filho,
Também 'filho contra pai',
Mãe estará contra filha,
'Filha contra mãe' será;"

"Vereis sogra contra nora


E enfim 'nora contra sogra'."
54Disse ainda às multidões:

"Quando se apresenta a vós


Uma nuvem levantando-se
Do poente, dizeis logo:"

"- Vem aí chuva; - e ela vem.


55E quando sentis soprar
O vento que vem do sul,
Dizeis: - Calor haverá; -
E vem o calor. 56Hipócritas!
Vós sabeis interpretar"

"Sinais da terra e do céu;


E como não discernis
Nada do tempo presente?
57E por que não distinguis,

Por vós mesmos, o que é justo,


Se os sinais estão aí?"

80
58Quando com teu adversário
Tu fores ao magistrado,
Cuida para que, na ida,
Venhas dele te livrar,
Para que não aconteça
De ele ao juiz te levar,"

"E o juiz te entregar


Daí nas mãos da polícia
E ela te enfiar no cárcere.
59Não sairás, eu te digo,

Enquanto tu não pagares


Até o último ceitil."

13. LAMENTO SOBRE JERUSALÉM


Penitência (1); Parábola da figueira estéril (6); Cura
no sábado (10); Parábolas da mostarda e o fermento
(18); A porta estreita (22); Lamento sobre Jerusalém (31)

1Nessa mesma ocasião,


Chegaram alguns a dar-lhe
Notícia de galileus
Com cujo sangue Pilatos
Misturou o dos sacrifícios.
2Jesus disse estas palavras:

"Julgais que esses galileus,


Por sofrerem tal massacre,
Mais que os outros desse povo
Tenham vivido em pecado?
3Eu vos garanto que não;

Mas, se não vos emendardes,"

"Perecereis igualmente.
4E os dezoito sobre os quais
A torre de Siloé
Desabou, vindo a matá-los,
Entre os de Jerusalém
Eram eles mais culpados?"

5"Eu vos garanto que não;


Mas, se não há penitência,
Se não quereis emendar-vos,
Digo-vos que em breve tempo
Todos vós, sem distinção,
Perecereis igualmente."

81
6Disse então esta parábola:
"Tinha um homem plantada
Uma figueira na vinha.
Certo dia indo buscar
Frutos não os encontrou,
7E disse: - Vamos cortá-la!"

"Para que está ocupando


Inutilmente um lugar? -
8Mas o vinhateiro disse:

- Deixa-a um pouco mais,


Ao menos por mais um ano,
Para que eu possa testá-la."

"Vou cavar em volta dela


Para depois adubá-la.
Veremos em que resulta.
9Se der frutos, bem está;

Do contrário, com razão,


Nós deveremos cortá-la."

10Num certo dia de sábado


Jesus estava a ensinar
Dentro de uma sinagoga.
11E uma mulher que lá estava

Era possessa de espírito


Que a deixava recurvada,

Estando há dezoito anos


Sem poder endireitar-se.
12Jesus chamou-a e disse-lhe:

"Mulher, estejas em paz;


Agora tu estás livre
Desta tua enfermidade."

13E impôs-lhe sobre a cabeça


As mãos, e ela endireitou-se,
E naquele mesmo instante,
Agradecida, passou
A glorificar a Deus.
14Mas isso desagradou

82
Ao chefe da sinagoga,
Que então tomou a palavra
E, indignado por Jesus
Curar em dia de sábado,
Foi dizendo à multidão:
"Seis dias há de trabalho;"

"Vinde, pois, num desses dias


Para aqui serdes curados,
Mas não venhais para isso
Quando o dia for um sábado."
15Respondendo, o Senhor disse:

"Hipócritas! Por acaso,"

"Cada um de vós não solta,


Em todo dia de sábado,
O seu boi ou o seu jumento
Do cercado do estábulo
Para eles irem beber?
16Como então não aceitais"

"Que presa por satanás


Durante dezoito anos
Em condições deprimentes,
Esta filha de Abraão
Não possa em dia de sábado
Livrar-se dessa prisão?"

17Eenquanto ele assim falava,


Todos os seus adversários
Ficavam enrubescidos,
Mas o povo se alegrava
Com as insignes ações
Que Jesus realizava.

18Dizia ainda Jesus:


"A que o reino de Deus
Vem a se assemelhar
E a que o compararei eu?
19É como um grão de mostarda

Que na horta o homem semeia."

83
"Cresce e torna-se uma árvore
E as aves do céu lhe vêm
Para alojar-se nos ramos."
20E continuou dizendo:

"Como é o reino de Deus?


21É semelhante ao fermento"

"Que uma mulher toma e lança


Em três porções de farinha,
Misturando lentamente
A massa e deixando-a assim,
De modo que mais à frente
Fique levedada enfim."

22Pelas cidades e aldeias


Na ida a Jerusalém,
Jesus seguia ensinando.
23Um dia indagou alguém:

"São poucos os que se salvam?"


Jesus respondeu, dizendo:

24"Esforçai-vos por entrar


Através da porta estreita,
Porque muitos tentarão
Entrar, vo-lo digo eu,
E não o conseguirão.
Porque será nestes termos:"

25"Depois que o dono da casa


Tiver entrado e fechado
A porta, vós, lá de fora,
Começareis a gritar,
Batendo com insistência:
- Por favor, ó senhor, abre-nos. -"

"Ele, em resposta, dirá:


- Não sei de vós, donde sois. -
26Em seguida vós direis:

- Nós estivemos, senhor,


A comer e a beber juntos
E tu, perante nós todos,"

84
"Ensinaste em nossas praças. -
27Mas ele dirá assim:
- Não, eu não sei donde sois.
Logo, 'afastai-vos de mim,
obreiros da iniqüidade!' -
28Ali haverá, porfim,"

"Lamento e ranger de dentes,


Quando virdes Abraão,
Jacó, Isaac e ainda outros
Grandes profetas morando
Todos no reino de Deus,
E vós expulsos, então!"

29"Muitos virão do Oriente,


Ocidente, Norte e Sul;
No reino de Deus à mesa
Sentar-se-ão com os justos.
30Entre últimos há primeiros,

E entre os primeiros há últimos."

31Na mesma hora, vieram


Uns fariseus, que avisaram:
"Sai, vai-te embora daqui;
Herodes quer te matar!"
32Jesus então respondeu-lhes:

"Ide de volta até lá"

"E dizei a essa raposa


Que expulso demônios e ando
Fazendo curas diversas
Hoje e também amanhã,
E ao terceiro dia enfim
Ao termo estarei chegando."

33"Hoje,amanhã e depois
Eu devo seguir, porém,
O meu caminho de ida;
Pois, de fato, não convém
Que um profeta encontre a morte
Fora de Jerusalém."

85
34"Ógrande Jerusalém,
Que dás a morte aos profetas
E apedrejas os que vêm
Como enviados dos céus,
Quantas vezes quis juntar
Teus filhos, tal qual procede"

"A galinha ao recolher


Os pintinhos sob as asas,
E tu não o permitiste!
35'Para vós, a vossa casa

Será deixada deserta',


E eu vos digo ainda mais:"

"Vós não me vereis, até


O dia em que digais, todos,
No momento apropriado
De acontecerem tais coisas:
'Bendito aquele que vem
Sob o nome do Senhor'."

14. O ÚLTIMO LUGAR À MESA


Cura de um hidrópico (1); O último lugar à mesa (17);
Parábola do grande banquete (15); Para se seguir
Jesus (25)

1E aconteceu que, num sábado,


Tendo Jesus ido à casa
De um dos grandes fariseus
Para com ele almoçar,
Este e outros fariseus
Ficaram a observá-lo.

2Aliachava-se um homem
Doente de hidropisia.
3Jesus, tomando a palavra,

Dirigiu-se aos legistas


E a todos os fariseus:
"Dizei, senhores, se é lícito"

"Curar em dia de sábado."


4Mas os fariseus calaram-se.
Jesus então segurou-o
Pela mão e, neste ato,
Curou-o, e mandou-o embora.
5E disse aos que ali ficaram:

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"Quem de entre vós, se um filho
Ou um boi lhe cair num poço,
Não o tiraria logo,
Sábado, ou em que dia fosse?"
6E eles não achavam meios

De responder a tais coisas.

7Notando como escolhiam


Lugares privilegiados
À mesa, ele aos convivas
Disse a seguinte parábola:
8"Quando ao banquete de núpcias

Vierem a convidar-te,"

"Não convém que tu escolhas


Logo o primeiro lugar,
Porque pode haver alguém
Ali entre os convidados
Mais importante que tu,
9E o que convidou dirá:"

"- Cede o lugar a este aqui. -


E tu então passarias
A ocupar, envergonhado,
Outro lugar, menos digno.
10Ao contrário, quando fores

Atender a um convite,"

"Toma o último lugar


Para que, quando vier,
O que te convidou, diga:
- Amigo, vem para perto. -
Então ficarás honrado
Frente aos que ali estiverem."

11"Poisaquele que a si mesmo


Faz tudo para exaltar
Encontrará logo à frente
A vez de ser humilhado,
Mas aquele que se humilha
Será em breve exaltado."

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12Edisse ainda Jesus
Ao que o tinha convidado:
"Quando tu ofereceres
Algum almoço ou jantar,
Não chames irmãos, amigos
Ou vizinhos abastados;"

"Para não acontecer


De a uma outra refeição
Virem eles convidar-te
Como retribuição.
13Mas, quando em tua casa

Deres um banquete, então"

"Convida os pobres, os cegos,


Os coxos e os aleijados;
14Eles não pagam; porém,

Serás bem-aventurado:
Na ressurreição dos mortos
Estarás recompensado."

15Ouvindo tais coisas, disse-lhe


Um dos que estavam à mesa:
"Feliz do que puder ter
Do pão do reino de Deus."
16Jesus respondeu então:

"Ia um homem certa vez"

"Oferecer um banquete,
Tendo a muitos convidado.
17Chegando a hora da festa,

Mandou que um servo chamasse


Os convidados, dizendo:
- Vinde, é tudo pronto já. -"

18"E imediatamente, todos


Começaram a escusar-se.
Disse o primeiro: - Comprei
Um terreno e vou olhá-lo;
Peço-te que me desculpes. -
19E disse um outro, do lado:"

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"Preciso experimentar
As cinco juntas de bois
Que comprei; tenho de ir-me
E peço que me perdoes. -
20Disse outro: - Casei e vou-me;

Escusa-me, por favor. -"

21"Sobre isso foi o servo


Ao seu senhor informar.
Irado pelo ocorrido,
Disse-lhe o dono da casa:
- Vai sem demora às praças
E ruas desta cidade,"

"E para cá traz os pobres,


Cegos, coxos e aleijados. -
22O servo disse depois:

- Senhor, foi executado


O que ordenaste e à mesa
Restam ainda lugares. -"

23"Disse-lhe então seu senhor:


- Sai por caminhos e trilhas
E, para encher minha casa,
Compele essa gente a vir. -
24Pois nenhum dos eximidos

Vai ao meu banquete, digo-vos."

25Uma grande multidão


A Jesus acompanhava.
Ele então voltou-se e disse:
26"Se alguém vem me procurar,

Sem com isso aborrecer


A mãe, a mulher, o pai,"

"Filhos, irmãos e irmãs


E até sua própria vida,
Esse não conseguirá
Transformar-se em meu discípulo.
27quem sua cruz não carrega

Não me poderá seguir."

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28"Poisquem de vós, decidindo
Uma torre edificar,
Não vai calcular primeiro
A despesa necessária
Para saber se tem meios
Para acabar o trabalho?"

29"Evitando que, depois


De lançar os alicerces,
Não podendo completá-la,
venham todos e comecem
A zombar dele, dizendo:
30- Este é aquele que quer"

"Construir, mas não consegue


Terminar a sua torre. -
31Ou qual é ainda o rei

Que indo fazer guerra a outro,


Não se senta à secretária
Para estudar suas forças"

"E ver se com dez mil homens


Pode ir de encontro àquele
Que lhe vem com vinte mil?
32Senão, envia ao outro rei,

Ainda longe, embaixada


Propondo a paz, nos seus termos."

33"Assim, pois, qualquer de vós


Que não despreza seus bens,
Não pode ser meu discípulo.
34O sal é bom, sim; porém,

Se ele se tornar insosso,


Que outro tempero se tem?"

35"Nãoservirá para a terra,


Estrume, ou qualquer fim outro;
E será lançado fora,
Por não ter mais sua força.
Aquele que têm ouvidos
Para ouvir, que então ouça."

90
15. PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO RECUPERADO
Parábolas da ovelha perdida e da dracma perdida (1);
Parábola do filho pródigo recuperado (11)

1Publicanos, pecadores
E outros que estavam ali
Aproximaram-se dele
Com intenção de ouvi-lo.
2E ficaram murmurando

Os fariseus e escribas:

"Este acolhe os pecadores


E ainda come com eles."
3E nova comparação

Nesta hora Jesus fez-lhes:


4"Quem entre vós, possuindo

Um total de cem ovelhas,"

"Ao perder uma, não deixa


As outras noventa e nove
Esperando no deserto
Enquanto o campo percorre
Buscando a que se perdeu
Até achá-la? 5e devolve-a"

"Ao rebanho, carregando-a


Nos ombros, muito contente;
6E, indo para casa, chama

Vizinhos e amigos, dizendo:


- Congratulai-vos comigo,
Tenho a ovelha novamente. -"

7"Sendoassim, digo-vos eu
Que haverá mais alegria
No céu por um pecador
Que se tenha arrependido
Do que por noventa e nove
Que disso não necessitem."

8Ou então qual é a mulher


Que, possuindo dez dracmas,
Ao ver que perde uma delas,
Não passa a varrer a casa,
Depois de acender a lâmpada,
Procurando, até achá-la?"

91
9"E tendo-a encontrado diz
Às amigas e às vizinhas:
- congratulai-vos comigo,
Pois uma dracma eu tinha
Perdido, mas encontrei-a,
E então convido-vos; vinde! -"

10"Assimé que há uma festa


Entre os anjos de Deus, digo-vos,
Toda vez que neste mundo
Aconteça de existir
Um caso de pecador
Que se tenha arrependido."

11Disse ainda: "Certo homem


Em casa tinha dois filhos,
12E o mais novo entre os dois

Veio ao pai um dia e disse:


- Pai, dá-me agora o que é meu. -
E o pai os bens repartiu-lhes."

13"Passados não muitos dias,


O caçula reuniu
Todos os bens e emigrou
Para um distante país,
E lá foi gastando tudo
Numa desregrada vida."

14"Depois de dissipar tudo,


Houve naquele país
Um tempo de grande fome
E ele passou a sentir
A falta do necessário.
15Foi e então pôs-se ao serviço"

"De um dos cidadãos da terra.


Este o mandou para o campo
A tomar conta dos porcos.
16Queria comer das landes

Que os porcos comiam, para


Matar sua fome então,"

92
"Mas sequer isso lhe davam.
17Caindo em si, ele disse:
- Lá na casa de meu pai
São tantos os diaristas
Que têm pão em abundância,
E eu passando fome aqui!"

18"Voltarei para o meu pai


E, l estando, direi isso:
Pai, eu pequei contra o céu,
Também pequei contra ti
19E agora já não sou digno

De ser chamado teu filho;"

"Trata-me, portanto, pai,


Como um dos teus empregados. -
20Levantou-se então e foi

Para a casa de seu pai.


O pai viu-o na chegada
Quando ainda longe estava"

"E, cheio de compaixão,


Correu a abraçar o filho
Pelo pescoço e a beijá-lo.
21E então o filho lhe disse:

- Pai, eu pequei contra o céu,


Também pequei contra ti"

"E agora já não sou digno


De ser chamado teu filho. -
22Mas o pai disse a seus servos:

- Trazei já, para vesti-lo,


A veste mais preciosa;
Ponde-lhe ao dedo o anel digno"

"E aos pés ponde-lhe calçados;


23Eo mais gordo dos novilhos
Matai, para que o comamos;
Festejemos, 24pois meu filho
Caçula, que estava morto,
Agora voltou à vida,"

93
"Ele tinha-se perdido
E agora foi encontrado. -
E começaram a festa.
25O filho mais velho achava-se

No campo e, quando voltou,


Estando perto da casa,"

"Ouviu sinfonia e danças.


26Chamando a um dos criados,
Pediu-lhe informações
Sobre o que significava
Tudo aquilo, 27e este lhe disse:
- Teu irmão voltou a casa"

"E um novilho dos mais gordos


Teu pai mandou que matássemos,
Pois o filho, com saúde,
Hoje foi recuperado. -
28Ele ficou indignado

E recusou-se a entrar."

"O pai precisou sair


Para então com ele instar,
29Porém, ele respondeu:

_ Há anos que tudo faço,


Sem ter jamais transgredido
Qualquer um dos teus mandados,"

"E tu não me deste nunca


Mesmo um pequeno cabrito
Para que assim eu pudesse
Banquetear com amigos!
30Mas ao filho que gastou

Os teus bens com meretrizes,"

"Tu deste o novilho gordo


Numa comemoração. -
31Mas o pai lhe respondeu:

- Filho, estás sempre lidando


Ao meu lado e o que é meu
Sempre é também teu, portanto;"

94
32"Porém, era necessário
Que em banquete festejássemos,
Porque este teu irmão
Vivo está, mas morto estava;
Antes estava perdido
E agora foi encontrado! -"

16. PARÁBOLA DO FEITOR INFIEL


Parábola do feitor infiel (1); Parábola do rico
avaro e do pobre Lázaro (19)

1Disse também aos discípulos:


"Certo homem muito rico
Tinha um administrador,
A quem se acusou um dia
De malbaratar seus bens.
2Ele então chamou-o e disse:"

"- Que tenho ouvido de ti?


Presta conta de teus atos,
Porque como meu feitor
Não mais poderás ficar. -
3E o feitor disse consigo:

- Que farei para arranjar-me,"

"Já que o meu senhor me tira


Das mãos a administração?
Para lavrar eu não sirvo;
Pedir esmolas, então,
Causa-me grande vergonha.
4Ah, mas tenho uma opção,"

"Para que de algum negócio,


Se da frente me afastarem,
Sempre haja uma pessoa
Que me receba em casa. -
5E chamou os devedores

Do senhor que o dispensara."

"E disse ao primeiro deles:


- Quanto ao meu senhor tu deves? -
6Este disse: - Cem barris

De azeite; é este o meu débito. -


E então disse-lhe o feitor:
- Tomai a caução depressa"

95
"E escreve nela cinqüenta. -
7Depois foi dizer a outro:
- E tu, que dívida tens
Para com o meu senhor? -
Disse este: - Eu devo cem sacas
De trigo. - E então o feitor"

"Disse-lhe: - Toma depressa


A caução e escreve oitenta. -
8E o senhor depois louvou

O vil feitor que, não tendo


Mais o emprego de antes,
Agiu muito sagazmente;"

"Pois os filhos deste mundo


São sempre mais atilados
Do que os filhos da luz,
No trato com os seus iguais.
9É por isso que eu vos digo:

Não deixeis de granjear"

"Amigos com a vil riqueza,


Para que, quando faltar
Tal riqueza, os amigos
Possam receber-vos lá
Nas sombras acolhedoras
Das tendas da eternidade."

10"Quem é fiel nas miudezas,


É fiel nas grandes coisas;
Será injusto no muito
Quem é injusto no pouco.
11No tocante à vil riqueza,

Se muito fiéis não fostes,"

"Quem vos há de confiar


A riqueza verdadeira?
12E se não fostes fiéis

Perante as coisas alheias,


Quem vos dará mais à frente
O que pertence a vós mesmos?"

96
13"Não pode um servo servir
Igualmente a dois senhores,
Pois odiará a um
E se afeiçoará a outro;
Ou se apegará a um,
Desprezando o outro, pois."

14"Não podeis servir a Deus


E ao mesmo tempo às riquezas."
Os fariseus o ouviam
E, apegados ao dinheiro,
Ficavam com zombarias.
15Porém, Jesus disse a eles:

"Vós sois aqueles que passam


Frente aos homens como justos,
Mas os vossos corações
Deus conhece-os e ao que buscam;
O que aos homens é sublime,
Para Deus é coisa impura."

16"Duraram lei e profetas


Até o tempo de João;
Desde aí é anunciado
O reino de Deus então,
E para entrar nesse reino
Todos vêm se esforçando."

17"Mas é mais fácil que passem


Céu e terra do que um traço
Da lei vir a se perder.
18Adúltero é o que larga

A mulher por outra, adúltero


É o que aceita a repudiada."

19"Havia certo homem rico


Que se vestia de púrpura
E bisso e todos os dias
Divertia-se com luxo.
20E um pobre chamado Lázaro,

Todo coberto de pústulas"

97
"E chagas, ficava ali,
Jogado junto ao portão.
21Desejava saciar-se

Com as migalhas de pão


Que da mesa do homem rico
Caíam, sujando o chão;"

"Mas os cães é que lhe vinham


Para lhe lamber as chagas.
22Eis que o mendigo morreu

E os anjos logo o levaram


Ao seio de Abraão.
Morreu e foi sepultado"

"Também o rico avarento.


23Eestava no inferno quando,
Imerso nos seus tormentos,
Lá, os olhos levantando,
Viu, de muito longe, Lázaro
No seio de Abraão."

24"Aos gritos, disse ele então:


- Pai Abraão, compadece-te
De mim e envia Lázaro
Para que ele me refresque
A língua, molhando em água
O dedo, porque no inferno"

"Sofro o tormento das chamas. -


25E respondeu-lhe Abraão:
- Filho, em vida recebeste
Os bens; mas Lázaro, não;
Só os males. E por isso
Ele é consolado, enquanto"

"Tu hoje és atormentado.


26Além disso, um grande abismo
Existe entre nós e vós;
De modo que os daqui
Que querem ir para vós
Ficam impedidos disso,"

98
"Nem os que estão aí podem
Vir para o lado de cá. -
27Retorquiu então o rico:

- Eu rogo-te, pois, ó pai,


Que à minha casa paterna
Tu decidas enviá-lo,"

28"Paraque aos meus cinco irmãos


Previna, para que tenham
Maneiras de evitar
Que venham eles também
Padecer isto que sofro
Neste lugar de tormentos. -"

29"Mas Abraão respondeu:


- Têm Moisés e os profetas;
Eles que os ouçam então. -
30Mas disse-lhe o rico, em réplica:

- Não, pai Abraão; porém


Se um dos mortos tu fizeres"

"Ir ter com eles, então


Eles se converterão. -
31Disse Abraão:- Se não ouvem

Moisés e os profetas, tanto


Menor crédito a um morto
Ressuscitado darão. -"

17. A VINDA DO REINO DE DEUS


Perdão das injúrias (1); Cura dos dez leprosos
(11); A vinda do reino de Deus (20)

1Disse ainda aos seus discípulos:


"Inevitável será
Que não sucedam escândalos,
Mas ai daquele que faz
Com que acontecimentos
Dessa ordem venham dar-se!"

2"Melhor seria para ele


Que ao pescoço lhe amarrassem
Uma pedra de moinho
E fosse lançado ao mar
Do que a um desses pequeninos
Vir a escandalizar!"

99
"Cuidai, portanto, de vós!
3Digo-te: se teu irmão
Ofender-te, repreende-o;
Mas dá-lhe o teu perdão,
Se ele se arrepender.
4Se ele te ofender, portanto,"

"Por sete vezes ao dia


E sete vezes ao dia
Ele retornar, dizendo:
- Eu estou arrependido, -
Tu lhe deves perdoar."
5Os apóstolos ouviram

E disseram ao Senhor:
"Aumenta-nos nossa fé."
6O Senhor lhes respondeu:

"Digo-vos, se fé tivésseis
Como um grão de mostarda,
Então diríeis a esta"

"Amoreira: - Com raízes,


Arranca-te e transplanta-te
Para o mar - e ela a vós
Obedeceria então.
7E quem de vós, tendo um servo

Que esteja a cuidar no campo"

"De arar ou guardar o gado,


Dir-lhe-á quando voltar:
- Vem cá, e senta-te à mesa -?
8Antes não lhe ordenará:

- Prepara-me a ceia, cinge-te,


E serve-me, enquanto eu cá"

"Fico a comer e a beber;


Depois disso, poderás
Comer e beber também -?
9Cosiderar-se-á, acaso,

O senhor na obrigação
De dizer-lhe um obrigado,"

100
"Só porque o servo cumpriu
O que lhe foi ordenado?
10Assim, também vós, depois

De fazer o que é mandado,


Dizei: - Somos pobres servos;
Já fizemos nossa parte. -"

11Sucedeu que, na viagem


Dele a Jerusalém,
Passava entre a Samaria
E a Galileia, 12e, tendo
De entrar num povoado,
Eis que surgiram-lhe à frente

Dez homens, todos leprosos,


Os quais, parando à distância,
13Ergueram a voz, dizendo:

"Ó Jesus, tem compaixão


De nós, vê o nosso estado!"
14Vendo-os, disse-lhes então:

"Ide até os sacerdotes."


E aconteceu que na ida
Viram que ficaram limpos.
15E um deles, notando isso,

Louvou a Deus em voz alta,


Enquanto voltava ali,

16E aos pés de Jesus lançou-se,


Na terra a face roçando,
E dando graças a ele;
Este era um samaritano.
17Jesus, tomando a palavra,

Dirigiu-se a ele então:

"Não foram limpos os dez?


Onde estão os outros nove?
18Não se encontrou quem voltasse

Para render a Deus glória,


A não ser este estrangeiro?"
19E completou deste modo:

101
"Homem, levanta-te e vai;
A tua fé te salvou."
20E como lhe interrogassem

Alguns dos fariseus sobre


Quando ocorreria a vinda
Do reino de Deus ao povo,

Disse-lhes ele, em resposta:


"O reino de Deus não vem
De uma maneira ostensiva,
21E não poderá ninguém

Dizer: - Ei-lo aqui, ou ali, -


O reino de Deus, porém,"

"Já está no meio de vós."


22Disse depois aos discípulos:
"Tempo virá em que vós
Desejareis ver um dia
Desses do Filho do homem,
Mas não o vereis aqui."

23"E se alguns vos disserem:


- Ei-lo aqui,- ou: - ei-lo ali, -
Não vades, não o sigais;
24Pois assim como a faísca

Do relâmpago, de um lado
Ao outro do céu rebrilha,"

"Assim o Filho do homem


Surgir-vos-á no seu dia,
25Mas primeiro é necessário

Que ele sofra seu suplício


E por esta geração
Seja rejeitado em vida."

26"Como ao tempo de Noé,


Bem assim sucederá
Também ao Filho do homem
No dia em que este chegar:
27Eles comiam, bebiam,

Tomavam noivas, casavam,"

102
"Até o dia em que Noé
Entrou na arca, e surgiu
O dilúvio, que a todos,
Sem demora, destruiu.
28E como os dias de Lot

Também será esse dia:"

"Todos comiam, bebiam,


Também vendiam, compravam,
Plantavam e construíam;
29Mas Lot, assim que a cidade

De Sodoma abandonou,
Viu do céu precipitar-se"

"A chuva de enxofre e fogo,


Que a todos exterminou.
30Do mesmo modo será

Naquele dia em que a todos


Vier o Filho do homem
A revelar-se de chofre."

31"Quem nesse dia estiver


No terraço, tendo em casa
Seus bens, não deve descer
Para de lá retirá-los,
E quem estiver no campo
Não deve voltar atrás."

32"Pensai na mulher de Lot.


33Quem tentar salvar sua vida,
De fato, perdê-la-á,
E quem a der por perdida,
Este conservá-la-á.
34Naquela noite, eu vos digo:"

"Estarão duas pessoas


Sobre uma cama deitadas;
Será tomada uma delas
E a outra será deixada.
35Duas mulheres na mó

Havendo, tomar-se-á"

103
"Uma das duas e a outra
Lá mesmo será deixada."
36Indagando, eles disseram:

"Senhor, onde isso será?"


37Disse ele: "Onde o corpo esteja,

Estarão aí as águias."

18. JESUS E AS CRIANCINHAS


Parábola do juiz e da viúva (1); Jesus e as
criancinhas (15); O jovem rico (18); Terceiro anúncio
da paixão (31); Cura do cego de Jericó (35)

1Disse-lhes uma parábola


Sobre o dever de orarem
Sempre, sem desfalecer:
2"Havia numa cidade

Um juiz que não temia


A Deus e não respeitava"

"A qualquer homem que fosse.


3E havia nessa cidade
Determinada viúva
Que sempre com ele estava,
Pedindo: - Faz-me justiça
Contra o meu adversário. -"

4Ele,por um longo tempo,


Não aceitou atendê-la,
Mas, depois, disse consigo:
- Embora eu não tema a Deus
Nem respeite homem algum,
5Far-lhe-ei justiça assim mesmo,"

"Para que esta viúva


Deixe de me importunar. -"
6E concluiu o Senhor:

"Prestai atenção na fala


Daquele juiz iníquo.
7Sendo assim, Deus não fará"

"Justiça aos seus escolhidos,


Que estão a clamar por ele
Toda noite e todo dia?
Tardará em socorrê-los?
8Digo-vos que, bem depressa,

Justiça lhes será feita."

104
"Porém, o Filho do homem,
Em sua vinda, achará,
Acaso, a fé sobre a terra?"
9E disse uma outra parábola

Aos que amavam a si próprios,


Mas aos outros desprezavam:

10"Foram dois homens ao Templo


Para fazer oração,
Sendo um deles fariseu
E o outro um publicano.
11O fariseu lá consigo,

De pé, firme, ia rezando:"

"- Ó Deus, em ti agradeço


Porque, tu sabes, não sou
Como esses outros homens,
Rapaces, injustos ou
Adúlteros, ou como este
Publicano que aí entrou."

12"Jejuo, na forma devida,


Duas vezes por semana
E pago o correto dízimo
Sobre todos os meus ganhos. -
13O publicano, porém,

Conservava-se à distância,"

"E não ousava sequer


Os olhos ao céu erguer;
Contudo, ainda dizia,
Batendo no próprio peito:
- Peço-te, perdoa a mim,
Que sou pecador, ó Deus! -"

14"Digo-vos:justificado
Voltou este para casa,
Bem ao contrário do outro;
Pois quem se exalta será
Humilhado, e o que se humilha,
Este será exaltado."

105
15Traziam-lhe as crianças
Para ele acariciar
E, vendo isso, os discípulos
Com a multidão ralhavam,
16Mas Jesus a si tomou-as

E foi dizendo, em voz alta:

"Venham-me a criancinhas!
E não as embaraceis,
Pois aos que se lhe assemelham
Pertence o reino de Deus.
17Eu em verdade vos digo:

O que, enfim, não acolher"

"Como uma criancinha


Em si o reino de Deus
Não terá de forma alguma
Meios para entrar nele."
18Um dos chefes perguntou-lhe:

"Bom Mestre, que hei de fazer?"

"Para ter a vida eterna,


Devo eu proceder como?"
19Jesus então respondeu-lhe:

"Por que tu me chamas bom?


Ninguém é bom senão Deus.
20Dos mandamentos dás conta:"

"'Não cometer adultério,


Não matar e não furtar,
Não dar falso testemunho,
Ao pai e à mãe honrar.'"
21O homem lhe respondeu:

"Tudo isso tenho guardado"

"Desde a minha juventude."


22Istoouvindo, Jesus disse:
"Falta-te ainda uma coisa:
Vende o quanto possuíres,
Dá aos pobres e um tesouro
Terás no céu. Vem seguir-me."

106
23Ouvindo isso, entristeceu,
Pois era ele muito rico.
24Vendo-o assim, Jesus disse:

"Vede vós: quanto é difícil


Que entre no reino de Deus
Quem para a riqueza existe!"

25"É mais fácil um camelo


Passar pelo orifício
Do fundo de uma agulha
Do que vir a entrar um rico
No reino de Deus, eu digo-vos."
26Disseram os que o ouviram:

"Quem pode salvar-se então?"


27E Jesus lhes respondeu:
"O que é impossível aos homens
É possível para Deus."
28Depois daquele momento,

Tomou a palavra Pedro:

"Deixamos tudo o que tínhamos


E decidimos seguir-te."
29E então Jesus respondeu:

"Eu em verdade vos digo:


Não há quem tenha deixado
A casa, a mulher, os filhos,"

"Os irmãos ou ainda os pais,


Devido ao reino de Deus,
30Que muito mais do que isso

Neste mundo não receba,


E não venha no futuro
A vida eterna obter."

31Eisque em seguida chamou


Os doze e então lhes disse:
"Vamos a Jerusalém,
E será cumprido ali
O que do Filho do homem
Há muito encontra-se escrito"

107
"Pelos antigos profetas.
32Será entregue aos gentios,
Escarnecido, ultrajado
E, sob açoites, cuspido;
33E, depois de flagelado,

Terá tirada sua vida."

"Porém no terceiro dia


Ele ressuscitará."
34Mas eles não conseguiam

Compreender tais palavras;


Elas eram um enigma;
Eles não as decifravam.

35Sucedeu que quando estavam


Já perto de Jericó,
Sentado à beira da estrada
Um cego pedia esmolas.
36Quis saber o que era aquilo

Ao ouvir a turba em volta.

37Disseram-lhe:"É Jesus
Nazareno que está vindo."
38Ele então pôs-se a gritar:

"Tem piedade de mim,


Jesus, filho de Davi!"
39Logo à frente do caminho,

Alguns vinham lhe dar ordens


Para não gritar assim.
Mas ele continuava
E gritava mais ainda:
"Jesus, filho de Davi,
Tem piedade de mim!"

40Jesus,parando, ordenou
Que esse homem lhe trouxessem,
E, quando ele aproximou-se,
Perguntou-lhe: 41"Que tu queres
Que eu te faça?" 42E ele disse:
"Senhor, faz com que eu enxergue."

108
E Jesus disse-lhe: "Vê!
A tua fé te salvou."
43Logo ele viu, e seguiu-o,

Glorificando ao Senhor.
E todo o povo, ao ver isso,
Rendeu a Deus seus louvores.

V) EM JERUSALÉM

19. ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM


O publicano Zaqueu (1); Parábola das dez minas
(11); Entrada triunfal em Jerusalém (28)

1Tendo entrado em Jericó,


Atravessava a cidade.
2Com o nome de Zaqueu

Havia nesse lugar


Um chefe dos gabeleiros,
Que era um homem abastado.

3Através da multidão,
Procurava ver Jesus;
Porém, não o conseguia,
Por ser de baixa estatura.
4Então subiu a um sicômoro,

De onde podia ver tudo;

Como esperado, Jesus


Passaria por ali.
5E este, chegando ao lugar,

Olhou para cima e disse:


"Zaqueu, desce; pois convém
Que em tua casa hoje eu fique."

6Eledepressa desceu,
Recebendo-o alegremente.
7Todos estranharam isso

E murmuravam, dizendo:
"Em casa de um pecador
Hospedar-se ele pretende!"

109
8Mas Zaqueu, apresentando-se,
Disse, perante Jesus:
"Eis, Senhor, que dou aos pobres
Metade do que possuo
E se defraudei alguém,
Vou restituir-lhe tudo"

"No quádruplo do valor."


9Jesus disse: "A salvação
Veio hoje a esta casa,
Que é de um filho de Abraão.
10O Filho do homem salvou

O que estava em perdição."

11Estando eles a ouvir,


Contou-lhes uma parábola,
Por estar Jerusalém
Já perto, e eles julgarem
Que em breve o reino de Deus
Iria manifestar-se.

12Disse pois: "Um certo homem


Filho de nobre linhagem
Foi a um país distante
A fim de se intitular
Como rei, para em seguida
À sua terra voltar."

13"Chamando dez dos seus servos,


Deu-lhes dez minas e disse-lhes:
- Negociai, entrementes,
Até que eu retorne aqui. -
14Mas os seus concidadãos

Odiavam-no e por isso"

"Enviaram deputados
Atrás dele, a protestar:
- Não queremos que ele reine! -
15Ora, tendo ele voltado

Investido como rei,


Mandou chamar os criados"

110
"Com quem deixara o dinheiro,
Para ver com cada um deles
O quanto tinham lucrado.
16Apresentou-se o primeiro

E disse: - Senhor, a mina


Outras dez minas rendeu. -"

17"Elerespondeu então:
- Bravo, meu bom servidor!
Por teres sido fiel,
Ainda que em coisa pouca,
Agora, de dez cidades
Tu serás governador. -"

18"O segundo veio e disse:


- A tua mina, senhor,
Cinco minas produziu. -
19E sua resposta foi:

- Perante cinco cidades


Tu serás governador. -"

20"Veio, enfim, o outro e disse:


- Senhor, eis tua moeda,
Que eu conservava num lenço.
21Temia a ti, que és severo:

Colhes onde não plantaste,


Tiras de onde não puseste! -"

22"Disse-lhe o seu senhor:


- Pelos teus próprios dizeres
Julgo-te, mau servidor.
Sabias que imponho medo,
Que tiro de onde não ponho
E colho o que não plantei;"

23"Então, porque não puseste


O meu dinheiro num banco?
Ao menos, na minha volta,
Teria os juros por ganho. -
24Disse depois aos presentes:

- Tirai-lhe a mina das mãos"

111
"E dai-a a quem tem dez. -
25Disseram-lhe então: - Senhor,
Ele já possui dez minas! -
26Disse: - Eu digo-vos que a todo

Aquele que já tiver


Mais ser-lhe-á dado, pois;"

"E àquele que não tem nada


Será tirado o que tem.
27E esses que não me queriam

Como rei, tais oponentes


Trazei-os e degolai-os
Aqui na minha presença. -"

28Depois de ter dito isso


Jesus seguiu adiante,
Subindo a Jerusalém.
29De Betfagé e Betânia,

No monte das Oliveiras,


Achava-se perto, quando

Enviou dois dos discípulos


À sua frente, 30dizendo:
"Ide vós àquela aldeia
Que está à nossa frente;
Entrando nela achareis
Preso um pequeno jumento,"

"Que ninguém ainda montou.


Desatai-o e trazei-o.
31E se alguém vos perguntar

Porque o soltais, dir-lhe-eis


Em resposta apenas isso:
- O Senhor precisa dele. -"

32Partiram os enviados
E lá tudo eles acharam
Como o Senhor tinha dito.
33No momento em que soltavam

O jumentinho, disseram
Os donos: "Por que o soltais?"

112
34Eles então responderam:
"O Senhor precisa dele."
35Trouxeram-no a Jesus.

E lançaram sobre o pêlo


Do jumentinho os seus mantos.
Jesus montou, ali mesmo.

36E por onde ele passava,


As pessoas estendiam
Seus mantos pelo caminho.
37E já próximo à descida

Do monte das Oliveiras,


A multidão dos discípulos

Passou a louvar a Deus,


Alegremente, por todos
Os prodígios que já tinham
Visto. 38Diziam em coro:
"'Bendito aquele que vem,
Rei, em nome do Senhor!'"

"Paz no céu e muita glória


Nas alturas, lá em cima!"
39Disseram uns fariseus,

Que em meio à multidão vinham:


"Mestre, Mestre, repreende
Teus discípulos! Ensina-os!"

40Mas respondeu-lhes Jesus:


"Digo-vos: se se calarem,
Então clamarão as pedras."
41E quando viu a cidade,

Estando já perto dela,


Chorou, dizendo em voz alta:

42"Oh! se neste dia tu


Tivesses reconhecido
Também o que te convém!
Mas, ai, isso está escondido
E não o alcançam teus olhos!
43Pois para ti virão dias"

113
"Em que os teus inimigos
Te cercarão de trincheiras,
E te assediarão
E te trarão o aperto,
Que virá de todo lado.
44E vão então te abater"

"A ti e aos filhos teus


Que dentro de ti estão
E em ti pedra sobre pedra
Digo que não deixarão,
Porque não reconheceste
A hora da visitação."

45Etendo entrado no Templo


Começou a expulsar
Os vendedores, 46dizendo:
"Escrito está: 'Minha casa
Será casa de oração!
E vede em que a transformastes':"

"Em 'um covil de ladrões'!"


47Edesde então ensinava
Todos os dias no Templo.
Ora, ali procuravam
Grão-sacerdotes, escribas
E chefes eliminá-lo;

48Porém não acharam meios


Para realizar isso,
Pois dos seus lábios suspenso
Ficava o povo ali,
Sempre que se aglomerava
No Templo para o ouvir.

20. SOBRE A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS


Questionada a autoridade de Jesus (1); Parábola
dos vinhateiros maus (9); O tributo a César (20);
Sobre a ressurreição dos mortos (27)

1Aconteceu nesses dias


Que, estando ele a ensinar,
Anunciando a boa-nova
No Templo, aos que lá entravam,
Vieram grão-sacerdotes,
Que estavam acompanhados

114
Por escribas e anciãos,
2E a Jesus se dirigiram,
Dizendo: "Que autoridade
Tens tu para fazer isso,
Ou quem foi que concedeu
Tal autoridade a ti?"

3Respondendo, Jesus disse-lhes:


"Também perguntar-vos-ei:
4Vinha o batismo de João

Do céu, dos homens, ou o quê?"


5Discorreram entre si,

Dizendo: "Se respondermos"

"Que do céu, replicará:


- Por que não lhe destes crédito? -
6Se dissermos:- É dos homens. -

O povo lançará pedras


Sobre nós, pois tem certeza
De que João era profeta."

7Responderam que o batismo


Donde vinha não sabiam.
8E Jesus lhes respondeu:

"Eu a vós tampouco digo


Que tipo de autoridade
Tenho para fazer isto."

9Pôs-se depois a dizer


Ao povo esta parábola:
"Um homem plantou uma vinha,
Tendo-a deixado arrendada
A uns lavradores e esteve
Por muito tempo afastado."

10"Eisque no devido tempo,


Enviou-lhes um criado,
Com ordem de lhe trazer
Dos frutos da vinha a parte.
Os vinhateiros, porém,
Espancaram-no e mandaram-no"

115
"Retornar de mãos vazias.
11Enviou outro criado,
E eles, depois de o vexarem
E lhe baterem, mandaram-no
Também com as mãos vazias.
12Enfim, voltou a mandar"

"Um terceiro, e ainda este


Feriram e despediram.
13Disse o dono: - Que farei?

Enviarei o meu filho,


O unigênito; pois este
Terá o respeito devido. -"

14"Mas os lavradores, vendo-o


Chegar, disseram consigo:
- Este é o herdeiro; matemo-lo,
Porque, dessa forma, fica
Para nós toda a herança. -
15Fora, tiraram-lhe a vida."

"O que a esses fará


O dono da vinha, pois?
16Virá para eliminá-los

E entregar a vinha a outros!"


Os ouvintes responderam:
"Não permita Deus tal coisa!"

17Jesus, perscrutando-os, disse:


"Que é isto que está escrito:
'A pedra que os construtores
Rejeitaram, esta aí
É a que enfim se tornou
Pedra angular do edifício'?"

18"Todoaquele que cair


Sobre essa pedra será
Totalmente esfacelado,
E aquele desavisado
Sobre o qual ela cair,
Este será esmagado."

116
19Grão-sacerdotes e escribas
Entenderam que a parábola
Fora dirigida a eles;
Tentavam as mãos lançar-lhe
Ali mesmo, mas o povo
Fez com que se amedrontassem.

20Passaram a espiá-lo.
Mandaram-lhe subornados
Fingindo-se zeladores
Da justiça, para olhá-lo
E apanhá-lo em um deslize
Qualquer de suas palavras,

E entregá-lo, depois disso,


Em poder da autoridade,
Nas mãos do governador.
21Eles o interrogaram:

"Mestre, nós julgamos reto


O que ensinas, o que falas,"

"Tu não fazes acepção


De pessoas, e ensinas,
Sempre segundo a verdade,
De Deus o justo caminho.
22É-nos lícito que a César

Paguemos tributo, enfim?"

23Sentindo a astúcia, ele disse:


24"Mostrai-me uma moeda.
Traz a imagem de quem?"
"De César", eles disseram.
25Disse Jesus: "Dai, portanto,

A César o que é de César,"

"E a Deus o que é de Deus."


26Eassim esses subornados
Não puderam surpreendê-lo,
Frente ao povo, nas palavras.
A resposta os assustou
E eles ficaram calados.

117
27Depois, alguns saduceus,
Que sustentam não haver
A ressurreição dos mortos,
Aproximaram-se dele
E, querendo interrogá-lo,
28Começaram a dizer-lhe:

"Moisés deixou-nos escrito


Que se algum homem morrer
Deixando mulher sem filhos,
Seu irmão tem o dever
De desposar a viúva
E dar descendência a ele."

29"Ora, havia sete irmãos.


O primeiro se casou,
Tendo morrido sem filhos.
30Casou-se com sua esposa

O segundo dos irmãos,


Que veio a morrer depois."

31"Então casou-se o terceiro,


E assim sucessivamente.
Todos os sete morreram
Sem que houvessem descendentes.
32Por fim, depois dos irmãos

A esposa morreu também."

33"Depois da ressurreição,
De quem será a mulher?
Pois que antes, por esposa,
Todos os sete a tiveram."
34Jesus então respondeu-lhes:

"As pessoas deste século"

"Casam e se dão em núpcias,


35Mas esses que forem dignos
Da ressurreição dos mortos
E do outro mundo, eu vos digo
Que não tomarão esposas,
E elas não terão maridos,"

118
36"Pois não poderão morrer;
Serão, sim, iguais aos anjos
E filhos de Deus e filhos
Também da ressurreição.
37De que os mortos ressuscitam

Moisés também deu lição"

"No episódio da sarça,


Quando chamou ao Senhor
'Deus de Abraão, Deus de Isaac
E Deus de Jacó' e, pois,
38Deus não é dos que estão mortos,

É dos vivos, porque todos"

"Estão para ele vivos."


39Alguns escribas mostraram
Sua aprovação, dizendo:
"Mestre, muito bem falaste."
40Estes, dali em diante,

Não mais o interrogaram.

41Mas perguntou-lhes Jesus:


"Como dizem que o Messias
É um filho de Davi?
42Pois é o mesmo Davi

Que, lá no livro dos Salmos,


Numa passagem afirma:

"'Disse Deus ao meu Senhor:


- Senta-te à minha destra,
43Que eu ponho teus inimigos

A teus pés como escabelo. -'


44Se Davi chama-o Senhor,

Como será filho seu?"

45Ouvindo-o todo o povo,


Disse Jesus aos discípulos:
46"Dos escribas esquivai-vos.

Gostam de vestes compridas,


De ser saudados nas praças,
De estar nas primeiras filas"

119
"Nos bancos das sinagogas
E dos primeiros lugares
Quando acorrem aos banquetes;
47Eles devoram as casas

Das viúvas e, ostentando,


Compridas orações fazem,"

"Como forma de disfarce.


Asseguro-vos, deveras,
Que, ao tempo do acerto,
Entre os filhos deste século,
Eles é que provarão
Condenação mais severa."

21. SOBRE A SEGUNDA VINDA DE JESUS


O óbolo da viúva (1); Sobre a ruína de Jerusalém
(5); Sobre a segunda vinda de Jesus (25)

1Erguendo Jesus os olhos,


Viu os ricos que, no Templo,
Lançavam seus donativos
No cofre das oferendas.
2Nisso, uma viúva pobre

Pôs duas moedas dentro.

3Ao vê-la, disse Jesus:


"Eu em verdade vos digo
Que esta viúva lançou
Mais do que todos aqui,
4Pois todos deram a Deus

Sobras do que possuíam,"

"Ela, porém, retirou


Da sua própria pobreza
O quanto ela possuía
Para conseguir viver,
E desse pouco que tinha
A sua oferta foi feita."

5Como dissessem alguns


Que o Templo era guarnecido
Com belas pedras e ofertas,
Jesus, em respostas, disse:
6"De tudo o que estais vendo,

Em breve virá o dia"

120
"Em que pedra sobre pedra
Não restará por aqui
Sem que seja derrubada.
7Perguntaram-lhe, em seguida:

"Mestre, dize-nos então:


Quando acontecerá isto?"

"E qual será o sinal


Para indicar o momento?"
8Ele respondendo, disse-lhes:

"Não deixeis de estar atentos


Para que não vos enganem;
Porque, nos próximos tempos,"

"Muitos virão em meu nome,


Dizendo: - Eu sou o Messias
E já é chegada a hora. -
Não o sigais! 9E se ouvirdes
Falar de guerras e rusgas
Não vos assusteis, pois isso"

"Acontecerá primeiro,
Mas não será logo o fim."
10Disse mais: "Erguer-se-á

Povo contra povo e, ainda,


Reino contra reino, e então
11Acontecerão, enfim,"

"Grandes terremotos, fomes,


Epidemias, eventos
Pavorosos e sinais
Celestes surpreendentes.
12Antes que tudo isso ocorra,

Perseguir-vos-ão, porém;"

"E lançar-vos-ão as mãos,


Entregando-vos, depois,
Em sinagogas, prisões,
Aos reis e governadores;
Sim, por causa do meu nome.
13Mas vós tereis, em retorno,"

121
"Ocasião para dardes
De mim vosso testemunho.
14Ponde em vosso coração,

Pois, que não devereis nunca


Premeditar em defesa
De vós argumento algum,"

15"Porque eu vos darei língua


E sabedoria tais
A que adversários vossos
Não poderão constrastar,
Tampouco contradizer.
16Trair-vos-ão vossos pais,"

"Irmãos, parentes e amigos,


E levarão a morrer,
Portanto, muitos de vós.
17Odiados vós sereis

Por defenderem meu nome,


18Porém, sequer um cabelo"

"Da cabeça perdereis.


19Por vossa perseverança
Salvareis as vossas almas.
20E quando virdes então

Jerusalém sitiada,
Sabei que a devastação"

"Encontra-se às suas portas.


21Quem estiver na Judeia,
Então fuja para os montes;
Quem na cidade estiver,
Retire-se; os que dos campos
Vierem, não entrem nela;"

22"Porque serão de vingança


E de castigo esses dias,
A fim de se cumprir tudo
Aquilo que foi escrito.
23Ai das que estiverem grávidas

Ou a amamentar seus filhos!"

122
"Pois haverá nesses dias
Enormes calamidades
Sobre o país, e o castigo
Sobre o povo descerá.
24Uns sob a espada cairão,

Outros irão como escravos"

"Para todas as nações,


E Jerusalém será
Pisada pelos gentios,
Até vir a completar-se
Todo o tempo que essas gentes
Têm para fazer sua parte."

25"Haverá sinais no sol,


Na lua e nas estrelas;
E em terra, a angústia dos povos,
Apavorados por ver
A confusão do bramido
Do mar, nas vagas costeiras;"

26"De pavor, morrerão homens


Na expectativa dos males
Que acontecerão no mundo,
Porque serão abalados
'Até os poderes celestes'.
27Nesse dia ver-se-á"

"'O Filho do homem vindo


Numa nuvem', com poder
E com grande majestade.
28Ora, quando suceder

De tais coisas começarem,


Os vossos olhos erguei;"

"Levantai vossas cabeças,


Porque está muito próxima
A vossa libertação."
29E acrescentou nesta hora

Esta pequena parábola


Aos que ouviam sua voz:

123
"Vede a figueira e outras árvores:
30Quando passam a brotar,
Vós percebeis que o verão
Está perto de chegar.
31Assim também, quando virdes

Tais coisas terem lugar,"

"Ficai sabendo que próximo


O reino de Deus está.
32Eu em verdade vos digo:

De fato, não passará


A presente geração
Sem ver tudo realizar-se."

33"Passarão o céu e a terra,


Porém, as minhas palavras
Não haverão de passar.
34Tende, pois, muito cuidado

Para que, enfim, não se tornem


Vossos corações pesados"

"Pelos excessos à mesa,


Também pela embriaguez
Ou pelos zelos da vida.
Que não seja uma surpresa
Para vós aquele dia,
35Como o será para esses"

"Que habitam a terra inteira.


Cair-lhes-á como um laço.
36Velai, pois, em todo o tempo,

Sempre orando, para estardes


Em condições de fugir
De todos aqueles males"

"Que estão para acontecer,


De modo a estardes bem firmes
Perante o Filho do homem."
37Assim, enquanto era dia,

Jesus estava a ensinar


No Templo, e à noite ia

124
Para o monte conhecido
Por monte das Oliveiras.
38E o povo, todos os dias,

Ia ao Templo muito cedo


Para ouvir toda a palavra
Dos ensinamentos dele.

22. A ÚLTIMA CEIA


Conspiração do sinédrio (1); A última ceia (7);
Agonia de Jesus no Getsêmani (39); A prisão de
Jesus (47); Pedro nega Jesus três vezes (54)

1Aproximava-se a festa
Dos ázimos, que era a Páscoa;
2Grão-sacerdotes e escribas

Tentavam eliminar
Jesus, porém tinham medo
Que o povo se revoltasse.

3Entrou então Satanás


Em Judas, o Iscariotes,
Que acompanhava Jesus
Como um dos doze apóstolos.
4Foi tratar com oficiais

E com os grão-sacerdotes

Do modo como haveria


De entregar-lho em suas mãos.
5Muito alegres, prometeram-lhe

Dinheiro pela ação.


6Para entregar-lhe às ocultas

Buscava uma ocasião.

7Chegou o dia dos ázimos,


Em que um cordeiro imolava-se.
8Jesus disse a Pedro e João:

"Ide e a ceia da Páscoa


Preparai para nós todos."
9Eles então perguntaram-lhe:

"Onde queres que a façamos?"


10Eledisse: "Assim que entrardes
Na cidade, vereis um
Levando uma bilha de água;
A este homem segui
Até que ele entre em casa."

125
11"Dizeiao dono da casa:
- O mestre manda dizer-te:
Onde está o aposento
Em que haverei de comer
A Páscoa com meus discípulos? -
12Mostrar-vos-á então ele"

"Uma sala mobiliada.


Lá, fazei o necessário."
13Seguindo adiante, pois,

Eles a tudo encontraram


Conforme Jesus dissera-lhes,
E prepararam a Páscoa.

14Chegada a hora da ceia,


Jesus sentou-se à mesa.
E com ele os doze apóstolos.
15Passou então a dizer-lhes:

"Desejei ardentemente
Esta páscoa comer"

"Em companhia de vós


Antes do meu padecer,
16Pois nesta hora eu vos digo

Que não mais a comerei


Até que ela se cumpra
No pleno reino de Deus."

17E,tendo tomado o cálice,


Rendeu graças e então disse:
"Tomai isso e entre vós
Reparti-o, 18pois eu digo-vos:
Até de Deus vir o reino
Não mais beberei da vide."

19Tomou o pão, rendeu graças,


Partiu-o e deu-o aos apóstolos,
Dizendo:"Isto é o meu corpo,
O qual é dado por vós.
Tomai e comei. Fazei
Isto em minha memória."

126
20Terminada a ceia, fez
Ele o mesmo com o cálice,
Dizendo: "Este cálice é
A Aliança renovada
No meu sangue, que por vós
Logo será derramado."

21"Entretanto, está comigo


À mesa a mão de quem há
De trair-me, 22pois, segundo
O que já está decretado,
Vai-se o Filho do homem;
Mas ai desse pelo qual"

"O mesmo será entregue!"


23Nesta hora começaram
A perguntar entre si
Sobre, de entre os doze, qual
Viria a fazer tal coisa.
24Uma discussão a mais

Iniciou-se entre eles.


Queriam determinar
Quem dos doze deveria
O maior considerar-se.
25Disse-lhes Jesus, porém:

"Os reis das nações as fazem"

"Sentir todo o seu poder,


E os que têm autoridade
Sobre eles, de benfeitores
Logo vêm a ser chamados.
26Quanto a vós, não é assim;

Mas o maior, este faça-se"

"Como se fosse o menor;


E o que governa, este aja
Apenas como quem serve.
27Pois, quem é o maior, de fato:

Aquele que está à mesa


Ou o que serve o que lá está?"

127
"Não é o que está à mesa?
No meio de vós, porém,
Eu estou como quem serve;
28Vós sois aqueles que tendes

Permanecido comigo
Nas provações que eu enfrento."

29"Eu preparo para vós


Um reino, assim como o Pai
Preparou-o para mim,
30A fim de que vós comais

E bebais à minha mesa,


No meu reino e em minha casa,"

"E assentar-vos-ei em tronos,


De onde vós ireis julgar
De Israel as doze tribos.
31Simão, ó Simão, cuidado!

Eis que satanás buscou


Como ao trigo joeirar-vos;"

32"Porém, eu roguei por ti


Para que não desfaleça
Tua fé; e, convertido,
Conforta, pois, desta vez,
A todos os teus irmãos."
33Então respondeu-lhe Pedro:

"Senhor, estou preparado


Para te seguir ao cárcere,
E, se preciso, à morte."
34E Jesus: "Não cantará

Hoje o galo, sem que tu,


Ó Pedro, venhas negar,"

"Por três vezes, conhecer-me."


Em seguida disse a todos:
35"Quando enviei-vos sem alforje,

Sem sandálias e sem bolsa,


Porventura, no caminho,
Faltou-vos alguma coisa?"

128
36Elesdisseram-lhe: "Nada."
Disse Jesus: "Mas agora,
Quem tem uma bolsa, tome-a,
E assim também o alforje;
E espada, quem não tiver
Venda o manto e compre-a fora;"

37"Porque digo-vos que deve


Cumprir-se em mim desde hoje
Aquilo que está escrito:
'Foi posto entre os malfeitores'.
Aquilo que está escrito
Sobre mim chega ao fim, pois."

38Disseram eles: "Senhor,


Eis aqui duas espadas."
Então Jesus disse: "Basta!"
39Tendo saído de lá,

Ao monte das Oliveiras


Dirigiu-se, como estava

Acostumado a fazer.
Foram com ele os discípulos.
40Ali chegando, voltou-se

Aos discípulos e disse:


"Orai, para que possais
Às tentações resistir."

41Então afastou-se deles


Cerca de um tiro de pedra
E, ajoelhando-se, orava:
42"Ó meu Pai, se tu quiseres,

De mim afasta este cálice;


Porém, não seja o que eu peço,"

"Mas, sim, a tua vontade."


43E então para confortá-lo
Desceu um anjo do céu.
Em agonia, ele orava
Ainda mais intensamente,
44E o suor que derramava

129
Eram gotas de seu sangue,
Que caíam pelo chão.
45Levantou-se depois disso

E, encerrando a oração,
Veio ter com seus discípulos,
Que encontrou já dormitando,

Devido à grande tristeza


Que eles sentiam ali.
46Jesus, pois, aproximando-se,

Disse-lhes: "Por que dormis?


Levantai-vos e orai,
Para à tentação fugir."

47Eestando ainda a falar,


Surgiu em tropel de gente,
Que trazia um dos doze,
Chamado Judas, à frente.
E este, para o beijar,
Aproximou-se habilmente.

48Jesus disse-lhe então:


"Judas, com um beijo vens
Trair o Filho do homem?"
49Os discípulos, sabendo

Do que ia acontecer,
Disseram: "Senhor, convém"

"Que os ataquemos à espada?"


50Eum deles logo feriu
Do grão-sacerdorte o servo,
Na orelha direita. 51Nisso,
Jesus tomou a palavra:
"Basta! Deixai-os agir!"

Tocando a orelha do servo,


Curou-o no mesmo instante.
52E disse aos grão-sacerdotes,

Oficiais e anciãos:
"Viestes com paus e espadas
Como a buscar um ladrão!"

130
52"Estando em todos os dias
No templo, e vós ali perto,
Não me pusestes as mãos.
Mas a vossa hora é esta;
É o desencadeamento
De todo o império das trevas."

54Prendendo-o, então levaram-no


E introduziram-no em casa
Do chefe grão-sacerdote;
Pedro seguia-o, afastado.
55Tendo eles acendido

Uma fogueira no pátio

E sentando-se ao redor,
Sentou-se ali também Pedro.
56Uma criada o viu

Sentado ao lume, e então veio


Fitando-o bem e dizendo:
"Este estava lá com ele!"

57Mas Pedro o negou, dizendo:


"Mulher, eu não o conheço."
58Veio depois outro e disse:

"Ah, tu também és um deles!"


Pedro disse: "Homem, não sou!"
59Passada uma hora, outro veio

Dizendo insistentemente:
"Este também, com certeza,
É um que com ele estava,
Pois até é galileu!"
60Pedro respondeu: "Ó homem,

O que dizes eu não sei!"

Ali, imediatamente,
Quando ele ainda falava,
Eis que o galo cantou.
61Então, tendo-se voltado,

Olhou o Senhor para Pedro,


Que se lembrou da palavra

131
Predita: "Não cantará
Hoje o galo, sem que, Pedro,
Tu mesmo venhas negar,
Por três vezes, conhecer-me."
62Pedro, saindo então fora,

Chorou, com grande tristeza.

63Os que guardavam Jesus


Zombavam dele e feriam-no;
64Vendavam-no e perguntavam,

Depois de o confundir:
"Adivinha quem bateu?"
65E mais desfeitas faziam-lhe.

66Edepois que se fez dia,


O conselho reuniu-se,
Juntando anciãos do povo,
Grão-sacerdotes e escribas,
E, levando-o ao Sinédrio,
Disseram: "Se és o Messias,"

"Declara-o perante nós."


67Mas Jesus lhes respondeu:
"Se eu vo-lo disser, em mim
Vós não acreditareis,
68E, se eu vos interrogar,

Vós não me respondereis."

69"Mas, desde que passe isto,


'O Filho do homem' estará
Então 'sentado à direita
Do poder de Deus', no alto."
70Disseram-lhe:"Então tu és

O Filho de Deus, de fato?"

Jesus respondeu a eles:


"Vós o dizeis, tal eu sou."
71E disseram: "Testemunhos?

Necessitamos de outros?
Pois nós mesmos o ouvimos
E de sua própria boca."

132
23. A CRUCIFICAÇÃO
Jesus perante Pilatos e Herodes (1); A caminho do
Calvário (26); A crucificação (33); O bom ladrão
(39); O sepultamento de Jesus (50)

1Levantando-se a assembleia,
Levaram-no a Pilatos.
2Fizeram-lhe acusações,

Dizendo: "Este homem estava


A sublevar o país,
A opor-se a que se pague"

"O devido imposto a César


E a dizer-se o Cristo Rei."
3Pilatos interrogou-o:

"Tu és o rei dos judeus?"


Disse Jesus: "Tu o dizes."
4Pilatos pôs-se a dizer

Aos chefes dos sacerdotes


E às turbas: "Nenhuma culpa
Eu encontro neste homem."
5Mas insistiam as turbas:

"Está sublevando o povo,


Criando grandes tumultos,"

"Pregando em toda a Judeia,


Da Galileia até aqui."
6Ouvindo isso, Pilatos

Dos presentes inquiriu


Se era Jesus galileu.
7E, ao saber que pertencia

À jurisdição de Herodes,
Mandou-o rapidamente
A este, que nestes dias
Estava em Jerusalém.
8Herodes, ao ver Jesus,

Alegrou-se imensamente,

Pois havia muito tempo


Que andava querendo vê-lo,
Por causa dos comentários
Que ouvia a seu respeito,
E esperava ver Jesus
Algum milagre fazer.

133
9Das muitas perguntas feitas,
Jesus nada respondeu.
10Porém, os grão-sacerdotes

E os escribas, frente a ele,


Acusavam-no sem tréguas.
11E Herodes, depois de o ter,

Com a sua soldadesca,


Tratado com vil desprezo,
Pôs-lhe uma veste branca
E a Pilatos devolveu-o.
12Os dois, Pilatos e Herodes,

De inimigos noutras vezes,

Tornaram-se agora amigos.


13Pilatosentão chamou
Todos os grão-sacerdotes,
Os magistrados e o povo
14E disse-lhes o seguinte:

"Como um sublevador"

"Trouxestes-me este homem,


Mas eis que o interroguei
Diante de vós e, nele,
nenhuma culpa encontrei
Dessas que vós lhe imputais.
15Mesmo Herodes, devolveu-mo."

"Ele não merece a morte,


Pelo que foi apurado.
16Assim, vou dar-lhe um castigo

E depois vou libertá-lo."


17Ora, um preso, pela festa,

Ele devia soltar.

18Gritaram todos em massa:


"Faze com que morra este
E solta-nos Barrabás!"
19Tinha este sido preso

Depois de uma insurreição


Que na cidade ocorrera

134
E também por homicídio.
20E mais uma vez, Pilatos
Dirigiu-se à multidão
Tentando Jesus livrar,
21Porém esta o rebateu

E começou a gritar:

"Crucifica-o! Crucifica-o!"
22Disse,na terceira vez:
"Que mal ele fez, enfim?
Nele crime não achei
Que valha a morte. Um castigo
Dar-lhe-ei e o soltarei."

23Mas bradavam, insistindo


Que fosse crucificado,
E a violência dos gritos
Cada vez mais aumentava.
24Ordenou, enfim, Pilatos

Que fossem executados

Os pedidos que faziam.


25Soltouo que estava preso
Por sedição e homicídio,
Conforme o pedido feito.
Quanto a Jesus, entregou-o
Nas mãos do arbítrio deles.

26Quando o iam conduzindo,


Pararam um cidadão,
Um tal Simão de Cirene,
Que estava vindo do campo,
E fizeram com que a cruz
Fosse ele carregando,

Acompanhando Jesus.
27Uma grande multidão
De homens e de mulheres
Ia atrás dele andando.
Essas mulheres, batendo
No peito, iam lamentando.

135
28Jesus, porém, disse a elas:
"Não choreis por minha causa,
Filhas de Jerusalém;
Antes, digo-vos, chorai
Por vós e por vossos filhos;
29Pois, eis que dia virá"

"Em que haverão de dizer:


- Ditosas são as estéreis
E ditosos são os ventres
Que rebentos não tiveram
E também aqueles peitos
Que aleitamento não deram. -"

30"Os homens, indo 'às montanhas,


Dirão: - Caí sobre nós. -
E às colinas pedirão:
- Vinde cobrir-nos agora! -'
31Porque se no lenho verde

Fazem isso, o que não podem"

"Fazer com o lenho seco?"


32Com Jesus eram levados
Dois, que eram malfeitores
E, igualmente condenados,
Iam para o lugar onde
Seriam executados.

33E,chegando ao local
Denominado Calvário,
Crucificaram-no ali
Com os dois ladrões ao lado,
Um à direita, outro à esquerda.
34Jesus então disse: "Pai,"

"Perdoa-lhes, porque eles


Não têm noção do que fazem."
'E, entre eles, dividindo
Suas vestes, sortearam-nas'.
35E o povo que estava ali

Mantinha-se a observar.

136
Mas os altos dirigentes
Ficavam dele a zombar:
"Salvou aos outros; a si
Ele deverá salvar-se;
Isto, se ele é mesmo o Cristo,
Se de Deus é o enviado."

36Mas os soldados também


Passaram a insultá-lo
E disseram-lhe, enquanto
Davam a ele vinagre:
37"Se és tu rei dos judeus,

A ti procuras salvar-te."

38Estava também sobre ele,


Escrita em hebraico, grego
E latim, a inscrição
"Este é o rei dos judeus."
39Um dos dois ladrões suspensos

Blasfemava contra ele:

"Não és então o Messias?


Salva a nós e a ti mesmo!"
40Porém, o outro tomou

A palavra e respondeu:
"Estás no mesmo suplício;
Nem assim temes a Deus?"

41"Quanto a nós, aqui estamos


Pela razão da justiça;
Recebemos o que nossas
Torpes ações mereciam;
Mas este aí nada fez
Para, enfim, merecer isto."

42E depois acrescentou:


"Jesus, lembra-te de mim
Quando entrares no teu reino."
43Jesus respondeu-lhe assim:

"Comigo no paraíso
Hoje tu estarás ainda."

137
44Era quase a hora sexta
E toda a terra cobriu-se
De trevas até a hora nona,
Ficando o sol em eclipse;
45O véu do Templo rasgou-se

E ao meio então dividiu-se.

46Jesus, em voz alta, disse:


"Pai, nas tuas mãos tu tens
O meu espírito." E ali
Expirou, nesse momento.
47Vendo isto, o centurião

Dava glória a Deus, dizendo:

"Este homem, na verdade,


Foi sempre um homem justíssimo."
48E a multidão que àquele

Espetáculo assistira
Vinha com as mãos no peito,
Por ter visto o sucedido.

49Láestavam à distância
Também os seus conhecidos,
Bem como aquelas mulheres
Que o tinham sempre seguido
Desde a sua Galileia,
E viam lá o ocorrido.

50Chegou um homem chamado


José, de Arimateia,
Cidade localizada
Na região da Judeia,
Que era um justo e virtuoso
Conselheiro do Sinédrio.

51Elenão tinha aderido


Àquele procedimento
E à deliberação
Dos restantes dirigentes,
E era um homem que esperava
O reino de Deus também.

138
52Indo falar com Pilatos,
De Jesus pediu o corpo;
53E então trouxe-o para baixo,

Tendo-o num lençol envolto,


E levou-o a um sepulcro
Feito na rocha, um novo

54Túmulo, onde ninguém antes


Tinha sido sepultado.
Era o dia de Parásceve
E ia começar o sábado.
55Ora, aquelas mulheres,

Que o tinham acompanhado

Dos tempos da Galileia,


Seguiram José e o viram
Pôr o corpo no sepulcro.
56Voltaram lá e o ungiram

Com bálsamos; e, no sábado,


Repousando, a lei seguiram.

24. JESUS RESSUSCITADO


Jesus ressuscitado (1); Aparição aos discípulos de
Emaús (13); Aparição em Jerusalém (36);
A ascensão (50)

1Porém, no primeiro dia


Da semana, muito cedo
Elas foram ao sepulcro,
Levando mais uma vez
Os perfumes que haviam
Preparado com esmero.

2Encontraram revolvida
A pedra sobre o sepulcro
3E, entrando, não encontraram

Lá o corpo de Jesus.
4Estando ainda perplexas

Diante daquilo tudo,

Eis que surgiram dois homens


Em vestes resplandescentes
5E, como elas, acanhadas,

Olhassem o chão, temendo-os,


Eles então lhes disseram:
"Por que estais a buscar entre"

139
"Os mortos quem está vivo?"
6Ele aqui não mais está,
Porque já ressuscitou.
Lembrai-vos de sua fala
Ainda na Galileia,
Quando disse estas palavras:

7"-Terá o Filho do homem


De entregar-se aos pecadores,
Ser então crucificado
E ressuscitar depois,
Logo no terceiro dia. -
Lembrai-vos vós dessas coisas."

8Elas então se lembraram


De que ouviram tais palavras.
9E, voltando do sepulcro,

Tudo isto anunciaram


Aos onze e a todos os outros
Com os quais se encontraram.

10Eram Maria Madalena,


Joana e a mãe de Tiago,
Que também era Maria,
E outras, que então contavam
Estas coisas aos apóstolos.
11A eles estas palavras

Pareciam desvario.
Nelas não acreditaram.
12Pedro, porém, levantou-se

E correu a visitar
O sepulcro, e debruçando-se
Viu os lençóis e mais nada.

Em seguida, retirou-se,
Voltando maravilhado
Com o que, na sepultura,
Tinha a ele sido dado
Constatar do sucedido,
De tudo o que se passava.

140
13Eisque, nesse mesmo dia,
Dois discípulos andavam
Em direção a uma aldeia
Chamada Emaús, que estava
De Jerusalém distante
Cerca de sessenta estádios.

14Discutiam entre si
Sobre os acontecimentos.
15Ora, enquanto eles iam

Discutindo e discorrendo,
Jesus acercou-se deles
E com eles ia em frente.

16Mas foi como se seus olhos


Tivessem sido vedados,
Porque não reconheciam
Quem caminhava a seu lado.
17Jesus então perguntou-lhes:

"O que são estas palavras"

"Que vais entre vós trocando


E por que razão parecem
Vossos semblantes tão tristes?"
18Um deles, chamado Cléofas,

Respondendo a ele, disse:


"Por um acaso, tu és"

"O único dos forasteiros


Que em Jerusalém não sabe
Das coisas que aconteceram
Durante estes dias lá?"
19Disse-lhe ele: "Que coisas?"

E eles então relataram:

"Sobre Jesus Nazareno,


Um profeta poderoso
Nas obras e nas palavras,
Perante Deus e o povo;
20E de que maneira os chefes,

Grão-sacerdotes e outros,"

141
"Condenaram-no à morte
E depois, crucificaram-no.
21E bem que nós esperávamos

Que fosse ele a libertar


Israel; mas hoje é
O terceiro dia já"

"Desde que os fatos se deram.


22Entretanto, é bem verdade
Também que algumas mulheres,
Das que entre nós estavam,
Surpreenderam-nos hoje;
Pois, indo de madrugada"

"Ao sepulcro, 23não acharam


O corpo, e ainda contaram-nos
Ter visto uma aparição
De dois anjos, que afirmaram
Estar ele vivo. 24E foram
Uns dos nossos até lá"

"A olhar o túmulo, e vieram


Só e exatamente aquilo
Que por aquelas mulheres
Tinha-nos sido descrito;
No entanto, a ele mesmo,
Estes também não o viram."

25Então disse-lhes Jesus:


"Ó estultos, como é lento
Vosso coração em crer
Nos muitos ensinamentos
Deixados pelos profetas!
26Não sabíeis desde sempre"

"Que ao Cristo era necessário


Sofrer primeiro essas coisas,
Para assim entrar na glória?"
27Partiu de Moisés, depois,

E tratando um por um
Falou dos profetas todos,

142
Explicando-lhes em todas
As Escrituras aquilo
Que lhe dizia respeito.
28Aproximaram-se, nisso,

À povoação à qual
Aqueles dois dirigiam-se;

E então Jesus fez menção


De prosseguir o caminho.
29Mas disseram: "Vem conosco,

Pois o dia já declina."


Decidiu ficar com eles
E entrou na aldeia, seguindo-os.

30À hora de pôr-se à mesa,


Tomou o pão e, benzendo-o,
Partiu-o e entregou-lho.
31Seus olhos, nesse momento,

Abriram-se e perceberam
Com quem vinham, finalmente.

Mas ele, rapidamente,


Desapareceu dali.
32Disseram um para o outro:

"Não é verdade que ardia


Nosso coração no peito
Enquanto ele nos dizia"

"Aquelas coisas na estrada,


E estava a nos explicar
Os pontos das Escrituras?"
33Em seguida, levantaram-se,

Rumando logo de volta


A Jerusalém, e acharam

Lá reunidos os onze,
Com os demais companheiros,
34Que diziam entre si:

"Realmente aconteceu.
O Senhor ressuscitou
E a Simão apareceu."

143
35Elesnarraram então
O que ocorrera com eles
No caminho que tomaram
E como lhes sucedera
De, vendo-o partir o pão,
Eles o reconhecerem.

36Enquanto ali conversavam,


Apareceu ele próprio
No meio de todos eles
E disse-lhes: "Paz a vós."
37Atônitos e espantados,

Julgaram naquela hora

Que estavam vendo um espírito.


38No entanto, Jesus lhes disse:
"Por que estais perturbados
E por que enfim duvidam
Vossos corações de mim?
39Vede as minhas mãos aqui,"

"Vede meus pés; sou eu mesmo;


Apalpai e observai,
Pois vós sabeis que um espírito
Não tem ossos nem tem carne,
Como vós vedes que eu tenho!"
40E começou a mostrar-lhes

As suas mãos e os seus pés.


41Mas estando ainda eles
Fora de si e descrentes
Pela enorme surpresa,
E pela alegria, disse-lhes:
"Tendes algo que comer?"

42Trouxeram-lhe peixe assado.


43Ele, tomando-o, comeu
Ali à vista de todos.
44Em seguida, disse a eles:

"Eram estas as palavras


Que eu costumava dizer-vos"

144
"Quando ainda estava entre vós,
Que teria de cumprir-se
Tudo o que de mim estava
Na Lei de Moisés escrito,
E nos profetas e Salmos."
45E o entendimento abriu-lhes,

46E disse: "Encontra-se escrito


Que o Cristo padeceria
E que, no dia terceiro,
Dos mortos ressurgiria;
47E penitência e perdão

Dos pecados haver-se-ia"

"De pregar às nações todas,


Começando tudo isso
Daqui de Jerusalém.
48Vós sois testemunhas vivas.
49Depois eu enviarei

Sobre vós o Prometido"

"Por meu pai; vós, no entanto,


Permanecei na cidade,
Esperando, até o dia
Em que sejais afinal
Investidos nas virtudes
Que vos hão de vir do alto."

50Ele, em seguida, levou-os


Até perto de Betânia
E abençoou-os a todos,
Sobre eles impondo as mãos.
51Enquanto os abençoava,

Foi-se deles separando,

E então elevou-se ao céu.


52Eles,tendo-o adorado,
Cheios de imensa alegria
A Jerusalém voltaram;
53E, dando louvor a Deus,

No Templo eles sempre estavam.

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Ignorância sobre as escrituras é ignorância sobre Cristo. Jerônimo (340-420 D.C.).

O estudo da Bíblia resguardará qualquer um de ser vulgar no estilo. Coleridge.

A Bíblia tem sido a Carta Magna do pobre e do oprimido. Thomas H. Huxley.

O Evangelho para mim é simplesmente irresistível. Blaise Pascal.

Temos usado a Bíblia como um mero manual do guarda, dose de ópio para manter mansas as
bestas de carga (não como o livro de libertação que ela é). Charles Kingsley.

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