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RESUMO
O Toré na comunidade indígena Xukuru do Ororubá (Pesqueira/PE). Um olhar sobre as tentativas para se manter
viva a memória cultural de um povo, e sobreviver através da resistência e luta pela Terra. Esse trabalho é
apreciado a partir da leitura de obras literárias a respeito, mais visita a aldeia São José e Vila de Cimbres.
Palavras-chaves: Toré; Religiosidade; Resistência.
ABSTRACT
The Toré in the Xucuru do Ororubá indigenous community (Pesqueira/PE). One look over the trials of keeping
one nation's cultural memory alive, and surviving through resistance and fight for earth. This work was
appreciated from reading books about the theme and from visits to São José village and Cimbres village.
key-words: Toré; Religiosidade; Resistance
Os Xukuru do Ororubá
1 Licenciada em...Pedagogia..FUNESO,..Especialista em História das Artes e das Religiões UFRPE. Leciona no Ensino Fundamental I na Prefeitura da Cidade do Recife.
Para os povos indígenas no Nordeste o Toré não tem uma definição única. Seus
praticantes lhe atribuem diversos significados individuais e coletivos. Para alguns grupos o
Esse “regime” se estendeu até a segunda metade da década de 1980, quando diante das
reivindicações dos órgãos de defesa dos povos indígenas no Brasil, somado a o fortalecimento
da organização política e social desses, foi incluso na nova Constituição Brasileira aprovada
em 1988, o reconhecimento e o direito de praticar seus cultos e rituais característicos da sua
cultura.
O Toré praticado pelos Xukuru do Ororubá, se distingue dos demais povos pelo seu
formato mais “moderno”, se é que podemos dizer que uma expressão cultural voltada para as
tradições possa ser moderna. Os Xukuru ainda utilizam instrumentos de percussão
tradicionais como as maracás, que foram introduzidas pelo Cacique “Xicão”. Usam também o
jupago que é de uso exclusivo dos homens. Trata-se de um pedaço do tronco de uma árvore
com cerca de um metro, geralmente preservada uma pequena parte da raiz e é usado no
acompanhamento do compasso das pisadas fortes de um dos pés, durante a dança do Toré.
O “Mestre da Gaita” inicia o chamado para a dança, por meio do som do seu
instrumento, conhecido também como “mimbim”, uma flauta confeccionada com o cano de
plástico. Essa flauta é considerada sagrada, os Xukuru acreditam que ela é o veículo de
comunicação entre os “encantados” e os participantes do Toré. Então o puxador do Toré, “o
bacurau” começa cantando as canções que acompanham o ritmo, às vezes repetidas
insistentemente. Forma-se uma fila indiana onde na frente estão aproximadamente seis
homens, esses geralmente são elementos de destaque, o Pajé, o Mestre da Gaita, o Bacurau, o
Cacique e outras lideranças, logo em seguida as mulheres e crianças os seguem na dança e
formam um circulo.
Hoje, são poucos os participante que usam os trajes tradicionais de palha de milho.
Usam-se mais saiotes feitos de caroá ou palha do coqueiro, colares de sementes, ou fibra do
caroá, alguns usam cocares de pena de pássaros e pinturas na pele. Algumas mulheres dão um
toque mais moderno, enfeitando seus trajes e adereços com flores artificiais. O Toré Xukuru
apresenta elementos materiais e simbólicos que confirma a mistificação constante dos seus
significados do para essa população:
Nesse formato o Toré Xukuru se apresenta como um ritual sagrado, onde são evocados
poderes sobrenaturais para alcançar a cura de algumas enfermidades, esclarecimentos sobre
questões coletivas ou individuais e também para se louvar às lideranças, os “encantados”, São
João, N. Sª das Montanhas, e ao Rei Tupã. Geralmente esse ritual acontece nos terreiros,
espaços abertos na mata, onde no centro há o Peji, uma espécie de cabana de palha ou de
pedra, que abriga o vinho da Jurema “bebida sagrada”, preparada especialmente para o ritual.
Esse ritual é praticado também aos finais de semana e nas festas populares: “O ritual significa
para nós índios várias coisas, dependendo do momento em que estivermos dançando. Ele
pode significar união, força, paz, fé, amor, crença, cura e sobretudo nossos agradecimentos
ao rei Tupã”. (ALMEIDA, 1997, p. 40).
Em outros momentos o Toré Xukuru está relacionado com o Catolicismo Romano, nas
letras das canções, na homenagem a santos “considerados” católicos. Porém semelhante às
expressões religiosas afro-basileiras lhe são atribuídos outros significados, relacionados a
elementos da Natureza que são indispensáveis a existência humana. Exemplos: Nsª Senhora
das Montanhas para os Católicos, enquanto para os Xukuru ela é conhecida como Nsª Mãe
Tamain. O São João passa a ser para os Xukuru “o Sr. Seu João”. Essa festa é iniciada com a
“busca da lenha” para a fogueira coletiva, o que constitui em todo um ritual que ocorre
anualmente no dia 23 de junho, na Vila de Cimbres, desde a procissão que percorre
aproximadamente dois quilômetros em busca da lenha cortada a oito dias que antecede o São
João. Ao retornarem, os que portam a lenha juntamente com os participantes da festa, dão três
voltas em torno da Igreja Católica Romana na Vila de Cimbres, colocam a lenha na frente da
mesma e constroem a grande fogueira, onde passarão a noite cantando e dançando o Toré.
“Porque eu digo para vocês: eu nasci para ser o defensor do povo Xukuru
e vou morrer sendo o defensor do povo Xukuru, porque já mais eu
vou recuar dessa luta. Meu pai se foi, levaram ele. Chico Quelé se foi,
tentaram incriminar nossas lideranças, nem por conta disso nós recuamos
dessa luta. Fomos em frente e vamos mostrar os verdadeiros assassinos dos
nossos companheiros que por aí tombaram nessa luta. E digo para vocês, se
um dia eu me for nessa luta, novos guerreiros estão surgindo. Como dizemos,
nossos guerreiros são plantados, para que deles surjam novas sementes e
novos guerreiros”. (in, GRÜNEWALD, 2005, p. 139-140)
Sempre que ocorrem apresentações do Toré em público, os discursos que o acompanha
têm uma função uma política muito importante, que é de expor os problemas de relações de
preconceitos, perseguições e denunciar os desmandos e descaso das autoridades
governamentais para com a causa indígena. Mas sempre é deixada uma mensagem de
incentivo à continuidade da luta e resistência às formas de depreciação da sua cultura.
Considerações finais
Após o contato direto e indireto com os Xukuru, percebemos que o Toré é uma
manifestação cultural indispensável à vida dos seus atores, seja por lazer, confraternização ou
para afirmação sóciopolítico. Esse que fundamenta e dar sentido as atividades cotidiana da
comunidade, estabelecendo distinção de poder político e social conduzindo as ações de
organização pelo caminho do misticismo e ao mesmo tempo fincado na realidade material, na
necessidade da permanência da união que fortalece o grupo mantendo-o firme na luta pela
reintegração da posse da Terra.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Eliene A. de. (Org.). Xukuru, filhos da mãe Natureza: uma história de resistência
e luta. Olinda: CCLF, 1997.
SILVA, Edson. História, memória e identidade entre os Xukuru do Ororubá. Revista Tellus,
Campo Grande, UCDB, 2007. (no prelo)