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Especial
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17
junho
2009
ano II
ficina
SAMIZDAT 17
junho de 2009
Textos de:
François Rabelais Obra Licenciada pela Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada
Martins Pena a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil Creative Commons.
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Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
MICROCONTOS
Henry Alfred Bugalho 8
Caio Rudá de Oliveira & Ricardo Thadeu 10
Caio Rudá de Oliveira 10
Joaquim Bispo 11
CONTOS
Um quase-palhaço 22
Carlos Alberto Barros
O Dilema do Morto-Vivo 28
Henry Alfred Bugalho
O Alvo Simbiótico 30
José Espírito Santo
Propaganda do produto revolucionário
das Organizações Tabajaras para Daniel
Dantas e afins: 32
Mariana Valle
Mistério Outonal 34
Léo Borges
Como substituir amores 38
Barbara Duffles
O Admirador – Parte 3: Suspeitos 40
Maristela Deves
A Peruca 42
Giselle Sato
Autor Convidado
Rodolfo Bispo 46
TRADUÇÃO
François Rabelais e o mundo às avessas 48
Henry Alfred Bugalho
Gargântua 50
François Rabelais
CRÔNICA
Firewall para Mercedes 55
Joaquim Bispo
Use Óculos 57
Caio Rudá de Oliveira
Prêmio Ig Nobel 58
Caio Rudá de Oliveira
Eu só quero chocolate 64
Maristela Scheuer Deves
6
6
E por que Samizdat? revistas, jornais - onde ele des tiragens que substituam
possa divulgar seu trabalho. o prazer de ouvir o respal-
O único aspecto que conta é do de leitores sinceros, que
A indústria cultural - e o
o prazer que a obra causa no não estão atrás de grandes
mercado literário faz parte
leitor. autores populares, que não
dela - também realiza um
perseguem ansiosos os 10
processo de exclusão, base- Enquanto que este é um mais vendidos.
ado no que se julga não ter trabalho difícil, por outro
valor mercadológico. Inex- lado, concede ao criador uma Os autores que compõem
plicavelmente, estabeleceu-se liberdade e uma autonomia este projeto não fazem parte
que contos, poemas, autores total: ele é dono de sua pala- de nenhum movimento
desconhecidos não podem vra, é o responsável pelo que literário organizado, não
ser comercializados, que não diz, o culpado por seus erros, são modernistas, pós-
vale a pena investir neles, é quem recebe os louros por modernistas, vanguardistas
pois os gastos seriam maio- seus acertos. ou q ualquer outra definição
res do que o lucro. que vise rotular e definir a
E, com a internet, os au- orientação dum grupo. São
A indústria deseja o pro- tores possuem acesso direto apenas escritores interessados
duto pronto e com consumi- e imediato a seus leitores. A em trocar experiências e
dores. Não basta qualidade, repercussão do que escreve sofisticarem suas escritas. A
não basta competência; se (quando há) surge em ques- qualidade deles não é uma
houver quem compre, mes- tão de minutos. orientação de estilo, mas sim
mo o lixo possui prioridades
a heterogeneidade.
na hora de ser absorvido A serem obrigados a
pelo mercado. burlar a indústria cultural, Enfim, “Samizdat” porque a
os autores conquistaram algo internet é um meio de auto-
E a autopublicação, como que jamais conseguiriam de publicação, mas “Samizdat”
em qualquer regime exclu- outro modo, o contato qua- porque também é um modo
dente, torna-se a via para se pessoal com os leitores, de contornar um processo
produtores culturais atingi- od iálogo capaz de tornar a de exclusão e de atingir o
rem o público. obra melhor, a rede de conta- objetivo fundamental da
tos que, se não é tão influen- escrita: ser lido por alguém.
Este é um processo soli-
te quanto a da grande mídia,
tário e gradativo. O autor
faz do leitor um colaborador,
precisa conquistar leitor a
um co-autor da obra que lê.
leitor. Não há grandes apa-
Não há sucesso, não há gran-
ratos midiáticos - como TV,
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Microcontos junho de 2009
Gazeta de Notícias
Mulher mata e empalha marido
http://www.flickr.com/photos/curiousexpeditions/870716574/sizes/l/
Henry Alfred Bugalho muito melhor morto do que
vivo”. O maior piolho
Os moradores dum bairro Dona Dolores e Don Mi-
guel possuíam uma loja de ta-
do mundo
de classe média na Cidade
do México ficaram estarreci- xidermia, onde vendiam ani-
dos ao descobrirem que Dona mais silvestres e domésticos
Dolores, uma das senhoras empalhados.
mais benquistas na vizinhan- Quem descobriu o crime
ça, havia matado e empalha- foi uma criança, quando, uma
do o marido. tarde, jogava futebol na rua e
“Nós nem percebemos a bola acidentalmente caiu na
nada diferente”, afirma uma varanda. “Nós chamamos por
testemunha que prefere não Don Miguel, pedindo para ele
revelar sua identidade. “Todo nos devolver a bola, mas ele Arqueólogos encontraram
os dias, nós víamos Don Mi- não respondeu. Foi quando eu o que pode ser considerado o
guel sentado na varanda do subi lá e o vi daquele jeito”. maior piolho do mundo, com
prédio, por isto, tudo parecia Os peritos criminais fica- quatro metros de comprimento
estar normal”. ram surpresos com o cuida- por três de largura.
Na verdade, Dona Dolores do que Dona Dolores teve na O insecto, classificado como
havia assassinado a pauladas o hora de empalhar as partes Phthiraptera gigantos, foi des-
marido, Don Miguel, dez anos íntimas de Don Miguel. “Era coberto durante as escavações
atrás, após ele ter chegado bê- a parte mais importante do para a construção de um ba-
bado em casa, agredido-a e a corpo”, ri Dona Dolores. nheiro público, a sul de Paris.
violentado, segundo a versão “É um verdadeiro trabalho Alguns historiadores se
de Dona Dolores. “O pior é de mestre”, afirmam os peri- adiantaram em afirmar que se
que eu amava o desgraçado! tos, que cogitam a possibilida- trata de um dos vários piolhos
Jamais conseguiria viver sem de de leiloar Don Miguel para lendários de Gargântua, que
ele, então, resolvi empalhá-lo algum museu. aterrorizaram a França durante
e deixá-lo em casa para me a Baixa Idade Média, atacando
fazer companhia. E, acredi- mulheres e crianças cabeludas.
te em mim, ele é um marido
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Ria muito com pouco
Caio Rudá & Ricardo Thadeu
Ânus 70 dedos. As luzes da bola dos cadarços amarrados, o
cintilante dependurada do traficante estelar conseguiu
Há muito tempo, numa teto encandeavam os olhos desferir um golpe mortal no
discoteca muito, muito de Lé de Zé Pelim, alterando cambaleante Lé, cujo final foi
distante havia aquela cara, levemente o fenótipo de seu o contato brusco com o chão.
que abalava as noites de “azinho-azinho”.
sextas-feiras ao chacoalhar No meio da pista da dança,
freneticamente sua estrutura Da multidão, o amigo Vader um Ramone distraído foi
óssea em contratempos, surgiu e lhe entregou os testemunha do cumprimento
antecipando a filosofia dream- comprimidos. Ele os ingeriu da profecia. Como se tivessem
theateriana. Era Lé de Zé Pelim, depressa. Lentamente, as luzes apertado o review do vídeo
madeixas inimigas dos pentes cintilantes que encandeavam cassete de não sei quantas
e calças tão apertadas que seus olhos passaram a ser cabeças, Lé de Zé Pelim
por pouco não o rachavam ao projetar, tal qual lâmpadas retornou à posição inicial.
meio, aproveitando a fissura fluorescentes com som
glútea. acoplado. E num devaneio – Hey, ho! É um milagre
interplanetário, lá estava Lé de brasileiro! – vociferou sem
Em certa ocasião, ele que Zé Pelim duelando com seu acordes punk o Ramone.
esperava por Darth Vader amigo de outrora, Darth Vader.
para lhe vender as balinhas – Que a força esteja com você!
de menta, ia amarrando os O embate durou centenas – e sublimou o Lé de Zé Pelim.
cadarços da mente, com de milhões de anos-sem-luz,
um Hollywood entre os e, aproveitando o tropeço
Caio Rudá
Negócio da China
http://www.flickr.com/photos/aidan_jones/1438403889/sizes/m/
O carneiro e o lobo
No tempo em que os animais falavam,
o Bush e o Saddam estavam a beber num
regato.
– Estás a sujar-me a água! – disse o Bush.
Confissão
– Eu? – ripostou o Saddam – Eu, como, se Saddam foi apanhado num domingo. Na
é daí que vem a corrente? terça-feira, descobriu-se que possuía do-
– Se não és tu, é o bin Laden! cumentos que o ligavam ao comando da
al-Qaeda. Quinta-feira, encontraram a docu-
E certeiro, espetou-lhe um corno no fígado.
mentação que provava inequivocamente que
o Iraque possuía armas de destruição maciça,
e no sábado, confessou que foi ele que lançou
duas bombas atómicas sobre o Japão.
Identificação
Quando a coligação árabe invadiu alguns países ociden-
tais, distribuiu pelos seus soldados baralhos de cartas onde
cada carta tinha a fotografia de um ocidental procurado pela
https://wholesale.changingworld.com/catalog/images/CT-309.jpg
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Significantes
Joaquim Bispo de modo que, uns tempos Komo Yátá?!
depois, usei a seguinte arma ***
As palavras têm, por vezes, de arremesso para terminar Ontem vi um livro com o
sonoridades e construções em beleza um desentendi- seguinte título: O que fazer
ortográficas que sugerem ou- mento no trânsito: «Ó meu depois de morrer
tras, com significados muito caro amigo, sabe o que é que Ora aí está um assunto
diversos. Pode, por isso, usar- eu lhe digo? – Vodafone!» com o qual devemos pre-
se a sonoridade e a entoação O outro ficou uns bons ocupar-nos. É, com certeza,
para dizer algo que, não três minutos, de olhos em fundamental que cada um
ofendendo ninguém, formal- alvo, a digerir a mensagem, programe meticulosamente e
mente, contém uma ferroada contaram-me depois! com antecedência as activi-
subjacente. *** dades que vai desenvolver
Um dia, um colega de Conheci um japonês, de depois de morrer para que,
trabalho chegou dizendo que, gestos tão bruscos como os quando chegar a altura, não
no meio duma discussão dos samurais dos filmes, que fique para ali indeciso e
no autocarro, uma mulher se chama Yátá ! A sua es- enfadado sem saber como
atirou para outra: «Vá para a posa, não tão dócil como as ocupar o tempo!
Bósnia, sua Herzegovina!» gueixas dos filmes, chama-se
O exemplo foi inspirador,
***
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O Juiz de Paz
na Roça Martins Pena
Comédia em 1 ato
PERSONAGENS
JUIZ DE PAZ
ESCRIVÃO DO JUIZ (DE PAZ)
MANUEL JOÃO, lavrador [guarda nacional]
MARIA ROSA, sua mulher
ANINHA, sua filha
JOSÉ [DA FONSECA], amante de Aninha
INÁCIO JOSÉ
JOSÉ DA SILVA
FRANCISCO ANTÔNIO
MANUEL ANDRÉ
SAMPAIO (lavradores)
TOMÁS
JOSEFA [JOAQUINA]
GREGÓRIO
[Negros]
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MARIA ROSA - Pobre homem! Mata-se Entra JOSÉ com calça e jaqueta branca.
com tanto trabalho! É quase meio-dia e JOSÉ - Adeus, minha ANINHA! (Quer
ainda não voltou. Desde as quatro horas da abraçá-la.)
manhã que saiu; está só com uma xícara
de café. ANINHA - Fique quieto. Não gosto des-
tes brinquedos. Eu quero casar-me com o
ANINHA - Meu pai quando principia um senhor, mas não quero que me abrace antes
trabalho não gosta de o largar, e minha de nos casarmos. Esta gente quando vai à
mãe sabe bem que ele tem só a Agostinho. Corte, vem perdida. Ora diga-me, concluiu
MARIA ROSA - É verdade. Os meias-caras a venda do bananal que seu pai lhe dei-
agora estão tão caros! Quando havia valon- xou?
go eram mais baratos. JOSÉ - Concluí.
ANINHA - Meu pai disse que quando des- ANINHA - Se o senhor agora tem dinheiro,
manchar o mandiocal grande há-de com- por que não me pede a meu pai?
prar uma negrinha para mim.
JOSÉ - Dinheiro? Nem vintém!
MARIA ROSA - Também já me disse.
ANINHA - Nem vintém! Então o que fez
ANINHA - Minha mãe, já preparou a jacu- do dinheiro? É assim que me ama? (Chora.)
ba para meu pai?
JOSÉ - Minha ANINHA, não chores. Oh, se
MARIA ROSA - É verdade! De que me ia tu soubesses como é bonita a Corte! Tenho
esquecendo! Vai aí fora e traz dous limões. um projeto que te quero dizer.
(ANINHA sai.) Se o MANUEL JOÃO viesse
e não achasse a jacuba pronta, tínhamos ANINHA - Qual é?
campanha velha. Do que me tinha esqueci-
JOSÉ - Você sabe que eu agora estou pobre
do! (Entra ANINHA.)
como Jó, e então tenho pensado em uma
ANINHA - Aqui estão os limões. cousa. Nós nos casaremos na freguesia,
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sem que teu pai o saiba; depois partiremos que é cousa grande! Há uns cavalos tão
para a Corte e lá viveremos. bem ensinados, que dançam, fazem mesu-
ras, saltam, falam, etc. Porém o que mais
ANINHA - Mas como? Sem dinheiro?
me espantou foi ver um homem andar em
JOSÉ - Não te dê isso cuidado: assentarei pé em cima do cavalo.
praça nos Permanentes.
ANINHA - Em pé? E não cai?
ANINHA - E minha mãe?
JOSÉ - Não. Outros fingem-se bêbados, jo-
JOSÉ - Que fique raspando mandioca, que gam os socos, fazem exercício - e tudo isto
é ofício leve. Vamos para a Corte, que você sem caírem. E há um macaco chamado o
verá o que é bom. macaco major, que é coisa de espantar.
MANUEL JOÃO - Vai dizer que traga, pois MANUEL JOÃO - Pois traga.
estou com muito calor. (ANINHA sai. M.
MARIA ROSA - ANINHA, vai buscar a
JOÃO, para o negro:) Olá, Agostinho, leva
janta de teu pai. (ANINHA sai.)
estas enxadas lá para dentro e vai botar
este café no sol. (O preto sai. MANUEL MANUEL JOÃO - Senhora, sabe que mais?
JOÃO senta-se.) Estou que não posso comi- É preciso casarmos esta rapariga.
go; tenho trabalhado como um burro!
MARIA ROSA - Eu já tenho pensado nisto;
mas nós somos pobres, e quem é pobre
não casa.
CENA V
MANUEL JOÃO - Sim senhora, mas uma
pessoa já me deu a entender que logo que
Entra MARIA ROSA com uma tigela na
puder abocar três ou quatro meias-caras
mão, e ANINHA a acompanha.
destes que se dão, me havia de falar nisso...
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Com mais vagar trataremos deste negócio. MANUEL JOÃO - O senhor por aqui a
(Entra ANINHA com dous pratos e os dei- estas horas é novidade.
xa em cima da mesa.)
ESCRIVÃO - Venho da parte do senhor
ANINHA - Minha mãe, a carne-seca aca- juiz de paz intimá-lo para levar um recruta
bou-se. à cidade.
ESCRIVÃO, entrando - Deus esteja nesta ESCRIVÃO, zangado - O senhor juiz man-
casa. da dizer-lhe que se não for, irá preso.
MARIA ROSA e MANUEL JOÃO - Amém. MANUEL JOÃO - Pois diga com todos os
diabos ao senhor juiz que lá irei.
ESCRIVÃO - Um criado da Senhora Dona
e da Senhora Doninha. ESCRIVÃO, à parte - Em boa hora o digas.
Apre! custou-me achar um guarda... Às
MARIA ROSA e ANINHA - Uma sua cria-
vossas ordens.
da. (Cumprimentam.)
MANUEL JOÃO - Um seu criado.
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CENA VIII cada um fazer o que quiser, e mesmo fazer
presentes; ora, mandando assim as ditas re-
MARIA ROSA - Menina, ajuda-me a formas, V.S.ª fará o favor de aceitar as ditas
levar estes pratos para dentro. São horas bananas, que diz minha Teresa Ova serem
de tu ires colher o café e de eu ir mexer a muito boas. No mais, receba as ordens de
farinha... Vamos. quem é seu venerador e tem a honra de
ser - MANUEL ANDRÉ de Sapiruruca.” -
ANINHA - Vamos, minha mãe. (Andan-
Bom, tenho bananas para a sobremesa. Ó
do:) Tomara que meu pai não se esqueça
pai, leva estas bananas para dentro e en-
dos meus sapatos... (Saem.)
trega à senhora. Toma lá um vintém para
teu tabaco. (Sai o negro.) O certo é que é
bem bom ser juiz de paz cá pela roça. De
CENA IX vez em quando temos nossos presentes de
galinhas, bananas, ovos, etc., etc. (Batem à
porta.) Quem é?
Sala em casa do juiz de paz. Mesa no
meio com papéis; cadeiras. Entra o juiz de ESCRIVÃO, dentro - Sou eu.
paz vestido de calça branca, rodaque de
riscado, chinelas verdes e sem gravata. JUIZ - Ah, é o escrivão. Pode entrar.
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Contos
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Carlos Alberto Barros
Um quase-palhaço
Não era o que eu espe- ta cultural –, percebi que tomavam as atenções de
rava. A cada visão, uma algo mágico aconteceria; todos, principalmente
nova realidade surgia. no mínimo, alguma situa- crianças. Fui me apro-
Cores, formas, gente, vida! ção inusitada. ximando, cada vez mais
E quão bom era isso! Cumprimentei os perto... Acomodei-me ao
Cheguei sem muitas rostos conhecidos – pare- lado do quase-picadeiro.
pretensões: um rapaz ciam todos muito satisfei- Admirando os sorrisos
curioso, sorrindo a todos, tos. Caminhei em várias sinceros de uma centena
tentando ser simpático e direções, sem saber ao de crianças, fui surpreen-
achando que viveria um certo aonde ir. Enquanto dido por uma frase bem
dia como qualquer outro. caminhava, uma gritaria sugestiva:
Engano, completo engano. chamou-me a atenção. – Ah! Então você está
Assim que entrei no local Na verdade, uma bela por aqui! – era um dos
– um misto de “muvuca”, apresentação se desenro- quase-palhaços “me re-
parque de diversões e fes- lava. Dois quase-palhaços conhecendo”. E ele tinha
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Contos
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Joaquim Bispo
História do grego
Onanágoras
24 SAMIZDAT junho de 2009
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Na antiga Grécia, por dias, chegou ao templo; – Toma para ti uma
volta do ano 400 a.C., purificou-se e fez as suas concubina!
vivia um pobre homem oferendas ao deus Apolo, – Mas, como posso eu,
de nome Onanágoras. na pessoa da Pitonisa. E se não tenho senão uma
Habitava sozinho num expôs o que o entristecia: colmeia, uma leira de
monte pedregoso batido – Ó brilhante Apolo, nabos e uma figueira?! –
pelo vento. Alimentava-se há muitos anos que vivo admirou-se Onanágoras.
de nabos, mel e figos, no só num monte pedregoso. A sacerdotisa olhou
tempo deles. Apesar da Tenho apenas por com- para o saco de nabos e
enorme pobreza e soli- panheira a minha mão para o pote de mel que o
dão, viveu relativamente direita, com a qual tenho pobre grego trouxera e,
feliz por muitos anos. mantido uma relação fiel embora não costumasse
Até que lhe sobreveio e gratificante. Com ela pormenorizar muito os
uma crise de meia-idade. tenho vivido feliz nestes seus oráculos, desta vez
Começou a andar cabis- últimos quarenta anos. condescendeu em especi-
baixo, sorumbático e sem Mas, ultimamente, tenho ficar:
vontade de ir aos figos. sentido apelos perturba-
– Toma como concubi-
Ao fim de algum tempo, dores. Apetece-me mudar,
na a tua mão esquerda!
resolveu fazer uma pe- conhecer mundo, variar.
regrinação a Delfos para O que é que hei-de fazer? Onanágoras agradeceu
consultar a divindade o conselho e voltou para
A Pitonisa aspirou as
sobre o seu problema. o seu monte pedregoso. E
exalações proféticas do
viveu feliz por mais vinte
Pôs um saco de nabos abismo hiante, entrou em
e cinco anos.
e um pote de mel numa transe frenético e, depois
cesta e pôs-se a cami- de revirar os olhos, sibi-
nho. Ao fim de alguns lou:
a boa Literatura
é fabricada
ficina
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www.oficinaeditora.org
Contos
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Volmar Camargo Junior
A verdadeira história do
Velho do Saco
26 SAMIZDAT junho de 2009
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Uma realidade em Pe- um espantalho que se me- marreta, usou uma serra de
reirópolis é que muito de xia quando os pardais se cano, bateu com um facão
seu território é ocupado achegavam na horta, ou sis- até deixar a ferramenta
por lavouras. Uma dessas temas de irrigação, ou ala- sem fio, e nada. O com-
fazia fundo com um campo vancas para abrir e fechar padre e vizinho, alarmado
de propriedade do Exérci- o galinheiro ou ainda um pela barulheira e por não
to. Anos mais tarde, a tal distribuidor de ração para ter visto o Setembrino por
fazenda foi desapropriada os pombos-correio que ele muitos dias, resolveu dar
e incorporada pelo municí- criava. As matérias-primas uma conferida, para ver se
pio, tornando-se um lote- de suas obras-primas eram estava tudo bem. Encontrou
amento urbano. Hoje é o coisas que ninguém mais o homem sesteando, esco-
Bairro Setembrino da Silva. quer. Por isso, quando não rado na parede do galpão,
Diferente de outros bairros estava inventando algo, ca- sentado em um mochinho –
que têm seus nomes por minhava pelas ruas da Vila um banquinho sem orelhas,
causa de eventos históricos da Pereira – que futuramen- coisa que era muito comum
ou em homenagem a polí- te viria a ser Pereirópolis nas casas de gente simples.
ticos locais, aquele bairro – carregando um saco de Dentro do recinto havia um
foi batizado por um acaso sucata às costas. Não, não é braseiro aceso. Curioso, o
curioso. Ou melhor, por coincidência: Seu Setembri- compadre entrou pé-por-pé
causa da curiosidade desse no deu origem à lendária para ver o que o Setem-
personagem. figura do Velho do Saco. brino estava inventando
Seu Setembrino da Silva Um dia, nas andanças daquela vez. Transtornado
era daquelas pessoas que já entre uma empreitada e pelo susto, apagou o bra-
são idosas quando os idosos outra pelo lugar onde atu- seiro com um balde d’água,
ainda eram jovens. Havia almente é o bairro que tem correu pra fora do galpão
quem o chamasse “Setem- seu nome, o velho Setembri- e levou – arrastou, melhor
brino Matusalém”. Outros, no entrou em um terreno dizendo – o seu Setembrino
ainda mais maldosos, fala- baldio para dar vazão aos pra longe de casa o mais
vam que se fossem somadas seus reflexos parassimpáti- rapidamente que pôde.
as idades do Seu Setembrino cos. Enquanto obrava, obser- Depois daquilo, nem
e da Dona Maricota, aquela vou o lugar com os olhos compadre, nem ninguém
do Sabão Milagroso, o re- atentos de sempre. E sua convencia o Setembrino de
sultado passava de trezentos busca não foi infrutífera: que o “ananás” que ele pôs
anos. Morava numa casinha o inventor encontrou um na boca do fogão à lenha
isolada em uma quadra de objeto cilíndrico formado era, na verdade, uma grana-
terra doada a ele por um por muitos gomos de metal da. Para a sua sorte, era só
compadre, que, aliás, era – como um ananás, só que o casco vazio, sem pólvora.
seu único vizinho. Conhe- menor – enferrujado, mas Mas, por via das dúvidas, o
cido pelas invencionices, o ainda inteiro. No lugar da Exército fez uma inspeção
velho Setembrino passava coroa do tal ananás, uma rigorosa no campo onde ele
dias enfurnado num galpão alça comprida e um pito a havia encontrado e nas
no fundo do pátio, de onde que unia a essa alça uma imediações. Nunca foi pu-
só saía para comer ou para argola. Terminou o “serviço” blicado nenhum relatório,
dormir; o segundo menos e levou o achado para casa. mas, dizem as línguas dos
que o primeiro. Passado De tudo quanto foi ma- curiosos que foram acha-
um tempo, o velho aparecia neira, o velho tentou des- das mais três, e que uma
com uma nova criação, que montar a coisa, e o “ananás” explodiu. Contudo, até hoje
eram coisas interessantes, não cedia um milímetro. ninguém confirmou oficial-
mas não menos absurdas: Deu nele com golpes de mente.
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Contos
O Dilema do Morto-Vivo
Henry Alfred Bugalho
http://www.flickr.com/photos/76578669@N00/2569695118/sizes/o/
ge, mas não podemos liberar — Fala, meu véio... — Ma-
o seu auxílio-doença. Consta ria lavava roupa no tanque.
em nossos bancos de dados — Estranho, não? — Maria
que o senhor está morto — a — Não vou recebeu o coçava a cabeça.
funcionária do INSS fitava a dinheiro da licença-médica. No entanto, Jorge não res-
tela do computador. ‘Tão falando que estou mor- pondeu, absorto em pensa-
to. mentos. Passou o dia calado,
— Mas, minha filha, eu ‘tô
vivo! Bem aqui na tua frente! — Como assim, Jorge? não quis assistir à novela, foi
— Não sei, só disseram dormir cedo. Mas o sono não
— Não há nada que eu veio, Jorge rolava na cama,
possa fazer, seu Jorge. que eu havia morrido.
atormentado com a idéia de
Desorientado, Jorge deixou — Amanhã, você volta lá e que eles estivessem certos.
o posto do INSS e foi para confirma esta história.
— E se eu estiver morto,
casa. E foi o que Jorge fez. Na Maria? — perguntou ele.
manhã seguinte, retornou ao
INSS, porém, obteve a mesma — Deixa disto, Jorge, você
— Maria, você não sabe da ‘tá vivo! — retrucou Maria,
O Covil
provando seu falecimento? me enterrar.
O tabelião se conformou,
ram o velório. Jorge se deitou
no caixão e, quando chegava dos
procurou e encontrou a pro- algum dos seus amigos para
va que Jorge ansiava.
— Em que dia morri? —
ver o finado, ele lhes dava
uma piscadela.
Inocentes
indagou Jorge, curioso. O padre fez um sermão,
— 15 de setembro de mas os rapazes não queriam www.covildosinocentes.blogspot.com
1980. fechar o esquife.
— Quando eu tinha vinte — Vai pessoal, estou morto
anos — concluiu Jorge. há quase trinta anos, só falta
completar o serviço!
Levaram o caixão para o
Em 15 de setembro de
cemitério, Maria chorava, os
1980, Jorge voltava de via-
coveiros cobriram de terra o
gem com seu pai, sua mãe e
ataúde. Um dia muito triste
a irmã caçula. O pai, cami-
pra todos.
nhoneiro, os havia levado a
Aparecida do Norte, cumprir
uma promessa. Na contra- — Dona Maria, não pode-
mão, um motorista de ônibus mos liberar a pensão do seu
bêbado perdeu a direção e marido — disse a funcionária
atingiu o caminhão onde do INSS. Nossos bancos de
Jorge e sua família estavam. dados indicam que seu mari-
Todos morreram. do está vivo.
— Não, moça, ele ‘tá mor-
to. Morreu trinta anos atrás.
Jorge cuidava os túmulos
onde ele e seus parentes esta- — Há um Jorge de Lima
vam sepultados. Inequivoca- falecido aqui, mas é outra do
damente, estava escrito “Jorge pessoa. Sinto muito, mas não w
há nada que eu possa fazer. gr nl
de Lima”, data de nascimento
át
oa
e morte. Não havia dúvidas. is d
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Contos
O alvo simbiótico
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Contos
http://www.flickr.com/photos/by_andy/3324793807/sizes/o/
Mariana Valle
Organizações Tabajaras*
para Daniel Dantas e afins:
Cansado de ter sua pri- estar soltinhas da silva, fantásticas algemas de
são preventiva decretada até nas imagens exibidas pelúcia laranja! Ou peça
injustamente? Você não em telas de HD TV. pelo site: http://www.stf.
aguenta mais aparecer na Ligando agora, você tabajaras.com/
TV com aquelas algemas ainda ganha um incrível
horrorosas e ordinárias? par de algemas de pelú-
Seus problemas acaba- *A invenção do produ-
cia laranja, para vestir as to/propaganda é minha.
ram! Chegaram as Alge- delicadas mãozinhas de
mas Gilmar Mendicator! Só me apropriei do nome
sua irmã, esposa ou outro “Organizações Tabajaras”
Cravejada de strass, a laranja qualquer com um
pulseira Brilhantes é tão porque eu posso, afinal ex-
ar super fashion! moradora da Ladeira dos
luxuosa que nem vai pa-
recer que você está preso! Faça seu pedido agora! Tabajaras é pra sempre
Já a versão em acrílico Ligue para 1711 -7171, das organizações!
transparente fará com para comprar suas Alge-
que suas mãos pareçam mas Gilmar Mendicator.
E ganhe de brinde essas
http://www.flickr.com/photos/27235917@N02/2788169879/sizes/l/
A Oficina Editora é uma utopia, um não-
lugar. Apenas no século XXI uma vintena
de autores, que jamais se encontraram
fisicamente, poderia conceber um projeto
semelhante.
O livro, sempre tido em conta como uma
das principais fontes de cultura, tornou-se
apenas um bem de consumo, tornou-se um
elemento de exclusão cultural.
A proposta da Oficina Editora é resgatar o
valor natural e primeiro da Literatura: de bem
cultural. Disponibilizando gratuitamente
e-books e com o custo mínimo para livros
impressos, nossos autores apresentam
a demonstração máxima de respeito à
Literatura e aos leitores.
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Contos
http://www.flickr.com/photos/juglardelzipa/2355520177/sizes/o/
Léo Borges
Mistério outonal
Folhas bege-sêmen manjericão. branca. O olhar de Lisa,
caíam dos arvoredos da que misturava preguiça
praça, criando enormes e enfado, fitou o estra-
volumes e evidenciando Com os cotovelos na nho. Sem reconhecê-lo
a greve dos garis logo no sacada, tentando, vez por como alguém da cidade,
início da nova estação. A outra, acertar com cuspes procurou analisá-lo me-
névoa que surgia por de um besouro que andava lhor: achou-o horroroso.
trás da casa de arquite- por entre o monte de fo- Porém, ficou intrigada
tura obsoleta, cuja infil- lhas na calçada, a garota com o fato de ele, além
tração das paredes era era cúmplice da chegada de ser feio e gordo, estar
escondida por artesanatos do outono e seu friorento mais mal vestido que o
postos à venda, possuía ar romântico. Entretan- mendigo. Ao perceber
um doce mistério: po- to, não o contemplava que o rapaz piscava os
deria ser fruto do clima só: um mendigo, deitado olhos com certa insistên-
outonal, mas também num dos bancos da pra- cia em sua direção, Lisa
existia a possibilidade se ça, admirava a tal chega- acreditou que este ousava
ser a fumaça química de da de forma semelhante. paquerá-la. O que ela
combate aos mosquitos Além dele, um rapaz, não sabia era que aquilo
do carro da prefeitura. em outro banco, tam- não passava de um tique
A brisa gélida que acom- bém curtia ambos: tanto nervoso. A jovem, então,
panhava esta neblina o surgimento da frente fez cara de zanga, soltou
brincava sutilmente com fria quanto a bela loira os cabelos que estavam
os cabelos pintados da na janela. Esta, por sinal, enroscados nas alças da
bonita e ociosa moça da parecendo ainda mais janela e fechou-a.
janela, ora embaraçando- deslumbrante ao emer-
os em nós, ora incomo- Recostou-se no armá-
gir daquela fumaceira rio e ficou admirando-se
dando seus olhos cor de
www.revistasamizdat.com 35
postura fez com que a os pés. Adorava pés. Mas certo ponto inteligente,
garota mudasse seus pen- também adorava bunda. relativamente atraente e,
samentos. Então, de repul- Então procurou fazer o com doses cavalares de
sa passou a nutrir certo caminho inverso, subindo boa vontade, sincera.
interesse pelo camaradi- com o olhar. Subiu, su-
nha. Esquadrinhando o biu, subiu, mas não teve Melissa sentia-se cada
rosto do jovem, Lisa viu tempo de contemplar o vez mais envolvida com
que ele não era tão feio monte glúteo, pois Lisa já o estilo debochado da-
e seu jeito intelectual- estava de frente, voltando quele sujeito.
canalha ajudava a melho- com o copo de suco. – Sinceridade é algo
rar o lastimável conjunto.
Por um rasgo no short, incerto, pois se eu lhe
Juliano usava óculos de
a calcinha branca da gata disser que visto um sutiã
grau elevado, tinha a
pornograficamente esca- preto realçando meus de-
barba por fazer, não era
pava. Um som exagera- liciosos peitos, isso pode
alto, possuía mau hálito,
damente caipira de uma ser verdade para você,
estava fora de forma e
dupla sertaneja desconhe- caso não saiba, de fato,
ainda tinha o cacoete que
cida invadia a sala, vindo qual a sua cor – instigou
o fazia piscar os olhos
de um aparelho na estan- a moça, permitindo que
forçosamente a cada
te. Um pouco tonto pela um lascivo interesse aflo-
meio minuto. Apesar de
hipnose que a bela ima- rasse como não acontecia
tudo isso e também da
gem do corpo de Lisa lhe há pelo menos três horas.
roupa amassada que lhe
conferia uma aparência causara, e também pela – Primeiro, você está
de espantalho, o cara até irritante música, Juliano sem sutiã; segundo, se
que tinha seu charme. A apoiou-se em um qua- você usasse sutiã este se-
moça gostou muito do dro na parede onde Lisa ria provavelmente branco
jeito dele, mas procurou aparecia ao lado de um para combinar com a cor
não demonstrar e tentou homem montado sobre da sua calcinha, e, tercei-
ser natural. um jegue. Com o toque o ro, seus peitos são peque-
quadro caiu. Constrangi- nos demais para serem
– Quer um suco de do, o rapaz rapidamente considerados “deliciosos”
laranja enquanto a espe- o recolocou no lugar. – asseverou o jovem,
ra? Está muito gostoso. O
– É seu pai? – pergun- mostrando segurança nas
suco. Você também. Brin-
tou para tentar disfarçar, palavras.
cadeira! Entre e fique à
vontade. Qual seu nome, apontando para a ima- Com inequívoca fir-
gato? O meu é Melissa, gem no quadro rachado. meza, Juliano desmontou
mas pode me chamar de a arrogância de Melissa.
– Meu namorado –
Lisa. Ao final da última pala-
mentiu a jovem, pois se
tratava apenas do bem- vra, beijaram-se. Uma das
Juliano ficou com água
dotado caseiro da fazen- mãos do forasteiro logo
na boca ao ver Lisa an-
da dos pais. promoveu uma apropria-
dando para a cozinha. Es-
ção indébita da cintura
tava muito excitado. Não
Juliano coçou o quei- de Lisa, passando por
exatamente pelo fato de
xo, intrigado em querer cima da blusa de seda.
o destino estar lhe conce-
saber, afinal, quem era o Tentou escapulir para
dendo uma deliciosa nin-
namorado. dentro, mas sua falta de
feta de bandeja, mas sim
intimidade com os bo-
por saber que mataria – O que está por cima tões impediu um primei-
sua sede com um gostoso – esclareceu Lisa, vendo ro avanço. Melissa abriu
suco da fruta. Caminhou a dúvida nos olhos do mão de seu orgulho bobo
com o olhar pelas pernas visitante. e não só permitiu como
da jovem – contornando
– Que sorte a dele, ter implorou que Juliano a
as varizes, obviamente –
uma mulher assim: até explorasse por inteiro.
até onde estas formavam
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Contos
http://www.flickr.com/photos/mannequindisplay/83673859/sizes/o/
Barbara Duffles
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Contos
O Admirador
Parte 3: Suspeitos
Maristela Scheuer Deves
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Contos
Giselle Sato
A Peruca
42 SAMIZDAT junho de 2009
42
Roberto Carlos dos San- tudo parecia cinza desbo- indo, preciso organizar os
tos Pinto. Por razões óbvias tado. A morena exibiu o lançamentos.
mantinha apenas o primeiro maravilhoso gingado no
Durante todo o dia, Ro-
nome no crachá onde exi- uniforme rosa e o mundo de
berto deu um jeito de passar
bia com orgulho a função Robertão vibrou em cores.
perto da secão feminina só
de ‘’Gerente’’. Trabalhava em Jú trabalhava para a “Lingerie
para olhar Juliana. Não con-
uma loja de departamentos, Du Corpo”, arrumava a seção,
seguiu disfarçar o interesse
no maior Shopping da Zona ajudava as freguesas e exibia
e a loja inteira percebeu e
Norte carioca. Vinte e dois os dentes branquíssimos no
passou a comentar. Principal-
anos de serviço. Nenhuma sorriso simpático. O corpo
mente as funcionárias anti-
falta ou atraso. Promoções, perfeito para qualquer roupa
gas, furiosas com a novata:
prêmios e metas vencidas íntima. A mulata de olhos
no “Curriculum” invejável. cor de mel e boca carnuda - Ridículo, deve ter idade
Baixinho e atarracado adora- enfeitiçou o gerente: para ser filha dele.
va ser chamado de Robertão.
-Bom dia, bem-vinda à - Não precisa exagerar, só
Bigode bem aparado, unifor-
loja; sou Roberto, muito acho que ele não se enxerga.
me ligeiramente apertado e a
prazer.
hipótese não confirmada do - Está com inveja Maria?
uso contínuo de peruca. Estendeu a mão e apertou Ciúme?
os dedinhos da moça, delicia-
Havia bolsas de apostas e - Eu? Ciúme do Robertão?
do com o perfume, a pele, a
um “Bolão” para quem conse- Está doida Lú? Olha a cara
voz e o jeitinho suave de Jú:
guisse provar a existência da de bobo apaixonado.
falsa cabeleira. Infelizmente - Vou trabalhar aqui este
- Ele vivia de olho em
o desafio parecia impossí- mês, muito prazer senhor
você e agora só pensa em Jú.
vel. As demonstradoras de Roberto.
Homem é tudo igual! Safado!
produtos capilares viviam
- Mas que pena...
oferecendo tratamentos gra- Finalmente chegou sexta-
tuitos, mas nunca puderam -Como? Fiz alguma coisa feira... Após o fechamento da
http://www.flickr.com/photos/sergiorecabarren/2437705056/sizes/o/
tocar em um fio de cabelo errada para o senhor não loja, o tradicional chopinho.
do gerente. Apesar de soltei- gostar de mim? Pela primeira vez o gerente
ro nunca aceitava os convites apareceu no barzinho. Es-
-Imagine, pena que ficará
dos colegas para um chopi- banjou simpatia conversando
só um mês. Tão simpática
nho no final do expediente. animadamente com todos,
e agradável. Se precisar de
A rotina casa/trabalho/casa pagando rodadas e sendo
alguma coisa sou o gerente. E
era mantida sem exceções. sempre muito solícito com
pode me chamar de Roberto.
Era um solitário. Filho único Juliana. Ora pegava uma be-
Nada de senhor!
cuidava da mãe doente e um bida, oferecia um petisco, um
tanto senil. - Ah, que bobagem a mi- guardanapo, sempre atento e
nha. Muito obrigada. Já vou dedicado. Jú parecia delicia-
Até à chegada de Juliana
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da com as atenções. Os cole- muita coisa antiga, móveis cida com a cena: o filho nu e
gas foram saindo aos poucos pesados e um cheiro de gato sem conseguir sair do lugar.
e só restaram os dois. Rober- insuportável. Juliana olhou Com uma mulher igualmen-
tão e Juliana. E a conversa foi com repulsa os seis gatos te pelada, segurando um chu-
ficando mais íntima: empoleirados pelas poltro- maço de pêlos molhados. Al-
nas, mesas e até em cima da guns segundos depois, Juliana
- Moro aqui perto e você?
geladeira. A morena disfar- corria pela casa procurando
- Com meus pais em Bel. çou a ‘’cara de nojo’’, Roberto as roupas. Roberto levou a
era só gentileza : mãe de volta para o quarto
- Bel?
e tentou convencê-la de que
- Quer tomar um banho,
-Belford Roxo. Lá na bai- tudo havia sido um pesade-
minha querida? Pego uma
xada... lo. A velha senhora estava
toalha limpa para você.
em pânico e precisou tomar
-Nossa! No mínimo umas
- Aceito. Com este calor calmantes. Escutou quando
três horas de ônibus, não tem
fico tão suada... Você adivi- Jú bateu o portão da entrada
medo de assalto? A esta hora
nhou meus pensamentos. com força. Ainda era madru-
sozinha é muito perigoso.
gada, ficou preocupado com
Quando Roberto voltou
-Não percebi o tempo a moça na rua deserta mas
com a toalha, Ju estava no
passar, são quase duas horas estava tão envergonhado que
chuveiro com a porta aberta
da manhã e não sei o que não conseguiu tomar qual-
e a cortina de plástico trans-
vou fazer... quer atitude.
parente revelando tudo:
- Pode ficar lá em casa, No dia seguinte a Loja in-
-Vem, vem que a água está
moro sozinho. Quer dizer, teira sussurrava o fato, Julia-
uma delícia. Robertão não
minha mãe é bem velhinha na foi transferida para outro
pensou duas vezes, arrancou
e não incomoda nada. Tem Shopping na mesma tarde.
as roupas e entrou no box do
quarto sobrando, seu namo- Saiu feliz, carregando na bol-
banheiro apertado. Agarrou
rado não precisa ficar com sa os 500 reais do prêmio do
o corpo desejado, tocou cada
ciúmes. ‘’Bolão’’ e a peruca enrolada
pedacinho com carinho. Ton-
em um saco plástico. Rober-
- Que namorado? Estou to de tesão, esqueceu comple-
tão assumiu a calvície pela
solteira, e vou aceitar seu tamente seu maior segredo.
primeira vez. Caminhou pe-
convite, estou super cansada, las seções exibindo a careca
Jú acariciou o rosto de
Robertão... brilhante. Ignorou os risinhos
Robertão, o pescoço e os ca-
A residência dele ficava na belos... saíram em suas mãos e olhares dos colegas. Ao
rua em frente ao shopping. provocando um grito horri- final do dia estava mais ani-
Dez minutos e estavam na pilante. Juliana segurando a mado com os elogios ao seu
casinha humilde mas bem peruca e gritando, despertou novo visual. Havia descoberto
O Rei dos
Judeus
do www.revistasamizdat.com 45
w
gr nl
át
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is d
Autor Convidado
Rodolfo Bispo
http://www.flickr.com/photos/boadiceafairy/1705580506/
trocados, equivocadamente posicionados. Ao lado do P esta-
va um botão azul de uma camisa que usei uma vez para uma
cerimónia de circuncisão a laser. No lugar da barra de espaços
estava um espaço para alugar. E em vez do ESC tinha a ESC 2+3
(Escola Secundária de Cashkaische (Cascais dito com aparelho
nos dentes)).
Quando vi que no ecrã havia dois limpa-vidros, percebi.
Saí do carro e jurei nunca mais conduzir bêbado.
Anexei o senhor meu punho ao ficheiro facial fronteiro na zona nariguda da fronha feia de um
cavalheiro que ministra um cargo político.
Fiquei com os nós imundos de Honestidade, Confiança, Rigor e outras mentiras com que a besta
do senhor se maquilha antes de vir de se vender na Assembleia.
Ele que vá perguntar as horas a outro eleitor. A lata desta gente!
Nas exposições de arte contemporânea, gosto muito de ver toda a gente descon-
textualizada. Pessoas normais a ver coisas muito estranhas. Espantadas:
– Mas o que é isto? Isto é arte? Esta não percebo. Mas é só isto?
Desta vez, aquilo de que gostei mais foi pintar vinte símbolos fálicos e depois
convidar os meus pais e os meus sogros para me virem dar os parabéns.
Comprei uma boneca insuflável; na primeira Mais depressa se apanha o mentiroso que
http://www.flickr.com/photos/smannion/2515235183/
Rodolfo Bispo (1981) é pintor por paixão e formação, no entanto, tem encontrado na escrita a forma de ex-
pressão adequada a mensagens menos sintéticas. Alimenta um blog pessoal desde 2003: http://www.peludo-
eazul.blogspot.com/ Desde 2007, tem-se deixado seduzir pelo stand up, e a escrita de humor em geral, tendo
sido passados vários sketches seus no programa de rádio Cómicos de Garagem: http://ww1.rtp.pt/icmblogs/
rtp/comicos-de-garagem/ Integra, também, o grupo humorístico que produz o blog: http://aultimasopa.blogs.
sapo.pt/ Ultimamente, entusiasma-se com a brevidade, de possibilidades acutilantes, do Twitter: http://twitter.
com/RodBispo
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Tradução
François Rabelais
e o mundo às avessas
www.revistasamizdat.com 49
Tradução
François Rabelais
tradução: Henry Alfred Bugalho
Gargântua
50 SAMIZDAT junho de 2009
50
ou a muito horrível vida do grande Gargântua, pai de Pantagruel
Capítulo VI. Como — O quê? — disse saliências nojentas, e
Gargântua nasceu dum Grandgousier. pensaram que era o bebê.
jeito muito estranho Mas era o fiofó dela que
— Há, ela disse, você
havia lhe escapado, por
é um bom homem! Você
Enquanto eles agra- causa do amolecimento
entendeu bem.
davelmente debatiam do intestino — chamado
sobre beber, Gargamele — Meu membro? — ele de entranhas — porque
começou a se sentir mal disse — Pelo sangue das havia comido muitas
das partes baixas; então cabras! Se bem lhe apete- tripas, como havíamos
Grangousier se levantou ce, faça com que tragam declarado anteriormente.
da grama e a reconfortou uma faca.
Então, uma velha feia
honestamente, pensan-
— Há — ela disse — da companhia, que tinha
do que era o bebê a lhe
Deus me livre! Que Deus a reputação de ser uma
fazer mal, e lhe disse que
me perdoe! Não disse isto grande médica, vinda de
seria melhor que ela des-
com sinceridade, e não Brisepaille, perto de Saint
cansasse sob o salgueiro,
faça nada do que digo. Genou, sessenta anos
pois em breve ela estaria
Mas eu terei trabalho atrás, fez-lhe um cons-
bem e era conveniente
o bastante por hoje, se tipante tão horrível que
ter nova coragem para
Deus não me ajudar, por suas pregas se obstruíram
a chegada iminente do
causa de seu membro e e se fecharam tanto, que,
pimpolho, e que apesar
para agradá-lo. até com os dentes, seria
de a dor poder ser severa,
difícil abri-las, o que é
ela logo acabaria, e que a — Coragem, cora- algo horrível de se pen-
alegria que se sucederia gem! — ele disse — não sar: mesmo imitando o
amenizaria toda a dor, de se preocupe e deixe que diabo, que na missa de
modo que nem memória quatro bois façam o Saint Martin, transcreveu
dela restaria. trabalho. Vou tomar mais o bate-papo de duas gale-
uma bebida. Se lhe recair
— Coragem de ovelha! sas, esticando o pergami-
algum mal, você me terá
— ele disse — Dê a luz a nho com os dentes.
por perto: dê um assovio
este menino, e logo fare-
que estarei com você. Por este inconveniente,
mos outro.
soltaram-se os cotilédo-
Pouco tempo depois,
— Há! — ela disse — nes de seu útero, através
ela começou a suspirar,
com que facilidade vocês do qual a criança saltou
a se lamentar e a chorar.
homens falam! Bem, por pra cima e entrou na veia
Ilustração: Gustave Doré
Subitamente, de todos os
Deus, vou me esforçar, cava. Então, escalando o
cantos vieram as parteiras
porque você me pede. diafragma até os ombros
e, apalpando por debai-
Mas suplico a Deus que (onde a veia se divide em
xo, encontraram algumas
lhe seja cortado! duas), ela tomou o cami-
www.revistasamizdat.com 51
nho da esquerda e saiu mulheres dariam à luz, Capítulo VII. Como
pela orelha esquerda. doravante, pela orelha. Gargântua recebeu seu
nome e como ele bebia
Assim que nasceu, não
vinho
chorou como as outras
Não foi Baco engen-
crianças: “Miez, miez”,
drado desde a perna de O bom homem Gran-
mas gritou em voz alta,
Júpiter? gousier bebia e se regala-
“beber! beber! beber!”,
va com os outros, escutou
como se convidasse todo Não nasceu Roque-
o horrível grito que seu
o mundo a beber. E o taillade do calcanhar de
filho deu ao entrar na luz
barulho era tão alto que sua mãe?
do mundo, exigindo: “Be-
podia ser ouvido ao mes-
Crocmoush da pantufa ber! Beber! Beber!” Então
mo tempo nos países de
de sua babá? disse: “Que garganta!” Ao
Beausse e Bibaroys.
ouvirem isto, os assisten-
Não nasceu Minerva tes disseram que a crian-
do cérebro, através da ça deveria se chamar
Questiono-me se você orelha de Júpiter? Gargântua, porque esta
não acredita totalmente
Adônis da casca de havia sido a primeira pa-
neste estranho nascimen-
uma árvore de mirra? lavra dita pelo pai após o
to. Se não acredita, não
nascimento, em imitação
me importo; mas um ho- Castor e Pólux duma ao exemplo dos antigos
mem de bem, um homem casca de ovo que havia hebreus, com o qual ele
de bom senso, acredita sido posto e chocado por concordou, e agradou
em tudo que lhe contam Leda? bastante também à mãe.
e em tudo que lhe chega
E, para acalmar a criança,
por escrito. Isto é contra
eles lhe deram de beber
nossa lei, nossa fé, nossa Mas você se espanta- em abundância, e a car-
razão, contra as Santas ria e estupefaria mais se regaram até à fonte e a
Escrituras? De minha eu lhe expusesse aquele batizaram, como é o cos-
parte, não encontro nada capítulo de Plínio, aquele tume dos bons cristãos.
na Bíblia Sagrada que seja no qual ele fala de nasci-
contra isto. Mas, se esta mentos estranhos e con- E ordenaram que trou-
foi a vontade de Deus, trários à natureza; ainda xessem dezessete mil,
você diria que ele não que eu não seja tão men- novecentas e treze vacas
o fez? Ah, misericórdia, tiroso quanto ele foi. Leia de Pautille e Brehemond
não emburreça jamais o sétimo livro de sua para amamentá-la ordi-
seu espírito com estes História Natural, cap. III, nariamente, porque era
vãos pensamentos, pois e não me perturbe mais impossível encontrar
eu lhe digo que nada é a cabeça. amas suficientes no país,
impossível para Deus e, considerando a grande
se ele quisesse, todas as quantidade de leite ne-
http://www.flickr.com/photos/ooocha/2630360492/sizes/l/
ele foi cuidado até um paraíso. De modo que,
ano e dez meses; depois considerando sua com-
deste tempo, pelo con- pleição divina, para ale-
selho dos médicos, co- grá-lo, de manhã, faziam
meçaram a carregá-lo, e ressoar copos com uma
foi feita uma bela char- faca, ou garrafões com
rete de bois, inventada suas rolhas, ou as canecas
por Jean Denyau. Nela, com suas tampas, e aque-
levaram-no para passear les sons o deixavam feliz,
e ele se alegrava muito; e saltitante, e ele se debatia
o exibiam, pois ele tinha no berço, balançando a
uma bela face e dezoito cabeça, monocordiando
queixos. Quase nunca os dedos e baritonando
chorava, mas cagava a com o cu.
toda hora. Pois ele era
incrivelmente fleumáti-
co de bunda, tanto por Fonte:
causa de sua complei-
ção natural quanto pela http://www.ed4web.
disposição acidental que collegeem.qc.ca/prof/rtho-
lhe adveio por tomar os mas/pm/gargantua.pdf
ficina
vinhos setembrinos. Mas
ele não bebia sem moti-
vo; se acontecesse de ele
www.oficinaeditora.org
53
Crônica
www.revistasamizdat.com 55
O lugar onde
a boa Literatura
é fabricada
http://www.flickr.com/photos/32912172@N00/2959583359/sizes/o/
ficina
56 SAMIZDAT junho de 2009 www.samizdat-pt.blogspot.com 56
56
www.oficinaeditora.org
Crônica
http://www.flickr.com/photos/jamilsoni/64390285/sizes/o/
Caio Rudá de Oliveira
Use óculos
Não raro nos pegamos a afirmativa que me rendi ao imagem de cult, genuínos
observar, com aquele olhar fenômeno da estereotipagem passaportes para o sucesso
profundo, para incautos sujei- ao comprar meus novos ócu- artístico.
tos que andam distraidamen- los. A intenção foi substituir Quer ser ouvido? Use
te na calçada, ou que estão a armação antiga, leve, fina óculos. Suas palavras irão
na fila do banco - completos e mais arrojada, por uma soar como conselhos de um
inocentes. Eles não imaginam mais cheia, clássica, bem ao sábio. Quer ser referência?
que, a poucos metros de si, estilo escritor, cuja aparência Use óculos. Sua figura se
alguém pode estar a traçar me colocaria mais de acordo valoriza com eles em sua
minuciosamente seu perfil com o propósito da literatu- cara. Quer ser jornalista? Use
psicológico, lição básica do ra. óculos. Suas matérias estarão
manual “A arte de bisbilho- Certamente Drummond na capa de jornal. Quer ser
tar”. não seria reconhecido pelo escritor? Use óculos. Você irá
Nesse tipo de construção seu talento se não usasse entrar para a Academia Bra-
da imagem alheia, os ócu- óculos. Também João Ubaldo sileira de Letras. Quer ban-
los são um item crucial na Ribeiro e Manuel Bandeira. car o inteligente sem saber
determinação das caracterís- Benditos são esses óculos que patavina? Use óculos. É um
ticas, conferindo um certo ar servem de auxílio à visão, verdadeiro fato alquímico; do
de intelectualidade a quem verdadeiros olhos, e que cobre ao ouro, da ignorância
os usa. Tanto acredito nessa também colaboram com a à sabedoria.
www.revistasamizdat.com 57
Crônica
Prêmio Ig Nobel
Caio Rudá de Oliveira
mas hoje eu aposto numa sugere o lema do grupo que pé. Também entra na lista
maioria híbrida. E como se organiza as cerimônias. Ce- uma tese de Ph.D. sobre a
sabe, híbridos são animais rimônias essas que, pasmem, história das lojas de donuts
estéreis. são realizadas com a cola- canadenses, um spray para
boração da Universidade de detectar a infidelidade de
Logo, inférteis são tam- Harvard.
bém suas produções, ar- um marido, um dispositi-
tísticas ou científicas. Não Todo tipo de despro- vo ao qual se amarra uma
contribuem lá com muita pósito já foi catalogado e mulher prestes a dar à luz e
coisa. No máximo garantem premiado. Só não sei se o gira em alta velocidade para
o troféu eu-fiz-algo-em- critério é recompensar os auxiliar o parto, imãs que
minha-vida ao seu mentor. mais dementes ou os me- levitam um sapo e tam-
Assim, tudo bem que não nos, dentro do contexto dos bém um lutador de sumô, a
acrescentem nada, mas cientistas malucos. Esses descoberta de que o buraco
também ser uma experiên- professores Pardais, aliás, negro preenche todos os
cia tão inútil que não vale são laureados em uma festa requisitos para a localização
toda a demanda de esforços, pomposa, semelhante ao pa- do inferno. E é daí para pior.
dinheiro e tudo o mais é rodiado Prêmio Nobel. Vale Resta saber quem são os
o fim da picada. Os artis- citar alguns desses destem- mais débeis: os cientistas ou
tas ainda têm a licença de peros: quem os premeia.
transcender, ousar e não ter
www.revistasamizdat.com 59
Crônica
http://www.flickr.com/photos/tadeupereira/2046004336/sizes/l/
brasileiro que se preze se como uma árvore sem suas
achou no direito de dar o seu Reformas no idioma, a folhas.
pitaco sobre o recente acordo priori, buscam uma melhora.
ortográfico. Se pela conjuntu- Prefiria crer que a unifica- Sei que não vou aderir a
ra ou por real interesse pela ção da língua portuguesa essa ideia, e vou ficar com
coisa, já é outra história. não fosse uma brincadeira minha antiga idéia. Se eu
de menino e se vários espe- ceder, daqui a pouco vão
O fato é que só os blogues cialistas, de diversos lugares, querer arrancar o acento de
devem amontoar uma quan- decidiram por agir de tal “Rudá” também. Então, peço
tidade de informação desse maneira é porque há motivos a todos adesão ao Manifesto
assunto suficiente para uns que o justifiquem. Mas agora Anti-castração de Idéia, pois
dois anos de leituras. Tem vejo o despropósito desse além do agudo, estão levando
gente que é contra ou a favor acordo. Vão acabar com o junto o assento da palavra.
mas não sabe por quê, tem acento da palavra idéia. Poxa,
gente que não sabe o que é afinal é a marca do meu Por último, vai haver
mas tem opinião formada e blogue que está em jogo. O punição por não escrever
tem gente que sabe mas não agudo para mim é tão parte dentro das novas regras ou,
tem. Esse último, meu caso. do vocábulo quanto o i ou d. no máximo, vou ser o burro
que acentuará idéia?
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Gato é o bicho mais deixando o organismo tra- horas possíveis de um dia.
inútil que existe. Eu queria balhar sozinho... acho isso É uma provável explicação
saber de onde é que esses perigoso demais (já p*idei para terem tanta disposi-
bichos tiram tanta disposi- dormindo tão alto que ção para não fazer nada, e
ção pra dormir. Três quin- acordei com o barulho). Se espaço livre no HD mental
tos do seu dia eles passam neguinho for prestar aten- para enfiar música de gosto
dormindo, um quinto se ção, oito horas é um terço duvidoso e sentimentos de
lambendo e o outro quinto do dia. Isso significa que, auto-piedade. Isso, é claro,
destruindo alguma coisa se eu for seguir à risca essa os que não turbinam sua
dentro de casa – ou arru- contagem de horas dormi- chatice com álcool y otras
mando confusão na rua. das, um terço da minha cositas más.
Os gatos são adolescentes a vida vai ser babando e Eu durmo pouco, como
vida inteira. p*idando inconscientemen- muito e só bebo água no
As normas (quem disse?) te. Fazendo as contas meio café. E, de vez em quando,
da vida saudavelmente cor- por cima, então, eu tenho misturada com outras coi-
reta dizem que os humanos dezenove “anos úteis”. Vai sas que na adolescência eu
normais e civilizados de- ver é por isso que a maior não curtia.
vem dormir de sete a oito parte dos adolescentes (i.e.:
os vivos) são tão imprestá- Ah, sim. Eu já fui adoles-
horas diárias. Eu não tenho cente. E fiz todas as im-
saco para dormir. Acho veis: nos anos teen (dos tre-
ze aos dezenove, segundo pertinências pertinentes à
que a gente perde muito, idade. Minha mãe não tem
muito, muito tempo inerte, a língua do viúvo da Lady
Di), dorme-se em média saudade dessa época.
só respirando, babando e
doze das vinte e quatro
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Crônica
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Volmar Camargo Junior
http://www.flickr.com/photos/twose/887903401/sizes/l/
Léo Borges
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Eu só qu
da pessoa do plural mor-
reu, como se diz, Cristo
era menino. Só o ouvimos
agora nas liturgias, quan-
do Cristo era menino (ou
mesmo adulto). “Porquanto
chocol
vós todos sois filhos da
luz, e filhos do dia; nós
não somos da noite, nem
das trevas”. Tessalonicenses
5:5. Não sei se é por causa
dessa verve bíblica do “vós”
que quando ele é citado já
lembro do Charlton Hes-
ton, do Yul Brynner ou do
meu avô me chamando Maristela Scheuer Deves
para a missa dominical.
O “você” (corruptela do
reverente “vossa mercê”)
tomou, aos poucos – quan-
do está pluralizado – o lu-
gar do “vós”. E, sem maio-
res alardes, o internetês
tratou de simplificar tudo
isso em algumas consoan-
tes frugais: “vcs” (vocês) ou
“vc” (no singular). Como
no inglês, onde “you” (você)
é grafado com uma sim-
plicidade atroz: “u”.
Por falar em “você”, o Uma balança me deu, não faz muito tempo, uma
“tu” não se rendeu facil- notícia assustadora: estou com quase 56 quilos. Melhor
mente a este pronome.
Tanto ele quanto o “ti” dizendo, algumas vezes estou umas gramas acima disso,
possuem uma blindagem outras, ainda bem, um pouco abaixo. Sei que as gordi-
regionalista notável. Em nhas de plantão vão rir da minha idéia de que estou
determinados locais do “pesada” demais, mas para mim, que até meus 25 anos
Brasil o “você” quase não
tem vez: “Tu vais à festa de era magérrima, esses quilinhos em excesso preocupam.
Nando?”, “Abração pra ti!”. Minha média de peso, por muitos anos, não passou
Dos pronomes pessoais dos 47 quilos. Depois, nos últimos anos, subiu para 50,
do caso reto só mesmo o oscilou por um bom tempo na faixa até 52, subiu trai-
“eu”, o “ele” e o “eles”, de
uma forma geral, ainda se çoeiramente para 54 e agora... 56! Quem me conhece
mantêm vivos. Mas, mes- bem vai dizer que a balança demorou a acusar o que eu
mo assim, sofrem com a como: no almoço e na janta até que sou comedida, mas
sanha do resumo de infor- na hora dos lanches, sai de baixo... O vilão da história, é
mações. Muitos não falam
“eu não sei”, simplesmente claro, é o chocolate.
dizem: “sei não”. Não tar- Mas, meu Deus, eu adoro essa delícia derivada do
dará o tempo em que “eu” cacau, e fico numa dúvida cruel entre seguir engordando
também sucumbirá ante
a virose que já assolou os nesse ritmo (minha ex-cinturinha fina parece a cada dia
pronomes “nós” e “vós”. assustadoramente maior) ou abrir mão de um costume
Estes, pelo menos, em am- já consagrado: meus chocolates diários, geralmente no
bientes poéticos e religio- finalzinho da tarde. E mais alguns chocolates durante o
sos, ainda são venerados.
dia, e a pizza com cobertura de chocolate ao menos uma
vez por semana, e o chocolate em pó comido de colhe-
rada, e a musse de chocolate de sobremesa, e o bolo de
uero
late
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chocolate, e... pequenas, viu, não sou tem, mas melhor?
Que atire a primeira nenhuma esganada!) que Alguém deveria inven-
pedra quem não fica com compro na lancheria ou tar algo saudável, não-
água na boca ao passar no mercadinho da esquina, engordante, e igualmente
pela seção de chocolates mas dali a pouco a vontade gostoso; aí talvez me con-
no supermercado e nem volta. vencesse a deixar de lado
come um brigadeiro es- E agora que está chegan- as milhares de calorias da
condido de vez em quan- do o inverno, ai, que von- dieta atual. Por enquanto,
do. Ah, eu ia esquecendo: tade de fazer um delicioso encolho a barriga e sigo
minha dieta também inclui fondue... de chocolate, é curtindo a minha vida
eventualmente os brigadei- claro. Sem falar na ma- de não-mais-magra-mas-
ros, e, frequentemente, uma quinha de café, com três ainda-não-gorda, comendo
caixinha da delícia que são opções (isso mesmo, TRÊS!) tudo o que posso e rezan-
os achocolatados - seja ele de chocolate quente, que do para que de alguma
Nescauzinho, Toddynho ou instalaram tentadoramente forma aquilo tudo não se
qualquer outro do gênero. no corredor da empre- acumule na minha cintura.
Hummmmmm!!!!!!!!!! sa onde trabalho. Como Bem que a minha mãe
Muitas vezes já me resistir? Não pensem que me aconselhava, quando eu
perguntaram se eu não eu não como outras coisas; reclamava que era magri-
enjoo, mas acho que nunca refrigerantes e muita pizza nha demais: “Melhor assim.
vou enjoar. Claro, às vezes também fazem parte do Se um dia você engor-
não consigo comer de uma meu cardápio. Mas, tem dar, vai sentir saudade de
vez os dois bombons ou coisa melhor – não mais quando te chamavam de
as quatro barrinhas (das saudável, isso eu sei que palito...”
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Crônica
O dia em que o
mundo não acabou
Henry Alfred Bugalho
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Poesia
Quadrilha
Ratinho amava Ana Prego que trazia os produtos pra Zé Bala
que foi chefe de Tonha que tinha caso com Neguinho que ameaçou Tininha
que não tinha antecedentes criminais.
Sabia-o Vivaldi
nem tudo são flores
é que o ano é primavera
verão, outono e inverno
Haikai
miojo
yakisoba
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takafora
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Poesia
Laboratório Poético:
dois pecados (um, pela metade),
e mais outras coisas sem sentido
Volmar Camargo Junior
Ira
Ai, moléstia maldita
que tira o gosto de tudo
e do resto todo o sentido
Ai, penúria ordinária
rasga-me de dentro a fora
expulsa minhas entranhas
Dor da minha imundície, raio que me parta
Porra, que merda de dor filha da puta!
Preguiça
precis..
escrev...
um poe...
intei...
Ah, cansei!
Vadiagem
http://www.flickr.com/photos/swamibu/2895535441/sizes/o/
É manhã.
É dia.
E daí?
Doce Nostalgia
Leite condensado, caramelizado
Com flocos crocantes
Coberto com o delicioso sabor do passado.
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Poesia
http://www.flickr.com/photos/98909113@N00/460178035/sizes/o/
Sonhei que tu (eu?) a mim (tu) amava(s), Pra uni-lo em mesmas faces, nem mágica;
(Talvez só se busquem as antagônicas) Um pedaço tem que inverter seu lado,
Pela primeira vez me senti só. Para que ambos voltem a ser um só.
Outra vez sem tempo, corpo ou palavras, Em corpos separados (eu gostava...)
Depois de tudo reduzido a pó, Pela natureza (... muito...)(melhor?),
Nos vemos hirtos de tais formas trágicas, Entrego minhas (de ti?) palavras
(Unidimensional paixão de um Jó), Ao tempo (...realmente.) nas etéreas
Extremas, impensadas, desarmônicas, Mágicas. Bipartido eu só sinto:
De tudo que entre nós tu não falavas. Eu um, tu uma, eu incompleto e só!
SAMIZDAT
Edição, diagramação e capa
Revisão
Joaquim Bispo
Ex-técnico de televisão, xadrezista e pintor amador,
licenciado recente em História da Arte, experimenta
agora o prazer da escrita, em Lisboa.
episcopum@hotmail.com
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Assessoria de imprensa
Mariana Valle
Por um amor não correspondido, a carioca de
Copacabana começou a poetar aos 12 anos. Veio o
beijo e o príncipe virou sapo. Mas a poesia virou sua
amante. Fez oficina literária e deu pra encharcar o
papel com erotismo. E também com seu choro. Em
reação à hipocrisia e ao machismo da sociedade.
Atuou como jornalista em várias empresas, mas foi
na TV Globo onde aprimorou as técnicas de reda-
ção e ficção. E hoje as usa para contar suas próprias
histórias. Algumas publicadas em seu primeiro livro
e outras divulgadas nos links listados em seu blog
pessoal: www.marianavalle.com
Colaboração
Volmar Camargo Junior
Inconformado com a própria inaptidão para di-
zer algo sem ser através de subterfúgios, abdicou de
parte de suas horas diárias de sono, tentando domar
a sintaxe e adestrar a semântica. Depois de perambu-
lar pelo Rio Grande do Sul, acampou-se na brumosa,
fria, úmida, às vezes assustadora – mas cercada por
um cenário natural de extrema beleza – Canela, na
Serra Gaúcha. Amargo e frio, cálido e doce, descen-
dente de judeus poloneses, ciganos uruguaios, indí-
genas missioneiros, pêlos-duros do Planalto Médio,
é brasileiro, gaúcho, e, quando ninguém está vendo,
torcedor do Grêmio Futebol Porto-alegrense. Autor
dos blogs “Um resto de café frio” e “Bah!”.
v.camargo.junior@gmail.com
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/vcj
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SAMIZDATjunho
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de2009
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Caio Rudá
Bahiano do interior, hoje mora na capital. Estuda
Psicologia na Universidade Federal da Bahia e espera
um dia entender o ser humano. Enquanto isso não
acontece, vai escrevendo a vida, decodificando o enig-
ma da existência. Não tem livro publicado, prêmio,
reconhecimento e sequer duas décadas de vida. Mas
como consolo, um potencial asseverado pela mãe.
Maristela Deves
Gaúcha nascida na pequena cidade de Pirapó, co-
meçou a sonhar em ser escritora tão logo aprendeu a
ler. Escreve principalmente contos nos gêneros misté-
rio, suspense e terror, além de crônicas.
Barbara Duffles
Jornalista, escritora e roteirista, é autora do livro
“Não Abra” e do blog “Não Clique”. Apesar das nega-
tivas, esta carioca quer, sim, ser lida - como todo es-
critor. Tem dias de conto, de crônica e de pílulas sem
sentido. Suas paixões: cinema e livros com cheiro de
novo - se bem que adora se perder nos sebos da vida.
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Carlos Barros
Paulistano, filho de nordestinos, desenhista desde
sempre, artista plástico formado, escritor. Começou
sua vida profissional como educador e, desde então,
já deixou seu rastro por ONG’s, Escolas e Centros
Culturais, através de trabalhos artísticos e pedagó-
gicos – experiências que têm forte influência sobre
seus escritos. Atualmente, organiza oficinas de ilus-
tração para crianças, estuda pós-graduação em Histó-
ria da Arte e escreve para publicações na internet.
carloseducador@hotmail.com
http://desnome.blogspot.com
Dênis Moura
Paulistano de pia, cearence de mar e poeta de
amar. Viaja tanto o céu estrelado quanto o ciberes-
paço, mais com bits de imaginação que com telescó-
pios. Pensa que tudo se recria a cada Big Bang, seja
ele micro, macro ou social. Luta pela justiça, a paz e
a igualdade, com um giz na mão e uma pistola na
outra. É Tecnólogo a sonhar com Telemática social,
com a democracia participativa eletrônica, onde o
povo eleja menos e decida mais. Publica estes dias
sua primeira obra, um Romance de Ficção Científi-
ca, e deixa engavetadas suas apunhaladas poesias. É
feito de bits, links e teia pra que não desmaterialize,
o clique, o blogue e o leia!
Giselle Sato
Autora de Meninas Malvadas, A Pequena Baila-
rina e Contos de Terror Selecionados. Se autodefine
apenas como uma contadora de histórias carioca.
Estudou Belas Artes, Psicologia e foi comissária de
bordo. Gosta de retratar a realidade, dedicando-se
a textos fortes que chegam a chocar pelos detalhes,
funcionando como um eficiente panorama da socie-
dade em que vivemos.
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José Espírito Santo
Informático com licenciatura e pós graduação na
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa,
trabalha há largos anos em formação e consultoria,
sendo especialista em Bases de Dados, Sistemas de
Gestão Transaccional e Middleware de “Messaging”.
A paixão pela escrita surgiu recentemente, tendo no
ano de 2007 produzido os livros “Esboços” (contos) e
“Onde termina esta praia” (poesia). Vive com a fa-
mília em Alverca, uma pequena cidade um pouco a
norte de Lisboa, Portugal.
Léo Borges
Nasceu em setembro de 1974, é carioca, servidor
público e amante da literatura. Formado em Comu-
nicação Social pela FACHA - Faculdades Integradas
Hélio Alonso, participou da antologia de crônicas
“Retratos Urbanos” em 2008 pela Editora Andross.
a boa Literatura
é fabricada
ficina
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www.oficinaeditora.org
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