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ENSAIO

A questão da descentralização participativa na gestão


do PLANFOR: qual democracia?

Salviana de Maria Pastor Santos Sousa


Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

A questão da descentralização participativa na gestão do PLANFOR: qual democracia?


Resumo: Este ensaio traz reflexões sobre o Plano Nacional de Formação do Trabalhador (PLANFOR), implementado no governo
Fernando Henrique Cardoso. O PLANFOR pretendia ser um instrumento de reversão das assimetrias socialmente consolidadas ao
mesmo tempo em que trataria de adequar o país aos novos desafios introduzidos pela reestruturação capitalista em curso. A gestão
descentralizada e participativa seria um instrumento fundamental nesse processo, posto que deveria envolver os três níveis de governo
e os interessados no processo. A análise desenvolvida neste texto tem como objeto o processo de gestão dessa política e baseia-se em
resultados de pesquisa avaliativa desenvolvida, no período de 1996 a 2002, por pesquisadores do Grupo de Avaliação e Estudos da
Pobreza e das Políticas Direcionadas à Pobreza (GAEPP) da Universidade Federal do Maranhão. A partir da análise, procura-se
demonstrar que não houve a mudança paradigmática apregoada pelos formuladores do PLANFOR, no sentido da construção de gestão
democrática com a participação efetiva da sociedade.
Palavras-chave: trabalho, educação, democracia, descentralização, participação.

The Question of Participatory Decentralization in the Management of PLANFOR: What Democracy?


Abstract: This article reflects on the National Worker Training Plan (PLANFOR), implemented during the Administration of President
Fernando Henrique Cardoso. PLANFOR was planned to be a tool to reverse socially consolidated imbalances while also attempting to
adapt the country to new challenges introduced by capitalist restructuring. The decentralized and participatory management would be
a basic tool in this process, given that it should involve the three levels of government and those interested in the process. The analysis
focuses on the management of this policy and is based on the results of an evaluative study undertaken from 1996 - 2002, by researchers
in the Group for the Evaluation and Study of Poverty and Policies Aimed at Poverty (GAEPP) of the Federal University at Maranhão.
Based on this analysis, it sought to demonstrate that the formulators of PLANFOR did not propose any paradigmatic change, in order
to construct democratic management with effective social participation.
Key words: labor, education, democracy, decentralization, participation.

Recebido em 30.03.2007. Aprovado em 04.07.2007.

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Introdução servindo como objeto de exploração de uma classe


sobre a outra. Nessa circunstância, como lembra San-
Neste artigo apresento uma análise de alguns dos tos (1999, p. 97) pode se constituir em fator de ansie-
resultados de uma pesquisa avaliativa1 sobre o Plano dade permanente, quer quando existe – pelas condi-
Nacional de Formação do Trabalhador (PLANFOR), ções em que se desenvolve –, quer quando falta –
implementado no governo de Fernando Henrique pela negação do estatuto da cidadania burguesa que
Cardoso. O fio condutor das reflexões é o princípio representa. A desigualdade estrutural posta pelo modo
de descentralização participativa, que embasava o de produção, ao viabilizar essa exploração, permite que
processo de gestão do PLANFOR2. a liberdade e a democracia materializadas em estatu-
O PLANFOR tinha como fonte de recursos o tos jurídicos, tornem-se meras formalidades.
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), materiali- Todavia, na medida em que as sociedades concre-
zava a Política Nacional de Educação Profissional tas são dinâmicas, pode-se verificar gradações, data-
(PNEP) e era gerido, em nível federal, pela Secreta- das e situadas, na operacionalização das condições de
ria Nacional de Formação e Desenvolvimento Pro- vida e de trabalho, as quais justificam a necessidade
fissional (SEFOR), do Ministério do Trabalho e Em- de políticas públicas e as análises sobre a forma como
prego (MTE), com base nas deliberações do Conse- cada uma delas se organiza. É nesse movimento que
lho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalha- se situa a pesquisa avaliativa sobre o PLANFOR, que
dor (CODEFAT). serviu de suporte às reflexões aqui desenvolvidas, cujo
Considerando-se que o propósito do projeto era objeto é o processo de gestão dessa política.
qualificar trabalhadores, capacitando-os para acessar O PLANFOR espelhava a concepção mais atua-
o mercado de trabalho, a partir de uma gestão com- lizada de trabalho no contexto do paradigma produti-
partilhada, as reflexões aqui desenvolvidas têm como vo e tecnológico dominante, em que a necessidade
suporte teórico as categorias trabalho e democracia, de articulação ao exercício laboral tem apoio em dois
compreendidas na perspectiva defendida pelo argumentos: o econômico (pois a ausência ao traba-
paradigma marxista. Dessa maneira, considera-se que lho é causa da pobreza, esta atestada pela incapaci-
não houve sintonia entre o processo de implementação dade de acessar as novas mercadorias produzidas) e
e a arquitetura original do PLANFOR. Ao mesmo tem- o moral (uma vez que o distanciamento do trabalho
po, ocorreu um estreitamento da noção de trabalho, leva à desordem social). E é através da educação
articulado mais diretamente com a idéia de que esse acesso passa a ser possibilitado, conferindo
empregabilidade (capacidade de movimentar-se num prestígio aos indivíduos de acordo com os diferentes
mercado de trabalho em processo de mudança), en- graus de inserção conseguidos (SOUSA, 2004).
quanto a democracia preconizada, embora associada Essa articulação pretendida deveria se configu-
à ampliação dos espaços de participação, não conse- rar mediante uma nova forma de governar, com o
guiu ultrapassar uma gestão de caráter técnico. envolvimento de novos sujeitos sociais, presentes em
De acordo com as reflexões aqui expostas, tra- todos os momentos do PLANFOR. Isto significa que,
balho é entendido, tal como elaboram Antunes (1999) além da simetria entre os entes federativos, garanti-
e Mészáros (1987), como a expressão metabólica da pelo pacto materializado na Constituição Federal
entre o homem e a natureza, o elemento mediador de 1988, as ações governamentais deveriam englo-
entre a esfera da necessidade e de sua realização, a bar os três atributos básicos considerados pelos de-
esfera dos questionamentos e das respostas a eles fensores dessa forma de governo: democratização
elaboradas. É ele que torna possível o salto ontológico do poder local; aumento de eficácia e de eficiência
entre os seres anteriores e o ser que se torna social. na gestão governamental e incentivo a inovações
Sua realização, enquanto ato consciente, portanto, administrativas (ABRUCIO; SOARES, 2001).
concretiza o processo de humanização e de emanci- Assim, a consolidação da democracia, na dimen-
pação, no contexto do qual as diferentes expressões são postulada na política, exigia cooperação, com dis-
da vida ganham sentido, tornando possível o exercí- tribuição de atribuições e funções pelos diferentes
cio da liberdade ou a condição para tomar decisões planos governativos, demandando do governo gran-
em face de possibilidades concretas, o que pressu- de capacidade de movimentar-se no interior da soci-
põe a existência da democracia. edade, utilizando habilidades políticas complexas, o
Tal democracia só possível de se realizar onde seja que não se mostrou efetivo no decorrer da
eliminada a apropriação privada dos meios de produ- operacionalização do PLANFOR. Da mesma for-
ção, com a consolidação de uma outra sociedade, sem ma, e também em conseqüência desse primeiro mo-
classes, cooperativa, onde cada um produza de acor- vimento, não foi possível o envolvimento de grupos e
do com suas capacidades e receba com base em suas movimentos sociais na política, influenciando, de fato,
necessidades (MARX; ENGELS, 1997). nos seus resultados o que desvelou a pequena densi-
O trabalho, por outro lado, pode ser condição de dade do tecido social associativo da base, consolida-
alienação, caso das sociedades capitalistas concretas, do na maioria dos estados.

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O quadro argumentativo que desenvolvo nas pró- contínuas, permanentes e complementares à educa-
ximas seções deste trabalho refere-se aos parcos ção básica); articulação institucional (ações sintoni-
resultados alcançados pelo PLANFOR. Em compa- zadas com as demais políticas públicas e com a
ração à proposta original, esses resultados podem ser mobilização de diferentes instituições locais atuantes
tributados à dificuldade do governo em articular apoi- ou interessadas no campo da educação profissional);
os, à fragilidade do tecido associativo construído na e apoio à sociedade civil (ampliação do acesso à edu-
base e, particularmente, à incapacidade desse tipo cação profissional, com vistas a qualificar ou
de política em responder às demandas sociais, por requalificar a população economicamente ativa no
não garantir ao público envolvido, aquilo que ele, efe- país, priorizando os segmentos tradicionalmente ex-
tivamente busca com a qualificação: a ampliação e o cluídos do sistema público de formação profissional).
acesso aos postos de trabalho. Nesse sentido, mes- Nesse sentido, no contexto do PLANFOR, o ensi-
mo havendo interesse pelos resultados e sendo cria- no, que incluía qualificação, requalificação, especiali-
dos canais destinados a viabilizar a participação, os zação de trabalhadores e assessoria ao setor produti-
representantes indicados para ocupar os postos de vo, deveria caracterizar-se pela articulação de habili-
trabalho não tinham substrato material para defen- dades básicas, específicas e de gestão e ser ministra-
der os interesses dos segmentos sociais, no interior do em bases contínuas e modulares, substituindo a for-
das classes, com menor poder de vocalização, uma mação mais específica apropriada ao modelo fordista
das pretensões da política. de organização, em que os conhecimentos e as habili-
dades são repassados de forma fragmentada.

1 A política de educação profissional no


PLANFOR 2 A Gestão do PLANFOR

Antes do PLANFOR, como lembra Azeredo O PLANFOR situava-se num contexto em que a
(1998), não se pode, a rigor, falar de uma política de figura do Estado nacional interventor era questionada
educação profissional no país, em razão do caráter em face da sua incapacidade crescente de conciliar
não-sistêmico das ações desenvolvidas, embora hou- as exigências da acumulação com a ampliação das
vesse uma variedade de instituições públicas e priva- demandas e de solucionar os conflitos resultantes.
das atuantes, agregando diferentes modelos pedagó- Abrucio e Soares (2001) enumeram vários fato-
gicos, organizacionais e gerenciais. res que, conjugados, seriam capazes de explicar a
O PLANFOR foi concebido como uma espécie preferência internacional e nacional manifesta por ges-
de contraponto aos três principais traços definidores tões descentralizadas no período: crises fiscais; exten-
da cultura brasileira na área são da oferta de serviços, com
da educação profissional: de- o engendramento de novos
sarticulação entre as ações ...no contexto do PLANFOR, o arcabouços administrativos e
educativas e a realidade do o fortalecimento do pleito por
mercado de trabalho; corre-
ensino, que incluía qualifica- participação, em âmbito local;
lação intrínseca entre pobre- ção, requalificação, especiali- ressurgimento de movimentos
za, fracasso escolar e quali- étnicos e regionais por auto-
ficação profissional prematu- zação de trabalhadores e as- nomia; urbanização acelerada;
ra; e aceitação tácita de que democratização dos sistemas
os segmentos sociais empo- sessoria ao setor produtivo, políticos, particularmente, a
brecidos estão destinados às chamada redemocratização
profissões subalternas. deveria caracterizar-se pela da terceira onda, que conecta
Pelo discurso da política, democratização com descen-
o não-trabalho deixa de ser articulação de habilidades tralização.
identificado com vadiagem, Assim, para os autores,
sendo o desemprego e o em-
básicas, específicas e de embora a intervenção do Es-
prego precário reconhecidos, gestão... tado continuasse fundamen-
oficialmente, também como tal em campos como o social,
um reflexo da acentuada re- o de segurança e o de manu-
dução de postos de trabalho no país. tenção da soberania, surgiam como novidades frente
As ações do PLANFOR, de acordo com a à relevância conferida às forças transnacionais (em-
SEFOR (BRASIL, 2007), baseavam-se em três li- presas, organismos multilaterais e ONGs) e às ins-
nhas de referência: renovação de conceitos (qualifi- tâncias e lideranças subnacionais.
cação dirigida para as demandas do setor produtivo, Souza (1998) interpreta esse momento de transi-
através de ações educativas variadas e em bases ção do Estado nacional, no contexto latino-americano,

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como de efervescência da democracia. Nesse senti- comunidades, com estímulo ao seu fortalecimento e
do, tanto os movimentos de redemocratização como à municipalização da gestão.
os atuais projetos de Reforma do Estado teriam uma Os mecanismos de implementação do PLANFOR
baliza comum: a primazia dada à edificação ou recons- eram as parcerias e os Planos Estaduais de Qualifi-
trução das chamadas instituições democráticas. cação (PEQs). As primeiras deviam contemplar ações
Na mesma linha de argumentação, Arretche de qualificação profissional e projetos especiais,
(1999) entende que, a partir da década de 1980, mes- implementados em escala regional ou nacional, de
mo sob perspectivas políticas diferenciadas, chegou- acordo com as diretrizes fixadas pelo CODEFAT
se no Brasil a um grande consenso a respeito das (BRASIL, 2000). Os PEQs, que se constituíram o
virtudes da descentralização (com a conseqüente vi- objeto particular da pesquisa que deu substrato à pre-
são negativa das formas centralizadas de gestão, tidas sente análise, incorporavam ações e projetos circuns-
como herméticas, ineficazes e antidemocráticas), o critos a uma unidade federativa. Do ponto de vista
que expressava, inclusive, uma manifestação reativa da distribuição vertical de poder, cabia à União for-
ao centralismo autoritário, característico de experi- mular as diretrizes e os objetivos da política; aos
ências históricas do pós-1937 e do pós-1964. Assim, municípios, o estabelecimento de prioridades para a
as formas descentralizadas de gestão, além de mais formulação dos planos estaduais e, aos Estados
democráticas, elevariam os níveis de bem-estar so- subnacionais, sua execução.
cial das comunidades. Para executar as ações de qualificação, propria-
Três elementos, segundo a mesma autora, com- mente ditas, o governo estabelecia parceria com or-
poriam a arquitetura dessas novas instituições: parti- ganizações ligadas à área – as entidades executoras
cipação, entendida com estratégia de inclusão e pre- (agências que deveriam ter experiência comprova-
vista através de estatuto jurídico; representação, en- da, tanto no campo da educação profissional, quanto
tendida como forma de garantir, em sociedades com- com as clientelas-alvo da política). Objetivava, com
plexas a participação na gestão dos processos isso, potencializar a rede de educação profissional já
sociopolíticos de todos os que pleiteiam essa forma existente nos estados e municípios, com suas instala-
de inclusão; e liberdade de associação, expressa atra- ções, equipamentos, recursos humanos e competên-
vés da soberania popular e da igualdade política. cias didático-pedagógicas.
No Brasil, após o golpe de 1968, a centralização O desenho da política incluía, ainda, a
alcança um alto patamar. Este fato, contraditoriamen- institucionalização de uma ampla avaliação que de-
te, estimulou, segundo Arretche (1996, p. 52), “a cri- via ser desenvolvida em dois níveis e sob duas óticas:
ação de capacidades institucionais e administrativas nacional e estadual/interna e externa. A interna (na-
nos estados e municípios, capacidades estas que ex- cional ou estadual) deve expressar a visão dos pró-
plicam em parte a natureza do processo de prios organismos do Estado responsáveis pela for-
descentralização.” mulação/execução do PLANFOR. Já a externa (na-
São essas capacidades que conformam o atual cional e estadual), deveria refletir o ponto de vista de
redesenho descentralizado do sistema de proteção so- instituições sociais com reconhecida capacidade téc-
cial brasileiro, no contexto do qual são criadas formas nico-pedagógica e distanciamento crítico em relação
institucionais que, embora discutíveis, pretendem incor- ao processo de gestão.
porar a sociedade organizada no processo de gestão A participação da sociedade organizada, nos pro-
das políticas públicas. E, a expectativa dominante é que cessos de formulação, gestão e avaliação da política,
tais reformas possam concretizar os ideais progressis- deveria se concretizar através do envolvimento de
tas de eqüidade, justiça social, redução do clientelismo e sindicatos, associações, organizações não-governa-
aumento do controle social sobre o Estado. mentais e instituições de ensino médio e superior. Para
viabilizar tal participação dos interessados, foram pre-
vistos fóruns especiais nos diferentes níveis de go-
3 A descentralização participativa como estra- verno: os congressos (espaço mais amplo de debate
tégia de gestão do PLANFOR coletivo) e os conselhos ou comissões de trabalho
(organismos tripartites, formados por representes da
A descentralização participativa no PLANFOR burocracia pública, das organizações de trabalhado-
foi configurada pelos seus formuladores como um res e das organizações dos empresários).
aspecto da nova institucionalidade perseguida pela Ao Conselho Federal – o CODEFAT – cabia de-
PNEP: nova relação da União com as unidades da finir as grandes linhas da política e controlar sua exe-
federação e do Estado com a sociedade civil, uma cução em todo o país, às Comissões Estaduais arti-
nova relação entre público e privado. Colocava, por- cular e priorizar demandas de educação profissional
tanto, como possibilidade a operacionalização do prin- estabelecidas pelas Comissões Municipais, além de
cípio democrático do governo compartilhado, supervisionar a execução dos PEQs. Nos congres-
enfatizando a necessidade de empoderamento das sos, promovidos por iniciativa do governo ou das equi-

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pes de avaliação externa, a sociedade deveria ção da sociedade brasileira: a privatização do espaço
vocalizar, livremente, sua apreciação acerca da polí- público (com a concentração de informações rele-
tica e delinear novas propostas de ação estatal nesse vantes pelos gestores), o corporativismo, o
campo particular, de modo a ampliar o estatuto da coronelismo e elementos de barganha, como o
res publica. clientelismo. Ou ainda, ‘intervenções brancas’ das
instâncias estaduais no município (o exercício das
atribuições municipais por organizações do nível es-
4 A descentralização participativa na dinâmica tadual), de modo a garantir o cumprimento dos pre-
do PLANFOR ceitos contratuais com a União, em tempo hábil.
Essas intervenções brancas conformavam, na
Por tudo já expresso nesse trabalho, pode-se ob- prática, um movimento de desconcentração, em nome
servar que a descentralização participativa do da descentralização: em muitos estados subnacionais,
PLANFOR sustentava-se em dois elementos funda- havia, de fato, apenas um descongestionamento da
mentais articulados: as relações intergovernamentais administração central, sem participação efetiva das
e a participação social. E é neles que se sustenta a instituições locais no poder de decisão.
análise desenvolvida nesta seção A desconcentração, figura mais facilmente
assimilável pelos setores dirigentes porque não exige
4.1 Relações intergovernamentais a distribuição efetiva do poder de mando, facilita, no
entanto, o exercício de relações autoritárias, ao invés
A discussão sobre o papel dos protagonistas do de serem construídas relações de cooperação/com-
PLANFOR, com destaque espacial – o local em petição, fundamentos do federalismo. E na relação
relação ao central –, retrata a distribuição alocativa do governo municipal com a sociedade eram
de poder no país. O pacto que estabelece as reproduzidas, em muitos casos, as mesmas relações
especificidades das relações entre os entes federati- de poder: em nome da municipalização, o governo
vos para configuração dos PEQs se efetivava medi- municipal assumia as prerrogativas dos movimentos
ante convênios e contratos, nos quais ficavam ga- organizados, inclusive indicando os representantes da
rantidos os três elementos considerados fundamen- sociedade civil nos Conselhos Municipais.
tais, pelos estudiosos do tema, na conformação do
pacto federativo: a) a autonomia governativa dos es- 4.2 Participação da sociedade
tados subnacionais, que se assenta na sua autonomia
financeira; b) a representação política dos estados A incorporação da sociedade organizada nos di-
subnacionais na esfera federal; c) a definição de pa- ferentes momentos da política constituía-se em um
péis e atribuições de cada esfera de governo nas dos pilares básicos necessários à implementação do
matérias de atuação conjunta, as chamadas compe- PLANFOR, quer através da inclusão dos Conselhos
tências compartilhadas (ABRUCIO, 2003). de Gestão na composição do arcabouço do
No caso do PLANFOR, a União e os estados PLANFOR, quer através da abertura de canais de
subnacionais tinham claramente delimitados os seus diálogo e construção de relações de parceria com
espaços de atuação (a União formularia as diretrizes organizações sindicais, associações, instituições lo-
e os objetivos da política e desenvolveria avaliação cais envolvidas com educação profissional, quer seja
nacional; os estados subnacionais coordenariam a mediante a realização de fóruns abertos aos interes-
execução e implementariam avaliação nesse nível). sados. Haveria, portanto, ampliação da esfera
O papel dos municípios que deviam definir as participativa, com espaço de vocalização, inclusive,
prioridades locais de qualificação para subsidiar a aos cidadãos historicamente destituídos dessa capa-
formulação dos Planos Estaduais remete, porém, a cidade no país.
certa imprecisão. Inicialmente, pela própria dificul- O estudo dos componentes dessa participação, na
dade de conciliar, na prática, os dois vetores do prática dos estados, permitiu a formulação de alguns
PLANFOR – as demandas do mercado e as neces- eixos de reflexão, entre os quais se destacam os dois
sidades dos trabalhadores – ou mesmo de articular relacionados a seguir.
as necessidades de diferentes clientelas, com graus O primeiro destaque é para a ‘parceria’, uma re-
de formação distintos, em cursos específicos. lação cooperativa entre a União e os demais entes
A essa dificuldade básica, alia-se o fato dos mu- governativos, entendidos como semelhantes no pla-
nicípios serem instâncias com capacidades financei- no político-administrativo. E entre o Estado e as exe-
ras e administrativas bastante variáveis no país. Em cutoras, sendo que o primeiro deveria exercer papel
muitos deles, inclusive, os Conselhos de Gestão eram de promotor de diálogos e distribuidor de informa-
estruturas delicadas, resultantes de fraca mobilização ções relevantes para a implementação das medidas
da sociedade, favorecendo, em nível local, a repro- educativas, enquanto as últimas, entidades com su-
dução de traços indesejáveis do processo de forma- posição de competência na sua especialidade e en-

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volvidas com a problemática do público particular, ço histórico do processo de formação da sociedade


deveriam executar as ações de capacitação. O re- brasileira – a privatização do espaço público por agen-
sultado dessas trocas seria um jogo de soma positiva: tes privados.
eficiência administrativa, eficácia no atendimento e Com relação ao exercício da representação que
efetividade social, em termos de melhoria de vida das essas instituições deveriam viabilizar, um primeiro
comunidades inclusas no processo. aspecto considerado na pesquisa foi a legitimidade
Pela análise das ações efetivadas no contexto dos dos representantes. E a conclusão chegou a que, em
PEQs, na maioria dos estados a parceria constituiu- alguns casos, os processos de escolha refletiam ape-
se em uma relação de compra e venda de serviços, nas interesses não-públicos: mediante acirradas com-
capaz, em alguns casos, de transformar o investimento petições, as lideranças procuravam atrair os eleito-
feito em jogo de soma zero, se considerada a res para a eleição e não para o seu significado. O
visualização dos impactos consolidados das ações de resultado de tal processo é que parte desses repre-
qualificação sobre os públicos envolvidos. Três ele- sentantes não ‘representava’ seu próprio segmento
mentos conjugados podem explicar essa dimensão nos conselhos, não se interessava, por conseguinte,
negativa apontada. pela suas necessidades e demandas.
a) A tendência de sujeitos sociais buscarem a Um segundo aspecto identificado era presença
articulação com o Estado como forma de se de componentes culturais elitistas na relação entre
beneficiar da coisa pública. Nesse caso, para os representantes dos conselhos e as comissões de
além de um compromisso com os objetivos da trabalho, o que afetava o exercício efetivo da parida-
política, os recursos do FAT é que seriam as de formal (pouca atenção e redução do tempo do
motivações de muitas agências executoras, discurso de alguns membros eram algumas das ma-
posto que são recursos de grande porte e que nifestações desses traços).
podiam ser aplicados com certa flexibilidade Um terceiro ponto visualizado era a prática de re-
pelos estados subnacionais. presentantes da burocracia em obscurecer a relevân-
b) A incapacidade do governo, nos diferentes ní- cia de temas ou inviabilizar o repasse de informações,
veis, em movimentar-se no interior da socie- inclusive, para favorecer possíveis mecanismos de
dade, para consolidar apoios mais duradouros barganha, contrariando o próprio caráter público do
relacionados com o campo da qualificação pro- Estado. De acordo com Bobbio (1992), a transparên-
fissional. cia não pode ser obscurecida porque é ela que serve
c) Os novos arranjos sociais orquestrados no atual para demarcar a diferença entre as formas de gover-
contexto de reestruturação do capitalismo no república (que tem o controle público do poder e a
Nesse arcabouço institucional, determinados livre formação da opinião como fundamentos para o
serviços seriam mais eficientemente realiza- exercício do governo) e principado (que se baseia no
dos com financiamento do Estado, mas, exe- segredo de Estado como método de governo).
cutados pelo setor privado ou pelo denomina- Um quarto ponto identificado era a falta de co-
do setor público não-estatal. De acordo com nhecimento da legislação e dos mecanismos de fun-
Yazbek (2001), o principal núcleo de tensão, cionamento da burocracia por alguns grupos de re-
nesse caso, não é o crescimento da rede de presentantes. Tal fato remete à própria arquitetura
solidariedade apregoado no modelo, mas a histórica das políticas educacionais brasileiras, cujas
defesa da redução da responsabilidade estatal ações resultam na secundarização de segmentos in-
face aos crescentes problemas sociais do país. teiros da população e na sua, conseqüente, incapaci-
Ou ainda, a desvalorização da política na sua dade de decodificação dos signos utilizados na co-
forma dinâmica, uma vez que a politização dos municação, sobretudo, os escritos.
temas causaria danos aos “processos e circui- Um último ponto limitante da representação eram
tos mediante os quais o capitalismo globalizado as condições objetivas em que o PLANFOR foi desen-
se reproduz” (NOGUEIRA, 2005, p. 63). volvido que não favorecia aos representantes indicados
O segundo destaque é para os ‘Conselhos de o substrato material para defender a política, em termos
Gestão’ – eram espaços construídos no interior da de visualização da ampliação dos postos de trabalho no
política onde deveriam ser pactuadas decisões rele- país e acesso a eles pelo público envolvido.
vantes: análise das propostas e deliberação sobre dis-
tribuição dos recursos, além do controle sobre o pro-
cesso de implementação e sobre os resultados das Conclusões
medidas educativas. A função básica dessas esferas
era, portanto, a de avalizar, no campo da qualificação No presente trabalho apresentei uma reflexão
profissional, o cumprimento de duas funções básicas sobre a proposta de descentralização participativa do
da democracia: a participação e a accountability do PLANFOR, através da categoria que engloba os prin-
sistema, o que contribuiria para romper com um tra- cípios que embasavam seus mecanismos de

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implementação: a descentralização, a participação e que considero o principal mérito da política: a abertu-


o fortalecimento da capacidade de iniciativa local. ra de um espaço de debate sobre a educação profis-
O espaço de atuação do PLANFOR era o da sional, sustentado nos resultados apresentados pelas
qualificação profissional. O investimento nessa área avaliações externas, os congressos, os seminários e
foi, de um lado, uma forma de articular o país às no- outros fóruns construídos, ao longo do período de vi-
vas exigências postas pelo processo de reestruturação gência do PLANFOR.
produtiva e, de outro, uma das maneiras de saldar-se Um segundo ponto diz respeito ao papel atribuído
a histórica dívida social com as populações menos à educação profissional na constituição de um mode-
privilegiadas. Realmente, no Brasil, a escola não foi lo de desenvolvimento social inclusivo. Ao meu ver,
concebida como forma de instrumentalizar os indiví- esse papel foi superdimensionado. Isto porque tal
duos para o exercício da reflexão e do controle soci- modelo comporta não só uma elevação dos patama-
al, o que seria fundamental para reduzir diferenças res educacionais da grande maioria despossuída dessa
estruturais forjadas sob o modo de produção. Ao con- condição, como também uma distribuição da riqueza
trário do que seria desejável, o formato emprestado social, o que implicaria em implementar mudanças
ao campo da educação e, particularmente, à educa- substantivas no projeto sociopolítico em andamento,
ção profissional – destinada, sobretudo, para favore- para além, portanto, do espaço destinado à política.
cer a segurança dos ‘bem-nascidos’ ao evitar a ‘va- Particularmente em relação à função dessa polí-
diagem dos outros’ – contribui decisivamente para tica na configuração do mundo do trabalho, uma vez
transformar assimetrias em desigualdades sociais. que ela não seria mesmo capaz, por si só, de gerar
Com o PLANFOR, reconhece-se que a educa- emprego ou renda, sua eficácia demandaria uma ar-
ção profissional pode ser importante instrumento de ticulação com outras políticas públicas situadas nes-
inclusão social, uma espécie de contraponto às desi- se campo. Essa proposição contida no desenho do
gualdades do mercado. Para isso, o PLANFOR, além PLANFOR não foi efetivada. Se essa dificuldade de
das habilidades específicas relacionadas ao campo intercâmbio pode ser imputada a uma distorção situ-
selecionado, propunha o repasse de informações que ada no plano administrativo-gerencial do Estado, a
permitissem aos beneficiados reconhecerem-se na elevação dos níveis de emprego, por outro lado, ain-
condição de cidadãos, interpretar a realidade na qual da é limitada no país, em razão de determinantes ex-
se situavam ou, se necessário, construírem novas al- ternos a essa política. Relaciona-se à adesão do país
ternativas de trabalho e gerirem seu próprio negócio. ao processo de reestruturação capitalista vigente, que
As principais diferenças apontadas pelos for- limita o investimento produtivo.
muladores do PLANFOR, entre este e os programas Para resolver o dilema da redução de postos de
anteriores de educação pro- trabalho, uma conseqüência
fissional implementados no dessa limitação de investimen-
Brasil, eram, pois: seu foco – ...pôde-se constatar que a to, foi configurada a perspec-
o atendimento aos interesses
do mercado de trabalho e das
principal virtude assinalada no tiva da empregabilidade, com-
preendida como a capacida-
necessidades dos trabalhado- PLANFOR era a de apontar de perseguida pelo trabalha-
res, fugindo da perspectiva dor de movimentar-se num
assistencialista, até então vi- como fundamental, para o mercado de trabalho em mu-
gente; as ações planejadas tação. De fato, na medida em
com suporte na fixação de cumprimento dos seus objeti- que se desenvolve a qualifica-
prioridades nacionais ou re- ção profissional com a pers-
gionais, em contraposição às vos, uma politização da ação pectiva apenas de poten-
ações pontuais e desarticula- cializar o acesso ao trabalho,
das que favorecem a disper- pública, com a incorporação reduz-se o nível de compro-
são de recursos; e a execu-
ção de ações educativas em
de diferentes escalas de gover- metimento do Estado, ao mes-
mo tempo em que individuali-
bases modulares e permanen- no e setores organizados da za a responsabilidade de aces-
tes, rejeitando a arquitetura so aos postos disponíveis.
tradicional de cursos oferta- sociedade... Essa desresponsabiliza-
dos ‘em pacotes’. Para isso, ção do Estado com a garan-
propunha-se a agregar as di- tia do emprego, porém, não
ferentes organizações e modelos pedagógicos na cons- só se contrapõe à perspectiva inovadora apontada
trução de uma nova institucionalidade, tendo a pela própria política, materializada na idéia dos con-
descentralização participativa como princípio. teúdos distribuídos em habilidades (que permitiriam
Assim, da análise aqui desenvolvida, um primeiro uma formação mais ampla e menos alienante), como
aspecto conclusivo a ser destacado diz respeito ao é uma contradição com a intenção de saldar o com-

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A questão da descentralização participativa na gestão no PLANFOR: qual democracia? 263

promisso social com o público historicamente ultrapassagem da gestão técnica para a gestão polí-
secundarizado no país. Realmente, muitos desses seg- tica. Isto significa que a incorporação da sociedade
mentos na ausência de medidas mais decisivas no organizada aos processos de formulação e
sentido de encaminhamento ao mercado de trabalho, implementação da política, o fortalecimento do po-
continuaram sem acesso aos postos existentes. der local e a efetivação da descentralização admi-
O terceiro aspecto considerado nessa conclusão nistrativa, constituíram-se apenas em mecanismos
está relacionado ao processo de gestão, que se cons- de retórica e não em ampliação dos mecanismos de
titui justamente o núcleo analítico do presente artigo. democracia.
A esse respeito, encontra-se subjacente no desenho
do PLANFOR uma visão positiva da
descentralização – associada à construção de meca- Referências
nismos democráticos, condição considerada funda-
mental para a eficácia da política. Nesse caso, em ABRÚCIO, F. L. As diferentes faces da descentralização:
consonância com processos em andamento no con- defini-ções, experiências comparadas e o caso brasileiro.
texto de outras políticas públicas, valorizava-se uma Anotações de aulas ministradas na PUCSP, mar./jun. 2003.
certa simetria entre os entes federativos, com a dis-
tribuição do poder de mando e de recursos e uma ______.; SOARES, M. Redes federativas no Brasil: coo-
ação localizada, tanto no sentido do exercício mais peração intermunicipal no Grande ABC. São Paulo:
eficaz do controle social sobre a coisa pública, como Fundação Konrad Adenauer, 2001. (Série Pesquisas, n. 24).
no desenvolvimento de perspectiva da solidariedade
interclasses, materializada na categoria da parceria. ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a
Realmente, pôde-se constatar que a principal virtu- afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo. 1999.
de assinalada no PLANFOR era a de apontar como
fundamental, para o cumprimento dos seus objetivos, ARRETCHE, M. T. S. Mitos da descentralização: mais
uma politização da ação pública, com a incorporação de democracia e eficiência nas políticas públicas. Revista
diferentes escalas de governo e setores organizados da Brasileira de Ciências Sociais, ano 11, n. 31, p. 44-66, jun.
sociedade, o que possibilitaria um maior amoldamento 1996.
da política às particularidades de cada região, setor ou
clientela. Viabilizaria, assim sendo, um direcionamento ______. Políticas sociais no Brasil: descentralização em
mais acurado das ações de qualificação para as reais um Estado federativo. Revista Brasileira de Ciências
necessidades de qualificação da força-de-trabalho, arti- Sociais, v. 14, n. 40, p. 111-141, 1999.
culando demandas do mercado e dos trabalhadores, o
que explicaria a adesão de diferentes sujeitos e organi- AZEREDO, B. Políticas públicas de geração de emprego
zações às ações em andamento. no Brasil: limites e possibilidades. In: OLIVEIRA, M. A.
Uma leitura dessa proposta subsumida na pesqui- (Org.). Reforma do Estado e políticas de emprego no
sa, porém, aponta que, para além do seu conteúdo, o Brasil. Campinas: UNICAMP, 1998, p.125-168.
PLANFOR atraía diferentes parceiros, de fato, pelo
montante de recursos financeiros disponiblizados e BOBBIO, N. Estado, governo e sociedade: para uma teoria
pela forma descentralizada de gestão expressa no geral da política. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
seu discurso. Neste caso, mesmo sem conseguir con-
solidar nos estados as promessas de participação, em BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de
seu sentido lato, encontrava-se entre as políticas pú- Políticas Públicas de Emprego (SPPE). Guia do PLANFOR.
blicas, desenvolvidas no período, que refletiam o sen- Brasília: MTE , 2000.
timento reativo da sociedade ao centralismo autori-
tário característico de experiências históricas brasi- ______. ______. Plano Nacional de Qualificação do
leiras, sobretudo no pós-1937 e no pós-1964. Trabalhador. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/pnq/
Aprofundando a análise, em relação a esse últi- conheca.asp>. Acesso em: jan. 2007.
mo aspecto, pode-se verificar que não houve a pre-
tendida descentralização participativa, mas, como MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista.
lembra Nogueira (1997), algo como uma espécie de Petrópolis: Vozes. 1997.
requalificação do espaço de participação, em que
foram sendo desconcentradas funções técnico- MÉSZÁROS, I. A necessidade do controle social. São
gerenciais, sem repasse de informações relevantes Paulo: Editora Ensaio, 1987.
e de outros recursos de poder, necessários para
viabilizar o cumprimento dos objetivos da política. NOGUEIRA, M. A. Um Estado para a sociedade civil:
Assim, também em relação à gestão, pela minha temas éticos e políticos da gestão democrática. São Paulo:
ótica, o PLANFOR não conseguiu fazer a objetivada Cortez, 2005.

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264 Salviana de Maria Pastor Santos Sousa

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Notas

1 A pesquisa, feita na Universidade Federal do Maranhão,


realizou-se no período de 1996 a 2002, pelo Grupo deAvaliação
e Estudos da Pobreza e das Políticas Direcionadas à Pobreza
(GAEPP), formado pela autora e outros pesquisadores.

2 Informações detalhadas sobre a pesquisa realizada podem


ser encontradas nos Relatórios de Avaliação Externa dos
PEQS-Ma de 1996 a 2001.

Salviana de Maria Pastor Santos Sousa


Mestre e doutora em Políticas Públicas pela Univer-
sidade Federal do Maranhão (UFMA)
Professora associada na UFMA
Departamento de Serviço Social
Centro de Ciências Sociais
Campus Universitário do Bacanga
Av. dos Portugueses, s/n
Bacanga
São Luís - Maranhão
CEP: 65085-580

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