You are on page 1of 2

AS TRAAS

Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou

duas traas. Tinham ido parar ao meu sobretudo, guardado no Vero, para voltar a servir no Inverno. As duas traas no me conheciam de parte alguma. Por isso no podiam pedir-me autorizao para se servirem, maneira delas, do meu sobretudo. Naquele guarda-vestidos havia mais roupa pendurada, mas o sobretudo azul-escuro, de l macia, era o que mais lhes convinha. Quando, chegado o Inverno, dei com dois buracos na lapela do meu sobretudo, barafustei: Malditas traas! No h naftalina que as detenha. Talvez estas traas estivessem constipadas ou a naftalina que eu tinha espalhado pelos bolsos do sobretudo fosse de m qualidade Talvez estas traas no respeitassem nada 1
APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

Eram

nem ningum, nem sequer senhores de sobretudo ou sobretudos sem senhores Logo na lapela, to vista de toda a gente. Podiam antes ter traado o forro ou as abas, atrs. Assim, inutilizaram-me o sobretudo. No tem remdio. Devia haver uma maneira de avisar as traas a no roerem lapelas, golas e peitilhos de casacos e sobretudos. Talvez mudassem de hbitos. Eu, neste Inverno, particularmente frio, tenho andado de sobretudo, o azul-escuro de l macia, o traado Mas com uma particularidade: sempre com uma flor na lapela. para tapar os buracos feitos pelas traas. Os meus amigos no sabem e dizem-me que ando com um ar festivo. Andas to alegre, neste Inverno comentam. Se eles soubessem

FIM

2
APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

You might also like