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eli miguel
... vai florir
Foto: Wiora
Com a vara calculei a distância entre os dias
A vara, pensei, vai florir
Posso incliná-la para uma criança a colher
L’annonciation démiurgique
Qui vibre au chant désespéré
Jailli de ta lèvre magique
Foto: eli
Bach,
Concerto for Flute, Violin, Harpsichord, Strings and
basso Continuo
in A minor, BWV 1044 "Triple Concerto"
Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma. Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
E eu n 'alma – tenho a calma, Quem ama a aziaga estrela
A calma – do jazigo. Que lhe luz na má hora
Ai! não te amo, não. Da sua perdição?
Não te amo, quero-te: o amor é vida. E quero-te, e não te amo, que é forçado,
E a vida – nem sentida De mau, feitiço azado
A trago eu já comigo. Este indigno furor.
Ai, não te amo, não! Mas oh! não te amo, não.
Ai! não te amo, não; e só te quero E infame sou, porque te quero; e tanto
De um querer bruto e fero Que de mim tenho espanto,
Que o sangue me devora, De ti medo e terror...
Não chega ao coração. Mas amar!... não te amo, não.
buracos
as grossas meias de algodão a camisola
rota num dos braços o fato-macaco
a negra barba mal feita e os tijolos
Raquel Martins
Só eu sei quanto dói a separação!
Al-Mu'Tamid
Israel Lifvak
Barco solto
Odilon Redon
Dançar na proa
Conquistar
O mastro
Nuno Júdice
Se, com o tempo, perco e encontro o que é
igual e diferente, perdendo o igual no que
é presente e vendo a diferença no passado
da presença, ao tempo dou o mesmo que
paroles
Il y a ceux qui crient ceux qui appellent parler désormais dans ce monde
sans remuer les lèvres terrassés et debout c'est imposer plus de bruit sans entendre sans
marchant terrassés et debout sur le trottoir illimité des villes écouter
ceux qui crient au secours ceux dont la bouche s'est creusée seul avec l'horreur de soi et l'horreur dans la
d'un trou sans fond d'où sort le cri nuit
le cri éraillé le cri avec des fils de bave entre les lèvres
ceux qui vivent dans le tombeau vivant du cri Pourtant on berce au fond de soi un oiseau de
le cri et qui entend le cri silence
on berce au fond de soi un chant sans
Les rues vomissent les autos les bruits et les images syllabes
sans comprendre une lumière comme une lampe sans flamme
surtout sans ce désir jamais de comprendre une langue sans mots
les portes se referment sur la fraîcheur des appartements un regard qui désire d'autres regards
autour du plat que l'on partage à table dans le mutisme on sait son visage inaccompli sans la présence
et sur l'écran les satisfaits gesticulent privés du son de leur d'autres visages
on sait on sait cela que l'on oublie : on le découvre
est-ce l'espoir alors quand on se dresse dans le vent et la
fougue
l'espoir quand on entend au fond de soi germer les mots
d'une parole
parole vraie confuse petite lumière
quand la main trouve sa voie vers d'autres mains devant
quand les yeux construisent dans le silence une beauté de
regards
foto: eli
em fundo
Beethoven
Sonata for Violin and Piano Nº 9
in A major, op. 47, Kreutzer Sonata
Yehudi Menuhin - Violin
Wilhelm kempff - Piano
Vem comigo, tecedeira,
Pára um pouco de tecer;
Há tantas flores no campo,
Que apetece i-las colher.
-"Teça, teça, condezinho,
Vieira da Silva
Não canto porque sonho
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
Canto porque o amor apetece.
teu sorriso puro,
Porque o feno amadurece
a tua graça animal.
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Canto porque sou homem.
ao vê-los nus e suados
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
Letra: Eugénio de Andrade
da tua vinha sem vinho.
Música: Fausto; A. P. Braga
Dez chamamentos ao amigo
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
fractal
São tantos
os silêncios da fala
De sede Os gemidos
De saliva nas camas
De suor
As ancas
Silêncios de silex O sabor
no corpo do silêncio
De amor
Paula Rego
Táctica y Estrategia
y saber que sos
Mi táctica es
franca
mirarte
y que no nos vendamos
aprender cómo sos
simulacros
quererte cómo sos
para que entre los dos
hablarte ni abismos
y escucharte
construir con palavras mi estrategia es
mi táctica
es quedarte en tu recuerdo mi estrategia es
mi táctica es
ser franco Mario Benedetti
Tapies
Aqui na orla da praia, ...
Ouve a luz
Como ainda tem o sabor das algas
Não te esqueças
Saura
Anne Kelly
Árvores do Alentejo
Mami
Letra: Manuel Alegre
Música: António Portugal
Quand il allume son révèrbere,...
Paladas de Alexandria
in Poesia de 26 Séculos,
Tradução e notas de Jorge de Sena
Um céu e nada mais
em abóbada azul - como de tecto. desse trovão que ainda agora ouviste,
E o seu número tal, que deslumbrados era de deus a sua voz, ou mito,
eram os teus olhos, se tas mostrasse, era de um anjo por demais caído.
amor, tão de ribalta azul, como de Mas, de verdade: natural fenómeno
circo, e dança então comigo no a invadir-te as veias e o cérebro,
trapézio, poema em alto risco, tão frágil como álcool, tão de
e um levíssimo toque de mistério. potente e liso como álcool
Pega nas lantejoulas a fingir implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais - que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.
Teresa Rozatti
La terre est bleue
Bocage
Lasso, triste, venho
do silêncio em mim.
Que escuro o caminho!
Que longe do fim!
Indeciso ainda
como um cristal baço;
mas que fome existe
já no meu cansaço!
Walt Whitman
munch
CANÇÃO
I III
II IV
Só isso me conduz
à verdade mais cega
VI
VII
Schumann
Claude Chaboud
Foram pétalas
Foram pétalas
Ou olhos de deusas
O que eu calquei?
Não
Não digam
Eu sei
Que foram sonhos
ultrafractal
Ainda é grande o silêncio
Susanne Vopel
Fernando Echevarría, Figuras
Porque é culpa, se alguma coisa é culpa,
não multiplicar a liberdade de um ser amado
de toda a liberdade que em nós possamos achar.
Onde amamos, temos apenas isto:
deixar-nos uns aos outros; porque prender-nos
é-nos fácil e não é preciso aprendê-lo.
Matthias Pöltl
La vie est semée de ces miracles
que peuvent toujours espérer
les personnes qui aiment.
Proust
Heidrun W.
La memoria en las manos
El alma no se acuerda, está dolida la que costó esta forma torpe y dura
de tanto recordar. Pero en las manos que acariciar no sabe y acompaña
queda el recuerdo de lo que han tenido. tan sólo con su peso, oscuramente.
Se estuvo siempre quieta,
Recuerdo de una piedra sin buscar, encerrada,
que hubo junto a un arroyo en una voluntad densa y constante
y que cogimos distraidamente de no volar como la mariposa,
sin darnos cuenta de nuestra ventura. de no ser bella, como el lirio,
Pero su peso áspero, para salvar de envidias su pureza.
sentir nos hace que por fin cogimos ¡Cuántos esbeltos lirios, cuántas gráciles
el fruto más hermoso de los tiempos. libélulas se han muerto, allí, a su lado
A tiempo sabe por correr tanto hacia la primavera!
el peso de una piedra entre las manos. Ella supo esperar sin pedir nada
En una piedra está más que la eternidad de su ser puro.
la paciencia del mundo, madurada despacio. Por renunciar al pétalo, y al vuelo,
Incalculable suma está viva y me enseña
que un amor debe estarse quizá quieto, muy
quieto, pasando y repasando sobre el hueso:
soltar las falsas alas de la prisa,
son preguntas sin fin, son infinitas
y derrotar así su propia muerte. angustias hechas tactos ardorosos.
Y nada les contesta: una sospecha
También recuerdan ellas, mis manos, de que todo se escapa y se nos huye
haber tenido una cabeza amada entre sus palmas.
cuando entre nuestras manos lo oprimimos
Nada más misterioso en este mundo. nos sube del calor de aquella frente.
Los dedos reconocen los cabellos
La cabeza se entrega. ¿Es la entrega absoluta?
lentamente, uno a uno, como hojas El peso en nuestras manos lo insinúa,
de calendario: son recuerdos
los dedos se lo creen,
de otros tantos, también innumerables y quieren convencerse: palpan, palpan.
días felices
Pero una voz oscura tras la frente,
dóciles al amor que los revive. —¿nuestra frente o la suya?—
Pero al palpar la forma inexorable
nos dice que el misterio más lejano,
que detrás de la carne nos resiste porque está allí tan cerca, no se toca
las palmas ya se quedan ciegas.
con la carne mortal con que buscamos
No son caricias, no, lo que repiten
allí, en la punta de los dedos,
la presencia invisible.
Elena
Pedro Salinas, largo lamento
as bocas que se juntam
e o rolo do mar
nos corpos quando se amam.
António Osório,
O Lugar do Amor Elisabeta Rogai
e Décima Aurora
Falarei na lingua de Maria Peres, labradora de sucos na pedra de gra
a Balteira, e nas conciencias de todas as que soñaron ser
musa prostibularia e tecedeira de cantigas coa quentura por amazonas
entre as coxas. da linguaxe.
Falarei na lingua das irmandiñas que arrebolaron con forza Para vós, meniñas de augamel,
berros de liberación aos pais mulleres en froita por madurecer,
da tiranía, falarán estes gromos de firmeza que me
falarei bidueiro, rebentan nos dentes
falarei croio, e son matas de arandeiras.
sarabia, laxe, seara, burato, morno As palabras han ser xermolos nas miñas fillas
sistema de signos, e netas innumerábeis,
símbolo despois,
da memoria que esmorece. os meus ósos falarán na terra
Falarei na lingua de Rosalía, para dar vida á terra
de Xaquina Trillo, para dar nome á terra
de Mariña Mariño Carou, e á prole que me xurdirá coa boca chea do
a lingua renegada da meniña Carolina Otero violada poexo enchoupado das brañas.
no camiño,
a lingua da miña avoa, canteira anónima, Rebelión da palabra
arxina da Terra de Montes,
Elvira Riveiro
Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.
António Osório
Crónica
In einen Teppich aus Grün Thomas Bernhard, Auf der Erde und in der Hölle
sticke ich meine roten Leiden,
meine blauen Morgen,
meine gelben Dörfer und Honigbrote.
Assim é a manhã
Dentro da qual eu entro.
Liszt
Sonata em B minor para piano
Sviatoslav Richter
Philips
PASTORAL
depois de se saber
plou la tristesa i lluen sota el baf boges, els ulls de les nines lletges!
les carrosseries dels cotxes, tot creuant La letargia, la tarda, la pluja, la pena,
Miquel Bauça
HORAS MORTAS
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras; As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras, Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Por baixo, que portões! Que arruamentos! Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
E eu sigo, como as linhas de uma pauta Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Ah! Como a raça ruiva do porvir, E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Chagall
em fundo
Stravinsky
Sinfonia dos salmos
Coro da Ópera de Berlim
Orquestra Filarmónica de Berlim
Herbert von Karajan
Deutsche Grammophon
Aflição
Jacques Brel
Jim Dine
Por algum motivo as lágrimas descem
É o gosto da dor
que vitaliza, acende o palpitar
no coração que sobe à superfície.
Alessandra Ciabuschi
Neste momento
Neste momento
um pássaro qualquer
canta, explica as flores
perto da margem dum rio.
Picasso
Rodrigo
Concierto de Aranjuez
Narciso Yepes, guitar
Orquestra Sinfónica de RTV Española
Odón Alonso
Deutsche Grammophon
Infinito pó o pormenor me perturba. O
pouco
e a falta. Ínfimo dos ínfimos.
Perda.
Thomas Bernhard, Auf der Erde und in der Hölle Thomas Bernhard, Na terra e no inferno
Há dias em que
toda a maré negra
dos medos da infância
dá à costa
Tchaikovsky
O Lago dos Cisnes
Orquestra Filarmónica de Berlim
Mstislav Rostropóvich
Deutsche Grammophon
Cansa sentir quando se pensa.
Armin [m]
Te quiero Te lo he dicho con las plantas,
leves criaturas transparentes
que se cubren de rubor repentino;
Te quiero.
Te lo he dicho con el agua,
vida luminosa que vela un fondo de sombra;
Te lo he dicho con el viento,
jugueteando como animalillo en la arena te lo he dicho con el miedo,
te lo he dicho con la alegría,
o iracundo como órgano impetuoso;
con el hastío, con las terribles palabras.
Amar! mas dum amor que tenha vida... Antero de Quental, Poesia Completa
klimt
fala assim devagar
devagar
deita-me o vinho devagar
CONVIDA-ME SÓ PARA JANTAR quando o meu copo estiver vazio.
Estou convalescente
sou convalescente
não é preciso que o percebas
E não queiras depois fazer amor.
mas por favor não faças força em mim.
Convida-me só para jantar
Fala, estás-me a dar de jantar
num restaurante sossegado
estás-me a pôr recostada à almofada
numa mesa de canto
estás-me a fazer sorrir ao longe
e fala devagar
fala assim devagar
e fala devagar
devagar
eu quero comer uma sopa quente
devagar
não quero comer mariscos
os mariscos atravancam-me o prato
e estou cansada para os afastar
Ana Goês
fala assim devagar
In 366 poemas que falam de amor
devagar
Antologia organizada por
não é preciso dizeres que sou bonita
Vasco Graça Moura
mas não me fales de economia e de política
Kate Liu
O Profeta
Boca
La bocca
che prima mise
alle mie labbra il rosa dell'aurora
ancora
in bei pensieri ne sconto il profumo. A boca
que primeiro levou
O bocca fanciullesca, boca cara, aos meus lábios a cor da aurora
che dicevi parole ardite ed eri ainda
cosi dolce a bacciare. em belos pensamentos desconto o aroma
Igor Stravinsky
Le sacre du Printemps
Chicago Symphony Orchestra
Daniel Barenboim
AU PRINTEMPS
La froidure paresseuse
De l’hiver a fait son temps.
Voici la saison joyeuse
Du délicieux printemps.
Foi assim
Todo o mar que eu via
se precipitou logo no meu coração
Que é de sal
E os peixes cristalizaram
com os olhos mortos
para as suas manhãs refractadas
Escutando bem
ouve-se como ao pé das estátuas
música de uma fanada melancolia.
Frantisek Kupka
Jorge de Sena, Poesia
Vincent Van Gogh
Amo-te
com pressa
de não acabar o amor.
António Osório,
O Lugar do Amor e Décima Aurora
Dali
VARIAÇÕES SOBRE "O JOGADOR DO PIÃO",I Faz rodar o pião redondo tudo em volta
Atira a primavera e recupera o verão
Terras e tempos tudo assume esse pião
que rodopia e rouba o chão à folha solta
Antes que el sueño (o el terror) tejiera Antes que o sonho (ou o terror) tecesse
Mitologias y cosmogonias, Mitologias e cosmogonias,
Antes que el tiempo se acuñara en dias, Antes que o tempo se cunhasse em dias,
El mar, el siempre mar, ya estaba y era. O mar, o sempre mar, já estava e era.
Quién es el mar? Quién es aquel violento Quem é o mar? Quem é aquele violento
Y antiguo ser que roe los pilares E antigo ser que rói pilares
De la tierra y es uno y muchos mares Da terra e é um e muitos mares
Y abismo y resplandor y azar y viento? E abismo e esplendor e acaso e vento?
Quien lo mira lo ve por vez primera, Quem para ele olhar vê-o pela primeira vez,
Siempre. Com el asombro que las cosas Sempre. Com o assombro que as coisas
Elementales dejan, las hermosas Elementares deixam, as belas
Tardes, la luna, el fuego de una hoguera. Tardes, a lua, o fogo de uma fogueira.
Quién es el mar, quién soy? Lo sabre el dia Quem é o mar, quem sou? Sabê-lo-ei no dia
Ulterior que sucede a la agonia. Que se segue à agonia.
Jorge Luís Borges, El outro, el mismo Jorge Luís Borges. Trad.: José Agostinho Baptista
in O Mar na Poesia da América Latina
Tristesse
Günter London
CANCELA
Evaristo Baschenis
Fermoso Tejo meu, quão diferente
remotas eram as constelações que consultara e descubra que não existe mar nenhum...
que os dedos e a matemática já tinham assinalado nos mapas as febres da alba com perfume a violeta
a vida da selva a flora mole dos pântanos as febres que iluminam os sentidos
os costumes tribais dos arquipélagos e alimentam o surdo canto dos loucos e dos búzios...
Al Berto, Salsugem
Maria José Camões
O AR OS TECTOS
opressas
porque estão a erguer
casas de telha vã e pastoreiam
só animais que restam impolutos
das ribeiras cheias
de temporais e frutos
que nas águas tristes se despenham.
por ruas e por roupas, com as vias da respiração Fiama Hasse Pais Brandão, (Este) Rosto
Ledo o meu amigo foi caçar no monte
H.D.R.
CANÇÃO DE AMOR Sim, eu cantaria mesmo que tu não existisses,
porque nada eu direi sem o teu nome.
Porque nada existe além da tua vida,
da tua pele macia, dos teus olhos magoados.
Jim Dine
Esta é a minha carta ao Mundo
Emily Dickinson
A sua Mensagem é entregue A Mensagem é confiada
A Mãos que não posso ver – A Mãos que não posso ver –
Pelo Seu amor – Doces – concidadãos – Só por amor da Natureza – irmãos –
Fazei de Mim – um terno juízo Julgai-me com suavidade.
Emily Dickinson – Trad.: Nuno Júdice Emily Dickinson – Trad.: Jorge de Sena
A PREGUIÇA
Este
lento
talento
de vazarmos tristeza.
Rainer Müller
Ao entardecer corremos
ao pontão sobre o mar
e a vida só se parece
com alguma coisa que sabemos
Sur mon pupitre et les arbres Sur les merveilles des nuits
- um caminho claro como o dia. este sentir a dor duma mulher pobre e faminta.
Para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro
Operário.
Só tu ficaste esperando
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
Judee Plourde
Alda Lara, Poemas
CANTO DE NASCIMENTO
de mergulhar na noite
Uma mulher oferece à noite
Lívio de Morais
Acreditava naquela história
do homem que nunca chora.
Eu julgava-me um homem.
Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.
Agora tremo.
E agora choro.
Como um homem treme.
Danielle Jaquillard Como chora um homem!
Regressámos ao anonimato
mais leves.
Mas é minha a muda inquietação
esse temor
da armadilha do cinismo.
A noite contempla-nos
despojados de sonhos
e, tu disseste
- tão próximas as estrelas –
tão longo o caminho para chegar a elas.
Clearlette
Canção de embalar
Apaga-se a luz.
Maninho acorda depois
por causa da voz falando baixinho
segredando
no meio escuro...
"Dorme Maninho
pra não vir Ti Lobo..."
"Dorme Maninho
pra não vir Ti Lobo..."
Volta-se e torna a dormir...
Maninho
Amanhã cedo vai correr o naviozinho de lata
volta-se e dorme
nas poças da Praia Negra...
no colchão de saco vazio
sobre a terra batida.
Ao lado no chão dormindo também
o naviozinho de lata
Jorge Barbosa
que fez com suas mãos...
HOME AMB BLUES (A LA MANERA D'ELLINGTON, BROWN El blues
AND BEIGE) El blues no és res
El blues no és res més que un cant
El blues no és res més que un cant per cridar-lo en les meves
solitàries
nits
El blues és una estrella que brilla cada nit per no apagar-se
després
fins a l'altra nit
El blues és una estrella que brilla
El blues és una estrella
El blues és
El blues
El blues és un prec que canten els negres i uns blancs per
demanar que no sigui tan
negra la nit
El blues és un prec que canten els negres i uns blancs per
demanar
El blues és un prec que canten els homes
El blues és un prec
Eric Vançon El blues és
EL BLUES
El blues
El blues serveix
El blues serveix per cantar les solitàries nits
El blues serveix per cantar les meves solitàries nits Joaquim Horta, Home que espera
Meditação
Franz Marc
Retrato
Picasso
Libertà Nos gusta caminar bajo las estrellas.
Se dicen cosas estrañas sobre los Gitanos.
Se dice que leen el futuro en las estrellas
y que tienen la poción del amor.
Lo gente no cree en lo que no se sabe explicar.
Nosostros, en cambio, no tratamos de explicarnos las cosas
en las que creemos.
La nuestra es una vida simple, primitiva.
Nos basta tener por techo el cielo,
fuego para calentarnos
y nuestras canciones cuando estamos tristes.
Adivinhei-te
através da verdura azul,
colhendo as flores
que iam abrir na próxima primavera.
Vieira da Silva
Soror Mariana – Beja
Manuel Alegre
MAR BRAVO Em tuas ondas precipitadas,
Onde flamejam lampejos ruivos,
Gemem sereias despedaçadas.
Em longos uivos
Mar que ouvi sempre cantar murmúrios
Multiplicados pelas quebradas.
Na doce queixa das elegias,
Como se fosses, nas tardes frias
Mar que arremetes, mar que não cansas,
De tons purpúreos,
Mar de blasfémias e de vinganças,
A voz das minhas melancolias.
Como te invejo! Dentro em meu peito
Eu trago um pântano insatisfeito
Com que delícia neste infortúnio,
De corrompidas desesperanças!...
Com que selvagem, profundo gozo,
Hoje te vejo bater raivoso,
Na maré-cheia de novilúnio,
Manuel Bandeira, Antologia Poética
Mar rumoroso!
lyrique ma bouche
Savane aux horizons purs, savane qui frémis aux caresses
ferventes du Vent d'Est
Tamtam sculpté, tamtam tendu qui gronde sous les doigts du
vainqueur
Ta voix grave de contralto est le chant spirituel de l'Aimée
Femme noire, femme obscure
Huile que ne ride nul souffle, huile calme aux flancs de
l'athlète, aux flancs des princes du Mali
Gazelle aux attaches célestes, les perles sont étoiles sur la
nuit de ta peau.
Délices des jeux de l'Esprit, les reflets de l'or ronge ta peau
qui se moire
A l'ombre de ta chevelure, s'éclaire mon angoisse aux soleils
prochains de tes yeux.
Femme nue, femme noire Femme nue, femme noire
Vétue de ta couleur qui est vie, de ta forme qui est beauté Je chante ta beauté qui passe, forme que je fixe dans
J'ai grandi à ton ombre; la douceur de tes mains bandait mes yeux l'Eternel
Et voilà qu'au coeur de l'Eté et de Midi, Avant que le destin jaloux ne te réduise en cendres pour
Je te découvre, Terre promise, du haut d'un haut col calciné nourrir les racines de la vie.
Et ta beauté me foudroie en plein coeur, comme l'éclair d'un aigle
Femme nue, femme obscure
Fruit mûr à la chair ferme, sombres extases du vin noir, bouche qui fais Léopold Sédar Senghor, Chants d'ombre
Tam-tam escultural, tenso tambor que murmura sob os dedos
do vencedor
Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.
Fêmea nua, fêmea negra,
Lençol de óleo que nenhum sopro enruga, óleo calmo nos
flancos do atleta,
nos flancos dos príncipes do Mali.
Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre
a noite da tua pele.
Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que
ondula
à sombra de tua cabeleira. Dissipa-se minha angústia,
ante o sol dos teus olhos.
Mulher nua, fêmea negra,
Mulher nua, mulher negra Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,
Vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza! antes que o zelo do destino te reduza a cinzas para
Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos. alimentar as raízes da vida.
E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro,
Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,
E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeiro
de uma águia. Léopold Sédar Senghor. Trad.: Guilherme de Souza Castro)
Fêmea nua, fêmea escura.
Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro,
boca que faz lírica a minha boca
savana de horizontes puros, savana que freme com
as carícias ardentes do vento Leste.
O curso deste rio
abandonada Sexta-feira
Sexta-feira cada vez mais triste como ruelas antigas
Sexta-feira de indolentes pensamentos indispostos
Sexta-feira de sinuosos e nefastos espreguiçamentos
Sexta-feira de nenhuma expectativa
Sexta-feira de rendição.
Casa vazia
casa solitária
casa trancada contra a investida da juventude
casa da escuridão e ânsias de sol
casa de solidão, augúrio e indecisão
casa de cortinas, livros, guarda-louça, fotografias.
ESTAR COMIGO
é o meu nativo
modo de estar
Desertam as sombras
Entre os objectos
e o chão límpido
sua ausência é
a ficção do dia.
Ralf Greiner
Irene Lisboa
Rene Lauterbach
AMOR SILÊNCIO AMARGO A ROÇAR-ME A MORTE
Klaus Oppermann
II – 1 de Janeiro de 2005 – 31 de Maio de 2005
eli miguel